Hajasaúde 2014 setembrooutubro

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SER MÉDICO NÃO BASTA

Boletim Bimestral | Tiragem Gratuita Nº 77 - Set. Out. Nov.

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hajaTEMÁTICA

Dia da escola! Página 5 Por Sofia Santos e Sofia Milheiro

hajaINTERCÂMBIOS!

Não há caminho! Página 11 Por Pedro Peixoto


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ÍNDICE

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hajaEDITORIAL! Dia da Escola!

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hajaCRÓNICA!

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hajaGAP YEAR!

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Não há caminho.

hajaINTERCÂMBIOS hajaMUDANÇA! Mudar de casa para a faculdade.

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hajaCIÊNCIA! As “outras” células cerebrais.

hajaARTE! Crítica a “Em Parte Incerta”

hajaBRAGA! De portas abertas para uma nova rubrica.

hajaSEXUALIDADE! Turismo: Mais do que conhecer.

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hajaTECNOLOGIA! Como os videojogos mexem com o teu cérebro: as perspectivas de um Gamer e de um Nongamer

hajaPACIÊNCIA! hajaPASSATEMPOS! hajaHUMOR! Não tenham pressa em acabar o curso!

hajaSaúde!


hajaEDITORIAL!

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Sofia Leal, 4º Ano Há pouco mais de um mês iniciou-­‐se este ano lec3vo,

Através destes podes aventurar-­‐te por um mês num

e já a ro3na espreita a oportunidade de se instalar

de imensos países à escolha, e conhecer estudantes

no nosso quo3diano. Feliz (e expectante, e nervosa)

de todo o mundo – basta falares com alguém que

exceção a esta regra são os novos caloiros: na sua

tenha feito um para perceberes as marcas posi5vas

maioria estreantes do ensino superior, fruem ainda a

que deixa. E aproveito a deixa: Outubro está a acabar,

bênção da novidade.

e as inscrições também!

Nesta que é a primeira edição do ano lec5vo, quero

Uma aventura mais exigente é a ousadia de fazer um

deixar algumas mensagens: bem-­‐vindos, colegas! Que

gap year. Pedimos à nossa colega Francisca Bar5loY

esta escola seja um importante palco de

que nos traçasse um esboço do seu ano de autonomia

aprendizagens e vivências, e que se sintam

e descoberta, desde as vinhas francesas à exploração

convidados a par5cipar nela: a apreendê-­‐la,

da América do Sul, para, através dos seus olhos,

ques5oná-­‐la e construí-­‐la, e a se construírem em

viajarmos também, e projectarmos planos de vida

novos papéis, que ainda nem podem antecipar.

mais ricos – ricos em experiências, como importa.

Aos estreantes, e aos já habitantes de tão moderna

Deixamos-­‐vos também novidades da ciência que se

mansão no meio do monte, desejo um ano de

faz mundo fora e no ICVS, as habituais crónicas sobre

redescobertas e novos desafios. Nesta edição,

arte, e a recente rúbrica sobre a cidade de Braga,

trazemos-­‐vos aragens de outras terras, onde colegas

entre outros ar5gos a explorar.

vossos alargaram o seu espectro de vivências e saberes, e somaram léguas aos seus mundos. Uma das oportunidades para o conseguir é a realização de intercâmbios, como os organizados pela Interna5onal Federa5on of Medical Students Associa5ons (IFMSA).

Neste que será o meu úl5mo editorial, quero deixar aqui o meu enorme “Obrigada” à equipa do Haja!, pela sua dedicação, e cria5vidade. A todos os outros, estendo o convite para par5ciparem na revista!

Boas leituras, e que seja um bom ano!

hajaSaúde!

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hajaSaúde!

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hajaTEMÁTICA!

Dia da Escola Sofia Santos e Sofia Milheiro, 4º Ano No passado dia 8 de Outubro, celebrou-se, uma vez mais, o Dia da Escola de Ciências da Saúde (ECS). Após a abertura pelo Coro de Câmara da Universidade do Minho, a cerimónia de graduação contou, inicialmente, com a intervenção do delegado dos alunos recém-graduados. O Dr. João Louro – ou, como soa mais natural para um colega, o João – abordou a marcante jornada, mais fugaz que o esperado, que foi o curso, para si e seus colegas, e o assombro com que se vêem agora a assumir um novo estatuto, ainda duvidando que haja um momento em que, definitivamente, um homem se torna, inteiramente, adulto. Seguidamente, tomaram a palavra a Presidente do NEMUM, Catarina Pereira, e o Presidente da Alumni Medicina, o Professor Pedro Morgado, que salientou o dinamismo dos alunos agora formados, e as saudades que deixariam na escola. Deixou, ainda, um testemunho de gratidão aos parceiros que têm tornado as iniciativas da Alumni Medicina possíveis, e anunciou a concessão ao Professor Nuno Sousa do título de Sócio Benemérito, pelo seu contributo. O Professor Damião Cunha dirigiu-se, depois, aos alunos recém-graduados, narrando uma viagem pela prática médica, e pelo ensino da medicina, desde os seus

hajaSaúde!

tempos de estudante - com referência aos tempos em que as residências estavam assoberbadas por estudantes que mal tocavam nos doentes, ainda os estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto frequentavam o Hospital de S. António, antes do Hospital de S. João abrir portas. Deu-se, depois a atribuição de distinções, incluindo distinções dos alunos: Prémio Joaquim Pinto Machado, atribuído à ex-aluna Dalila Costa, e ainda os Prémios Bolsa de Mérito Escolar e Prémio Almedina. O Prémio de Incentivo à Docência e Investigação foi atribuído ao Professor Patrício Costa. Esta celebração foi ainda enriquecida com um discurso da Professora Cecília Leão, Presidente da ECS, e do Dr. António Cunha, Reitor da Universidade do Minho. Para encerrar em grande, houve um momento de convívio e Porto de Honra no átrio da ECS, que foi animado com um momento musical, trazido pela Orquestra Barroca da Universidade do Minho. Segundo relatos bastantes fiáveis, ao longo da tarde houve ainda atividades, festividades improváveis, que as autoras desta crónica não tiveram a benesse de testemunhar…Deixamos-vos a sugestão de lá estarem para o ano, e descobrirem.

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hajaCRÓNICA!

Não há caminho Francisca Bartilotti Matos, 4º Ano Pedem-me para resumir um ano num artigo. Não será tarefa fácil, e corro o risco de o resumir demasiado e de não vos conseguir mostrar tudo o que este ano foi para mim. Mas cá vai a tentativa. Decidi parar um ano de estudo para realizar vários projetos de vida que não passavam pelo curso de medicina ou pela profissão de médica. Entendi que, para me tornar a pessoa que queria ser, ainda me faltavam muitos sonhos para realizar. Que a minha vida e o conhecimento que tenho de mim própria e do mundo precisavam de se expandir para fora de um curso de medicina que me fazia dedicar quase exclusivamente à medicina. O final do terceiro ano pareceu-me ser a melhor altura, por ser a metade do curso e por ser a fronteira entre anos pre-clínicos e clínicos. Para facilitar a história, vou dividir este ano em duas etapas: o antes do Natal e o depois do Natal. Parti em Setembro para França, com o objetivo de trabalhar para ganhar o dinheiro que depois me permitiria 6

viajar. Queria que este ano fosse totalmente financiado por mim, algo conquistado, a bem ou a mal. Foi uma manhã cinzenta, aquela em que entrei na camioneta com destino a Lyon. Partia para as vindimas. Atraía-me o trabalho bem pago para alguém com nenhuma experiência ou currículo e a ideia algo romântica das vindimas em França, que tantos portugueses tinham acolhido. Os primeiros dias em França não foram fáceis. Havia um atraso no início das vindimas e tive de acampar em jardins proibidos e estações de comboio durante vários dias até ter trabalho. Quando finalmente encontrei uma quinta que me acolhesse, trabalhei durante mais de vinte dias seguidos, saltando de quinta em quinta. Os primeiros dias foram bons. Estava calor, comia e bebia muito (boa comida, bom vinho), praticava o francês e fazia trabalho rural, algo que nunca antes tinha feito, cansava o corpo, sujava as mãos com cortes, terra e sumo de uva, no meio de um ambiente de muitos sorrisos. As costas e as pernas queixavam-se muito, mas o convívio superava a dor. hajaSaúde!


