Educação Médica
Edição nº 1 | Outubro 2016
HajaEntrevista! ao Professor Doutor Nuno Sousa HajaCiência! À descoberta da base neuronal do prazer HajaBreves! Escola de Medicina da Universidade do Minho (EM-UM)
2
Ficha Técnica Contactos Email: hajasaude.ecs@gmail.com | Site: http:// hajasaude.ecs.wixsite.com | Facebook: https:// www.facebook.com/hajasaude.ecs | Instagram: hajasaude.ecs Morada Campus de Gualtar, Universidade do Minho - Escola de Medicina da Universidade do Minho, 4710-057 Braga, Portugal Registo na Entidade Reguladora da Comunicação com o número 126906
13
“Criar a Escola Médica do Futuro”
15 17
Presidente Joana Silva Editor: Alumni Medicina Editora-chefe Ana Sofia Milheiro Co-editores Gonçalo Cunha e Joana Silva Redatores Ana Sofia Milheiro, António Mateus-Pinheiro, Catarina Pestana, Gonçalo Cunha, Inês Braga, Inês Braga, Joana Silva, João Barbosa Martins, João Lima, Jorge Machado, Jorge Silva, Kelly Pires, Mário Carneiro, Nuno Gonçalves, Núria Mascarenhas, Pedro Peixoto, Sofia Leal Santos e Tiago Rosa. Revisor linguístico Jéremy Fontes
HajaBraga! HajaEntrevista! a Professor Doutor Nuno Sousa
29
HajaNEMUM! “Corrida & Caminhada Vital contra o AVC” “Hospital dos Bonequinhos” “Jornadas de Educação Médica”
Impressão e Acabamento Graficamares Rua do Parque Industrial Monte Rabadas, 10 PROZELO – 4720-608 AMARES | Telefone: 253 992 735 – 253 995 297 | Fax: 253 995 298 | Email: geral@graficamares.pt Tiragem 3000 exemplares
HajaTecnologia!
30
HajaAlumni!
31
HajaCrónica! “O estado da Educação Médica em Portugal”
33 36
HajaExplicação! HajaSexualidade! “A evolução temporal no estudo e ensino médico da sexualidade”
Design gráfico Catarina Fontão
39
HajaDesporto! “Abdominal Premium”
45
Índice 3
HajaEditorial!
4 7
HajaMensagens! HajaICVS! “Estudo da UMinho redefine função de neurónios ligados à motivação” “Universidade do Minho contribui no combate contra a malária” “Malária mata uma criança a cada minuto na África”
10 12
“O Homem que viu o Infinito” “Rainha do deserto” “Mestres da Ilusão 2”
46
HajaBreves! “Colocações, Notas de Entrada e uma nova fase.”
HajaLiteratura! “A saga de um pensador – O Futuro da Humanidade de Augusto Cury”
48
HajaMúsica! “O Escuro invadiu Lisboa”
49
HajaPaciência! “Que se festeje um fogo com mais fogo, em vez de o combater”
HajaCiência! “À descoberta da base neuronal do prazer”
HajaCinema!
“A partir de hoje, o metro é dos C.A.T.S.”
51
Conselhos da Rebeca! “Educação médica precisa-se, há muito malcriado por aí!”
3
HajaEditorial! por Joana Silva [Presidente e co-editora do HajaSaúde!]
Escrever aquele que é o primeiro editorial da r e v i s t a HajaSaúde! após a sua renovação é algo que me deixa extremamente emocionada e saudosa, pois é o recordar de uma caminhada e de um longo percurso de evolução deste projeto pelo qual nutro um grande carinho. Desde a sua criação, em 2001, o HajaSaúde! tem vindo a sofrer inúmeras alterações, superando os mais variados percalços, visando sempre o seu máximo crescimento e desenvolvimento. Hoje, 15 anos após a sua criação, é possível afirmar que os esforços das diferentes gerações que foram constituindo a equipa deste jornal favoreceram o seu progresso. Assim, este tem-se tornado, cada vez mais, um órgão mediático de extrema relevância neste universo que engloba e integra a Escola de Medicina (EM) da Universidade do Minho (UM). Neste âmbito, o HajaSaúde!, sofreu recentemente, a conversão de jornal para revista e a renovação do seu formato e imagem, colimando um alcance maior não só dos estudantes de medicina e das mais diversas áreas relevantes, como também de todas as pessoas do universo da EM, como professores e antigos alunos, com a manutenção das suas rubricas habituais, obliteração do HajaGula! e HajaConto! e criação de novos espaços e rubricas.
Assim, almejando e visando uma maior representatividade das parcerias com a EM, o Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS), a ALUMNI Medicina e o Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho (NEMUM), foram criados novos espaços na revista como as mensagens iniciais das diferentes componentes destas parcerias, o HajaICVS!, o HajaNEMUM! e o HajaALUMNI Medicina!. Estes novos espaços pretendem, respetivamente, “dar voz” aos nossos parceiros e a divulgação da ciência realizada no ICVS e de atividades e eventos por parte do NEMUM e da ALUMNI Medicina. Para primeira edição, o tema escolhido foi Educação Médica, pois é incontestável a sua importância quer para nós, estudantes de medicina, quer para todo o universo da ES, assim como a relevância de sensibilizar o maior número de estudantes para esta temática, de modo a formar médicos informados e instruídos ao longo do seu percurso assim como médicos sensibilizados para a formação das gerações futuras. Finalmente, é com grande orgulho que toda a equipa abraça este projeto e se empenha para que a revista HajaSaúde! continue a desenvolver de forma exponencial e se torne um órgão de publicação mediática de referência a nível das escolas médicas a nível nacional.
4
HajaMensagens! Mensagem da Escola de Medicina (EM) por Cecília Leão [Presidente da EM]
No dia 10 de outubro comemoramos o Dia da nossa Escola. A história dos dezasseis anos desta Escola é feita de Momentos Vividos & Caminhos Traçados com que todos temos servido este grandioso projeto - Edifício Científico, Educativo e Humano. Somos uma Escola regida pelo princípio de que “Não há escola médica sem investigação e não há investigação biomédica sem formação”. A Escola assume-se, assim, como uma comunidade científico-pedagógica cuja principal missão é a de criar um espaço onde se aprende e gera conhecimento para melhorar a saúde da comunidade. O HajaSaúde! faz parte integrante desta caminhada e tem sido um privilégio acompanhar o seu percurso. Começando por ser um boletim com a simplicidade de uma folha A4 dobrada em quatro, tem vindo a crescer e tem-se assumido como veículo imprescindível de transmissão de Cultura e Saber, mantendo-se fiel aos princípios fundadores desta Escola e aceitando o desafio permanente de inovar para renovar na procura permanente de melhorar. Fruto do enorme
profissionalismo, entusiasmo e dedicação que o NEMUM tem dedicado ao HajaSaúde!, assistimos agora ao seu lançamento num novo formato, com renovação e alargamento da parceria com a Escola e o seu Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde. É assim com enorme satisfação e orgulho que a Escola se associa ao lançamento do HajaSaúde! neste seu novo formato que passa a contemplar um espaço de divulgação científica e pedagógica mais abrangente, partilhando da visão holística de uma escola médica que nos foi legada pelo Professor Pinto Machado – Mentor e Fundador da Escola de Ciências da Saúde e do seu Curso de Medicina. Continuemos na nossa missão de contribuir para que se avance no caminho certo, com o andar certo, rumo à meta certa na defesa intransigente da saúde das pessoas, abarcando o ser humano na sua totalidade indissociável bio-psicosocial, cultural e espiritual. Parabéns ao HajaSaúde!
Mensagem do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) por Jorge Pedrosa [Diretor do ICVS]
Na missão de uma escola médica que se guia por padrões internacionais de qualidade, para além da transmissão de conhecimento, é essencial a geração de novo conhecimento assim como contribuir para a sua aplicação em
iniciativas inovadoras de ciência e tecnologia. Nesse sentido, no âmbito da nossa Escola de Saúde, foi instituída uma unidade de investigação científica em Ciências da Saúde – o ICVS, Instituto de Investigação em Ciências da
HajaMensagens! // da Saúde – o ICVS, Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde. Desde o início das suas atividades, o ICVS sempre beneficiou de acolher nas suas equipas estudantes de medicina, tendo simultaneamente contribuído para o crescimento científico dos graduados da ES com um perfil de médico-cientista.
É, assim, com grande entusiasmo que o ICVS se associa ao novo formato do HajaSaúde!, que agora contempla um espaço específico para a divulgação das atividades desenvolvidas e da ciência produzida no ICVS – temos grande, e pensamos fundamentada, expectativa que esta nova iniciativa do HajaSaúde! contribua para aprofundar a ligação entre os estudantes de medicina e o ICVS – sejam bem-vindos ao ICVS!
Mensagem do Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho (NEMUM) por João Dourado [Presidente do NEMUM]
São vários os assuntos emergentes no que toca à Educação Médica. Muitos estão atualmente em voga, mas não são de hoje: a questão do numerus clausus, dos rácios tutor-estudante ou mesmo das idoneidades em Medicina.
este tema, naquela que é a primeira edição na sua nova estrutura. Além disso, sendo a Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho uma instituição de excelência e referência no que diz respeito a esta temática, só faria sentido assim ser.
Assim, é com muito agrado que vejo a revista HajaSaúde! a debruçar-se sobre
Mensagem da Alumni Medicina por Vítor Hugo Pereira [Presidente da Alumni Medicina]
Nesta edição dedicada à educação médica do renovado HajaSaúde! tenho o prazer de partilhar convosco o trabalho desenvolvido pela Alumni Medicina na formação médica contínua. Como é sabido, a formação do médico não acaba com o término do ciclo de estudos universitário nem com o término da especialidade. Pelo contrário, a atualização do conhecimento teórico e de aptidões clínicas diversas são requisitos essenciais para a manutenção da competência dos profissionais de saúde. Por esse motivo, é reconhecido que a
educação médica contínua é um pilar da qualidade dos cuidados prestados ao doente ao longo do tempo. Em alguns países a frequência de formações reconhecidas é um requisito obrigatório para a recertificação médica. Em Portugal esse processo não é ainda monitorizado e como tal, depende apenas do sentido de responsabilidade profissional de cada um. Reconhecendo a importância da educação médica contínua na formação e no desenvolvimento profissional, a Alumni Medicina oferece um programa de cursos e workshops em diversas áreas do saber,
5
6
// HajaMensagens!
dirigidas a diferentes especialidades e a diferentes profissionais de saúde como médicos, enfermeiros ou farmacêuticos. Focando-se principalmente no treino de competências e gestos clínicos o programa formativo da Alumni Medicina é um complemento ao programa de pósgraduação da Escola de Medicina da Universidade do Minho, enriquecendo a sua oferta e oportunidades educativas. Antecipando que no futuro possamos evoluir para um processo de recertificação médica em Portugal, assumimos desde já o compromisso de aumentar o número e a qualidade das nossas soluções formativas. Estes eventos são também uma oportunidade de receber na Escola de Medicina os antigos alunos para uma partilha de experiências, de conhecimento e de memórias que valorizam estes momentos. Visitem o nosso sitio na internet: www.alumnimedicina.com, onde
podem consultar a agenda e os próximos eventos. Participem! Antes de terminar gostaria de, em nome da Alumni Medicina, dar os parabéns aos finalistas que agora se juntam ao grupo dos antigos alunos e de desejar as boasvindas aos novos alunos do curso de Medicina da nossa Escola. Relembro a todos que a Alumni dispõe de um fundo de emergência social que tem como objectivo ajudar os alunos com graves dificuldades financeiras que possam pôr em causa a conclusão do curso apesar do sucesso académico do aluno. Não hesitem em contactar-nos para obter mais informações. Os nossos parabéns e votos de maior sucesso à equipa editorial do HajaSaúde! pelo novo formato e conteúdos renovados. Bem hajam e Haja Saúde!
Estatuto Editorial O HS! HajaSaúde! assume-se como uma secção autónoma do Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho que, através da atividade de publicação mediática, visa fomentar a divulgação de opiniões, ideias e conhecimentos que se relacionem com os estudantes da Escola de Medicina da Universidade do Minho (EM-UM) A revista HajaSaúde! é o resultado da colaboração estreita entre os seus parceiros, a ALUMNI Medicina, o seu mentor legal, o Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho (NEMUM) e a Escola de Medicina da Universidade do Minho (EM-UM). A revista HajaSaúde! almeja ser um elo de ligação entre o que melhor se faz nestas três instituições e a comunidade envolvente. Visamos, principalmente, o alcance dos alunos, antigos alunos, investigadores, membros da comunidade EM-UM e profissionais hospitalares, no âmbito da atuação regional da EM-UM. A revista HajaSaúde! pretende promover a divulgação de acontecimentos de grande importância decorridos na Escola de Medicina da Universidade do Minho (EM-
UM), bem como fora dela. Neste ponto incluem-se assuntos de interesse público e assuntos de interesse por parte dos estudantes deste estabelecimento de ensino em particular. A revista HajaSaúde! visa a divulgação de nova ciência que se desenvolve, tanto a nível mundial, como nos centros de investigação associados à EM-UM; A revista HajaSaúde! pauta-se pelo principio basilar do fundador da EM-UM, o Professor Doutor Pinto Machado, em que “nada do que é humano é estranho ao médico”. Dessa forma não nos excluímos de falar de arte, desporto, política e todas as temáticas pelas quais um cidadão consciente, preocupado e com vontade de melhorar, se possa interessar. Assim, a revista HajaSaúde! será palco da exposição livre e consciente de ideias sobre determinados assuntos, estando estes, ou não, relacionados com a medicina, assegurando o respeito pelos princípios deontológicos e pela ética profissional dos seus jornalistas.
7
HajaICVS! Esta nova rubrica, que conta com a participação de alguém pertencente ao Instituto de Investigação em Ciências de Vida e da Saúde (ICVS) destina-se à partilha de conhecimento e da ciência realizada neste instituto.
