GIRLS WHO RIDE MAG #00 (português)

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GIRLS WHO RIDE #00 I JAN- MAR.14


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THE cover

by

RICARDO BRAVO

Nascido em Lisboa há 35 anos, Ricardo Bravo começou a brincar à fotografia aos 16. Como lhe disseram que aquela vida não o levaria a lado nenhum, resolveu levar a brincadeira mais a sério. Depois de experimentar o conforto da rotina durante pouco tempo, pôs as malas às costas e começou a procurar a melhor luz à sombra da incerteza de free lancer, o que continua a fazer hoje com o mesmo prazer e vontade. Começou por, em 1997, colaborar com a revista Surf Magazine, em 1998 foi fotógrafo do Teatro Nacional D.Maria II, ao mesmo tempo que acumulava “horas de voo” no laboratório caseiro onde imprimia fotografias a preto e branco. Foi nesse mesmo ano que começou a sua ligação às revistas SURF Portugal e Vert Bodyboard Magazine, que ainda hoje mantém. De 2000 a 2004 foi fotógrafo do suplemento de Domingo do jornal A Bola (Bola 7), de 2001 a 2005 foi editor de fotografia da SURFPortugal. Ainda em 2001, assumiu o cargo de editor português da revista Surf Europe. Tem colaborado com diversas publicações internacionais na área dos desportos alternativos e realizado trabalhos como free lancer nas mais diversas áreas da fotografia. De 2010 a 2013 foi fotógrafo da marca Quiksilver. Desde 2007 assumiu um papel de maior proximidade com uma das suas casas por excelência, tornando-se fotógrafo residente da revista SURF Portugal, onde também assina textos com alguma regularidade. Manuel Castro

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WHO WE ARE

Esta foto foi tirada numa das muitas tardes de skatada em Talaíde. Foi o skate que nos juntou e foi em Talaide que as três começámos a skatar juntas. Uma foto em homenagem ao skate e à amizade que o skate gerou.

GIRLSWHORIDE.MAG oriana brás catarina faustino susana torroais COLABORADORES ricardo bravo joana schenker marion haerty zana pedro serra antónio antunes rita oliveira inês correia andré pombo susana martins

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BIG THANKS TO maya gabeira red bull media house rita pico gordon a. timpen francisco pinheiro francisco lopez black veins surf portugal asp worldspoon.pt freestyle academy

CONTACTO gwrmag@gmail.com girlswhoridemag.com


ORIANA BRÁS

Seja no snow, wake ou longboard a minha inspiração vem sem dúvida dos desportos de prancha. Gosto de sentir os elementos e vivê-los e espero que com este projecto consigamos levar esta sensação a mais mulheres, que às vezes se escondem com vergonha de experimentar algo mais “radical”. Como em tudo na vida, o importante é o caminho que percorremos e aquilo que aproveitamos dele, por isso espero que desfrutem destas páginas tanto quanto nós desfrutámos a prepará-las!

CATARINA FAUSTINO Foi o skate que nos uniu, foi através dele que nos conhecemos e criámos laços... a GWRmag surge daí, é esse o ponto de partida. Queremos mostrar o que se faz no mundo dos desportos de acção no feminino e aliciar mais raparigas a juntarem-se a nós. Espero que gostem.

SUSANA TORROAIS A minha paixão pelos desportos radicais começou no bodyboard, mas, após uma operação à coluna e muitos parafusos depois tive que abandonar o mar. Dediquei-me ao skate longboard, já lá vão 7 anos, e desde então não houve outra paixão maior que esta. Sempre procurei atrair mais mulheres para o skate, e é com esse objectivo que nasce este projecto, promover a vertente feminina nos desportos de acção.

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DOGTOWN, CALIFORNIA by susana torroais

Em Dezembro passado, fui com uma amiga à Califórnia, e claro, como skater não podia deixar de ir conhecer os míticos spots, ao que na década de 70 foi chamado de Dogtown area. A nossa trip começou em San Diego, com uma aventura até Tijuana, acabando em Venice, a cidade dos loucos. Venice é o lar da contracultura, terra de poetas e artistas, underground skaters, conhecida nos anos 50 como “slum by the sea”. Procurámos na internet um Hostel para ficar, e o primeiro que apareceu situava-se mesmo na boardwalk, reserva feita e siga para Venice. Chegámos ao pôr-do-sol e digo-vos não existe pôr-do-sol mais bonito na Califórnia, que em Venice, todos os dias é diferente. Fomos até ao skateparque que foi construído na praia e ali ficámos até o sol desaparecer. Venice transforma-se do dia para a noite, e não nos é aconselhado andar naquela zona a partir das 18h, especialmente duas raparigas. Todos os dias acordávamos ao som de música na rua e rodas de skate a rolar, aqui a cultura do skate é brutal, e eu