Após os primeiros dias, a coisa começou a doer. da leitaria, ganhava uma relação que nunca tinha tido com Trabalhar 8 horas num trabalho absolutamente monótono, os animais e percebia que é na montanha fria que ao com chuva e granizo que faziam com que mal respirar me sentia livre e no topo do mundo. Foi um conseguisse fechar as mãos na tesoura, franceses período muito bom - fez-me perceber o que é trabalhar xenófobos que não achavam piada a emigrantes e as com o corpo e não apenas com o lado intelectual, costas a queixarem-se já "a sério", foi duro, muito duro. proporcionou-me vários momentos de retrospeção, Acordava todas as manhãs bem cedo, e só conseguia desafiou-me como nunca antes tinha sido desafiada e pensar: "Mais um dia a cortar uvas...". Eventualmente, este fez-me ver que sou capaz de qualquer coisa. período chegou ao fim, sem nunca ter recusado trabalho Depois do trabalho, começou então o segundo ou desistir, e, hoje, conto-o como uma façanha. período, após um Natal no Porto com muitos mimos da família. Parti em Janeiro, rumo a Quito, no Equador. Não Da França, segui para a Suíça, para trabalhar tinha voo de regresso marcado, itinerário previsto ou numa quinta a cuidar de 18 cavalos. Mais uma vez, fiz sequer um lugar certo para dormir na primeira noite. Mas trabalho que nunca antes me tinha passado pela cabeça. tudo correu bem, como corre quase sempre, quando não Alimentar cavalos, limpar as suas boxes, procurar "bosta" pomos o receio à frente dos nossos sonhos. no meio de uma manta de dois metros de neve, carregar Fiquei em Quito dois meses. Fazia voluntariado na baldes e baldes de água de um lado para o outro, alisar Clinica de la Calle, uma clínica de rua que trabalhava picadeiros. Não vou dizer que todos os dias foram bons. diretamente nos mercados da cidade. Era Senti-me triste e sozinha várias vezes. Mas um projeto ainda no início, o que foi bom, quando penso nestes dias, só posso dizer (...) desafiou-me porque pude ver a sua evolução e ter a que foram magníficos. O cenário era idílico. como nunca antes sensação de estar a fazer trabalho Uma pequena aldeia no meio dos Alpes, rodeada por montanhas cheias de neve, tinha sido desafiada relevante. Os mercados eram onde trabalhavam os indígenas vindos das florestas e pequenos chalets. O silêncio da montanha e o ar absolutamente despoluído e fez-me ver que sou montanhas para a cidade: havia comida pelo chão, bichos a passear por toda a eram a minha companhia enquanto montava capaz de qualquer parte, uma multidão diária que me fazia ter a cavalo em tapetes de neve tão fofa que de andar sempre agarrada à carteira, silenciava os cascos. Bebia leite diretamente coisa.

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pregões que falavam alto naquele espanhol muito musical, encontrões, frutas e legumes deliciosos e muito baratos. O projeto consistia em identificar doentes hipertensos ou diabéticos (ou que estavam em risco de o ser) e, numa articulação entre a organização e os centros de saúde, iniciar nos doentes identificados um trabalho de prevenção e de rastreio. Alimentação saudável, exercício físico, e a maior parte dos cuidados de saúde eram desconhecidos para estas pessoas, o que me ajudou também a sentir que tinha um papel relevante: o simples conselho de não comer massa, batata e arroz no mesmo prato já terá servido para que alguém emagrecesse uns quilos. O nosso trabalho não consistia só na parte da medicina e da saúde pública, e isso foi uma das coisas que gostei mais, nesta organização. O doente era visto como um todo, e qualquer problema do doente em que pudéssemos tentar ajudar era também um problema importante para nós. Para os ajudar, tínhamos parcerias com associações contra o trabalho infantil e com vários assistentes sociais. Havia uma relação muito próxima com os doentes, chegando a ser convidadas para almoçar nas suas casas. Este trabalho foi extremamente gratificante, porque, pela primeira vez, tive a sensação de estar a mudar alguma coisa, de estar a contribuir realmente para melhorar a saúde de algumas pessoas. Entrar no mercado e ouvir um "Francisquita!", muito alto, enquanto alguém vinha a correr ao meu encontro com a manga arregaçada para que lhe medisse a tensão, ou passar pelas pessoas e

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ouvir "Já falei com a minha esposa, e vamos começar a caminhar três vezes por semana", era fantástico. Entretanto, vivia no Equador, numa casa com outros 18 estrangeiros e com os fins-de-semana para viajar muito. As distâncias perderam todo o significado, quando fazia viagens de 8 horas para passar um fim-de-semana fora, e o cansaço era esquecido perante um país de tamanhos contrastes e beleza. Percorri as praias, as montanhas e as selvas, os parques naturais. Provei as comidas todas, que nunca dispensavam o arroz, conheci o máximo de pessoas que pude, fiz muitas amizades. Mas eu não queria ir à América do Sul e ficar apenas num país. Então, após estes dois meses à descoberta do Equador, apanhei a camioneta para o Perú e decidi descer até onde o tempo me permitisse, passando um período em cada país que me permitisse conhecê-lo a fundo. Não queria parar em sítios e vê-los com a pressa de passar para o próximo. Estar em cada lugar o meu tempo, aquele em que me sentisse bem, e partir quando me apetecesse. Eis a grande vantagem de viajar sozinha. Passei pelo Perú, Bolívia, Paraguai e Argentina, e contar esta viagem seria material para várias crónicas. Estive na praia, no deserto, em picos de mais de 6000 metros, na selva com macacos na cabeça, em ruínas incas, vinhas argentinas, cidades quase europeias. Não escondo: foi fantástico. Em jeito de resumo, digo-vos que o que me vem à cabeça quando penso na América do Sul e o que me

