Revista alunos de comunicacao

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Índice

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Fantasias e suas lendas

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Editorial

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Entrevista com Jamil Mouzinho

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Era Vargas e o carnaval

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O carnaval no regime político

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A história do carnaval no Pará

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Os vários carnavais do Brasil

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Proteja-se... De propagandas fracas

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Editorial

Gabriela Abdelnor, Maria Luisa Fonseca, Mario Carvalho, Alexandre Alencar

O Carnaval chegou ao Brasil em meados do século XVII, sob influência das festas carnavalescas que aconteciam na Europa. Em alguns países, como a França, o Carnaval acontecia em forma de desfiles urbanos, ou seja, os carnavalescos usavam máscaras e fantasias e saíam pelas ruas comemorando. Certos personagens têm origem europeia, mas mesmo assim foram incorporados ao Carnaval brasileiro como, por exemplo, Rei Momo, Pierrô, Colombina. A partir desse período, aos primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos cortejos de automóveis (corsos) foram criados, mas só se popularizaram no começo do século XX. O Carnaval comemorado no Brasil sofreu influência de uma festa de rua, de origem portuguesa, o Entrudo, que consistia em jogar farinha, ovo e tintas nas pessoas. Porém, a comemoração também passou por mudanças por causa do folclore indígena e a cultura africana trazida pelos escravos. No início, era comum os negros pintarem os rostos de branco e representarem nobres e seus senhores, muitas vezes fazendo certa chacota. Nesta edição trazemos textos feitos por alunos do quinto semestre de jornalismo da Unama, para poder ampliar a mente dos nossos leitores a respeito do que foi a época do Carnaval no Brasil e no Pará. Vargas consolidou o carnaval aos populares e tirou a fama “elitizada” que este movimento tinha em nosso país, portanto você irá ler mais

a respeito na matéria de Alexandre Alencar, sobre a Era Vargas e o Carnaval. Gabriela Abdelnor irá abordar em sua matéria, sobre o Carnaval no Regime Militar; como que aconteciam desfiles e, blocos de rua nas cidades que estavam passando por uma ditadura, irá saber também como que o carnaval sobreviveu com todas as censuras de uma época muito difícil do país. No Carnaval no Pará, Mario Carvalho irá falar um pouco mais a respeito de como a nossa população festeja este momento em nosso estado, quais as principais festas, as cidades mais visitadas durante esta época do ano, o famoso evento da Rainha das Rainhas, entre outras concepções. E as fantasias carnavalescas? Afinal, da onde surgiu essa ideia de sair pelas ruas, escolas de samba, e festas vestidos de outros personagens? Será que as fantasias serviam para a sociedade assumir uma nova personalidade? Isso e mais você verá na matéria Fantasiando o Carnaval, de Malu Fonseca. Iremos também apresentar mais duas matérias exclusivas para vocês, Os vários Carnavais do Brasil, citando as principais festas carnavalescas e as menos noticiadas também, de Gabriela Abdelnor e Maria Luisa Fonseca e Proteja-se...de propagandas fracas que fala sobre as falsas propagandas do combate ao HIV. Isso, você só saberá assim que começar a ler nossa revista. Vem com a gente que esta edição está imperdível! Revista Carnavalizando Carnavalizando

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Fantasiando o Carnaval Maria Luisa Fonseca

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ocê já fantasiou algo? Geralmente fantasiar alguma coisa significa idealizar, poder imaginar algo que não temos e queremos ter, como fantasiar um mundo que não existe. Algo não real, abstrato. Daí vem as fantasias. As fantasias de carnaval foram criadas com o objetivo de ter uma dupla personalidade, se vestir de alguém que tem vontade de ser. Além de satirizar a política da época em que tomou poder: idade média. Já que o Carnaval antigamente era voltado para o cunho político. Tanto que, as máscaras ganharam um movimento maior quando começaram a fabricar rostos de políticos. Já que se falou das máscaras, por que não iniciar por sua história, antes de aprofundarmos mais nas fantasias carnavalescas, já que estas surgiram depois. As máscaras se inventaram na Grécia antiga, com um elemento teatral fazendo alusão a dois principais gêneros da época: a tragédia, que era voltada à natureza humana, o destino dos homens contralados pelos deuses; e a comédia era uma crítica à política e a sociedade ateniense. Logo depois, as máscaras chegaram a Veneza, onde na parte menos acessada da cidade, se tinham os melhores bailes de Carnaval, que são famosos até hoje. Os ricos para não serem reconhecidos, se disfarçavam para poder participar dessas festas. E assim começou a história da fantasia. Por muito tempo o povo vestiu suas fantasias durante o carnaval, brincavam e se fingiam de outras pessoas por pura diversão. Porém, houve uma época (tribunal da santa inquisição), que a Igreja foi contra essa Revista Carnavalizando Carnavalizando

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Fotos: Maria Luisa Fonseca

Tecidos brilhosos que chamam a atenção durante essa época do ano

forma de movimento e proibiu algumas fantasias; quem desrespeitasse poderia até ser queimado. Tanta “guerra” apenas por conta das pobres fantasias. Que de santa, não tem nada. As fantasias tem o ar malicioso, isso é fato. Nesta época, o povo satirizava a paixão de cristo, e ironizava a igreja. Por conta disso, usavam fantasias sobre diabos, padres, freiras, tudo para satirizar os santos, os reis e os impostos. A Igreja achava que o carnaval era uma festa que atraía os bacanais: carnaval, carne. O que não deixa de ter um pouco de verdade, lá entra a história da malícia mais uma vez. Nessa época também surgiram as famosas fantasias de Rei Momo, Colombina e Pierrô, originárias da commedia dell’arte. O Rei Momo, com sua personalidade sarcástica, nada mais era do que a peça chave do carnaval. A colombina era uma satirização a empregadas das damas parisienses, e eram caracterizadas como irônicas, bonitas e inteligentes, que sempre se envolviam em intrigas e acabou tendo um amor. Pierrot era um bobo apaixonado, que tinha um humor triste meio palhaço. Todos dizem que era meio doido, que não vivia na realida6