Universidade do Minho contribui no combate contra a malária Estudo, da autoria de Isabel Veiga, do ICVSUMinho, foi publicado na revista Nature Communications Uma investigação das universidades do Minho e de Columbia (EUA) provou que as mutações do gene pfmdr1 estão a comprometer a eficácia dos tratamentos contra a malária, incluindo o de um fármaco que originou o Nobel da Medicina 2015. Os resultados acabam de ser publicados na prestigiada revista Nature Communications. A malária continua a ser uma das doenças mais perigosas, com metade da população mundial em risco. No ano passado foram registados cerca de 214 milhões de casos. “Um dos principais fatores responsáveis pela falta de controlo desta doença é o aparecimento de resistência aos fármacos”, afirma Isabel Veiga, coordenadora do estudo e investigadora do ICVS - Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho. O trabalho salientou a importância de mutações no pfmdr1 na resposta do parasita da malária (Plasmodium falciparum) a diversos antimaláricos usados clinicamente. Estas alterações genéticas “colocam em causa” a eficiência do tratamento combinado à base de artemisinina, considerado o mais eficiente neste âmbito e cuja descoberta valeu o Prémio Nobel à chinesa Youyou Tu.
Foram também avaliados milhares de genomas do parasita para determinar a prevalência e as associações regionais destas mutações. Os resultados da investigação surgem, assim, como “uma peça essencial do puzzle” para o melhoramento dos sistemas de vigilância, o desenvolvimento de novos mecanismos de resistência e de ação biológica dos fármacos e a adoção de terapias otimizadas, tendo em conta a prevalência das mutações nas diversas regiões endémicas, em particular no continente africano, onde a malária é prevalente. “Num mundo globalizado de rápido fluxo de pessoas e bens, é normal existir maior facilidade para transmissão de doenças infectocontagiosas. A deteção da diversidade genética do parasita da malária e a sua implicação na eficiência dos tratamentos torna-se crucial para o controlo e a contenção da doença, evitando epidemias futuras. Em Portugal, esta área é importante em termos científicos e de saúde pública, principalmente devido às ligações crescentes com os PALOP. Estamos, por exemplo, a fortalecer laços científicos com Angola no sentido de implementar e desenvolver estudos futuros”, refere a cientista.
8
// HajaICVS!
Estudo da UMinho redefine função de neurónios ligados à motivação Uma equipa da Universidade do Minho provou pela primeira vez que a classe de neurónios D2 pode estar ligada aos estímulos positivos do prazer e da motivação. O resultado, publicado na reputada revista Nature Communications, ajuda a perceber melhor o sistema de recompensa, essencial na sobrevivência das espécies, e que falha em doenças como a depressão, o défice de atenção e a adição de substâncias. O estudo foi coordenado por Ana João Rodrigues e Nuno Sousa, no ICVS – Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Minho, em Braga. A perceção de prazer é importante para a sobrevivência, pois permite esforçarmonos pelo que necessitamos e desejamos. Comer o prato preferido, ouvir certa música, fazer sexo são situações que ativam o circuito cerebral chamado sistema de recompensa. Neste circuito destacam-se os neurónios D1 e D2, situados no núcleo accumbens, no interior do cérebro. A comunidade científica associava os D1 ao processamento de estímulos positivos/prazer e os D2 a um papel relevante nos estímulos negativos. Mas a equipa portuguesa provou agora que ambos podem ter funções positivas no comportamento. Os testes em laboratório envolveram 2 espécies de roedores. Os animais tinham que carregar determinadas vezes numa alavanca para obter um doce (recompensa). Ao longo dos dias tinham que carregar cada vez mais para receberem o mesmo. Provou-se que quanto mais motivado o animal estava na tarefa, mais neurónios D1 e D2 ativava,
carregando até 150 vezes por doce. Numa segunda fase, ativaram ou inibiram seletivamente estes neurónios durante a tarefa usando um laser (técnica de optogenética). Observou-se que a motivação do animal aumentava drasticamente ao ativar-se tanto os D1 como os D2, levando-o a carregar mais vezes na alavanca. Por outro lado, a inibição dos neurónios D2 diminuía a sua motivação. “Os resultados foram surpreendentes, pois mostraram que ambas as populações neuronais têm um papel prómotivação, contrariamente ao que a tinha vindo a ser proposto”, explicam Ana João Rodrigues e Nuno Sousa. Este estudo “é importante para compreender melhor como funciona o sistema de recompensa, que está disfuncional em patologias como a depressão e a adição”, e pode abrir caminho para terapias direcionadas na eventual ativação daqueles neurónios. A equipa de trabalho do ICVS incluiu ainda Carina Cunha, Bárbara Coimbra, Ana David Pereira, Sónia Borges, Luísa Pinto e Patrício Costa.
Artigo em anexo em www.nature.com/ncomms/2016/160623/ ncomms11829/full/ncomms11829.html Contactos Profª Ana João Rodrigues – 915301555, 253604929, ajrodrigues@ecsaude.uminho.pt
HajaICVS! //
Malária mata uma criança a cada minuto na África
Imagem 1 | Professora Isabel Veiga
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, foram reportados em 2015 cerca de 214 milhões de casos de malária, tendo falecido 438 mil pessoas - nove em cada dez mortes ocorrem na África subsaariana. Embora a taxa de mortalidade tenha diminuído em quase 25% desde 2000, a doença continua a matar uma criança por minuto na África. A malária é transmitida pela picada dos mosquitos Anopheles, contaminados pelo parasita Plasmodium. Os principais sintomas são febre e dor de cabeça, que, em alguns casos, podem progredir para coma ou morte.
Médicas no Instituto Karolinska de Estocolmo, na Suécia. Em 2012, trabalhou na Universidade de Columbia, com o objetivo de perceber, através de técnicas de transfeção, o impacto de mutações no parasita da malária na resposta aos fármacos e, assim, validar novos marcadores moleculares de resistência importantes para a deteção precoce da doença. É desde 2012 investigadora do ICVS-UMinho. Já publicou mais de duas dezenas de artigos em revistas internacionais de referência e foi premiada em 2014 pela Federation of European Microbiological Societies.
Imagem 2 | Estrutura Tridimensional
Isabel Veiga, vimaranense de 34 anos, realizou a licenciatura em Engenharia Biotecnológica no Instituto Politécnico de Bragança e o doutoramento em Ciências
Artigo integral está disponível em http://www.nature.com/ncomms/2016/160518/ ncomms11553/full/ncomms11553.html Contactos Prof. Isabel Veiga - 917842099, 253604883, mariaveiga@ecsaude.uminho.pt
9
10
HajaCiência! Esta rubrica designada de HajaCiência!, ao encargo de um colaborador do HajaSaúde!, destina-se à divulgação de ciência feita a nível mundial ou nacional, com o intuito de sensibilizar os leitores para esta área tão importante e tão relevante para a Medicina.
À descoberta da base neuronal do prazer por António Mateus-Pinheiro [6º ano]
Sempre que executamos ações que satisfazem uma necessidade ou desejo por nós expresso, sentimos prazer. Assim, a perceção do prazer mais do que uma simples sensação prazerosa corresponde a um importante mecanismo de sobrevivência pois permite ao ser humano discernir e procurar o que lhe agrada com o intuito último de suprir as suas necessidades. No nosso cérebro, atividades como comer um bom prato de comida, ouvir música de que se gosta, a atividade sexual ou ver a seleção nacional sagrar-se campeã da Europa ativam um complexo circuito chamado sistema de recompensa. Este circuito integra uma área de especial importância designada como o nucleus accumbens. No nucleus accumbens existem dois tipos de neurónios principais designados por neurónios D1 e os D2, que se pensa terem funções contrárias no comportamento. Tradicionalmente, tem-se que os neurónios D1 estão associados ao processamento de estímulos positivos/ prazer, enquanto que os neurónios D2 têm um papel preponderante na resposta a estímulos negativos. Uma equipa de investigadores do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho, sob a coordenação de Ana João
Rodrigues e Nuno Sousa, quiseram perceber a validade desta visão mais clássica de que o prazer é codificado no cérebro por estas duas famílias de neurónios com funções opostas: Esta visão parecia-nos demasiado simplista por isso fomos reavaliar a função destes neurónios no comportamento. A premissa do teste comportamental que usamos é a de que quanto mais motivados estamos, mais trabalhamos para receber algo de que gostamos. Usamos ratos em restrição calórica e colocamo-los numa câmara onde estes tinham que carregar um determinado número de vezes numa alavanca para receber uma comida açucarada que eles apreciam bastante. Ao longo dos dias, fomos aumentando o número de vezes que seria necessário o animal carregar na alavanca para receber essa mesma comida. Na fase final deste teste medimos o “breakpoint”, isto é, registamos o número máximo de vezes que o animal carrega antes de desistir. Esta é uma medida direta da motivação do animal para receber aquela recompensa (animais motivados chegam a carregar até 150 vezes para receber a tão apreciada recompensa de comida açucarada), explica a investigadora Ana João Rodrigues.
HajaCiência! // Curiosamente, tanto os neurónios D1 como os D2 do nucleus accumbens eram ativados durante esta tarefa e, quanto maior a motivação do animal, mais neurónios de ambos os tipos estavam ativos. Estes resultados levaram os investigadores a usar uma abordagem por optogenética para ativar os neurónios D1 ou os D2. Esta técnica, extremamente inovadora, tem contribuído recentemente para importantes descobertas científicas, permite ativar (ou inibir) neurónios usando um pulso de luz específica. Observamos que ativando tanto os neurónios D1 como os D2 durante o teste, aumentava drasticamente a motivação dos animais, fazendo com que eles carregassem mais vezes na alavanca para conseguir a recompensa. Como os resultados dos neurónios D2 foram inesperados, replicamos as experiências em murganhos e também mostrámos que ao invés da ativação, a
a.
inibição dos neurónios D2 diminuía a motivação dos animais., referiu Carina Cunha, primeira autora do estudo. Estes resultados revelaram-se surpreendentes ao mostrarem que ao contrário do esperado, ambas as populações neuronais tinham um papel de pro-motivação, o que salienta que algumas visões mais clássicas sobre o funcionamento do sistema recompensa necessitam de ser revisitadas. Este tipo de estudos é fundamental para melhor perceber como funciona o sistema de recompensa, que se sabe estar disfuncional em patologias como a depressão e a adição. O trabalho, executado na íntegra no ICVS, Universidade do Minho, foi recentemente publicado na prestigiada revista internacional Nature Communications.
b.
Imagem 3 | Gráficos explicativos da experiência.
Referência Soares-Cunha C, Coimbra B, David-Pereira A, Borges S, Pinto L, Costa P, Sousa N, Rodrigues AJ. “Activation of D2 dopamine receptor-expressing neurons in the nucleus accumbens increases motivation.” Nat Commun. 2016 http://www.nature.com/ncomms/2016/160623/ncomms11829/full/ ncomms11829.html
11
12
HajaBreves! Esta pequena rubrica designada de HajaBreves! tem como objetivo a divulgação de notícias relacionadas com Medicina ou com ensino médico com relevância nos últimos meses.
Escola de Medicina da Universidade do Minho e Colocações, Notas de Entrada e uma nova fase por Catarina Pestana [5º ano]
Foi no passado dia 10 de outubro, dia de aniversário desta instituição, que, após 17 anos do seu nascimento, a Escola de Ciências da Saúde (ECS) deixou de se designar Escola de Ciências da Saúde para se intitular Escola de Medicina da Universidade do Minho (EMUM).
Tendo em conta os dados divulgados pela Direção-Geral do Ensino Superior (DGES), os cursos de Engenharia Física Tecnológica e de Engenharia Aeroespacial, ambos no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, com média de 18,53 valores, e o curso de Segundo os mesmos dados, Engenharia e Gestão Industrial, na Universidade do na 1.ª fase do concurso de Porto, com nota de entrada de 18,48 valores, acesso ao ensino superior deste foram os três cursos com nota de entrada mais ano, existem 8 cursos com média elevada na 1.ª fase. Após ter tido a nota de de entrada superior a 18 valores. É entrada mais alta em 2015, o curso de também de referir que existem 38 Medicina da Universidade do Porto cursos com notas de entrada iguais ou conquistou o quarto lugar com 18,4 superiores a 9,5 valores e inferiores a 10 valores. valores.A 1.ª fase do concurso de acesso colocou 42.958 novos alunos nas universidades e politécnicos do nosso país, o que corresponde a um aumento de cerca de 2,1% em relação a 2015.A próxima fase do concurso decorre de 12 a 23 de setembro sendo os resultados divulgados a 29 de setembro.
13
HajaTecnologia! Com a tecnologia a ser um conceito revolucionário do século XXI, a rubrica HajaTecnologia! surge no âmbito de mostrar que, independentemente do tema escolhido dentro da grande gama coberta pela revista HajaSaúde!, existe sempre uma aplicação da tecnologia no mesmo. Visamos dar a mostrar as tecnologias mais recentes e inovadoras, algumas ainda no âmbito experimental, assim como discutir a sua aplicabilidade e relevância para melhorar quer o campo da Saúde, quer a sociedade no seu global.
Criar a Escola Médica do futuro por Jorge Silva [1ºAno do MD/PhD]
A Associação Americana de Medicina (AMA) conduz, desde 2013, o Consórcio para Aceleração da Mudança na Educação Médica, que conta atualmente com 32 escolas médicas dos Estados Unidos da América. Este consórcio objetiva que estas escolas trabalhem de uma forma sinergística para transformar a educação médica em áreas chave. Dos 6 objetivos englobantes estabelecidos, destaca-se um que, simplesmente, se define como “making technology work for learning”, ou seja, fazer com que o emprego de meios tecnológicos de aprendizagem seja realmente eficaz na mesma. Há já muitos anos que a implantação de meios tecnológicos na área da Educação tem sido tentada, não só na área médica, mas em todas as áreas do conhecimento. Apesar do enorme sucesso associado à facilitação do acesso à informação, existe ainda uma preocupação em adaptar os meios tecnológicos de modo a que não seja necessária uma aprendizagem morosa do seu uso, levando assim à obstrução do processo educativo em si. Em suma, que a tecnologia melhore, evidentemente, a facilidade na aquisição de conhecimentos. De entre as principais ideias propostas pela AMA, salienta-se o uso de processos
clínicos eletrónicos de pacientes para criar um laboratório de aprendizagem, procedendo-se da seguinte forma: após a recolha de um registo médico eletrónico de um paciente real, este passa por um processo de “desidentificação”, isto é, remover todos os dados pessoais e passíveis de identificar o paciente, e é posteriormente incluído num banco de processos relativos a determinado tema ou patologia. A disponibilidade destes processos facilita a aproximação da aprendizagem à realidade, com a utilização de casos clínicos verdadeiros, e com informação completa, recolhida e escrita no contexto clínico real, assim como permite a marcada expansão do número de casos práticos disponíveis para o treino dos alunos. Esta estratégia está atualmente a ser implementada e utilizada na Escola de Medicina da Universidade do Indiana. Outro dos grandes tópicos cobertos pela AMA relaciona-se com a obtenção, análise e utilização de Big Data, um conceito definido pela mesma como um conjunto agregado de informações importantes para a educação médica que provém de diferentes escolas, dados d e m o g r á fi c o s e d a d o s d e s a ú d e populacional. Este conceito tem sido alvo de estudo pela Universidade de Nova
14
// HajaTecnologia!
