JARDINS DE CERRADO: I D E I A S PA R A A C R I AÇ ÃO D E U M A I D E N T I DA D E PA I S AG Í S T I C A U T I L I Z A N D O A F LO R A N AT I VA
Helena
Bokos
FAU UnB Ensaio Teórico | 2017 orientadora: Carolina Pescatori banca: Cecília de Sá e Oscar Ferreira
SUMÁRIO INTRODUÇÃO A (falta de) expressão paisagística do cerrado ou a paisagem brasileira e o cerrado no contexto do modernismo A importância ecológica da utilização da vegetação nativa A missão social do paisagista e o potencial do movimento naturalista
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1. ESTUDOS 1.1. O Cerrado 1.1.1. Vegetação e o Cerrado como savana 1.1.2. Descrição da paisagem do Cerrado por meio de suas Fitofisionomias 1.2. O movimento naturalista contemporâneo na arquitetura paisagística 1.2.1. The New Perennial Movement
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2. EXPERIÊNCIAS 2.1. Jardins de Cerrado 2.1.1. Experimento Jardins de Cerrado no Jardim Botânico de Brasília 2.1.2. Restauração Paisagística no Parque Nacional de Brasília 2.2. Catálogo de Espécies
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3. IDEIAS 3.1. Potencial de utilização da flora do Cerrado em jardins naturalistas 3.2. Tradução da paisagem do Cerrado como forma de expressão identitária e estratégia ecológica 3.3. Relações estéticas entre os jardins naturalistas contemporâneos e os jardins modernistas brasileiros Considerações sobre a paisagem e o paisagismo de Brasília e possíveis contribuições do trabalho para o tema
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Lista de Figuras
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Bibliografia
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ANEXO A. Experimento Jardins de Cerrado no JBB ANEXO B. Restauração Paisagística no PNB
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INTRODUÇÃO O presente ensaio busca estudar como a valorização do cerrado pode catalisar um paisagismo com características expressivas, elaborando, a partir disto, formas de desenvolver uma expressão mais identitária para a arquitetura paisagística no cerrado. A percepção de semelhanças entre a vegetação do cerrado e vegetações rasteiras de climas temperados – em contraponto às espécies tropicais utilizadas predominantemente nos jardins do Brasil – leva à busca por outras referências paisagísticas que possam relacionar-se com a identidade modernista do paisagismo brasileiro. O trabalho estuda, portanto, relações estéticas entre a vegetação nativa, o estilo naturalista dos jardins de clima temperado e a expressão modernista brasileira. Acredita-se que a valorização da paisagem do Cerrado e da flora nativa, aliada às relações formais estabelecidas entre as linguagens naturalista e modernista, possa atuar como base na criação de uma identidade paisagística do Cerrado. Considera-se, também, que esta questão extrapola o âmbito da expressão e da estética, constituindo um possível instrumento para problemas de ecologia – como a destruição do bioma, ou mesmo a crise hídrica e inundações – que pode ser implementado no espaço público. A falta de representatividade do Cerrado no imaginário popular contribui para sua destruição, o que, por sua vez, gera perda de biodiversidade, extinção de espécies da flora e fauna e, até mesmo, questões urbanas que vem nos atingindo, como a crise hídrica. O uso de plantas nativas no paisagismo pode, não só ajudar a
sensibilizar a população para a causa, como, também, ser instrumento de preservação da flora e da fauna, contribuir na infiltração da água e reposição dos aquíferos, além de demandar praticamente nenhuma manutenção, constituindo uma alternativa mais viável para o espaço público.
A (falta de) expressão paisagística do cerrado ou o paisagismo brasileiro e o cerrado no contexto do modernismo No Brasil, o paisagismo modernista faz parte da identidade nacional e, com ele, a valorização da flora brasileira tropical atingiu seu ápice e incorporou-se à noção da identidade brasileira, o tropicalismo associado à ideia de brasilidade. A vegetação exuberante da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica predomina nos projetos modernistas (figura 1) e é identidade do movimento moderno brasileiro, não só no âmbito da arquitetura paisagística, mas também nas artes plásticas (figura 2). A influência de Burle Marx, um dos maiores expoentes do movimento modernista no paisagismo brasileiro e um dos mais reconhecidos paisagistas do mundo, extrapola o âmbito da arquitetura paisagística para incorporar-se no imaginário de identidade brasileira, nacional e internacionalmente. Até hoje, o paisagismo modernista influencia o imaginário popular em questões de vegetação e a flora tropical é tema nas artes, na moda, na música, no cinema, etc.
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_ fig.1 Sítio Roberto Burle Marx, Rio de Janeiro. _ fig.2 “Tropical”, Anita Malfatti.
Entretanto, a hegemonia da flora florestal, muitas vezes, ofusca os outros biomas do País, de formações campestres e savânicas – o Cerrado, os Pampas, a Caatinga, o Pantanal. O cerrado, com suas espécies mais singelas (menos exuberantes), era, e ainda é, desvalorizado, ou mesmo negligenciado, diante de tal vegetação apreciada internacionalmente (SIQUEIRA, 2017a). O próprio Burle Marx era defensor da utilização de plantas nativas, tendo feito extensa pesquisa neste ponto, introduzindo novas espécies tropicais em seus jardins: O objetivo deve ser sempre o de refletir a paisagem circundante, plantar no jardim as espécies que crescem na região, já adequadas ao solo e ao clima. Um jardim deve pertencer, em espírito, ao lugar onde está situado, pois, por mais cuidadoso que tenha sido seu planejamento, nunca se apresentará perfeitamente bem se as plantas que o constituem não forem ecologicamente compatíveis. E consegui-lo deve ser um dos objetivos do paisagista (MARX, 2004, p.62).
A arquiteta paisagista Mariana Siqueira (2017), idealizadora do projeto Jardins de Cerrado no Distrito Federal, alerta para a baixa representatividade do cerrado na cultura brasileira, no imaginário da nação, que evoca imagens de florestas e praias como identidade da paisagem brasileira, deixando de lado as referências savânicas. Segundo ela, isso agrava a destruição derivada da baixa preservação do bioma: “o Cerrado está desaparecendo dos mapas geográficos antes que possa figurar dignamente em nossos mapas mentais e culturais” (SIQUEIRA, 2017a). Daniel Caballero, idealizador do projeto Cerrado
Infinito, em São Paulo, indica que vivemos em uma época de “arboricentrismo”, esquecendo dos capins e “singelas florezinhas” características dos outros biomas, diante do fascínio pelas árvores exuberantes da paisagem tropical (CABALLERO, 2017 apud SIQUEIRA, 2017). No paisagismo, essa baixa representatividade é agravada pela forte influência no imaginário popular dos jardins modernistas tropicais como expressão da identidade brasileira, além da ideia antiga de dominação da natureza – da luta do homem para domesticá-la em formas e composições racionais, que impedem, de certa forma, a aceitação estética da vegetação natural e espontânea, em todo o seu ciclo de vida, na paisagem antropogenizada. No cerrado, a característica própria do bioma de possuir plantas que secam em metade do ano, como forma de adaptação, para depois rebrotaram em partes aéreas singelas, inibeo de ser considerado na implantação de jardins, ocorrendo apenas onde não houve a intenção do homem. Assim, a vegetação utilizada nos projetos de paisagismo na região do cerrado é quase inteiramente exótica, em sua maioria de caráter tropical, mas, muitas vezes, não é nativa, nem mesmo, do Brasil. Símbolo desta característica é a quase inexistência de plantas do cerrado a venda nos viveiros da região, parte de um ciclo em que não se planta espécies nativas, pois não estão a venda, e não se vende espécies nativas, pois não são compradas. Não se observa, portanto, a existência de uma linguagem própria do paisagismo do cerrado.
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A importância ecológica da utilização da vegetação nativa
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É importante reinstaurar a flora nativa na paisagem do Brasil central, não só por questões estéticas ou para valorizar culturalmente o cerrado como bioma brasileiro, mas por razões ainda mais sérias, como sua destruição pela agropecuária, que, quando não desmata, introduz capins exóticos que se espraiam e dominam os campos, impedindo a vegetação nativa, principalmente rasteira, de sobreviver (MEDEIROS, 2011; SIQUEIRA, 2017). Apesar de muitas vezes ser visto como infértil e pobre, o cerrado é um dos 35 hotspots internacionais de biodiversidade, classificados pela instituição Conservation International (2016), sendo 40% de suas espécies endêmicas, ou seja, só ocorrem nessa região (CRITICAL ECOSYSTEM PARTNERSHIP FUND, 2016). Deste modo, o cerrado é considerado a savana mais rica e, ao mesmo tempo, mais ameaçada do mundo (MEDEIROS, 2011). Segundo dados recentes do International Institute for Sustainability (STRASSBURG et al., 2017), o cerrado já perdeu 43% de sua vegetação nativa e apenas 19,8% permanece intocada. Segundo os pesquisadores (STRASSBURG et al., 2017), se o índice de desmatamento continuar no mesmo nível de hoje, em 2050 o cerrado terá a maior extinção de plantas da história. Essa situação é agravada se considerarmos que quase metade das espécies nativas são endêmicas. Segundo a instituição Conservation International (2016), ao classificar o cerrado como um hotspot de biodiversidade, está querendo dizer que o
bioma é insubstituível, daí a importância de preservá-lo. A introdução de plantas exóticas, quando estas possuem características que as favorecem em detrimento da vegetação nativa, muitas vezes pode resultar na substituição das espécies nativas por tais espécies exóticas (OUDOLF; KINGSBURY, 2013a). Estas plantas introduzidas se tornam, então, invasoras e ocorre um espraiamento natural pela paisagem, em níveis exponenciais. É o caso de alguns bambus e de muitos capins africanos, como a braquiária, utilizada na agropecuária, que forma imensos campos de monocultura, estendendo-se além dos limites dos pastos e que, uma vez introduzida, possui reconhecida dificuldade de contenção e substituição por outras espécies (SIQUEIRA, 2017a). Como paisagistas, a introdução de espécies exóticas nos projetos deve ser feita com responsabilidade ambiental, não apenas baseada em questões estéticas. Os jardins compostos por plantas nativas, além de promoverem a conservação do bioma, oferecem vantagens em termos de manutenção. São espécies adaptadas ao ambiente – ao clima, ao solo, às mudanças sazonais – e precisam de menos intervenções do homem para sobreviverem e permanecerem com uma estética agradável (OUDOLF; KINGSBURY, 2013a). No caso do cerrado, entre outras coisas, isso significa que são plantas que conseguem sobreviver a longos períodos de estiagem, sem ou com menor necessidade de irrigação artificial, que ocorre, pelo menos, durante metade do ano nos jardins tradicionais compostos por plantas que não
possuem tais recursos. Adotar uma abordagem local, naturalista é mais sustentável, no sentido estrito da palavra e, em momentos de crise hídrica, é uma questão fundamental a ser abordada.
A missão social do paisagista e o potencial do movimento naturalista Como arquitetos paisagistas, é nosso dever socioambiental tentar reverter essa situação e temos as ferramentas estéticas para transformar a visão da população em relação a esse bioma. Segundo Burle Marx (2004, p.94), a missão social do paisagista tem esse lado pedagógico de fazer comunicar às multidões o sentimento de apreço e compreensão dos valores da natureza pelo contato com o jardim e com o parque [...] Também a nossa atitude tem um sentido projetivo, em relação ao futuro, para mostrar que houve alguém preocupado em deixar um legado valioso em estética e utilidade para os pósteros.
O paisagismo, com seu apelo estético, o contato direto com a população e sua função pedagógica descrita por Burle Marx, pode, se não erradicar os problemas ambientais, pelo menos ser instrumento de educação das causas de conservação da natureza. Considerando a missão do paisagista e as questões ecológicas e estéticas mencionadas, acreditamos que um movimento paisagístico em particular pode trazer discussões teóricas e práticas que
respondem a estes desafios: o New Perennial Movement, que se destaca no movimento naturalista contemporâneo no paisagismo. O New Perennial Movement iniciado no fim do século XX tem seus expoentes principalmente na Holanda, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Seu principal expoente é o Piet Oudolf, paisagista holandês, projetista dos jardins do High Line em Nova York. O movimento é característico de países com clima temperado, e, assim, utiliza as mudanças de estações como recurso estético e ecológico, para criar um jardim auto-sustentável e atraente durante todo o ano. Embora seja um movimento atualmente restrito aos países de clima temperado, devido à percepção de semelhanças estéticas e ecológicas entre a vegetação do cerrado e a de clima temperado, apoiada por autores como Bourlière e Hadley (1983) e Walter (2006), acreditamos que possa existir um potencial de adaptação da metodologia do New Perennial Garden à vegetação do cerrado para criação de uma arquitetura paisagística expressiva e mais ecológica.
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Assim, o objetivo principal do estudo é encontrar formas de atribuir uma expressão mais identitária à arquitetura paisagística no cerrado, por meio da valorização da flora nativa. Especificamente, pretende-se encontrar relações formais, estéticas e ecológicas entre a vegetação do cerrado e a composição dos jardins naturalistas contemporâneos – por meio de auxílios teóricos e gráficos – que possam atuar
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como referências técnicas e estruturadoras para o desenvolvimento de uma estética paisagística do cerrado. Deste modo, por meio da aplicação e adaptação do método de projeto do New Perennial Movement à estrutura e características ecológicas do cerrado, pretende-se desenvolver estratégias que possibilitem o desenvolvimento de um paisagismo expressivo-identitário das características do cerrado, de valor estético e ambiental.
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Para isto, inicialmente, o estudo buscou compreender tanto as características e métodos do movimento naturalista, quanto as características da vegetação do cerrado, especialmente da flora nativa com potencial ornamental e de sua estrutura em fitofisionomias, como classificadas por Ribeiro e Walter em ‘Fitofisionomias do bioma Cerrado’. Dentro do estudo do movimento naturalista, focou-se no New Perennial Movement, apresentando-se a metodologia de projeto de Piet Oudolf, o principal expoente do movimento, como descrita por Noel Kingsbury e Amalia Robredo. O livro ‘Planting: a new perspective’, escrito por Noel Kingsbury e Piet Oudolf, se configura como um manual de projeto e plantio naturalista e foi a principal referência, além do workshop de projeto naturalista ministrado por Amalia Robredo, paisagista argentina ensinada por Noel Kingsbury, e de experiências de projeto baseadas em participações voluntárias no projeto Jardins de Cerrado. Como forma de estudar a aplicação dos métodos de projeto do New Perennial Movement à flora rasteira nativa, foi feito um estudo de caso da Restauração
Paisagística no Parque Nacional de Brasília, desenvolvida em parceria com o projeto Jardins de Cerrado, da qual participou-se, tanto do projeto, quanto da execução. O projeto paisagístico é resultado da aplicação de conhecimentos de restauração por semeadura da flora rasteira nativa na primeira tentativa do grupo de realizar um projeto naturalista utilizando flora nativa. A fim de estudar a flora rasteira nativa, fez-se um estudo de caso de outro experimento do Jardins de cerrado, que consiste no estudo da germinação, desenvolvimento e reprodução das espécies rasteiras nativas, semeadas em área destinada ao experimento no Jardim Botânico de Brasília. Com o intuito de compreender as características botânicas e ecológicas das espécies utilizadas nos estudos de caso, além de, possivelmente, fornecer subsídios a futuros projetos, realizou-se, também, uma coleta dos dados disponíveis na literatura sobre algumas das espécies utilizadas no experimento do Jardim Botânico e na Restauração Paisagística do PNB. Focou-se no que poderia ser útil ao projeto paisagístico naturalista, buscando informações, quando disponíveis, de épocas de floração, frutificação e produção de sementes, perenifolia ou caducifolia da espécie, ciclo de vida, hábito, altura, etc. Outras características poderiam ser úteis para os projetos paisagísticos, como condições de luminosidade da planta, reprodução, tipo de solo e condições de umidade, entre outras; entretanto, pela praticamente inexistente utilização destas espécies com intuito paisagístico, estas informações nem sempre foram encontradas. Assim, considerando que a
informação de ocorrência natural da espécie pode indicar algumas das condições ambientais que a planta necessita, foram indicadas as fitofisionomias de ocorrência natural das espécies. Neste momento, buscou-se indicar os interesses visuais das espécies, como sugeridos pelo New Perennial Movement, como estrutura, cor das folhas e flores, cabeças de sementes e botões, folhagem, etc. Relacionando-os com o período de interesse da planta, indicou-se sugestões de uso segundo as categorias estabelecidas na metodologia de projeto de Piet Oudolf. Considerando os estudos realizados, as ideias para a criação de uma expressão paisagística identitária do Cerrado foram dividas em três eixos: a relação da vegetação do cerrado com a vegetação de clima temperado utilizada nos projetos naturalistas, como indício do potencial de utilização da flora rasteira nativa em jardins inspirados na metodologia do New Perennial Movement; a inspiração na ocorrência de comunidades florísticas na natureza e na estrutura das fitofisionomias como forma de realizar uma tradução da paisagem do Cerrado para o paisagismo; e, considerando a influência do paisagismo modernista na identidade paisagística brasileira, a busca de aspectos formais do modernismo e do naturalismo que se relacionem e possam auxiliar na criação de uma estética identitária. Em toda a fase de ideias, foram utilizados recursos teóricos e, principalmente, gráficos, para o estudo e demonstração das relações encontradas. O Ensaio Teórico está estruturado em três partes. A primeira parte, intitulada ‘Estudos’,
traz uma revisão bibliográfica dos temas vegetação do cerrado e movimento naturalista, cujas inter-relações serão base para o desenvolvimento do estudo. A segunda parte, ‘Experiências’, apresenta os experimentos do projeto Jardins de Cerrado e algumas espécies utilizadas, no Catálogo de Espécies. A terceira parte, denominada ‘Ideias’, apresenta as relações estabelecidas entre cerrado, naturalismo e modernismo, que podem auxiliar na criação de uma expressão paisagística identitária do cerrado. Estimulada pelo potencial de aplicação dos estudos em Brasília, foram acrescentadas breves considerações sobre o tema, seguida das considerações finais.