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estava doida para agarrar no meu longboard e ir conhecer todos os cantos desta maravilhosa cidade. Fomos até Ocean Park Beach, que fica entre Venice Beach e Santa Monica, à procura de resquícios de Dogtown. Em meados de 1960, o bairro de Ocean Park que viria a ser remodelado, acabou em abandono, as ruínas do pontão tornaram-se num spot de surf, chamado de Dogtown pelos locais. Em 1975 foi tudo demolido. Foi aqui que um grupo de rapazes com uma enorme paixão de surfar o asfalto viria a revolucionar a cena do skate para sempre, os tão conhecidos Z-Boys. Este nome surgiu da famosa Zephyr Surf Shop, aberta em 1971 por Jeff Ho e Skip Engblom, e eu tinha que ir até lá. Hoje é um café, Dogtown Coffee, e todo o seu interior é um remembering da época, e a sensação de lá entrar é incrível. Perto deste local está Bicknell Hill, a famosa descida onde os Z-Boys andavam de skate diariamente. Descer esta rua e imaginar que há décadas atrás lendas do skate andaram ali... a sensação é indescrítivel. Chamem-me lamechas, mas, fiquei emociada de skatar ali.


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Venice tem este poder, envolve-nos e cresce dentro de nós. Eu acho que quem vai a Venice ou se apaixona ou detesta, e eu apaixonei-me por toda aquela crazyness. Para todo o lado deslocamo-nos de skate, assim como outras tantas pessoas, velhos, novos, sem abrigo, homens, mulheres, aqui toda a gente anda de skate. A boardwalk é um fascínio, a arte urbana e toda a história que esta cidade alberga é extasiante. Atrás da rua onde estávamos viveu Jim Morrison, e também Ray Manzarek, foi aqui que se conheceram e juntos formaram os The Doors. Eu sou mega fã dos Doors e da janela do nosso quarto víamos o mural em sua homenagem, melhor impossível. De todos os sitios onde estivemos, e acreditem que a California é linda, Venice ganhou um lugar no meu coração, sem dúvida um lugar para voltar e ficar por muito tempo. Não se deixem dormir e marquem a vossa próxima viagem para lá.

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“It was dirty. It was filthy. It was paradise.” Skip Engblom

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“It was all about Style.” Tony Alva

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cr贸nica

ph. francisco pinheiro

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BODYBOARD FEMININO

NO

by joana schenker

Os desportos de ondas estão em expansão. Vê-se nas revistas, nos anúncios, famosos e modelos de prancha na mão. O ”feeling” de liberdade, estilo de vida activo, é associado ao bem-estar, à beleza natural, jovialidade. Essa imagem vende, seduz e contribui activamente para um aumento de praticantes. O bodyboard não é excepção. Temos cada vez mais praticantes regulares, miúdas e mulheres que gostam de desafios, do contacto com a natureza e procuram um estilo de vida mais activo e saudável. Mas enquanto o lado amador do desporto cresce, o lado profissional encontra-se com grandes dificuldades. Portugal tem uma longa história de sucesso no panorama do bodyboard feminino internacional. Várias atletas conseguiram títulos importantes a nível europeu e mundial trazendo imensas alegrias para Portugal, inspirando outras raparigas a pegar numa prancha. A competição é importante, para dar imagem e credibilidade ao desporto, para além de que a competição é fundamental para a evolução da qualidade técnica.

Em 2013 , somente uma atleta portuguesa correu o Circuito Mundial na íntegra. Não é por falta de nível técnico, é simplesmente por falta de apoios, patrocínios. Esta realidade, não só é triste para as atletas que investiram muitos anos da sua vida no desporto, como também uma desmotivação grande para todas as novas atletas e futuras campeãs. É uma situação preocupante, que compromete directamente o crescimento e a continuidade do bodyboard feminino nas competições. As mulheres têm a capacidade natural de transmitir beleza no que fazem, aquele jeito feminino, difícil de explicar, mas visível a todos. Vejo um mundo de oportunidades a ser criado. As marcas não devem ficar indiferentes, estão a perder uma oportunidade de negócio. Explorar a imagem das atletas numa vertente real, cativante e inspiradora para as outras mulheres. Esta pode ser a solução para o bodyboard profissional feminino.

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ph. francisco pinheiro

ph. francisco pinheiro

ph. francisco pinheiro

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ph. francisco pinheiro


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flash interview

MARION HAERTY

by oriana brás

Marion Haerty (a.k.a. Azerty) é uma rider de snowboard Francesa que tem vindo a apelar à evolução deste desporto na Europa. Nascida a 22 de Janeiro de 1992 (22 anos) em Grenoble, também pratica wakeboard e skate, no entanto a sua grande paixão é decididamente o snowboard, porque como ela própria diz “é o meu primeiro amor”. Conheçam-na um pouco melhor na nossa Flash interview em baixo.

“Follow the snowboarding way and your life will be better!” | 17


ph. romain dujean

Quais são os teus principais patrocionadores este ano? Rip Curl, Chamrousse, Vans, Rossignol, x_sories e LaGlisse.

começar este desporto? Que tenham paciência e motivação, que nunca desistam. Depois de 2/4 quedas começa a saber muito bem.