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de, e usava roupas extremamente grandes, com cores pretas e brancas, rosto pintado de branco com uma lágrima embaixo. A lágrima significava a tristeza pelo amor não correspondido da Colombina. Los Hermanos já dizia “o pierrot apaixonado chora pelo amor da colombina, e é sua sina chorar na ilusão em vão, em vão”. Era como se fosse um triângulo amoroso, em que Colombina traiu o Pierrô com o Arlequim, que servia de diversão para o público nos intervalos das peças teatrais. E no final da história mais uma vez a canção de Los Hermanos se encaixa perfeitamente: “e o pierrot só queria amar e dar um basta a esta dor já sem fim, mas colombina trocou seu amor por arlequim. E o pierrot, chora!”. Mas e o Brasil? Onde entra nessa história toda? Logo os brasileiros, que são apaixonados pelas festas de carnaval, e sempre se vestem adequadamente ao momento, com fantasias que as vezes são escolhidas o ano inteiro. E as escolas de samba? Com tantas fantasias exuberantes, como foi que surgiu essa ideia de criá-las nos desfiles mais famosos do Brasil? Pois bem, foi em 1870 que essas fantasias


carnavalescas chegaram com grande importância no nosso país tropical para poder dar mais diversão as festas. As fantasias são a grande diferença entre os foliões. Em 1930 não passavam de peças simples, roupas que você pega em seu armário, ou seja, adaptadas, tingidas manualmente e enfeitadas de uma forma menos valorizada. Geralmente quem usava materiais mais ricos, luxuosos, com tecidos, ornamentos, adereços de cabeça, era a elite, que frequentava os famosos bailes carnavalescos em grandes clubes das cidades, que foram realizados no Brasil, no mesmo modelo dos bailes de Veneza, por Clóvis Bornay. Nos blocos de rua é comum se ver um grupo de amigos vestidos com a mesma fantasia, e assim era antigamente. Nas escolas de samba as fantasias de maior valor são as de mestre sala e porta bandeira. Jamil Mouzinho, carnavalesco da Piratas da Batucada – PA, explicou que no desfile de As famosas máscaras satirizando os políticos carnaval a porta bandeira vem carregando consigo, o emblema da escola, a bandeira dela, tornado-se assim a figura representativa das escolas de samba. Já o mestre sala serve para proteger essa bandeira, por isso as coreografias feitas por ele, de girar em torno da moça, para não deixar ninguém chegar perto dela. Outra fantasia importante de uma escola de samba é a da comissão de frente. Essa vem abrindo os desfiles das escolas, e geralmente vem com uma surpresa a mais em cada ano. As fantasias das escolas de samba devem estar de acordo com o samba enredo, pois ao decorrer do desfile, essas irão explicar toda a história. Os jurados buscam julgar nas fantasias carnavalescas, em desfiles das escolas de samba, o cromatismo, acabamento e concepção. Além da uniformidade, será que o que se ver nos desfiles está de acordo com a análise dos jurados? É Chapéuzinho vermelho é uma das fantasias mais pedidas necessário ter criatividade, significado e importância para o enredo. Ou seja, o que mais alegria do Carnaval, pois são elas dão um coimporta numa escola de samba é o enredo e lorido a festa e chamam atenção do público, as fantasias. Em geral, as fantasias fazem a já que existe um mistério em torno disso. Revista Carnavalizando Carnavalizando

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Entrevista:

Jamil Mouzinho

ando Foto: Acervo pessoal

samba é literário. Por quê? Porque é a partir de uma sinopse que é concebido todo o projeto de um carnaval. É a partir da escrita, daquilo que é feito. Seja de forma poética, ou seja em forma de prosa mesmo que é feito um carnaval. Então, o primeiro passo para um carnaval é a literatura. O que seria uma sinopse carnavalesca? A sinopse é um texto que vai nortear, no primeiro passo. Aquilo que os compositores vão poder ter como base escrever o samba enredo e a partir daí o carnavalesco montar o seu projeto de carnaval, de como ele pretende apresentar na avenida através de uma planta, que a gente chama de planta baixa. A partir disso tudo é que vai se saber o que é uma comissão de frente, o que vai sair no primeiro carro alegórico, o que vai ser uma ala, as fantasias, o que vai vestir um casal de mestre sala e porta bandeira.

Diretor da escola de samba paraense “Piratas da Batucada”, Jamil Mouzinho, de 48 anos, é responsável por conceber o carnaval do Pará e ajudar na execução dele. Está mais ligado à parte literária da folia e é adepto de uma filosofia que o primeiro passo para um grande carnaval feito pelas escolas de samba é a literatura. Mouzinho é autor da trilogia de enredos que homenageia famosos escritores paraenses para a escola de samba “Quem São Eles”. Escreveu Bendito Monteiro, Paes Loureiro e Dalcídio Jurandir. Nesta entrevista, Jamil Mouzinho irá contar um pouco sobre o processo do carnaval em Belém do Pará. Qual seu papel no meio carnavalesco? Quem concebe e que lá na frente pensa nesse projeto para poder executar, essa é a figura do carnavalesco. Eu não me enquadro nesse processo. Eu concebo o carnaval e ajudo na execução dele. A minha parte é mais literária, eu sou adepto de uma filosofia de que o carnaval, o primeiro passo para um grande carnaval feito por uma escola de 8