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1 ESTUDOS
1.1. O Cerrado
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Território O Cerrado está localizado basicamente no Planalto Central do Brasil, abrangendo, como área contínua, os estados de Goiás, Tocantins e o Distrito Federal, parte dos estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sol, Minas Gerais, Piauí, Rondônia e São Paulo. Também ocorre em áreas desconectadas, no Brasil, ao norte, nos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima, e ao sul, no Paraná. Representa cerca de 23% do território brasileiro e é o segundo maior bioma do país em área, superado apenas pela Floresta Amazônica. Fora do Brasil, ocupa áreas na Bolívia e no Paraguai, “enquanto paisagens semelhantes são encontradas na Colômbia, Guiana, Suriname e Venezuela, recebendo outras denominações como Llanos, por exemplo”. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.93-94). Clima O Cerrado caracteriza-se pela presença de invernos secos e verões chuvosos, um clima classificado como tropical chuvoso. Assim, o cerrado possui duas estações bem definidas: uma estação seca e uma estação chuvosa. As precipitações, portanto, estão praticamente concentradas de outubro a março, em toda a região. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.89).
O Cerrado também caracteriza-se por uma oscilação térmica bastante grande, ou seja, há uma grande oscilação entre a temperatura máxima e a temperatura mínima, ao longo do dia, especialmente no inverno. Entretanto, ao longo do ano, essa diferenciação não ocorre em grande escala.
1.1.1. Vegetação e o cerrado como savana A vegetação do bioma Cerrado engloba formações florestais, savânicas e campestres, no sentido de que ‘formação florestal’ representa áreas com predominância de espécies arbóreas; ‘formação savânica’ refere-se a áreas com árvores e arbustos espalhados sobre um estrato graminoso; e ‘formação campestre’ designa áreas com predominância de espécies herbáceas e algumas arbustivas. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.94). Dentro do entendimento do termo ‘cerrado’, há três acepções principais aceitas: a primeira diz respeito ao bioma Cerrado, ou à região em que ocorre. As outras duas referenciam-se ao cerrado ‘sentido amplo’ ou latu sensu, e ao cerrado ‘sentido restrito’ ou strictu sensu. O cerrado sentido restrito compreende apenas formações savânicas, sendo considerado o que melhor caracteriza o tipo fisionômico do bioma. O cerrado sentido amplo compreende o cerrado sentido restrito e as formações campestres do bioma, além do ‘cerradão’, uma formação florestal. Neste sentido, referenciando a vegetação característica do bioma, expressa no cerrado sentido restrito, o cerrado é considerado, para a maioria dos
autores modernos, uma savana1; savana configurando a área composta por predominância de herbáceas, com presença de árvores e arbustos dispostos em menor quantidade. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.99101). Considerando que o Cerrado é uma savana, destacam-se alguns aspectos da vegetação que são característicos do bioma. Muitas espécies, especialmente no Cerrado sentido restrito, são xeromórficas, ou seja, possuem estratégias de adaptação à seca, como cascas com cortiça grossa, fendida ou sulcada, espinhos, proteção por pilosidade, folhas duras, raízes profundas, rebrota depois de queimadas ou corte, seguida de rápido crescimento e exuberância, entre outras.
1.1.2. Descrição da paisagem do Cerrado por meio de suas Fitofisionomias2 O Cerrado caracteriza-se por uma grande biodiversidade associada à grande variação da composição florística em diferentes
ambientes. Segundo Ribeiro e Walter (1998, p.148), “as diferentes formas e tipos de vegetação existentes no Cerrado refletem a grande diversidade vegetal existente no bioma”. Ainda, “não existe uma flora homogênea no Cerrado, mas sim floras características para cada área” (CASTRO et al apud RIBEIRO; WALTER, 1998, p.139). O que há, portanto, são interações de diferentes parâmetros, formando diferentes ambientes, os tipos fitofisionômicos, com o surgimento de mosaicos vegetacionais que caracterizam a paisagem do bioma. (RIBEIRO; WALTER, 1998). Neste sentido, fazse importante o estudo das fitofisionomias ao estudar a vegetação do bioma. Por ser composta de ‘mosaicos vegetacionais’, considera-se pertinente o estudo das fitofisionomias e suas relações, também, como forma de compreensão da paisagem do Cerrado.
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Compreendidas entre os três tipos de formações do bioma, o Cerrado possui diversas fitofisionomias, que descrevem tipos diferentes de vegetação. Cada fitofisionomia está associada a um tipo de solo, condições de umidade e
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Há uma divergência na literatura entre a relação cerrado e savana, principalmente devido aos vários sentidos atribuídos a ambos os termos. Embora alguns autores considerem que o conceito de savana está subordinado ao conceito maior de cerrado, servindo para classificar apenas algumas de suas fisionomias, segundo Walter, Carvalho e Ribeiro (2008, p.41), modernamente, a maioria dos autores considera que o cerrado é uma savana. Embora não seja o foco do estudo, considerou-se importante introduzir o tema. Uma discussão mais aprofundada sobre esta relação pode ser encontrada em ‘O Conceito de Savana e de seu Componente Cerrado’ (WALTER; CARVALHO; RIBEIRO, 2008). 2 A classificação das fitofisionomias diverge entre autores. A classificação utilizada neste estudo é a mais aceita comumente, de Ribeiro e Walter, descrita em ‘Fitofisionomias do bioma Cerrado’ (1998). A apresentação das fitofisionomias, aqui, é dada de maneira superficial, privilegiando as características que podem ser úteis para o estudo paisagístico. A apresentação completa das características de cada fitofisionomia, como tipo de solo, tipo de vegetação e espécies características, entre outras, pode ser encontrada no texto original de Ribeiro e Walter (1998) e recomenda-se a leitura para uma melhor apropriação.
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luminosidade, cobertura arbórea, proporção de herbáceas, arbustos e árvores, disposição da vegetação e tipos de vegetação específicos, muitas vezes havendo famílias ou gêneros de plantas característicos. As formações florestais compreendem a Mata Ciliar, a Mata de Galeria, a Mata Seca e o Cerradão. As formações savânicas compreendem o Cerrado sentido restrito, o Parque de Cerrado, o Palmeiral e a Vereda. As formações campestres compreendem o Campo Sujo, o Campo Rupestre e o Campo Limpo. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.104).
podendo haver faixas dominadas por poucas espécies. Ao longo do leito do rio, é comum a formação de bancos de areia onde predomina uma vegetação arbustivoherbácea característica das famílias Boraginaceae, Myrtaceae e Rubiaceae. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.104-107).
FORMAÇÕES FLORESTAIS
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As formações florestais englobam os tipos de vegetação com predominância de espécies arbóreas e formação de dossel. Compreendem a Mata Ciliar, a Mata de Galeria, a Mata Seca e o Cerradão. A Mata Ciliar e a Mata de Galeria são associadas a cursos d’água, que podem acontecer em terrenos bem drenados ou inundáveis; a Mata Seca e o Cerradão ocorrem nos interflúvios, em terrenos bem drenados. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.104). MATA CILIAR
A Mata Ciliar (figura 3) acompanha rios de médio e grande porte, em que a vegetação arbórea não forma galerias. Caracteriza-se pela deciduidade na estação seca. A cobertura arbórea varia de 50 a 90% ao longo do ano. A altura média do estrato arbóreo varia entre 20 e 30 metros. Normalmente ocorre em terrenos acidentados inundáveis. Diferentes trechos ao logo da Mata podem apresentar composição florística bastante variável,
_fig.3 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de uma Mata Ciliar nos períodos seco e chuvoso.
MATA DE GALERIA
A Mata de Galeria acompanha rios de pequeno porte e córregos, em que a vegetação arbórea forma galerias sobre o curso d’água. A vegetação é perenifólia. A cobertura arbórea varia entre 70 a 95%. A altura média do estrato arbóreo varia entre 20 e 30 metros. Normalmente, ocorre uma transição brusca com formações savânicas e campestres. É comum haver grande quantidade de espécies epífitas, principalmente da família Orchidaceae. Compreende dois subtipos: Mata de Galeria não-Inundável (figura 4) e Mata de Galeria Inundável (figura 5). A Mata de Galeria nãoInundável possui grande número de espécies das famílias Leguminosae, Myrtaceae e Rubiaceae. A Mata de Galeria Inundável possui grande número de
espécies das famílias Melastomataceae, Piperaceae e Rubiaceae. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.107-111).
_fig.4 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de uma Mata de Galeria nãoInundável.
15 e 25 metros. A maioria das árvores é ereta, com alguns indivíduos emergentes. Na época das chuvas, forma-se um dossel, com cobertura arbórea de 70 a 95%, chegando a menos de 50% na época seca. A grande variação da cobertura ao longo do ano não permite a presença nem de muitos arbustos (devido à alta cobertura nas chuvas), nem de muitas epífitas (devido à baixa cobertura na seca). A Mata Seca Decídua pode ocorrer em terrenos rochosos e caracteriza-se pela presença de algumas espécies de Cactáceas e grande número de espécies espinhentas ou urticantes, possuindo grande afinidade florística com a Caatinga. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.111114).
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_fig.5 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de uma Mata de Galeria Inundável. MATA SECA
A Mata Seca (figura 6) não possui associação com cursos d’água, ocorrendo nos interflúvios. Geralmente, ocorre em solos mais ricos em nutrientes, com grande presença de matéria orgânica. Caracterizase pela caducifolia durante a estação seca, em diversos níveis, que a classificam em três subtipos: Mata Seca Sempre-Verde, Mata Seca Semidecídua e Mata Seca Decídua. A altura média do estrato arbóreo varia entre
_fig.6 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de três Matas Secas, nas épocas chuvosa e seca. O trecho do lado esquerdo (A) representa uma Mata Seca Sempre-Verde; o trecho do meio (B) uma Mata Seca Semidecídua e (C) o trecho do lado direito uma Mata Seca Decídua, com afloramento de rocha. CERRADÃO
O cerradão (figura 7) caracteriza-se por possuir aspectos xeromórficos e pela presença de espécies que ocorrem tanto no Cerrado sentido restrito, quanto nas matas. Apresenta dossel predominantemente
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contínuo. A cobertura arbórea varia entre 50 a 90%. A altura média do estrato arbóreo varia entre 8 a 15 metros, assim, proporcionando condições de luminosidade que favorecem a formação de estratos arbustivo e herbáceo. A vegetação é perenifólia, embora algumas espécies apresentem caducifolia em períodos da estação seca. Ocorre em solos profundos, bem drenados, de média e baixa fertilidade e ligeiramente ácidos. Possui médio teor de matéria orgânica, recebendo um incremento anual de resíduos orgânicos provenientes da decomposição de folhas durante a seca. De acordo com a fertilidade do solo, é classificado em dois subtipos: Cerradão Distrófico e Cerradão Mesotrófico. O Cerradão Distrófico possui solos pobres e o Cerradão Mesotrófico possui solos mais ricos. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.114-116).
_fig.7 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Cerradão.
FORMAÇÕES SAVÂNICAS As formações savânicas englobam os tipos de vegetação com presença de árvores e arbustos espalhados sobre um estrato de gramíneas. Compreendem o Cerrado sentido restrito, o Parque de Cerrado, o Palmeiral e a Vereda. O Cerrado sentido restrito possui árvores distribuídas
aleatoriamente sobre o estrato arbustivoherbáceo em diferentes densidades. No Parque de Cerrado, a ocorrência de árvores é concentrada em locais específicos. No Palmeiral, há a presença marcante de uma única espécie de palmeira. A Vereda caracteriza-se pela presença exclusiva do buriti, ocorrendo em menor densidade que no Palmeiral, e é circundada por um estrato arbustivo-herbáceo característico. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.116-117). CERRADO SENTIDO RESTRITO
O Cerrado sentido restrito caracteriza-se pela presença de árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e retorcidas. As espécies são, no geral, xeromóficas, ou seja, possuem estratégias de adaptação à seca. Geralmente, as árvores apresentam evidências de queimadas. Algumas espécies de arbustos e subarbustos permitem a rebrota após queima ou corte e, na época chuvosa, os estratos subarbustivo e herbáceo tornam-se exuberantes. O tronco das plantas lenhosas, em geral, possui cascas com cortiça grossa, fendida ou sulcada, e muitas espécies são produzidas por densa pilosidade. É classificado em quatro subtipos: o Cerrado Denso, o Cerrado Típico, o Cerrado Ralo e o Cerrado Rupestre. O Cerrado Denso, o Cerrado Típico e o Cerrado Ralo diferem na forma dos agrupamentos e espaçamentos das árvores e arbustos e seguem um gradiente decrescente na densidade de árvores. O Cerrado Rupestre difere dos outros por possuir solos rasos com afloramentos de rocha, apresentando espécies características adaptadas ao ambiente. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.117124).
O Cerrado Denso (figura 8) é um subtipo de vegetação predominantemente arbóreo. A cobertura arbórea varia de 50% a 70%. A altura média varia entre cinco e oito metros. Os estratos arbustivo e herbáceo são mais ralos. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.117-124).
metros. O estrato arbustivo-herbáceo é mais destacado. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.117124).
_fig.10 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Cerrado Ralo. _fig.8 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Cerrado Denso.
O Cerrado Típico (figura 9) é um subtipo de vegetação predominantemente arbóreoarbustivo. A cobertura arbórea varia de 20% a 50%. A altura média varia entre três e seis metros. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.117-124).
O Cerrado Rupestre (figura 11) é um subtipo de vegetação arbóreo-arbustivo que ocorre em ambientes rupestres. A cobertura arbórea varia de 5% a 20%. A altura média varia entre dois e quatro metros. O estrato arbustivo-herbáceo é destacado. Geralmente, aparece em mosaicos, incluído em outros tipos de vegetação. Os indivíduos arbóreos concentram-se nas fendas entre as rochas. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.117-124).
_fig.9 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Cerrado Típico.
O Cerrado Ralo (figura 10) é um subtipo de vegetação predominantemente arbóreoarbustivo. A cobertura arbórea varia de 5% a 20%. A altura média varia entre dois e três
_fig.11 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Cerrado Rupestre.
