HajaSaúde! - Novembro/Dezembro16

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Investigação Médica

Edição nº 2 | Dezembro 2016

HajaEntrevista! a António Mateus-Pinheiro HajaMemória! João Lobo Antunes HajaCrónica! Portugal, um país de Ciência?


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Ficha Técnica Contactos Email: hajasaude.ecs@gmail.com | Site: http:// hajasaude.ecs.wixsite.com | Facebook: https:// www.facebook.com/hajasaude.ecs | Instagram: hajasaude.ecs Morada Campus de Gualtar, Universidade do Minho Escola de Medicina da Universidade do Minho, 4710-057 Braga, Portugal

“Estudante de medicina e investigadora do ICVS, ganhou o primeiro prémio da Fundação AstraZeneca de Inovar em Pesquisa Básica”

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Registo na Entidade Reguladora da Comunicação com o número 126906 Impressão e Acabamento Graficamares Rua do Parque Industrial Monte Rabadas, 10 PROZELO 4720-608 AMARES | Telefone: 253 992 735 – 253 995 297 | Fax: 253 995 298 | Email: geral@graficamares.pt Tiragem: 3000 exemplares Presidente: Joana Silva Editor: Alumni Medicina Editora-chefe: Ana Sofia Milheiro Co-editores: Gonçalo Cunha e Joana Silva Redatores: Ana Sofia Milheiro, António MateusPinheiro, Catarina Pestana, Gonçalo Cunha, Inês Braga, Inês Braga, Joana Silva, João Barbosa Martins, João Lima, Jorge Machado, Jorge Silva, Kelly Pires, Mário Carneiro, Nuno Gonçalves, Núria Mascarenhas, Pedro Peixoto, Sofia Leal Santos e Tiago Rosa. Revisor linguístico: Jéremy Fontes Design gráfico: Catarina Fontão

HajaTecnologia! “Diagnosticar, tratar e curar com um computador”

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HajaBraga! “Remanescentes de um primeiro de dezembro”

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HajaEntrevista! a António Mateus-Punheiro

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HajaCrónica! “Portugal, um país de Ciência?”

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HajaSexualidade! “A Sexualidade na Investigação Médica”

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HajaDesporto! “Superséries”

Índice 3

HajaEditorial!

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HajaMemória!

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“Jackie” “Manchester by the Sea”

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HajaCiência! “Um cérebro plástico: Novas perspetivas sobre células estaminais neurais no cérebro adulto”

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HajaBreves! “Presidente da República visita Centro Clínico Académico (CCA)” “Escola de Ciências da saúde passou a Escola de Medicina”

HajaPaciência! “Todos a bordo do comboio do Panda” “Tour de Takong”

“João Lobo Antunes”

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HajaCinema!

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HajaMúsica! “Conselhos da Rebeca”

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HajaHumor! “Um pedaço de Califórnia no Parque das Nações”


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HajaEditorial por Ana Sofia Milheiro [6º ano]

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or estas alturas, costuma ouvir-se a frase “Ano Novo, Vida Nova” e muita gente aproveita o final de ano para refletir sobre o passado e definir etapas para a próxima volta em torno do sol. Como sabemos que, por vezes, nós, estudantes de medicina, queremos mais: queremos fazer mais do que apenas estudar, queremos ter novas experiências, adquirir novas competências, expandir os nossos horizontes e olhar o mundo de diferentes perspetivas; abordamos, nesta edição, a Investigação Científica. Esta é uma atividade sempre presente na nossa Escola e, acima de tudo, aberta à nossa participação. Portanto, se tens interesse nesta área, um bichinho de curiosidade a saciar ou apenas decidiste experimentar algo novo no próximo ano, talvez queiras espreitar este mundo. Não te acanhes! E com o final do ano, chega também ao fim o mandato desta equipa. Esperamos que tenha sido um bom ano, com edições e temas diversos e interessantes, que agradassem a todos. Agradecemos que nos tenham acompanhado nesta aventura. Mas como todos os fins são também, de certa forma, inícios, este será também o início de um novo mandato, com uma nova equipa. Deixamos-lhes, desde já, os nossos votos de maior sucesso e desejamos que, tal como nós e outros antes de nós fomos aceites e acariciados pela comunidade escolar, também a próxima equipa possa usufruir de tal honra. Assim nos despedimos, com um até já e votos de umas felizes festas e um próspero novo ano! Boas leituras!

“O fim de uma melodia não é a sua finalidade; não obstante, se a melodia não chegou ao seu fim, tampouco atingiu a sua finalidade.” Friedrich Nietzsche


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HajaMemória! por Sofia Leal Santos [1ºAno de MD/PhD]

João Lobo Antunes

A 27 de outubro faleceu João Lobo Antunes. Aqui apresento o seu percurso profissional em traços largos, e destaco ideias que partilhou em entrevistas.

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ascido a 4 de junho de 1944 numa família com tradição na medicina, João Lobo Antunes, formou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa (F.M.L.), com resultados brilhantes. Incentivado pelo mestre da neurologia, Melvin Yahr, partiu para Nova Iorque em 1971 com uma Bolsa Fullbright, numa oportunidade que lhe pareceu um sonho quando comparada com a permanência no país, então sob a ditadura. Integrou o Departamento de Neurocirurgia do New York Neurological Institute, Columbia Presbyterian Medical Center, pertencente a Columbia University. Aí, formou-se como neurocirurgião e foi nomeado professor associado de neurocirurgia. Na Columbia University desenvolveu também investigação clínica, nomeadamente sobre a doença de Parkinson, e investigação básica, sobre a regulação nervosa da função reprodutora em macacos rhesus. Após 13 anos em Nova Iorque, retornou a Portugal, em 1984, ano em que foi nomeado diretor

do serviço de neurocirurgia do Hospital de Santa Maria, um cargo que exerceu durante 30 anos. Desempenhou diversos cargos a nível da F.M.L. e em sociedades científicas e médicas nacionais e internacionais – nomeadamente, foi presidente da Sociedade Europeia de Neurocirurgia entre 1999 e 2003. A nível político, foi mandatário nas candidaturas presidenciais de Jorge Sampaio (em 2001) e de Aníbal Cavaco Silva (em 2006 e 2011), e foi Conselheiro de Estado deste último entre 2006 e 2016. Presidiu o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida em 2015. Publicou vários volumes de ensaios e livros autobiográficos, e foi entrevistado diversas vezes acerca do seu percurso de vida, de distinções recebidas (entre as quais o Prémio Pessoa, em 1996), livros publicados e da sua visão da medicina. Abaixo apresento alguns excertos selecionados destas e de textos sobre ele.


HajaMemória //

Retratado pelo irmão António Lobo Antunes, em 2008: Herdou do nosso pai (herdaste do pai, sim, tem paciência) a honestidade, o carácter, a coragem e o horror à mentira. Desde criança foste sempre valente. Se assim à má fila me ordenassem que dissesse duas características tuas respondia logo a valentia e o pudor, formas supremas da elegância. (…) Foste sempre digno e discreto contigo mesmo e com os outros e bem sei, sem mo teres dito, as difi culdades e as dores que sofreste, a carne viva que escondes e eu vejo, a compaixão que não mostras e eu sinto. E a tua oculta e bondosa generosidade. O rigor também, a falta de complacência para com a ingratidão, a pulhice, os sentimentos rasteiros. Claro que tens defeitos: alguns divertem-me, outros enternecem-me, nenhum me incomoda, talvez por serem os defeitos das tuas qualidades da mesma maneira que um automóvel possui os travões adequados à potência do motor. Revista Visão (2008) Uma ética da dificuldade: Em relação à facilidade, sou um objetor de consciência. (…) Não cortar por atalhos. Há várias maneiras de lidar com a dificuldade. Esta é uma delas. É definir regras? E nunca quebrá-las? E nunca quebrá-las. Quando eu digo a mim mesmo que antes de me ir embora tenho de ir lá acima ver o doente do quarto número tal, vou, mesmo que não me apeteça nada, que não seja preciso, que o doente de manhã tivesse estado bem e já seja muito tarde. É uma disciplina. É como se sentisse uma coisa a empurrar-me. É um diálogo comigo mesmo, com o Grilo do Pinóquio. Gosto muito do Grilo. Expresso 2000 Da honestidade intelectual na escrita de ensaios: É uma coisa que não faço [omitir a fonte para não embaraçar o discurso] por causa da minha formação científica. É preciso justificar a fonte, não o fazer seria criminoso. Mas dou-me conta desse perigo, claramente. Expresso (2000) Do tempo aproveitado para pensar e planear a escrita: A minha vida só tem dois tempos, o tempo das mãos e o tempo da cabeça. Em primeiro lugar, falo muito pouco, falo pouco com pessoas, de modo que todos os momentos de silêncio são momentos de reflexão. Quando escrevo já tenho

