8 minute read

Origens da imprensa em Mato Grosso do Sul

Afim de facilitar a compreensão histórica do desenvolvimento da imprensa em Mato Grosso do Sul, buscou-se resgatar os principais acontecimentos da época de seu surgimento, ainda no século XIX - quando o Estado era uno. O livro do historiador Rubens de Mendonça cumpre satisfatoriamente esse papel, ao explorar mais de 100 anos de casos e relatos da imprensa regional. Intitulada “História do jornalismo em Mato Grosso“, a obra data de 1951. Entretanto, a edição consultada é de 1963.

1838 A 1889

Advertisement

De acordo com Rubens de Mendonça, a primeira oficina tipográfica de Mato Grosso foi introduzida em 1838 pelo presidente da província, Dr. José Antônio Pimenta Bueno. Os equipamentos destinavam-se à publicação de um jornal, e os recursos foram arrecadados entre pessoas interessadas na aquisição. A província também aplicou recursos para a compra das máquinas, que passariam a pertencer à Assembléia Legislativa.

Como o primeiro jornal de Mato Grosso teria caráter oficial, a Assembléia Legislativa autorizou o custeio público da tipografia, bem como o pagamento de seus empregados. Nessa primeira fase, a imprensa voltava-se exclusivamente aos interesses do poder público, mediante circulação de “todos os atos oficiais, que não exigem segredo dos Governos, da Assembléia Provincial, das Repartições Fiscais, das Câmaras Municipais, dos jurados - as participações das Autoridades Policiais, as decisões das Juntas de Paz, finalmente mesmo as leis e atos do Governo Central, que disseram respeito a esta Província”. (p. 7-8)

Em relatório enviado à Assembléia em 1º de março de 1837, o presidente da província justificava a necessidade de instalar uma tipografia em Mato Grosso:

As instituições políticas, assim como as demais coisas, têm atributos e dependências que são essenciais à sua natureza. O sistema administrativo que nos rege, exige a publicidade dos atos das autoridades, que também dela depende muitas vezes, para que bem possa corresponder a seus fins. Tal é uma das condições que as leis demandam, é justo, é mesmo indispensável fazê-las conhecidas, quanto possível, aliás, a pena imposta pela sua inobservância será repetidas vezes verdadeira tirania. (p. 5)

Em 1839, chega à província o primeiro tipógrafo, e tem início a circulação do primeiro jornal, “Themis Mato-grossense”, em 14 de agosto daquele ano. Essa data é considerada o marco da imprensa mato-grossense. Segundo Rubens de Mendonça, o periódico circulava às quartas-feiras e destinava-se à publicação de atos oficiais. (p.8)

No ano seguinte, o “Themis Mato-grossense” é fechado por causa das divergências políticas entre a Assembléia Legislativa e o presidente da província. Em 1840, o presidente Pimenta Bueno cortou do orçamento a verba destinada à manutenção da oficina tipográfica.

Em 30 de julho de 1842, já sob a presidência do Cônego José da Silva Guimarães, a província voltou a contar com órgão oficial de imprensa: “O Cuiabano Official”, que posteriormente mudou o título para “O Cuiabano”. Circulou até julho de 1845.

Com o fechamento de “O Cuiabano”, o poder da província desistiu de manter tipografias próprias, e passou a contratar oficinas particulares para fazer circular leis e atos oficiais. Nesses moldes, a parceria foi firmada com o “Eco Cuiabano”, e iniciouse em 12 de junho de 1847. A situação perdurou até 09 de dezembro de 1889, com “A Província de Mato Grosso”.