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deixa um sorriso de saudades na cara é a ou num ano de atraso, se tiver aproveitado o “Trabalhei, afabilidade das pessoas, os abraços, o chá tempo em que não estudei com algo que mate partilhado, a música em cada esquina fez feliz. Li muito, estudei muito outras caminhei, conheci me ao som da qual ninguém deixa de mexer o matérias, como política, arte ou literatura, corpo. Ser uma rapariga a viajar sozinha só essa estrada que só escrevi, cantei e toquei instrumentos. me fez ter a certeza do que já há muito caminhei, conheci essa estrada eu poderia traçar”. Trabalhei, pensava: as pessoas são boas. Ao olhar que só eu poderia traçar. Sou hoje uma para mim, elas não viam a minha pessoa muito mais completa. E tudo o que vulnerabilidade como um factor a aproveitar para o mal: eu fiz pode ser feito por qualquer um de vós. Não sou rica, viam-no como uma oportunidade para ajudar alguém. E nem especialmente corajosa: apenas decidi que não ia ajudavam, e ofereciam tudo o que tivessem, ao ponto de, passar uma vida sem cumprir sonhos. Decidi que o ia por vezes, eu até me sentir constrangida a aceitar mais fazer e fi-lo: sem entraves nem hesitações, parti. Trabalhei generosidade. Mais uma vez, senti o ar livre, frio e solitário duro e tive medo muitas vezes. Saudades, evidentemente. da montanha, que já tão bem me tinha sabido na Suíça. Mas foi o ano mais maravilhoso que alguma vez tive e Não há nada que supere os Andes numa manhã fria, mas deixa-me feliz só de o recordar. O meu conselho só pode solarenga, com uma cordilheira pontiaguda que nos ser este: descubram o que vos faz feliz e façam-no. Tudo rodeia, e que contrasta com um céu muito azul, tendo por vai correr bem e, mesmo que não corra, não deixam de o companhia apenas lamas e alpacas. ter tentado. Como disse no início, resumir este ano num artigo é tarefa impossível, e corro o risco de perder algum do sentimento em prol da tentativa de incluir o máximo de informação. Termino dizendo: hoje, sou uma pessoa radicalmente diferente da que era quando parti. Conheço o mundo com os meus olhos, sei identificar-me com uma muito maior variedade de pessoas, descobri o que me faz verdadeiramente feliz, e aprendi a relativizar as coisas e a saber que não há drama nenhum numa negativa no curso

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hajaGAP

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Gonçalo Cunha, 4º Ano associadas aos diferentes momentos vivenciados. Por outro lado, ganha-se autoconfiança, abrem-se horizontes e aprende-se a dar mais valor às coisas, às pessoas e ganha-se a capacidade de aceitar melhor as diferenças. Se ainda estas com dúvidas acredita que voltas com vontade de estudar, embora pareça difícil de acreditar é verdade, tendo em conta que a maioria dos países onde podes realizar esta pausa te levam, como já foi dito, a valorizar o pouco que pensas que tens mas que para muitos seria mais que suficiente. Chega agora a parte que menos gostamos. Como tudo na vida tem um preço o Gap Year não é exceção, infelizmente para nós. Fica aqui uma pequena tabela onde

Se já alguma vez pensaram que é impossível começar um novo ano sem aulas não estejam enganados. Hoje em dia, são cada vez as possibilidades que permitem ao comum dos estudante começar um ano sem aulas. Exemplo disso é o Gap Year, uma experiência de um ano na qual são aliados a aprendizagem e a viagem. Praticado cada vez mais, o Gap Year torna-se uma experiência única e inesquecível para aqueles que são aventureiros ao ponto de o fazerem. Quando se tenta explicar e definir o que é realmente um Gap Year as palavras não são a melhor maneira de o fazer tendo em conta que depende muito daquilo que cada um pode escolher fazer neste período de tempo. Geralmente, associado a experiências no estrangeiro, o Gap Year tem diferentes domínios de atuação que são o de voluntariado, de reflexão, de estágio, de trabalho, de turismo, de festa e descanso e ainda um Gap Year mix que envolve um pouco de todas as modalidades referenciadas. Destas, a mais realizada é obviamente a última, tendo em conta que é a que tem uma maior diversidade de ofertas. Assim, podes é comparado o custo de um Gap Year na Índia ao custo de pensar na tua vida e no teu caminho ao mesmo tempo um ano na Universidade: que ajudas quem mais precisa e te fazes sentir útil, Se ficaste interessado e queres saber mais nunca perdendo a oportunidade para aprender em relação consulta o seguinte site: http://www.gapyear.pt/quema hábitos, culturas e claro está, nunca perdendo a somos/antes-que-desistas-da-ideia. Nele vais encontrar oportunidade de conhecer aquilo que cada pais tem de muitos mais pormenores no que diz respeito a detalhes, ao melhor para dar: as pessoas, a comida, as tipo de material que é preciso de levar mas paisagens… também te permite fazer simulações tendo “Não tens Não tens de dar necessariamente em conta as tuas preferência em termos de a volta ao mundo! Podes perfeitamente necessariamente de continente, dos cuidados de higiene que escolher um determinado número de países pensas ter e também no grau de segurança nos quais possas dar continuidade a um dar a volta ao que te podem oferecer. projeto, ou simplesmente iniciar um novo. O mundo!” Como disse ainda há esperança para todos mais importante de um Gap Year acaba por nós que, embora cedo, mostramos já sinais ser aquilo que queres, as tuas aspirações e de cansado e o imenso desejo de férias. Essa solução ambições e assim, estabelecendo bem os teus objetivos, pode ser perfeitamente para os mais aventureiros o Gap fazer com que os consigas alcançar. Year. No que diz respeito a vantagens e desvantagens, as vantagens ganham claramente. Se por um lado perdes um ano letivo por outro, aquilo que ganhas em troca é realmente compensatório. Sem dúvida que experiências destas permitem o ganho de maturidade e independência

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hajaINTERCÂMBIOS! Pedro Peixoto, 4º Ano Hoje em dia a oferta de experiências extracurriculares é extensa e tem tendência a aumentar de volume, pelo que se torna pertinente questionar a importância de fazer um intercâmbio em detrimento de uma outra atividade, seja ela inserida no voluntariado, no associativismo juvenil, como também na investigação, no desporto, enfim, no rol enorme que podia aqui e agora destraçar.

Em primeiro lugar, realizar um Intercâmbio abre horizontes. Poucas formas melhores que esta existem para expandir a nossa personalidade, para a enriquecer com novas ideias, uma nova cultura, uma forma diferente de estar na vida. Em pouco tempo somos imergidos em toda uma coletânea de costumes, de arte, música, gastronomia, ao mesmo tempo que conhecemos pessoas e personalidades que se distinguem dos fenótipos com que estamos habituados. Em segundo lugar, e particularmente quando realizamos um Intercâmbio com um intuito profissional associado, seja ele clínico ou científico, poderemos aprender a resolver problemas com que nos depararemos, necessariamente, quando tivermos uma vida laboral ativa, de forma que nos é inusitada, incomum ou mesmo roçando o inverosímil. Acabaremos por adquirir conhecimentos que, de outra forma, seria muito improvável obter. A acrescentar ao dito atrás, um intercâmbio contribui de sobremaneira para a desenvoltura de uma capacidade muito apreciada, commumente conhecida como "desenrasque". É a língua, porventura absolutamente estranha, são os sistemas de transporte, a forma de estar das pessoas, a alimentação, o alojamento, basicamente tudo; uma simples ida ao supermercado ou uma saída à noite tornam-se desafiantes, em comparação com o que estamos habituados. Do intercâmbio que eu próprio realizei, na época havia concluído o segundo ano, retirei tudo isto e muito mais, no entanto é difícil colocar em palavras que avaliem com exatidão a minha experiência. hajaSaúde!

Havia escolhido a República Checa pois procurava um país culturalmente semelhante ao nosso Portugal, europeu e cujo clima não se diferenciasse muito. Foi, portanto, uma opção comodista e bastante conservadora. No entanto, mesmo assim, dificilmente poderia ter tido uma melhor experiência. Em primeiro lugar ficaram as memórias das pessoas que conheci, de todos os cantos do Mundo, desadaptados da realidade desse país, tal e qual como eu estava. Constroem-se laços em dias, que doutra forma seriam absolutamente impensáveis. Talvez tal aconteça por engenho aguçado pela necessidade, mas o facto é que fazemos amigos para uma vida. Claro está que um Intercâmbio não se quer só de trabalho. Um bom programa social a acompanhar é sempre bem vindo. Nestes programas, os "nativos" dãonos a conhecer o seu país da forma como eles próprios o vêm. Acaba-se, portanto, por contornar o turismo de massas e vai-se além dos clichés que fazem o país ser conhecido. O pior de um Intercâmbio é o regresso a casa, por muito que a saudade tenha apertado. Apesar de ser tão parco em tempo, a experiência é tão intensa que deixa mesmo uma marca e o retorno a casa, á rotina, é em si só, um grande desafio. Quando se chega a casa e o cérebro tem de ligar o português como não fazia já há algum tempo... O que deixo aqui é o desafio para que quem lê este texto se disponha a fazer o mesmo, a desfrutar da experiência de um Intercâmbio. O meu último conselho é para não serem comodistas, como eu fui, mas antes sejam originais, sejam aventureiros, pois quanto maior o choque cultural a que se sujeitarem, mais desfrutarão e maior será a marca que reterão para toda a vida.

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hajaMUDANÇA!

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Mudar de casa para a faculdade Sofia Ferreira, 4º Ano Entrar na universidade é um marco na nossa vida. Após árduos anos de trabalho no secundário, de luta, suor e lágrimas, conseguiste alcançar os teus objetivos. Mas como tudo na vida, as coisas não são fáceis. Agora descobriste que, por a tua Escola ser longe da tua casa, terás de arranjar um quarto mais perto da Universidade.

(como fotografias dos teus amigos, projetos tipo DIY). Condições do resto da casa: uma sala não é obrigatória, mas dá jeito. Em relação à cozinha, se planeias cozinhar, verifica se tem fogão e forno. Caso contrário, um micro-ondas é essencial. Bónus importantes: máquina de lavar roupa (especialmente se não fores aos fins-de-semana a casa), máquina de café, torradeira, tostadeira, televisão, internet e despesas incluídas. Gestão de dinheiro: nos primeiros tempos pode ser complicado. Para ajudar, deves apontar todas as tuas despesas (Desde a pastilha elástica que compraste no bar até o livro de anatomia para estudar). Vai dar-te uma noção onde gastas o teu dinheiro e, caso necessites de poupar, onde podes cortar. Gestão do tempo: Esta é bem complicada para os estudantes de medicina. Hão de chegar os dias em que vais achar que tens mil coisas para fazer e o tempo parece que não existe. Neste caso, o truque é fazer uma lista das coisas que precisas de fazer e dividi-las em Importante e Não Importante, Urgente e Não-Urgente (ver exemplo). Também acho essencial arranjar uma agenda onde coloques as tuas tarefas, o teu horário e aquilo que tens a fazer para poder gerir ainda melhor cada semana.

Importante Mudar de casa é um desafio, tanto físico como psicológico. Terás de escolher aquilo que importa trazeres contigo, mas terás de deixar algumas coisas para trás. Provavelmente não vais ver a tua família e os teus velhos amigos com a frequência que querias, tens medo que se esqueçam de ti ou que se afastem. É certo que haverão momentos difíceis, mas com certeza que os irás ultrapassar. Ao longo deste texto, quero deixar algumas dicas para todos aqueles que, como eu, tiveram de mudar de casa. Escolher o local: Informa-te dos vários locais que existem de aluguer de casas e como irás todos os dias para a Universidade. Se não tiveres carro, estuda a possibilidade de ires a pé ou de autocarro. Tem em atenção o movimento da rua, em especial à noite, já que se tiveres perto dos bares, o barulho poderá incomodar.

Não Importante

Urgente Não Urgente Arrumação: Em tempos de exame, manter a casa arrumada é um desafio. Para isto aconselho-te seguires a regra dos 2 minutos. Basicamente, se demoras menos de 2 minutos a fazer alguma, fá-la imediatamente, não deixes para depois ou para amanhã. Diz não à procrastinação.

Condições do teu quarto: dá preferência a um quarto que já esteja mobiliado, porque evitas gastar dinheiro com mobília e o problema de transportar coisas muito pesadas caso sejas obrigado a mudar novamente de casa. Essencialmente, tem de ter uma cama, uma secretária, uma cadeira, um armário e uma mesa de apoio. Vale a pena investir na iluminação de mesa e numa cadeira ergonómica , já que são fulcrais para ajudar nas longas horas de estudo que te esperam. A decoração também é importante, já que torna o quarto visualmente apelativo. Tenta ser o mais minimalista possível (facilita na hora das limpezas), mas não te esqueças de decorar o espaço com objetos que tenham significado pessoal

hajaSaúde!

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hajaCIÊNCIA!

As “outras” células cerebrais António Mateus-Pinheiro, 4º Ano Tanto na sua génese como ao longo da sua evolução, a investigação neurocientífica adotou a célula neuronal como objeto de estudo primordial. A identificação precoce das capacidades intrínsecas de condução e excitabilidade destas células assumiu-se como a principal premissa a partir da qual foi gerada a hipótese de que os neurónios seriam os principais executores das funções do sistema nervoso central. De entre outros tipos celulares que os neurocientistas assumiam não pertencer à linhagem neuronal, foram descritas células de morfologia estrelada, que no seu conjunto alguém escreveu um dia “parecerem reproduzir a paisagem do Universo no cérebro do Homem”. Lirismos à parte, e como já certamente adivinham, estas células foram pragmaticamente chamadas de astrócitos, e apesar de rapidamente se ter concluído que estas eram abundantes no cérebro dos mamíferos, o seu papel permaneceu enigmático por longas décadas. Com efeito, os astrócitos eram funcionalmente remetidos para um mero papel de suporte, ou seja constituíam a “matriz tridimensional que suportava os circuitos neuronais”. A descoberta nos anos 80 de que afinal estas células teriam propriedades eletrofisiológicas, embora mecanisticamente díspares das células neuronais, foi alvo de crítica e de difícil aceitação no seio da comunidade científica. De tal modo que torna-se curioso constatar que esta corrente neurocêntrica prevaleceu até há relativamente pouco tempo. A importância dos astrócitos, assim como de outros tipos celulares gliais, foi amplamente revista nos últimos 15 anos, chegando-se à incontestável conclusão de que estes presumíveis “atores secundários” desempenham na prática um papel principal na homeostasia e função cerebrais. Um estudo recente desenvolvido no ICVS vem corroborar isso mesmo. Em síntese, este trabalho publicado na proeminente revista Molecular Psychiatry, demonstra que a simples ablação seletiva de astrócitos no córtex pré-frontal resulta no desenvolvimento de défices cognitivos. Embora algumas doenças psiquiátricas e neurológicas já tivessem sido associadas a défices na função astrocítica, permanecia até à data pouco claro se isto estaria na génese da doença ou se emergiria apenas enquanto consequência desta. João Oliveira, referiu “ser a primeira vez que se induzem défices cognitivos pela simples interferência com a função astrocítica”. Em 3 passos simples, entendamos então qual a abordagem que esta equipa de investigação adotou: • Num grupo de animais (ratos) teste, injetou-se intracranialmente uma toxina que promove a morte seletiva de astrócitos. A injeção foi direcionada especificamente ao córtex pré-frontal, uma vez que é uma região cerebral que participa no controlo de modalidades cognitivas como o planeamento, tomada de decisão e memória de trabalho, modalidades estas que estão normalmente comprometidas não só em doentes com doenças psiquiátricas mas também em 14