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PARQUE DE CERRADO
O Parque de Cerrado (figura 12) caracterizase pela presença de árvores agrupadas em pequenas elevações do terreno, conhecidas como ‘murundus’. A cobertura arbórea varia de 5% a 20%. A altura média varia entre três e seis metros. A flora que ocorre nos murundus é similar à do Cerrado sentido restrito. As áreas planas adjacentes aos murundus são inundáveis e, nelas, predomina a flora herbácea, similar a dos campos úmidos. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.124-126).
de espécie dominante Acrocomia aculeata, geralmente, possuem dossel descontínuo, ou não formam dossel. O Babaçual, de espécie dominante Attalea speciosa, geralmente, possui dossel contínuo. O Babaçual caracteriza-se por altura média de oito a 15 metros. A cobertura arbórea varia entre 30% e 60%. Ocorre apenas em terrenos bem drenados. O Buritizal, de espécie dominante Mauritia flexuosa, ocorre em solos mal drenados, brejosos. O Babaçual caracteriza-se por possuir formação de dossel, com altura média de 12 a 20 metros. A cobertura arbórea varia entre 40% e 70%, sendo quase homogênea ao longo do ano. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.126-129).
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_fig.12 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Parque de Cerrado. PALMEIRAL
O Palmeiral (figura 13) caracteriza-se pela presença marcante de uma única espécie de palmeira arbórea, praticamente não existindo árvores dicotiledôneas. Em geral, ocorrem em terrenos bem drenados, mas também podem acontecer em terrenos mal drenados, formando galerias ao longo das linhas de drenagem. É classificado em subtipos de acordo com a espécie dominante. Geralmente a espécie dominante de gênero Acrocomia, Attalea ou Syagrus ocorre em terrenos bem drenados. O Guerobal, de espécie dominante Syagrus oleracea, e o Macaubal,
_fig.13 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de três palmeirais. O trecho do lado esquerdo (A) mostra um Palmeiral onde predomina a gueroba (ou guariroba), o trecho central (B) onde predomina o babaçu e o trecho da direita (C) onde predomina o buriti. VEREDA
A Vereda (figura 14) caracteriza-se pela presença marcante da Mauritia flexuosa, o buriti, em meio a agrupamentos de arbustos e herbáceas. Encontram-se em solos saturados durante a maior parte do ano, ocorrendo em vales ou áreas plantas acompanhando linhas de drenagem, próxima a nascentes ou na borda de Matas de Galeria. São circundadas por Campo Limpo, geralmente úmido. Na Vereda, não
há formação de dossel, como no Buritizal. Caracteriza-se por uma altura média de 12 a 15 metros. A cobertura arbórea varia entre 5% e 10%. Nas áreas mais úmidas, possui, caracteristicamente, espécies das famílias Poaceae, destacando-se os gêneros Andropogon, Aristida, Paspalum e Trachypogon, Cyperaceae e Eriocaulaceae, além de espécies que caracterizam a Mata de Galeria Inundável. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.129-130).
_fig.14 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de uma Vereda.
CAMPO SUJO
O Campo Sujo (figura 15) é exclusivamente herbáceo-arbustivo, com presença de arbustos e subarbustos esparsos, os quais são, muitas vezes, espécies arbóreas menos desenvolvidas do Cerrado sentido restrito. É encontrado em solos rasos, eventualmente com pequenos afloramentos rochosos, ou em solos profundos de baixa fertilidade. É classificado em três subtipos: o Campo Sujo Seco, o Campo Sujo Úmido e o Campo Sujo com Murundus. O Campo Sujo Seco ocorre na presença de lençol freático profundo. O Campo Sujo Úmido ocorre na presença de lençol freático alto. O Campo Sujo com Murundus ocorre quando há presença de murundus, microrelevos mais elevados. A família mais frequente é a Poaceae, destacando-se, também, a Cyperaceae. A composição florística destaca-se pela exuberância na estação chuvosa ou logo após as queimadas e varia em espécies de acordo com o subtipo. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.131-132).
FORMAÇÕES CAMPESTRES As formações campestres englobam os tipos de vegetação com predominância de herbáceas e presença de arbustos e subarbustos. Compreendem o Campo Sujo, o Campo Rupestre e o Campo Limpo. O Campo Sujo caracteriza-se pela presença marcante de arbustos e subarbustos entremeados no estrato herbáceo. O Campo Rupestre diferencia-se do Campo Sujo por possuir afloramentos de rocha e muitas espécies endêmicas. No Campo Limpo, a presença de arbustos e subarbustos é insignificante. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.130-131).
_fig.15 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Campo Sujo. CAMPO RUPESTRE
O Campo Rupestre (figura 16) é predominantemente herbáceo-arbustivo, com presença de eventual de arvoretas pouco desenvolvidas de até dois metros de
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altura. Possui espécies típicas xeromórficas dependentes das condições ambientais características da fisionomia, muitas sendo endêmicas e raras. Ocupa trechos de afloramentos rochosos e, geralmente, ocorre em áreas com altitude superior a 900 metros, onde há ventos constantes, dias quentes e noites frias e a disponibilidade de água é restrita. A composição florística é bastante variável espacialmente e algumas espécies podem crescer diretamente sobre a rocha. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.133-135).
sendo menos frequente que o Campo Sujo com Murundus. (RIBEIRO; WALTER, 1998, p.135-136).
_fig.17 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Campo Limpo.
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_fig.16 Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Campo Rupestre. CAMPO LIMPO
O Campo Limpo (figura 17) é predominantemente herbáceo, com presença rara de arbustos e ausência de árvores. Pode ocorrer em diferentes condições, mas é mais frequente nas encostas, nas chapadas, nos olhos d’água, circundando as Veredas e na borda de Matas de Galeria. É classificado em três subtipos: o Campo Limpo Seco, o Campo Limpo Úmido e o Campo Limpo com Murundus. O Campo Limpo Seco ocorre na presença de lençol freático profundo. O Campo Limpo Úmido ocorre na presença de lençol freático alto. O Campo Limpo com Murundus ocorre quando há presença de murundus, microrelevos mais elevados,
1.2. O movimento naturalista contemporâneo na arquitetura paisagística Devido ao “declínio da manutenção pública da paisagem e à percepção de que o orçamento jamais atingirá de novo os níveis do século 19 ou mesmo do início do século 20, além da formação de novos movimentos sociais e ambientais”, nas últimas décadas tem sido cada vez mais frequente a busca por métodos de plantio ecológicos e sustentáveis, que podem ser chamados genericamente de naturalistas (HITCHMOUGH; DUNNETT, 2004, p.1, tradução nossa).3 Dentro do que pode ser classificado como paisagismo naturalista, muitas correntes podem ser observadas, com diferentes abordagens em relação ao nível de atuação do homem no ambiente natural, ao nível de similaridade do projeto com a natureza e ao valor atribuído à estética, entre outros. Além disso, envolvem diversas áreas, da agronomia à ecologia e à arquitetura. Por isso, é difícil encontrar um conceito que se aplique a todo o movimento, embora as correntes compartilhem alguns princípios comuns. Segundo James Hitchmough e Nigel Dunnett (2004), é possível identificar pelo menos três correntes de cultivo naturalista: a ‘restauração do habitat’, a ‘conservação criativa’ e a ‘paisagem antropogênica’,
evoluindo, respectivamente, da mais purista à mais flexível.4 As visões diferem em o que esse [cultivo naturalista] seria, entretanto, o consenso é de que essas plantações deveriam ter custos de manutenção relativamente baixos, ser o mais sustentáveis possíveis, taxonomicamente diversas, demonstrar uma troca de estações marcada e suportar o máximo de fauna silvestre possível (HITCHMOUGH; DUNNETT, 2004, p.1, tradução nossa).5
Já para Piet Oudolf e Noel Kingsbury (2013), o principal aspecto que une as diferentes abordagens naturalistas é a criação de comunidades de múltiplas espécies, em oposição ao tradicional plantio de monoculturas em blocos: O que se destaca em muitas destas novas e distintas abordagens tecnológicas e de engenharia em relação ao plantio é que comunidades de múltiplas espécies estão sendo usadas – grupos de plantas relativamente estáveis que podem ser tratadas juntas como uma unidade. Isso faz parte do zeitgeist do projeto de plantio contemporâneo – um lento afastamento da implantação precisa de plantas individuais para combinações de espécies, projetando e plantando algo que é maior que a soma das partes, desenvolvendo uma vegetação ao invés de plantando uma massa de
Trecho original: “[…] the ongoing decline of public maintenance, the realisation that funding will never again reach the levels of the nineteenth century, and the arrival of new social and environmental movements […]” (HITCHMOUGH; DUNNETT, 2004, p.1). 4 Tradução nossa. No texto original, respectivamente: habitat restoration, creative conservation e anthropogenic landscape (HITCHMOUGH; DUNNETT, 2004, p.8-9). 5 Trecho original: “Views differ on what these might be, however the consensus is that these plantings should have relatively low-maintenance costs, be as sustainable as possible, taxonomically diverse, demonstrate marked seasonal change, and support as much wildlife as possible” (HITCHMOUGH; DUNNETT, 2004, p.1). 3
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indivíduos (OUDOLF; KINGSBURY, 2013, p.12, tradução nossa).6
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No âmbito da arquitetura paisagística, pesquisadores como Nigel Dunnett e James Hitchmough, da chamada Escola de Sheffield7, e paisagistas como Noel Kingsbury e Sarah Price, também da Inglaterra; o expoente holandês Piet Oudolf, que projetou os jardins do High Line (figura 18), em Nova York, e do Lurie Garden (figura 19), no Millenium Park, em Chicago; Roy Diblik, que colaborou em alguns dos projetos de Piet Oudolf, e Tracy DiSabatoAust, ambos dos Estados Unidos; e Amalia Robredo, no Uruguai – todos pertencentes do que auto-identificam como The New Perennial Movement8 – têm desenvolvido, desde o final do século XX, uma metodologia de projeto que, ao mesmo tempo, permita a utilização de conceitos ecológicos e defina um estilo estético. Seus projetos não buscam imitar completamente a natureza, mas indicar um atencioso e complexo arranjo de plantas, deixando, entretanto, que se desenvolvam naturalmente – ou seja, que sofram as mudanças ocasionadas pelas estações e
que completem seu ciclo de vida, rebrotando espontaneamente, ao contrário das constantes podas e trocas de mudas comuns no paisagismo tradicional que utiliza as técnicas convencionais de horticultura. (OUDOLF; KINGSBURY, 2013a). No Brasil, nota-se a formação de um movimento naturalista no Rio Grande do Sul, com os paisagistas Toni Backes e Helena Schanzer, entretanto não foram encontrados indícios da tentativa de utilização de flora nativa, sendo o termo “naturalismo” conectado prioritariamente a uma implantação ecológica associada ao estilo difundido pelos icônicos jardins naturalistas dos Estados Unidos e da Europa, citados anteriormente. Em Brasília, destacamos o trabalho da arquiteta paisagista Mariana Siqueira, idealizadora do projeto Jardins de Cerrado, que conta com apoio do ICMBio, do Jardim Botânico de Brasília, da Embrapa, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília, entre outros. Mariana trabalha em parceria com a paisagista argentina Amalia Robredo, que, com a ajuda de Noel Kingsbury, iniciou a
Trecho original: “What is striking about many of these new and distinctly technological and engineering approaches to planting is that communities of multiple species are being used – relatively stable groups of plants which can be managed altogether as a unit. This is part of the zeitgeist of contemporary planting design – a slow move away from precise individual plant placement to combinations of species, designing and planting something which is greater than planting a mass of individuals.” (OUDOLF; KINGSBURY, 2013, p.12). 7 Department of Landscape of the University of Sheffield. O Departamento da Paisagem da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, é referência no estudo de jardins naturalistas e do New Perennial Movement. 8 O nome The New Perennial Movement, livremente traduzido como “O Novo Movimento Perene”, faz referência às plantas perenes, classificação da vegetação, normalmente herbácea, com um ciclo de vida longo, maior que dois anos, em contraponto às plantas anuais ou bianuais, que vivem apenas por uma ou duas estações de florescimento, respectivamente. O termo ‘perene’, em português, também é usado para classificar a espécie cujas folhas permanecem verdes durante todo o seu ciclo de vida, chamadas de plantas perenes ou perenifólias, em oposição às espécies decíduas, ou caducifólias, que perdem as folhas durante um período do ano. 6
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_ fig.18 High Line, Nova York. Jardim de Piet Oudolf. _ fig.19 Lurie Garden, Millenium Park, Chicago. Jardim de Piet Oudolf.
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implantação paisagística e cultivo da flora nativa costeira no Uruguai. Mariana Siqueira tem seguido de forma pioneira e com abordagem local o New Perennial Movement e realizado, nos últimos dois anos, projetos de jardins naturalistas em residências, paralelamente à pesquisa e experimentação de técnicas de cultivo e reprodutibilidade da flora nativa do cerrado (SIQUEIRA, 2017a). Observa-se, também, a presença de outras iniciativas de valorização da flora rasteira do Cerrado, como o Cerrado Infinito, em São Paulo, e o Restaura Cerrado, no Distrito Federal. O Cerrado Infinito é um projeto de artes plásticas que busca revelar o que restou da flora dos campos cerrados nas paisagens paulistanas e o Restaura Cerrado trabalha no sentido estrito de conservação e restauração, sem um apelo paisagístico propriamente dito.
1.2.1. The New Perennial Movement Campos e pradarias são paisagens em que predominam as gramíneas, com reduzida, porém significativa, presença de outras plantas herbáceas, formando uma rica comunidade. Paradoxalmente, são essas diferentes espécies em menor quantidade que chamam a atenção visual, como ocorre com a figura em primeiro plano, em oposição ao pano de fundo, em uma pintura. Os autores do New Perennial
Movement propõem uma inspiração na natureza dos campos e pradarias como modelo de desenho, misturando características de campos naturais com as de jardins tradicionais (2013b). Segundo Kingsbury (2013b), algumas diferenças entre estas duas categorias podem ser percebidas, mas podem se incorporar as vantagens de um para solucionar desvantagens do outro, daí o valor de misturar os dois modelos. Entre estas características estão: - Em um campo ou pradaria, falta ordem e as plantas frequentemente parecem estar distribuídas aleatoriamente. - Um campo carece bastante de qualidade gráfica ou estrutura, mas, em vez disso, parece ter uma textura suave e difusa, embora alguns habitats de pradarias e campos secos contenham espécies com uma estrutura a longo termo forte, como indivíduos. - Um campo pode parecer desarrumado depois do florescimento, já que é quase impossível manter plantas individuais. - Um jardim só pode caber em uma área unitária, o que pode tornar difícil o interesse contínuo ao longo das estações. - Um jardim pode parecer uma tela restrita com pouco escopo para repetição. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.78, tradução nossa).9
Outra diferença entre comunidades naturais e jardins projetados é em relação à intensidade dos estímulos visuais. Os jardins
Trecho original: “A meadow or prairie lacks order, and plants often appear to be randomly distributed; a meadow lacks much graphic quality or structure, but instead appears fine-textured and diffuse, although a few prairie and dry meadow habitats contain species with a strong long-term structure as individuals; a meadow can look untidy after flowering, as it is almost impossible to maintain individual plants; a garden planting can only fit in so much to a unit area, which can make continual seasonal interest difficult; a garden planting can seem a restricted canvas, with little scope for repetition” (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.78). 9
_fig.20 Campo anual de flores silvestres em Brighton, Inglaterra. Na Inglaterra, no verão, é costume a semeadura de campos com misturas de plantas silvestres, desde parques e áreas públicas, como na figura, a residências. Misturas de sementes de flora nativa anual são vendidas comumente.