A notícia da proclamação da República chegou a Cuiabá em 09 de dezembro de 1889, trazida pelo navio a vapor “Coxipó”. Governava a província o Coronel Ernesto Augusto da Cunha Matos. O quadro da imprensa cuiabana à época foi assim descrito por Rubens de Mendonça:

Circulavam em Cuiabá, naquela época, apenas três jornais: “A Província de Mato Grosso”, órgão do partido liberal; “A Situação”, órgão do partido conservador; e “A Gazeta”, de propriedade e redação de Vital de Araújo, que fazia propaganda republicana. (p. 21)

Na região que atualmente compreende o Estado de Mato Grosso do Sul, o primeiro jornal existente foi “O Indicador”, fundado em Corumbá. A edição inicial data de 18 de janeiro de 1877. (Ver tabela 1)

1889 A 1949

O primeiro jornal a surgir após a queda da monarquia foi o “15 de Novembro”, de Cuiabá, em 1890. Tinha como redator Antônio Augusto Rarimo de Carvalho. No mesmo ano, surge a “Gazeta Oficial”, criada pelo governador geral Antônio Maria Coelho. Durante décadas a imprensa mato-grossense desenvolveu-se na Capital e nas principais cidades, como Corumbá, Campo Grande, Três Lagoas, Ponta Porã, Cáceres e Poconé.

Transcorreram-se a República Velha e a Era Vargas (1930-1937), até que Cuiabá viu surgir o primeiro jornal diário - embora no Sul de Mato Grosso já existissem diários em circulação desde as primeiras décadas do século XX. Em 27 de agosto de 1939, surge “O Estado de Mato Grosso”, sob direção do jornalista Arquimedes Lima, posteriormente dirigido pelo Dr. Alcy Pereira Lima.

O governo de Getúlio Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (Dip), com repartições nos Estados. Em Mato Grosso, Arquimedes Lima foi nomeado chefe da repartição. Segundo Rubens de Mendonça, a imprensa mato-grossense experimentou relativa tranqüilidade para o exercício do jornalismo nessa época.

O deip. em Mato Grosso, em virtude do espírito liberal do seu diretor, que é jornalista profissional, nunca exerceu a censura, e até auxiliava a imprensa local, dando-lhe a mais completa liberdade. Aliás, durante todo o tempo da Ditadura, pelo menos em Mato Grosso, nunca houve falta de garantia à imprensa. O próprio Interventor Julio Muller dava à imprensa todo apôio. Não sabemos de um só atentado contra a liberdade de imprensa, durante todo esse período que vai de 10 de novembro de 1937 a 29 de outubro de 1945, data da queda da Ditadura no Brasil. (p 63)

ATENTADOS A JORNAIS E CRIMES DE IMPRENSA

Rubens de Mendonça dedica um capítulo aos relatos de atentados cometidos contra a imprensa mato-grossense: “feita a história cronológica da imprensa em Mato Grosso, seria ela incompleta se faltasse esse Capítulo. A violência e a opressão foi sempre o característico dos maus Govêrnos”. (p. 104) Entre os casos documentados por Mendonça, estão empastelamentos (inutilizações de oficinas) e agressões a redatores, diretores ou colaboradores dos jornais. Em Cuiabá, o historiador afirma que o primeiro atentado contra a imprensa foi registrado em 03 de outubro de 1919. Foi empastelada a tipografia de “O Republicano”.

Êste atentado, diz o historiador Estêvão de Mendonça, nas “Datas Matogrossenses”: foi o primeiro dessa natureza praticado em Cuiabá, onde a liberdade de imprensa tem atingido por vezes à licença. Do inquérito nada resultou para a descoberta do criminoso, ou criminosos, como aliás era geralmente previsto. (p 105)

Já em 1ºde fevereiro de 1929, relata Rubens de Mendonça, o jornal oposicionista “A Reação” foi fechado por determinação do presidente do Estado, Dr. Mário Corrêa da Costa. Em 21 de abril de 1932, o jornal “O Momento” registrou em suas páginas o atentado à oficina.

O autor relata casos de atentados em Corumbá, Campo Grande e Nioaque. Nesta cidade, no ano de 1896, foi empastelado “o jornal ‘A Voz do Sul’, e o material tipográfico todo atirado no rio Nioaque. O autor deste feito selvagem recebeu cognome de Onça Preta”. (p. 115) De acordo com Rubens de Mendonça, os primeiros registros conhecidos de injúrias veiculadas pela imprensa datam de 20 de março de 1874.