doenças neurodegenerativas como é o caso da doença de Alzheimer. • O procedimento foi reproduzido em animais controlo, injetando-se uma solução inócua, sem toxina na sua composição. • Os animais foram submetidos a diferentes testes comportamentais para aferir a integridade de diferentes modalidades cognitivas. Através desta abordagem, tornou-se evidente que os animais injetados com a toxina desenvolveram défices c o g n i t i v o s , e n q u a n t o q u e o s a n i m a i s c o n t ro l o apresentaram função cognitiva preservada (salvaguardando assim que as alterações detetadas não seriam secundárias ao procedimento cirúrgico de injeção intracraniana). A análise cuidada de quais as alterações c e r e b r a i s q u e e s t a r i a m n a b a s e d o s d é fi c e s comportamentais observados revelou algo também surpreendente: se era verdade que a toxina promoveu a morte seletiva de astróctios, era também verdade que após algum tempo as células neuronais que coexistiam com esses astrócitos começavam também a morrer. Assim, o estudo destes investigadores Portugueses demonstra de forma robusta que o compromisso da função astrocítica pode ser uma causa primária dos distúrbios cognitivos típicos de diferentes doenças neuropsiquiátricas (e não o mero resultado das mesmas), sugerindo ao mesmo tempo o mecanismo subjacente: “Este estudo suporta a perspetiva de que a população astrocítica, enquanto alvo patológico primário no contexto de algumas doenças neuropsiquiátricas, pode promover processos neurodegenerativos em regiões cerebrais específicas. Isto é de tal modo relevante, que a doença psiquiátrica pode ser mimetizada apenas afetando a função dos astrócitos!”, explica João Oliveira. Os resultados deste trabalho consubstanciam uma perspetiva renovadora na patogénese da doença mental, conferindo uma importância chave ao papel dos astrócitos e abrindo perspetivas quanto a novas abordagens terapêuticas. Num mero exercício lúdico, perguntei um dia a uma turma com pouco mais de 20 alunos do ensino secundário quais as células através das quais o sistema nervoso exerce as suas funções. A resposta “neurónios” foi imediata, dada quase em uníssono. Alguns responderam com um semblante sério, como o de quem acabara de ser insultado e pedia implicitamente explicações quanto ao facto de eu lhes ter feito uma pergunta tão absurdamente óbvia. Uma rapariga no canto da sala comentou “existem as outras células do cérebro. Como é que se chamam? Ah, são os astrócitos não são?”. Não sei se naquele instante a aluna do canto da sala percebeu que a sua resposta era tão correta como a que foi dada pelo resto da turma. Não pude deixar de sorrir e de pensar que se repetir a pergunta daqui a 5-10 anos talvez oiça a reposta “astrócitos” mais vezes.

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Crítica a “Em Parte Incerta” Núria Mascaranhas e João Dourado, 2º Ano «Quando penso na minha mulher, penso sempre na sua cabeça. Para começar, na sua forma. (…) E o que está dentro dela. Também penso nisso: na sua mente. No seu cérebro, com todas aquelas circunvoluções, e os seus pensamentos a percorreremnas como centopeias velozes e frenéticas. Como uma criança, imagino-me a abrir-lhe o crânio, a desenrolar-lhe o cérebro e a vasculhá-lo, tentando agarrar e imobilizar os seus pensamentos. Em que estás tu a pensar, Amy? A pergunta que mais vezes fiz durante o nosso casamento, mesmo que a não tenha feito em voz alta, mesmo que a não tenha feito à pessoa que podia responder. Suponho que estas perguntas surjam como nuvens ameaçadoras sobre todos os casamentos: Em que estás a pensar? O que estás a sentir? Quem és tu? O que é que fizemos um ao outro? O que é que vamos fazer?»

Alertamos para a possível presença de spoilers nesta crítica. Talvez para quem tem por hábito ler thrillers, este livro acabe por ser, em parte, semelhante a tantos outros. No entanto, para nós, Em Parte Incerta destaca-se completamente dos demais do mesmo género literário, não só pelo enredo envolvente e pelo brilhante desenvolvimento do mesmo, mas também pela g e n i a l re c o r r ê n c i a a o humor negro, ao sarcasmo e a uma linguagem brusca e crua pela parte da autora. A tudo isto, e essencialmente, junta-se o inevitável facto de Gillian Fllyn nos ter ludibriado inteiramente… Um best-seller que se centra, sobretudo, em questões relacionadas ao casamento, faz com que todos os casais que leiam o livro ou vejam a sua recente adaptação cinematográfica, se questionem sobre a sua relação, o quão bem conhecem o seu parceiro, o perigo da rotina e do desleixo inerente a relações que já duram há algum tempo, bem como sobre a forma como o ser humano gosta de manipular e enganar os outros. Em Parte Incerta põe em evidência a dicotomia conjugal entre o ser e o parecer: Amy e Nick aparentam, inicialmente, ser o casal perfeito; no entanto, à medida que a trama se desenrola, podemos perceber que esta realidade está longe de ser verdade. Ela queria ser a "rapariga boazinha" para o agradar, ele queria estar à altura dela, e, dessa forma, acabaram por criar figuras idealizadas um do outro que, com o passar do tempo, se foram desmoronando. O caso do desaparecimento de Amy começa a ganhar maiores repercussões quando a polícia decide marcar uma conferência de imprensa, onde participam tanto o marido, como os pais da mesma. A forma como Nick age perante as câmaras e o comentário dos meios de comunicação social inerente a esse mesmo comportamento, leva a que a polícia rapidamente faça hajaSaúde!