tudo escrito na cabeça, sai-me de um fôlego. Expresso (2000) Sobre escrever em inglês ou português: Escrevo em inglês diretamente. Mas há uma coisa que vou confessar: quando começo a escrever histórias fora do âmbito científico, a linguagem começa a enriquecer-se, o inglês fica diferente, mais literário. Tudo o que não seja estritamente técnico é muito mais rico do que antigamente. A linguagem literária portuguesa transvazou para a língua inglesa. Quinze anos depois de ter regressado, a minha língua de trabalho ainda é o inglês. Expresso (2000) Sobre a evolução da sensibilidade de médico com os anos: O que eu queria dizer é que olho para as pessoas — e qualquer olhar é uma intrusão — com outra profundidade, para lá da superfície, tentando perceber a sua realidade, a sua identidade. (…) Diria que foi a experiência da doença que me tornou mais sensível. Como se tivesse esticado a corda do violino e esta vibrasse ao menor toque, com maior intensidade e frequência. Por isso, mais do que uma mudança sofri uma evolução, que introduziu outra doçura na relação com as pessoas. Tenho refletido sobre a alteração da medicina, sobre a razão por que estamos cada vez mais longe dos doentes. E estamos afastados dos doentes pela intersecção das diferentes tecnologias, pela pulverização do saber, pelos múltiplos especialistas que são chamados a cuidar de alguém. Aquilo que era uma relação única, um a um, perdeu-se. Expresso (2015) Sobre a compaixão: Compasio é mais do que a simples empatia, vai mais fundo. E cada vez mais interessa às neurociências, pois parece que o nosso cérebro está equipado para sentir compaixão, ou seja, para viver o sofrimento do outro. Apesar do progresso, e ainda mais numa especialidade altamente tecnológica como a minha, nunca vi, não conheço arma nenhuma, de qualquer natureza, seja medicamentosa seja instrumental, que faça anular a necessidade da compaixão. Expresso (2015) Fontes

1. http://www.fulbright.pt/articles/my-fulbright-experience/joao-lobo-antunes 2. http://www.rtp.pt/play/p1299/e256779/a-ronda-da-noite 3. http:// visao.sapo.pt/opiniao/2008-09-15-O-meu-irmao-Joao 4. http://expresso.sapo.pt/sociedade/2016-10-27-O-medico-por-Clara-Ferreira-Alves 5. http://expresso.sapo.pt/sociedade/ 2016-10-27-Um-Deus-com-os-olhos-em-baixo 6. http://expresso.sapo. pt/sociedade/2015-12-31-Joao-Lobo-Antunes-O-pessimismo-e-uma-profecia-que-se-cumpre

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HajaCiência! por António Mateus-Pinheiro [6º ano]

Um cérebro plástico: Novas perspetivas sobre células estaminais neurais no cérebro adulto

Figura 1 | Novo estudo sugere que as células estaminais neurais não residam unicamente no parênquima cerebral, mas que estejam também presentes no sistema de meninges que reveste o cérebro.

Nesta edição venho falar-vos de um assunto que me é caro: a plasticidade que caracteriza o nosso cérebro. Proponho fazê-lo trazendo dois estudos muito recentes, o primeiro liderado por um grupo belga e o segundo liderado por nós, aqui mesmo no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS).

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tom com que o farei é já vosso conhecido: despido de tecnicismo e, sobretudo, muito descontraído.

Ao contrário do que se tinha antes como incontestável, o nosso cérebro não é uma estrutura inerte ou imutável. Ao invés, inúmeros estudos demonstraram que o cérebro mamífero é altamente plástico, no sentido de ter capacidade de estar constantemente a remodelar a sua estrutura. Para além do modo como as células que o constituem redefinem recorrentemente a forma como comunicam entre elas, sabe-se, hoje, que o cérebro adulto tem a capacidade de produzir células estaminais. Esta

capacidade para produzir células estaminais (ditas, células estaminais neurais, que passarei a abreviar por CEN) sabe-se ser fundamental para um número de funções cerebrais particulares. Para além de desempenharem funções específicas (algumas das quais referirei mais abaixo) estas CEN ao terem o potencial para se diferenciarem em novos neurónios ou células da glia merecem um particular interesse por parte da comunidade de investigação biomédica, na perspetiva de poderem ser instrumentalizadas em abordagens terapêuticas e neuroregenerativas em doenças neurológicas e psiquiátricas.


HajaCiência //

É aqui que surge o primeiro problema. Acontece que, apesar de estarem presentes no cérebro, estas células são produzidas em número muito limitado e em regiões cerebrais muito circunscritas. Um estudo que promete abalar esta noção, propõe agora que as CEN não estejam apenas presentes em determinadas regiões do parênquima cerebral, mas também nas membranas que revestem o cérebro - as meninges. Tradicionalmente vistas como tendo uma função mormente protetora, a importância das estruturas meníngeas que revestem o cérebro ganha nova importância, como explica o Professor Peter Carmeliet (VIBKU, Leuven) em nota de imprensa: As células estaminais que descobrimos no interior das meninges diferenciamse por completo em novos neurónios, electricamente activos e funcionantes, com a capacidade de se integrarem nos circuitos cerebrais existentes. Através de uma técnica de sequenciação de RNA de célula única [single-cell RNA sequencing: em essência, uma técnica que permitiu aos investigadores caracterizar perfil genético das células que descobriram, para assim determinarem a sua identidade enquanto CEN] conseguimos de forma muito específica perceber que estas células se tratavam efectivamente de células estaminais que dão origem a novos neurónios que passam a habitar o córtex cerebral. Os investigadores deixam agora em aberto a possibilidade de usar esta nova fonte de CEN para terapias futuras, embora assegurem que muitos mais estudos serão ainda necessários. Também por cá desenvolvemos estudos nesta área. Retornemos então a Portugal e à Universidade do Minho, para vos falar de um segundo trabalho, no qual me orgulho de ter colaborado diretamente. Uma equipa de investigadores do ICVS da Escola de Medicina - Universidade do Minho, sob coordenação de Luísa Pinto e Nuno Sousa, descobriram agora uma proteína, com o nome de AP2gamma, capaz de estimular a produção de novos neurónios a partir de CEN, no cérebro adulto. Esta proteína foi inicialmente descrita

como estando afectada no contexto do cancro da mama, contribuindo então para a proliferação de células malignas. No entanto, quando descobrimos que esta mesma proteína estava também presente no cérebro quisemos perceber qual a sua função. Para atingir este fim, utilizámos ratinhos que foram geneticamente manipulados ou para não produzirem de todo esta proteína AP2gamma ou para a produzirem em excesso, e estudámos qual o impacto desta manipulação ao nível molecular e comportamental nestes animais, explica a investigadora Luísa Pinto. Os resultados deste estudo demonstram agora que a proteína AP2gama é essencial para que CEN produzam continuamente novos neurónios e como a sua ausência compromete este processo, tendo impacto relevante em diversos domínios do comportamento. Foi surpreendente verificar como a falta desta proteína comprometia a forma como diversas regiões do nosso cérebro comunicam entre si. Assim, percebemos que o AP2gamma comanda a produção de uma população de neurónios que parece ser importante para o modo como diferentes regiões do nosso cérebro trocam informação entre si. Entre os vários efeitos que observámos em animais que não possuíam esta proteína, destacamse os défices na geração de novas memórias, assim como na capacidade navegação geo-espacial, capacidade esta que usamos frequentemente quando, por exemplo, tentamos recordar o caminho a seguir para chegar a um determinado destino. acrescentam os autores do estudo. Estes resultados constituem um importante passo na compreensão do modo como nosso cérebro regula a produção de novos neurónios a partir de CEN e no impacto destes no controlo do nosso comportamento. A nossa equipa de investigação procura agora perceber se a desregulação desta proteína estará também envolvida no desenvolvimento de doenças psiquiátricas, como a ansiedade ou depressão.

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8 // HajaCiência

Figura 2 | Animais sem a proteína AP2gama (à direita) revelaram défices na produção de novos neurónios e em várias funções cerebrais.

Deixo-vos assim com algumas noções emergentes relativas ao modo como nosso cérebro produz novas CEN. A perceção de que cérebro é uma estrutura altamente plástica e de que tem a capacidade de produzir novas células

abre intrigantes perspetivas terapêuticas. Talvez num futuro não muito longínquo possa escrever-vos sobre como as células estaminais revolucionaram a medicina neuroregenerativa.

Se quiserem saber mais acerca dos estudos mencionados, ficam as referências: F. Bifari, I. Decimo, A. Pino, E. Llorens-Bobadilla, S. Zhao, C. Lange, G. Panuccio, B. Boeckx, B. Thienpont, S. Vinckier, S. Wyns, A. Bouché, D. Lambrechts, M. Giugliano, M. Dewerchin, A. Martin-Villalba, P. Carmeliet. Neurogenic Radial Glia-like Cells in Meninges Migrate and Differentiate into Functionally Integrated Neurons in the Neonatal Cortex. Cell Stem Cell (Cell Press), 2016. A. Mateus-Pinheiro, N.D. Alves, P. Patrício, A.R. Machado-Santos, E.L. Campos, J. Silva, V.M. Sardinha, J. Reis, H. Schorle, J.F. Oliveira, J. Ninkovic, N. Sousa e L. Pinto. AP2gamma controls adult hippocampal neurogenesis and modulates cognitive, but not anxiety or depressive-like behavior, Molecular Psychiatry (Nature Publishing Group), 2016.