António Joaquim Pires, sob pseudônimo “O morador do Limoeiro”, cometeu o crime de injúrias impressas contra o Fiscal da Câmara Municipal, publicada no periódico “O Liberal”, número 83, dessa data, um artigo sob a epígrafe “Para o Fiscal da Câmara ler”, no qual fazia-lhe imputações de defeitos, em razão do seu ofício. O ofendido logo apresentou no dia seguinte a sua petição de queixa, e seguindo o processo seus termos, foi anulado pelo Juiz de Direito, em gráu de apelação, por irregularidade encontradas, salvo direito do autor para repetir a ação. (p. 108)

Um inquérito contra o editor de “A Situação”, Estevão Pereira Leite, foi aberto em 09 de março de 1881. Firmino Rodrigues Ramos, Coletor da 1ª Recebedoria Provincial, exigia a comprovação da autoria de um artigo publicado naquele jornal, mas o editor negou-se a fazê-lo. Ainda naquele ano, em 15 de setembro, o Tenente-Coronel Antonio da Silveira e Souza também pediu às autoridades que o editor de “A Situação” comprovasse autoria de artigo que continha injúrias. Perante o juiz, Estevão Pereira Leite atribuiu o texto a Francisco Galdino Duarte. O historiador relata assim o desfecho dessa guerra de acusações:

1881, a 1º de dezembro, indo Estevão Pereira Leite banhar-se no rio Cuiabá - Porto da Conceição - foi vencido pela correnteza d’água e afogou-se. Depois do procedido ao respectivo exame, deu-se sepultura ao cadáver’. Ora, é por certo um caso para chamar a atenção. O homem a 15 de setembro era processado por haver caluniado o Coletor da 1a Recebedoria e logo no mesmo ano apareceu, no mesmo relatório, como morto por afogamento? É muita coincidência. (p. 111)

MORTE DO PREFEITO ARY COELHO

Um dos episódios mais trágicos já registrados na imprensa mato-grossense foi o assassinato do prefeito de Campo Grande, Dr. Ary Coelho de Oliveira, em 21 de novembro de 1952. O autor do atentado teria sido Alcy Pereira Lima, então diretor do jornal “O Combate”.

De acordo com Rubens de Mendonça, o motivo que levou ao crime foi a troca de acusações entre o prefeito e Alcy Pereira Lima, por meio de artigos publicados na imprensa escrita. Ary Coelho era proprietário de “O Matogrossense”, e o jornal lançou série de textos criticando uma concessão de terras feita à Fundação Brasil Central - dirigida, à época, por Arquimedes Pereira Lima, irmão de Alcy. O jornal “O Combate” reagiu com a publicação, em 20 de novembro de 1952, de artigo intitulado “Carta Aberta ao Caluniador Ary Coelho”.

JORNAIS MAIS ANTIGOS EM CIRCULAÇÃO

O periódico mais antigo em circulação no Estado é o Jornal do Povo (Três Lagoas), fundado em 1949 pelo senador Filinto Muller. A primeira edição circulou no dia 15 de junho daquele ano.

Em 1962, o advogado Stênio Congro assumiu a direção do jornal, se responsabilizando também pela parte financeira da empresa. Em 1978, o advogado Rosário Congro Neto associou-se à empresa, que mudou sua razão social para Jornal do Povo S/C Ltda. Ainda sob direção de Stênio Congro, o periódico sofreu mudança em seu perfil: passou de político a empresarial, com linha editorial voltada a retratar os problemas locais.

Em 1969, com a morte do então deputado federal Weimar Torres, o projeto foi assumido pela viúva Adiles do Amaral Torres. A linha editorial de O Progresso procura identificar-se com as causas da região da Grande Dourados.

Em Dourados circula até hoje o segundo jornal mais antigo de Mato Grosso do Sul. O Progresso foi fundado em 21 de abril de 1951 pelo advogado Weimar Gonçalves Torres. Nos primeiros anos, o proprietário firmou parceria com uma gráfica da cidade. A empresa jornalística cresceu e conseguiu adquirir equipamentos próprios de impressão.

This article is from: