NÓS DA HISTÓRIA - BRASIL, MUNDO E DILEMAS CONTEMPORÂNEOS

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NÓS DA HISTÓRIA

BRASIL, MUNDO E

DILEMAS CONTEMPORÂNEOS

MARCUS VINÍCIUS DE MORAIS

NÓS DA HISTÓRIA

bRASIl, muNDo e DIlemAS coNTempoRâNeoS

MARCUS VINÍCIUS DE MORAIS

Doutor em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Mestre em História Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Bacharel e licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Pesquisador de temas sobre América Latina

Professor de cursos de formação continuada para professores de História

Professor de História do Ensino Médio e de cursos pré-vestibulares em São Paulo

Direção Geral: Julio E. Emöd

Supervisão Editorial: Maria Pia Castiglia

Edição de Arte e Capa: Mônica Roberta Suguiyama

Revisão de Texto: Denise da Silva Debossan

Projeto Gráfico e

Editoração Eletrônica: Neusa Sayuri Shinya

Assistente Editorial: Julia Jussani da Silva Fotografias da Capa: Shutterstock

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

M826n

CIP-BraSIl. CaTalogação Na PUBlICação SINDICaTo NaCIoNal DoS EDITorES DE lIVroS, rJ

Morais, Marcus Vinícius de Nós da história : Brasil, mundo e dilemas contemporâneos / Marcus Vinícius de Morais - 1 ed - São Paulo : Harbra, 2025

M826n

64 p : il ; 23 cm

Morais, Marcus Vinícius de Nós da história : Brasil, mundo e dilemas contemporâneos / Marcus Vinícius de Morais. - 1. ed. - São Paulo : HarBra, 2025.

64 p. : il. ; 23 cm.

ISBN 978-85-294-0610-7

ISBN 978-85-294-0610-7

1 História (Ensino médio) - Estudo e ensino I Título

24-94058

1. História (Ensino médio) - Estudo e ensino. I. Título

24-94058

CDD: 909.0712

CDU: 94(100)(075 3)

CDD: 909.0712

CDU: 94(100)(075.3)

gabriela Faray Ferreira lopes - Bibliotecária - CrB-7/6643

Gabriela Faray Ferreira Lopes - Bibliotecária - CRB-7/6643

20/09/2024 25/09/2024

NÓS DA HISTÓRIA – Brasil, mundo e dilemas contemporâneos

Copyright © 2025 por editora HARBRA S.A. Rua Mauro, 400 – 04055-041 – São Paulo – SP

Tel.: (0.xx.11) 5084-2482

Site: www.harbra.com.br

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ISBN 978-85-294-0610-7

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

APRESENTAÇÃO

ToDoS oS “NÓS” SÃo NoSSoS

Os marinheiros e os escoteiros são conhecidos por fazerem nós que nunca se soltam. A trama é complicada e somente os especialistas conseguem desfazer o enrosco. Cordas para cá, fios para lá e diversas voltas constituem um enigmático entrelaçamento. O nó parece ser feito de conexões, isto é, um pedacinho se engata a outro, em uma cadeia contínua, articulada e fibrosa. Os fatos históricos se assemelham a essa malha, na medida em que muitas variáveis se aglutinam, criando situações embaraçadas. Fica complicado, ao olhar de longe, saber em que ponto essa combinação começa ou termina.

Diante disso, o professor aparece como o experiente marujo, capaz de desatar essa labiríntica textura. Ao puxar delicadamente os fios, ele começa a enxergar os caminhos, as origens e os percursos que, até então, estavam profundamente entrelaçados. O nó, uma vez desfeito, se assemelha a uma teia, ou seja, conseguimos visualizar os andaimes, as estruturas, as soldas, os laços e as pontes que, inicialmente, formaram aquela imbricada fiação.

O mundo contemporâneo cada vez mais se apresenta como um desafio de compreensão. Mergulhados em nossas próprias vidas, costumamos não perceber o que nos cerca e nem mesmo aquilo que, silenciosamente, muda na acelerada passagem dos dias. A vertigem do cotidiano costuma nos cegar e, assim, nos esquecemos de nossos papéis como cidadãos e indivíduos que, naturalmente, compartilham espaços, narrativas e expectativas de futuro. Todos os “nós” são nossos. Não existe escapatória.

As dificuldades dos tempos atuais, as violências, os preconceitos, os ódios, as doenças, a pobreza, as guerras e os conflitos políticos nos atravessam diariamente. Herdamos histórias do passado, enredos e redes enlaçadas vistas como verdades estanques e congeladas. No entanto, tudo o que é construído pode ser desfeito. Temos responsabilidades. Os indivíduos sempre estão entre dois mundos: o que receberam ao nascer e o que entregarão às gerações futuras após deixar a vida.