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HajaBreves!

João Lima [3º Ano]

Presidente da República visita Centro Clínico Académico (CCA) Marcelo Rebelo de Sousa, atual Presidente da República, visitou, no dia 25 de novembro, o CCA, uma parceria, patente desde 2013, entre o Hospital de Braga, a Escola de Medicina da Universidade do Minho (UM), o Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde Escola de Ciências da (ICVS) e a Eurotrial, uma empresa especializada Saúde passou a Escola de no ramo. O presidente deu destaque aos “projetos Medicina de futuro” que ali se desenvolvem e a importância No dia 1o de outubro, ocorreu um evento da ligação entre a investigação de base e a comemorativo do 16º Ano da atual Escola de investigação clínica aplicada. Esta valência do Medicina (EM) que ficará para a história como Hospital de Braga, promove atualmente a data em que a Escola de Ciências da Saúde se o acesso de 400 doentes a terapias passou a chamar Escola de medicina. Na cerimónia inovadoras. estiveram presentes cerca de 130 médicos formados em 2016, bem como, o reitor, António Cunha, a presidente de escola, Cecília Leão, a equipa reitoral, presidentes de Escolas, autoridades académicas e civis, entre outros. Foi comentado, pelo reitor, Estudante de que a nova designação já faz parte dos novos medicina e investigadora Estatutos da Universidade do Minho, os quais do ICVS, ganhou o primeiro prémio foram, nesse mesmo dia, homologados da Fundação AstraZeneca de Inovar em pelo ministro da Ciência, Tecnologia Pesquisa Básica e Ensino Superior, Manuel Durante a oitava Conferência iMed, um evento anual Heitor. organizado pela Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Médicas (AEFCM) que tem como objetivo trazer a mais recente inovação científica e médica aos estudantes universitários, Patrícia Gomes, estudante de medicina e investigadora do ICVS no domínio das Neurociências, ganhou o primeiro prêmio da Fundação AstraZeneca de Inovação Competitiva para Pesquisa Básica, apresentando o trabalho intitulado “Identifying the role of Tau protein in the molecular mechanisms of post-anesthesia cognitive deficits”. Os autores deste trabalho são: Patrícia Gomes, Joana Silva, Damiana Pires, Nuno Sousa, Hugo Leite-Almeida e Ioannis Sotiropoulos.Promover ideias inovadoras nas ciências da vida ou relacionadas com os campos da saúde e da pesquisa básica são os objetivos desta competição da Fundação AztraZeneca.


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HajaTecnologia! Jorge Diogo Silva [1ºAno de MD/PhD]

Diagnosticar, tratar e curar com um computador

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conhecimento científico na área da saúde tem atravessado o período mais marcante de toda a história, com uma taxa de crescimento exponencial. Assim, este torna-se cada vez mais difícil de acompanhar pelos médicos e investigadores, quer pela quantidade de informação nova que surge diariamente, quer pelas competências dos mesmos em filtrar e interpretar esta informação. Tendo sido algo pouco relevante para os médicos mais velhos, os recém-formados têm cada vez mais começado a sentir a pressão. A pressão de investigar. Mais do que investigar, de saber investigar, e de saber criticar a investigação. Apesar de alguma refuta associada aos modelos mais clássicos, é cada vez mais um pensamento geral que a formação em medicina deve conter uma componente de investigação. Os conteúdos em que a investigação se foca são já cobertas na generalidade das matérias, mas falta ainda o ensino das metodologias e interpretação de novos resultados relativos a novos fármacos, novas técnicas cirúrgicas, novos biomarcadores de doença, e a novos dados sobre a fisiopatologia das doenças. É também um facto que a tecnologia teve, tem e terá um papel absolutamente central neste âmbito: não só por facilitar o acesso à informação e a publicações, mas também por permitir que a investigação seja cada vez mais rápida e complexa. Algo ainda mais distante do que o ensino do pensamento científico, mas cada vez mais próximo, é a chamada undergraduate research, ou seja, os alunos de medicina realizarem, ativamente, investigação antes de terminarem o seu curso. Isto pode parecer assustador: um aluno de

medicina praticamente não consegue ter atividades extracurriculares e terá muito pouco tempo livre, mas a realidade não é bem essa. É aqui que a tecnologia se torna cada vez mais central. Como já referi, a investigação está cada vez mais associada à tecnologia. Existem inúmeros projetos de investigação que já não necessitam do investigador in loco: análises de bases de dados (desde bancos de amostras, até pacientes reais), desenho de material médico em softwares, estudos genéticos diagnósticos de doenças raras, etc. Assim, cada vez mais, os alunos de medicina podem participar ativamente num projeto de investigação sem sentir a pressão de estar presente no laboratório ou no hospital. Permite que os alunos trabalhem ao seu ritmo, e consoante os seus períodos de maior ou menor disponibilidade, sem tempos e dias restringentes que possam condicionar e levar à pouca adesão à investigação. A título de exemplo, a Case Western Reserve University, no estado do Ohio, disponibiliza um programa extracurricular de investigação: os investigadores, que o desejarem, oferecem, a alunos de medicina, a oportunidade de integrarem um projeto, de uma forma compatível com o curso e sem comprometer o desempenho no mesmo. De uma forma interessante, este programa oferece projetos de investigação básica, translacional e clínica, muitos motivados por investigação baseada em tecnologia. Dos atualmente propostos, destaco um projeto de estudo de uma base de dados sobre adesão e eficácia terapêutica na infeção por VIH, assim como outro sobre a aplicação de capacidades da informática biomédica na deteção de neoplasias gastroenterológicas.


HajaTecnologia //

Um projeto inovador que funcionará porventura como um culminar da investigação da tecnologia associada à saúde, será a Undergraduate Research Technology Conference, promovida pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). De entre as várias áreas cobertas nesta conferência, que visa valorizar os trabalhos de investigação dos alunos pré-licenciados, destaca-se o tópico da tecnologia e engenharia biomédica. Esta meta final permite aos alunos mostrarem os seus trabalhos, receberem feedback, estarem presentes em conferências de cientistas seniores, assim como participar em várias atividades interativas, de comunicação, ou mesmo concursos científicos. Apesar de tudo, este tipo de iniciativas ainda não ocorre na maioria dos centros médicos, visto não conseguir atingir a

magnitude desejada. Há ainda muita relutância do aluno de medicina face à investigação, sendo esta um grande desafio para o mesmo. Contudo, e por essa mesma razão, deverá tornarse apelativa como uma forma de desenvolvimento pessoal e profissional, que terá um impacto extremamente positivo no futuro como médico e pensador científico. O facto da investigação poder ser já quase, exclusivamente, através de vias tecnológicas viabiliza cada vez mais estas oportunidades, e deve ser vista pelos alunos como um instrumento que, num futuro não muito longínquo, será algo absolutamente crucial e inerente a qualquer médico, de qualquer especialidade, e de quaisquer competências.

Figura 3 | Logótipo da Undergraduate Research Technology Conference promovida pelo MIT.

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HajaBraga! Joana Silva [5º Ano]

Remanescentes de um primeiro de dezembro

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o passado dia 30 de novembro realizou-se mais uma Récita do 1.º de dezembro e foi com um tremendo pesar que me apercebi da quantidade de estudantes que não sabe o significado do 1.º de dezembro. Apesar de, numa outra edição, esta tradição já ter sido mencionada, será de extrema importância reavivar o seu significado. Para os mais absortos da história de Portugal, o Primeiro de dezembro de 1640 foi o marco da Restauração da Independência portuguesa, um golpe de estado inflamado pela revolta dos portugueses contra o domínio filipino. Domínio esse, que pretendia a abolição da independência do Reino de Portugal. Este golpe de estado, estrategicamente planeado numa altura em que o rei Filipe IV descentrou as suas tropas de Portugal para a Catalunha (de forma a controlar a situação Catalunha-Andaluzia) e numa altura em que em Lisboa ficou apenas a Duquesa de Mântua e o seu secretário de estado, Miguel de Vasconcelos, culminou com a prisão da duquesa e com a morte de Miguel de Vasconcelos, proclamando D. João, Duque de Bragança, como D. João IV, Rei de Portugal. Foi com esta revolta, por parte da nobreza, que se iniciou assim uma nova dinastia portuguesa, a Dinastia de Bragança e, com ela, uma nova fase da Realeza portuguesa que manteve esforços durante 28 anos, de forma a impedir uma nova invasão filipina tendo cessado, esta guerra, com a celebração do Tratado de Lisboa, em 1668. Feita esta contextualização histórica, fica então a pergunta: mas afinal, o que é que os estudantes da Academia Minhota têm a ver com o Primeiro de dezembro? Fruto da velocidade dos meios de comunicação da altura, a notícia de