Quando é que começaste a praticar snowboard? Há 11 anos atrás. Oh Meu Deus, já sou um lobo velho!!

Qual o teu local preferido para ridar e porquê? A estância em casa porque tem uma paisagem magnífíca em Grenoble, e sentes-te bem na floresta. Para além disso, o park é muito bom para rasgar.

O que é que te levou a começar este desporto? O meu irmão mais velho praticava snowboard e era o meu modelo. Eu experimentei e nunca mais deixei a minha prancha. O que é que sentes quando estás a praticar snowboard e o que gostas mais neste desporto? Gosto deste desporto porque permite-me conhecer imensas pessoas, lugares, países...e sentes-te livre!

Qual é a tua melhor manobra? Talvez o rodeo back. E que novos truques podemos esperar na próxima temporada? Ter um bom cab7.

E competição? Quais foram os títulos mais fantásticos que já alcançaste? O campeonato de França, fiz vários pódios na European Cup Qual foi o maior desafio que encontraste no e na última temporada estive no primeiro degrau do TTR 4. snowboard? Poder voar no céu, sem asas. E se um dia a neve acabar? Existe um plano B? Que conselho darias às meninas que estão a Wakeboarding ! 18 |


Se pudesses escolher alguém para ridar contigo, quem seria? Jamie Anderson porque tem sempre um sorriso e muito boas vibes. Se encontrasses a lâmpada do Aladino, quais seriam os teus 3 desejos? - Boa saúde, para mim e para os meus amigos; - Continuar a praticar snowboard por muito tempo; - Que o ser humano se preocupasse com o planeta. O que podemos sempre encontrar na tua mala de viagem? Stoppers para as orelhas, batôm para os lábios, água, mp3, um livro e óculos de sol.

Qual é a tua banda sonora para ridar? The Kills - Future Starts Slow . O que é que nunca farias na tua vida? Correr nua na rua. Se tivesses uma máquina do tempo, onde irias primeiro? Iria 100 anos no futuro, para ver se a terra estava de boa saúde. E se tivesses um super poder, qual seria e porquê? Se possível apenas ter um corpo inquebrável. O que é que nunca te perguntaram e gostavas que te perguntassem? Não sei haha qual é a minha série favorita no momento? Lord of Thrones.

ph. stephen ciuccoli

Como seria o teu dia perfeito? Beber um belo batido, não estar cansada e ter uma enorme montanha só para mim e com muito sol.

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oldschool

CARINAcampeã DUARTE nacional surf A imagem está um pouco desfocada porque as máquinas há 10 anos não tinham a mesma qualidade. Esta fotografia foi tirada em junho de 2002. O meu primeiro dia de surf e a minha primeira vez em cima de uma prancha. Foi na baía da praia do Sul na Ericeira. Como podem ver comecei logo com ondas grandes (os primeiros dias de surf foram sempre na baía e punha-me de pé e depois o Alvaro Botelho empurrava-me)!

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SEM MEDO NÃO HÁ ADRENALINA MAYA GABEIRA by catarina faustino

Arriscar faz parte do que faz, a escolha foi dela e já por duas vezes ia perdendo a vida. Uma delas, a 28 de Outubro 2013, em Portugal, na Nazaré. Maya Gabeira esteve no nosso país para tentar surfar uma onda gigante, que Garett McNamara deu a conhecer ao mundo em 2011. O swell gigante não decepcionou os big wave riders presentes na Nazaré , incluindo a comitiva brasileira que tentava bater o recorde mundial de McNamara. Maya entrou e surfou uma onda gigante, mas acabou por cair e foi arrastada debaixo de água até à praia e teve mesmo de ser reanimada. Foi de imediato levada para o hospital. Mazelas: um tornozelo partido e 3 meses de recuperação.


yuri & maya gabeira, © Red Bull Media House

Maya Gabeira, 26 anos, nasceu no Rio de Janeiro, começou a surfar aos 14 anos e descobriu o gosto pelas ondas grandes aos 17. Vencedora dos XXL awards (óscar das ondas grandes) 4 vezes consecutivas entre 2007 e 2010 e novamente em 2012 na categoria melhor performance feminina, é a grande referência do surf femino de ondas grandes.

© Red Bull Media House


Š Red Bull Media House


Antes do susto de dia 28 Outubro na Praia do Norte, Maya já tinha estado perto da morte em Agosto de 2011, em Teahupoo. Só regressou à gigante do Tahiti em 2013!