Imagem 4 | Imagem da autoria da AMA, compreendendo parâmetros importantes para a Educação Médica.
Iorque (Ellaway, 2014), que propõe a sua p o s sív e l u ti l i za ç ã o , a sso ci a d a à s possibilidades que as tecnologias nos fornecem, das seguintes formas: • Personalizar a avaliação da competência em determinado procedimento. Por exemplo, utilizar tecnologia de simulação laboratorial de gestos clínicos, que permita a comparação com uma performance standard realizada por profissionais que recorrem à técnica no seu dia-a-dia clínico; • Captura de dados longitudinais de uma mesma instituição, com subsequente paralelização com outras instituições, de modo a avaliar determinantes de resultados na avaliação médica; • Combinar dados de repositórios de informação educativa e clínica, nomeadamente correlacionar resultados clínicos com resultados académicos correspondentes à instituição de formação.
Apesar de alguns destes pontos não estarem ainda perto de ser atingidos, outros já o são, e é importante estabelecer desde cedo os objetivos máximos de modo a modular o rumo da evolução tecnológica aplicada à educação. É o recurso a softwares complexos de análise de dados que permitem a integração e simplificação de todos estes dados, com a meta de melhorar a qualidade dos cuidados médicos. Apesar de haver ainda outras iniciativas para a aplicação de meios tecnológicos à educação médica, nomeadamente em campos como a simulação de pacientes e patologias, ou instrumentos de avaliação automáticos, este ramo do projeto da AMA serve como um excelente exemplo dos grandes obstáculos que este campo enfrenta, mas também dos grandes contributos que poderão ser obtidos.
15
HajaBraga! De forma a permitir aos leitores uma intrusão na estrutura desta revista e, de forma a contextualizá-los, esta rubrica destina-se a tradições ou factos importantes acerca da cidade de Braga e/ou região minhota, sendo, muitas vezes, envolta de uma forte componente pessoal. De notar, ainda, que, em edições futuras, este parágrafo será omitido.
por Joana Silva [5º ano]
Imagem 5 | Painel da Universidade do Minho compreendendo os logótipos das diferentes escolas.
Na minha condição de “projeto de médica”, falar de Educação Médica leva, inevitavelmente, a falar de algo que me é intrínseco na minha caminhada enquanto estudante de medicina; falar da Escola de Medicina da Universidade do Minho (EMUM), a escola que me acolheu. No entanto, como para falar da EM-UM há quem fale melhor e alturas mais pertinentes para tal, resolvi falar um pouco da história daquela “casa” que me acolheu, a casa que antecedeu e albergou a EM-UM, a Universidade do Minho. A Universidade do Minho, atualmente fundação pública com direito a regime privado, é uma das mais prestigiadas instituições nacionais do ensino superior. Fundada em 1973 mas com começo das suas atividades no ano letivo 1975/1976, sitiada no atual “Bar Académico”. Organiza-se em três grandes polos - o campus de Gualtar e os campi de Azurém e de Couros, sitiados em Braga, cidade dos Arcebispos, e Guimarães, “cidade berço”. Dentro destes campi, a
Universidade do Minho organiza-se em “Unidades Orgânicas de Ensino e Investigação”. Sendo que as Escolas são as de Arquitetura, Ciências, Ciências da Saúde, Direito, Economia e Gestão, Engenharia, Psicologia e Enfermagem e os Institutos de Ciências Sociais, Educação e Letras e Ciências Humanas. A sua missão consiste em gerar, difundir e aplicar conhecimento, assente na liberdade de pensamento e na pluralidade dos exercícios críticos, promovendo a educação superior e contribuindo para a construção de um modelo de sociedade baseado em princípios humanistas, que tenha o saber, a criatividade e a inovação como fatores de crescimento, desenvolvimento sustentável, bem-estar e solidariedade. A Universidade do Minho possui, ainda, elementos gráficos, com símbolos que a representam, dos quais se destacam o brasão, o Hino da Universidade do Minho e a nova identidade gráfica assentes em fortes pilares simbólicos.
16
// HajaBraga!
Imagem 6 | Brasão da Universidade do Minho.
O brasão da Universidade do Minho foi concebido em 1974, apresentando, em timbre, uma serpente alada – símbolo da sabedoria -, na parte superior do escudo é observável um livro aberto de alfa e ómega – representação do conhecimento de “A a Z” – e, na parte inferior, jacintos em campo de prata – símbolo da humildade científica, alusão simbólica ao trabalho coletivo. Em 1995, à luz da renovação da identidade da Academia Minhota, surgiu a ideia de criar um hino que representasse a Universidade do Minho e sua identidade. Neste âmbito, o poeta José Manuel Mendes e o compositor Fernando C. Lapa ficaram encarregues de criar o “Hino da Academia” que, no mesmo ano, foi gravado pelo Coro Académico da Universidade do Minho (CAUM – fundado em 1989), aprovado em janeiro de 2004 como hino oficial da Universidade do Minho. Relativamente à nova identidade gráfica da Universidade do Minho, esta surgiu através de Barrilaro Ruas e da diferença na sua interpretação entre conservadorismo e tradicionalismo, defendendo que, conservador é aquele que se submete obsessivamente a um evento do passado e o tradicionalista é
aquele que pensa o futuro com base no passado. Negando a relevância de escolher um brasão típico de cavalaria (encimado por um elmo) para identificar uma universidade e destacando a complexidade de motivos, cores e grafismos que dificultam a leitura e impossibilitam a sua reprodução em escala reduzida, Barrilaro Ruas defende a criação de uma nova identidade gráfica, mais simples, para a Universidade do Minho. De todos os elementos iconográficos do brasão, o que revelou alguma singularidade e capacidade para identificar a Universidade no universo mais amplo das escolas portuguesas, foi o “campo de jacintos”. Assim, da interpretação da flor do jacinto, com estrutura hexaédrica e inscrita em hexágono, surgiu a estrela de seis pontas que representa a Universidade do Minho e da qual surgiram os diferentes símbolos das diferentes Escolas e Institutos da Universidade do Minho. Além disso, também pode ser interpretada com um ponto de convergência da estrutura tridimensional do cubo, ou seja, um núcleo que engloba um universo maior. Assim, uma mensagem especial a todos os que chegam a esta nossa muy nobre Universidade do Minho: sejam bemvindos a esta nossa casa que tem o chão aberto a quem chegar e aproveitem esta caminhada pois estes anos são viagem e a vossa começa hoje (excertos de “Hino da Universidade do Minho”).
Imagem 7 | Nova identidade gráfica da Universidade do Minho.
“A EM-UM (…) é realmente a imagem metafórica de uma pedra no charco que fez com que as águas se agitassem num sentido positivo.”
Professor Doutor
Nuno Sousa Diretor do curso de medicina da Universidade do Minho
18
HajaEntrevista! Rubrica de excelência desta revista, a HajaEntrevista! é um espaço que se destina à exposição textual de uma entrevista oral a uma entidade de relevância tendo em consideração o tema escolhido para cada edição. De modo a abordar o tema da Educação Médica (EM) de uma forma completa, não poderíamos deixar de conhecer a opinião do responsável máximo em assuntos relacionados com a EM na Escola Médica da Universidade do Minho (EM-UM). Apresentamos uma entrevista com o Professor Doutor Nuno Sousa, diretor do curso de medicina da Universidade do Minho (UM), em que abordamos os tópicos chave neste ponto de viragem para a formação médica. por Nuno Gonçalves [5º ano], Sofia Leal Santos [1º ano de MD/PhD] e Tiago Rosa [5º ano]
H
ajaSaúde! (HS!): Que evolução notou no ensino da Medicina desde que foi aluno?
Nuno Sousa (NS): É uma evolução brutal. V a m o s c á v e r, a primeira nuance é que há uma evolução gigantesca nos conhecimentos médicos, com a geração de novos conhecimentos, de um conjunto de novas ferramentas que alteram, de uma forma muito marcada, os algoritmos de decisão clínica. E isso teve uma tradução imediata na forma como nós aprendemos medicina ao nível dos conteúdos e daquilo que nós temos de saber para praticar medicina. Mas isso foi também acompanhado de uma e vo l u ç ã o m e t o d o l ó g i c a . A m i n h a experiência prévia do ponto de vista formativo foi uma formação dita “clássica”, que eu insisto que não tem nada de mal, mas para alunos com o meu perfil e com o perfil de muitos colegas era manifestamente insuficiente porque era extraordinariamente passivo. O que eu sinto, hoje em dia, é que esse acompanhamento dos conhecimentos na área da medicina, a evolução das metodologias pedagógicas em todas as áreas do saber foi mesclado e, portanto, traduziu-se numa forma de aprender
medicina, sobretudo na parte da prégraduação que é muitíssimo mais excitante, muitíssimo mais ativa, onde os alunos têm um papel mais interventivo e onde, de facto, aprendem mais coisas. E isso traduziu-se numa mudança de pensamento: antes, nós estávamos centrados nos conteúdos, portanto era um ensino muito livresco, classicamente universitário da segunda metade do século XX, mudou-se para um ensino centrado nos alunos, onde o aluno passou a ter um papel muito ativo na sua aprendizagem, na definição das suas competências, competências que não são só cognitivas agora, são também de gestos técnicos, no caso da medicina de gestos clínicos, mas também de um conjunto de competências que vão para além das competências hardcore, que envolvem competências de comunicação, competências que nos permitem tornar médicos que entendem bem as outras pessoas que estão doentes. E finalmente, muito mais recentemente, tem havido um shift, que eu também acho que é muitíssimo interessante, que é passar a centrar essa educação no doente e, quando se passa a centrar essa educação no doente, nós temos que introduzir um outro conjunto de competências que são muito importantes para o entendimento dos sistemas de saúde e dos doentes e que,
HajaEntrevista! // equiparam muito melhor para o futuro da prática da medicina.
demonstrou que se pode ter uma escola médica de enorme qualidade fora daquilo que, na época, enfim, na HS!: Como é que considera que se segunda metade do século passado, era encontra a formação médica em tido como as três cidades do Portugal neste momento? conhecimento em Portugal: Porto, Coimbra e Lisboa. E isso deslocalizou NS: Eu, com muita sinceridade, acho completamente. Como tu sabes, hoje que Portugal é dos locais onde houve em dia, quando se fala em ensino mais mudanças na educação médica, superior e, muito particularmente, podem dizer que uma parte dessas quando se fala em medicina, fala-se mudanças resultou do facto de que sempre em Braga, Porto, (às vezes até havia um handicap grande já se esquecem de) Coimbra e Lisboa. E relativamente a outros países do centro isso, resulta do facto de nós termos e norte da Europa e da América do feito este percurso - um percurso não é Norte, mas a verdade é que as coisas só um percurso pedagógico, mas começaram a acontecer. Aqui obviamente, foi primeiro um também acho, e sem percurso pedagógico, mas nenhuma falsa modéstia, também agora é o que as novas escolas reconhecimento da “… é o m é d i c a s , qualidade da reconhecimento da nomeadamente a investigação que EM-UM e da nós fazemos quer qualidade da U n i ve r s i d a d e d a ao nível da investigação que nós B e i r a I n t e r i o r, investigação mais fazemos quer ao nível da fundamental, quer d e s e m p e n h a ra m um papel ao nível da investigação mais importante. A EMinvestigação fundamental, quer ao UM, com os clinica, e é também r e s u l t a d o s nível da investigação o polo de pedagógicos que atratividade que nós clinica…” obteve, é realmente a c o n s e g u i m o s t ra z e r imagem metafórica de para Braga e que faz com uma pedra no charco que fez que nós tenhamos aqui um com que as águas se agitassem dos clusters mais dinâmicos do num sentido positivo. Não estou a dizer país na área da saúde. que tudo o que fazemos aqui está bem e tudo o que os outros faziam está mal. A segunda coisa foi demonstrar que isso Não é nada disso! O que eu acho é que é possível fazer usando novos modelos alertou o país para novas metodologias, de parcerias estratégicas com as que têm seguramente muitas vantagens instituições prestadoras de cuidados de e desvantagens, e que despertaram a saúde. Foi um modelo que foi necessidade de haver também um muitíssimo criticado inicialmente, mas conjunto de alterações onde estas não que hoje é seguido por muitos aqui em aconteciam há já muito tempo. Portugal. É evidente que, em abono da verdade, te devo dizer que o modelo HS!: O que representou a criação que nós implementamos aqui, no desta escola a nível nacional? Minho, não foge muito de modelos que eram implementados há duas ou três NS: É um pouco daquilo que disse na décadas atrás nos países com os quais r e s p o s t a a n t e r i o r. A l é m d i s s o , nós nos gostamos de comparar. Mas, de
19
20
// HajaEntrevista! facto, foi novidade em Portugal. E isso abriu portas para que noutros locais do país esse tipo de modelo fosse primeiro testado e mais tarde implementado. HS!: Quais é que foram os maiores obstáculos do plano de estudos da EM-UM? NS: Os maiores obstáculos são obstáculos… é a resistência intelectual das pessoas à mudança. E isto, não é só das pessoas de fora, é também das pessoas de dentro. Eu gosto de citar um grande amigo meu que diz que Only wet babies want to be changed. E é muito isso. Sempre que nós introduzimos algo que é disruptivo há, para todos nós, uns mais que outros, mas para todos nós há um ímpeto de resistir aquela alteração. E aqui o Professor Pinto Machado desenhou um plano de estudos que era muitíssimo disruptivo, sobretudo ao nível nacional, e que devo dizer que nos causou enormes dores de cabeça a implementar e a convencer as pessoas da benevolência do modelo, e de que o modelo deveria ser testado para saber
se realmente produzia bons resultados e essa foi a principal dificuldade. A segunda dificuldade é que nós começámos de novo, from scratch, sem nada, o que é extraordinariamente positivo, devo dizer. Mas também faz com que não haja infraestrutura de suporte e isso, obviamente, teve de ser montado, mas ainda bem que começámos sem nenhuma herança porque às vezes, as heranças, não são necessariamente as melhores. Depois, o que eu acho que aconteceu foi que nós tínhamos a consciência dos principais passos que tínhamos de dar e fizemos uma coisa que, eu acho, é absolutamente fundamental em tudo na vida, sobretudo, quando estamos a começar algo novo, que é: submetermo-nos ao escrutínio dos outros. Portanto, fomos nós que, espontaneamente, criámos as nossas comissões de avaliação externa, somos nós que nos submetemos ao escrutínio das agências internacionais para nos dizer se estávamos a fazer bem.
