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A Mata Atlântica resiste equilibrada nas alturas. É nas encostas mais íngremes, úmidas e escorregadias da Serra do Mar que a natureza dribla o homem e sobrevive à exploração. Um estudo feito pela Fundação SOS Mata Atlântica para a Revista Amanhã mostra que, nos últimos dez anos, a perda de mata fechada entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo diminuiu. Entre 2003 e 2013, foram desmatados 18 hectares. Na década anterior, 105 hectares haviam ido abaixo ao longo da Rodovia Litorânea, a Rio-SP, entre Bertioga (SP) e Paraty (RJ). A perda diminuiu porque a mata resiste onde dificilmente o homem consegue chegar. Espécie de muralha a barrar o oceano, a Serra do Mar vence pela dificuldade do relevo. Entre 2000 e 2010, a população das cinco cidades - Bertioga, Caraguatatuba, Ubatuba, São Sebastião e Paraty - do trecho Rio-São Paulo cresceu 39,53%, muito acima da média dos dois estados. Para se ter uma ideia, Bertioga viu sua população aumentar 79%. Paraty, 33,5%. O crescimento urbano isolou a mata nas partes mais elevadas das montanhas. Se a cobertura florestal resistiu isolada, porém, isso não significa que esteja saudável. O confinamento nas montanhas causa impacto negativo sobre algumas espécies da Mata Atlântica. Grandes macacos, como bugios e muriquis, desaparecem por falta de alimento. Principalmente, o palmito, presente nas áreas mais baixas. Antas e saguis se refugiam nas partes mais altas das escarpas, onde o clima é mais úmido e frio. A população de onças pintadas, alertam pesquisadores, já não atinge 250 animais adultos em oito núcleos espalhados pela Mata Atlântica em todo o todo o país e há pouquíssimos exemplares na Serra do Mar. E o crescimento das cidades avança ao pé da serra: a restinga deu lugar a construções numa área de 208 hectares.
27 DE MAIO
Criado para lembrar a importância desse grande bioma que existiu em quase todo litoral brasileiro, o Dia da Mata Atlântica é comemorado em 27 de maio. O intuito principal é conscientizar a população, as autoridades e a iniciativa privada para a conservação da floresta que tanto encantou os europeus que aqui chegaram. A primeira celebração deste dia ocorreu em 1999, sendo que no ano seguinte entrou no calendário oficial. O fato de o povoamento brasileiro ter ocorrido principalmente na faixa litorânea fez com que a floresta desse lugar às vilas, cidades e, hoje, também, às grandes metrópoles. Ao longo de todo o processo de colonização portuguesa, o litoral foi o principal local de povoamento brasileiro. A abertura de lavouras para a produção principalmente da cana-de-açúcar e a exploração madeireira constituíram-se em um contínuo processo de degradação da Mata Atlântica. Após o período colonial, durante o Império e, principalmente, durante o Período Republicano, o desenvolvimento da economia brasileira resultou neste estado de degradação atual. Além da exploração econômica, a Mata Atlântica foi também alvo da forma de ocupação do território nacional. O fato de o povoamento brasileiro ter ocorrido principalmente na faixa litorânea fez com que a floresta desse lugar às vilas, cidades e, hoje, também, às grandes metrópoles. A expulsão da população pobre das áreas centrais das grandes cidades, obrigando-as a encontrarem local de moradia nas periferias e morros, contribui contemporaneamente para a continuidade da diminuição desse ecossistema. Dessa forma, o poder econômico dos grupos sociais mais prósperos e suas ações de segregação urbana auxiliam na diminuição do que resta da floresta.
SOS MATA ATLÂNTICA A fauna da mata atlântica é muito diversa com espécies de aves, mamíferos, répteis, anfíbios, insetos. Há um grande número de animais que somente existem naquela região, chamado de animais endêmicos. Assim, pesquisas afirmam que na Mata Atlântica cerca de 40% dos mamíferos são endêmicos. Segundo pesquisas, existem na Mata Atlântica aproximadamente 20.000 espécies de vegetais, das quais cerca de 8 mil delas são endêmicas (somente existem naquele local). A flora da mata atlântica corresponde a 35% das espécies existentes no Brasil. No total, estima-se que 200 espécies vegetais do Brasil estão ameaçadas de extinção, sendo que 117 delas são pertencentes à flora desse bioma. Muito Diversificada, a flora da mata atlântica é composta por bromélias, begônias, orquídeas, ipê, palmeiras, quaresmeira, pau-brasil, cipós, briófitas, jacarandá, jatobá, peroba, jambo, jequitibá-rosa, imbaúba, cedro, canela, tapiriria, andira, ananás, figueiras, dentre outras.
História - SOS Mata Atlântica Na década de 1980, cientistas, empresários, jornalistas e defensores da questão ambiental se aproximam e lançam as bases para a criação da primeira ONG destinada a defender os últimos remanescentes de Mata Atlântica no país, a Fundação SOS Mata Atlântica. O ideal de conservação ambiental da entidade, criada em 20 de setembro de 1986, associa-se ao objetivo de profissionalizar pessoas e partir para a geração de conhecimento sobre o bioma. A proposta representa também um passo adiante no amadurecimento do movimento ambientalista no país. A história da Fundação SOS Mata Atlântica foi construída através da mobilização permanente e da aposta no conhecimento, na educação, na tecnologia, nas políticas públicas e na articulação em rede para consolidação do movimento socioambiental brasileiro. Confira a linha do tempo com os momentos que marcaram a história da Fundação SOS Mata Atlântica, suas lutas e principais conquistas.
Nosso compromisso É urgente convocar nossa comunidade para o exercício de uma cidadania ambiental, responsável e comprometida com o futuro do nosso território, o bioma Mata Atlântica, patrimônio da humanidade. Esse é um compromisso de todos nós como reconhecimento do nosso vínculo, solidariedade, respeito e integração com a natureza. A contribuição da SOS Mata Atlântica é alertar, informar, educar, mobilizar e capacitar para o exercício da cidadania, catalisando as melhores práticas, os conhecimentos e as alianças.
Extinção Mico-Leão-Dourado O perigo de extinção ainda ronda a espécie, apesar de todo o esforço da equipe da Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD), criada para unir esforços que permitam a manutenção da espécie em seu habitat natural: a Mata Atlântica, especificamente em oito municípios do interior do estado. A sorte dos adoráveis bichinhos começa a mudar em 1974 com a criação da Reserva Biológica de Poço das Antas, a primeira do tipo no Brasil, um marco histórico para o meio ambiente nacional. Com isso vieram as ações de vários parceiros que desembocaram na criação da AMLD, em 1992, que juntando forças atua em várias frentes que se complementam para a conservação do mico-leão-dourado
Bacias Hidrográficas A Mata Atlântica ocorre 7 das 9 maiores bacias hidrográficas brasileiras. Suas florestas são fundamentais para a manutenção dos processos hidrológicos assegurando a quantidade e qualidade da água potável para mais de 120 milhões de brasileiros em cerca de 3400 municípios, e para os mais diversos setores da economia nacional como a agricultura, a pesca, a indústria o turismo e a geração de energia. Os rios e lagos da Mata Atlântica abrigam também ricos ecossistemas aquáticos, grande parte deles ameaçados pela poluição, assoreamento, desmatamento das matas ciliares e represas feitas sem os devidos cuidados ambientais. A proteção, tanto das florestas como das águas na Mata Atlântica deve ser realizada com urgência e através de políticas e mecanismos de gestão integrada. Essa é uma das prioridades da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica através de seu Programa “Águas e Florestas”. “A principal causa da poluição dos rios monitorados é o despejo de esgoto doméstico junto a outras fontes difusas de contaminação, que incluem a gestão inadequada dos resíduos sólidos, o uso de defensivos e insumos agrícolas, o desmatamento e o uso desordenado do solo”, afirma Malu Ribeiro, especialista em Recursos Hídricos da Fundação SOS Mata Atlântica.