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Como surgem as ideias para uma sinopse? E a partir de quanto tempo começam a pensar a respeito dessas ideias? Se a escola, através de sua presidência, da sua diretoria, não tem nada concebido, ela deixa o carnavalesco à vontade pra criar. Hoje por conta de todo o processo que o carnaval de Belém já passou, é comum uma escola de samba procurar um enredo que tenha possibilidade de patrocínio. Seja através de homenagem a um município, seja através de uma possibilidade de empresa patrocinar. Não existe uma linha pré-determinada do que vai ser o enredo. Quando não é assim, numa linha de patrocínio, aí a escola deixa a vontade o carnavalesco poder criar. Por exemplo, ano que vem Belém completa 400 anos, já foi dito pela prefeitura que ela tende direcionar os enredos para os 400 anos, deixando as escolas à vontade para criar enredos que venham a celebrar essa data. É muito peculiar de cada escola as escolhas dos enredos. Tem enredos que são pensados


para os próximos três anos. Eu sou autor da trilogia de enredos homenageando escritores paraenses para a escola “Quem São Eles?”. Algumas escolas independentes da prefeitura, ano passado já estavam pensando em enredos para os 400 anos de Belém. Isso é questão do tempo, do pensar. O ideal seria acabando o carnaval, descansa um pouco e a partir da segunda quinzena do mês de abril já pensar pro próximo ano, lançando esse enredo até o final de abril e começar a pensar nas fantasias já prontas pra novembro. Belém já foi considerado um dos melhores carnavais do Brasil, hoje em dia não mais. Em sua opinião, o que está faltando, o que deve ser feito para Belém voltar a ser vista nessa época do ano? Essas situações que eu te digo, o que precisa pro carnaval paraense é de ações conjuntas do poder público com as escolas pra poder também, ter uma forma de atrair o olhar da iniciativa privada. Esse é o primeiro passo. Com a iniciativa privada, com esses investimentos, na área social, sociocultural existe uma grande possibilidade de atrair esse olha da iniciativa privada pra que a gente possa desenvolver projetos maiores a longo prazo e que vai interferir automaticamente na qualidade daquilo que vai ser apresentado como produto final, que é o próprio carnaval, desfiles de uma escola de samba. O produto final muito bem acabado, muito bem feito, muito bem executado, ele chama atenção da opinião pública. Chamou atenção da opinião pública, a imprensa vem. Na hora que a imprensa vem, o turismo vem. A partir do momento que a iniciativa privada começa a apostar, o carnaval propriamente dito das escolas dos blocos, começam a dar um grande passo pra independência do poder público e passa a ser privado, através de uma liga como é no Rio de Janeiro, que o carnaval é vendido em cotas. Seria o ideal hoje para o nosso carnaval, se desvencilhar do poder público.

Qual a importância de uma fantasia para o carnaval, no seu olhar de carnavalesco e quantas costureiras precisa em média? Dentro do enredo a importância é que ela te fala de forma figurativa de uma parte da história que ta sendo contada. As fantasias elas são concebidas a partir do que o carnavalesco está pensando no seu desenvolvimento pro carnaval. Existem hoje algumas cooperativas que as escolas já utilizam para a confecção de fantasias, mas não tenha dúvidas que uma faixa de dez no mínimo. São 80 a 100 fantasias por ala e uma escola grande, de primeiro grupo, leva uma faixa de dez alas A gente sabe que o carnaval, desde quando ele chegou ao Brasil, veio passando por várias transformações, e junto com ele as fantasias, porque quando o carnaval era na Europa ele tinha uma forma de as pessoas lá de as pessoas se fantasiarem. Quando chegou aqui no Brasil, algumas fantasias permaneceram, outras foram alteradas pra nossa cultura. A partir de que momento podemos ver essas transformações? A transformação ocorre a partir da própria transformação das escolas de samba. Por exemplo, na época da ditadura, os enredos eram bem fechados no sentido de serem históricos, “Descobrimento do Brasil”, tudo o que pudesse desviar a atenção do que estava acontecendo ou para exaltar a própria questão do governo. Mas, voltando à questão das fantasias, o processo de transformação foi um processo natural a partir do momento em que as escolas de samba, como na época em que as do Rio de Janeiro eram controladas pela polícia, para poderem até mesmo conversar sobre aquele tema, teriam que passar por uma autorização. Então, essas transformações de formas de fazer e de ter as fantasias foram acompanhadas ao longo do tempo, não teve um fato específico e então “bum” aconteceu e tiveram que mudar, elas foram mudando na medida em que o tempo Revista Carnavalizando Carnavalizando

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foi passando e foi havendo, digamos, sendo desenvolvida uma dinâmica para esse carnaval, uma hora solta como era antigamente, porque tinha a figura da porta-bandeira, que sempre teve a mesma função, mas ela tinha um momento de apresentação única com o mestre de sala dela. Então ela vinha sempre, em uma época havia a exigência da cor, a roupa tinha que ser na cor da escola e não poderia fugir daquele padrão, aí depois passou a ser temática. Não tenho nenhum tipo de argumento forte pra dizer o que foi que mudou, o que proporcionou essa mudança, foi assimilando a cada tempo, a cada período, teve uma característica, e essas características automaticamente foram se agregando ao universo da escola de samba, além da concepção do próprio carnavalesco, sendo a sua figura não tão antiga como pensamos, ela é bem contemporânea. Como era pensado nas fantasias da Rainha das Rainhas antigamente? Se formos ver o que era, há sessenta anos, o concurso “Rainha das Rainhas do Carnaval” com concorrentes lindamente vestidas, não tinha aquele resplendor imenso nas costas, não tinha coreografia e nem um desfile de fantasia. Para ter uma ideia das fantasias, as rainhas saiam num carro aberto, em cima dos carros municipais para ir para a assembleia da Presidente Vargas, que era ali que se localizava o concurso, naquela boate, daquele tamanho. Para você ver como também cresce em dimensão esse carnaval, que hoje é um espetáculo que acontece no Hangar, que tem toda uma coreografia e aquele resplendor enorme, em que a menina sobe e desce, some e aparece. Quer dizer, é um processo, mas quando surgiu e até a década de 70 e 80, as fantasias eram comportadíssimas, não tinha resplendor, a roupa era mais bordada na mão. Hoje, a medida em que vão surgindo esses novos recursos, artísticos inclusive, não é mais necessário bordar tanto como bordava antigamente. Vou citar um setor da escola de samba: quando surgiram as comissões de frente, o que 10

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eram? A velha guarda. Vinha geralmente um fraque nas cores da escola e uma cartola; de uns tempos pra cá, da década de 80 pra cá, o que houve? A comissão de frente começou a se teatralizar, com personagens que poderiam ser homogêneos representando, por exemplo, a água com uma coreografia própria, mas ainda tendo como função essencial apresentar a escola de samba. Esse processo de transformação, como foi pra acontecer? Foi algo natural de desenvolvimento a partir de um contexto

