Faça você mesmx: Dispositivo Fotográfico Instantâneo | Gustavo Reginato

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FVM F AA ÇÇ AA VV OOCCÊÊ M E S M X

INSTANTÂNEO

FOTOGRÁFICO

DISPOSITIVO

DFI



Gustavo Reginato

Faça você mesmx: dispositivo fotográfico instantâneo

1ª edição

Florianópolis Editora Caseira 2017


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SUMÁRIO Conheça o DFI (Dispositivo Fotográfico Instantâneo) -9A Carne da Imagem e a construção do DFI -12Faça você mesmx o DFI -29-



CONHEÇA O DISPOSITIVO FOTOGRÁFICO INSTANTÂNEO

Quando conheci a magia por trás dos processos fotográficos, entrei em um estado de pesquisa constante que contaminava meus dias com sais de prata, películas, reações químicas e fotoelétricas. Em um período de 4 anos, entre 2012-2015, fotografei mais de 6000 fotos analógicas, grande parte revelada e digitalizada por mim. Foram mais de 150 bobinas de filme tipo 135 e 120, ainda em processo de catalogação. Ao todo a minha coleção de câmeras

possui 28 exemplares, cada uma com sua particularidade ( entre elas; câmeras analógicas dos mais diversos tipos e idades, câmeras digitais SLR e até a compacta e saudosa breezecam). Nesta quase obsessão com a fotografia, no meio de tantos estudos da formação , captação e fixação da imagem fotográfica em diferentes dispositivos, me deparei com artistas que usavam scanners como sensores fotográficos em câmeras de grande formato. Foi quando pensei; se eu construir uma câmera de grande formato respeitando a posição da impressora, fotografando o que/quem está na sua frente, o que acontece se o botão copiar da impressora for apertado? Seria ela capaz de imprimir uma fotografia instantânea? Foram alguns meses e testes para descobrir que sim! Os primeiros testes foram feitos inteiramente 9


digitais, para entender melhor o funcionamento da câmera e fazer ajustes de foco , abertura da lente, e tempo de leitura do scanner em diferentes resoluções. A primeira fotografia para variar, foi desapontante, mas ao conseguir melhores resultados me senti como os primeiros cientistas fotográficos devem ter se sentido ao capturar suas primeiras imagens. Depois de dominar melhor a câmera levei ela a espaços públicos, a sua primeira aparição foi em setembro de 2014 nos jardins da Cerâmica, no Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas, no EventoGravura, organizado por Márcia Souza. Seu funcionamento simples traz resultados surpreendentes, além de ser ótimo para demonstrar conceitos complexos de física e fotografia. Sugeriram que eu patenteasse a ideia, mas esta nunca foi a mi-

nha intenção. Por isso escrevi este manual, para fazer o que precisa ser feito com o conhecimento, torná-lo público, e permitir que outras pessoas explorem a sua potencialidade, aumentando assim, a cada nova construção, possibilidades de melhoria e evoluções. Este livreto FVM DFI vai te ajudar a conhecer melhor o universo da formação de imagens e também construir sua própria câmera fotográfica instantânea. Mas antes de ensinar a construir o DFI, sugiro que você leia o próximo capítulo. Ele é resultado de um artigo apresentado no Congresso de Iniciação Científica da UFPel/2015, recebeu o 1º lugar na área de Linguística, Letras e Artes. Depois disso fui convidado a escrever um artigo em formato expandido, com informações mais detalhadas, e é este artigo que você vai ler nas próximas

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páginas. O artigo foi orientado pela Prof. Cláudia Mariza Mattos Brandão (CA/UFPel). Antes que surjam dúvidas, o DFI só fotografa em preto e branco. A engenharia de uma fotografia colorida é complexa, é preciso um sensor diferente para cada cor-luz primária (vermelho, verde e azul) ,e a compilação destas informações de maneira sobreposta. Para fotografar em colorido com o DFI seria necessário três fotografias da mesma cena, cada uma sob o filtro de uma cor luz primária, depois disso cada fotografia em preto e branco teria que ser tingida para a camada de cor correspondente e então, sobrepostas as três camadas. Para uma versão impressa seria mais difícil, para cada camada de cor seria necessária a conversão de cor-luz para cor-pigmento, ou seja: A fotografia feita sob o filtro de cor azul

será a camada de pigmento amarelo, a fotogarfia feita sob o filtro de cor verde será a camada de pigmento magenta, a fotografia feita sob o filtro vermelho será a camada de pigmento ciano. A fotografia colorida é muito mais complexa do que parece, ainda mais em películas analógicas, mas para quem gosta de experimentos, vale a tentativa! Enfim, boa leitura e divirta-se!