O autor e a editora HARBRA acreditam que esse pequeno livro possa iluminar caminhos, auxiliando os leitores na difícil tarefa de, juntos, desmontarem os mais complexos e variados “nós” que constituem o Brasil e o mundo contemporâneos. À nossa frente, sempre estarão os “nós da história”, aguardando leitura, desenlaço e decifração.

Marcus Vinícius de Morais

DESFECHO: DO NÓ AO “NÓS” 62 1 3 2 4 5 6

INTERNET, ACELERAÇÃO E REDES SOCIAIS 5

Origem e velocidade 5

As redes sociais e os algoritmos 11

SELFIES, BUSCA DO EU E INTOLERÂNCIA 14

Minha foto de mim 14

As próprias sombras e a intolerância 21

NÓS E OS OUTROS: FRAGMENTAÇÃO E RESSENTIMENTOS 23

Nós e os outros 23

Ódios e ressentimentos 25

BRASIL: O BARRIL DE PÓLVORA 33

Elites ressentidas: as reações 33

Crise, centavos e milhões 37

EXTREMISMOS POLÍTICOS 40

Polarização: direita e esquerda 40

EDUCAÇÃO, CONDIÇÕES PRECÁRIAS E VIOLÊNCIAS 53

A crise da leitura atenta 53

Condições precárias 56

Dias de ira 58

A inteligência artificial 60

INTERNET, ACELERAÇÃO E REDES SOCIAIS 1

os diagramas que representam a internet se parecem com grandes teias e nós. alguns autores a denominam “enxame digital”. De certa forma, ela não deixa de ser uma vasta rede invisível que conecta praticamente todos os indivíduos da terra.

oRIGem e VelocIDADe

A internet surgiu durante a Guerra Fria (1947-1991). Os estadunidenses, a partir da base militar do Pentágono, na capital Washington, desenvolveram uma máquina chamada ARPAnet1. Ela foi criada para investigar os inimigos russos e, essencialmente, para acelerar o compartilhamento de informações.

o Pentágono é a sede do Departamento de Defesa dos estados unidos. o prédio, localizado no condado de arlington, tem cinco lados e cinco andares acima do solo.

1a sigla arPanet significa: Advanced Research Projects Agency Network, ou seja, “rede de agências para Projetos de Pesquisas avançadas”.

Com o passar do tempo, essa rede foi se difundindo para empresas, bancos, universidades e, finalmente, para as residências. O termo internet se consolidou por volta de 1970 para, então, se tornar uma grande ferramenta em praticamente todo o mundo.

INTERNET

a palavra internet já era usada desde o século XiX. a sua origem é o termo internetted, que significa “interconectado”, “interconexão”. entre os anos de 2000 e 2009, o número de utilizadores mundiais de internet cresceu de 390 milhões para 1,9 bilhão de pessoas. em 2023, esse número atingiu a marca de 5 bilhões de usuários, isto é, 63% da população mundial.

com o desenvolvimento dos computadores domésticos, a internet passou a ser conectada diariamente, tornando-se, para o lazer ou para o trabalho, parte do cotidiano das pessoas.

No Brasil, a rede apareceu com mais força no final da década de 1980. No entanto, a grande expansão se deu por volta de 1997. Nessa época, houve um crescimento da transmissão de dados em território nacional, principalmente por causa do desenvolvimento da fibra ótica. Entre os anos de 2006 e 2007, houve um aumento da presença de computadores, tanto em firmas quanto em residências. De acordo com o último censo, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, 91,5% dos domicílios brasileiros têm acesso à internet, sendo que essa conexão se dá, acima de tudo, por meio do celular.

Os estudantes brasileiros, ainda de acordo com o IBGE, utilizam amplamente a rede (92,2% dos alunos) e a maioria das escolas apresenta algum tipo de conexão. De todos os colégios particulares, 98,4% têm acesso ao universo digital, ao passo que, dentre as instituições públicas, 89,4% se conectam à internet. Esses dados nos permitem afirmar que, no geral, o Brasil é uma nação conectada e que, portanto, depende da rede, tanto em relação a serviços cotidianos quanto no que diz respeito à educação.