Hoje, a medida em que vão surgindo esses novos recursos, artísticos inclusive, não é mais necessário bordar tanto como bordava antigamente

histórico que estava sendo vivido na época, foi se adaptando à época em que estava acontecendo. O investimento do “Rainha das Rainhas” é ilusório. Hoje, a moça que é rainha do clube, se ela não “der o jeito dela”, acaba por não ter a sua fantasia, porque os clubes não estão mais patrocinando. Quem patrocina ainda, que se sabe, é a Assembleia Paraense e o Grêmio Literário Português, o resto não está mais. Quer dizer, a moça que quer concorrer, ela pode até conseguir, tendo o estilista dela, sabe que vai ter que correr atrás de dinheiro para fazer a fantasia dela. Ou, às vezes, o próprio estilista tem a liberdade de oferecer a fantasia, propondo que o prêmio seja partilhado. Tudo isso é necessário para manter vivo o concurso, que é uma tradição que já está caindo, porque nem na grade da TV Liberal está sendo colocada por ser caríssimo, e de madrugada.


Campanhas do Ministério da Saúde

Proteja-se... De propagandas fracas Mario Carvalho / Alexandre Alencar

Em meio à folia do Carnaval, todos os anos uma coisa chama a atenção: as campanhas publicitárias voltadas para prevenção do vírus HIV surgem na mídia, como se esse fosse o único período em que as pessoas estão vulneráveis à doença. Durante o resto do ano não existe um comercial que fale sobre o assunto. O mais irônico é que já se passaram anos desde o começo dessa campanha e nada muda desde lá. Trocam-se os discursos, cenários e atores, mas a ideia é sempre a mesma: proteja-se, use camisinha. Parece que não existem outras doenças, outros problemas sociais durante a época, outra abordagem. Tudo se resume a usar camisinha e evitar a AIDS. Esse ano a grande inovação da campanha foi utilizar uma hashtag (marcação para redes sociais) antes da frase, ficando dessa forma: #proteja-se. Isso, de acordo com o Ministério da Saúde, aproxima a ideia da propaganda com os jovens durante o Carnaval e deveria ajudar o público a se conscientizar. Mas o resultado disso foi revelado no último levantamento feito pela Unaids (programa de AIDS das Nações Unidas): nos últimos oito anos, o número de soropositivos cresceu 11% no Brasil, sendo que 54% deles têm o vírus sem saber. Nasce, portanto, um novo debate em relação à

eficácia dessas campanhas publicitárias. Elas não funcionam como deveriam, não conseguem atingir o público desejado e nem reduzir os índices da doença. O governo tem de ir além dos folhetos entregues ao longo das rodovias que dão acesso aos locais de folia, e se preocupar com ações efetivas. A AIDS deve ser tratada como um caso de problema na saúde pública e não como vem sendo, com comerciais debatendo o assunto e dando pouca importância. A impressão é de que essas propagandas são veiculadas apenas com função de cumprir tabela, por parte do governo. Mostrar que está sendo feito algo seria muito mais eficaz se houvesse um resultado positivo. A melhor propaganda é a satisfação dos “clientes”. Quem assiste às propagandas não percebe o quão fracas elas são e não questionam o conteúdo das campanhas. De acordo com o publicitário Hans Costa, as propagandas deveriam conter informações mais relevantes, como o número de usuários que possuem o vírus HIV. “As propagandas governamentais seriam muito mais chocantes e eficazes se os espectadores conseguissem dimensionar o tamanho do problema que é a Aids no Brasil.”, explicou Hans Costa, mestrando em Publicidade e Propaganda pela Universidade Federal do Pará. Revista Carnavalizando Carnavalizando

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Desfile de carro alegórico em São Paulo, no ano de 1962, quando o samba já havia se espalhado pelo país

Carnaval: um misto de política e folia Nome do aluno

De Norte a Sul do Brasil, o carnaval é uma das poucas festas que une culturas tão distintas. Um folião pode assistir ao desfile de uma escola de samba tanto em Aracaju e Porto Velho quanto em São Paulo ou Curitiba. E, ainda que alguns lugares não reservem à festa a grandiosidade do sambódromo da Marquês de Sapucaí, a essência da folia é basicamente a mesma. Poucos sabem, porém, que a perenidade e a uniformidade do carnaval brasileiro têm uma origem política. A folia faz parte de um processo que culminou com a propaganda nacionalista do ex-presidente Getúlio Vargas, que governou o país de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. É o que explica o historiador Jadilson Silveira. “O samba vinha sem uma identidade própria, com 12

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muitos ritmos ainda misturados. Com a difusão das rádios, vai se legitimando o que a gente conhece hoje como Samba de Estácio”, explica Jadilson. “Quando Getúlio chega ao poder, ele percebe o samba como movimento popular e, em 1932, regulamenta os desfiles de escolas de samba”, conta. O professor afirma que foi a partir daí que o carnaval dos pobres, das escolas de samba dos morros, se misturou à folia dos ricos, marcado pelo desfile de corsos, com automóveis enfeitados que vieram a dar origem aos atuais carros alegóricos. E a propaganda getulista tratou de difundir aquela festa pelo país como símbolo de brasilidade. Não apenas os desfiles, mas também as letras dos sambas foram incentivadas por Vargas.