Rider: Susana Torroais Ph: Gordon A. Timpen

Exclusively available at info@layback-distribution.de



Susana de Campos Moraes. Se falarmos neste nome de nascença, muitos de vocês não vão reconhecer, mas quando falamos na ZANA de certeza que o nome não vos passa ao lado. 28 anos, nascida em Lisboa e residente na mesma cidade, a Zana é uma artista com um estilo único, e uma fã dos desportos radicais. Quando era pequena, era o irmão que a levava todos os fins-de-semana para jogar basket e praticar Kung Fu. Mais tarde veio a fase da dança e actualmente as suas actividades tornaram-se mais sazonais, sendo o Inverno ocupado pelo Snowboard e o Verão pelo Wakeboard. Foi também enquanto criança que surgiu a paixão pelas artes. Desde cedo, que recebia como presentes pastéis secos e de óleo, boas aguarelas e lindos cadernos de folha grossa onde podia dar asas à imaginação e pintar aquilo que lhe ia na alma. Aliás, o seu passeio favorito era uma visita à papelaria Campus, que compara a uma visita a uma loja de gomas. Esta influência artística passada pelo pai que sempre desenhou e pela mãe que sempre valorizou os seus rabiscos enquanto criança, revelou-se ser um futuro de sucesso para esta artista. Apesar da própria não identificar o seu estilo com nenhuma vertente específica, o seu trabalho está em constante evolução e mudança, crescendo com a artista. Apesar de uma forte atracção por culturas com fortes representações artísticas como cultura Africana e arte oriental ornamentada, a sua inspiração provêm muito das viagens que faz

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regularmente. É também esta a música que mais a inspira –música do mundo, ecléctica, que a transporte para outro sítio fora das quatro paredes. Na sua mala de viagem, sempre um caderno e estojo para quando a inspiração surgir, e apesar dos seus materiais preferidos serem o pincel (acrílico ou outro tipo de tinta), é com o papel e a caneta preta que está no seu meio mais natural, aquele onde se sente como peixe na água. Ainda assim, o seu local de eleição para a criação é sem dúvida o seu atelier, localizado na sua própria casa. O seu percurso artístico profissional marcou-se com a exposição A Morte da Princesa, na fábrica Braço de Prata em Lisboa. Um projecto que resultou de 9 meses de introspecção, onde se encontram retratos sobre memórias e infância e uma pintura e reflexão profunda sobre a morte, a velhice, a passagem e a transformação. Mas para além desta exposição marcante, outros projectos merecem um destaque como a semana nos Imaginary Beings, uma exposição de vários artistas Portugueses e Estrangeiros em Loulé. Mais do que uma residência artística, foi um período que permitiu o convívio com pessoas muito interessantes e com talentos notáveis. Também o seu projecto pessoal, que já dura à algum tempo, mas que ainda se encontra no segredo dos Deuses, é de importância vital para a artista.


arte

ZANA

by oriana brás

“Procuro ouvir-me, incansavelmente.” | 29


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Este envolve o auto-conhecimento, a metamorfose e a transformação do corpo através da exploração de novas formas gráficas e plásticas que traduzem esse crescimento ou mutação. Para além dos projectos para exposições, podemos encontrar ainda o trabalho da Zana, presente em vários livros que a artista ilustrou, tendo uma preferência pela Fábrica do Nada. Um conto escrito por Natália Alves. Foi uma história que gostou de imaginar e criar visualmente. Posteriormente, este projecto resultou no lançamento do conto e também numa exposição. Existem ainda outros trabalhos que vai fazendo, como por exemplo trabalhos de design enquanto freelancer. Paralelamente, quer ainda continuar a explorar a arte como terapia para poder trabalhar e ajudar os outros através deste meio. Ocasionalmente surgem alguns trabalhos por encomenda, embora estes sejam os que evita pois não permitem a liberdade criativa que nos habituamos a ver na arte da Zana. É neste papel de artista revigorante que enquadramos a nossa artista deste mês. Na sociedade actual, com tantos papéis a cumprir, deve ser a arte a trazer a lufada de ar fresco que todos precisamos, para conseguirmos sentir na música o espírito individual do compositor, ou ver num

quadro o imaginário de certa pessoa. É aqui que encontra a melhor parte de ser artista – poder expressar a sua verdade, e aquilo que é. Ter um meio onde diluir as suas ideias, pensamentos e traduzi-los visualmente, dar-lhes um novo significado. E apesar de cada pessoa interpretar as obras de arte de maneira diferente, é sempre curioso ouvir o outro lado e saber o que o artista conseguiu transmitir às outras pessoas. A dualidade da arte levou-nos a questionar a Zana sobre as obras terminadas. Como saber quando uma obra está finalizada e pronta a cumprir o seu propósito – “ Creio que há algumas que têm fim e outras não. Há muitas que não terminam. De qualquer forma é uma coisa que se sente, durante o processo há um diálogo subtil entre mim e aquilo que estou a pintar. Percebo facilmente quando já chega.” Apesar da sua carreira curta, são os momentos mais insignificantes e que cabem num segundo aqueles que mais a emocionam: um elogio, uma opinião de alguém. A sensação de concretização em determinado momento, olhar para trás e ver o caminho percorrido. No futuro, os projectos de sonho passam por continuar a pintar, ser feliz, e ter o suficiente para continuar a fazer aquilo que gosta e ir com a sua arte “to infinity and beyond”.