possuem um impacto visual mais concentrado, que, segundo Noel Kingsbury (2013, p.82), chegou ao nível da exaustão visual, em contraponto com comunidades naturais que possuem poucos estímulos distribuídos em um grande pano de fundo relativamente neutro. Entretanto, ainda segundo Kingsbury (2013, p.82), há uma tendência de longo termo de uma transição entre estes grandes estímulos visuais, para estímulos menos forte, aproximando-se de um aspecto mais natural. Nesse sentido, alguns paisagistas no século XX tentaram promover plantas de aspecto mais sutil, destacando-se na Alemanha Karl Foerster (1874-1940), que introduziu o uso de gramíneas e samambaias, e na Inglaterra Cedric Morris (1889-1982), que utilizava plantas não convencionais, e Beth Chatto, colega de Morris, que passou a escolher as
espécies de projeto por suas formas e linhas, sua estrutura, “elegância natural”, em vez de por suas cores, como é mais comum até hoje. Assim, com essa abordagem, o pensamento contemporâneo no paisagismo foi muito influenciado por Chatto, assim como pela promoção de ambientes naturais ou semi-naturais de valor estético, como a semeadura de campos silvestres (figura 20) que entrou em voga na Europa no século XX e se tornou um costume apreciado no verão e na primavera, influenciando o gosto da população e a atração por plantas de campo mais singelas. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.82). O desenho de jardins no século XX foi dominado por blocos de monoculturas. Neste período, alguns paisagistas se
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destacaram ao tentar reverter esse dogma. A britânica Gertrude Jekyll promoveu o uso de faixas, que são em essência blocos alongados, que forneciam um aspecto dinâmico, alterando o modo como o jardim era percebido ao longo do passeio do observador. Burle Marx tratava o jardim como uma pintura, criando diferentes formas e usando a justaposição de grandes blocos de espécies fortemente contrastantes, influenciando também os americanos James van Sweden e Wolfgang Oehme. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.79). No final do século XX, iniciou-se um movimento de reação contra o plantio de blocos de uma espécie, visando um plantio de maior biodiversidade e um maior interesse pela ecologia, em geral. O movimento paisagístico foi mais desenvolvido no Reino Unido, na Holanda e na Alemanha, neste período, com uma natureza de desenho mais sofisticada. Segundo Noel Kingsbury, “quando falamos sobre quebrar as regras, a regra de que indivíduos de cada variedade têm de ser agrupados em blocos é a primeira a ser quebrada” (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.80, tradução nossa).10 Segundo Kingsbury e Oudolf (2013, p.80), com o aumento de interesse no paisagismo
naturalista, iniciou-se uma busca por um maior detalhamento em combinações, agrupamentos de plantas, resultando na criação de duas abordagens principais: a primeira, de aleatoriedade ou semialeatoriedade de plantação por uma mistura de sementes; a outra é o trabalho dos pesquisadores alemães Richard Hansen e Friedrich Stahl, que, de 1960 em diante, desenvolveram uma abordagem altamente estruturada que visava uma representação estilizada de comunidades naturais de plantas Hansen e Stahl reconheceram cinco categorias baseadas em interesse estrutural e nível de agrupamento: plantas tema, plantas companheiras, plantas solitárias, plantas de cobertura de solo e plantas dispersas. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.80, tradução nossa).11
Da abordagem de Hansen e Stahl, evoluiu o método de Piet Oudolf, assim, apesar destes métodos constituírem de certa maneira uma fórmula, é possível perceber variações de estilos de desenho e projeto, de um movimento em evolução.
METODOLOGIA P R O J E T O 12
DE
Se olharmos uma comunidade de plantas
Trecho original: “when we talk about breaking the rules, the rule that individuals of each variety have to be clumped together in blocks is the first one to be broken” (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.80). 11 Trecho original: “The other is the work of the German researchers Richard Hansen and Friedrich Stahl, who from the 1960s onwards developed a highly structured approach which aimed at a stylized representation of natural communities. Hansen and Stahl recognized five categories based on structural interest and level of grouping: theme plants, companion plants, solitary plants, ground-cover plants and scatter plants” (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.80). 12 Diversos autores do New Perennial Movement apresentam suas metodologias e técnicas de projeto naturalista, que diferem de acordo com seu estilo individual. A metodologia apresentada neste ensaio é a utilizada por Piet Oudolf, que influenciou diversos paisagistas e é ensinada em livros e cursos ministrados pelo próprio arquiteto, Noel Kingsbury e Amalia Robredo. 10
silvestres, não identificamos todas as espécies de uma vez; olhamos, gradualmente, dos elementos que chamam mais atenção aos mais discretos. Segundo Kingsbury e Oudolf (2013, p.82), nossos olhos são atraídos primeiro para as flores e folhas mais vivas e coloridas e, depois, para estruturas fortes. Segundo eles, quanto mais tempo observarmos a comunidade, mais enxergamos, passando a identificar também as cores mais sutis, formas interessantes, justaposições e combinações. A repetição é, também, um fator importante, pois uma espécie isolada dificilmente é percebida, ganhando, entretanto, força, quando é extensamente repetida. Por isso, segundo os autores, devemos reconhecer a importância das espécies de “impacto imediato” em um jardim, aquelas que se destacam e causam o maior impacto. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.82). Assim, é útil pensar em uma hierarquia de plantas em termos de impacto. Os autores do New Perennial Movement as dividem em três grupos: ‘protagonistas’, ‘matriz’ e ‘dispersas’13. As protagonistas são grupos de espécies ou espécies individuais que possuem o maior impacto visual e têm prolongado interesse ao longo do ano, com grande duração de estruturas visualmente importantes, como botões, flores, sementes, folhas. A matriz é composta de uma ou poucas espécies de menor destaque usadas em massa, formando a base para as protagonistas e dispersas, e devem apresentar uma boa aparência durante todo o ano. As dispersas são, normalmente,
aleatoriamente dispersas em todo o jardim, com o objetivo de fornecer tanto uma sensação natural de espontaneidade, quanto uma sensação de unidade visual por estarem presentes em todo o projeto. As plantas dispersas têm reduzidas fases de interesse visual e, por isso, reforçam o sentido de sazonalidade do jardim. Essa estrutura se inspira na natureza, na ideia do pano de fundo para algumas espécies em destaque, em contraponto ao desenho tradicional que usa apenas protagonistas de alto impacto. PROTAGONISTAS
As plantas protagonistas podem ser organizadas em grupos (blocos) ou em faixas (drifts em inglês, bandas em espanhol) e podem, ainda, ser repetitivas. Os grupos e as faixas podem ser compostos por apenas uma espécie (monocultura), ou por grupos de espécies. Eles podem aparecer em diferentes tamanhos e formas e podem ser repetidos para dar uma sensação de ritmo e intercalados com plantas dispersas individuais ou em grupos. Segundo Noel Kingsbury (2013, p.86), projetos em grupos necessitam de repetição para ganhar um senso de unidade e os grupos com melhor potencial para repetirem-se são os de espécies com boa estrutura por um longo período ou com longo período de floração, mas que também tenham atrativos quando não estão floridas. Ele salienta “o valor de repetir espécies com um longo período de interesse e a importância de olhar além das flores como o único ou até mesmo a
Tradução de Amalia Robredo em apresentação ‘Diseño Naturalista: Tecnica de Piet Oudolf’ ministrada no workshop ‘Jardins Naturalistas e Flora do Cerrado’ em Brasília, 9 out. 2016. Em inglês, respectivamente: primary plants, matrix planting e scatter plants. 13
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_fig.21 Tabela de interesses para o Maximilianpark, na Alemanha, projeto de Piet Oudolf. Na legenda, azul representa floração, verde representa interesse na folhagem e ocre representa interesse estrutural, como cabeças de semente, caule ou inflorescências de gramíneas. A tabela é dividida, por espécie, em início do verão, meio do verão, final do verão, início do outono, fim do outono e inverno.
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principal fonte de interesse” (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.86, tradução nossa).14 Para auxiliar nessas escolhas, é feita uma tabela relacionando cada espécie aos seus períodos de interesses, divididos em floração, folhagem e estrutura (sementes, caules), como representada na figura 21. MATRIZ
A matriz é a “massa do panetone”, ou seja, é o pano de fundo sobre o qual outras plantas irão ganhar destaque. Assim, uma boa planta para matriz deve ser visualmente menos atrativa, com cores suaves e forma que não chame atenção. A matriz também deve ocupar fisicamente o espaço, já que parte de sua função é realmente de ser cobertura do solo. Também por isso, é importante que tenham uma boa aparência
durante todo o ano. Capins são uma boa escolha para matrizes, pelas características fisiológicas compatíveis; além disso, requerem pouca manutenção. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.99). Em termos de desenho, a matriz evolui em sua ideia original de simplicidade. Ela pode ser constituída como uma grande área plantada aleatoriamente sobre a qual os grupos de protagonistas são colocados, ou mesmo em blocos próprios, fazendo parte do desenho – nos dois casos, podendo ser constituída de apenas uma espécie, de uma mistura de espécies distribuída igualmente, ou aleatoriamente, ou mesmo formando uma composição. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.101-102).
Trecho original: “The value of repeating species with a long season of interest, and the importance of looking beyond flowering as the only or even main source of interest” (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.86). 14
DISPERSAS
As plantas dispersas devem ser tratadas e posicionadas individualmente, não em grupos e blocos, devendo ser repetidas ao longo de toda a área para criar uma sensação de ritmo natural. Elas servem para realçar o jardim durante determinada estação, devido à forte atração que causa por sua cor ou estrutura. Assim, não precisa causar um impacto visual durante todo o ano, como a matriz e as protagonistas, sendo melhor que não chame atenção alguma durante o resto do ano, mas deve ter forte atração visual durante seu período de interesse e deve ser distintivamente diferente do resto do jardim. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.111).
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Assim como a vegetação na natureza pode ser compreendida, desvendada em camadas, o projeto naturalista é pensado em camadas (figuras 22 e 23), tanto como estratégia de projeto, como de simplificação do planejamento, da visualização e da implementação do jardim (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.111). As camadas podem ser dividas de acordo com o tipo de vegetação (capins, arbustos, herbáceas, árvores, etc.) ou em termos projetuais, separando matriz, protagonistas e dispersas. O objetivo da divisão em camadas é principalmente o de simplificar o processo, possibilitando a definição de um jardim complexo como a sobreposição de espécies e camadas, em vez de uma massa confusa de espécies diferentes, aparentemente aleatória. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.114). Assim, os autores sugerem um método de projeto: primeiramente pensa-se na camada
mais simples – a matriz; depois na composição mais complexa, envolvendo texturas, cores, estruturas – as protagonistas; e por último ou paralelamente às protagonistas, posiciona-se as dispersas. É interessante observar que o método de projeto em camadas está relacionado ao método de plantio (figura 24), muitas vezes realizado por semeadura, que tem ligação direta com a ordem de justaposição de camadas e da marcação de grid. Assim, o processo de plantio segue o mesmo processo do projeto. No processo de projeto, a escolha por um desenho em grupos ou faixas, de formato geométrico ou orgânico, mais rígido ou mais flexível, maior ou menor, com grupos de uma espécie ou uma mistura de espécies, da justaposição de camadas ou delimitação clara de grupos, deve levar em conta, principalmente, a manutenção posterior do jardim. Ainda que o movimento naturalista valorize o rompimento com a tradição de blocos bem definidos de monocultura, este método oferece uma grande vantagem em termos de manutenção quando não há funcionários especializados no manejo naturalista, no sentido de que torna claro o projeto e evidencia espécies daninhas, pragas, etc., além de aproximar-se do processo de horticultura tradicional. Assim, há de se considerar este aspecto, principalmente quando não há a certeza de que o jardim contará com jardineiros que compreendam o método de manejo naturalista ou as novas espécies utilizadas, uma vez que espécies perenes possuem características de manutenção diferentes
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As plantas dispersas devem ser tratadas e posicionadas individualmente, não em grupos e blocos, devendo ser repetidas ao longo de toda a área para criar uma sensação de ritmo natural. Elas servem para realçar o jardim durante determinada estação, devido à forte atração que causa por sua cor ou estrutura. Assim, não precisa causar um impacto visual durante todo o ano, como a matriz e as protagonistas, sendo melhor que não chame atenção alguma durante o resto do ano, mas deve ter forte atração visual durante seu período de interesse e deve ser distintivamente diferente do resto do jardim. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.111).
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Assim como a vegetação na natureza pode ser compreendida, desvendada em camadas, o projeto naturalista é pensado em camadas (figuras 22 e 23), tanto como estratégia de projeto, como de simplificação do planejamento, da visualização e da implementação do jardim (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.111). As camadas podem ser dividas de acordo com o tipo de vegetação (capins, arbustos, herbáceas, árvores, etc.) ou em termos projetuais, separando matriz, protagonistas e dispersas. O objetivo da divisão em camadas é principalmente o de simplificar o processo, possibilitando a definição de um jardim complexo como a sobreposição de espécies e camadas, em vez de uma massa confusa de espécies diferentes, aparentemente aleatória. (OUDOLF; KIGSBURY, 2013, p.114). Assim, os autores sugerem um método de
projeto: primeiramente pensa-se na camada mais simples – a matriz; depois na composição mais complexa, envolvendo texturas, cores, estruturas – as protagonistas; e por último ou paralelamente às protagonistas, posiciona-se as dispersas.
Figura 22 – Camadas em papel vegetal em projeto de jardim. “Exemplos do uso de layers em paisagismo. O papel vegetal permite que o planejamento de plantios complexos seja desmembrado em uma série de processos mais simples” (OUDOLF; KINGSBURY, 2013b, 15 p.114, tradução _ nossa).
fig.22
É interessante observar quebaixas o método de 28Recorte de plantas das seções 29 camadas do High Line, York, projeto projeto em estáNova relacionado ao de Piet Oudolf. método de plantio (figura 24), muitas vezes Na figura, a camada superior (layer one) ilustra realizado apor semeadura, que disposição da matriz, emtem umaligação transição entre duas gramíneas, muda espaçada direta com a ordem decada justaposição de de 1 a 1,5m. A camada inferior (layer two) representa camadas diversas e da marcação de grid. Assim, o plantas perenes, em grupos ou dispersas. processo As deplantas plantio mesmo da segue camadaoinferior misturam-se às gramíneas da matriz, tendo sido plantadas em processo do projeto. uma baixa densidade, para maximizar o efeito de estarem entremeadas às gramíneas. Espaços vazios depois da combinação das camadas foram cobertos com gramíneas mais baixas. (OUDOLF; KINGSBURY, 2013b, p.115).
_ fig.23 Camadas em papel vegetal em projeto de jardim. “Exemplos do uso de layers em paisagismo. O papel vegetal permite que o planejamento de plantios complexos seja desmembrado em uma série de processos mais simples” (OUDOLF; KINGSBURY, 2013b, p.114, tradução nossa).15
Figura 24_– Execução de projeto usando grid e estacas. fig.24 Para marcarExecução a disposição grupos em formatos dedos projeto usando grid e estacas.
orgânicos, oPara projeto é referenciado uma malha,em formatos marcar a disposiçãoados grupos transposta ao terreno. oAprojeto partir daé malha, delimita-se orgânicos, referenciado a umaasmalha, posições e formatos da disposição de plantas, neste transposta ao terreno. A partir da malha, delimitacaso, em sprays se as coloridos. posições e formatos da disposição de plantas, neste caso, em sprays coloridos.
Trecho original: “Examples of the use of layers in planting. Tracing paper enables the planning of complex plantings to be broken down into several simpler processes” (OUDOLF; KINGSBURY, 2013b, p.114).
15
das espécies tradicionalmente utilizadas, devido ao seu ciclo anual. Por outro lado, o plantio em blocos de monocultura requer constante manutenção no sentido de que evidencia qualquer irregularidade (espécies que se espraiaram a bloco de outras espécies, espécies em uma fase não atrativa do seu ciclo de vida, etc.), que são características das plantas perenes e que poderiam ser disfarçadas ou, até mesmo, apreciadas e incorporadas em um desenho menos rígido. Assim, há de se levar em consideração o tipo de manutenção requerida em relação à mão de obra disponível ao realizar um projeto deste tipo, sendo as escolhas de desenho também escolhas de manejo.