O nascimento oficial da Escola de Ciências da Saúde (ECS) teve lugar em 1999. É por isso uma jovem Escola da Universidade do Minho. O curso de medicina, lecionado em moldes inovadores, é o cerne da Escola. O curso abriu portas no ano letivo 2000-2001. Sendo um curso de 6 anos, a graduação dos primeiros alunos da ECS ocorreu no Ano Letivo 2006/2007. Este facto foi assinalado com uma cerimónia, no dia 8 de Outubro de 2007, por sinal no mesmo dia do ano da aula inaugural lecionada 6 anos antes. A ECS tem uma cultura própria, forte, de promoção de valores e de organização. Há três elementos essenciais que permeiam a sua história: a solidariedade e coesão, a cultura de avaliação e a transparência e responsabilidade social. Para saber mais sobre a Escola de Medicina aceda ao link: https://www.ecsaude.uminho.pt/pt
HajaEntrevista! // facto, foi novidade em Portugal. E isso abriu portas para que noutros locais do país esse tipo de modelo fosse primeiro testado e mais tarde implementado. HS!: Quais é que foram os maiores obstáculos do plano de estudos da EM-UM? NS: Os maiores obstáculos são obstáculos… é a resistência intelectual das pessoas à mudança. E isto, não é só das pessoas de fora, é também das pessoas de dentro. Eu gosto de citar um grande amigo meu que diz que Only wet babies want to be changed. E é muito isso. Sempre que nós introduzimos algo que é disruptivo há, para todos nós, uns mais que outros, mas para todos nós há um ímpeto de resistir aquela alteração. E aqui o Professor Pinto Machado desenhou um plano de estudos que era muitíssimo disruptivo, sobretudo ao nível nacional, e que devo dizer que nos causou enormes dores de cabeça a implementar e a convencer as pessoas da benevolência do modelo, e de que o modelo deveria ser testado para saber
21
se realmente produzia bons resultados e essa foi a principal dificuldade. A segunda dificuldade é que nós começámos de novo, from scratch, sem nada, o que é extraordinariamente positivo, devo dizer. Mas também faz com que não haja infraestrutura de suporte e isso, obviamente, teve de ser montado, mas ainda bem que começámos sem nenhuma herança porque às vezes, as heranças, não são necessariamente as melhores. Depois, o que eu acho que aconteceu foi que nós tínhamos a consciência dos principais passos que tínhamos de dar e fizemos uma coisa que, eu acho, é absolutamente fundamental em tudo na vida, sobretudo, quando estamos a começar algo novo, que é: submetermo-nos ao escrutínio dos outros. Portanto, fomos nós que, espontaneamente, criámos as nossas comissões de avaliação externa, somos nós que nos submetemos ao escrutínio das agências internacionais para nos dizer se estávamos a fazer bem.
Imagem 8 | Fotografia da Escola de Medicina da Universidade do Minho em Braga.
22
// HajaEntrevista! E este exercício de reflexão e de submissão à avaliação dos outros promove a qualidade e a garantia dessa m e s m a q u a l i d a d e . Po r t a n t o, s ã o sobretudo estas mudanças mentais que foram difíceis de implementar, mas, ao fim de algum tempo, (…) já se tornaram tão rotina que as pessoas já acham que isto é normal e até se tem tendência a valorizar um bocado, mas isso é uma conversa diferente. HS!: Como é que acha que a comunidade médica e académica nacional vê o curso de medicina da EM-UM?
reforçou a imagem de qualidade daquilo que fazíamos. Como sabes, os alunos desta casa, quando se submetem aos exames internacionais, têm desempenhos claramente positivos. E ao fim de algum tempo, as pessoas começaram a olhar para nós como “estes tipos, docentes e discentes, são extraordinariamente sérios e estão a fazer um extraordinário trabalho”. Portanto, aquelas vozes que acreditavam em nós passaram a ser muito mais ouvidas e as vozes que tinham grande desconfiança… estão caladas. HS!: Como é que compara o nosso ensino com o ensino médico internacional?
NS: Ao início, com enorme desconfiança. Há vários episódios, quase caricatos, da expressão dessa NS: O ensino nesta escola “Os maiores desconfiança. À medida médica compara muito que nós começamos a bem com as melhores obstáculos são desenvolver o nosso práticas internacionais obstáculos… é a trabalho e a e isso é reconhecido demonstrar o nosso resistência através de várias trabalho e a avaliar a distinções que nós intelectual das qualidade daquilo que recebemos. Destaco as pessoas à fazíamos, essa distinções da Aspire, desconfiança foi mudança.” destaco os relatórios das diminuindo e a curva que comissões de avaliação, começou muito negativa mas isso é apenas uma transformou-se numa curva forma de nos responsabilizar muito positiva e as pessoas mais para continuarmos a fazer crescer começaram a perceber. Sobretudo este projeto, porque a partir do quando começaram a receber alunos momento que nós achemos que está desta casa nas instituições prestadoras tudo bem, estão criadas as condições de cuidados de saúde e a verificar que para a desgraça. Portanto, eu acho que a q u e l e s a l u n o s e ra m m u i t í s s i m o as coisas atualmente estão bem, há competentes ao nível cognitivo mas há aspetos, obviamente, melhores que muito mais do que isso: sabiam fazer, outros e nós estamos a tentar mitigar tinham competências clinicas, tinham alguns aspetos menos positivos e esta é competências interpessoais que os que é a atitude correta: estamos bem, tornavam alunos de medicina melhor mas estamos a querer melhorar para preparados. Obviamente que eles continuarmos bem. depois terminaram [o curso], tornaramse internos… como sabes, todos os HS!: De que forma é que esta escola anos, os al unos desta casa têm médica se mantém a par das classificações superiores às médias melhores práticas de ensino para a nacionais no exame de acesso à formação de médicos e como e s p e c i a l i d a d e . I s s o, o b v i a m e n t e ,
HajaEntrevista! // implementa essas mudanças a vários níveis? NS: É relativamente simples. Nós temos uma política educativa e pedagógica perfeitamente definida com uma estratégia, com uma missão, com uma visão explícita e absolutamente transparente. Todos conhecemos o que estamos aqui a fazer, todos nós conhecemos os objetivos que queremos atingir. Há, ao nível da liderança da escola, um conjunto de fóruns onde nós discutimos estas visões estratégicas e, uma vez aprovadas, elas são implementadas. Portanto, nós, aqui, estamos muito atentos a duas coisas: não é só garantir que há governo, que há liderança, é garantir, também, a governança da instituição. Depois, é combinar essas estratégias que foram definidas ou inspirar essas estratégias que foram definidas em duas fontes: a primeira fonte é a literatura, aquilo que nós vemos nos congressos internacionais onde participamos e onde somos convidados a participar não só para ouvir, mas também para definir estas políticas pedagógicas da área médica ao nível internacional. Depois, entender isso no contexto que nós temos, e, portanto, esta mescla daquilo que são as boas práticas internacionais dos movimentos mais excitantes ao nível internacional, com aquilo que é o nosso contexto e aquilo que nós podemos fazer e onde podemos inovar, define essas políticas estratégicas e torna este projeto, um projeto altissimamente estimulante. HS!: Quais pensa que serão as maiores mudanças na educação médica da próxima década? NS: Eu acho que as maiores mudanças vão estar centradas em dois domínios, sendo que, depois, obviamente, encontram múltiplas bifurcações. O primeiro domínio é o domínio de haver uma mudança da prática da medicina, duma postura relativamente passiva para uma postura muito pró-ativa do
médico. Ou seja, o médico, hoje, ainda está muito no seu local de trabalho à espera que o doente venha ter com ele, ou que lho tragam, e muito centrado na doença. O futuro vai ser utilizar um conjunto de novas tecnologias que vão dar origem a big data e vai ser incorporado na análise do médico. Assim, o médico vai ser um scout, um monitor daquilo que se está a passar com a saúde das pessoas, portanto, já não é só centrado na doença, é também com a saúde das pessoas, e é capaz de, rapidamente, fazer o screening das pessoas que tem a responsabilidade de monitorizar e, portanto, ser muito próativo e ser ele a chamar as pessoas e garantir que as pessoas mantêm um estado de saúde durante muito mais tempo. Esta é uma mudança que assenta num conjunto de competências cognitivas e clínicas que estão aqui a ser trabalhadas, mas também num conjunto de avanços tecnológicos que estão a acontecer. O segundo domínio é o do trabalho e do ambiente de trabalho. Está a mudar. Deixou de ser uma prática muito isolada, passou a ser uma prática muito partilhada em equipas, equipas multidisciplinares, multimodais, onde nós temos que introduzir um conjunto de novas competências para cada um dos elementos, que passam por, obviamente, saber trabalhar em equipa, passam por saber gerir o seu tempo, por serem capazes de ser proficientes no uso dessas novas tecnologias, mas enquadrados num modelo que já não é um modelo isolado, é o modelo dos sistemas e do trabalho em rede. Essas vão ser as grandes mudanças na prática da medicina e, essas mudanças, vão garantir que há mudanças na maneira como nós aprendemos medicina. Eu tive cuidado com a palavra garantir porque pode ser uma coisa que podemos antecipar e promover ou pode ser uma coisa que nos é imposta, uma das duas coisas vai acontecer.
23
24
// HajaEntrevista!
HS!: E de que forma é que isso se vai refletir no nosso curso de medicina? NS: Eu acho que já se está a começar a refletir. O desenho do plano de estudos do curso sofre todos os anos alterações, algumas das quais parecem pequenas, mas não o são. Outras não parecem pequenas e não são pequenas. Nós, nessa altura, temos uma visão do plano de estudo que é uma visão muito mais integrada, muito mais vertical, e estamos a começar a introduzir um conjunto de ações que promovam a aquisição de competências totalmente novas e que passam por programas que olham para os diferentes níveis de cuidados. Temos, desde o início, um grande enfoque nos cuidados de saúde primários, portanto, não é só nas coisas hospitalares, nós agora começamos a introduzir as coisas de uma forma muito evidente: os cuidados continuados, os cuidados paliativos, as questões das competências de comunicação, as questões da economia da saúde. E tudo isto está a criar um ambiente formativo que é novo, e isto tudo alicerçado naquilo que é o cumprimento de uma das partes da nossa missão que é criar em cada estudante de medicina desta casa para além de um médico, um médico que também entende a ciência por detrás da medicina e, portanto, alicerça isto na evidência que vem da investigação. Nós gostamos muito de dizer isto, e em muito casos, aqui nesta escola, felizmente, mais de quarenta por cento dos alunos são também agentes ativos na geração de novo conhecimento, e isso, para nós, enche-nos de orgulho é isso que se está a passar e é isso que vai continuar a passar. Enquanto nós mantivermos este espirito, eu acho que nós vamos conseguir antecipar as mudanças e estar preparados para elas e ser agentes de mudança, que é uma coisa muito, muito excitante.
HajaEntrevista! // HS!: Os médicos recém-graduados acedem à formação específica através duma Prova Nacional de Seriação (PNS) altamente criticada desde há décadas. Para além da possível mudança da prova escrita, há outros elementos de avaliação e/ou seriação que consideraria pertinentes, para o acesso à especialidade?
verdadeiramente justa e multimodal daquilo que é um médico. Um médico é um ser complexo e holístico e, portanto, a avaliação deverá ser centrada assim e também muito centrada no desempenho do local de trabalho. HS!: Porque considera que esse modelo será vantajoso relativamente à PNS baseada no Harrison Principles of Internal Medicine?
NS: Com certeza! Eu sou das vozes mais críticas à atual prova que é realizada em Portugal. Tenho-me NS: Já me ouviram dizer isto tantas empenhado pessoal e vezes que até podem ficar um pouco institucionalmente na sua mudança. nauseados por me ouvir novamente. Por Considero que é absolutamente várias razões: a prova atual avalia crítico mudar essa prova, mas quase exclusivamente isso é apenas um dos conhecimentos mnésicos, elementos daquilo que isto é, eu acho que um “…nós agora deve ser a avaliação jovem inteligente de começamos a das competências engenharia que médicas. A prova estivesse um ano a introduzir as coisas de a v a l i a , ler aqueles cinco uma forma muito evidente: exclusivamente, capítulos também os cuidados continuados, os competências teria um bom cuidados paliativos, as cognitivas e um desempenho. questões das competências médico é muito Desta forma, não mais do que os avalia de facto se tu de comunicação, as conhecimentos és um médico ou questões da economia médicos. Como fui não, avalia apenas se da saúde.” dizendo ao longo desta és bom a memorizar ou entrevista, e como está não. escrito em todos os nossos Segundo, avalia apenas uma documentos fundamentais, aqui parte muito pequena da medicina. nós trabalhamos as competências A medicina não são cinco capítulos. A cognitivas - o saber, as competências medicina são um conjunto muito vasto t é c n i c a s – o s a b e r f a z e r, e o de temas, que têm de ser avaliados ao profissionalismo – o saber estar. Para nível apropriado com a definição de que seja uma avaliação objetivos bem expressa e explícita, mas verdadeiramente holística, todas estas têm de ser avaliados. Não faz nenhum componentes têm de ser avaliadas. sentido avaliar o todo por uma parte. Obviamente, avaliar as competências Finalmente, porque a prova não valoriza técnicas e o profissionalismo é mais aqueles que estão preocupados em ver difícil, mas existem várias técnicas para doentes e em ver bem os doentes. o f a z e r, a l g u m a s d a s q u a i s n ó s Portanto, não avalia algoritmos de implementamos aqui. Reconheço que decisão clínica. Não faz nenhuma destas serão difíceis de implementar ao nível coisas fundamentais. Eu acho que nem nacional, mas espero que em breve avalia decentemente as competências comecem a ser implementadas para que cognitivas. Por isso, sou radicalmente se comece a fazer uma avaliação contra esta prova.
25
26
// HajaEntrevista! HS!: Quando devem os alunos esperar a mudança de modelo da PNS? NS: Eu espero que muito em breve! Existe uma comissão que está a trabalhar para que a sua implementação ocorra em breve. Também é verdade que está no papel que já deveria ter acontecido. Já houve muitas comissões, eu já fiz parte de várias, mas sinto que agora há um consenso maior e espero, muito sinceramente, que algures em 2017 ou 2018 a prova mude. Insisto que não é a única coisa que devia mudar, mas, obviamente, como tudo na vida, temos de começar por algum sítio e, seria bom, começar por mudar como a prova é elaborada. HS!: Considera que os alunos da EM-UM irão estar melhor preparados do que os outros alunos para o que se espera ser a nova PNS? NS: Eu acho que os alunos da EM-UM estão bem preparados para qualquer modelo porque, simplesmente, estão bem preparados. Obviamente, se a prova for melhor, eles podem expressar melhor o seu nível de preparação. Mas claro que nesta casa, tal como nas outras, os alunos distribuem-se de acordo com a sua prestação. Há alunos com um desempenho absolutamente brilhante e há outros com um desempenho menos brilhante. A força dos números demonstra que a média do desempenho dos alunos da EM-UM é melhor que os outros alunos. HS!: Considera importante a inclusão da média de curso normalizada no ingresso ao internato médico? NS: Absolutamente! É muito errado o pensamento que uma única prova, um único elemento seja decisivo na vida de
qualquer pessoa. De facto, o trabalho que as pessoas desenvolvem em 6 anos, ou 4 anos, dependendo do percurso formativo, deve ser tido em conta no algoritmo que define o resultado final com que aquele aluno se candidata ao ingresso do internato médico. É muito replicar o modelo que é utilizado no acesso ao ensino superior, onde a fórmula de cálculo não se baseia exclusivamente nos exames finais. Tem uma componente de exames e tem uma componente com base no esforço contínuo. Como disseram, temos aqui um problema que é que se elas não forem normalizadas, não fazem sentido nenhum. Sei que as escolas médicas, e muito particularmente, a Associação Nacional de Estudantes de Medicina tem feito um esforço muito importante para garantir fórmulas de normalização de médias. Para mim, qualquer fórmula está bem e nenhuma será 100% perfeita, mas desde que seja feita com seriedade está bem. O que está mal é que não haja nenhuma normalização no acesso ao Internato ao ano comum e em outras coisas nas quais a média conta e que nesse caso vos prejudica muito.
Imagem 9 | Novo logotipo da Escola de Medicina (Antiga Escola de Saúde) da Universidade do Minho
HajaEntrevista! // HS!: Considera que a contabilização da média do Mestrado Integrado em Medicina apenas deveria ser efetuada aos alunos que ingressarem no curso após a informação oficial? NS: Acho que a média deve contar. Ponto. Discordo do princípio de que as pessoas só trabalham se a média contar. Um aluno de medicina, na sua esmagadora maioria, é trabalhador e muito sério. Portanto, trabalha seriamente para mostrar o seu trabalho e desempenho e, como tal, acho errado esse princípio que se tem de esperar que só para os que entram é que conta. Admito que se possa ter um período de transição em que, por exemplo, o valor de fórmula de cálculo seja menor ou que só se contabilizem os últimos 3 anos no primeiro arranque dessa fórmula. Mas, para mim, é mais interessante e mais justo que ela conte mesmo que as pessoas não saibam disso ad inicium, do que não contar. Mas depois há aqui uma coisa que é importante dizer: é que este assunto está na agenda da educação médica há vários anos, portanto há vários anos que se diz que a média vai contar, portanto, eu, não acho que isso seja uma desculpa. HS!: Considera que seria pertinente todos os candidatos a curso de medicina passarem por etapas de acesso para além das que se já se verificam? NS: Sim! Eu acho muito mais interessante o processo de acesso ao percurso alternativo daqui do que o processo do contingente nacional de acesso. Acho que se introduz outro conjunto de aspetos que são muito relevantes para aquilo que deve ser um médico e isso só é feito com essas ferramentas. Entendo, tal como disse relativamente ao acesso ao internato
médico, que o acesso a medicina deveria ser escrutinado de outras formas, para garantir que, realmente, escolhemos os melhores candidatos. Isto não quer dizer que eu estou contra o sistema atual. O sistema atual deve existir, mas para além disso devem existir outras formas complementares. Acho também que já passaram anos suficientes, depois da ditadura, para as pessoas começarem a acreditar no sistema. O sistema não se baseia em cunhas, nem em linhagens familiares e genéticas. O sistema deve basear-se na qualidade e nós devemos defender a qualidade intransigentemente e ter a coragem de dizer isso. HS!: Qual considera ser a maior ameaça atual à formação médica do país? NS: A maior ameaça, para mim, é a disrupção formativa. O que é que eu quero dizer com isso? Acho que para se manter alguns padrões de qualidade, temos de garantir que não inundamos as escolas médicas de alunos. Não estou a dizer que isso é o caso aqui no Minho, mas tenho mais dúvidas noutros locais. Estou preocupado com uma visão demasiado economicista da medicina onde tudo é transformado em números e em índices, o que faz com que haja uma pressão enorme sobre os clínicos e outros prestadores de saúde para cumprir esses índices e muito pouco a olhar para as pessoas que estão a ser consultadas - essa pressão altera aquilo que é a matriz genética da medicina. Isso preocupa-me imenso e nós devemos combater, com todas as nossas forças, essas tendências pósmodernas que todos temos de fazer consultas de 7 minutos e cumprir uma check list do computador. Não é assim que se vê doentes! Há doentes que demoram 2 minutos, há doentes que podem demorar 2 horas. E é isso que nós temos de fazer e é essa a forma de
27
// HajaEntrevista!
28
“
Isso preocupa-me imenso e nós devemos combater, com todas as nossas forças, essas tendências pósmodernas que todos temos de fazer consultas de 7 minutos e cumprir uma check list do computador. Não é assim que se vê doentes! Há doentes que demoram 2 minutos, há doentes que podem demorar 2 horas. Nuno Sousa
estar que temos de ter. Sempre no cumprimento estrito e absoluto daquilo que são os princípios fundamentais da prática médica. HS!: Quais seriam as suas propostas para gestão de numerus clausus no país? NS: Eu acho que isso deve ser medido de acordo com as necessidades do país, deve ser medido em evidência. Não deve ser algo como atirar um número à sorte. É saber quais são as necessidades reais de um país e que não se concentrem todos os médicos nas grandes ci dades ou grandes hospitais. Depois, que seja ponderada com outros fatores que são importantes. A medicina não é só feita em Portugal e, felizmente, hoje há mobilidade dos jovens médicos e de outros profissionais de saúde que deve ser enquadrada na visão de aldeia global e que hoje as novas tecnologias permitem. Mas, fazê-lo baseada em dados e baseada naquilo que são as antecipações das necessidades futuras. É isso que deve ser feito, é isso que é racional e é isso que o consenso nos diz.
”
HS!: E por último, tem algum conselho para dar aos novos alunos?
NS: Aos novos alunos: primeiro, que usem como modelos aqueles alunos que aqui estão e que são excelentes alunos; segundo, que mantenham a paixão por quererem ser médicos e, se mantiverem essa paixão, seguramente, vão ser médicos competentes nas diferentes dimensões essenciais à prática da medicina. Portanto, se nós conseguíssemos garantir que eles conseguem manter essa chama, essa paixão, e, idealmente, até aumentá-la, seríamos muito bem-sucedidos. Portanto, o meu primeiro conselho, para eles, é que se sintam bem-recebidos – serão seguramente bem-recebidos. Segundo, que trabalhem. Terceiro, que se divirtam. Porque realmente é um enorme privilégio ser-se médico porque é algo notável. É espetacular nós podermos sentir que estamos a ajudar de facto pessoas a diminuir o seu sofrimento. HS!: Muito obrigado. NS: Muito obrigado.
29
HajaNEMUM! Este novo espaço, a cargo de um colaborador do NEMUM, destina-se, tal como o nome indica, à partilha de conteúdos relevantes do nosso núcleo de estudantes.
Corrida & Caminhada Vital contra o AVC O NEMUM juntou-se ao Hospital de Braga e à Sociedade Portuguesa do AVC (SPAVC) para organizar a I Corrida & Caminhada Vital contra o AVC, no dia 30 de outubro de 2016, um dia após o Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral. Esta será a primeira edição desta corrida, resultado da fusão da VI Corrida Vital (organizada pelo NEMUM) com a III Corrida contra o AVC (organizada pelo Hospital de Braga e pela SPAVC).
Esta atividade tem o objetivo de sensibilizar a população para a aquisição de estilos de vida saudáveis através do fomento da prática desportiva e irá contar não só com demonstrações de diferentes tipos de atividades físicas, mas também rastreios à população (glicemia capilar, tensão arterial, perímetro abdominal, índice de massa corporal) bem como aconselhamento e educação para estilos de vida saudáveis.
Hospital dos Bonequinhos O Núcleo de Estudantes de Medicina e o Hospital de Braga estão a organizar, nos próximos dias 7, 8, 9 e 10 de novembro, uma nova edição do Hospital dos Bonequinhos, a ser realizada, à semelhança do ano passado, na ágora do Hospital de Braga. O Hospital dos Bonequinhos conta já com 9 edições (tendo abrangido na última cerca de 1000 crianças do concelho de Braga) e pretende criar um momento de proximidade entre crianças do pré-escolar
e toda a envolvente da prática médica onde, num ambiente tão descontraído como didático, estas possam aprender a dominar e contornar preconceitos como o conhecido “medo da bata branca”. Este ano conseguimos contar também com a colaboração da Associação de Estudantes da Escola Superior de Enfermagem Calouste Gulbenkian e do Núcleo de Educação Básica da Universidade do Minho.
Jornadas de Educação Médica O Departamento de Educação Médica (DEM) do NEMUM vai realizar umas Jornadas dedicadas a vários temas da formação médica. Será no dia 3 de Dezembro, haverá oportunidade para: - Conhecer perspetivas de percurso formativo e profissional além da prática clínica, nomeadamente em indústria farmacêutica, politica, investigação ou ensino;
- Aprender e debater sobre o futuro do ensino da medicina; - Debater o estado atual da política educativa, no âmbito da formação médica, em Portugal. Assim, a atividade incluirá sessões plenárias, workshops e uma mesa redonda acerca do último tema. Estejam atentos às novidades!
30
HajaAlumni! Esta nova rubrica, pela qual a ALUMNI Medicina é responsável, destina-se à partilha de conteúdos relevantes da mesma.
Espaço Arte Alumni contagia Medicina Inaugurado em 8 de outubro de 2014, o Espaço Arte Alumni foi desenhado pelo Arquiteto Nuno Vieira como um elemento que se destaca pelos seus vértices afiados no átrio da Escola de Medicina. Ao longo destes dois anos de atividade, o Espaço Arte Alumni tem acolhido várias mostras individuais e coletivas que englobaram trabalhos de pintura, desenho, ilustração e fotografia, bem como uma exposição comemorativa dos 15 anos da então denominada Escola de Ciências da Saúde.
que se integra no projeto educativo, científico e cultural da Escola de Medicina, reforçando a sua visão humanista e holística da formação. Em declarações ao HajaSaúde!, o vicePresidente Pedro Morgado, reforça que “este é um dos projetos que a Alumni Medicina mais acarinha e de que mais se orgulha.” As exposições são visitáveis de segunda a sexta, entre as 9h e as 18h, e aos sábados entre as 9h e as 13h, sendo a entrada gratuita.
O Espaço Arte Alumni assume-se como um núcleo permanente de arte e cultura
Alumni Medicina aposta na formação ao longo da vida Desde a fundação, em 2008, que a Alumni Medicina tem apostado na contínua de médicos e outros profissionais de saúde. Com uma oferta anual que supera os 20 cursos e formações, a Alumni Medicina tem-se destacado na formação de qualidade em áreas como a Comunicação Clínica, a Medicina Geral e Familiar, a Pediatria, a Psiquiatria, a Neurologia e a Cardiologia, pretendendo alargar a sua área de influência e ação para outros domínios técnicos e científicos.
Os cursos de formação avançada da Alumni Medicina têm recebido elevadas classificações por parte dos seus participantes. O Presidente Vitor Hugo Pereira contou ao HajaSaúde! que “durante os anos de 2015 e 2016, a maioria dos cursos promovidos pela Alumni Medicina teve lotação esgotada, o que atesta a participação da associação na resposta às necessidades dos públicos-alvo”.
31
HajaCrónica! Esta rubrica pretende abordar as temáticas mais relevantes a cada momento, de uma forma sucinta e pragmática, em simultâneo almejando que o leitor reflita sobre essas mesmas matérias e retire as suas próprias conclusões. Dado o seu caráter literário, não se depreende que seja um texto meramente informativo; ao invés, o cunho do autor é indelével na formulação deste, pelo que, tendencialmente, o seu resultado final será subjetivo.
O estado da Educação Médica em Portugal por Pedro Peixoto [1º ano MD/PhD]
Nos últimos 30 anos, nunca existiram tantos estudantes de medicina em Portugal, número que hoje se cifra em cerca de 12000 alunos. Por outro lado, continua a ser um dos cursos que, indiscutivelmente, gera maior apetência por novos alunos, como é visível pelas classificações de entrada no mesmo. Invariavelmente, desde que os atuais moldes de acesso ao ensino superior foram estabelecidos, o curso de medicina (ou as variantes mais recentes na versão de Mestrado Integrado) aufere dos lugares cimeiros no que toca à classificação de entrada; com a ressalva de que requer três provas de ingresso à entrada. O que leva tantos alunos a ingressar num curso, cujas previsões de empregabilidade começam a mostrar sinais de exaustão? No último concurso nacional de acesso à formação específica ficaram já excluídos 168 alunos, não contando os que desistiram à priori. Acrescenta-se que Portugal é já o 9º país com maior rácio médico/doente da OCDE. Mais ainda, segundo números apresentados pela Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), as necessidades do país, no que toca a número de médicos formados anualmente, cifra-se em 1175. No entanto estão a ser formados cerca de 1900 anualmente, descontando os que proveem do estrangeiro. Mais, estamos num ponto em que a qualidade do curso, nas diversas instituições
do país, pode efetivamente ser questionada. Por um lado, o rácio tutor/aluno começa a lançar sérias dúvidas sobre a efetiva aprendizagem clínica dos alunos; se, na Universidade do Minho, esse rácio se estabelece em torno dos 3,79 alunos/tutor, na média dos 3º/4º e 5º anos (1,17 no 6ºano), na Universidade de Coimbra, esse rácio atinge valores respetivamente de 18.5 e 2.0 alunos/ tutor. A acompanhar estes dados podemos juntar os que se referem à satisfação global dos estudantes; invariavelmente, são as escolas mais pequenas, com menor número de alunos que apresentam valores mais elevados de satisfação global (escala de 0-5). Exemplificando, na Universidade do Minho situa-se em 4.528, ao passo que na Universidade de Coimbra se situa em 3.511. Não são só estes números, relativos a empregabilidade e acompanhamento no ensino, que deixam dúvidas acerca da popularidade do curso de medicina em Portugal. Podemos falar da famigerada Prova Nacional de Seriação (PNS) - vulgo Harrison -, cujo modelo é absolutamente arcaico, baseando-se na mera memorização de um conjunto de dados, de cariz clínico questionável; a preparação para esta prova acaba por minar, e muito, o que os alunos conseguem retirar do seu 6º ano. Mais, em escolas como a da Universidade do Minho, onde até são feitos esforços para assegurar a presença continuada dos alunos em contexto clínico, essa oportunidade acaba por ser
32
// HajaCrónica! perdida, muito devido ao stress que a preparação para esta prova condiciona (e aqui questiono como é possível a prática clínica ser menos importante que uma prova). A verdade é que, face às condições atuais de acesso à especialidade, muito dificilmente será esta situação diferente. Assim, o panorama atual é um em que assistimos a uma possível diminuição geral da qualidade do ensino, desprestigiando a profissão, e de uma grande desconexão entre os vários níveis de formação, necessários para completar a formação pré e pósgraduada. Por motivos políticos, é difícil pensar numa redução do numerus clausus. Mais, é difícil explicar à população geral os malefícios que o desemprego médico condiciona (podemos começar pelo efeito das empresas de trabalho temporário na qualidade dos serviços – o que acontece à relação médico/ doente? Quem é responsável pelos erros clínicos? Quem assegura a continuidade dos cuidados prestados?). Por outro lado, é difícil pensar num aumento das capacidades formativas pós-graduadas quando existe um número elevado de clínicos em idade próxima da aposentação, um número grande de recém-formados, mas um reduzido número de especialistas capazes de tutorear formação pós-graduada de qualidade, face às necessidades.
Tendo tudo isto em conta, resta-nos lutar pela profissionalização do 6º ano, de forma a que consigamos ser clínicos autónomos no final do curso (como acontece em muitas outras profissões), e, para tal, é necessário mudar vários parâmetros de qualidade, dando primazia à descontextualizada PNS e à necessidade de a reformular, no sentido de abordar a resolução de casos clínicos; aumentar o rácio tutor/aluno nos anos clínicos e a autonomia dos estudantes em contexto clínico. Quero terminar esta crónica para lembrar aos leitores que, estar num Mestrado Integrado em Medicina, não significa que venham a ser clínicos. Cada vez mais devemos pensar neste curso como uma ferramenta formativa para ser usada noutros contextos, como a investigação científica básica, a cooperação com a indústria farmacêutica e a que nos liga à tecnologia de contexto clínico; gestão; ensino e muitos outros que podem fugir completamente à prática médica. Talvez por estas perspetivas, aliadas à curiosidade que suscita e ao interesse das matérias lecionadas, é que o curso de medicina continua, e certamente continuará a ser um dos mais apetecíveis do leque de cursos disponíveis no ensino superior.
33
HajaExplicação! Nesta rubrica, de nome peculiar, procura-se explicitar alguns assuntos de relevância para a sociedade, sejam eles relacionados, ou não, com a Medicina. por Kelly Pires [3º ano]
Viagens internacionais foram em tempos um luxo reservado para aqueles com mais posses e um grande espírito de aventura. Hoje, um crescente número de pessoas deixa os seus países nativos à procura de destinos paradisíacos e quanto mais misterioso o local, melhor! Mas para alguns países não importa a idílica paisagem e património desconhecido, simplesmente não são procurados. Quais são os países menos turísticos? Nesta edição do HajaSaúde! esperamos responder a essa questão e esclarecer algumas dúvidas sobre o que se passa noutras partes do mundo.
11 mil viajantes. O turismo neste país tem vindo a descer desde 1990, atingindo o recorde mínimo de 7 mil viajantes em 2008 e ficando conhecido como o país europeu menos visitado na história. Mas, em vez de ignorar ou lutar contra esse título, a Moldávia orgulha-se de ser "o caminho menos viajado". Desde 2010 a 2015, juntamente com a estado unidense Agency for Internacional Development, têm promovido as peculiaridades nacionais e indústrias niche, como os seus vinhos e relíquias remanescentes da União Soviética. Embora a campanha tenha sucedido, o turismo ainda não abunda.
Um dos países menos visitados é a Moldávia, na Europa do Leste, que em 2014 viu apenas
Imagem 10 | Imagens referentes à localização e paisagem da Moldávia.
// HajaExplicação!
34
Não será nenhuma surpresa que a Guiné, no oeste africano, é também muito pouco escolhida para férias. Viu apenas 33 mil turistas em 2014, o que pode parecer um grande número mas comparando com a sua população de 12 milhões, trata-se de 1 turista por cada 372 habitantes. Não existe um modo específico para saber o porquê de a Guiné ser tão pouco atrativa, mas os maiores dissuasores são certamente a crescente instabilidade doméstica, as doenças
propagantes, o deficit de instalações e transporte ineficiente. De acordo o Federal Travel Bureau Estado Unidense, visitantes exteriores requerem várias vacinas antes de entrarem no país, continuando, mesmo assim, sujeitos a contrair doenças como Malária, Dengue e Febre Amarela. Além disso, a Guiné continua infamemente conhecida como o primeiro país a ser afetado pelo recente outbreak de Ébola, embora não sejam reportados novos casos desde junho.
Imagem 11 | Imagens referentes à localização e paisagem da Guiné.
Mas, sem margem para dúvidas, o país menos turístico é o Bangladesh, que vê um estrangeiro por cada 1.272 residentes! Isto acontece mesmo com os incontáveis locais arqueológicos, paisagens dinâmicas e uma das maiores praias do mundo que o país tem para oferecer. Embora o turismo doméstico seja rico, turistas internacionais raramente entram no país, lendo apenas as notícias sobre os desastres naturais, instabilidade
política e mão de obra escrava que fazem capa de jornal. O governo de Bangladesh tentou desenvolver o turismo internacional com a campanha Beautiful Bangladesh e estabelecendo uma força policial especialmente dedicado à segurança dos viajantes. O sucesso destas iniciativas está ainda para ser visto.
HajaExplicação! //
Imagem 12 | Imagens referentes à localização e paisagem do Bangladesh.
Bangladesh, Guiné e Moldávia são os países menos visitados proporcionalmente, isto é, veem o menor número de turistas per residente. Existem vários pequenos países, nomeadamente ilhas isoladas, que veem apenas alguns milhares de visitantes por ano. Como Tonga (~1.400) e as ilhas Solomon (~20.000). Com o ganho de popularidade no turismo internacional, talvez os destinos mais longínquos e menos glamorosos, vejam o seu dia de brilharem.
35
36
HajaSexualidade! Surge agora outra rubrica que tem sido constante e bastante consistente nas edições do HajaSaúde!: o HajaSexualidade!. Esta rubrica pretende desmistificar alguns mitos e quebrar preconceitos e tabus relacionados com a sexualidade, abordando esta área sob a luz do tema escolhido para a edição. Assim, pretende demonstrar, por vezes com um pouco de humor, que a sexualidade tem várias componentes que vão além do óbvio anatómico e que interligam numa rede bem apoiada e sustentada.
A evolução temporal no estudo e ensino médico da sexualidade por João Barbosa [6º ano]
O mundo, tal qual o conhecemos, tem vindo a mutar e, se parar é morrer, certamente que a mudança se sobrepõe ao finamento, perdurando para as futuras gerações, disfrutando e imortalizando das melhores conexões neuronais que a humanidade alguma vez teve. Certamente que concordarão comigo quando afirmo que também a sexualidade tem vindo a mudar ao longo das transpostas gerações, para melhor ou para pior, atirariam imediatamente os castos em oposição aos libertinos. Não obstante, a todo este romper de tradições seculares e à eloquência com que os porquês têm vindo a, cabalisticamente, envolver-se em fecundas luxúrias com as respostas, também a medicina tem mudado. O que diriam os obsoletos físicos e cirurgiões barbeiros sobre o acesso a peças anatómicas ou cadavéricas que os alunos de medicina têm hoje? O que diriam os conservadores e inquisitórios que reviram e recusaram a publicação, remetendo para a fogueada e purificatória revista, tantos cientistas que se limitavam a melhor tentar entender a beleza oculta neste mundo perdido? Entenda-se, pois, que nunca coube à anatomia, descrever substâncias amorfas e
incertas como a alma humana, nem tão pouco os fundamentos da sua perdição ou vendição à carne. As primeiras descrições anatómicas, pelo menos as não palpatórias, como as já adestradas, mas não descritas por Adão e Eva, declinam do antigo Egito, cerca do séc. XVI a.C., durante as mumificações. Seguiram-se escolas como a Grega, com nomes relevantes como Aristóteles, com descrições maioritariamente baseadas em dissecções animais. Desta altura, em Alexandria, datam também as primeiras dissecções em condenados e criminosos humanos, alguns ainda vivos. Finalmente, surgiu Galeno, o príncipe dos anatomistas, que compilou o que se sabia até então, tendo os seus escritos perdurado no estudo e no ensino médico até longa data. Nesta época, a anatomia era ensinada, começando cada pergunta com “mestre” e cada resposta terminada com “tendes de ler mais, aprendiz” e a bibliografia era decorada de boca em boca. Estávamos em meados do séc. XI e a curiosidade expande-se para as arábias, onde Avicenna, o persa, edificou o “Cânone da Medicina”, efetuando detalhadas descrições anatómicas, respeitando sempre o pudor que a religião obrigava, instruindo inúmeros clínicos. As trevas banhavam o conhecimento anatómico, até que, já na época renascentista, grandes nomes como
HajaSexualidade! // da Vinci ou Vesalius acenderam pequenas luzes que, rapidamente iluminaram aqueles tantos pormenores que hoje maldizem os estudantes de medicina. Muitos se seguiram, felizmente, mas… vamos ao que mais interessa. Só muito mais tarde se sentiu necessidade de deixar de priorizar órgãos secundários, como a circulação pulmonar e cardíaca para se prezar a nobre genitália, pelo menos na opinião, nada enviesada, a que rubrica respeita. Senão vejamos: em 1620, o estudante de medicina escocês John Moir, refere, sumariamente, que ter em consideração os membros genitais é um assunto delicado, que não deve ser revelado, sobretudo aos jovens para não incendiar a vergonha, o pecado e a prevaricação. Assim, retrocedendo e paralelizando o anterior relato histórico, tornemo-lo, impróprio e impuro, pecando num olhar. Desde a antiguidade até ao Renascimento que os órgãos reprodutores masculinos e femininos eram descritos como sendo estruturas homólogas, contudo, desiguais. Apesar de serem narrados como mais pequenos, os femininos eram igualmente apelidados de testículos, tal se pensava produzirem substâncias importantes para a geração. Ensinava Aristóteles, no séc. IV a.C. que o homem contribuía para a prole com algo sagrado e a mulher com algo grosseiro e rude, tal era a displicência que esta gozava socialmente. Mais tarde, Galeno e Hipócrates referiram que havia duas sementes que diferiam ligeiramente na sua contribuição, mas que ambos eram sémen. A evolução destas diferentes ideias manteve-se durante todo o ensino médico, na idade média, assombrada pelo constrangimento e pelo debate, aumentando gradualmente de interesse. De salientar que, reiterou textualmente Avicenna abençoado pelo profeta, o processo de genesis humana era similar à manufatura do queijo, com maior relevância para o condimento masculino.
Também erradamente da Vinci errou ao descrever que a força e a firmeza peniana assentavam no osso púbico e outros da mesma época, que o esperma era sangue filtrado e purificado. Vivia-se o Renascimento, marcando o ponto de viragem em que a medicina inspira o artista e tinge as telas, o que rapidamente foi reprimido pela sociedade, com a proibição, no séc. XVI de que, em qualquer livro de medicina aparecesse um jovem despido, o que perdurou até ao séc. XVII. Deste jeito, a única forma que os corpos podiam ser representados nos manuais, seria sobre a figura de Adão com a parra e de Eva com a mão sobre a púbis. Caso se tratasse de uma peça cadavérica ilustrada em cima da mesa de dissecação, o sexo teria de estar recoberto, quer com um pano, ceroulas, ou por vezes até flores. Era expressamente proibido para um homem médico assistir a um parto, por este se reservar às parteiras, citando-se um cirurgião em Hamburgo que foi executado em 1522 por ter tido a ousadia de o fazer, mascarado. Em 1559, o anatomista Realdo Colombo refere ter descoberto, não as Américas, mas o clitóris e no final desse século Gabielle Fallopia descreve o que veio a imortalizá-lo. Colombo incendiou, obviamente, as ostes, ao sugerir assim que a mulher teria prazer na cópula, algo ultrajoso e infame. Finalmente, em 1620, John Moir, o supracitado conservador, atribuiu enorme importância ao útero, chamando-lhe mesmo a matriz da vida, adocicando a ciência com a beleza da poesia do momento mas conspurcando-a, de seguida, quando fez crer quem o leu e o decorou, ser o útero o responsável por venenos e doenças como a histeria. Mas não foi o único. Outros descreveram-no de uma forma, relativamente pouco simpática, mas prática, como o mestre Nicolaus, que o relata sendo heptacompartimentado, tal como os dias da semana (imagine-se Franck Netter a, engenhosamente, ilustrar isto). Outros descreviam-lhe duas divisões, tal como em alguns animais, uma destinada a conceber os
37
// HajaSexualidade!
38
rapazes e outra as raparigas e que correspondiam, respetivamente, a cada um dos seios. Em Portugal, não existem grandes referências sobre esta evolução, salientando a p e n a s o p i o n e i r o n a b i b l i o g r a fi a Ginecológica Portuguesa, Rodrigo de Castro, com o livro A Medicina Geral da Mulher no séc. XVI. O primeiro livro sobre sexualidade surgiu em 1911, com intuito de promover a higiene e a prevenção de doenças venéreas no povo ordeiro e exemplar, sempre com o
vinco na lombada, da superioridade masculina e dos ditos bons costumes. E assim, foi evoluindo o ensino da sexualidade ao sabor de crenças religiosas, politicas, sociais, filosóficas e metafisicas até aos nossos dias. Enfim, durante anos se manteve, no murmúrio dos retrógrados e na doutrina do silêncio, a preclara frase: “Nada do que é humano é estranho ao Médico”, com todas as desperdiçadas vidas que tal desdém acarretou.
39
HajaDesporto! Esta rubrica de criação recente, visa não só a divulgação de exercícios físicos, mas também aspetos relevantes que possam englobar este universo vasto que é o universo do desporto e que assume extrema importância na vida diária.
Abdominal Premium por Inês Braga [6º ano]
Bem-vindos a mais uma edição do HajaDesporto!. Nesta edição vou falar na musculatura abdominal e da importância de ter uns “Abdominais Premium”! Penso que o conceito ideal de abdominais seria o de ter um ventre liso e definido, uma vez que é esteticamente apelativo e nos confere um ar fit. Contudo, muitos desconhecem a importância de um abdómen fortalecido. Este conjunto de músculos tem um grande papel na proteção dos órgãos internos, mas também na postura. Se pensarmos que os músculos da região lombar são os fundamentais para o suporte da coluna vertebral, então os abdominais, como seus opositores, podem equilibrar o suporte de cargas do tronco. No desporto, os músculos abdominais e o conjunto de músculos do tronco, o core, tornam-se ainda mais importantes, pois são ativados em praticamente todos os exercícios corporais, desde correr, agachar ou mesmo trabalhar a musculatura dos braços. Todo e qualquer exercício é praticado com muita melhor
performance e segurança se o core for bem fortalecido e desenvolvido. Neste momento existem 2 aspetos importantes a reter para ter um abdómen premium: • Desenvolvimento da musculatura do core, através de exercícios localizados e muitos outros. • Construção de um ventre mais liso. Este último desafio, talvez um pouco mais difícil, envolve várias etapas: • Redução da gordura subcutânea e visceral, que muitas vezes está a esconder o abdominal. Sim porque nós todos o temos, certo? E claro, para este passo é importante tentar reduzir a gordura corporal no geral, adotando um estilo de vida mais saudável e alterando os hábitos alimentares, dos quais não me vou debruçar hoje. • Aumentar o poder vácuo do nosso abdómen, através de exercícios de vácuo, que vos vou ensinar.
Vácuo de Estômago Este exercício é bastante complexo e exige treino 1º Aprenda a mover o abdominal durante a respiração. 1. Primariamente, devemos manter-nos em pé, com uma postura retilínea e com os pés à largura dos ombros. 2. Iniciar uma respiração lenta com o abdómen: Inspirar relaxando o abdominal, expirando contraindo o abdominal, tentando fazer com que o umbigo “toque na coluna lombar”. 3. Ao fazer vários ciclos de respiração vão conseguindo aos poucos contrair o abdominal e levar a barriga para dentro.
// HajaDesporto!
40
2º Vácuo
Imagem 13 | Imagem referente ao passo 2.
Ao respirar, fazer um ciclo de inspiração lenta, expiração lenta. E depois de iniciar o movimento de inspiração, sem que entre ar pela boca ou pelo nariz. Automaticamente, o abdómen vai recolher e ficar contraído contra os órgãos internos. Após conseguir realizar este movimento, deve tentar manter esta contração durante alguns segundos. Tentar repetir entre 10-20 vezes.
Exercícios Localizados Toda a gente conhece o exercício básico de abdominais, o chamado crunch ou abdominais somente, e por isso vou focar mais em alguns exercícios diferentes que trabalham os músculos abdominais e o core no geral.
1. Burpee Iniciar em pé com os pés à largura dos quadris e braços ao lado do tronco. (2) Descer o tronco, inferior à posição de agachamento, com as mãos no chão à largura dos ombros. (3) Chutar as pernas para trás. De modo a ficar em Posição de Prancha. (4) Realizar movimento de flexão, tocando com o peito no chão. (3) Voltar à posição de prancha. (2) Empurrar ambos os pés para a frente, voltando à posição de agachamento. (1) Saltar na vertical, com os braços acima da cabeça, de modo a voltar aposição inicial. Deverá realizar entre 8-15 repetições, ou 30 segundos de exercício. Deverá repetir isto entre 3-4 séries.
Imagem 14 | O famoso Burpee já muito falado em edições anteriores
HajaDesporto! //
2. Mountain Climber
Posição inicial: braços estendidos com as mãos afastadas à linha dos ombros, e corpo a formar uma linha reta desde os ombros aos tornozelos. (Posição de Prancha). (1) Levar o joelho direito do chão até ao peito. (2) Retornar à posição inicial e repetir com a perna esquerda. Alternar o mais rápido possível. Deverá realizar entre 8-15 repetições, ou 30 segundos de exercício. Deverá repetir isto entre 3-4 séries. Imagem 15 | Posição e movimento Mountain Climber
3. Variação de Prancha Lateral (1) Posição inicial: corpo forma uma linha entre os pés e a cabeça, manter um dos antebraços no chão e um dos pés. (2) Dobrar a perna e o braço que estão suspensos até eles se encontrarem joelho com cotovelo. Fazer força sob a parte lateral do abdominal. Deverá realizar entre 8-15 repetições, ou 30 segundos de exercício de cada lado. Deverá repetir isto entre 3-4 séries. Imagem 16 | Posição e movimento Prancha Lateral
41
// HajaDesporto!
42
Imagem 17 | Posição e movimento da Prancha Super-Homem
4. Prancha Super-Homem (1) Posição inicial: corpo forma uma linha entre os pés e a cabeça, manter um dos antebraços no chão e um dos pés. (2) Dobrar a perna e o braço que estão suspensos até eles se encontrarem joelho com cotovelo. Fazer força sob a parte lateral do abdominal. Deverá realizar entre 8-15 repetições, ou 30 segundos de exercício de cada lado. Deverá repetir isto entre 3-4 séries.
Imagem 19 | Posição e movimento dos Abdominais em Bicicleta
6. Abdominais em Bicicleta Posição inicial: deitado no chão com as mãos a tocar nas tempuras e cotovelos a apontar para fora. (1) Esticar a perna esquerda no ar e recolher o joelho direito. Contrair o abdominal de modo a que o cotovelo esquerdo (sem deixar de apontar para fora, toque no joelho). (2) Repetir do outro lado. Deverá realizar 30 segundos de exercício. Deverás repetir isto entre 3-4 séries.
HajaDesporto! //
43
Imagem 18 | Posição e movimento da Prancha Jack
5. Prancha Jack Posição inicial: prancha com antebraços e pontas dos pés no chão, anca alinhada com os ombros. (2) Num movimento, afastar as pernas, e voltar à posição inicial. Realizar com a máxima velocidade possível Deverá realizar 30 segundos de exercício. Deverás repetir isto entre 3-4 séries.
Imagem 20 | Abdominal inferior com pernas alternadas
7. Abdominal inferior com pernas alternadas Posição inicial: deitado no chão com os braços ao lado do tronco. A lombar deve estar colada ao chão. (1) Elevar as pernas de modo aos pés não tocarem no chão. As pernas devem estar o mais próximo possível do chão, desde que a lombar não descole do chão. (2) Realizar movimento em zigzag com os pés continuamente. Se preferir uma variação mais fácil, realizar este movimente de zigzag à medida que eleva ambas as pernas, e volta a descê-las (não dobrar os joelhos) Deverá realizar 30 segundos de exercício. Deverá repetir isto entre 3-4 séries.
// HajaDesporto!
44
Imagem 21 | Posição e movimento de abdominais mão ao pé
8. Abdominais Mão ao Pé Posição inicial: deitado no chão com os braços acima da cabeça, pernas levantadas com os joelhos esticados. (2) Contrair os abdominais de modo a elevar as omoplatas do chão e tentar tocar com os dedos das mãos nos pés. Deverá realizar 30 segundos de exercício. Deverás repetir isto entre 3-4 séries.
Imagem 22 | Posição e movimento de abdominais mão ao pé
9. Prancha Por último, mas não menos importante, a PRANCHA: O corpo deve fazer uma linha reta dos pés à cabeça, antebraços fletidos e no chão. A anca deve estar à altura dos ombros. Os pés devem estar juntos. Para uma prancha mais eficaz: contrair os glúteos e os adutores, um contra o outro. Durante a respiração, relaxar o abdómen na inspiração e contrair e retrair o abdómen na expiração, como falei nos exercícios de vácuo. Manter uma respiração lenta e controlada. Deverá realizar entre 30 a 60 segundos de exercício. Deverá repetir isto entre 3-4 séries.
45
HajaCinema! O cinema é uma arma cultural que, desde sempre, fez uso da imagem e da palavra para transmitir mensagens e ideais fortes a todas as populações independentemente das diferenças que entre elas possam existir. Neste sentido, o HajaCinema! surge como uma rubrica essencial para fomentar a cultura e o espírito crítico a todos aqueles que dedicarem tempo a ler esta rubrica. Como tal, em todas as edições poderá ler-se uma análise objetiva de um ou mais filmes fomentando a sua divulgação e a mensagem em si enraizada.
por Gonçalo Cunha [3º ano]
Desde sempre, o Homem teve a curiosidade por descobrir os limites do conhecimento, do planeta e do universo. Assim, ao longo dos tempos, foram várias as figuras que se foram destacando nos diversos domínios do conhecimento pondo-se à prova não só a si, mas também a todos aqueles que procuravam respostas sobre algo que lhes era totalmente desconhecido.
O Homem que viu o Infinito
Rainha do deserto
Mestres da Ilusão 2
5,6/10 no IMBD
6,6/10 no IMBD
O Homem que viu o Infinito dá-nos, precisamente, a conhecer a extraordinária vida de Ramanujan, um indiano que mostrou que o caminho para os nossos sonhos se baseia no trabalho, na dedicação e na ambição mesmo que não tenhamos, à partida, as condições necessárias para alcançar o sentimento de missão cumprida. Deste modo, e se é fã de filmes repletos de emoção, com uma forte mensagem e que se baseiam em factos reais, este é um filme que não deve perder.
Também a Rainha do Deserto é um filme biográfico no qual é relatada a vida de Gertrude Bell’s (Nicole Kidman), uma mulher com uma vida repleta de aventura à qual se associa o drama e o romance. Numa película que nos reporta ao século XIX, Kidman dá-nos a conhecer uma mulher que desafiou todos as leis e princípios morais da sua época tendo, por isso, ganho o título não oficial de Rainha do Deserto. Um drama biográfico com uma enorme bagagem cultural que deixa qualquer um apaixonado pelos domínios arábicos e os seus costumes e tradições.
Certamente conhece o filme Mestres da Ilusão e tudo aquilo que está por de trás dele. Se assim for, não deve perder o novo filme Mestres da Ilusão 2 onde é retratada mais uma aventura dos 4 Cavaleiros. Durante a ação, podem-se ver todos os truques por trás da magia aos quais o espetador está mais do que habituado e que o deixarão não só a pensar nos limites dos sentidos humanos mas, também o deixarão extremamente entusiasmado e com um sorriso no rosto. Assim, se é fã do primeiro filme não perca a oportunidade de se deixar levar por mais uma aventura. Por outro lado, se nunca viu Mestres da Ilusão e o mundo da magia e do espetáculo o fascinam, aproveite e veja ambos os filmes que, seguramente o vão deixar preso ao ecrã.
7,3/10 no IMBD
46
HajaLiteratura! O HajaSaúde! tem como pilares informar, divertir e “culturizar” os nossos leitores. Tentamos que muitos dos que têm morada certa e passam pela existência sem nunca percorrer as avenidas do seu próprio ser, deixem de ser forasteiros para si mesmos. (in A Saga de Um Pensador). E é, neste sentido, que surge a coluna HajaLiteratura!, para dar suporte ao principal alimento das nossas almas: o livro! por Núria Mascarenhas [4º ano]
Crítica: A saga de um pensador – O Futuro da Humanidade de Augusto Cury Classificação de 4,2 em 317 votações no Goodreads1
“Na sociedade há muitas pessoas tentando conquistar o mundo exterior, mas não o seu mundo interior. Elas compram bajuladores, mas não amigos; roupas de grife, mas não o conforto. Colocam trancas nas portas, mas não tem proteção emocional.” (in A saga de um pensador – O Futuro da Humanidade)
Imagem 23 | Capa do livro “A saga de um pensador – O Futuro da Humanidade”
HajaLiteratura! //
Diga-me, caro leitor, alguma vez se perguntou quais seriam os nomes pertencentes às peças cadavéricas, que por nós foram exploradas, dissecadas e, que estão expostas no teatro anatómico? Quais seriam os seus sonhos, amores, amigos e tristezas? Se está à procura de um livro que lhe permita fazer uma introspeção acerca de como tratar o ser humano nos seus momentos mais vulneráveis, um livro que mude a sua forma de pensar, ser e estar, então: está no sítio certo! Senhoras e senhores abram alas para: A saga de um pensador – O Futuro da Humanidade. Nesta edição, dedicada à educação médica, trouxemos-vos o primeiro r o m a n c e d e A u g u s t o C u r y. Psiquiatra, psicoterapeuta, doutor em psicanálise e professor. Cury traz-nos uma brilhante narrativa de e para qualquer profissional que lide direta ou indiretamente com vidas humanas. Uma história impressionante sobre as aventuras de um estudante de medicina, Marco Polo, que é confrontado com a dura realidade académica, a insensibilidade e frieza dos seus professores. Indignado por não compreender a desumanização inerente a profissionais que lidam, no seu quotidiano, com o que de mais sublime existe, o jovem desafia p r o fi s s i o n a i s d e r e n o m e internacional, de forma a provar que os pacientes com perturbações psíquicas precisam de muito mais
do que fármacos e diálogo oco precisam de ser tratados como pessoas, como iguais. Pois cada doente é muito mais do que um conjunto atomizado de sintomas e sinais. É um ser humano com uma história complexa e única de perdas e desilusões. Numa luta constante contra a discriminação, Marco Polo provoca um repensar do profissionalismo e da ética, mostrando que quem só sabe Medicina, nem Medicina sabe. Há quem diga que há livros que nos moldam à sua imagem e semelhança. Há quem diga que há livros que se afeiçoam a nós e que se tornam nossos amigos. Há quem diga que há livros que nos instruem mais de que um curso de 6 anos. É com muito prazer que anuncio ter lido um livro assim… A saga de um pensador – O Futuro da Humanidade é um livro assim.
