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Origens do futebol de Mato Grosso do Sul

Do amadorismo à fase profissional

A bola rola na porção sul do Pantanal desde o início do século XX, quando Mato Grosso era um estado uno. Corumbá foi o berço dos primeiros clubes amadores, nos anos de 1910. Eram tempos em que a cidade prosperava graças ao porto fluvial - um dos maiores da América Latina na época - e por onde as desembarcavam as principais novidades vindas dos grandes centros econômicos nacionais e estrangeiros. Não à toa, o foot-ball chegou primeiro à Cidade Branca. Datam desse período: Sul América e Sete de Setembro (criados em 1910, mas atualmente extintos), e Corumbaense (fundado em 1914).

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A partir da década de 1920, começam a surgir as ligas citadinas em Corumbá, Campo Grande, Miranda e Aquidauana. Em 1928, há registros da realização do primeiro campeonato em nível estadual, promovido pela Federação Sportiva Matto-Grossense - entidade sediada em Corumbá. O torneio reuniu vencedores das ligas amadoras (exceto de Cuiabá, cuja liga só seria criada oito anos depois) e teve como campeão o Corumbaense. Com o passar dos anos, cidades de menor porte na região sul de Mato Grosso uno também começaram a desenvolver a prática do futebol, com ligas funcionando em Maracaju, Ponta Porã, Bela Vista e Porto Murtinho. Os primeiros anos foram prolíficos para o futebol no sul de Mato Grosso. Havia Publicação antiga apresentava o “1º team do valoroso Corumbaense Foot-ball Club, campeão de 1914 e times em praticamente 1915”. Em primeiro plano: Nanito, Câmara e Cecéo. Em 2º: Cabral, Ayrton e Ricardo. Em 3º: Raymundo, Ismael (capitão), Barriola, Benjamin e Samuel. Com a bandeira: Gilberto de Mattos, presidente. todas as principais cidades sulistas. Entretanto, poucos sobreviveram até os dias atuais. Além do Corumbaense, são remanescentes o Operário (1938) e o Comercial (1943), ambos de Campo Grande.

Décadas de distanciamento

O ano de 1942 ficou marcado por uma transformação significativa na organização do desporto brasileiro, que gerou reflexos imediatos no futebol mato-grossense. Por lei, o governo Getúlio Vargas instituiu o Conselho Nacional de Desportos (CND) que, entre outras exigências, obrigou as capitais de Estado a sediarem federações de cada modalidade. Com isso, Corumbá deu lugar a Cuiabá como centro decisório do futebol estadual. No mesmo ano, a Liga Esportiva Cuiabana tornou-se a Federação MatoGrossense de Desportos e aglutinou ligas e clubes de todo o Estado.

Apesar da existência desse elo formal entre as agremiações por meio da federação, não houve, na prática, efetiva integração entre os clubes das regiões norte e sul de Mato Grosso. Isso se deu porque a lei não levava em conta a precariedade das estradas daquela época e as enormes distâncias entre as cidades mato-grossenses (700 km separam Campo Grande de Cuiabá, por exemplo). Contudo, diante do isolamento

geográfico, a paixão dos esportistas não deixou o futebol enfraquecer. Mesmo sem um campeonato estadual abrangente, as ligas citadinas mantiveram acesa a chama do futebol nas duas décadas seguintes.

Transição ao profissionalismo

Somente a partir da profissionalização do futebol de Cuiabá, em 1967, e de Campo Grande, em 1972, é que as rivalidades regionais começaram a surgir. Entre 1973 e 1978 - último ano antes de ser concluída a divisão de Mato Grosso uno -, os times campo-grandenses dominaram o cenário estadual com a conquista de cinco dos seis títulos disputados. O Operário levou quatro taças (1974, 1976/77/78), enquanto que o Comercial, uma (1975). O Operário de Várzea Grande-MT ficou com o título de 1973. Nesse período, destacase que o estádio Morenão, inaugurado em 1971, foi um fator importante para que clubes sulistas levassem vantagem sobre os adversários do norte. O novo estádio motivou a dupla Comerário a se profissionalizar, e já em 1973 as equipes disputavam o Campeonato Brasileiro.

Em 1941, a revista Esporte Ilustrado dedicou uma página para o esporte em Mato Grosso. A foto acima é do Andaraí Foot-ball Clube, fundado em Campo Grande pelo sargento Elias Gadia (2º em pé, da esq. para a dir.), entre outros.

Foto: Reprodução

Um campeonato só nosso

Enfim, em 1979 o futebol sulmato-grossense libertou-se das amarras nortistas e passou a caminhar com as próprias pernas. A primeira edição do estadual contou com nove clubes e sagrou campeão o Operário, que havia conquistado o Mato-Grossense do ano anterior. Naqueles tempos, embora houvesse um número razoável de clubes do interior na disputa, quem predominava eram os times da Capital - mais especificamente, Comercial e Operário, agremiações com melhor estrutura e que disputavam as divisões superiores do Campeonato Brasileiro. Por sinal, vencer o estadual à época dava direito a disputar o nacional. A dupla Comerário só viu sua hegemonia ser quebrada em 1984 pelo Corumbaense. Depois, em 1990 com a conquista do Ubiratan, de Dourados.

Foi a partir dos anos de 1990 que os clubes do interior do Estado começaram a igualar as forças com os rivais da Capital. Novos campeões despontaram, como Nova Andradina, Ubiratan e Serc, de Chapadão do Sul. E na década seguinte, essa mudança de eixo consolidou-se. Entre 2006 e 2009, todos os campeões vieram do interior: Coxim, Águia Negra, Ivinhema e Naviraiense, respectivamente. É a maior série consecutiva de títulos que passaram longe de Campo Grande. Essa polarização pode ser vista também no ranking estadual de clubes, que considera o desempenho das últimas cinco temporadas: em 2017, quatro das cinco melhores equipes são interioranas. No entanto, a Capital ainda leva vantagem em títulos sobre o interior: 25 a 14.

Pôster da revista Placar (editora Abril) retrata o Comercial campeão estadual de 1982.

Foto: Reprodução

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