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A CARNE da IMAGEM e a construção do D I S P O S ITI V O F OTO G R Á F I C O I N STA NT Â N EO 12


Pesquisar sobre a Carne da Imagem é estabelecer uma relação visceral na busca pela compreensão da formação e do consumo da imagem fotográfica em seus diferentes meios, sejam eles analógicos, digitais, ou híbridos. Esta pesquisa descreve o desenvolvimento e a construção do Dispositivo Fotográfico Instantâneo (DFI), uma câmera fotográfica artesanal que capta e imprime fotografias instantâneas. O DFI é resultado de observações, estudos e práticas que permeiam a formação da imagem na película

fotográfica analógica e nos sensores fotoelétricos dentro do projeto de pesquisa “A Carne da Imagem”, inicialmente coordenado pelo professor Ricardo Perufo Mello (CA/UFPel) e em acordo com investigações desenvolvidas junto ao PhotoGraphein – Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação (UFPel/ CNPq), coordenado por Cláudia M.M. Brandão. Este artigo relata também conhecimentos envolvidos durante o processo, assim como reflexões filosóficas e artísticas sobre as distorções do espaço-tempo provocadas pelos objetos fotográficos gerados pelo DFI.

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1. A carne da imagem e uma breve reflexão sobre a relação do homem com o objeto fotográfico:

capturar e fixar projeções luminosas em superfícies. Dentro da história cultural do Homo sapiens, há diversos relatos de experiências com a energia eletromagnética emitida pelo sol, a partir dos efeitos de refração e reflexão do espectro visível e a interação das ondas-partículas com a camada elétrica dos átomos com o intuito de produzir imagens.

Os pensadores, quando buscam uma solução para um problema aparente, reúnem seus dados mentais resultantes de observações e experiências para planejar seus passos. Desde a antiguidade, os conhecimentos acerca da formação de imagens ampliaram-se muito e, consequentemente, expandiram-se também as tecnologias que buscam, através do funcionamento óptico,

Há um vasto corpus de observações empíricas, de experimentos, de teorias, que começou a constituir-se desde a Antiguidade. O pai da geometria, Euclides, foi também, em torno de 300 a.C., um dos fundadores da óptica (ciência da propagação dos raios luminosos) e um dos primeiros teóricos da visão. Na era Moderna artistas e teóricos (Alberti, Dürer, Leonardo da Vinci), filósofos (Descartes, Berkeley, Newton), e, é claro, físicos, empenharam-se nessa exploração (AUMONT, 2002, p.17).

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A partir de experiências alquímicas pôde-se, então, utilizar as propriedades e o comportamento dos fótons como um meio de registro do espaço-tempo, através do qual a luz incidente provocava reações no campo elétrico dos átomos aumentando sua entropia. Esse aumento de entropia foi o maior desafio a ser superado dentre os pesquisadores que buscavam meios de fixar as reações fotoquímicas em superfícies. Dentre os vários alquimistas que almejavam tal feito, há registros históricos de que Joseph Niépce (1765-1833) conseguiu em seu atelier fixar a primeira imagem fotográfica em uma placa de alumínio coberta com betume. A placa foi exposta por mais de oito horas por causa da baixa sensibilidade de reação do material utilizado. A primeira patente de um processo fotográfico foi feita por Louis Daguerre (1787-1851): após

certo desenvolvimento de pesquisas, a emulsão fotossensível era feita de sais de prata e gelatina onde a imagem precisava ser revelada por um oxirredutor e fixada por vapor de mercúrio. O tempo de exposição das fotografias já reduzira de oito horas para oito minutos, mas, ainda assim, eram necessárias diversas horas para preparação das placas e posterior revelação – os registros eram feitos em chapas de vidro ou metal polido. A criação da primeira caixa fotográfica com película celulósica foi realizada por George Eastman (1854-1932) no fim do século XIX e, a partir de então, o objeto fotográfico passa a ter uma maior difusão e impacto na vida humana (AUMONT, 2002). Cada elemento reage de diferentes maneiras ao processo de exposição ao sol. Toda massa, quando exposta aos efeitos diá-

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rios da radiação solar, têm suas interações elétricas intensificadas, cada uma com seu tempo de reorganização entre partículas. Essas transformações seguem a orientação da seta do tempo termodinâmica, que influencia como nos relacionamos com o mundo, inclusive na duração de nossa própria existência corporal e sua efemeridade perante o tempo cosmológico, ou psicológico, imaginário, pois:

vem essa diferença entre passado e futuro? Porquê nos lembramos do passado, mas não do futuro? (HAWKING, 2015, p. 180).