A perda da cobertura florestal continua sendo tão preocupante quanto sempre foi. Embora as estimativas sobre o desmatamento da Amazônia variem conforme a fonte, existe um consenso geral de que 10% a 12% da floresta em todos os países da região amazônica já tenham desaparecido.No Brasil, o desmatamento é medido anualmente pelo governo. A estimativa oficial é que aproximadamente 18% da Amazônia brasileira já tenham sido desmatados. Os índices de desmatamento variam de um país amazônico para outro. Isso acontece principalmente porque variam também os fatores que ocasionam esse processo na região. No Brasil, por exemplo, é comum que o corte raso da floresta seja feito para dar lugar às pastagens para o gado em fazendas de grande e médio porte. Já em outros países, normalmente a ocupação da floresta se dá por pequenos agricultores. O desmatamento é particularmente acentuado em áreas adjacentes a centros urbanos, estradas e rios. No entanto, mesmo áreas remotas, onde não se conhece atividade humana, já mostram sinais de sofrer a pressão humana, principalmente em lugares onde existe mogno e ouro.Mas nem todo desmatamento é ilegal. Certa quantidade de desmatamento em propriedades privadas pode ser legal. De acordo com o Código Florestal do Brasil, cada proprietário de terra pode fazer corte raso de 20% da floresta amazônica em sua propriedade, mediante autorização dos órgãos ambientais. impossível fazer uma lista abrangente de tudo que se perde com o desmatamento, mas alguns dos principais impactos são os seguintes: Perda da biodiversidade – As espécies perdem seu habitat ou não conseguem sobreviver nos pequenos fragmentos florestais que restam. As populações de plantas, animais e microorganismos ficam debilitadas e eventualmente algumas podem se extinguir.
O Ecossistema Manguezal e o Bioma Mata Atlântica O bioma Mata Atlântica inclui um complexo e rico conjunto de ecossistemas: floresta atlântica, manguezal, restinga e campos de altitude. Ao longo da zona costeira os manguezais desempenham diversas funções naturais de grande importância ecológica e econômica
Os manguezais são ecossistemas que ocorrem nas zonas de maré. Formam-se em regiões de mistura de águas doces e salgadas como estuários, baías e lagoas costeiras. Estes ambientes apresentam ampla distribuição ao longo do planeta, ocorrendo nas zonas tropicais e subtropicais onde as condições topográficas e físicas do substrato são favoráveis ao seu estabelecimento. As maiores extensões de manguezais do mundo estão presentes na região Indopacífica. No Brasil, os manguezais ocorrem desde a foz do Rio Oiapoque, no Estado do Amapá até o Estado de Santa Catarina, tendo como limite sul a cidade de Laguna. Com uma fitofisionomia bastante característica, o ecossistema do manguezal apresenta uma grande variedade de nichos ecológicos; é uma fauna diversificada em mariscos e caramujos; camarões, caranguejos e siris; peixes ea ves. Estes organismos utilizam a área do manguezal na busca de alimento, reprodução, crescimento e proteção contra predadores, estes últimos atraídos por uma predominância de indivíduos jovens no ambiente. Os ecossistemas do manguezal possuem elevada bioprodução, podendo esta atingir até 20 toneladas de matéria orgânica. A alta produção de matéria orgânica é fundamental nos processos de ciclagem de nutrientes, que influenciam a rica cadeia alimentar presente aos manguezais.
Estamos tão acostumados com paisagens urbanas e grandes plantações e pastos que parece lenda dizer que uma floresta exuberante ocupava grandes espaços no litoral, serras e interior do Brasil. Mais fantástico ainda é saber que, apesar de fragmentada e praticamente restrita a lugares inacessíveis(como as serras), a Mata Atlântica ainda abriga uma das maiores biodiversidades do mundo e influencia a vida da maioria dos brasileiros, mesmo sem que estes a conheçam ou percebam o seu devido valor. A Mata Atlântica exerce um enorme fascínio àqueles que percorrem o seu interior. Impossível não ficar maravilhado com a diversidade de formas e cores das suas plantas, com os seus odores e sons variados, com os pequenos córregos e as cachoeiras. Poucos lugares na Terra abrigam tantas formas de vida: são milhares de espécies de animais, plantas e microorganismos, muitas delas ainda nem descritas pela ciência. Por toda esta biodiversidade, a Mata Atlântica foi declarada pela Unesco como Reserva da Biosfera, um Patrimônio da Humanidade. No seu sentido mais amplo, a Mata Atlântica é um bioma com várias formações vegatais. Antes da colonização, abrangia cerca de 15 % do território brasileiro, ocorrendo ao longo da costa, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, e estendendo-se por centenas de quilômetros continente adentro, nas regiões Sul e Sudeste, chegando à Argentina e ao Paraguai. A origem da Mata Atlântica está associada à separação dos continentes americano e africano( eles formavam um único continente chamado Gondwana), iniciada há mais de 100 milhões de anos, quando, devido a processos geológicos, surgiu a cadeia de montanhas que formam.