29
2 EXPERIÊNCIAS
2.1. Jardins
32
de
Cerrado
O projeto Jardins de Cerrado partiu de uma inquietude da arquiteta paisagista Mariana Siqueira ao perceber que quase não haviam plantas do cerrado disponíveis nos viveiros para usar nos projetos paisagísticos, com exceção, sobretudo, de árvores de formações florestais. Ao longo de suas pesquisas, percebeu que a flora rasteira não era comercializada devido a uma noção generalizada de impossibilidade de sua reprodução artificial e da inexistência de uma linguagem paisagística que norteasse sua utilização em projetos. Assim, inspirado no New Perennial Movement, o projeto busca estudar e introduzir a flora nativa do cerrado, principalmente gramíneas, arbustos e herbáceas, nos projetos de paisagismo. O projeto conta com a parceria do escritório Mariana Siqueira Arquitetura da Paisagem, do Coletivo Restaura Cerrado16, do CECAT ICMBio, da Universidade de Brasília, da Embrapa, do Jardim Botânico de Brasília, da paisagista argentina Amalia Robredo, da Universidade Católica de Brasília, entre outros. (SIQUEIRA, 2017b). Segundo Mariana Siqueira (2017b), é importante realizar uma tradução paisagística dos ambientes do cerrado nos parques e jardins para levar a compreensão para as pessoas de que o cerrado é uma savana, para, idealmente, inspirar a importância de preservá-lo. Assim, a
arquiteta (SIQUEIRA, 2017b) explica que um dos objetivos do Jardins de Cerrado é criar uma nova estética de jardim que inclua os elementos característicos e belos do cerrado, como a gama de tons metálicos de suas formações savânicas. Para isso, os membros do projeto fazem expedições para paisagens naturais buscando plantas com potencial ornamental, coletando espécies para identificação botânica, tendo sido identificadas já 250 plantas com potencial ornamental. (SIQUEIRA, 2017b).
2.1.1. Experimento Jardins de Cerrado no Jardim Botânico de Brasília17 Para estudar a germinação, o estabelecimento e o crescimento de espécies da vegetação rasteira do cerrado, o projeto Jardins de Cerrado montou um experimento em parceria com o Jardim Botânico de Brasília com 15 espécies, predominantemente gramíneas, herbáceas e arbustos. A lista de espécies18 é a seguinte, além de uma espécie desconhecida da família Asteraceae:
Achyrocline satureoides - Macela Anacardium humile - Cajuzinho-do-cerrado Andropogon fastigiatus - Andropogon nativo Aristida riparia - Rabo-de-raposa
16
O coletivo é composto pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), pelo Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e pela Embrapa Cerrados. 17 Os desenhos técnicos foram cedidos à autora por Mariana Siqueira e encontram-se no anexo A, em três pranchas, sob os títulos ‘Implantação Geral’, ‘Planta Baixa’ e ‘Espécies Vegetais – Fotografias’. 18 As fotos das espécies podem ser encontradas na prancha intitulada ‘Espécies Vegetais – Fotografias’ no anexo A. As informações ecológicas de algumas das espécies estão descritas na seção ‘Catálogo de Espécies’.
Aristida pendula - Capim-carrapato Chresta sphaerocephala - João-bobo Eremantus uniflorus - Candeeiro-roxo Loudetiopsis chyzothrix - Brinco-de-princesa Paepalantus chiquitensis - Chuveirinho Schizachyrium sanguineum - Capim-roxo Senna alata - Fedegosão Solanum lycocarpum - Lobeira Vernonanthera polyanthes - Assa-peixe Vernonia aurea - Amargoso A maioria das espécies já era utilizada em restaurações, portanto, já se sabia que teriam êxito no estabelecimento e o experimento serviria, então, para estudar o crescimento destas espécies, submetidas a diferentes condições. É o caso do cajuzinho, brinco-de-princesa, rabo-de-raposa, amargoso, assa-peixe e macela, por exemplo. Outras espécies nunca haviam sido utilizadas pelo grupo do Restaura Cerrado e foram introduzidas no experimento devido ao seu potencial ornamental, como, por exemplo, a Chresta sphaerocephala. (Informação verbal).19 Amalia Robredo ajudou a formular o experimento, baseada na experiência dela no Uruguai (informação verbal)20. O experimento consiste em 180 parcelas de 1m x 1m, separadas em quatro tratamentos – com adubação inicial (esterco de boi e pó de rocha) e sem adubação, com rega (pouca quantidade, duas vezes por semana)
e sem rega – para cada 3 amostras de espécies distribuídas ao longo de toda a área. A ideia era simular uma situação de espaço público com baixa irrigação e manutenção. (SIQUEIRA, 2017b). A área era coberta originalmente por braquiária, um capim exótico invasor, que foi removida mecanicamente inicialmente, apenas na área de experimento. Depois, foi feita capina manual, em mutirões de voluntários que aconteciam em média a cada 15 dias, por um período de mais de um ano, até o cobrimento completo do solo. (Informação verbal).21 Desde a semeadura, em 30 de janeiro de 2016 (figura 25), é estudada a reação das espécies aos diferentes tratamentos, percebendo-se que os lotes em parcelas irrigadas, geralmente, se desenvolveram melhor, mas que os lotes em parcelas sem nenhum cuidado especial – sem adubo ou rega – também se desenvolveram bem. (SIQUEIRA, 2017b). Em maio de 2017, já não se via diferenças claras entre a área irrigada e a área não irrigada, apenas se analisada cada planta individualmente (informação verbal)22. As espécies que se desenvolveram melhor com irrigação foram o assa-peixe, aristida, capim-roxo, candeeiro-roxo, capimcarrapato, fedegosão e joão-bobo.
19
Informação obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017. 20 Informação obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017. 21 Informação obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017. 22 Informação obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017.
33
_fig.25 Semeadura do experimento no Jardim Botânico de Brasília, 30 jan. 2016.
34
Entretanto, na maioria dos casos, não foi observada uma diferença muito grande em relação às parcelas sem irrigação. Concluiuse que com apenas um pouco de irrigação, é possível promover um grande desenvolvimento destas espécies. Para as outras espécies, a irrigação não desempenhou um papel determinante no desenvolvimento. As espécies que se desenvolveram melhor com adubação foram o amargoso, andropogon, brinco-deprincesa, candeeiro-roxo, fedegosão e lobeira. Para as outras espécies, o uso de adubo não desenvolveu um papel determinante no desenvolvimento e, em alguns casos, chegou a oferecer um desempenho negativo. (Informação verbal).23
Quatro meses depois da semeadura (figuras 26 e 27), algumas espécies já estavam bem desenvolvidas e 15 meses depois, a maioria das amostras já haviam produzido inflorescências, algumas já tendo completado um ciclo de vida. O experimento serviu, então, não só para estudo do desenvolvimento da vegetação, mas, principalmente, para desmistificar a ideia difundida de que é impossível “plantar cerrado”. (SIQUEIRA, 2017b). Em maio de 2017 (figuras 28 a 31), as amostras tinham avançado além dos limites dos canteiros, misturando-se umas às outras, em alguns trechos, formando naturalmente mesclas, sobreposições, jogos de alturas, podendo-se, assim, observar,
23
As análises dos dados estão sendo feitas pelo mestrando de ecologia na UnB André Coutinho, entretanto, os dados ainda não foram publicados. A informação foi obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017.
35
_ fig.26 Experimento no Jardim Botânico de Brasília, 23 mai. 2016. _ fig.27 Andropogon fastigiatus, à esquerda, e Lepidaploa aurea, à direita, quatro meses depois da semeadura.
36
_ fig.28,29,30 Combinações de espécies no experimento do JBB, 26 mai. 2017.
_fig.31 Visão geral do experimento no JBB, 26 mai. 2017.
também, as relações visuais de algumas combinações de espécies, que podem ser úteis para o projeto de jardins. O resultado visual, apesar de não ser um jardim, demonstra que, se organizadas plasticamente, estas combinações têm potencial para formar jardins em outros projetos.
2.1.2. Restauração Paisagística no Parque Nacional de Brasília24 A restauração paisagística no Parque Nacional de Brasília (PNB), conhecido como ‘Água Mineral’, foi uma iniciativa do ICMBio com apoio de voluntários. O objetivo era
realizar uma restauração demonstrativa em uma área de aproximadamente 400m² no PNB para mostrar ao público em Brasília o que estava sendo feito em projetos de grande escala, sobretudo na Chapada dos Veadeiros. Por estar localizada numa área de visitação pública, havia o interesse de que, além de realizar sua função ecológica, a restauração também possuísse um apelo estético, acreditando que, dessa forma, atrairia maior interesse e sensibilização à causa. Assim, o termo ‘restauração paisagística’ foi inventado pelo grupo para descrever este projeto que está entre uma restauração e um jardim. (SIQUEIRA, 2017b). Isso porque tratava-se de uma área com presença anterior de um gramado, em que o objetivo principal era restaurá-la por meio da implantação de espécies nativas, além de
24
Os desenhos técnicos foram cedidos à autora por Mariana Siqueira e encontram-se no anexo B, em duas pranchas, sob os títulos ‘Restauração Paisagística – Planta Baixa’ e ‘Restauração Paisagística – Espécies utilizadas’.
37
Figura 32 – Recorte25 da planta baixa da Restauração Paisagística no PNB. Na figura, as manchas hachuradas rosas, amarelas e cinzas são protagonistas. As demais manchas hachuradas, em tons de verde e marrom, são matrizes. Os símbolos agrupados ou individuais constituem as plantas dispersas, não necessariamente condizendo com a quantidade a ser semeada. As marcações em linha foram tratadas _fig.32 Recorte25 da planta baixa da Restauração Paisagística no PNB. separadamente. Na figura, as manchas hachuradas rosas, amarelas e cinzas são protagonistas. As demais manchas hachuradas, em tons de verde e marrom, são matrizes. Os símbolos agrupados ou individuais constituem as plantas dispersas, não necessariamente condizendo com a quantidade a ser semeada. As marcações em linha foram tratadas separadamente.
38
que não havia expectativas de manutenção, como rega e adubo, não podendo, portanto, ser considerada uma área de jardim convencional (informação verbal).26 O projeto paisagístico foi realizado coletivamente por voluntários do projeto Jardins de Cerrado e foi a primeira tentativa do grupo de implantação de um projeto paisagístico com utilização estrita de espécies nativas do cerrado. Portanto, tratase de um projeto experimental, com objetivo de estudar as espécies e, principalmente, suas relações, que são fundamentais para o êxito dos jardins naturalistas devido a questões ecológicas e que não podiam ser estudadas no projeto experimental no Jardim Botânico de Brasília, que possui canteiros delimitados com
separações das espécies. O projeto paisagístico (figura 32) foi baseado em princípios do método de projeto do New Perennial Movement, beneficiando-se, entretanto, da liberdade projetual característica de um projeto experimental. O projeto foi realizado em camadas categorizadas em ‘matriz’, ‘protagonistas’ e ‘dispersas’, cada categoria possuindo várias camadas com manchas de múltiplas espécies, combinadas de acordo com seu período de interesse e seu aspecto visual. Apesar de cada faixa composta, em seu conjunto, constituir definitivamente uma matriz ou protagonista, as espécies, em si, não foram categorizadas entre ‘matrizes’, ‘protagonistas’ ou ‘dispersas’, sendo, muitas vezes, utilizadas em mais de uma camada
25
A prancha original, com legendas, encontra-se disponível no anexo B, sob o título ‘Restauração Paisagística – Planta Baixa’. 26 Informação obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017.
ou categoria, de acordo com a composição visual geral. Isso porque, muitas vezes, uma espécie pode possuir características que a possibilitem ser utilizada em mais de uma categoria, dependendo de sua disposição espacial ou da intenção do projetista. AS ESPÉCIES
A seleção das espécies foi feita, sobretudo, em função da disponibilidade de sementes, levando em conta o potencial ornamental. Algumas destas espécies já haviam sido utilizadas em outras restaurações e, portanto, já se havia um conhecimento sobre o sucesso da reprodução a partir de sementes. Porém, devido ao caráter experimental e de aprendizagem do projeto, foram escolhidas algumas espécies sobre as quais não se havia conhecimento de reprodução ou comportamento em uma restauração, devido ao seu potencial ornamental. Assim, essas espécies seriam utilizadas como um experimento e não se sabia se todas teriam êxito na implantação. Portanto, em termos projetuais, o objetivo principal na escolha das combinações de espécies era garantir o cobrimento completo do solo, assim como uma consolidação rápida de manchas estruturantes, para que a área pudesse ser apreciada pelo público como bemsucedida. Para isso, buscou-se garantir que cada mancha protagonista tivesse pelo menos uma espécie com taxa de germinação alta e florescimento rápido comprovados, para desenvolver uma rápida
estruturação da área, e que cada mancha de matrizes tivesse pelo menos uma espécie de conhecido êxito em restaurações para garantia de cobrimento do solo. (Informação verbal).27 Durante o processo de projeto, foram utilizadas tabelas de interesse, considerando flores, folhagem e sementes, entretanto, como não havia informações na literatura sobre todas as espécies, alguns dados foram estimados, baseados em experiência ou no comportamento de outras espécies do mesmo gênero. Assim, as tabelas funcionavam como ferramenta de projeto, apenas, em vez de ferramenta de escolha de espécies. (Informação verbal)28.
39 A lista de espécies29 utilizadas é a seguinte, além do capim-espada, de que não se sabe o nome científico:
Achyrocline satureoides - Macela-do-campo Andropogon fastigiatus - Capimandropogon Aristida riparia - Rabo-de-raposa Aristida sp. Axonopus aureus - Capim-pé-de-galinha Axonopus barbigerus - Capim-coloniãonativo Calea fruticosa Chamaecrista pachyclada - Moedinha Chresta exsucca Eremanthus uniflorus Jacaranda ulei - Carobinha-do-campo Lepidaploa aurea - Amargoso, assa-peixe
27
Informações fornecidas por Mariana Siqueira em entrevista concedida à autora em Brasília, 30 mai. 2017. Informações fornecidas por Mariana Siqueira em entrevista concedida à autora em Brasília, 30 mai. 2017. 29 As fotos das espécies podem ser encontradas na prancha intitulada ‘Restauração Paisagística – Espécies utilizadas’ no anexo B. As informações ecológicas de algumas das espécies estão descritas na seção ‘Catálogo de Espécies’. 28
Lessingianthus fonsecae Lessingianthus lacunosus – Casadinho Loudetiopsis chryzothrix - Brinco-deprincesa Mimosa claussenii - Mimosa Paepalanthus sp. – Chuveirinho Panicum campestre – Capim-roxinho Paspalum stelatum - Orelha-de-coelho Paspalum sp. - Braquiária-nativa Schizachyrium sanguineum - Capim-roxo Senna rugosa – Amarelinha Stylosanthes capitata - Estilosantes Stylosanthes macrocephala – Estilosantes Vernonanthura polyanthes - Assa-peixe Zeypheria montana - Bolsa-de-pastor O PROJETO
40
O projeto considerou uma malha de 3m x 3m, que foi transposta à área por fios de nylon e estacas de madeira. Em seguida, foi feita uma delimitação visual e intuitiva in locu de linhas gerais estruturadoras, por meio de estacas e barbantes, para diferenciação visual clara da malha. As linhas estruturadoras foram, então, passadas ao papel e, baseando-se nesse traçado-guia e considerando-se as árvores existentes (que foram levantadas em relação à malha), foram criadas diversas camadas de projeto (figura 33), configurando faixas orgânicas de múltiplas espécies. Foram adotados recursos de desenho propostos por Amalia Robredo30, como mesclas, sobreposições, etc. Considerou-se, também, as densidades e alturas das espécies – como a área é contemplativa, as espécies mais altas foram colocadas ao fundo, pensando-se também num interessante jogo de alturas.
_fig.33 Evolução em camadas do projeto da Restauração Paisagística no PNB. Na figura, em ordem, a camada superior, de ‘olhos’, não se conecta à demarcação da base por estratégia de projeto. As três próximas camadas são protagonistas, divididas em manchas rosas, amarelas e brancas, representada em cinza. As demais camadas são matrizes, relativas aos espaços demarcados pelas camadas superiores. A camada mais inferior é a demarcação da base realizada que serviu como referência para a delimitação das manchas.