Neste movimento ondulatório entre tempo termodinâmico e tempo imaginário, a pesquisa se torna uma possibilidade de encontro com o passado em busca do futuro, no qual se percebe uma potencialidade na alteração dos eventos futuros a partir da participação no aumento da entropia. Quanto mais O Tempo imaginário é in- conhecemos as transfordistinguível das direções mações da matéria, mais no espaço. Se podemos ir imaginamos possibilidapara o norte, podemos dar des de interferência no meia-volta e ir para o tecido do espaço-temsul; da mesma forma, se po. Toda imagem captupodemos avançar no tem- rada interfere no tecipo imaginário devemos ser do temporal e possui um capazes de virar e retro- peso simbólico significeder. Isso significa que cativo para a compreennão pode haver diferença importante entre ir são da natureza humapara frente e para trás na. A fotografia encanta no tempo imaginário. Em porque conseguimos sencontrapartida quando se tir o peso daquilo que olha para o tempo “real” os olhos não conseguem há uma grade diferença en- capturar e, principaltre essas direções, como mente, postergar sua todo mundo sabe. De onde existência para que ou16


tros tenham acesso. O Dispositivo Fotográfico Instantâneo, em ações públicas para a comunidade, tem a potência de alterar a percepção sobre o objeto fotográfico e a experiência de espaço-tempo, a partir de um escaneamento da imagem refletida e invertida do mundo em uma exposição fotográfica que capta o movimento dos corpos. Híbrido de tecnologias subvertidas de seus usos comuns, as fotografias do DFI resgatam os primórdios da fotografia ao mesmo tempo que é produzida digitalmente, graças aos avanços nos conhecimentos dos circuitos eletrônicos e códigos binários.

2. Sobre a construção do Dispositivo Fotográfico Instantâneo

O Dispositivo Fotográfico Instantâneo (DFI) surge como uma proposta da subversão do tempo fotográfico habitual. Mistura conhecimentos primitivos do comportamento da luz em lentes convergentes aliada aos espelhos com a tecnologia de escaneamento digital por um Dispositivo de Carga Acoplada (Charge Coupled Device, CCD em inglês) e impressão de uma impressora multifuncional a jato de tinta. A Figura 1 é um esquema em desenho feito para compreender o funcionamento do primeiro protótipo do Dispositivo Fotográfico Instantâneo, que surgiu

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Figura 1 – Gustavo Reginato. Esquema de funcionamento do DFI. Desenho. 2014.

da curiosidade em saber como o sensor do scanner de uma multifuncional reagiria a uma imagem projetada por uma câmara escura. Existem diversas pesquisas como o The Scanner Photography Project (http://golembewski.awardspace. com), nas quais os fotógrafos encontram, nos scanners de mesa, uma alternativa para usarem suas antigas câmeras de grande formato. São necessárias diversas

adaptações no próprio scanner para que ele seja acoplado à câmera. No meu caso, o mote desta pesquisa foi projetar e construir uma câmera que se adaptasse às características de funcionamento da impressora multifuncional, e investigar se seria possível obter fotografias instantâneas ao apertar o botão copiar da impressora.

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O desafio era construir uma câmera obscura do tamanho do sensor do scanner. Para respeitar a posição de funcionamento da impressora, foi preciso o uso de um espelho em uma diagonal à 45 graus em relação aos eixos vertical e horizontal. Essa posição do espelho projeta os raios captados pela lente à frente da impressora e conduz os fótons em um ângulo de 90 graus em direção ao sensor do scanner. Seria impossível o sensor captar uma imagem se não houvesse uma superfície opaca para reduzir a velocidade da luz projetada pela lente. Nas experiências primordiais do DFI, foram usados diversos tipos de papéis, vegetal e manteiga, sem a obtenção de resultados satisfatórios. Utilizei, então, um pedaço de vidro opaco pelo jateamento de areia. Os microgrãos opacos do vidro, resultantes do atrito com a areia, ao

reduzirem a velocidade da luz e serem lidos pelo scanner, dão a impressão da granularidade da película analógica, mas em uma imagem positiva, construída a partir de um código binário ou impresso digital (Fig. 2 e 3). Resumindo, o DFI funciona da seguinte forma: os objetos à sua frente refletem a luz em direção à lente convergente, que gera uma imagem virtual refletida a 90º por um espelho e que é projetada sobre a superfície granulada de um vidro jateado, onde a luz diminui sua velocidade para, então, ser lida pelo scanner que interpreta os claros e os escuros no seu fotossensor. Os dados binários gerados pela placa de circuitos são, portanto, transformados pela impressora em pontos de tinta na folha de papel.

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Figura 2 – Gustavo Reginato. Autorretrato. Fotografia Digital. 2014.

Figura 3 – Gustavo Reginato. Detalhe figura 2. Fotografia digital. 2014.

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Após conseguir captar imagens com o protótipo, construí uma versão definitiva do Dispositivo Fotográfico Instantâneo, feita de madeira de caixote, tecido e peças de um retroprojetor em desuso, ressignificando um objeto que tem se tornado obsoleto na contemporaneidade (Fig. 4). Figura 4 – Gustavo Reginato. A segunda versão do DFI. Fotografia digital. 2015

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3. Sobre as distorções do tecido espaço-tempo provocadas pelo DFI

O objeto fotografia, seja ela fotoquímica, eletrônica, binária, seja impressa, tornou-se extensão da memória do homem, podendo, assim, disseminar seus signos e símbolos com uma maior facilidade a partir da evolução das tecnologias de produção e reprodução de imagens. O objeto fotográfico possibilita que o registro de um determinado espaço-tempo supere a efemeridade da

visão humana, projetando para o futuro aquilo que antes era restrito à narrativa, à escrita, à pintura e outras artes gráficas. Essas modificações da matéria em imagens causam distorções gravitacionais que afetam o modo como o ser humano se relaciona com o mundo. As tecnologias que alteram a percepção do imaginário social são chamadas de Tecnologias do Imaginário. “Os imaginários difundem-se por meio de tecnologias próprias, que podem ser chamadas de tecnologias do imaginário” (SILVA, 2013, p. 1). Essas tecnologias são dispositivos que nos auxiliam nas interações humanas e, consequentemente, na interação de imaginários, através das quais os rios semânticos que seguem lado a lado têm uma breve conexão por seus meandros, intercambiando suas águas e seguindo seus percursos;

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O processo de desencaixe “espaço-tempo” que as novas tecnologias da informática têm proposto para os lugares da memória no corpo da sociedade contemporânea, ao configurar as relações homem e cosmos em redes mundiais de comunicação, tem provocado nas ciências humanas a necessidade de se aprofundarem novas formas de entendimento das estruturas espaço-temporais que configuram a magia dos mundos virtuais (ROCHA; ECKERT, 2000, p. 1).

O Dispositivo Fotográfico Instantâneo propõe um momento de pausa e imersão no tempo imaginário, um encontro consigo e sua própria imagem refletida e espelhada. A natureza de leitura do sensor do scanner é mapear pequenos fragmentos em linhas de leitura, que juntas formam uma imagem. A partir dessa leitura particionada, o DFI confronta os seres com outra percepção espaço-temporal por meio de um

escaneamento do instante fotográfico e sua impressão na matéria, pois: Visto que a compreensão é a de que cada meio visual instaura uma experiência particular, e por mais que possa haver semelhanças entre essas experiências, a visualização da imagem em cada um deles subentende situações distintas de percepção. Em outras palavras, o olhar proporcionado por uma mesma imagem não é o mesmo se essa imagem é mostrada por diferentes meios visuais (MELLO, 2013, p. 131).

Em seu tempo de espera, os seres fotografados são transportados no tecido temporal até as práticas fotográficas arcaicas que necessitavam de um tempo maior de exposição e, consequentemente, de uma postura diferenciada daquele que é fotografado. Esse deslocamento no tecido temporal é ocasionado pelas características materiais do DFI e a sua potência em construir imagens, que, com suas 23


massas física e simbólicas, distorcem o espaço-tempo ocasionando alterações nas percepções de mundo daqueles que entram em contato com a câmera artesanal. Diversas atividades já foram realizadas com a comunidade dentro das ações do Núcleo de Pesquisa PhotoGraphein (UFPel/CNPq) tituladas “Experimentações PhotoGráficas” (Fig. 5), quando foi montado um gazebo em espaços públicos, na busca pela interação com os transeuntes e o estabelecimento de uma relação mais íntima a partir da disponibilização de diversas tecnologias PhotoGráficas do Imaginário, como câmeras analógicas, câmeras artesanais feitas com latas de sardinha, câmera lúcida, lunetas, lentes, e com o Dispositivo Fotográfico Instantâneo. Esse precioso tempo de partilha é uma oportunidade de encontro de águas dos meandros da vida. Na par-

tilha, as correntezas das águas sedimentam ideias no tecido do espaço-tempo imaginário. Ao encararem a lente do DFI no tempo de espera pela captação da imagem, cada sujeito se prostra frente à câmera na posição que se sente confortável para ser fotografado. Alguns sorriem, outros permanecem sérios e estáticos, enquanto os que se movimentam durante o escaneamento têm seus corpos distorcidos na leitura do scanner (Fig. 6).

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Figura 5 – Cláudia Mariza Mattos Brandão. Experimentações PhotoGráficas. Fotografia Digital, 2015. Figura 6 – Gustavo Reginato. Distorção do espacotempo provocado pelo DFI. Fotografia digital, 2015.

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4. Conclusões até o momento desta escrita

O mundo contemporâneo em sua complexidade exige dos seres uma capacidade de interconexão de ideias e tecnologias que se fundem na busca pelo resultado das somas. Quando dois se unem para surgir como algo híbrido, a capacidade de catalogação dentre as coisas já pré-existentes entra em colapso e é preciso formular um novo pensamento a fim de inventariar a nova coisa. O Dispositivo Fotográfico Instantâneo surge como

um novo meio de produção de imagens visuais que traz em si peculiaridades da soma de tecnologias, sendo utilizado em ações com a comunidade interna e externa com o propósito de elucidar sobre os conhecimentos da imagem e confrontar os seres fotografados com um tempo diferenciado do instante fotográfico. Esse encontro com o DFI, uma tecnologia do imaginário, possibilita àqueles que se permitem, uma viagem ao passado, ao presente e ao futuro imaginário, antes mesmo de se pensar em querer viajar. A observação e o registro fotográfico daqueles que cruzam os caminhos que o DFI percorre torna-se um objeto de pesquisa antropológica, baseado na sedimentação de imagens, seres e ideias influenciadas pela nossa relação com os espaços-tempos termodinâmico e imaginário. Na era da fotografia digital, a relação com a produção e o consumo de

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imagens é comparável à efemeridade das fotografias na época em que não era possível fixá-las na matéria. Poucos ainda imprimem algumas de suas fotografias para consumi-las como objetos fotográficos potentes de ressignificação simbólica. Isso pode ser feito na virtualidade da internet, mas cada meio tecnológico de produção e reprodução de imagens possui em si características que influenciam no modo de interação com a comunidade. O Dispositivo Fotográfico Instantâneo, como híbrido que é, abre portas para o devaneio poético, mostrando uma dimensão espelhada e monocromática de mundo em uma leitura escaneada que confronta os serem com um tempo fotográfico instantâneo não habitual que causa oscilações na percepção do espaço-tempo daqueles que cruzam o seu percurso, criando imagens e novas memórias que se depositam

e alimentam a bacia semântica do imaginário.

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Referências:

AUMONT, J. A Imagem. Sétima edição. Campinas SP: Papirus Editora, 2002. (Coleção Ofício de Arte e Forma). ISBN 85-308-0234-9. HAWKING, S. W. Uma Breve história do tempo. Primeira edição. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2015. ISBN 978-85-8057-646-7. MELLO, R. P. Rarefação e Construção Pictórica: Paradoxos Imagéticos. Tese (Doutorado) — Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. Disponível em: < h t t p : / / h d l . h a n d l e . net/10183/83561>. ROCHA, A. L. C. da; ECKERT, C. Imagens do tempo nos me-

andros da memória: Por uma etnografia da duração. Revista Iluminuras, Porto Alegre, v.1, n. 1, p. 2 – 14, Janeiro 2000. ISSN 1984-1191. Acesso em 11/01/2016. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/iluminuras/ article/view/8928>. SILVA, J. M. da. Tecnologias do Imaginário - esboços para um conceito. Chapecó: [s.n.], 2013. Disponível em: http://www.unochapeco.edu.br/saa/ correio/2013/10/ 1381519813255756/ tecnologias-doimaginario.pdf

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FAÇA VOCÊ MESMX O DFI 29


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VOCÊ VAI PRECISAR DE:

2 folhas 66x96cm kraft 400g ou outro papelão/ mdf, etc.

1 lupa de 50mm de diâmetro

1 espelho 20x28cm

1 vidro fosco 19x29cm ( jateado com areia)

cola branca e cola instantânea

tesoura

régua

paciência

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PASSO A PASSO

1- Nas páginas 34,35 você vai encontrar um desenho

do DFI planificado sobre duas folhas de kraft 400g. Infelizmente, uma das partes não cabe inteiramente na folha, então será preciso uma emenda. Utilize este esquema e desenhe as linhas de acordo com as medidas nas folhas de papel kraft. Recorte as peças.

2- Com as peças cortadas, Pegue a peça BASE, recorte

o retângulo de 13x22cm, dobre nos vincos, cole as abas e monte a semi caixa. Se você quiser uma moldura branca para a sua foto, pinte a parte de baixo da peça base de branco, ou brinque como quiser.

3-

Com a peça TOPO: recorte o círculo para a lente (4cmm de diâmetro). Para prender a lente ao TOPO, utilize os restos de kraft, recorte um círculo de 10cm de diâmetro, recorte outro círculo de 4cm de diâmetro no centro. Com esta rosca de papel, passe cola nas beiradas e prenda a lente co corpo. Cole o espelho com cola instantâneo ou silicone no local indicado. Espere secar no mínimo 6 horas antes de montar o topo. Depois disso cole as abas com folga para a peça encaixar na base. PRIMEIROS TESTES

4-

Coloque a peça BASE sobre uma impressora multifuncional, posicione o vidRo jateado dentro da BASE com a face opaca em contato com o vidro do scanner. Encaixe o TOPO na BASE. 32


5- Com a impressora conectada a um computador escolha uma sala com iluminação de uma janela. Posicione a lente do DFI a 1,5m da janela. Faça uma primeira digitalização. Observe sua primeira fotografia.

6-

De agora em diante o que vale são experimentações, você precisará tirar várias fotografias em distâncias diferentes da janela para descobrir a distância focal de cada objeto. Sabe por que o DFI foi feito em duas peças? para você conseguir mudar a distância focal. Quanto mais alta a distância entre a lente e a base, mais próximo da lente fica o foco. Experimente nas mais diversas alturas e distâncias, sugiro usar régua e trena.Quando encontrar foco que seja satisfatório, faça uma marcação de altura na peça BASE, faça dois furos em cada lado nas marcações. Toda vez que você quiser manter a distância focal neste ponto é só adicionar um prego/ palito de dente em cada furo, impedindo que a peça topo desça.

7-

Quando conseguir gitalizações depois de distância, ajuste em frente a câmera. piar e aproveite suas

bons resultados nas dide fazer os cálculos o foco e posicione-se Aperte o botão de cofotografias instantâneas!

Nenhuma câmera sairá igual a outra, então depende da sua paciência, observações e testes para chegar aos resultados desejados. Teste no sol, na sombra, em ambientes abertos e fechados. Experimente e brinque o quanto quiser! se tiver alguma dúvida entre em contato comigo: gustavoreginato11@gmail.com 33


BASE 34


lente

espelho

TOPO 35


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Produzido por: Editora Caseira www.editoracaseira.com contato@editoracaseira.com Reginato, Gustavo (1993Faça você mesmx: Dispositivo Fotográfico Instantâneo/Gustavo Reginato. Florianópolis: Editora Caseira. 2017

40p. il. col.

1. Publicação de Artista 2. Fotografia Artesanal 3. Faça você mesmo

Zine impresso em jato de tinta pigmentada sobre papel reciclato 70g, com capa impressa em jato de tinta pigmentada sobre kraft 200g. Grampeado, refilado e com os cantos arredondados <3


BE ANALOG, BE DIGITAL, BE WHATEVER YOU WANT SEJA ANALÓGICO, SEJA DIGITAL, SEJA O QUE QUISER



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