que a Restauração da Independência portuguesa tinha acontecido apenas chega a Braga no dia 4 de dezembro e o senado bracarense decide apenas aclamar o Rei D. João IV no dia 11 de dezembro. Insurgindo- -se contra esta passividade e conformação do senado, os estudantes da Academia Minhota (outrora Colégio S. Paulo) saem à rua, proclamando o novo rei e defendendo os seus ideais e aquilo em que acreditam. E assim começa uma nova tradição, a tradição da celebração do Primeiro de dezembro. Apesar de ter sido interrompida em 1759 devido à expulsão dos jesuítas por parte do Marquês de Pombal (de relembrar que o Colégio de S. Paulo era um colégio jesuíta), em 1868 retomarse-ia esta celebração, assumindo-se Braga como uma das únicas cidades que mantinha esta tradição viva. Após outros anos de interregno, em 1991, no âmbito da recuperação das tradições da classe estudantil de Braga e da (re) criação da Academia Minhota, reavivouse o Primeiro de dezembro, mantendo-se, até aos dias de hoje. Não obstante, a maneira como a tradição se desenrola hoje, é bastante diferente dos tempos de outrora. Inicialmente, na véspera do 1.º de dezembro havia música pelas ruas e toques às portas de todas as pessoas que tivessem contribuído para que a festa se realizasse e, no próprio 1 de dezembro, para além dos foguetes que rasgavam o ar, realizava-se uma cerimónia na Sé Catedral, seguida de um cortejo pela rua (onde os estudantes envergavam as suas capas negras). Estes festejos continuavam à noite, com uma récita no Teatro de S. Geraldo, onde a classe estudantil subia ao palco e encenava uma peça de teatro ou declamava poesia, sendo esta récita sempre acompanhada do Hino da Independência Nacional e


HajaBraga //

Figura 4 | Azulejos do Largo do Paço, representativos dos estudantes da Academia Minhota.

do Hino Académico. Além disso, esta récita era (e é!) acompanhada por um documento designado de “número único”, documento que pretendia que, em prosa ou em verso, se revelassem as preocupações e questões filosóficas que acometessem a vida académica bracarense, não olvidando o espírito patriótico que, inevitavelmente, envolvia o 1.º de dezembro. Contudo, as festividades não terminavam com esta récita, continuavam antes, noite dentro, com a tradicional ceia de ementa de “arroz de pica-no-chão” – curiosidade engraçada, por “coincidência” frangos desapareciam das capoeiras dos habitantes de Braga nas noites que antecediam o 1.º de dezembro. Atualmente, a celebração resume-se à Récita do 1.º de dezembro, um sarau cultural onde os grupos culturais da Universidade do Minho sobem ao palco do Theatro Circo e mostram o quanto vale a nossa Academia, tão variada e completa em si, mas uma récita que, na minha opinião pessoal, deverá ser repensada, de forma a voltar à essência do espírito pelo qual esta se devia reger. Assim, esta Récita do Primeiro de dezembro representa uma exultação daqueles que são os heróis de 1640, símbolo da irreverência, da não resignação e da luta por ideais e valores

mais altos que nos transcendem. E podem questionar: valerá a pena continuar a celebrar este evento? Sem sombra de dúvida que sim. Cerca de 376 anos se passaram e a memória dos heróis de 1640 deverá permanecer e os seus ecos distantes estão agora na voz dos novos estudantes da Academia Minhota, estão agora na nossa voz. Assim, é de extrema importância reavivar esta memória, de forma a que não caiamos no “fatalismo muçulmano” (afincados da literatura saberão que Eça de Queirós apresentou, em “Os Maias”, este termo que defende “[…] nada desejar e nada recear… Não se abandonar a uma esperança – nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves.”). A Récita do 1.º de dezembro deverá simbolizar, por isso, um apelo à não conformação, um apelo ao retomar da alma lusitana que nos fazia navegar por “mares nunca dantes navegados”, em busca de novas terras e novos horizontes, a alma que nos fez mudar o Regime e adotar a Democracia, a liberdade. É um apelo ao abandono da languidez, da resignação, da estoicidade e um apelo à afirmação de uma identidade vanguardista lusitana e de uma identidade de povo lutador e revolucionário. Aos heróis de 1640, o meu muito obrigada!

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Antรณnio Mateus-Pinheiro

Aluno de 6ยบ ano de Medicina pelo Percurso Alternativo


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HajaEntrevista!

Rosélia Lima [4.º ano]

Para esta edição do HajaSaúde! consideramos ser mais que pertinente dar a conhecer o caminho e a visão de alguém que saboreia ambos os campos da investigação e do curso de medicina. António Mateus-Pinheiro licenciou-se em Biologia Aplicada e doutorou-se na área das Neurociências, pela Universidade do Minho (UM). Atualmente, é nosso colega do 6.º ano, tendo ingressado em Medicina pelo Percurso Alternativo.

HajaSaúde! (HS!) - Porque escolheste a UM?

HS!: O que te fez enveredar pelo trabalho nas neurociências?

António Mateus-Pinheiro (AMP): Na altura queria fazer investigação, e tinha três opções principais: Universidade Nova de Lisboa, Universidade de Coimbra e Universidade do Minho. Tinha ouvido dizer que a UM tinha um espírito muito jovem, empreendedor e era bem equipada. Quando fui visitar as três, acabei por preferir a UM. Tanto pelas pessoas, como pelo equipamento dos laboratórios pedagógicos. E foi sobretudo essa a base da minha decisão.

AMP: Desde que entrei no ensino superior que gostei das neurociências. Acho que à semelhança do que acontece noutras áreas de investigação, um investigador gosta sempre das áreas onde há ainda muito por saber e, as neurociências são um caso paradigmático e algo com que nós lidamos todos os dias, inconscientemente. Atividades tão simples que fazemos mas ninguém compreende: porquê e como somos capazes de memorizar? Porque criamos hábitos? Porque sentimos medo? Porque sentimos afinidade por alguém e o que determina isso? Como é que o ambiente modela o nosso equilíbrio emocional? Porque é que quando temos, por exemplo, um exame de medicina expressamos todo um conjunto de respostas que, por um lado potenciam uma série de processos cognitivos em detrimento de outros, enfim…acho que era isso. E depois, fruto do acaso. Na altura, estava interessado num tema que estava cada vez mais em voga, que se relacionava com a noção relativamente recente de que o cérebro não é uma estrutura estática, mas que tem a capacidade de produzir células estaminais e, portanto, o meu último ano de Biologia Aplicada coincidiu com a altura em que o Professor Nuno Sousa, juntamente com a recém-doutorada Doutora Luísa Pinto, estavam a tentar aprofundar esse tema no ICVS. Tivemos a oportunidade de nos conhecer, pediram-me para lhes enviar o meu currículo e convidaram-me para embarcar nesse projeto com eles.

HS!: Quando surgiu a vontade de ser investigador? AMP: Confesso que quando entrei para o ensino secundário ainda não tinha a certeza. Não sei se continua a ser assim mas nós, na altura, tínhamos de escolher uma área já definida (ex.: economia, ciências, etc) e, por muito novo que sejas, começas a ter que fazer escolhas, e eu sempre gostei de planear o futuro e achei que tinha perfil para a investigação. HS!: Porque escolheste Biologia Aplicada? AMP: Tal como da UM, tinha ouvido falar muito bem do curso. Já conhecia algumas pessoas, e percebi que era um curso com bom feedback dos alunos, muito direcionado para a investigação, e do qual os alunos saíam bem preparados. Além disso, tinha saído um artigo, nos meios de comunicação social, a avaliar os cursos de Biologia e, Biologia Aplicada, estava classificada em 1.º lugar, inclusive a nível da empregabilidade.

HS!: Achas que já respondeste a algumas dessas perguntas que mencionaste?


16 // HajaEntrevista

AMP: Acho que devemos encarar o que fazemos com a devida humildade. As perguntas a que nos propomos responder são de uma extraordinária complexidade, e isso é bom! Esse é o desafio e é isso que nos motiva. Por sua vez, isso reflete-se na complexidade das abordagens que usamos e nas vias que usamos para perceber mecanismos em modelos celulares e animais. Isto para dizer o seguinte: cada estudo que nós publicamos, (que pode demorar cinco, oito, dez anos a fazer) na grande maioria das vezes, junta mais uma pequena peça do puzzle e respondem a parte das perguntas que nós fazemos. Mas, cada vez que respondemos a uma pergunta, surgem outras dez… e isso também é bom! Deixa-me dizer-te também, em relação à tua pergunta, que temos o dever moral, mas também social, de saber comunicar parte dessas respostas à população numa linguagem que deve ser ao mesmo tempo acessível para todos, mas sem nunca prescindir do rigor da ciência que fazemos. Temos utilizado sobretudo um mediador para veicular esta comunicação com o resto da população - os media - que, sem podermos generalizar, abraçam cada vez mais o estilo sensacionalista de produzir ou editar informação. Quantas vezes nos últimos anos já ouvimos que “a cura para o cancro ou Alzheimer foi potencialmente descoberta?” (risos). Os investigadores têm, também, que assumir responsabilidade neste domínio e passar, eles próprios, a construírem canais próprios para divulgação de forma prática e simples da ciência que produzem. Que nos interessa fazer boa ciência e publicá-la se o resto da população não tem acesso nem beneficia da mesma? Na minha perspetiva: zero. Fazer ciência para colecionar publicações, boas ou

más, sem a sabermos comunicar não me diz nada. HS!: Quais foram os maiores desafios com que te deparaste quando decidiste enveredar pela investigação? AMP: A investigação tem três grandes desafios que nos acompanham ao longo de todo o percurso: o primeiro é ficares a par da literatura relevante. Hoje em dia não existem 100 pessoas a trabalhar no teu tema, existem milhares. Existem milhares de artigos publicados todos os anos, com a agravante de que, hoje em dia, existe muita ciência de má qualidade. Embora ganhes, com o tempo, a capacidade de discriminar o que é bom e o que é mau, o que é confiável, o que está metodologicamente bem feito… para um investigador júnior a iniciar o seu percurso, é uma tarefa complicada… mas é também para isso que estão cá os teus mentores, os teus supervisores (que na verdade nos ensinam e inspiram em várias fases do percurso). Depois, tens a parte da rotina. Um investigador tem uma vida pouco regular. São habituais fins de semana de trabalho, assim como períodos de ciclos totalmente invertidos em que se trabalha no período noturno, por vários motivos. Ou porque temos que conciliar deadlines de trabalho experimental com empenhos de natureza mais “burocrática” ou, porque simplesmente, podemos trabalhar com roedores, que são seres notívagos e para haver alguma tradução daquilo que fazemos na parte pré-clínica, convém avaliar nos períodos de atividade e isso é outro grande desafio. O terceiro é aprender a pensar. Acho que ao ter acompanhado na perspetiva de aluno (quer em biologia, quer em medicina) o modo como a UM teve a coragem de formar um projeto novo, e de abraçar

“Acho que devemos encarar o que fazemos com a devida humildade.”


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aquilo que são os métodos pedagógicos mais recentes, permite-me dizer, com bastante confiança, que cá, os cursos nas áreas científicas nos ensinam a pensar. Uma licenciatura, neste momento, não é suficiente mas dá-te as ferramentas para saberes onde procurar e como saberes interpretar. Na investigação temos uma rotina rigorosa, mas temos de saber pensar, e isso é um desafio. No entanto, tens a possibilidade de ser criativo, e esse é que é o “bichinho” que mexe connosco.

trabalhar num contexto de translação para a clínica e apesar de, às vezes, poder ser fácil esquecermo-nos da big picture, por nos focarmos no contexto da célula, do DNA, ou da single molecule, para mim é importante e motiva-me saber que estamos a fazer algo que, juntamente com o trabalho de outros investigadores, daqui a 10-20 anos poderá trazer algo de útil para o doente. Portanto, acho que poderia mas não é isso que me estimula.

HS!: Que avanços tens testemunhado na compreensão das neurociências?

HS!: Que conselho darias a alguém que pensa seguir investigação?

AMP: Bom, é uma pergunta vasta. AMP: Acho que na investigação, As neurociências abrangem tal como na medicina, é “motivaum vasto conjunto de preciso ter vocação. temas que tornam A pessoa tem que me saber que difícil dar-te uma ser criativa e sentir resposta simples. entusiasmo por ter estamos a fazer Há avanços nas suas mãos algo que, juntamente extraordinários, a capacidade sobretudo para responder com o trabalho de técnicos, não só a perguntas na compreensão outros investigadores, cuja resposta mecanística dos não se conhece. processos. Os A motivação é daqui a 10-20 anos avanços, neste fundamental, pois poderá trazer algo na investigação momento, têm sido reportados em Portugal, e a de útil para o nos modelos realidade europeia é translacionais. Por uma bastante homogénea doente.” razão óbvia, há coisas neste aspeto, a relação que não podemos fazer num empenho-retorno (seja este modelo humano. Mas o paradigma está retorno medido ao nível da obtenção a mudar, e vai mudar radicalmente com resultados científicos, qualidade de vida a fantástica evolução técnica que está ou mesmo retorno financeiro) não são os agora a nortear a investigação clínica. mais favoráveis. Portanto, sem gostar, é muito difícil. E depois, para quem quiser, HS!: Gostarias de fazer investigação há hoje em dia uma enorme abertura dos fora da área médica? centros de investigação para os acolher temporariamente, para que contactem AMP: Não sei. Curiosamente, os com a rotina de investigação. As pessoas, primeiros baby steps que dei no meu antes de se atirarem de cabeça, devem último ano de Biologia Aplicada foram perceber se gostam, se conseguem e, em biologia vegetal e simetria floral. Era se se sentem realizadas. um tema que não me dizia muito, mas que me treinou do ponto de vista da biologia Atualmente, na área das ciências da molecular e que me deu ferramentas saúde, creio ser muito importante haver muito importantes para o futuro. Apesar pessoas que façam a ponte, que tenham de, alguns trabalhos, responderem uma visão clínica, e que tragam ideias a perguntas muito fundamentais da relativas ao que falta em termos de neurociência, nós tentamos sempre práticas de saúde e tratamento para

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que, em conjunto com investigadores que sejam experts na parte técnica, vão ao encontro dessas necessidades. Os programas de MD/PHD refletem um pouco isso e acho que é importante que tenhamos mais estudantes de medicina a querer seguir investigação. Não tem de ser durante o curso; pode, perfeitamente, ser uma aposta para o pós-curso. Seja como for, creio que, será um fator diferenciador. Seremos cada vez mais, aliás, já somos a mais. Portugal, se caminhar num sentido de formar profissionais de saúde que tragam input às ciências da saúde, terá massa crítica para se afirmar, daqui a uns anos, como um nicho de referência internacional na produção de ciência de qualidade e com impacto na área da saúde. Aliás, a massa crítica já temos, está a ir embora, mas, se soubermos dar os passos certos, mudar as políticas certas, temos a matéria-prima. HS!: Atualmente, como avalias o panorama nacional de incentivo à investigação médica? AMP: Não estamos, seguramente, ainda onde poderíamos estar. Penso que temos de começar a perceber isso. Em Portugal, nutre-se, ainda, a perspetiva ilusória relativamente à produção científica de que somos um país com escala geográfica e financeira para investir de forma abrangente em todos os ramos científicos… e não somos. Somos um retângulozinho no fundo da Europa, com gente extraordinariamente empenhada e talentosa. Só temos de perceber é que, tal como não podemos competir em todos as áreas da produção primária, será também muito difícil manter a competitividade se não apostarmos em nichos científicos estratégicos. Fazer investigação e ser competitivo, hoje em dia, requer que acompanhemos o ritmo, absolutamente vertiginoso, da evolução dos meios técnicos com que fazemos ciência. Nos últimos anos, temos assistido a uma nãoestratégia política por parte das entidades públicas de financiamento no que diz respeito à atribuição de financiamento, refletindo-se num financiamento

transversal a todas as áreas, e sem se perceber, por exemplo, se a investigação que está a ser feita está a trazer alguma coisa na geração de valor científico ou económico. Estão, agora, a dar-se alguns passos importantes que podem significar o advento de uma mudança estratégica que passe a pesar a relação input-ouput estabelecida entre o investimento público e o retorno científico-tecnológico. Não me refiro apenas a conhecimento científico, mas também em termos de tradução para o mercado. Por exemplo, o número de spin-offs que têm crescido, inclusive na área biomédica, revelam o valor que conseguimos investir nesta área, e isso é, seguramente, uma aposta, mas há outras. Por exemplo, não é, de longe a minha área, mas admito que, investigação a nível da qualidade dos processos de produção vinícola, na área da biologia vegetal continue a ser fundamental. Não é, portanto, só a saúde; o mesmo se aplica a toda a linha de investigação que torne sustentável (e este conceito de “investigação sustentável” é importante) o ciclo de investimento público - produção de valor acrescentado. HS!: Quando e como é que medicina entrou nas tuas opções? AMP: Quando fui para o ensino superior era (e continuo a ser) fascinado pela ciência, pela possibilidade de criar algo novo, ainda não sabia exatamente o quê mas queria poder fazer a diferença, descobrir algo que pudesse ajudar alguém. Depois, fui parar à investigação na área da saúde, na qual deves manter sempre a perspetiva de translação. Começou a ser muito difícil, para mim, dizer que trabalhava em patologia depressiva ou em processos neuroregenerativos, sem nunca ter contactado com a dimensão clínica desta área. Na verdade, é justo dizer que foi a investigação na área da saúde que fez crescer a afinidade pela medicina. A medicina entrou então nas minhas opções durante o meu doutoramento, quando contactei com possibilidade de tirar medicina aqui.