O cientista político Adrian Silva, da UFPA, explica que o presidente encomendava de compositores renomados letras com conteúdo que enaltecesse a moral brasileira: “Canções como Recenseamento, de Carmen Miranda, e O Bonde São Januário, de Ataulfo Alves, que celebravam o trabalho ao invés da malandragem, são sintomáticas desse período”, diz Adrian. Apesar da censura das marchinhas, Getúlio utilizava-as para seu benefício também. João de Barro e José Maria de Abreu criaram, em 1950, uma marchinha com a letra: “Ai, Gegê! Ai, Gegê, que saudades Que nós temos de você”. Mas nenhuma marchinha ou letra pró Getúlio simbolizam tanto a influência político-ideológica nas composições da época como o samba-enredo da escola de samba Deixa Falar, conhecida como a primeira do Brasil. Além de desfilarem, no ano de 1929, utilizando cavalos da Polícia Militar do Rio de Janeiro em sua co-

Cientista político, Adrian Silva

Quando Getúlio chega ao poder, ele percebe o samba como movimento popular e, em 1932, regulamenta os desfiles de escolas de samba Jadilson Silveira, historiador

missão de frente, seu título de samba-enredo era nada menos que “A Primavera e a Revolução de Outubro”, uma homenagem à tomada do poder getulista em 1930. A criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) foi responsável por difundir o samba da então capital federal para todo o

Professor e historiador. Jadilson Silveira

país, por meio das rádios nacionais. “Aos poucos, o samba foi caindo no gosto do brasileiro”, afirma o historiador. Ele diz ainda que outras ações para popularizar a arte no Brasil incluíam o ensino de música nas escolas comandada pelo músico Heitor Villa-Lobos e a criação do Dia da Música Popular Brasileira, evento organizado em 1939. Revista Carnavalizando Carnavalizando

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Imagens: Internet

Cartazes feitos para protesto na época da ditadura.

Carnaval no Regime Militar Gabriela Abdelnor

De 1964 a 1985 o Brasil viveu um regime político marcado fortemente pelo autoritarismo, censura aos meios de comunicação e aos artistas, repressão a qualquer tipo de movimento social e manifestações de oposição, cassação dos direitos políticos dos opositores, violência aos que eram contra o regime, entre outros. O poder estava todo concentrado na mão do Estado, o qual possuía a autoridade em privar a liberdade dos indivíduos. Foram 20 anos de grandes perdas dos direitos democráticos. Durante esse período de grande repressão, brincar o carnaval não era bem assim como é realizado hoje, pois nessa época, tal qual acontecia com letras de músicas, peças de teatro e filmes, essa festa não escapava às tesouras da censura. Todos os blocos de rua, clubes, cordões e escolas de samba, dos mais simples aos mais ricos, tinham de montar extensos dossiês com toda a documentação que pudessem produzir para explicar, nos mínimos detalhes o seu carnaval. Relatavam de 14

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maneira minuciosa seus temas em protocolos, aos quais anexavam croquis das fantasias e dos carros alegóricos, coloridos a tinta e decorados com purpurina. Mandavam as letras com as piadas e trocadilhos enunciados e, depois de todo o trabalho, restava torcer pela aprovação dos militares. Só assim poderiam ganhar as ruas. Os ensaios eram vigiados pelo Estado e as letras dos sambas eram modificadas. Entre 1973 e 1985, a censura não monitorava muito os foliões, a não ser que esses fizessem alguma apologia ao regime ditatorial. “Autor de livros sobre o carnaval, o historiador Luiz Antônio Simas, diz que a história não é tão simples assim. No recém-lançado “Pra tudo começar na quinta-feira: o enredo dos enredos”, escrito em parceria com Fábio Fabato, é um ótimo livro para quem é fascinado por essa festa, pois conta sobre a história dos enredos das escolas de samba do Rio de Janeiro e os seus criadores”, relata o professor e historiador Edilon Coelho. Ainda de acordo com o professor, o autor cita três episó-


A imagem foi censurada e desfilou pelo Sambódromo tapada com papel preto, com a frase

A Banda de Ipanema, primeiro bloco de rua do RJ

dios emblemáticos de censura: Um deles é quando o Salgueiro desfilou em 1967, pouco antes da instauração do AI-5, com “A história da liberdade no Brasil”, os ensaios foram monitorados pelos agentes do DOPS. Durante os ensaios dessa escola de samba faltava luz nas quadras, uma forma de boicotar o desfile. O Império Serrano, surgido no final da década de 1940, era uma agremiação nascida no ápice da rebeldia, que se atreveu a desfilar com o enredo “Heróis da Liberdade”, em 1969. No final desse samba, a palavra “revolução”, por intervenção dos censores, virou “evolução”. A Unidos da Vila Isabel criou o tema “Aruanã Açu”, em 1974, contando sobre os índios Carajás. A letra original exaltava-os e fazia críticas severas ao progresso desenfreado. Devido às pressões feitas pelo regime, a escola de samba foi obrigada a transformar o enredo em uma rara apologia à rodovia construída pela ditadura, a famosa Transamazônica. Com isso, descartou-se um maravilhoso samba de Martinho da Vila que denunciava o drama vivido pelos indígenas. Tempos depois houve um grande desdobramento e, Martinho da Vila grava a música com o título “Festas dos Carajás”, que se tornou muito mais apreciada do que o samba-enredo patriota tocado na avenida. Outro livro que relata a história do carnaval durante a ditadura militar é o “Salgueiro, 50 anos de glória”, de Haroldo Costa. Onde o autor conta as curiosidades de cada enredo, montando todo um perfil da maior festa do país através do samba e das melodias. Mas não é só isso, Costa relata também que a escola foi uma das poucas a desfi-

lar no período do regime e, a primeira que falou sobre a história da liberdade, com o enredo “A História da Liberdade no Brasil.” Você deve estar se perguntando como isso foi possível? Pois bem, o carnavalesco ousado, Fernando Pamplona, utilizou-se da arte e de toda a sua inteligência para driblar a censura e por fim conseguiu! A ditadura não se limitou apenas ao carnaval do Rio de Janeiro. No Pará, essa festa durante o governo militar não foi diferente. Ele aconteceu sim, mas também sobre forte vigilância do estado, assim como todas as outras manifestações culturais. Os blocos, as escolas de samba e as marchinhas tinham que passar pela peneira da censura dos militares. E Tudo que de certa forma fosse contra ao regime que estava imposto era proibido. Um exemplo disso são as marchinhas, que eram feitas baseadas na repressão vivida pelo Brasil, mas sem deixar explicita a apologia feita ao Estado. Pode-se perceber essa questão na letra “A Banda” que de certa forma alfinetava a ditadura e que conta sobre a tristeza vivida pela sociedade daquela época. “Estava à toa na vida, o meu amor me chamou, pra ver a banda passar, cantando coisas de amor. A minha gente sofrida, despediu-se da dor. Pra ver a banda passar, cantando coisas de amor...” Essa música não foi proibida pelo fato de o governo não ter sacado a satirização ao período vivido. De certa forma pesquisar o carnaval é difícil, já que muitos personagens não estão mais vivos, e as escolas e os blocos nunca tiveram o costume de guardar documentos que contem de fato a sua história. Revista Carnavalizando Carnavalizando