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PASSATEMPO GANHA UMA TSHIRT LTB !!!

Enviem-nos as vossas melhores fotos girls who ride até dia 1 de ABRIL 2014 publicamos a foto vencedora e as melhores fotos na próxima edição da gwr MAG gwrmag@gmail.com


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photography

RICARDO BRAVO

francisca pereira dos santos. guincho


vera costa

A primeira vez que fotografei a Vera Costa – será sempre a Verinha – ela devia ter uns 12 anos. uma carinha engraçada de menina bolacha Maria perdida na assistência do Aloha Girls, o primeiro evento feminino de grandes dimensões realizado em Portugal. Nunca imaginei que dez anos depois estaria no meu estúdio a fotografar a Verinha surfista, artista, mulher

Sempre gostei de fotografar com a Xica. Uma das melhores surfistas que Portugal já conheceu (tinha potencial para chegar ao WT), uma personalidade forte e um rosto com traços bonitos que eram – e ainda são – um espelho da sua personalidade.


A Filipa surfa as ondas de Peniche com invulgar à vontade, fez um doutoramento em álgebra geométrica que só o nome assusta e ainda passa pelos trabalhos de fotografia com uma facilidade desconcertante. Brains and beauty.

maria abecassis. maldivas

A Maria teve a sorte de estar integrada num grupo – Surf Technique - de onde saíram nomes como Vasco Ribeiro, Zé Ferreira, Miguel Blanco e muitos outros dos nossos melhores. Juntou às condições favoráveis o seu talento natural e o resultado foi este.


filipa prudĂŞncio. caparica

filipa prudĂŞncio. caparica


francisca pereira dos santos. são miguel, açores.


Numa viagem recente com o team da Roxy aos Açores, as ondas não colaboraram connosco, mas, ainda conseguimos momentos como este em que todos os factores se juntam para criar uma imagem que respira surf no feminino.


teresa duarte. indonésia

Talentosa bodyboarder de Sagres amiga “cá de casa”, desta vez a Teresa ficou à frente da minha máquina num dia sem ondas em Bali. O sorriso que a caracteriza não ficou na fotografia, mas a paixão pelo mar está toda lá.

sni, backdoor, hawaii


Sempre que um pai de uma jovem surfista me pede conselhos sobre o destino para uma próxima viagem ,a minha resposta é a mesma: Hawaii. É lá que tudo acontece, que nos confrontamos com os nossos medos e com uma realidade que vai certamente moldar o futuro de quem está a começar. Não me lembro de ter alguma vez registado algo sequer semelhante a esta imagem em Portugal. O que por cá é excepção, no inverno havaiano é a rotina.


PARQUE DAS GERAÇÕES by catarina faustino

É sempre uma boa notícia a inauguração de um skatepark. A GWR esteve no parque das gerações, em São João do Estoril, no dia de abertura e, claro, falou com várias meninas do skate nacional e com o arquitecto do projecto, o também skater Francisco Lopez, aka França, que nos contou como o projecto nasceu. “A ideia nasceu por volta de 2008 por parte de um telefonema do Pedro Coriel, que me queria desafiar para uma loucura. A ideia era desenhar uma proposta para um desconhecido (o Pedro) que sozinho queria ir à câmara apresentar o projecto de um skatepark. Achei que se um desconhecido que já não era praticante de skate queria ir apresentar uma proposta destas, que devia estar junto nesse sonho, pois se não formos nós, skaters, a perseguir os nossos sonhos , ninguém o vai fazer por nós. Depois do dito telefonema foi logo passar a acção e entre setembro e dezembro de 2008 o parque ganhou a sua primeira forma, esta, que veio a ficar na gaveta até sensivelmente Maio/ Junho de 2011, altura em que o Pedro quis voltar à carga com o sonho e apresentálo ao orçamento participativo. Aí, com a mobilização dos principais media da área

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de skate, websites , facebook, grupos de skaters e cidadãos de área, o projecto ganhou uma exposição a nível nacional e foi graças a todos estes votos da família do skate que se pôde começar a concretizar o sonho.” O parque das gerações foi então projecto vencedor do primeiro orçamento participativo da câmara de cascais, “a primeira visita de obra como vencedores foi em Janeiro de 2012 e até setembro desse mesmo ano foi realizado todo o projeto e ficou fechado o layout final. Finalmente em janeiro de 2013 começaram as primeiras modelações do terreno, com as máquinas pesadas em acção, depois, entre o inverno mais chuvoso dos últimos 50 anos a variadíssimos outros problemas que vão sempre aparecendo numa obra desta complexidade, lá foi inaugurado, sobre muita pressão, expectativa e ansiedade, o Parque das Gerações, em Setembro de 2013.” Falámos com algumas skaters e pedimos opiniões sobre o novo skatepark e as primeiras impressões foram muito boas. Tété Gaspar, 19 anos, Queluz “Os meus spots preferidos são a praça da figueira, o skatepark de ílhavo, e agora o parque das gerações.