HajaEntrevista //

Quando fui para o ensino superior era (e continuo a ser) fascinado pela ciência, pela possibilidade de criar algo novo, ainda não sabia exatamente o quê mas queria poder fazer a diferença... António Mateus-Pinheiro HS!: Como consegues lidar com o estudo de medicina e as responsabilidades do teu trabalho? AMP: Inicialmente, muito mal, devo reconhecer (risos). A verdade é que aprendi a gerir. O primeiro ano, pela própria exigência do percurso alternativo, acaba por ser difícil. Conciliar medicina com o laboratório e com outros projetos da empresa spin-off que temos cá, foi extremamente exigente, não há dúvida disso. Não há segredos, não há cá falsos super-homens. Contei com o grande apoio e compreensão dos meus mentores e com a generosidade e espirito de equipa dos meus colegas de laboratório, que se flexibilizaram e tiveram compreensão para o meu ritmo algo desfasado (passei a ser um “investigador de noites e fins-desemana”). Quando encontrei o equilíbrio, começou a correr bem. Agora é mais fácil e, no final, percebo que, com algum sacrifício e gosto, as coisas podem fazerse bem-feitas. Afinal de contas quem escolheu estar aqui fui eu e, portanto, levanto-me da cama com vontade. HS!: Sentes que a medicina te molda como investigador? AMP: Sim! Sem dúvida! Sobretudo, acho que me motiva! Dá-te uma noção diferente acerca do que estás a fazer. E, oferece-te uma coisa bestial, dá-te imensas ideias,

tu consegues perceber e ter uma ideia de coisas em que podes trabalhar para as melhorar, e não precisam de ser “nobelprize ideas”; há coisas simples que estão por fazer e sobre as quais podemos investigar para ajudar os doentes que vemos. HS!: Se pudesses voltar atrás, terias alterado alguma escolha no teu percurso académico? AMP: Não! É uma pergunta que já me coloquei várias vezes e a resposta é não. Acho que deves perceber bem qual o ecossistema profissional que mais se adequa a ti. No meu, ainda curto percurso na investigação, tive a sorte de contactar com pessoas e contextos científicos ricos e cheios de talento que me deram muito a nível académico/profissional, mas, sobretudo a nível pessoal. Na investigação, tu, individualmente interessas muito pouco. Isso é fascinante. O teu crescimento e o teu sucesso é o sucesso dos teus colegas, da tua equipa. Não existem muitos contextos que te “mostrem” essa realidade. A medicina entrou nas minhas perspetivas apenas quando começou a fazer sentido para mim; foi um percurso bastante natural, que acabou por traduzir a reunião de duas áreas atualmente que apenas consigo ver como indissociáveis: a investigação e a prática clínica.

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HajaCrónica! Pedro Peixoto [1º ano MD/PhD]

Portugal, um país de Ciência?

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nosso país sofreu transformações avassaladoras nos últimos 40 anos, no que à ciência e investigação diz respeito. Primeiro, no que toca ao capital humano, onde segundo a PORDATA passamos de um total de 0,9 investigadores/1000 profissionais em 1981 para um rácio que atinge o valor de 7.6 em 2015, mas que tinha atingido, em 2011, um pico de 8.1. Deste maior rácio de pessoal dedicado à investigação, resultou um salto de 3.1 publicações científicas/100000 habitantes em 1981 para 188.5 em 2014, o que compara com taxas em países como a Alemanha ou os EUA. Dos recursos públicos votados à ciência, a transformação é mais modesta, olhando de uma perspetiva da percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) do país, passando de valores de 0,2% PIB em 1981 para 1,0% em 2015. Olhando para este panorama geral apresentada pela PORDATA, podemos concordar com o Professor Cláudio Sunkel, do Instituto de Biologia Molecular, que em 2014 afirmou que Portugal explodiu na produção científica. No entanto, tal não se veio a acompanhar de um grau de especialização coadunante, com cerca de 98% dos investigadores a exercerem posições de docência no ensino superior. A acrescentar a este facto e, de acordo com dados da Direção Geral de Estatística de Educação e Ciência (DGEEC), apresentados pelo SNEup, são mais de 40% os docentes a lecionar no ensino superior, em situação precária. Mais, 70% dos que se dedicam à ciência em regime de exclusividade vivem de bolsas de investigação, sem vínculos laborais com as instituições de investigação, ou inserção no seio de carreiras científicas. Como nos alerta o jornal Expresso, numa notícia recente, o problema não parece estar a ser, de todo, minorado, com um atraso inaceitável do último concurso de bolsas de investigação da FCT, cujo resultado foi já adiado até fevereiro de 2017.

Os dados mais recentes do que se passa com a ciência e investigação em Portugal não são, portanto, particularmente concordantes com as metas apresentadas pelo governo, de um impulso orçamental no domínio da ciência, em valores a rondar os 2,7-3,2% do PIB, até 2020. A acontecer, será, no entanto, uma transformação profunda do panorama atual. No entanto, neste momento estamos muito longe desses valores, denotando que desde 2011 o cenário é de retrocesso/estagnação dos esforços votados à ciência. Não quero sequer dedicar muito tempo a discutir a produtividade da nossa ciência, uma vez que com dotações orçamentais menores, com taxas de doutorados que são sensivelmente metade das registadas por países como a Alemanha, os resultados obtidos acabam por ser surrealmente positivos. Relativamente à avaliação da qualidade dos resultados da ciência a nível nacional, esta ainda é incipiente, passando muito pelo elo do multiplicador económico que constitui, pelo número de patentes que origina ou pelo elo do número de publicações; estes critérios são muito redutores. Muito fica por dizer relativamente ao impacto do que é produzido a nível nacional, e a verdade é que poucos esforços têm sido dedicados a esta área, porventura, das mais importantes. Finalizo, no entanto, com uma nota de esperança, porque se muito foi feito no nosso país, que se transformou radicalmente no que toca à sua composição social e ao conhecimento que cria, também assim espero que se saiba aproveitar o impulso dantesco que 40% da população com formação superior pode constituir para a ciência e para o valor do país. Relembro que esta é a meta nacional para os jovens com menos de 34 anos até 2020.


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HajaSexualidade!

João Barbosa Martins [6º ano]

A Sexualidade na Investigação Médica

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e o mundo pula e avança, muito a isso se deve às tais mãos inquietas e indagadoras, que com o engenho e o arguto sonham colorilo, pipitando-o de cores garridas. De facto, também a sexualidade é alvo do interesse da investigação científica. De salientar, para esclarecimento dos mais pragmáticos e objetivos, que esta não se pode randomizar, ao experimentar emboitar o farmacóforo próprio, que em todos nós habita, num qualquer recetor, de forma a inquirir qual a conformação mais adequada. Esses ditos prazeres são deixados ao cuidado de quem os pratica e, desde que o faça de forma segura e responsável, com as devidas proteções, é deixado ao critério de cada qual, a amostra que considera representativa e qual o teste estatístico a aplicar, nos entretantos. Ora bem, diversas são as áreas em que é realizada investigação médica, indiretamente, na área da sexualidade, não só de uma forma prática, para tentar entender a fisiopatologia de doenças que afetam estes órgãos, mas também de forma a poder intervir, entendendo melhor os processos fisiológicos desta vasta disciplina, com inúmeras repercussões orgânicas, hormonais e mesmo psicológicas. De facto, entre as inúmeras publicações da nossa escola, encontra-se um interessante estudo nesta área, que tenta compreender o impacto das hormonas sexuais no humor, stress, bem-estar e cognição. No entanto, devido à imensidão destes temas moleculares e fisiológicos, não é disso que se irá aqui tratar, mas de estudos de sexualidade per si. Assim, agora mesmo, arremesso o desafio ao leitor, logo que se aperceba que ninguém está a ver, ou no conforto do seu lar, ouse teclar a palavra “sexual” em qualquer motor de busca científico e se espante com as milhares de sugestões,

que, certamente, tomariam uma vida a indagar-se. Similarmente, deve acautelarse em que motor de busca realiza essa pesquisa, sobre prejuízo de ter que dar explicações e culpabilizar amigos, caso seja apanhado com a cruz superior direita por premir. Avante, antes de prosseguirmos, é chegada a altura de lhe sugerir, dispensar por instantes a perversidade natural da condição humana, para que não derive a sua criatividade perante o que o seu olhar irá cultivar. Em boa verdade, aquilo que sabemos hoje sobre sexualidade humana é baseado em poucos estudos, pois as metodologias destes são difíceis e limitadas. Estas baseiam-se em reportes de casos, estudos experimentais e menos comumente em estudos observacionais. É importante que quem investiga não detenha ideias preconcebidas ou preconceituosas sobre como o comportamento sexual deve ser, não objetivando provar, mas antes investigar e perceber. É importante ter em consideração que estes estudos se revestem de dilemas éticos, morais, religiosos e filosóficos que é preciso respeitar, ao analisar as variáveis em questão, já que muitas vezes são a frequência do ato, práticas ou contraceção. Um outro desafio que se poderá colocar é como medir estas variáveis já que muitas são subjetivas, como a satisfação sexual ou então os vieses envolvidos, intersubjetivos, tais como, a vergonha em responder honestamente ou sequer em participar, quer seja por entrevistas ou questionários. Muitos trabalhos realizados em áreas como ofensas ou dificuldades sexuais são realizados em casos de estudo, num número reduzido de sujeitos, difíceis de extrapolar para a população geral. Outros estudos experimentais ou observacionais poderão induzir conclusões erróneas, pois os sujeitos sabem-se observados