A ordem de projeto seguiu a ordem-base protagonistas-matrizes-dispersas. As camadas protagonistas foram separadas por
30
Em apresentação “Diseño Naturalista: Tecnica de Piet Oudolf” ministrada no workshop “Jardins Naturalistas e Flora do Cerrado” em Brasília, 9 out. 2016.
cor de inflorescências em flores rosas, flores amarelas e flores brancas. As primeiras camadas projetadas foram as protagonistas rosas e amarelas, criando novas linhas a partir das linhas estruturadoras em um desenho complementar. Estas manchas deveriam ter estabelecimento garantido, pois estruturariam o espaço. Assim, foi escolhida pelo menos uma espécie conhecida de rápido estabelecimento e boa cobertura de solo para cada camada: no caso das manchas rosas, a Lepidaploa aurea e, no caso das manchas amarelas, uma combinação de Stylosanthes capitata e Stylosanthes macrocephala em cada faixa. (Informação verbal).31 Cada mancha protagonista foi combinada com outra espécie de mesma cor: no caso da camada rosa, todas as manchas foram combinadas com Jacaranda ulei, e, no caso da camada amarela, em que havia muitas espécies de inflorescência desta cor, cada duas ou três faixas foram combinadas com uma espécie em uma disposição espacial. Depois de configuradas as faixas estruturadoras do projeto, criou-se outra camada protagonista, mas de desconhecido estabelecimento de espécies, formando um desenho complementar à estruturação principal das camadas rosa e amarela. Essa terceira camada protagonista agrupou espécies de inflorescência ou folhagem brancas, utilizando a mesma combinação em todas as faixas da camada. A Chresta
exsucca, apesar de possuir características protagonistas, neste caso foi utilizada como dispersa, sendo semeada apenas em uma extremidade de cada faixa, como recurso de projeto. A figura 34 mostra a composição das camadas protagonistas, estruturadoras das manchas principais. Depois, considerando-se os novos espaços formados pelas protagonistas, delimitou-se a camada de matriz (figura 35). Cada faixa de matriz possui uma espécie de conhecido estabelecimento como base e cada faixa foi combinada com uma espécie diferente para garantia de estabelecimento (informação verbal)32. Formou-se, assim, múltiplas combinações, de modo que cada faixa de matrizes é formada por uma combinação única. Buscou-se utilizar uma combinação de uma gramínea mais alta com uma gramínea mais baixa em cada faixa (informação verbal)33. A camada de olhos não seguiu as linhas estruturadoras por estratégia de projeto – para dinamizar o desenho e proporcionar uma aparente aleatoriedade. As faixas de Paepalanthus sp. seguiram as linhas das faixas de matrizes e foi semeada em toda área por se configurar um experimento, uma vez que ainda não havia se obtido êxito na semeadura do chuveirinho. Por último, locou-se as dispersas e árvores, em pequenos grupos ou individualmente
31
Informações fornecidas por Mariana Siqueira em entrevista concedida à autora em Brasília, 30 mai. 2017. Informações fornecidas por Mariana Siqueira em entrevista concedida à autora em Brasília, 30 mai. 2017. 33 Informação obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017. 32
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_ fig.34 Traçado das manchas protagonistas estruturadoras em três camadas de papel vegetal, no projeto da Restauração Paisagística no PNB. Na figura, traçado das faixas brancas, em azul, com destaque para a locação da Chresta exsucca em hachura em parte das faixas, acompanhando as linhas estruturadoras. As camadas inferiores são as protagonistas amarela e rosa, que formaram as linhas estruturadoras gerais do projeto.
_ fig.35 Traçado das manchas de matrizes, no projeto da Restauração Paisagística no PNB. Na figura, traçado das faixas de matrizes diferenciadas por cores em uma mesma camada de papel vegetal, considerando os espaços vazios formados pelas camadas inferiores de protagonistas.
pontualmente ao longo da área, em conjunto com as árvores existentes. Locouse uma sequência de Eremanthus uniflorus no fundo do terreno para fazer uma transição com a mata de fundo. Também foi planejado que toda a área seria semeada com Andropogon fastigiatus, uma espécie de conhecido êxito em restauração, de crescimento rápido, que garantiria o rápido cobrimento do solo. A ideia era que ele sombrearia e protegeria o solo e formaria um microclima de umidade para as próximas espécies, além de fornecer uma rápida impressão visual da restauração. Como ele é uma espécie anual (completa seu ciclo de vida em um ano, depois morre e nasce das sementes lançadas), ele viria com maior força neste primeiro ano, ajudando a estabelecer as outras espécies e, uma vez estabelecidas, nasceria com menos força nos anos seguintes, configurando, justamente, um experimento na sucessão ecológica e implantação deste tipo de jardim. (Informação verbal).34 Apesar de ter seguido uma sequência-base, o projeto foi dinâmico, e a configuração das camadas inferiores muitas vezes era alterada paralelamente à adição das camadas superiores. A EXECUÇÃO
A área da Restauração Paisagística era coberta originalmente por grama batatais. Assim, o preparo da terra para restauração aconteceu aproximadamente seis meses antes da semeadura. Em meados do
período da seca de 2016, realizou-se a remoção mecânica do gramado com enxada rotativa (tobata) e limpeza com rastelo. Até a semeadura, adicionou-se folhas secas à área para proteção do solo, reduzindo os efeitos da erosão e evitando a rebrota, o que é chamado de mulch. Às vésperas da semeadura, realizou-se a remoção manual da grama que rebrotou, com enxada, também com o objetivo de descompactação do solo. (Informação verbal).35 A semeadura (figura 36) ocorreu em 12 de dezembro de 2016, feita por voluntários e por funcionários de manutenção do parque. Algumas pessoas que participaram do projeto estavam presentes no dia da semeadura, ajudando na correta execução do projeto. A preparação do terreno se deu pela limpeza das folhas que estavam cobrindo o solo, amontoando-as ao longo das linhas estruturadoras (figura 36). O motivo é que as sementes do cerrado são leves e, ao contrário do que acontece em ambientes naturais florestais que possuem solo coberto de matéria orgânica, poderiam não alcançar o solo. O amontoado de folhas ao longo das linhas estruturadoras também serviu como contenção das faixas, evitando que as sementes de uma faixa se espalhassem em grande quantidade para as
34
Informações fornecidas por Mariana Siqueira em entrevista concedida à autora em Brasília, 30 mai. 2017. Informação obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017.
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_fig.36 Semeadura e delimitação das manchas da Restauração Paisagística no PNB em 12 de dezembro de 2016. Destaque para o solo completamente coberto de sementes empalhadas e o amontoado de folhas secas ao longo das linhas estruturadoras de barbantes, formando uma contenção para as faixas principais.
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faixas vizinhas. (Informação verbal)36. A dispersão de sementes além dos limites dos grupos é natural e, em pequenas quantidades, não prejudicial para o entendimento visual do projeto, mas, em grandes quantidades e considerando o caráter de dispersão natural das sementes leves do cerrado, poderia prejudicar a leitura visual deste projeto ainda experimental. Em seguida, foram demarcadas as linhas secundárias que ainda não estavam marcadas por barbantes. Pela maior praticidade, as linhas secundárias foram marcadas com areia, por meio de garrafas.
responsável por uma camada de cada vez. A semeadura começou pelas camadas de protagonistas, lançando-se uma espécie por vez em cada mancha. Depois de delimitar as manchas protagonistas, que seguiam as linhas-base demarcadas por estacas e barbantes, iniciou-se a semeadura das manchas de matrizes, que dependiam dos espaços formados pelas manchas de protagonistas, de acordo com a sequência do projeto. Por último, foram distribuídas as espécies dispersas. O solo ficou completamente coberto, como observado na figura 36, o que não acontece em projetos de restauração comuns em grandes áreas, porque o projeto tinha
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Informação obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017.
disponível uma sobra de sementes de outra restauração. Estima-se que foram utilizados cerca de 12 sacos de 14 a 15kg de sementes empalhadas, embora tenha-se considerado, depois, que não seja necessário um cobrimento de solo tão denso para o bom estabelecimento das espécies37, podendose reduzir os custos. (Informação verbal).38 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES
Quatro meses depois, era possível identificar a estrutura geral das manchas, nas figuras 37 e 38. Na figura 37, é possível perceber uma concentração maior, à direita, de uma gramínea mais desenvolvida: o Andropogon fastigiatus. Isso ocorreu pois, no dia da semeadura, ele foi semeado de maneira concentrada apenas neste pedaço da área, ao invés de distribuído ao longo de toda a área, como planejado. Observa-se que, onde ele foi implantado, houve melhor estabelecimento das outras espécies, comparadas às mesmas espécies semeadas em áreas sem a presença do capimandropogon, como, por exemplo, os
Stylosanthes e a Lepidaploa aurea (figuras 39 a 41). Desta maneira, foi possível validar a hipótese inicial de que ele forneceria um microclima mais propício e benéfico ao desenvolvimento das outras espécies, constituindo uma boa escolha para ser dispersado ao longo de todos os futuros projetos, como instrumento de estabelecimento dos jardins. (Informação verbal).39 As espécies que se desenvolveram melhor, até junho de 2017, foram o Andropogon fastigiatus, Stylosanthes capitata e Stylosanthes macrocephala e a Lepidaploa aurea, justamente espécies de rápido estabelecimento, sobre as quais já se conhecia. Outras espécies também se desenvolveram bem, como a Achyrocline satureioides, Panicum campestres, dentre outras, algumas já tendo se apresentado em flor. Até junho de 2017, nenhum dos dois tratamentos de Paepalanthus sp. havia germinado. (Informação verbal).40 Em visita à área em 11 de junho de 2017, pôde-se observar que a estrutura do projeto
37
Em sua dissertação de mestrado pela UnB, Keiko Fueta Pellizzaro estudou a relação entre as densidades de plantio e o estabelecimento das espécies, analisando três diferentes densidades de plantio para diferentes espécies. Segundo ela, a maioria das espécies se desenvolveram bem em todas as densidades de plantio, concluindo que outros fatores são mais significativos para o bom estabelecimento das plantas nativas em restauração por semeadura direta. PELLIZZARO, Keiko Fueta. Restauração ecológica por meio de semeadura direta no Cerrado: avaliando espécies de diferentes formas de vida e densidades de plantio. 2016. xi, 75 f., il. Dissertação (Mestrado em Ecologia)—Universidade de Brasília, Brasília, 2016. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/handle/10482/21541>. Acesso em: 14 jun. 2017. 38 Informação obtida de Keiko Fueta Pellizzaro no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017. Keiko é bióloga do ICMBio e trabalha no Parque Nacional de Brasília, sendo uma das responsáveis pela iniciativa da Restauração Paisagística. 39 Informação obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017. 40 Informação obtida no curso organizado pela Rede de Sementes de Cerrado ‘Restauração Paisagística: a experiência no Parque Nacional de Brasília’ ministrado por Mariana Siqueira em Brasília, 11 jun. 2017.
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_ fig.37 Foto aérea da Restauração Paisagística no PNB em abril de 2017. Estruturação das manchas em diferentes estágios de desenvolvimento e destaque para a área mais desenvolvida à direita, com a presença do capim-andropogon.
_ fig.38 Marcação das manchas em diferentes estágios de crescimento na Restauração Paisagística no PNB em maio de 2017.
47 47
_ fig.39 Capim-andropogon e estilosantes, em manchas separadas, 11 jun. 2017. Destaque para a diferença de altura entre o estilosantes sozinho, no centro da mancha, e o estilosantes misturado ao capim-andropogon, nos limites da mancha.
_ fig.40 Estilosantes em presença do capimandropogon, 11 jun. 2017. Estilosantes bem desenvolvido, com inflorescência, misturado ao capimandropogon.
_ fig.41 Stylosanthes, em mancha central, e Lepidaploa aurea, em primeiro plano, em área sem presença do capimandropogon, 11 jun. 2017. Estilosantes menos desenvolvido em área sem presença do capim-andropogon. Destaque para a mancha triangular bem delimitada.
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podia ser identificada e o solo apresentavase quase todo coberto, tendo atingido os dois principais objetivos iniciais do projeto. Todas as faixas possuíam espécies estabelecidas, apesar de algumas faixas ainda possuírem área de solo descoberto, na região onde o Andropogon fastigiatus não estava presente. Entretanto, mesmo nesta área, algumas faixas já se apresentavam bastante definidas. Vale ressaltar que a restauração por semeadura direta de espécies nativas tem estabelecimento lento, em comparação à plantação de mudas de espécies exóticas a que estamos acostumados na implantação de jardins convencionais. Neste sentido, e comparando com o desenvolvimento das espécies do experimento no Jardim Botânico de Brasília, a Restauração Paisagística foi considerada bem-sucedida e com potencial de atingir uma boa implantação ao longo do ano. Ressalta-se, também, que o projeto não é uma receita a ser seguida, mas uma experimentação e resultado de um processo de aprendizagem. Estima-se que, ao fim da segunda chuva, a restauração paisagística estará densamente ocupada pela vegetação.
2.2. Catálogo
de
Espécies
Achyrocline satureioides Macela, macelinha, macela-docampo
Anacardium humile Cajuzinho-do-cerrado, cajuzinho-do-campo, cajuí
Asteraceae
Anacardiaceae
_fig.42 Achyrocline satureioides. Ocorrência: Vereda, brejo, Campo Úmido, Campo Sujo, Campo Rupestre, borda de mata e Cerrado sentido restrito. Subarbustiva, até 1m de altura. | Ciclo de vida anual ou bianual. Folhas finas e acinzentadas. Flores amarelas. Frutos secos amarelos. | Floresce de março a junho41. Frutifica durante todo o ano. | Estrutura ereta, ramificada desde a base. Fontes: (PROENÇA; OLIVEIRA; SILVA, 2006); (MUNHOZ; EUGÊNIO; OLIVEIRA, 2011); (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO, [s.d.]);
(MEDEIROS, 2011); (UFRGS, [s.d.]). Interesses: folhagem, flor, semente, estrutura, cor, altura. | Potencial para protagonista.
_fig.43 Anacardium humile. Ocorrência: Campo Úmido com Murundus, Cerradão, Cerrado sentido restrito, Campo Sujo, Campo Rupestre. Subarbustiva ou arbustiva, até 1.5m de altura. | Condição: pleno sol. | Desenvolvimento lento. | Pioneira. Floresce em agosto e setembro. Frutifica em outubro e novembro. Fontes: (MEDEIROS, 2011); (SARTORELLI; FILHO, 2017); (EMBRAPA, [s.d.]); (FERN, 2014). Interesses: fruto, flor, folhagem, altura, estrutura. | Potencial para dispersa.
41
Foi adotado o menor período de florescimento, descrito por Proença, Oliveira e Silva (2006, p.154). Segundo Munhoz, Eugênio e Oliveira (2011, p.162), floresce durante todo o ano.
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Andropogon fastigiatus Andropogon-nativo, capimandropogon
Aristida riparia Rabo-de-raposa Poaceae
Poaceae
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Figura 45 – Aristida riparia.
Figura 44 – Andropogon fastigiatus. Ocorrência: Área Antrópica, Campo Limpo, Cerrado sentido amplo, Savana Amazônica. Herbácea, de 20cm a 1.80m de altura. | Ciclo de vida: anual. Floresce de abril a maio. Frutifica de maio a julho. Fontes: (EMBRAPA, [s.d.]); (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO, [s.d.]). Interesses: Semente, sinflorescência, cor, altura, tom metálico da sinflorescência. | Potencial para matriz.
Ocorrência: principalmente no Cerrado sentido restrito, mas, também, em Cerrado sentido amplo, Campo Limpo e Campos Secos. Herbácea, de 95cm a 1.60m de altura. | Ciclo de vida: perene. Presença de pilosidade densa. Floresce e frutifica de Agosto a maio. Fontes: (OLIVEIRA et al., 2016); (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO, [s.d.]). Interesses: sinflorescências, sementes, cor, altura, presença de pilosidade, tom metálico da sinflorescência. | Potencial para protagonista.