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Imagens: Internet

Rio e sua formosura das escolas de samba

Os vários carnavais do Brasil Gabriela Abdelnor Maria Luisa Fonseca

Não era só de “ziriguidum”, mulatas e do samba que o Carnaval foi feito durante séculos. Essa festa tão popular chegou ao Brasil em meados do século XVII, com forte influência do carnaval realizado na Europa. Logo quando surgiu, a festa carnavalesca tinha cunho político e elitizado, onde os negros não tinham espaço. Não se sabe exatamente quando surgiu o carnaval, mas muitos historiadores defendem a ideia de que essa celebração acontecia antes do nascimento de Cristo, ou seja, do surgimento da própria Igreja Católica. E passou por inúmeras mudanças até se adaptar à cultura brasileira. Pensou carnaval, lembrou logo do Brasil. Mas engana-se quem pensa que essa folia sempre fez parte da nossa cultura popular, ou que é uma invenção brasileira, ou que até mesmo, é somente privilégio desse País em possuí-lo. Esse movimento conhecido mundialmente, se instalou no Brasil pela primeira vez com o entrudo, em 1641, 16

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na cidade do Rio de Janeiro. Era uma festa realizada no período colonial, onde todas as famílias participavam e também os escravos. Consistia em uma brincadeira de atirar baldes d’água e balões cheios de vinagre ou groselha, com a intenção de molhar e sujar os foliões. A farra foi proibida várias vezes até desaparecer no início do século XX. No Brasil o primeiro desfile de carnaval aconteceu em 1855, quando um grupo de intelectuais criou um bloco chamado “Congresso das Sumidades Carnavalescas”, onde os participantes se reuniram e foram até o palácio de São Cristóvão para pedir que Dom Pedro II assistisse ao desfile. O Imperador confirmou presença, e lá estava ele! Em 1889, os desfiles de blocos pelas ruas foram autorizados pela polícia do Rio de Janeiro. Em 12 de agosto de 1928 criou-se a primeira escola de Samba do Rio de Janeiro, “Deixa Falar”. Nesse mesmo período houve o surgimento do Samba Moderno. Os dois maiores e mais marcan-


Salvador e seus carros elétricos que agitam a Cidade durante os cindo dias de festa

tes produtos das transformações de manifestações culturais que ocorreram no carnaval carioca. Já que antes desses aparecimentos existiam a Grandes Sociedades Carnavalescas compostas pela elite da cidade, ou os clubes sociais que ofereciam vários tipos de festas, organizavam cortejos carnavalescos, ou promoviam desfiles pelas ruas do Rio usando alegorias com a intenção de satirizar o governo. No antigo carnaval carioca a atração principal eram as extintas “sociedades” ou clubes que desfilavam e competiam entre elas. A Cidade Maravilhosa tem festas carnavalescas para todos os tipos de gostos. Com o passar do tempo, esse evento foi se modificando e ganhando novas formas. Os desfiles que antes eram apenas uma forma de satirização, como citado acima, hoje já são feitos com temas livres, de acordo com a escolha do carnavalesco da escola. As escolas mostram muita riqueza em suas fantasias, e isso encanta os turistas que chegam a toda hora na cidade. Para o carnavalesco Jamil Mouzinho, os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, não passam de uma Disneylândia brasileira, que chamam a atenção dos turistas nacionais e inter-

nacionais para poder lucrar no mundo capitalista. Mas o carnaval não é feito apenas da Marquês de Sapucaí. Existem também os grandes blocos de rua que marcam presença nessa época do ano. “O Cordão da Bola Preta” embala milhões de pessoas na Avenida Rio Branco, tradicionalmente aos sábados desde 1918, sendo o mais antigo bloco de carnaval do Rio. O desfile começa por volta das 9 horas da manhã e vai ate às 14 horas. Outro bloco de grande fama na região é a “Banda de Ipanema” que surgiu em 1965 fazendo uma crítica a ditadura militar que havia começado no ano anterior. A Banda foi tão importante para a história do carnaval de rua do Rio de Janeiro que virou patrimônio cultural da cidade. O rio de janeiro não é a única cidade privilegiada por ter os seus famosos desfiles de carnaval. São Paulo também entra nessa disputa com as exuberantes escolas de samba que desfilam no sambódromo do Anhembi, onde atraem inúmeros famosos e turistas do mundo todo. No município do estado, mais exatamente em São Luiz do Paraitinga, ocorre uma tradicional festa de carnaval, onde é proibido tocar alguns estilos musicais como Revista Carnavalizando Carnavalizando

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Recife e animação de seu ritmo típico: o frevo

sertanejo, axé, pagode e funk, para tocar somente marchinhas. Esse é o primeiro e segundo item dos dez mandamentos do folião da cidade. Saindo do Sudeste e indo para o Nordeste temos dois outros formatos de carnaval bastante conhecidos mundialmente, Salvador e Recife que inclui também Olinda. A música cantada pela Banda Eva, já diz: “we are Carnaval, we are folia, we are the world of carnaval, we are Bahia”. Ou seja, a Bahia tem fama de ter o carnaval mais badalado e animado de todas as regiões do país. É composta por trios elétricos com muito axé, que arrastam centenas de foliões durante os cinco dias de festa. Ivete Sangalo, Durval Lelys, Bell Marques, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Claudia Leite, Harmonia do Samba, Banda Eva, Carlinhos Brown, são algumas das principais atrações que agitam a cidade em cima desses famosos trios elétricos. Os filhos de Gandhi também fazem parte dessa festa carnavalesca. O bloco foi fundado por estivadores portuários da cidade no dia 18 de fevereiro de 1949, se tornou o maior e o mais belo Afoxé do Carnaval Baiano. Outro bloco-afro de sucesso no estado é o Olodum, que se originou em 25 de abril 18