47
48
HajaMúsica! Visando a fomentação da cultura, seria indispensável a existência desta rubrica: o HajaMúsica!. A música está presente no nosso quotidiano, por vezes de forma intencional quando ouvimos a nossa música preferida ou aquela música que exprime o que estamos a sentir, por vezes sem que nos apercebamos, como é o caso dos jingles publicitários. Assim, esta rubrica destina-se à publicação de notícias, opiniões ou emoções relacionadas com a música. por Jorge Machado [2º ano]
O Escuro invadiu Lisboa A partir daí a viagem continuou. Bruce Dickinson assumia o controlo do palco com a sua voz potente, a sua presença entusiasmante e, obviamente, o seu vasto guarda-roupa. Como em todos os concertos da banda, os fãs puderam contar com um palco imensamente decorado com objetos relativos ao novo álbum. Imagem 24 | Iron Maiden
Foi no dia após a vitória da seleção nacional, no campeonato europeu, que os Iron Maiden voltaram a Portugal para um concerto no Meo Arena, no Parque das Nações. Eram 19h do dia 11 de julho quando se abriram as portas para o ansiado concerto da banda de heavy metal. A abertura foi feita pelos The Raven Age, uma banda do mesmo género musical cujo guitarrista, George Harris, é filho do atual baixista dos Iron Maiden, Steve Harris. A abertura foi boa apesar da pouca popularidade da banda devido à sua curta existência. O concerto em si foi aberto com a apresentação do novo álbum, The Book of Souls, um dos melhores álbuns da banda até à época numa altura em que o heavy metal já não tem a mesma relevância que tinha nos tempos iniciais da banda. Apesar de ainda recentes, If Ethernity Sould Fail e Speed of Light foram recebidas com grande euforia pelos 18 mil fãs que enchiam o pavilhão.
As músicas melhor recebidas foram, como esperado, Fear of the Dark, The Trooper, Number of the Beast, Hallowed Be Thy Name, Wasted Years e a primordial Iron Maiden. A mascote da banda, Eddie, também fez a sua presença notável no palco causando um momento especial para os fãs que seguem a banda desde o seu início, há mais de 40 anos. Foi de lamentar, apenas, os problemas de acústica que o recinto proporcionou sendo que, em algumas das músicas mais aceleradas, era praticamente impossível ouvir-se o vocalista sobre os gritos de euforia dos ouvintes. Também ficou a faltar algumas das músicas mais ouvidas da banda, como por exemplo, Run to the Hills e The Man Who Would Be King. Apesar de se ter estendido por mais meia hora que o planeado, o concerto teve de terminar deixando os fãs da banda britânica à espera do próximo concerto, quem sabe para breve. A banda prosseguiu a sua tournée pelo mundo para divulgar o seu álbum e levar a sua música a todos os cantos da terra.
49
HajaPaciência! por Tiago Rosa [5º ano]
Warning: A seguinte rubrica pretende despertar sentimentos de espanto e estupefação com a estupidez. Obrigado. Reader discretion is advised (or not). Capítulo 1(1): “All the world’s a stage!” However, let us focus on London, shall we?
Que se festeje um fogo com mais fogo, em vez de o combater
Antes de irmos à chama da questão, um pequeníssimo contexto histórico. Era o ano de 1666, ano em que ingleses venceram a batalha naval (uma verdadeira batalha, não a do jogo de tabuleiro) de Saint James’s Day, reforçando a sua supremacia naval contra os holandeses, e onde viram o annus mirabilis ano maravilhoso – de um dos seus mais proeminentes intelectuais, Isaac Newton, que, aproveitando o encerramento da Universidade de Cambridge, devido à peste, desenvolveu várias das suas teorias, sendo esse o único ano apontado para a queda da maçã. Ainda bem que o Newton estava naquele local à hora certa para testemunhar o raro fenómeno. No entanto, esse maravilhoso ano de 1666, esquecendo-nos obviamente do surto de peste, acabaria por ficar irremediavelmente marcado na alma dos ingleses quando, a 2 de setembro, um pequeno incêndio numa padaria deu início ao Grande Incêndio de Londres. Nota-se logo que foi algo importante porque tem um nome escrito com maiúsculas.
Um incêndio que durou 4 dias, destruiu 13.000 casas, matou 6 pessoas e arrasou por completo a parte da cidade interior à muralha romana, tendo vitimado no processo a original Catedral de São Paulo, uma imponente catedral… de madeira, tal como a restante cidade. Em 2016, o fogo já não assusta os ingleses, que aprenderam uma valiosa lição e, agora, constroem casas em pedra e noutros materiais mais sofisticados. Por isso, os ingleses, já podem brincar com o fogo, e resolveram celebrar este aniversário pegando fogo à cidade! Vá, a uma réplica da cidade. O evento, que se inseriu na semana das comemorações do 350º aniversário da data histórica, o London's Burning, teve como expoente máximo a destruição duma réplica de 120 metros da cidade do século XVII. A réplica foi colocada no rio Tamisa – alguém ficou com medo de alguma coisa – e deixada a arder, para que as pessoas pudessem testar a espetacularidade do fogo, de uma distância segura.
50
// HajaPaciência! A partir de hoje, o metro é dos C.A.T.S.
Imagem 25 | Foto: Frank Augstein/AP
Para efeitos de desambiguação, esta notícia refere-se ao meio de transporte, e não a qualquer outra entidade com a mesma denominação; e mais especificamente referese ao metro de Londres, na sua forma mais concreta e aprofundada – porque no fundo é um underground - da estação de Clapman Common. Desde segunda-feira, dia 2 de setembro, que esta estação foi invadida pelos C.A.T.S e pelos cats. Os transientes que utilizarem a estação vão ficar admirados com a nova decoração: nesta estação, todos os placares publicitários foram substituídos por imagens de gatos! Esta ação é da autoria do grupo Glimpse, que, através de crowdfunding, conseguiu lançar a iniciativa Citizens Advertising Takeover Service: C.A.T.S. A iniciativa, que comprou todos os 68 espaços publicitários da estação durante 2 semanas, visa despertar as pessoas para o abandono animal e, no processo, dar visibilidade aos animais de dois centros de acolhimento animal locais, o Battersea Dogs
& Cats Home e o Cats Protection, já que todas as fotos expostas são de gatos que se encontram nestes gatis. James Turner, fundador da Glimpse, que já trabalhou na área da publicidade, diz: Tentamos imaginar um mundo em que os espaços públicos nos fizessem sentir bem. Esperamos que as pessoas apreciem a estação e talvez pensem de forma diferente sobre o mundo que as rodeia. Em vez de pedirmos para comprarem alguma coisa, pedimos que pensem sobre o que é realmente valioso nas suas vidas. Podem não ser gatos, mas provavelmente é algo que não se pode encontrar em nenhuma loja. Resta-me pedir aos meus leitores, apreciadores de gatos, as minhas mais sinceras desculpas, pois quando lerem esta notícia, já não poderão comprar um bilhete para ir a Londres ver este evento inédito e, isso pode provar um sentimento de mágoa nos mais felinos de vós. Me out. (Para aqueles que me desconheciam, eu despeçome sempre desta saudosa forma, ao estilo dos gatos ingleses).
51
Conselhos da Rebeca por Mário Carneiro [6º ano]
Educação médica precisa-se, há muito malcriado por aí! Eu sou a Rebecca. Tenho 3 filhos, 5 frigoríficos e, por isso, muita experiência de vida. Faço crónicas de relevo incontestável sob a forma de conselhos, principalmente destinados a quem não os quer receber. Nem consigo explicar o quão feliz estou por estarmos de volta a mais um ano letivo! Para mim, significa a 27ª matrícula no curso de Geologia Aplicada à Gestão de Línguas, com o grande objetivo de conseguir finalmente concluir o 2º ano. Tenciono acabar o curso antes de me reformar! Ora bem, o que temos aqui? (folheando a revista) Ah, Educação Médica, muito bem. Já estava na altura. Conheço muitos médicos mal-educados. Na esperança de alcançar uma ínfima franja de pessoas que, eventualmente, tenham ou terão uma profissão onde possam vir a usufruir disto, de seguida apresento-vos um Guia da Boa Educação Médica (com o apoio Planeta DeAgostini). Primeiro de tudo, é essencial que o médico saiba qual é o seu papel. É inaceitável que os formados, ao fim de um curso de 6 anos - ou seja, no caso da pessoa média, 40 anos de curso -, não percebam qual é o verdadeiro objetivo de se ser m é d i c o : o u v i r. E o u v i r. E , e m a l g u m a s especialidades, escutar. É, portanto, de extremo mau tom que o meu doutor das cruzes me esteja a interromper logo ao fim de 40 minutos. É como se estivesse a fazer de propósito para não saber o que aconteceu ao filho de uma senhora muito amiga de uma mulher que conheci no autocarro 74, cujo homem teve um acidente de caça há cerca de 3 anos mas está a recuperar muito bem. É suposto este médico entender a minha maleita assim?!... Depois, há um ponto igualmente pertinente: a relutância perante passar as receitas fundamentais. Recordo-me de um episódio que me ficou marcado, tal foi o grosseirismo que me foi atirado à cara… Fui às Urgências do Hospital da Santa Nossa Senhora da Inocência Conceição, pois tinha dado um golpe no dedo médio do pé esquerdo e já só tinha 3 caixas de morfina em casa. Logo a abrir, fui rotulada como uma doente “não urgente” – inadmissível, igualmente, a maneira como rotulam as pessoas, como se eu fosse uma lata de grão de bico. Esperei, esperei, esperei. Quando finalmente, ao fim de dez minutos, fui atendida por uma médica – ainda por cima uma novinha, que falta de respeito, nem 20 anos deve ter andado na faculdade! –, esta disse-
me para não me preocupar porque não parecia “grave”. Que tipo de conversas poderia eu ter com as minhas amigas sendo isto verdade?... Ainda assim, pedi-lhe que me passasse as 15 receitas para mim, o meu sobrinho, a Dona Arlene e o seu cão para me ir embora. Mas qual quê? Passoume apenas uns anti-psicóticos e disse para tomar “o maior número de vezes possível”! A verdade é que não tenho visto muito a Dona Arlene desde que comecei a tomá-los. O cão, esse, continua por aí, ainda noutro dia me disse “olá”. Não podemos ainda fugir à arrogância dos médicos quando acham que sabem sempre mais do que os doentes. “Estudos científicos revelam que…”, “o que está descrito é…”, “a senhora é uma palerma…” são tudo maneiras de se porem com rodeios para nos fazerem crer que a sua opinião é superior à da plebe. Eu não vou ao hospital para pedir conselhos, para isso leio todas as crónicas que já escrevi! Quero, sim, que o médico repita fielmente tudo o que eu lhe digo, de forma a validar a minha opinião! É algo contraproducente que, ao fim de eu expor a minha verdade absoluta, ele me venha dizer que estou errada – e ainda por cima, usando argumentos! O que é isto? Que tipo de prática clínica se faz em Portugal?... Assim vamos longe, vamos! Pois a certa altura uma vizinha minha tinha azia e depois de passar um creme de canja de leão na cara passou-lhe automaticamente! Querem as vossas preciosas “provas científicas”? Neguem esta agora! Por fim: se virem um doente na rua, não finjam que não o conhecem! Já me viram zonas do corpo que muitos homens apenas imaginaram, o mínimo que podem fazer é dizer “bom dia”! E dar dois beijinhos! Perguntar “como é que vai a vida, Sra….” e tratar-nos pelo nome certo! Depois, pagar-me um café na pastelaria mais próxima! Nem têm de andar muito, pode ser aquela logo ali na esquina! Um café, uma fatia de cheesecake e dinheiro para o táxi de regresso a casa, é tudo o que peço, e depois podem voltar para as vossas vidas de superioridade e nariz empinado! Quanta bazófia. Há muito médico mal-educado por aí. Façam favor de aprender alguma coisinha. O meu conselho? Desçam desse pedestal, deixem-me falar à vontade e dêem-me 50€ no fim! Só vos ficava bem, já que ninguém gosta de vocês, seus ranhosos.
52
53
Revista HajaSaúde! Escola de Ciências da Saúde | Universidade do Minho Campus de Gualtar, 4710-057 BRAGAEmail: hajasaude.ecs@gmail.com | Site: https:// revistahajasaude.wordpress.com | Facebook: https://www.facebook.com/hajasaude.ecs | Instagram: hajasaude.ecs Escola de Medicina da Universidade do Minho Campus de Gualtar, 4710-057 Braga Telefone: +351 253 604800 Fax: +351 253 604809 Email: sec@ecsaude.uminho.pt
Life and Health Sciences Research Institute (ICVS) | Universidade do Minho Campus de Gualtar, 4710-057 Braga, Portugal Telephone: +351 253 604 800 Fax: +351 253 604 809 Email: icvs.sec@ecsaude.uminho.pt GPS: +41° 33' 47.33", -8° 24' 3.39"
Universidade do Minho Largo do Paço, 4704-553 Braga Telefone: 253 601034 E-mail: alumni@alumni.uminho.pt
Núcleo de Estudantes de Medicina da Universidade do Minho Escola de Ciências da Saúde | Universidade do Minho Campus de Gualtar, 4710-057 BRAGA Telefone: (+351) 253 604 829 E-mail: geral@nemum.com