A origem da internet e sua ampla utilização geraram consequências que ainda são observadas e estudadas. Alguns autores denominam

o surgimento e o incremento do mundo digital de Quarta Revolução Industrial (Indústria 4.0). Esse fenômeno impacta questões comportamentais, sociais, econômicas, cognitivas e, certamente, influencia a maneira de ver e de estar em sociedade. É curioso e significativo que a internet tenha historicamente surgido como um equipamento operado para investigar as pessoas e que “usuário”, termo empregado para vícios, seja o nome dado aos seus utilizadores. De certa forma, existe uma compulsão em investigar e sentir-se investigado, de “ver e de ser visto”. De todos os impactos socioculturais, entretanto, a velocidade, cada vez mais eficiente, talvez seja o mais relevante. Tudo muda, a todo instante, no mundo contemporâneo.

O mundo veloz

Cognitivo: aquilo que diz respeito ao raciocínio, à memória, ao processo mental de percepção.

Entre os séculos XIX e XX, o mundo ganhou mobilidade. As invenções tecnológicas traziam movimentos. Os trens, surgidos na Inglaterra no início de 1804, eram os grandes símbolos das novas mudanças. No Brasil, eles apareceram durante o Segundo Reinado (1840-1889), em 1854, conectando Porto Mauá à cidade de Fragoso, no Rio de Janeiro. Chamados de “cavalos mecânicos”, os trens eram feitos de ferro, com grandes pistões, parafusos, apito, chaminé, carvão e vapor. Os vagões pareciam “fábricas que andam”. Os seus percursos, inclusive, representavam o próprio movimento do progresso, ou seja, uma marcha ininterrupta para frente. A velocidade das ferrovias era uma novidade. Ela parecia encurtar as distâncias.

Além disso, também surgiram carros, aviões, metrôs, mais fábricas, máquinas registradoras, parques de diversão e até mesmo o cinema. O olho humano passou a identificar essa verdadeira vertigem urbana e o “olhar silencioso” cada vez mais se tornou uma forma de ler e de compreender o mundo. Essas modernidades também influenciaram pintores e artistas que, com suas rápidas pinceladas, tentavam retratar os movimentos e a luz, operação que a máquina fotográfica ainda não era capaz de fazer. as primeiras montanhas russas datam de fins do século XiX (1885), porém as mais conhecidas foram construídas entre 1903 e 1927, em Long island, estados unidos. o passageiro do carrinho, ao olhar para fora, enxerga uma realidade distorcida e deformada.

Van gogh (1853-1890), em “campo de trigo com corvos”, trouxe à tona as ideias de cor, luz e movimento, com céu e campo turbulentos. a paisagem distendida lembra a visão que os passageiros observam a partir do rápido deslocamento dos carrinhos das montanhas russas.

Wheatfield With Crows (1890). Van gogh Museum, amsterdã, holanda.

Durante o século XX, os clipes musicais, os efeitos especiais dos filmes no cinema e, acima de tudo, os fliperamas e os videogames, reforçaram a ideia de dinamismo. Entre o final de 1970 e início da dé-

cada de 80 surgiram o canal de televisão Music Television – a MTV (1981) – e os primeiros consoles clássicos da empresa Atari (1977). Alguns clipes de músicas pareciam videogames e os jogos, por sua vez, tinham suas próprias trilhas sonoras. A diversão passou para dentro de casa e muitas crianças puderam, em ambiente privado, entrar em contato com uma brincadeira rápida, realizada a partir de telas.

o console “atari 2600” foi criado no final da década de 1970. a partir dele, as telas nunca deixaram as residências e cada vez mais elas foram associadas ao entretenimento. Do atari ao Playstation, crianças de todo o mundo foram lançadas do quintal e da praia para salas e quartos fechados.

O aparecimento da internet veio coroar esse percurso. Embora o tipo de conexão e a velocidade tenham melhorado ao longo dos anos, o que se teve foi o começo da “sociedade do clique”. Tudo é feito ou desfeito a partir de um toque, do simples pressionar de botões e, naturalmente, em poucos segundos.

O lançamento do aparelho de telefone móvel, o celular, e principalmente dos smartphones (telefones inteligentes) traria ainda mais alterações na sociedade. Na década de 1990, surgiram os primeiros modelos, feitos pela IBM, Nokia e Ericsson. A empresa Apple lançaria o iPhone somente em 2007.

SMARTPHONES

De acordo com o iBge, 77,4% dos brasileiros acima dos 10 anos de idade, em 2016, tinham aparelho celular. em 2019, esse número subiu para 81,4% e, em 2022, para 86,5%. Dentre os motivos citados por aqueles que não possuíam celulares, destacaram-se: não saber usar o aparelho, os altos preços, a falta de necessidade, o uso de aparelhos de outras pessoas, a preocupação com a segurança e a falta desse tipo de serviço nos locais que costuma frequentar.

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