Chresta sphaerocephala João-bobo Asteraceae
Lepidaploa aurea Amargoso, assa-peixe Asteraceae
Figura 47 – Lepidaploa aurea. Figura 46 – Chresta sphaerocephala.
Campo Sujo, Campo Rupestre, Campo Limpo e
Ocorrência: borda de Mata de Galeria, Cerrado Ralo, Campo Sujo, Campo Limpo, Campo Rupestre, Campo Úmido e Vereda nas porções com menor umidade.
Mata de Galeria.
Subarbustiva, até 80cm de altura.
Herbácea ereta ou arbusto, de 1m a 1.25 de altura. | Ciclo de vida: perene.
Ramos castanhos. Flores róseo-arroxeada. Frutos alvos. | Floresce de março a agosto. Frutifica de maio a setembro.42 | Estrutura ereta.
Ocorrência: Cerradão, Cerrado sentido restrito,
Flores lilás escuro em uma longa haste oscilante. Frutos secos creme. | Floresce e frutifica de março a outubro. Fontes: (CNCFLORA, 2012); (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO, [s.d.]). (PROENÇA; OLIVEIRA; SILVA, 2006).
Fonte: (EMBRAPA, [s.d.]); (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO, [s.d.]); (MEDEIROS, 2011); (MUNHOZ; EUGÊNIO; OLIVEIRA, 2011), Interesses: estrutura, flores, sementes, cor. | Potencial para protagonista.
Interesses: flor, botão, semente, folhagem, estrutura, cor. | Potencial para protagonista.
42
Foi adotado o menor período de florescimento, descrito pela Embrapa ([s.d.]). Segundo Munhoz, Eugênio e Oliveira (2011), floresce e frutifica durante todo o ano.
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Loudetiopsis chryzothrix Brinco-de-princesa
Schizachyrium sanguineum Capim-roxo, capim-vermelho
Poaceae
Poaceae
Figura 48 – Loudetiopsis chrysothrix.
Figura 49 – Schizachyrium sanguineum.
Ocorrência: Campo Limpo, Campo Rupestre, Cerrado sentido amplo, Vereda.
Ocorrência: Cerrado sentido restrito, Campo Sujo, Campo Limpo.
Herbácea, de 50cm a 1m de altura. Ciclo de vida: perene.
Herbácea perene.
Floresce de fevereiro a março. Frutifica de abril a novembro.43 Fontes: (OLIVEIRA et al., 2016); (EMBRAPA, [s.d.]); (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO, [s.d.]); (MEDEIROS, 2011).
Floresce de abril a maio. Frutifica de abril a junho. Fontes: (OLIVEIRA et al., 2016); (EMBRAPA, [s.d.]); Interesses: Sinflorescências, sementes, cor. | Potencial para matriz.
Interesses: sinflorescência, semente, cor, tom dourado, presença de pisolidade. | Potencial para protagonista.
43
Foi adotado o menor período de florescimento, descrito pela Embrapa ([s.d.]). Segundo Oliveira et al. (2016), floresce e frutifica durante todo o ano.
Senna alata Fedegosão, manjerioba-grande
Stylosanthes capitata Estilosantes
Fabaceae
Fabaceae
Figura 50 – Senna alata.
Figura 51 – Stylosanthes capitata.
Ocorrência: Campo Limpo, Cerrado sentido amplo.
Ocorrência: Cerrado sentido amplo.
Arbustiva, subarbustiva ou arbórea, de até 2m de altura. | Tolerância à sombra. | Desenvolvimento rápido. Floresce de fevereiro a setembro. Frutifica de março a outubro. Fontes: (EMBRAPA, [s.d.]); (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO, [s.d.]); (FERN, 2014). Interesses: flor, fruto, favas, folhagem, estrutura, altura. | Potencial para protagonista.
Subarbustiva. | Ciclo de vida: bianual. | Tolerante à sombra. | Desenvolvimento rápido. Floresce de abril a setembro. Frutifica de maio a novembro. Fontes: (EMBRAPA, [s.d.]); (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO, [s.d.]). Interesses: flor, fruto, baixa altura. | Potencial para matriz.
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3 IDEIAS
3.1. Potencial de utilização da flora do Cerrado em jardins naturalistas “Sob vários aspectos, as savanas tropicais são muito mais similares a muitos ecossistemas da zona temperada do que à floresta tropical com a qual faz contato” (BOURLIÉRE; HADLEY, 1983 apud WALTER, 2006, p.5).
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Das semelhanças às que os autores se referem, duas se destacam: a predominância de vegetação rasteira (figuras 52 e 53, representando o Cerrado, e figuras 54 e 55, representando a zona temperada) e a mudança marcada de estações (figuras 52 e 53, representando o Cerrado, e figuras 54 e 55, representando a zona temperada), com a diferença de que, na zona temperada, ocorrem quatro estações bem definidas e, no cerrado, essa mudança ocorre entre época de seca e época de chuva (WALTER, 2006). São essas mesmas duas características as que são mais exploradas no estilo naturalista, que vem ocorrendo principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Os jardins naturalistas, apesar das diferenças entre projetistas, são identificados pela utilização majoritária de gramíneas, herbáceas e arbustos de pleno sol (em vez de espécies arbóreas e de outros estratos, sombreados pelas árvores, mais características de formações florestais) e têm como principal ponto de exploração estética a valorização do ciclo das espécies com o decorrer das mudanças de estações (figuras 56 e 57).(OUDOLF; KINGSBURY, 2013a). Por estas duas semelhanças, acredita-se que a flora nativa do cerrado tem potencial para exploração da estética naturalista dos
jardins de zonas temperadas, obtendo um efeito mais identitário que a transposição do modelo de paisagismo que estamos acostumados em nosso país, predominantemente arbóreo e que não considera as mudanças de estações em sua configuração estética. Esse modelo se adapta bem a plantas tropicais quando em seu habitat que não possui esta característica sazonal mas, quando inserido em outros ecossistemas, requer irrigação artificial exagerada, modificação de solo e incita uma constante adaptação da natureza às demandas humanas.
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_ fig.52 Chapada dos Veadeiros - GO, estação chuvosa. Destaque para a biodiversidade da flora rasteira.
_ fig.53 Chapada dos Veadeiros - GO, estação seca. Predominância de flora rasteira.
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_ fig.54 Esc처cia, ver찾o. Destaque para a biodiversidade da flora rasteira.
_ fig.55 Esc처cia, outono. Predomin창ncia de flora rasteira.
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_ fig.56 Pensthorpe, Reino Unido, outono/inverno. Projeto de Piet Oudolf. _ fig.57 Trentham, Reino Unido, inverno. Projeto de Piet Oudolf.
3.2. Tradução da paisagem do Cerrado como forma de expressão identitária e estratégia ecológica O New Perennial Movement valoriza um desenho inspirado na natureza, com resultado final muitas vezes parecido com o que ocorre naturalmente, embora tenha sido projetado. Esta inspiração vai além de questões estéticas e composição visual. Espécies que são encontradas combinadas na natureza em uma comunidade de plantas provavelmente são compatíveis ecologicamente.
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As plantas são classificadas em três tipos segundo suas participações na sucessão ecológica ou estratégias de sobrevivência: pioneiras, competitivas e tolerantes ao stress. As pioneiras crescem rapidamente para florescer rapidamente e distribuir grandes quantidades de semente. São as espécies anuais e bianuais e algumas perenes de vida curta. Podem ser usadas para preencher espaços vazios e se espalhar rapidamente. As competitivas prosperam em ambientes de recursos elevados. Neles, podem crescer mais rápido, reproduzir-se de forma eficaz, espraiar-se para espaços livres e competir com as plantas circundantes. As tolerantes ao stress podem sobreviver em habitats de recursos baixos. Por isso, precisam conservar recursos através de várias adaptações, que afetam a aparência física, e tendem a ser de crescimento lento, portanto, não são susceptíveis de competir umas com as outras. (OUDOLF; HANSEN, 2011). Na natureza, as estratégias de sobrevivência das plantas na sucessão ecológica é um dos fatores determinantes no estabelecimento de uma comunidade de espécies. Além disso, plantas encontradas juntas na natureza compartilham o mesmo habitat, o que indica que se dão bem às mesmas
condições ambientais, de luminosidade, umidade, tipo de solo, etc. É a essa comunidade de plantas relativamente estável que compartilha as mesmas condições ambientais a que nos referimos por ‘compatíveis ecologicamente’. Piet Oudolf (2011) enfatiza a importância de combinar plantas que sejam originalmente do mesmo habitat. Segundo ele, o termo ‘naturalista’ está relacionado a aspectos puramente visuais; é aquilo que reproduz a aparência da natureza, inspirado em padrões de vegetação naturais, utilizando plantas com uma aparência silvestre e projetando uma versão idealizada da natureza, em vez de uma cópia direta. Já ‘ecológico’ diz respeito a questões funcionais do plantio, promovendo biodiversidade e projetando plantações dinâmicas que funcionem como ecossistemas artificiais. Ele ressalta que nada feito pelo homem é natural e classifica seu trabalho como um meio termo entre o plantio formal, controlado e o ecológico e dinâmico. (OUDOLF; HANSEN, 2011). Ao buscarmos uma expressão paisagística do cerrado, é importante ir além de um caráter naturalista, que considera apenas questões visuais, e considerarmos a questão ecológica de um jardim. Uma inspiração precisa na natureza pode fornecer, não só composições visuais e relações formais, como também combinações de plantas que funcionem tanto visual quanto ecologicamente (figuras 58 a 60). Estudando as fitofisionomias do cerrado, é possível compreender que cada uma possui condições específicas para ocorrer e, por
_ fig.58 O cerrado na natureza se apresentando como jardim naturalista. A inspiração na figura fornece uma combinação completa de categorias de plantas para o projeto de um jardim naturalista: nesta época do ano em que a foto foi tirada, o capim funcionaria como matriz, o chuveirinho, como protagonista, e a planta com inflorescências rosas, como dispersa, assim como as árvores de tronco queimado ao fundo. Destaque para o tom dourado característico do bioma, principalmente na estação seca, como pano de fundo, combinados com os galhos queimados escuros e inflorescências rosa e branca. A variação cromática entre as estações e os tons metálicos característicos da vegetação nativa fornecem recursos ornamentais com potencial de serem explorados na criação de um paisagismo expressivo e identitário do bioma.
_ fig.59,60 Complexidade e biodiversidade no Parque Nacional de Brasília, em junho de 2017, estação seca. A complexidade visual inicial, se olhada de perto, indica variadas combinações de espécies e fornece diversos elementos de interesse ornamental que podem ser explorados. Destaca-se a combinação do capim em tom acobreado com inflorescência e o arbusto com diversos elementos de interesse: estrutura geral e cor interessantes, tanto com folhas quanto com os galhos secos; folhagem com interesse formal e variação cromática que se destaca e relaciona com o tom acobreado do capim; inflorescência com estrutura e cor atrativas; que fornecem sementes ou frutos secos também interessantes. Este arbusto, pela atração visual e diversos pontos de interesse, tem potencial para ser utilizado como protagonista.
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outro lado, tipos de plantas específicos ocorrem em cada fitofisionomia. Muitas vezes, uma mesma espécie ocorre em mais de uma fitofisionomia e, nesses casos, seu desenvolvimento pode mudar dependendo do ambiente, mas, em alguns casos, conhecendo o ambiente em que ocorrem, é possível inferir algumas das condições necessárias para o desenvolvimento da planta. No sentido contrário, é possível indicar plantas mais apropriadas para um determinado ambiente. Informações precisas devem ser estudadas por especialistas, mas o conhecimento das fitofisionomias pode ajudar como ferramenta inicial na escolha apropriada de espécies para cada ambiente. Por exemplo, uma espécie que ocorre apenas em matas de galeria ou matas ciliares muito provavelmente depende da relação com água e sombreamento. Já uma espécie que ocorre em campo limpo provavelmente necessita de pleno sol para o desenvolvimento. Além de combinações apropriadas ecologicamente, a compreensão das fitofisionomias do cerrado pode fornecer elementos formais e estruturais que auxiliem na tradução da paisagem do cerrado para o paisagismo, atuando como potencial inspiração em termos espaciais. A compreensão das fitofisionomias e suas relações pode servir como auxílio na compreensão da paisagem e consequente tradução do mosaico vegetacional que a caracteriza. Se acreditamos que o paisagismo deve refletir a paisagem a que pertence, no caso, a paisagem do Cerrado, e esta pode ser descrita segundo suas fitofisionomias, acreditamos que um dos
meios de realizar a tradução da paisagem do Cerrado é traduzindo espacialmente o conceito das fitofisionomias e suas relações no espaço projetado.
3.3. Rela jard cont mode
ç i e r
õ n m n
es estéti s natural porâneos istas bra
cas entre os istas e os jardins sileiros
Ao propor a aplicação da metodologia de projeto do New Perennial Movement no contexto do cerrado, não pretendemos transpor um modelo europeu adaptado à vegetação local. Acreditamos que o paisagismo é uma forma de arte e expressão e que a expressão da identidade do local vai além do uso de plantas nativas. Considerando que o paisagismo modernista é representativo da identidade brasileira, podemos usá-lo como referência em um novo estilo de desenho que se relacione formalmente com o modernismo brasileiro e com os princípios ecológicos do paisagismo naturalista, resultando em um desenho ao mesmo tempo expressivoidentitário e ecológico. A percepção de duas semelhanças entre os dois movimentos são destacadas na tentativa de criação de tal desenho: o uso da geometria e das cores como formas de expressão. Martha Schwartz (1992) defende o uso da geometria na paisagem como forma de proporcionar um senso de orientação que deve ser alcançado e é mais humano do que a desorientação causada pela combinação de formas aleatórias que tentam simular a natureza e que são, além disso, menos autênticas. Para ela, a paisagem, como sendo um espaço arquitetônico, deve ser reconhecível e descritível e, como forma de atingir este objetivo, sugere o uso de formas geométricas simples como uma composição que se relaciona formalmente melhor com a arquitetura. Nos projetos paisagísticos modernistas do Brasil, é notável o uso da geometria e das cores como forma artística e de expressão
(figura 61). Os desenhos de piso, combinados com a disposição rígida dos canteiros tinham forte expressão visual e eram, muitas vezes, derivados de inspirações plásticas (figuras 62 e 63). Notase a utilização, não só de formas geométricas puras, simples, mas a criação de linhas e formatos orgânicos geometrizados, reforçando a plasticidade da paisagem (figura 64). Expoentes do New Perennial Movement também defendem o uso da geometria nos jardins, com um objetivo diferente: o de enfatizar a existência de um projeto por trás da paisagem (figura 65) que, por possuir características naturais, poderia ser confundida como um surgimento espontâneo de vegetação e, por isso, ser potencialmente desvalorizada como jardim. A concentração de cores de forma exagerada se comparada à ocorrência no ambiente natural também é um recurso fortemente utilizado nessa tentativa de criar paisagens reconhecíveis, legíveis visualmente. (HITCHMOUGH; DUNNETT, 2004). James Hitchmough e Nigel Dunnett defendem a visão dos autores de seu livro The Dynamic Landscape, uma coletânea de textos de autores e paisagistas naturalistas com visões próprias, mas todos concordando sob um aspecto: “A ideia que une todos os contribuidores do livro The Dynamic Landscape é a de que, em contextos urbanos, a vegetação naturalista projetada deve ser fortemente carregada de princípios estéticos para ser entendida e valorizada pelo grande público” (HITCHMOUGH; DUNNETT, 2004, p.7,
63
64
_ fig.61 Praça do Ministério das Forças Armadas, Brasília, DF. Projeto paisagístico de Burle Marx. _ fig.62 Banco Safra, Agência Bela Cintra, São Paulo. Planta Geral. Projeto paisagístico de Burle Marx. _ fig.63 Implantação de Terraço Jardim no Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro. Projeto paisagístico de Burle Marx. _ fig.64 Fazenda Tacaruna, Pedro do Rio, RJ. Projeto paisagístico de Burle Marx.
