Quebec City

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LE PASSANT



QUEBEC CITY

entardecer, pernoitar, amanhecer

fevereiro, 2017



HEITOR GABRIEL MORAIS

QUEBEC CITY AGOSTO, 2016











Chegada em Quebec

Estava um clima bastante agradável, fazia um friozinho, mas os ares eram diferentes, além da temperatura. Caminhei em direção a um ponto de ônibus que não sabia se existia de fato, além das minhas deduções. Eu cheguei pelo aeroporto, e o único ônibus que passava por lá demoraria uma hora e meia pra chegar, e pegar um táxi daria em torno de 38 dólares. O trajeto pra sair do aeroporto a pé não era muito claro, talvez porque ninguém fizesse isso. Pulei algumas barras, pisei em algumas obras, atravessei um estacionamento gigante, até perceber que logo a frente uma senhora também caminhava em direção a uma suposta saída, então comecei a segui-la. Sem dúvidas ela me mostraria um trajeto melhor, afinal, já deveria ter feito isso algumas outras vezes, a julgar pela segurança em que pisava. Poderia estar enganado, mas conseguimos deixar o aeroporto pra trás, e continuamos resignificando todo aquele lugar, que mesmo com os seus obstáculos, ainda assim era um caminho. Não tinha calçada, nem sequer faixa de pedestre por onde eu passava, mas estava na direção certa. Cheguei numa avenida que não conseguia ver o seu fim ao horizonte, mas que me proporcionou uma caminhada tranquila, agora completamente sozinho e sem ter quem seguir, por cima de uma terra alaranjada e pedregosa, de um lado uma floresta de coníferas, e do outro, carros velozes que me rasgavam com seu rastro de vento. O clima e paisagem mórbida de aeroporto isolado foi mudando pra um contexto de casinhas num bairro residencial canadense.


Pessoas normais dando bonjuor e salut. Skatistas, ciclistas, idosos caminhando vagarosamente pra lá e pra cá, passeando com seus cachorros ou com seu andador. Encontrei o ponto, e o número do ônibus que eu queria estava lá. O que passava no aeroporto também passava ali na esquina, então esperei pelos dois, deitado numa grama meio molhada, ou as vezes caminhando de uma esquina pra outra, percebendo o lugar através da perspectiva de uma encruzilhada. No fim das contas, o ônibus do aeroporto passou primeiro, mas nada foi em vão. Entrei no ônibus e a motorista me deu um ticket iniciando uma conversa em francês. Deixei ela terminar de falar enquanto fazia uma cara de perdido, mas me esforçando pra entender alguma coisa. O inglês não era problema pra eles, então ela disse tudo de novo, acreditando que, na verdade, meu francês estava enferrujado, e não que eu não dizia nem uma palavra sequer além de Bonjour. Afinal, era meu primeiro contato com uma região francófona, sozinho, e sem sinal de celular. Eramos eu e minha linguagem corporal, dispostos a entender Quebec pelos cinco sentidos. Muitas pessoas dentro do ônibus pareciam já se conhecer, como em cidades do interior. Todos conversavam com todos, e dentre eles, muitos idosos. Era como se aquelas mesmas pessoas pegassem o mesmo ônibus todos os dias, com a mesma motorista, e no mesmo horário. Fazia parte da rotina deles, e já sabiam quem entraria no próximo ponto. Enquanto isso, eu observava o celular de um cara sentado ao meu lado assistindo vídeo clipes de coreografias de música pop, e eu ouvia todas elas também, já que seus fones de ouvido estavam no máximo. Cada um deles exalava personalidade, todos muito peculiares.


Aquele era só o primeiro ônibus de três. Enquanto entrava cidade a dentro, eu assistia a paisagem mudar. Escolas começam a aparecer, igrejas, supermercados, mas todos ainda em pequena escala. Cheguei num terminal, onde trocaria pro segundo ônibus, que por sorte, ou por pontualidade, estava lá me esperando. Agora um ambiente mais urbano começava a se impor. A cidade me parecia muito diferente de todas que já tinha visto, e me trazia um sentimento inexplicavelmente muito bom. Eu mal tinha decido do ônibus e me sentia muito bem por estar ali e por passar por onde ele me levava. Um sentimento de familiaridade com tudo aquilo, que talvez não fosse o lugar, mas sim o fato de estar viajando sozinho por lugares desconhecidos depois de tanto tempo, e lembrar o quanto isso é excitante e me faz bem. Casinhas simples, coladas umas nas outras com as portas que davam diratamente pra rua, me fazia lembrar da minha própria cidade no interior da Bahia, só que com um ar europeu e no meio da américa do norte. As ruas tinham vida e marcas, mas eram organizadas e convidativas. Um rizoma mapeado e entendido. Eu observava atento pela janela, vendo alguns palcos surgirem se preparando pra receber algum evento, e várias de suas praças com instalações e intervenções para as pessoas interagirem, entre si e com o lugar, tornando-o verdadeiramente da cidade, e das pessoas, já que elas mesmas o contruíam. E eu não aguentava mais estar sentado ali, olhando tudo de longe. Resolvi descer do ônibus e não pegar o terceiro pra chegar até o Hostel. Eu precisava caminhar e pisar com meus próprios pés pra saber se era real, e ajudar a construir a Ville de Quebec com as minhas pegadas. bloco de notas, 24 de agosto de 2016



AS RUAS QUE SE ESCONDEM SE PERDEM DAS OUTRAS E SÃO













A CAPACIDADE DE SER, MAS SE DESLOCAR QUE TRANSCENDE DO BRUTO DOS RAMOS E CONEXÕES















A LUZ QUANDO VAI EMBORA E REFLETE ATRAVESSA MAS NÃO QUEIMA QUEIMA MAS NÃO ATRAVESSA

















A JUVENTUDE

A SABEDORIA O CAMINHO/A VIDA





VISTAS DO MESMO O MESMO QUE MUDA TE ACOMPANHA E CRESCE













dormir

partir

aliviar

rir comer

descansar

reabastecer

contemplar

trilhar



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