dele o principal suspeito do caso que envolve a sua esposa. À custa disso, é igualmente feita uma sátira aos media e às redes sociais. São julgadas a forma como alguns jornalistas mudam de opinião quando lhes convém, a criação de verdadeiras “novelas mexicanas” em torno de casos sérios e reais, o facto de uma pequena selfie poder arruinar a imagem de uma pessoa, entre outras mensagens subliminares... Centrando-nos agora no final do livro, digamos que é absurdamente macabro, arrepiante e algo frustrante… A cereja no topo do bolo! Ao longo de todas as páginas, Flynn vai deixando pegadas que nós, leitores concentrados e dedicados, seguimos até ao destino final. Acabando este fantástico escrito, apercebemo-nos de que nenhuma ponta fora deixada solta, e a autora fora capaz de nos hipnotizar com tantas voltas e reviravoltas. Um conselho: não acabe de ler este livro à noite! A 2 de Outubro chega-nos aos cinemas a adaptação cinematográfica de Em Parte Incerta – Gone Girl por David Fincher, realizador de outros filmes bem cotados pela crítica de Hollywood. Em resumo: excelente enredo, admirável banda sonora, rigorosa realização e perfeita seleção de atores. Um magnífico exemplo de como um thriller deve fazer a audiência ficar pregada à sua cadeira do início ao fim da sessão, enquanto é brindada com muitas surpresas. Não é necessária uma música assustadora, cenas de ação espampanantes ou diálogos cliché que indiquem que algo de menos bom se vai passar. Fincher consegue-nos fazer tremer de ansiedade com um simples movimento de câmara, um silêncio prolongado das personagens ou o simples som de umas persianas a moverem-se. Ficamos assim, na expectativa, enquanto os protagonistas vão vivendo uma série de intrigas extremamente bem elaboradas, que nos fazem questionar o que acabámos de ver, e mudam a ideia que se tem de cada personagem. De salientar a performance de Ben Affleck e Rosamund Pike, que surpreendem todos os fãs, deslumbrando-nos com uma interpretação espectacular de um casal completamente disfuncional. A narrativa não linear e os vários pontos de vista em que a história é contada fazem nascer muitas dúvidas e questões nos espectadores, estando estes sempre um passo atrás em relação às personagens, nunca sabendo quem está a mentir e quem está a dizer a verdade. Assistam ao filme, acreditem que não darão pelo passar das duas horas e meia que este detém.

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hajaEditorial! NOME, NUMERO, EMAIL


hajaBRAGA!

De portas abertas para uma nova rubrica Joana Silva, 3º Ano Antes de mais, penso que não faria que todas as outras portas da muralha sentido continuar esta rubrica sem explicar o “És de Braga? É que continuavam a ser fechadas à chave no final conceito em que ela se baseia. Na última do dia, exceptuando esta Porta Nova, os deixaste a porta edição do HajaSaúde! escrevi uma crónica bracarenses assumiram-se como pioneiros aberta!” sobre a Braga Romana – Reviver Bracara em deixar portas das muralhas abertas. Avgvsta, onde para além de abordar o Outra explicação relaciona-se com evento em si, abordei a Braga Romana permanente, uma história que nos conta que havia um sábio de Braga incentivando-nos a ser Bracaraugutanos durante o ano que, sendo bom conselheiro, visitava as casas das inteiro. Neste âmbito, esta crónica tem como primordial pessoas para lhes dar conselhos. No entanto, como as objectivo, não só no campo da Bracara Avgvsta mas moradias eram sombrias, este homem pedia que também no universo histórico da cidade de Braga, tornardeixassem as portas das casas abertas, alegando que nos bracarenses mais inteiros, quer estudantes de outras assim beneficiava de uma brisa que lhe arejava o cérebro, naturalidades quer estudantes daqui naturais, pois nunca melhorando a sua capacidade de dar conselhos. se conhece tudo acerca desta cidade. Assim, serão Finalmente, há ainda uma outra explicação, que abordados o património material e imaterial desta cidade, defende que a expressão se deve ao espírito comunitário mormente expressões, tradições, lugares, museus e da região minhota, em que era vulgar as pessoas outros. deixarem a porta aberta para que os vizinhos pudessem Ora, para estrear esta crónica, nada melhor que entrar sempre que precisassem de alguma coisa ou se uma expressão vulgarmente utilizada – “És de Braga? É quisessem falar sobre algo. que deixaste a porta aberta!”. A verdade é que, independentemente da origem ! Uma das explicações (a mais vulgarmente desta expressão, ela reflecte muito daquilo que a cidade utilizada) para esta expressão prende-se com a existência de Braga é. Cidade da juventude e em constante do Arco da Porta Nova. No início do século XVI, o progresso, mantém as suas portas abertas para quem cá Arcebispo D. Diogo de Sousa, mandou edificar uma nova quiser entrar, seja para estudar, trabalhar, visitar,… O que porta na muralha, a Porta Nova. No entanto, como na for. Assim, aos “novos bracarenses” (estudantes recémaltura as guerras já haviam cessado e como a cidade já chegados) sejam bem-vindos e deixem-se encantar com esta bela cidade e aos “bracarenses experientes” ultrapassara os limites da muralha, não foi colocada nenhuma porta de madeira naquele arco, adquirindo este deixem-se encantar de novo e descubram os o nome de Arco da Porta Nova. Assim, e considerando pormenores desta nossa casa.

hajaSaúde!

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hajaSEXUALIDADE!

Turismo: Mais do que conhecer Jorge Silva, 4º Ano O turismo sexual é definido pela Organização Mundial de Turismo, uma área especializada das Nações Unidas, como “uma viagem organizada que objetiva uma relação sexual entre o turista e os residentes do destino da viagem”. Tal é um fenómeno social maioritariamente associado a homens, comummente de regiões ocidentais, e os principais destinos são países da América do Sul e Sudoeste Asiático. Em predomínio, os praticantes deste tipo de turismo procuram atividades pagas como prostituição, acompanhantes ou striptease, o que salienta algumas questões quer legais, quer a nível de saúde, associadas a estas atividades. Já o turismo sexual no sexo feminino é muito menos frequente mas também existe, sendo os locais mais frequentes do mesmo o Brasil e Sul da Europa (Portugal, Espanha e Grécia). A prostituição é uma atividade legal na maioria dos países da América do Sul (10 dos 12, sendo regulada em 7 dos mesmos), enquanto o contrário se verifica nas zonas do Sudeste Asiático, sendo apenas legal na Tailândia e em Timor-Leste. Tal tornou a região Tailandesa como um dos principais destinos de turismo sexual, situação também exacerbada pela pobreza generalizada das regiões rurais do país. Não sendo a prostituição uma atividade regulada neste país, tal levanta problemáticas associadas à saúde não só dos turistas, mas também da população local, nomeadamente a nível de infeções

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sexualmente transmissíveis (especialmente a transmissão do VIH, que se mostrou estar altamente correlacionado com a prostituição). Outra problemática a salientar prendese com o facto de que este tipo de turismo pode também ser explorado e levar a uma exacerbação do tráfico humano, quer de mulheres, quer de crianças: a regularização, controlo e criação de leis associadas à prostituição seriam uma medida de alto impacto quer a nível de saúde pública (sendo em alguns locais onde a prostituição é regulada, obrigatório o rastreio de algumas infeções sexualmente transmitidas), quer a nível da redução tráfico humano, tornando o turismo sexual algo mais seguro, disponível e com menores repercussões sociais. Esta atividade, apesar de atualmente ter uma conotação negativa e se associar a algumas questões legais e de saúde, não deve ser necessariamente visualizada como algo imediatamente pejorativo: apesar dos riscos associados, a melhoria das condições associadas à prostituição tornaria esta atividade mais compreensível globalmente. Contudo, estas melhorias parecem ser ainda muito longínquas, especialmente devido ao estereótipo mundial da prostituição (basta procurar sinónimos desta palavra na internet, para facilmente encontrar vocábulos como “degradação” e “corrupção”…).

hajaSaúde!


hajaTECNOLOGIA!