Acho que está um skatepark brutal, dá para aprender, evoluir e divertir. Podemos explorar tudo, perder os medos, abrir asas à nossa imaginação com os pés em cima do skate. O que mais gosto no parque das gerações é o facto de ele ser gigante e ter todo o tipo de obstáculos.” Catarina Quina, 16 anos, Amadora “O Parque está brutal é um dos melhores e só não é o melhor porque o meu skatepark de eleição será sempre o ski skate parque da amadora. Eu sou suspeita porque o França é o meu arquitecto preferido e acho que os parks dele são sempre curtidos e este em especial pois dá para lines perfeitas e é um parque que apesar de ter obstáculos para todos os níveis, nunca cansa. O que mais gostei no Parque das Gerações foi sem dúvida a Praça Mar pois é perfeita e a manual pad mais pequenina é top mesmo!” É indiscutível que existem mais rapazes a andar de skate que raparigas, mas estas duas girls deixaram palavras de incentivo. Tété “Infelizmente o skate feminino em Portugal podia ser melhor. Somos muito poucas, mas , temos o espírito,

a força de vontade e união que precisamos. Bem meninas, façam-se mulheres e ponham a vergonha de lado, vão para os spots em vez de andarem escondidas, apresentem-se ao pessoal, aprendam com eles a humildade e o verdadeiro espírito do skate, o skate não é só manobras, é união e amizade. E para quem ainda não começou, mas tem vontade, ponham-se em cima do skate, vão ver que não custa nada e quando derem por vocês já estão a mostrar aos rapazes quem é que manda ahah. Catarina “sendo muito sincera, acho que o skate feminino está fraco em Portugal… mas pronto, há muitas raparigas escondidas por ai que não skatam pois têm vergonha! As raparigas com que ando são brutais e andam muito! Por isso, NÃO TENHAM VERGONHA DE SKATAR! O skate não é uma cena só de rapazes e skatar é das melhores cenas que há! Se tiverem vergonha, venham skatar comigo e com as minhas amigas tenho a certeza que se vão divertir! Keep on rolling “ Do que é que estão à espera?

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moda

BLACK VEINS

fotografia | pedro serra. ant贸nio antunes make up | rita pico

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ph: pedro serra

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ph: pedro serra

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ph: pedro serra


ph: ant贸nio antunes

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ph: pedro serra

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ph: pedro serra

ph: pedro serra

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carissa moore, worldspoon.pt

EDP CASCAIS GIRLS PRO Teve lugar em Outubro passado, o maior evento de surf feminino em Portugal, o EDP Cascais Girls Pro 2013. A praia de Carcavelos e do Guincho foram as eleitas para receberem as 17 melhores surfistas e a portuguesa Teresa Bonvalot, que recebeu a wildcard para Cascais. Carissa Moore a lĂ­der do circuito sagrou-se campeĂŁ mundial, pela segunda vez, lugar disputado pelas australianas Tyler Wright e Sally Fitzgibbons a a norte-americana Courtney Conlogue. Tivemos o prazer de falar com elas e tentar saber o que pensam acerca do circuito.

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A a S t p t n


How are you feeling after winning your second world title? Carissa Moore: I feel incredible after winning my second world title, and it feels awesome to be in this position, specially surfing against all my amazing competitors, you know, they are surfing so well, so to be at the top is really cool.

And regarding women surfing, do you think the evolution as been really good this year? Sally Fitzgibbons: I think that, you know, our generation totally came on and they’re all so hunger to win, that they are pushing the level up and up. So I think next year we’re going to have the opportunity to perform again, and that’s all we need, to see what the girls can do.

Can you leave some inspirational words to our readers? Stephanie Gilmore: Yes, always have fun, make sure you’re enjoying it, and never underestimate yourself, and dream big, because when you set your mind to something you can always achieve it.

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teresa bonvalot, worldspoon.pt

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carissa moore, worldspoon.pt

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- the other side -

RITA OLIVEIRA Chamo-me Rita Oliveira tenho 33 anos e vivo na margem sul concelho do Seixal. Tenho uma paixão por desportos radicais dentro de alguns limites, que não comprometem o meu desempenho quer profissional quer pessoal. Com muita pena minha em Portugal é muito difícil viver do desporto. Tenho imenso gosto em contar o que se passa o meu dia a dia. Começa bem cedo levanto-me por volta das 6h45, vou para o escritório em Lisboa, onde trabalho no ramo Segurador Auto. Durante o tempo de almoço despacho alguns assuntos pendentes dos meus hobbies, e aproveito para

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ir ao supermercado. Saio por volta das 18h00 vou para para a margem sul, tento agendar os dias para fazer um pouco de tudo, entre o ginásio, preparar a minha moto para os track days, limpar a casa entre outros. Chego a casa tarde, nem sempre motivada para ainda preparar o almoço que levo para o escritório, passar a ferro e até mesmo ligar o pc e trabalhar mais um pouco. Na época passada, nem sei como aguentei, frequentei um curso todos os dias das 19:00 até as 23:00, durante o curso tive ainda que organizar todos os preparativos para o meu casamento. Tenho uma família espectacular que me ajuda imenso a ultrapassar os momentos menos bons e


quando as forças me faltam, o melhor de tudo é que me acompanham e estão sempre presentes no momentos que eu preciso. Como já referi anteriormente a minha semana é intensa, mas os fins-de-semana são de doidos entre treinos de wakeboard e track days, tenho que agendar os fins-de-semana ou até mesmo fazer tudo entre o sábado e o domingo.