22 // HajaSexualidade

em laboratório, o que poderá alterar as suas condutas e mesmo o facto de estes acordarem em participar, poderá desde logo obliquar a amostra em escolha. A título de exemplo, e para que se entenda as verdadeiras limitações destes estudos, quando estes são feitos sobre a forma de questionários, menos de 40% são respondidos, e existem até opiniões de que este tipo de investigação é desnecessária e inútil, pela desonestidade de quem responde, quer por defeito, quer por excesso. Existem ainda, preocupações éticas que devem ser satisfeitas, tais como confidencialidade e consentimento ou mesmo questões práticas, mais prementes em estudos fisiológicos. Citase, a título de exemplo, a pletismografia vaginal ou o medidor de tensão peniana para estudos hemodinâmicos e sensoriais por aqueles lados. Estes estudos têm sido usados para avaliar a reação a alguns estímulos sexuais, visuais, auditivos ou sensitivos. A investigação em sexualidade nasceu na Grécia antiga, tendo como procriadores Aristóteles, Hipócrates e Platão que realizaram as primeiras observações e teceram conclusões sobre tendências e comportamentos sexuais ou mesmo aborto e contraceção. Seguiram-se diversos outros, até aos modernos investigadores, como Richard Von Krafft-Ebing (18401902) que, sendo médico, realizou estudos em doentes com perturbações sexuais e concluiu que a atividade sexual era algo bastante relevante, abrindo o caminho para outros que se lhe seguiram. Entre estes, salientam-se Henry Havelock

Ellis (1859-1939) que concluiu que a masturbação e os orgasmos eram frequentes e similares nos dois sexos, que as mulheres também tinham desejo sexual, que a sexualidade variava de pessoa para pessoa e deveria ser educada precocemente e não frenada ou legislada. Afirmações polémicas para uma época púdica e retrógrada, até porque envolviam práticas hétero e homossexuais. De forma marcante, Sigmund Freud (18561939) desenvolveu a psicossexualidade, culpando-a de instintos inerentes à condição humana, desenvolvidos deste a infância. De salientar também, os trabalhos de Magnus Hirschfeld que deram um importante contributo na área da homossexualidade, contrariando o que se impunha em plena Alemanha nazi ou ainda Katherine Davis ou Clelia Mosher que investigaram tópicos importantes na sexualidade feminina. Muitos a eles se seguiram, principalmente com a entrada do século XX e a liberalização das crenças que com ele advieram. Hoje em dia, diversos investigadores se dedicam a esta área, existindo mesmo a “Society for TheScientificStudyofSexuality” e revistas dedicadas ao tema. A sexualidade não deve ser encarada como tabu e, apesar de não ter diretamente proteínas ou genes que possam ser veemente extraídos dos seus desígnios, ela deve ser estudada e melhor compreendida, pois quer se queira quer não, é de enorme impacto nas nossas vidas e, portanto, a sua ciência não deve ser descurada.


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HajaDesporto!

Inês Braga [5º ano]

Superséries

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tema desta edição do HajaDesporto! é dedicado a todas as pessoas que têm muito pouco tempo para fazer desporto ou ir ao ginásio. Assim, neste artigo, vão aprender uma maneira de realizar o treino habitual em metade do tempo! Sabe-se que a duração ideal de um treino, principalmente de musculação, não deve exceder os 45 minutos - 1 hora. Após esse tempo, o nível de testosterona no nosso corpo começa a descer, ao mesmo tempo que os níveis de cortisol sobem, exatamente o oposto que um atleta quer, pois: 1.Com os níveis de cortisol a subir: vai ser cada vez mais difícil perder calorias durante o treino (e consequentemente massa gorda); 2. E os níveis baixos de testosterona: o crescimento muscular não vai ser tão bem suportado, e será mais difícil ver resultados.

Ou seja, quer para a nossa agenda quer para o nosso físico, fazer treinos pequenos e eficientes é o melhor remédio! E é aqui que entram as Superséries. O termo supersérie é dado quando se realizam dois exercícios diferentes na

mesma série. Esta prática é simples e torna-se bastante eficiente, uma vez que o ritmo cardíaco permanece elevado durante todo o treino, queimando muito mais calorias em metade do tempo! Atenção! O ideal, em superséries, é usar menos peso que o que usaríamos ao realizar uma série isolada. Existem vários tipos de superséries e podemos conjugá-las como nos apetecer durante o treino: 1.Superséries antagonistas: trabalha grupos de músculos antagonistas, como bicípite e tricípite, peito e costas ou quadricípite e cadeia posterior dos isquitibiais; 2.Superséries agonistas: em que se juntam dois exercícios diferentes para o mesmo grupo muscular; 3.Superséries com grupos muscular de partes do corpo completamente diferentes. Hoje darei enfoque a superséries de grupos antagonistas: bicípite e tricípite e peito e costas. Em seguida apresento 6 superséries que podes realizar.

Em cada um dos conjuntos dos exercícios seguintes deve: 1.Realizar 10 repetições do exercício 1 e, de seguida, realizar 10 repetições do exercício 2. 2.Descansar durante 1-2 minutos. 3.Repetir 3 vezes (3 superséries)


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1. SupersĂŠrie antagonistas Peito e Costas: 1.1 Push up (1) x TRX row (2).

1.2 Dumbell Chest press (1) x Pull downs (2)


HajaDesporto //

1.3 Seated row (1) x cable chest fly (2)

2. Supersérie antagonistas Bicípite e Tricípite: 2.1 bicep barbell curl (1) x triceps bench dips (2)

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2.2 Hammer curl (1) x Dumbbell Triceps Extension (2)

2.3 Reverse bicep curl (1) x TRX triceps (2)


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HajaCinema!

Gonçalo Cunha [3º Ano]

Com um novo ano a chegar, começa o reboliço no mundo do cinema. Todos procuram um lugar ao sol que se baseia em prémios que qualquer pessoa adoraria ter. Embora o universo dos préminos cinematográficos seja bastante grande, ao longo dos anos, verifica-se um padrão de atribuição destes prémios a grandes nomes da industria e que, de algum modo, se destacaram, independentemente, da categoria a que pertençam. Assim, e considerando as criticas dos diversos orgãos de comunicação, existem, à partida, peliculas que se tornam fortes candidatas a vencer os tão desejados galardões. Posto isto, esta edição debruça-se sobre dois grandes nomes que têm vindo a ganhar força em Hollywood pois são filmes com uma critica espetacular o que os torna um alvo desejado pelo público.

Jackie

7,5/10 no IMBD Jackie é o mais recente drama protagonizado pelo ‘Cisne Negro’ de Hollywood, Natalie Portman que assume o papel de Jackie Kennedy, a amada Primeira Dama dos Estados e sofrida viúva de John F. Kennedy. Pegando numa história conhecida e debatida ao longo dos anos pelo público, o produtor Pablo Larraín e o escritor Noah Oppenheim dão a conhecer parte da vida desta mulher sobre a qual ninguém tinha tido a ousadia de falar, principalmente, do ponto de vista interno, dela em relação ao mundo e não o contrário. Este é um filme que tem recolhido excelentes criticas talvez pela brilhante e intensa interpretação de Natalie que torna este psicodrama verdadeiramente real aos olhos do espectador. Se acha que a interpretação de Portman em O Cisne Negro é insuperável, desenganese, pois há criticos que consideram este o papel mais exigente e complexo até ao momento da carreira desta atriz. Não será preciso dizer que este será um dos prováveis grandes vencedores do Ano!

Manchester by the Sea 8,6/10 no IMBD

Manchester by the Sea é um dos nomes que tem vindo a ganhar força no mundo da ficção pela conquista de diversos prémios e de diferentes características até ao momento. Este é um drama familiar que aborda a vida de uma forma simples, crua e difícil tendo em conta a trama complexa que compõe o filme. Ao longo da narrativa, é dada ao espectador uma perspetiva da vida de uma família que passa por provações e tenta superar os imprevistos da vida. Assim, Lee Chandler (Casey Affleck) vê-se forçado a enfrentar o seu passado ao mesmo tempo que assume a guarda do seu sobrinho Patrick (Lucas Hedges) após a morte do pai deste. Manchester by the Sea é considerado, para já, um dos grandes candidatos a vários prémios da Academia tendo em conta a forma como os críticos têm falado da história e dos atores que lhe dão vida. De entre eles destaca-se Casey Affleck que muitos consideram ter conseguido, com este papel, um lugar junto dos grandes atores de Hollywood.


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HajaPaciência! Tiago Rosa [5º ano]

Warning: A seguinte rubrica pretende despertar sentimentos de espanto e estupefação com a estupidez. Obrigado. Reader discretion is advised (or not). Capítulo 12: Inovações Asiáticas - Utilização criativa de coisas banais.