Como os videojogos mexem com o teu cérebro: as perspectivas de um Gamer e de um Non-gamer Jorge Silva, 4º Ano - GAMER Muitos videojogos têm sido criados com um intuito maioritariamente educacional, combinando uma vertente de aprendizagem com uma de entretenimento. Assim como ser um jogador assíduo de Sudoku desenvolve algumas capacidades como a memória, também videojogos como a série mundialmente reconhecida Brain Training têm tais vantagens, fornecendo até alguma informação sobre o progresso do treino. Os benefícios deste tipo de abordagens associadas aos videojogos estão já perfeitamente estabelecidas, mas algumas surpresas estão também por de trás dos tipos de jogos mais negativamente conotados, principalmente os temidos FPS (First Person Shooters). Os jogos do género FPS são caracterizados por várias e muito frequentes cenas que envolvem violência com a utilização de armas de fogo, tendo a maioria dos títulos uma recomendação pela PEGI e pela ESRB (as duas principais entidades que classificam a faixa etária recomendada para cada videojogo) para maiores de 16 ou 18 anos, com a advertência para conteúdos de violência. Este tipo de jogos tem sido visualizado como indutor de comportamentos agressivos nos seus jogadores (especialmente adolescentes), e é geralmente tido como isento de benefícios. Contudo, não só a correlação entre jogos violentos e comportamentos agressivos foi descreditada por vários estudos, como também uma variedade de trabalhos aponta para benefícios a nível da memória, entre outras funções cognitivas. Num estudo publicado na revista Psychological Research (Colzato, 2012), foi demonstrada uma superioridade de jogadores experientes de FPS, em comparação com não jogadores, na capacidade de memória de trabalho,

Figura 1. O jogo Far Cry 3 é um típico exemplo de um FPS com elevado sucesso comercial e de grande conhecimento mundial.

hajaSaúde!

sendo que os primeiros têm provavelmente uma melhor capacidade de eliminação de memórias dispensáveis, o que lhes permite reter a informação mais importante. A explicação subjacente a tal prende-se, provavelmente, com a necessidade do jogador se adaptar rapidamente a alterações visuais e sonoras de um meio em constante alteração, tendo de rapidamente se focar em novos estímulos e evitar outros (como disparar contra os inimigos e não contra companheiros de equipa), o que leva ao desenvolvimento da capacidade de memória de trabalho.

VS. Ana Sofia Milheiro, 4º Ano - NON-GAMER Dada a minha experiência limitada no que toca a videojogos, a redação desta rubrica foi um verdadeiro desafio. Mas em vez de me sentir como um peixe fora de água, tentei interiorizar o verdadeiro espírito das poucas personagens de videojogos que conheço e dar o meu melhor. Se surgir o Game Over, paciência. Haverá sempre uma próxima edição deste jornal! O único aviso que a minha preocupada mãe fazia sempre que me encontrava entretida com um videojogo era: “Não jogues muito tempo que isso faz mal à vista!”. Mas, sinceramente, era um comentário usado para videojogos, ler no carro, televisão… Nada específico, portanto. Nesta pesquisa, descobri que não só esta preocupação era infundada, como muitos outros efeitos associados aos videojogos não foram refletidos em estudos científicos. Nem tudo o que encontrei foi novidade para mim: já conhecia o efeito aditivo dos videojogos pelo desafio que podem representar, mas confesso que descobrir que videojogos podem ter um efeito terapêutico em diversas perturbações, como défices visuais ou doenças neurodegenerativas foi prazeroso e, de certa forma, surpreendente. Os videojogos interferem com circuitos dopaminérgicos cerebrais, o que explica não só a adição associada, como também os seus efeitos a nível da aprendizagem e memória. Num estudo publicado na revista PLOS ONE (Holmes, 2012), três grupos de pessoas foram sujeitas a uma série de imagens violentas e perturbadoras e, de

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seguida, um grupo jogou Tetris e outro respondeu a um quiz, enquanto o outro grupo nada fez. Surpreendentemente, o grupo que jogou Tetris demonstrou uma menor ocorrência de flashbacks. Pensase que este efeito não se deve apenas ao efeito distractador do jogo, mas que este interfere com os mecanismos de processamento de memória. Assim, o Tetris pode funcionar como uma espécie de “vacina cognitiva”, reduzindo os flashbacks pós-experiências traumáticas, uma característica importante do Stress PósTraumático. Esta pesquisa tornou-se ainda mais interessante quando revelou que até os videojogos com maior conotação negativa, pela sua violência e agressividade, como Grand Theft Auto ou Terminator 2: Judgement Day, têm efeitos benéficos a nível da memória, atenção e até de alívio da dor. Além disso, não parece haver grande evidência que os jogadores apresentem comportamentos mais violentos.

Figura 2. Tetris é um videojogo verdadeiramente intemporal, tendo sido criado em 1984 e, presentemente, pode ser jogado em praticamente qualquer dispositivo electrónico.

hajaPACIÊNCIA! Tiago Rosa, 4º Ano

Nota Introdutória ao Leitor: A seguinte rubrica pretende despertar novos sentimentos nos leitores do Haja, nomeadamente de espanto e estupefação com a estupidez. Obrigado. Reader discretion is advised (or not).

Anonymous writer is anonymous

Mulher processa Disney por lhe terem roubado a vida no filme “Frozen” Toda a gente conhece o filme, por isso escuso de o descrever, quem não conhece que o veja. Embora (quase) todo o mundo reconheça que o filme seja baseado no original do dinamarquês Hans Christian Andersen de 1844, a escritora peruana Isabella Tanikumi discorda desta afirmação e alega que o filme se baseia na sua autobiografia “Anseios do Coração” lançada em 2010, no qual a autora descreve a sua infância nas montanhas no Peru. O processo movido pela peruana processa a Disney em 250 milhões de dólares por este “roubo” de identidade. Só é pena que na autobiografia desta autora não haja a aparição de um fantástico boneco de neve falante, gostaria mesmo de confirmar a sua existência.

Supremo Tribunal Administrativo diz que o sexo já não é importante aos 50 anos. O caso começou em 1995 quando uma mulher com história de infeções genitais frequentes, foi submetida a uma cirurgia para tentar solucionar o problema. Durante a operação um nervo terá sido lesado por acidente, passando a 20

hajaSaúde!


referida mulher a sofrer de incontinência urinária, dores, dificuldade em sentar-se e incapacidade em manter relações sexuais. Após o primeiro julgamento, foi atribuída à vítima uma indeminização de 175 mil euros. Após um recurso para o Supremo Tribunal Administrativo, os juízes resolveram reduzir a indemnização para 111 mil euros, fundamentando a redução no acórdão dizendo que “ aos 50 anos, a atividade sexual não tem a importância que assume em idades mais jovens” entre outros argumentos de que o erro médico apenas agravou uma situação inicial já de si dolorosa e de que “à medida que a idade avança, a importância do sexo vai diminuindo.”

The Invisible Art Exposition Para demonstrar como as pessoas não podem acreditar cegamente em tudo o que lêem. Há algumas semanas, o CBC (Canadian Broadcasting Corporation) publicou uma noticia onde se relatava uma exposição de arte ocorrida em Nova Iorque. Nesta exposição, as peças de arte eram invisíveis, tendo a artista, Lana Newstrom, dito que “arte é baseada na imaginação e a minha obra requer que o público interaja com ela. Eles têm de imaginar a pintura ou a escultura em frente deles.” A mesma notícia dizia ainda que algumas das peças já tinham sido vendidas em leilão pelo módico preço de 35 mil dólares, aparecendo também uma fotografia da exposição na qual um grupo de pessoas observava as paredes vazias e admirava o trabalho da artista. Não tardou a estalar o escândalo com várias pessoas do mundo da arte a criticar este “novo conceito de arte” e a chamar de farsa à autora.