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de 1979, para garantir o direito de brincarem o carnaval, aos moradores do Pelourinho. Brincadeira essa que se tornou uma organização não governamental do movimento negro brasileiro. “Amo Salvador e o carnaval de lá... O povo é educado e receptivo. A segurança é o ponto forte, até truculenta a PM. Porém talvez por isso tenha pouca confusões. Os camarotes são legais, os mais caros tem tudo: salão, massagem, costureiras e restaurantes. Pessoas do Brasil inteiro, na mesma vibe... Cada bloco com um perfil diferente, pessoas diferentes”, conta a foliã Consuelo de Azevedo, que marca presença todo ano nessa festa. Em recife a festa é completamente diferente. Lá, a tradição é o bloco do “Galo da Madrugada”, que representa o início do carnaval na cidade. É o maior e mais famoso do mundo reunindo milhões de pessoas durante seis dias seguidos de pura folia, onde todos os participantes dançam ao som de muito frevo e também do samba. O frevo é um estilo musical que se originou através de combinações de culturas europeias e afro-brasileiras. Sendo o mais tocado no carnaval de Recife e Olinda, ele anima e contagia os foliões pelas ruas e


Bloco das Cachorras com suas percusionistas.

ladeiras da cidade. Não existe nenhum tipo de proibição musical e o carnaval é livre para todos. Durante a folia acontece “A Noite dos Tambores Silenciosos”, uma homenagem aos escravos africanos que morreram na prisão. Mas não é só de frevo que é feito o carnaval pernambucano. Outra marca muito forte, são os bonecos gigantes construídos de papel, madeira e tecido que saem desfilando a sua exuberância pelas ruas de Olinda para animar e encantar os brincantes. Esses bonecos representam personalidades históricas importantes do Brasil e do mundo como os políticos, atletas, músicos e artistas famosos. Um dos mais conhecidos e tradicionais é o “Homem da meia-noite”, criado em 1932. Tempos depois foram criados a “Mulher do meio dia” e o “Menino da tarde”, dando assim início ao Encontro dos Bonecos Gigantes, onde vários bonecos de diversos artistas se encontram para desfilar na terça feira de carnaval no Centro Histórico de Olinda. João Carlos Martins, que já esteve presente nessa folia, conta que é um carnaval multicultural que valoriza as tradições culturais de Pernambuco, exaltando as danças como frevo, maracatu, caboclinho,

ciranda de roda e pastorinhos. Pra ele, Recife tem o melhor carnaval do mundo. Engana-se quem pensa que as festas de Carnaval estão restritas apenas nas cidades como Rio de Janeiro, por seus desfiles exuberantes, Salvador por suas micaretas, Recife com o famoso Galo da Madrugada, e São Paulo também por seus desfiles pomposos. O Brasil tem vários tipos de carnavais espalhados pelas regiões de Norte a Sul. Vamos fazer um percurso por essas regiões. Começaremos pelo Norte. O que se tem no Norte em época do Carnaval? Bom, poucos sabem, mas antigamente logo nos primórdios, o carnaval de Belém era melhor do que o do Rio de Janeiro. Com o passar do tempo, isso foi mudando. Agora o carnaval belenense, não tão famoso quanto antes, mas com muita animação, reúne grupos de amigos que seguem atrás de pequenos trios elétricos que embalam as ruas da cidade, além dos desfiles das escolas de samba que também tem suas fieis torcidas. Conhecida pelo seu Boi-Bumbá, Manaus tem um carnaval típico de sua região e de seus costumes. Com referência ao Boi e a Parintins, a cidade tem nessa época do ano o Carnaboi, que Revista Carnavalizando Carnavalizando

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mistura a batida carnavalesca, o Garantido, e o Caprichoso, e leva uma multidão ao som de trios elétricos no sambódromo. Uma região com dois costumes completamente diferentes um do outro, levando a alegria a muitos seguidores que brincam o Carnaval. Partindo da região Norte, para o Nordeste do Brasil, temos Fortaleza. Que bela cidade! Conhecida pelo seu ano novo, que vem crescendo a cada ano que passa ninguém diz que no carnaval, a animação também contagia a cidade. Quem mora ou já morou em Fortaleza sabe que os moradores vivem o carnaval. Passando-se a famosa festa de réveillon na Praia de Iracema, duas semanas depois começam os primeiros sinais de carnaval na cidade: pequenos carros de som que desfilam pela cidade em pontos estratégicos, e com um pequeno grupo de pessoas embalados pelas músicas tocadas. São os famosos “pré-carnavais”. O famoso pré-carnaval acontece na Praia de Iracema e conta com alguns blocos formados geralmente pelos bairros da cidade. Como por exemplo, o Bloco das Cachorras, um grupo só de mulheres percussionistas que se concentram no Dragão do Mar, e de lá seguem pela praia. Depois que todos os blocos “descem” para a praia, as ruas viram um mar de gente, com carros de sons espalhados em vários cantos, com todos os ritmos de músicas, mas principalmente o forró. Mas também tem alguns bares da boêmia, que fecham a rua com sambas antigos de raiz. Amanda Branco, que já morou em Fortaleza, conta que nessa época do ano é sagrado para os cearenses. O pré-carnaval é como um status, se não foi, você fica perdido nos assuntos da roda de amigos por um bom tempo. Depois, quando chega o Carnaval as pessoas viajam para os interiores, onde acontecem as famosas festas conhecidas como conhecida como Mela Mela. Enquanto as pessoas dançam ao ritmo de axé, forró, samba, eles são “sujados” com sprays de espuma, goma e água! Além disso, a prefeitura oferece shows que acontecem na Praia de Iracema, com entrada fraca para os moradores 20

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que ficaram na capital. A cidade tem seis polos carnavalescos pulsantes, entre eles a Avenida Domingos Olímpio, por onde desfilam agremiações como o Maracatu. No sudeste do país Minas Gerais já está ganhando um olhar diferente durante o carnaval. O estado conta com dois interiores bem falados nesse período do ano, Diamantina e Ouro Preto, ambos muito frequentados por jovens universitários, que vão para curtir a animação que essas festas têm. Ouro Preto por ter muitas repúblicas por conta das universidades que tem por lá, conta com muitos jovens na cidade. Esses moradores alugam seus quartos para os visitantes e montam suas próprias festas, com direito até ao famoso abadá mineiro. Os blocos formados nas repúblicas dançam no embalo do axé por essa cidade histórica. Em Diamantina a história é bem parecida, é preciso ter muita condição física para encarar 24 horas dos cinco dias de festa, nas ladeiras e nos casarões antigos da cidade. Blocos caricatos animam a cidade durante a manhã, e de noite a Bartucada e a Bat Caverna, fazem a festa na Praça do Mercado Velho. Na capital mineira, não tão comum, mas ainda assim muito visitado pelos moradores que não viajaram, tem vários blocos de samba, que se reúnem em vários cantos da cidade como no Bairro do Prado, Praça da Savassi, Santa Tereza, entre outros. Quem um dia iria dizer que no sul do país teria um carnaval que envolve bastante animação? É o caso de Florianópolis. Conhecido por ser o Carnaval da Magia, a capital catarinense tem sua festa no sambódromo Nego Quirido, homenagem de um antigo sambista da região. No Bloco dos Sujos, os homens se vestem de mulher e arrastam multidões de foliões e simpatizante, de um bairro pra outro. Floripa é como se fosse um coração de mão, sempre de braços abertos para receber quem gosta dessa época do ano. Em todas as regiões do Brasil é possível se divertir sem precisar ficar na agitação ou pagar caro, sem precisar estar nos olhos da imprensa inteira.


foto: G1 Pará

Carnaval em São Caetano

Folia pra mais de mil anos Mario Carvalho

Brincantes nas ruas, alegria espalhada pelas cidades, a época do Carnaval é culturalmente adorada pelos brasileiros, em especial os paraenses. Começo de ano é sempre uma grande expectativa para quem gosta dessa festa. Mas quem pensa que “pular carnaval” é algo contemporâneo, nem imagina que a folia tem séculos de memória. A origem do Carnaval, assim como a de várias tradições antigas, é imprecisa e divergente. Para alguns pesquisadores o começo da história está relacionado a tradições egípcias, como os festins que idolatravam a deusa Isis e o deus Dionísio, da mitologia grega. Estudos divergem, por exemplo, quanto ao nascimento do termo, para alguns “carrus navalis”, um barco alegórico que precedia a abertura de algumas festas romanas, deu origem a definição. Para outros, o nome vem de “carnem levare”, termo referente ao je-

jum de carne vermelha no período da Quaresma para os católicos, por isso o Carnaval acontece sempre 47 dias antes da Páscoa. A tradição ganhou força ainda no século XI na Europa, principalmente em Roma, onde a principal atração era a liberdade dada ao povo durante o período de comemoração aos prazeres mundanos. Desde lá, o Carnaval foi se modificando e se tornando mais forte, mas sempre mantendo características alegres, com fantasias e adereços. No Brasil, a festa foi trazida pelos portugueses por volta do século XVII. Mas apenas em 1840 acontecia o primeiro baile de carnaval brasileiro, para agradar as classes mais nobres do país. No Pará não foi diferente, o Carnaval que tinha uma característica de brincadeiras de rua e de bailes de máscaras, foi ganhando novos formatos. O samba começou a crescer e fazer parte dessa tradição. Em 1934 surge a Revista Carnavalizando Carnavalizando

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Concentração do “Rancho” em 1960 – Alfredo Oliveira

primeira escola de samba do Pará, o Rancho Não Posso Me Amofinar, seguida de dezenas de outros grupos. Essas escolas tinham o costume de competir entre elas, nas chamadas “batalhas de confete”, em pontos como a Praça da República e no Bosque Rodrigues Alves. A partir de 1957, a prefeitura de Belém começa a patrocinar o desfile das escolas de sambas que é conhecido até hoje. Começa aí o carnaval de avenida: primeiro os desfiles

aconteciam na Praça da República até 1981, depois as escolas passavam pela Doca a partir 1982, e em 2000 o espetáculo passou a acontecer na Pedreira, onde ocorre até hoje. A era de auge do Carnaval paraense aconteceu na década de 80, quando foi considerado o terceiro melhor do país, perdendo apenas para o Rio de Janeiro e São Paulo. O público que se concentrava na Doca chegava até 30 mil pessoas, competindo com os espectadores do cariocas. Mas todo esse brilho não durou muito tempo. A falta de investimento fez com que o Carnaval Paraense, especificamente em Belém, fosse perdendo a atenção que tinha anteriormente, até chegar na situação atual, pouco valorizado, diferente de outras cidades. Em paralelo a essas histórias os blocos de rua conquistaram os foliões da capital e do interior do Estado. No município de Vigia, nordeste do Pará, por exemplo, época de carnaval é sinônimo de tradição, são cerca de 45 mil brincantes nas ruas. Ainda no nordeste paraense, em São Caetano de Odivelas, os moradores saem nas ruas para dançar com os bois, tradição no município há mais de 70 anos.

Rainha das Rainhas O concurso Rainha das Rainhas do Carnaval Paraense também virou tradição. A competição que reúne as mais belas mulheres de 22 clubes da capital teve início no ano de 1947 e já está na 69ª edição. A disputa vai além de moças bonitas desfilando na noite do evento, a cada ano, os clubes aprimoram as fantasias das participantes, que fazem os jurados se esforçarem pra decidir a campeã da competição. Atualmente o Rainha das Rainhas, promovido pelas Organizações Romulo Maiorana (ORM), é um dos maiores concursos de beleza do Norte e Nordeste do país.

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Rainha das Rainhas 2014


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