As minhas férias são em grande parte dedicadas aos desportos . Neste momento, estou grávida e ansiosa para que tudo corra pelo melhor e para o inicio da época espero estar em forma. Este ano tenho mais um apoiante. Eu ao contrário da maioria dos casos, não me queixo da rotina do dia a dia. Adoro o que faço.

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GIRLS ON WHEELS by catarina faustino

Têm nomes como Holy Tramp, Mary Pan, Lita Gone Lethal, Bloodrunner e Lady Di_Struction, são roller derby girls e estes são os nomes de combate delas. Combate talvez seja exagero, mas o roller derby é um desporto de contacto e quem nele entra não sai incólume.. Falo do corpo e do espiríto… e no bom sentido. Quando perguntamos a uma praticante porque gosta deste desporto, invariavelmente na resposta temos palavras como descompressão , união e amizade… O roller derby é um desporto de contacto, sobre patins e sem bola.. tem origem nos EUA, mas já começa a ter alguma expressão em Portugal. As pioneiras nacionais são as Roller Derby Porto … desceram até à capital para defrontar as Lisbon Grrrls, no primeiro bout entre duas equipas nacionais. Rivais em campo, mas amigas fora dele, o ambiente é de

convívio e alegria… o resultado pouco interessa (ganharam as Roller Derby Porto), bom mesmo foi estarem todas juntas e fazerem a festa. Isto não significa que não levam o jogo a sério, muito pelo contrário, até porque já existe uma selecção nacional formada e com o objectivo de participar no mundial de roller derby em Dallas no próximo ano… os treinos já começaram e vamos ficar a torcer por elas. Se tiverem interesse em fazer parte de uma equipa, informem-se porque as equipas estão sempre a recrutar novas roller derby girls. JOIN IN!

facebook.com/LisbonGrrrlsRollerDerby facebook.com/rollerderbyporto 56 |


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Nome Inês Correia Alcunha Não tenho :) Idade Origens

20 Portugal, Montijo

Desporto Kitesurf Sponsors Red Bull, TMN, ROXY, RRD Conquistas Campeã Mundial 2011 e Vice Campeã Mundial 2012 Melhor manobra O objectivo é ter uma melhor todos os dias ;) Praia preferida/spot de eleição One eye, Ilha Mauricias Viagem de sonho: Tahiti Atleta preferido Difícil escolher o preferido... tenho várias atletas que admiro! Qualidade

Lutadora

Defeito Mau perder Hobbies Sup Comida preferida Adoro comida ;) Açaí, saladas e gomas. Maior susto

Na lagoa de albufeira com mar gigante a fazer Sup e no Guincho a fazer kite

Filme preferido Gosto muito do Soul Surfer, já vi 200 vezes e acho que é uma grande inspiração para qualquer atleta. Banda preferida Ben Howard Aquilo que mais gostas

Praia, família, ondas e os meus cães ;)

Aquilo que mais odeias

Ratos, frio, Inverno e flat

Umas férias bem passadas

Spot paradisíaco, água quente, sol, altas ondas esquerdas o dia todo, manhã sem vento para Sup e tarde com vento para kite, família e amigos como companhia.

Uma Mensagem

Sigam os vossos sonhos! Façam aquilo que realmente gostam, dediquem-se a 100% aos vossos objectivos! Mas acima de tudo encarem sempre o “vosso” desporto como uma diversão e algo que fazem por gostarem muito!

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INÊS CORREIA

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workout

SNOWBOARD by andré pombo - freestyle academy

Quantas vezes sentiram que podiam andar mais e melhor, mas, os vossos músculos das pernas não o permitem? Acredito que já tenham passado por isso pelo menos uma vez na vida. O problema é que muitas vezes vamos para a neve e provavelmente já se passaram mais de 6 meses desde a última vez que pusemos os pés na neve e preparação física específica para snowboard é pouca ou mesmo nenhuma. Para que isso não aconteça, mais uma vez, proponho fazermos alguns exercícios. Vamos focar essencialmente os músculos das pernas e os abdominais, mas, não se esqueçam que ter um plano de

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treino completo é fundamental para que a vossa performance seja óptima. Em primeiro lugar temos de analisar o movimento do desporto que praticamos para sabermos como podemos trabalhar os músculos mais solicitados. Assim, e sabendo que muitas de vocês não têm muito tempo para treinar sugiro um treino de 30/40 min, sem material adicional, para que possam fazê-lo rapidamente e em casa. Vamos fazer 3 séries de 10 exercícios, 12 a 20 repetições. Comecem por fazer um bom aquecimento, 10min de corrida lenta devem ser suficientes.