Exposição interessante, não acham? Bem, a verdade é que depois de tão “calorosa” reação à notícia, uma segunda notícia foi publicada para explicar aos críticos que na verdade tudo não era mais que uma sátira. Uma sátira dos autores de “This is That”, um programa de sátira da rádio canadiana, que se especializa em criar falsas noticias para satirizar assuntos do quotidiano. “One of the sculptures is really heavy, so I probably will have to lift it with my legs” e “I did painting, I did sculture, installation, modpodge but no one was biting. No gallery would take my work” são algumas das muitas falas encarnadas pelos dois comediantes Pat Kelly e Peter Oldring. Não será difícil agora de perceber que a foto mostrada era na verdade um photoshop de uma exposição feita em Milão uns anos antes. Se depois de tudo isto ainda ficaram curiosos, podem sempre visitar o site da “artista” LanaNewstrom.com e maravilhar-se com os comentários, que continuam a surgir, às suas belas obras de arte.

hajaSaúde!

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hajaPASSATEMPOS!

Horizontais

Verticais

1. O melhor ano da Universidade, ainda que discutivelmente 4. Fruto típico desta época bastante associado ao Halloween 6. Série de videojogos retratando a criminalidade de grandes metrópoles 8. Ouriço azul, personagem de um célebre videojogo 12. Número edição do Minho Medical Meeting deste ano 13. Boneco de neve falante do mais recente filme da Disney 15. As "estrelas" do nosso cérebro 17. Série de videojogos que segue as aventuras de um caçador de tesouros 19. Cidade onde ocorre Em Parte Incerta 20. Primeiro país da América do Sul visitado por Francisca Bartilotti

2. País onde surgiu a prática do Gap Year 3. Cidade natal do autor do conto que inspirou Frozen 4. Estrutura cerebral associada à sensação de prazer e mecanismos de adicção 5. País asiático onde a prostituição é legal 7. Título religioso de quem mandou construir a Porta Nova 14. Apelido da autora de Em Parte Incerta 15. Colega de Rebecca que recusou uma bolsa de investigação 16. Apelido do director do filme The Nightmare Before Christmas 18. A melhor cidade para estudar, ainda que discutivelmente

hajaSUDOKU!

Dificuldade: Fácil

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Dificuldade: Dificil

hajaSaúde!


hajaHUMOR!

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Conselhos da Rebecca Não tenham pressa em acabar o curso! Ah, um novo ano. O cheiro a sabedoria dos mais velhos, a suor dos mais novos. A nostalgia é grande. Podem não acreditar, mas aqui a Rebecca também já foi caloura. Foi algures entre a Grande Depressão e a Aterragem na Lua, talvez ali pelo s é c u l o X V I I I , n o fi m - d e - s e m a n a a s e g u i r a o Renascimento. Eram tempos tristes, porque ainda não havia cores, ainda era tudo a preto e branco. E foi numa bonita ocasião de céu cinzento e de árvores cinzentas que o primeiro dia de Universidade chegou. Oh, o nervosismo! – “Será que vou conseguir acabar este curso de Medicina, aqui na UM?”, matutava, desconhecendo por completo que o curso ainda não tinha sido criado. Nem tão pouco a UM. E mesmo Medicina, era um conceito pouco aplicado quando, nas ruas, um texugo morto era tido como uma dádiva alimentar dos Deuses. E foi por uma viela repleta de idosos gastroenteríticos nos seus 30 e poucos anos que enveredei, avistando ao longe o grande edifício que nos próximos anos me serviria de guia profissional, espiritual e ideológico: o Celeiro do Sr. Aníbal. Lá havia de tudo: porcos, cavalos, sapiência, alface. O tamanho do Celeiro, esse, era directamente proporcional à minha vontade de aprender: era mais ou menos. Mas as maiores aprendizagens, realizei-as nos momentos mais inesperados, aquando da minha participação na Praxis. Os meus Doutores – todos eles de créditos firmados, distinguidos pela revista Nova Gente como o grupo de pessoas com o odor corporal mais vil, em duas edições não consecutivas! – conheceram-me com o pé esquerdo. No meu rabo. “É um pontapé de boas-vindas”, diziam eles, mas eu nunca fiquei 100% convencida. Pouco depois me diziam para confraternizar com os meus colegas: os porcos, os cavalos, a alface – alface essa que acabou por ter a melhor média do ano, tendo-lhe sido oferecida uma bolsa de investigação na Universidade de Harvard. Mas ela era uma alface de família, e por cá ficou. Na minha opinião, bem fez. Grandes laços foram criados entre nós. Nem todos éramos animais racionais, já que nesse capítulo um dos cavalos levava claro avanço (desde cedo lia autores como Shakespeare ou José Saramago, enquanto que o resto de nós discutia essencialmente a Casa dos Segredos). Mas aprendemos a pensar como um só, ou, na maior parte do tempo, a não pensar de todo, mas igualmente como uma unidade. Recordo com júbilo um episódio marcante, e que certamente demonstra esse bonito espírito que partilhávamos: num dia chuvoso, estava a chover; o Pívias – nome de praxe de um dos porcos – estava a atirar lama à Porca – o meu nome de

hajaSaúde!

praxe. Quando um pouco me entrou para os olhos, perdi momentaneamente a visão; em meu socorro, 20 colegas acudiam o mais rápido que conseguiam. Olhem só para eles a correr! Que vontade! Que camaradagem! Que… chacina. Passavam directamente por um campo de minas, em plena guerra do Vietnam. Nesse dia, milhares de famílias locais não precisaram de ir ao talho, já que receberam encomendas ao domicílio. Até alguns Ikea’s da zona foram atingidos por carne de cavalo – à qual souberam sabiamente dar uso, sempre sem a desrespeitar. E aí está, meus amigos: quando um de nós vai pelos ares, todos vamos! Menos eu, que continuava cega, e só soube da situação quando na minha boca caiu um pedaço de um Doutor meu. Penso eu, se a memória não me atraiçoa, que era da pá. Hoje, 783 anos depois, encontro-me já numa fase bem avançada da minha vida. Estou, pois, no 5º ano do Curso de Medicina. Há quem me garanta que o curso não é o mesmo, mas ouço relatos de pessoas que perderam quase tanto tempo das suas vidas neste curso quanto eu. Seria demasiada coincidência. Pois então, a Rebecca aconselha: se estão em Medicina na UM, preparem uma marmita, que isto ainda pode demorar. Mas vai valer a pena! E se não valer, uma coisa é garantida – os amigos são para sempre! Isto é, enquanto não explodirem num campo de minas.

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A Rebecca também quer que venhas para o haja! . Se queres participar envia um email para:

hajasaude.ecs@gmail.com

NEMUM - Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho Jornal hajaSaúde Tiragem: 100 Exemplares Edição: Sofia Leal, Emanuel Carvalho, Pedro Peixoto Colaboradores: Ana Sofia Milheiro; António MateusPinheiro; Francisca Bartilotti; Gonçalo Cunha; Joana Silva; João Dourado; Jorge Silva; Núria Mascaranhas; Pedro Peixoto; Sofia Ferreira; Sofia Leal; Sofia Santos; Tiago Rosa. Paginação & Grafismo: Sara Guimarães Impressão por: Copyscan

NEMUM - Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho Campus de Gualtar, 4710 - 057 BRAGA Email: hajasaude.ecs@gmail.com


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