Figura 8 | Comboio Panda (exterior) (Foto: China Daily/Reuters)

Figura 9 | Comboio Panda (interior)

Todos a bordo do comboio Panda Não, esta não será uma notícia sobre o novo festival do (Canal) Panda, como erradamente esperançou alguns de vós. Mas é algo que agradará a todos os fãs destas criaturas pretas e brancas. Os fans das zebras vão ter de aguardar por outra edição. Bem, na província chinesa de Sichuan, fica a cidade de Chengdu. Esta cidade é única no mundo por ter a Base do Panda Gigante de Chengdu, um reservatório de vida animal dedicado à sua conservação e do seu habitat natural, assim como de outras espécies nativas com quem os pandas convivem no reino animal. No intuito de promover esta maravilha local, o governo da cidade, aproveitando o projeto de expansão das linhas de metro, resolveu criar um comboio temático na linha que passa junto a este reservatório natural. O tema? PANDAS! Obviamente,

os animais e não a doença. Os novos comboios, que entraram recentemente em funcionamento, têm um design exterior a celebrar as feições, formas e cores destes animais, e o interior recheado de cadeiras em forma de panda e varões de bambu, pois não há nada que um panda goste mais que de outros pandas… e de um bom bambu. Também a estação de metro na zona da Base do Panda Gigante foi remodelada, mostrando agora um interior muito mais pandesco (o equivalente de tigreza, mas com pandas). Com toda esta “expandasão” só nos resta saber se o intuito de promover este património terá um resultado bambu – como quem diz “bem bom” com a boca cheia - ou se vai tudo pelo bambu abaixo.


HajaPaciência //

Figura 10 | Tour de Takong (Foto: Ezra Acayan/Reuters)

Tour de Takong Bem-vindos ao Festival de Sapatos de Marikina! Para aqueles de vós menos versados em produção mundial de calçado, Marikina é uma cidade das Filipinas reconhecida a nível nacional como a Capital do Sapato, e a nível internacional como Marikina. Para comemorar e vincar a sua fama como cidade amiga dos sapatos, todos os anos, o governo da cidade e a indústria local do calçado organizam o Festival de Sapatos de Marikina (que este ano arrancou a 16 de setembro e se desenvolve até 30 de dezembro). Durante este festival comprar sapatos torna-se no desporto mais praticado na cidade, já que o preço dos sapatos cai pelo menos 30%, promovendo um influxo de compradores de todas as partes do país e do estrangeiro, pelo menos daqueles que conhecem as pechinchas que lá se praticam.

Um dos eventos mais mediáticos e afamados do festival é o Tour de Takong, uma corrida de 500m, ao longo de uma das ruas mais icónicas desta cidade, a Avenida dos Sapatos – nada poderia ser mais subtil para a auto proclamação da capital dos sapatos. A inovação inédita deste Tour é que os participantes, homens ou mulheres, correm de saltos altos com um tamanho mínimo de tacão de 7,5cm, mostrando com os saltos altos servem para mais alguma coisa para além de deformar os pés e as costas dos seus utilizadores regulares. Depois de ter lido e escrito tantas vezes Marikina, só me consigo lembrar da célebre musica: “Marikina, vem comigo p’rás Filipinas; Marikina, vem comigo p’rás Filipinas…” Me out.

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HajaMúsica! Jorge Machado [2º ano]

Um pedaço de Califórnia no Parque das Nações

Figura 11 | Red Hot Chili Peppers

O Super Bock Super Rock (SBSR) vai contar, em 2017, com uma das bandas de rock mais mediática de sempre, os Red Hot Chili Peppers. A banda californiana e a organização do festival confirmaram a presença através da sua página no facebook e também no Jornal da Noite do canal de televisão SIC. A banda já tinha estado em Portugal em 2006 no Rock in Rio Lisboa, contudo ainda não tinham vindo apresentar ao povo lusitano o seu novo álbum The Getaway, lançado a 17 de junho de 2016. O novo álbum contém treze músicas e já com três singles, The Getaway, Dark Necessities e Sick Love, tendo a última como convidados Bernie Taupin e o reconhecível nome da indústria musical, Sir Elton John. Além do novo álbum esperamos também ouvir algum dos clássicos que todos adoramos, tais como Scar Tissue, Californication, Under the Bridge, Otherside, Snow, e muitos mais. O festival SBSR irá realizar-se no Parque das Nações, como já tem sido nas últimas

edições, e contará com a presença de várias bandas ligadas ao mundo do Rock, sendo a banda liderada por Flea a primeira e a única a ser confirmada até ao momento. O evento começará com grande festa no dia 13 de julho onde os RHCP irão subir ao palco e acabará no dia 15. Os bilhetes também já estão à venda, custando 55€ o bilhete diário e 109€ o passe para os três dias. Contudo, já está há venda o pack Fnac de 95€ para os três dias que ainda oferece uma t-shirt do festival. Também podem sempre optar pelo bilhete VIP que fica por 150€ o passe geral e que vos dá acesso à zona exclusiva para convidados sobre o Tejo. Uma boa prenda para darem aos vossos amigos pelo Natal. O ano de 2017 promete ser um grande ano para Portugal no que conta a concertos de Rock, sendo que o festival NOS Alive também já confirmou a vinda da banda Foo Fighters. A banda Cage the Elephant irá atuar em fevereiro no Hard Club Porto e a banda Korn no Campo Pequeno em março. Até lá, o HajaSaúde! estará cá para vos trazer as novidades do mundo da música.


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HajaHumor!

Conselhos da Rebecca Investigaception ou Como fazer investigação sobre investigação por alunos Introdução Os Conselhos da Rebecca consiste numa crónica de renome internacional, pois pago a muita gente para dizer bem disto e os estrangeiros não sabem ler português para o poderem desmentir. Como o fulcral veículo de informação que é, o seu contributo para a evolução da cultura do povo é inegável. Desta feita, na temática de Investigação por Alunos, a rábula vai recair sobre o tópico Investigação sobre Investigação por Alunos, de forma a auxiliar alunos nas suas investigações sobre o que, usualmente, é investigado por outros alunos – que não estes alunos, mas possivelmente equiparáveis a nível de serem ambos alunos. Material e métodos Relativamente a material, estou a usar um computador Toshiba com as seguintes características: um rato touch; um ecrã que, quando dobrado, encaixa direitinho na outra metade do computador; vários gigabytes de memórias (RAM, ROM e outras mais à base de RUM); e um teclado que não tem a letra ‘ ’. Se não aparece letra nenhuma entre as aspas, só comprova que o que digo é verdade. Além disso, estou ainda sentada numa cadeira do Ikea chamada Patrik. Não é incrível, mas também não sou senhora de um rabo exigente. No que toca a métodos, pensei desenrolar o meu estudo da seguinte maneira: primeiro fazia uma introdução a fazer o contexto da crónica; depois falava dos materiais e assim, só ao de leve para não maçar, passando então à parte dos métodos - e aqui era onde eu descreveria o que queria fazer, como por exemplo, dizer que primeiro fazia algo como uma secção introdutória, de seguida, talvez, dar umas pinceladas nos materiais, e depois na parte dos métodos falaria sobre aquilo que desejaria executar, talvez terminando com resultados e essas tretas – e talvez terminando com resultados e essas tretas. Pensei várias vezes neste desenho, por isso, estou bastante confiante que vá ter significância estatística.

Ora vamos lá ver. Resultados e Essas Tretas - Foi detetada significância estatística na maioria das pessoas. - O valor de p encontra-se entre 0 e 1, o que significa que não é negativo. Valores de p negativos foram considerados iguais a 1. - Um teste de variância demonstrou que a utilidade de testes de variância neste tipo de estudos é nula. - O modelo proposto revelou um rácio de acerto de 48%, aproximando-se vitoriosamente do gold standard “cara ou coroa”. - Donald Trump é presidente dos EUA, apesar dos protestos contra o árbitro. - Um furúnculo no fundo das costas estava presente, o que pode ser revelador da pobre higienização na região sacral dos outliers. - Portimonense 3 - Freamunde 2. - Eu não tenho amigos (97% de especificidade). Arrematação Final Este estudo permite reforçar a pertinência que esta crónica tem no quotidiano de qualquer pessoa ligada à Ciência. Adicionalmente, revela que estudos feitos sobre estudos são provavelmente mais relevantes do que os próprios estudos baseados em assuntos que não outros estudos. Esta afirmação é fortalecida pelo facto de eu estar a reiterar a sua relevância em ainda mais uma frase para além da anterior. Mas qual é a take home message? Sem dúvida, que é possível fazer uma crónica baseada em nada e ainda assim não ser despedida pela edição da revista. Esplêndido! Simplesmente esplêndido! Referências - Páginas Amarelas, versão a preto e branco - Volta ao Mundo em 80 Dias, Jules Verne - Jornal A Bola do dia a seguir ao Portimonense ter vencido o Freamunde por 3-2 - Ama-te, Gustavo Santos.


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