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Isolation Squat Jumps - Comecem por fazer um agachamento completo (atenção que os joelhos não devem ultrapassar a ponta dos pés), e façam uma extensão completa. Depois façam 2 repetições até meio e uma extensão completa com salto no final. Caso seja demasiado exigente ou já não treinem há algum tempo é preferivel ficarem pelo agachamento normal.

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Russian Twists - Sentem-se no chão e levantem os pés com os joelhos dobrados a 90º. Deixem as vossas costas descer até realizar um angulo de 45º em relação à barriga e rodem o tronco para a direita e para a esquerda contraindo os abdominais. Podem realizar o mesmo exercício com os joelhos no chão para ser mais acessível.

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Saltos Laterais - Com os pés juntos vamos saltar da direita para a esquerda avançando e recuando (zig-zag). Se preferirem uma situação mais exigente podem faze-lo só com um pé. Fundos - Com as mãos numa cadeira, vamos descer o máximo que conseguimos, com as costas direitas, e vamos voltar à posição inicial. Saltos laterais (pé coxinho) - Apenas com um pé apoiado no chão vamos saltar para a direita e para a esquerda, fazemos 20 reps com um pé e 20 com o outro. Saltos frontais (pé coxinho) - Apenas com um pé apoiado no chão vamos saltar para a frente e para trás, fazemos 20 reps com um pé e 20 com o outro. Agachamento estático com trabalho de gémeos - Em posição de agachamento (joelhos sensivelmente a 90º) vamos elevar os nossos calcanhares. Agachamento estático com trabalho do Tibial Anterior - Em posição de agachamento (joelhos sensivelmente a 90º) vamos elevar as pontas dos pés ficando apenas apoiado nos calcanhares.

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Lunges dinâmicos – Partindo da posição de pé vamos fazer um afundo à frente até dobrar o joelho a 90º. De seguida, voltamos à posição inicial e realizamos o movimento novamente com a outra perna. No caso de não estarem minimamente treinadas podem faze-lo estaticamente, ou seja, sempre a mesma perna.

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Prancha para Estrela - Partimos da posição de prancha com os braços em extensão e realizamos uma rotação da bacia e do tronco por forma a ficar completamente de lado. Ao estabilizar nesta posição vamos levantar a perna de cima.

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BORA ATÉ SAGRES... DE BICICLETA by susana martins

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Já não era a primeira, nem a segunda vez que chegava a casa e pensava no quanto estava farta de conduzir o meu carro e na dependência que ele me causava, e por consequência o dinheiro que gastava. Estava a precisar de umas férias dele e de tudo que estava a fazer parte da minha rotina. Pode parecer louco, mas o que me apetecia era pegar na minha bicicleta de BTT, pedalar por aí a fora sem regras e sem destino. Claro que não sou assim tão louca, e pelo menos um destino tinha de ter. Sugeri ao meu namorado irmos de bicicleta até Sagres (um dos meus sítios favoritos para passar férias), concordou, mas disse logo assertivamente “Se é para ir de bicicleta, é para voltar de bicicleta, não vimos de comboio ou autocarro”.

Achei demais, mas não me pronunciei, porque no fundo tinha o mesmo pensamento que ele, concordei sem pensar muito na vinda. Eu queria era pedalar daqui para fora, pedalar horas a fio sem regras nem horários para cumprir, passar por trilhos desconhecidos, parar em praias para uns mergulhos, comer e continuar a pedalar, queria realizar alguns desejos que tinha vindo a alimentar. Tínhamos nove dias para esta aventura, era o tempo que me restava de férias, antes de voltar para os meus cursos e trabalho. Na prática foram sete dias. Os únicos transportes que apanhámos foram barcos, dois para lá e dois para cá.

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Foram 655km a pedal, por estradas, trilhos, praias e até arrozais. Nunca nos sentimos realmente cansados, talvez um pouco saturados em algumas ocasiões devido à falta de respeito pelos cicloturistas. Mas as praias desertas, o acordar todos os dias numa praia ou parque de campismo diferente, os mergulhos em águas cristalinas, pedaladas nocturnas no meio dos arrozais, o chouriço de soja assado numa festa na praia, as maravilhosas pizzas vegetarianas na aldeia da Pedralva, as estrelas cadentes, as cegonhas que chamavam outras cegonhas, as paisagens e até as dores nos músculos que me faziam rir de tanto doerem…tudo isto compensou a atitude dos automobilistas que nos fizeram razias e apitavam para sairmos da estrada. Claro que esta experiência soube-me a pouco, quero mais, muito mais…quero continuar a viajar de forma sustentável, dentro ou fora de Portugal, esta é a minha filosofia, a minha nova visão das coisas.

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www.suprasuma.com


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L O V E L I V E R I D E girlswhoridemag.com


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