65
_ fig.65 Leuvehoofd, Rotterdam, Holanda. Projeto paisagĂstico de Piet Oudolf. _ fig.66 Olympic Gardens Southern Hemysphere, Queen Elizabeth Olympic Park, Londres, Reino Unido. Projeto paisagĂstico de Sarah Price.
tradução nossa). Ainda, após pesquisas em ambientes urbanos, perceberam que “[...] vegetações naturalistas que não foram projetadas para deixar claro que deveriam estar em seu lugar e que recebem manutenção podem não ser amplamente valorizadas” (HITCHMOUGH; DUNNETT, 2004, p.8, tradução nossa).44 Na figura 66, observa-se uma grande área de vegetação com múltiplas espécies em aspecto aleatório em contraponto com a marcação clara de limites dos canteiros e delimitação de estruturas lineares, inclusive com o espaçamento regular na implantação das árvores.
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expressiva do movimento – acredita-se que é possível a criação de paisagens naturalistas fortemente expressivas que se relacionem formalmente com os jardins modernistas que fazem parte da identidade nacional.
Ainda que formas orgânicas e uma aparente aleatoriedade estejam bastante presentes nos projetos naturalistas, estão normalmente associadas à contraposição com formas geométricas mais rígidas nos elementos de construção ou mesmo na macroestruturação do espaço, como nas figuras 65 e 66. Piet Oudolf e Noel Kingsbury (2013, tradução nossa), em seu livro ‘Planting: a new perspective’, que se configura como um manual para o projeto e manejo naturalistas, enfatizam as vantagens de se criar o que chamam de “aparente desordem”, ou seja, a combinação complexa e minuciosa de uma grande quantidade de espécies para atingirem o potencial estético esperado e da interessante tensão criada pela contraposição de ordem e desordem na paisagem. Por estas duas semelhanças – uso de geometria e de cores como forma
Trecho original: “[…] nature-like vegetation which is not designed to make it clear that it is meant to be there and is cared for, may not be widely valued” (HITCHMOUGH; DUNNETT, 2004, p.8). 44
Co pa Br co pa
n i a n r
s s s t a
i a í r
d g l i o
e e i b
raçõ m e a e uiçõ tema
es sobre a o paisagismo de possíveis es do trabalho
A paisagem urbana de Brasília possui grande expressividade e uma identidade muito forte. O urbanismo e arquitetura modernistas associados à constante presença de vegetação característica da cidade-parque configuram uma paisagem única. Com o rompimento do paisagismo com a tradição clássica e das Belas Artes, os modernistas iniciaram a crença na arquitetura paisagística como forma de arte e artefato cultural expressivo da cultura contemporânea, devendo ser, portanto, legitimamente julgada em âmbitos formais, intelectuais e estéticos. (SCHWARTZ, 1992). Brasília conta com projetos paisagísticos pontuais de admirável qualidade, como o Palácio do Itamaraty e a Universidade de Brasília, de projetistas reconhecidos internacionalmente como Burle Marx e Fernando Chacel, respectivamente. Os projetos de Burle Marx na cidade possuem uma expressividade muito forte e uma identidade modernista que, não só refletem, mas fazem parte da identidade da paisagem da cidade. Burle Marx é conhecido pela introdução da flora nativa do Brasil no paisagismo. Neste sentido, é considerado precursor do movimento naturalista. Seu foco em projetos era a flora tropical, embora tenha utilizado espécies de outros biomas, como da caatinga e do cerrado. É sabido que muitos de seus projetos em Brasília contaram com a introdução da flora do cerrado, como os buritis no Palácio da Alvorada. Ainda assim, a escolha de espécies nem sempre pôde refletir a singularidade florística do cerrado.
A presença dos projetos icônicos de Burle Marx na capital, entretanto, foi contida a alguns pontos de atuação, concentrados principalmente nas escalas monumental e bucólica, com exceção da quadra-modelo SQS 308, também projeto de Burle Marx. E, apesar de a cidade contar com um projeto paisagístico que compreende toda a cidade em escala urbana e está intrinsicamente ligado à sua concepção, percebe-se que este projeto compreende uma escala macro e sentimos falta de um detalhamento mais expressivo no paisagismo da cidade cotidiana, das superquadras, dos canteiros das vias, etc. Um estudo mais aprofundado do tema não faz parte deste trabalho, mas, no que o concerne, acreditamos que uma possível alternativa para a questão tem como caminho as questões levantadas neste ensaio. Em Brasília, desde a construção da cidade, o cerrado existente foi substituído, se não pelos canteiros de obra, por espécies de outros biomas, espécies exóticas, ou seja, não-nativas. Também por isso, os jardins públicos da cidade demandam grande manutenção. A valorização da flora nativa como tradução da paisagem onde a cidade está inserida – o cerrado – pode contribuir para uma expressão mais identitária pelo paisagismo brasiliense. A utilização da flora nativa aliada a técnicas de plantio e cultivo do movimento naturalista significaria, também, um paisagismo mais ecológico, demandando menos manutenção e atuando, inclusive, em problemas ecológicos atuais, como a crise hídrica. Por fim, mas não menos importante, as relações
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estéticas entre os jardins naturalistas contemporâneos e o paisagismo modernista brasileiro podem configurar-se estratégias formais valiosas para o desenvolvimento de uma linguagem própria do paisagismo da cidade. Se consideramos o paisagismo modernista brasileiro um elemento valioso de referência da identidade brasileira a ser considerado na criação de um paisagismo expressivo do cerrado, essa referência é ainda mais estimulada no caso de Brasília, cidade modernista.
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É relacionando-se à paisagem do cerrado, onde a cidade se insere, e à paisagem modernista da própria cidade, que acreditamos que o paisagismo brasiliense pode, realmente, “refletir a paisagem circundante” e “pertencer, em espírito, ao lugar onde está situado”, os objetivos do jardim para o mestre Burle Marx (2004, p.62).
CONSIDERAÇÕES FINAIS Para Burle Marx (2004, p.62), o paisagismo deve refletir a paisagem circundante, para, assim, “pertencer, em espírito, ao lugar onde está situado”. O paisagismo modernista reflete a flora nativa tropical e faz parte da identidade brasileira. Outros biomas, como o Cerrado, entretanto, não possuem uma linguagem própria no paisagismo, apropriando-se da expressão tropical. Outra questão que incita o desenvolvimento de um paisagismo que se relacione ao Cerrado é a ecológica. No Brasil central, o paisagismo tradicional que utiliza espécies exóticas implica na criação de um ambiente artificial e constante manutenção. Uma abordagem mais ecológica é a utilização de espécies nativas, já adaptadas ao ambiente da região. Pela identificação do potencial ornamental da flora nativa e do potencial paisagístico de composições florísticas que ocorre na natureza, acreditamos que a inspiração nas paisagens naturais do bioma configura-se uma forma de desenvolver esta linguagem própria do Cerrado. Além disso, a apropriação de padrões e combinações florísticas que ocorrem normalmente na natureza pode favorecer a criação de projetos paisagísticos mais coerentes em termos de sucessão ecológica e adaptação ao ambiente. Desta maneira, acreditamos que a valorização do cerrado pode catalisar um paisagismo mais identitário, além de mais ecológico. Ao buscar uma implantação ecológica do paisagismo, o movimento naturalista contemporâneo se destaca. A identificação de semelhanças entre a vegetação do
cerrado e vegetações de climas temperados utilizadas nos jardins naturalistas indica a potencialidade de utilização do movimento como referência projetual. Neste sentido, uma adaptação da metodologia de projeto do New Perennial Movement à flora nativa pode atuar como um ponto de partida no desenvolvimento de uma linguagem paisagística, ao mesmo tempo, expressiva e ecológica. Ainda, a existência de relações estéticas entre os jardins naturalistas contemporâneos e os jardins modernistas brasileiros, além das estratégias apresentadas para tradução visual e espacial da paisagem do Cerrado no paisagismo, podem constituir recursos a ser incorporados ao método naturalista para a criação de uma expressão paisagística que reflita a identidade brasileira e do Cerrado, ao invés de uma simples transposição da flora nativa ao modelo europeu. Por fim, a experiência do Jardins de Cerrado no Jardim Botânico é fundamental, neste momento, ao comprovar a funcionalidade da proposta de utilização paisagística de espécies rasteiras nativas. A aglomeração espontânea das espécies, ao resultar em uma composição visual harmônica de efeito similar a um jardim naturalista, torna-se um primeiro indício da potencialidade de aplicação dos conceitos do New Perennial Movement à flora nativa. Também a Restauração Paisagística, ainda que em estágio precoce para avaliação, já forneceu alguns subsídios para o estudo da introdução da flora nativa no paisagismo, e tem atendido às expectativas.
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Lista de Figuras Figura 1 – Sítio Roberto Burle Marx, Rio de Janeiro.
Figura 12 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Parque de Cerrado.
Fonte: IPHAN. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/image.php?w=880&src=u ploads/ckfinder/images/Diversas/RJ_Rio_de_Janeiro/ RJ_Jardim_Casa_SitioBurleMarx_Gabrielle_Rangel_3.j pg> Acesso em 2 abr. 2017.
Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 2 – “Tropical”, Anita Malfatti. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra2046/tro pical> Acesso em 2 abr. 2017.
Figura 3 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de uma Mata Ciliar nos períodos seco e chuvoso. Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 4 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de uma Mata de Galeria nãoInundável.
Figura 13 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de três palmeirais. Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 14 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de uma Vereda. Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 15 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Campo Sujo. Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 16 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Campo Rupestre. Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 17 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Campo Limpo.
Figura 5 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de uma Mata de Galeria Inundável.
Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 6 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de três Matas Secas, nas épocas chuvosa e seca. Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 7 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Cerradão.
Figura 18 – High Line, Nova York. Jardim de Piet Oudolf. Fonte: Let It Grow. Disponível em: < https://letitgrow.org/directory/high-line/>. Acesso em: 8 jun. 2017.
Figura 19 – Lurie Garden, Millenium Park, Chicago. Jardim de Piet Oudolf.
Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Fonte: Landscape Voice. Disponível em: < http://landscapevoice.com/millennium-park-the-luriegarden/>. Acesso em: 8 jun. 2017.
Figura 8 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Cerrado Denso.
Figura 20 – Campo anual de flores silvestres em Brighton, Inglaterra.
Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 9 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Cerrado Típico. Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 10 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Cerrado Ralo. Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Fonte: acervo pessoal da autora.
Figura 21 – Tabela de interesses para o Maximilianpark, na Alemanha, projeto de Piet Oudolf. Fonte: OUDOLF; KINGSBURY, 2013b, p.97.
Figura 22 – Camadas em papel vegetal em projeto de jardim. Fonte: OUDOLF; KINGSBURY, 2013b, p.114.
Figura 11 – Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de um Cerrado Típico. Fonte: (EMBRAPA, 2007).
Figura 23 – Recorte de plantas baixas das seções 28-29 do High Line, Nova York, projeto de Piet Oudolf. Fonte: OUDOLF; KINGSBURY, 2013b, p.115.
Figura 24 – Execução de projeto usando grid e estacas. Fonte: OUDOLF; KINGSBURY, 2013b, p.119.
Figura 25 – Semeadura do experimento no Jardim Botânico de Brasília, 30 jan. 2016. Fonte: (SIQUEIRA, 2017b) Figura 26 – Experimento no Jardim Botânico de Brasília, 23 mai. 2016. Fonte: (SIQUEIRA, 2017b) Figura 27 – Andropogon fastigiatus, à esquerda, e Lepidaploa aurea, à direita, quatro meses depois da semeadura. Fonte: (SIQUEIRA, 2017b) Figuras 28, 29 e 30 – Combinações de espécies no experimento do Jardim Botânico de Brasília, 26 mai. 2017.
Figura 35 – Traçado das manchas de matrizes, no projeto da Restauração Paisagística no PNB. Fonte: Mariana Siqueira Arquitetura da Paisagem. Disponível em: <https://www.facebook.com/pg/msarqpaisagem/ph otos/?tab=album&album_id=1345585508808217>. Acesso em: 17 jun. 2017.
Figura 36 – Semeadura e delimitação das manchas da Restauração Paisagística no PNB em 12 de dezembro de 2016. Fonte: (SIQUEIRA, 2017b).
Figura 37 – Foto aérea da Restauração Paisagística no PNB em abril de 2017. Fonte: Keiko Fueta Pellizzaro. Imagem cedida à autora.
Figura 38 – Marcação das manchas em diferentes estágios de crescimento na Restauração Paisagística no PNB em maio de 2017. Fonte: Mariana Siqueira. Imagem cedida à autora.
Figura 39 – Capim-andropogon e estilosantes, em manchas separadas, 11 jun. 2017.
Fonte: Mariana Siqueira. Imagem cedida à autora.
Fonte: acervo pessoal da autora.
Figura 31 – Visão geral do experimento no Jardim Botânico de Brasília, 26 mai. 2017.
Figura 40 – Estilosantes em presença do capimandropogon, 11 jun. 2017.
Fonte: Mariana Siqueira. Imagem cedida à autora.
Fonte: acervo pessoal da autora.
Figura 32 – Recorte da planta baixa da Restauração Paisagística no PNB.
Figura 41 – Stylosanthes, em mancha central, e Lepidaploa aurea, em primeiro plano, em área sem presença do capim-andropogon, 11 jun. 2017.
Fonte: Mariana Siqueira Arquitetura da Paisagem, recorte da autora. Recorte da prancha disponível no Anexo A, cedido à autora por Mariana Siqueira.
Figura 33 – Evolução em camadas do projeto da Restauração Paisagística no PNB. Fonte: Mariana Siqueira Arquitetura da Paisagem, recorte da autora. Recorte da prancha disponível no Anexo B, cedido à autora por Mariana Siqueira.
Figura 34 – Traçado das manchas protagonistas estruturadoras em três camadas de papel vegetal, no projeto da Restauração Paisagística no PNB. Fonte: Mariana Siqueira Arquitetura da Paisagem. Disponível em: <https://www.facebook.com/pg/msarqpaisagem/ph otos/?tab=album&album_id=1345585508808217>. Acesso em: 17 jun. 2017.
Fonte: acervo pessoal da autora.
Figura 42 – Achyrocline satureioides. Fonte: Fonte: Mauricio Mercadante. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/mercadanteweb/>. Acesso em: 11 jun. 2017.
Figura 43 – Anacardium humile. Fonte: (FERN, 2014).
Figura 44 – Andropogon fastigiatus. Fonte: West African Plants: A Photo Guide. Disponível em: <http://www.westafricanplants.senckenberg.de/root/i ndex.php?page_id=5>. Acesso em: 13 jun. 2017.
Figura 45 – Aristida riparia. Fonte: Mauricio Mercadante. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/mercadanteweb/>. Acesso em: 13 jun. 2017.
Figura 56 – Pensthorpe, Reino Unido, outono/inverno. Projeto de Piet Oudolf. Fonte: Portfolio de Piet Oudolf. Disponível em: <http://oudolf.com/garden/pensthorpe>. Acesso em: 9 set. 2016.
Figura 46 – Chresta sphaerocephala. Fonte: (JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO, [s.d.]).
Figura 57 – Trentham, Reino Unido, inverno. Projeto de Piet Oudolf.
Figura 47 – Lepidaploa aurea.
Fonte: Portfolio de Piet Oudolf. Disponível em: <http://oudolf.com/garden/trentham>. Acesso em: 9 set. 2016.
Fonte: Mauricio Mercadante. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/mercadanteweb/>. Acesso em: 13 jun. 2017.
Figura 48 – Loudetiopsis chrysothrix. Fonte: Mauricio Mercadante. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/mercadanteweb/>. Acesso em: 14 jun. 2017.
Figura 49 – Schizachyrium sanguineum.
Figura 58 – O cerrado na natureza se apresentando como jardim naturalista. Fonte: (SIQUEIRA, 2016).
Figuras 59 e 60 – Complexidade e biodiversidade no Parque Nacional de Brasília, em junho de 2017, estação seca.
Fonte: Wildflower Nursery. Disponível em: <http://wildflowernursery.co.za/indigenous-plantdatabase/schizachyrium-sanguineum/>. Acesso em: 16 jun. 2017.
Fonte: acervo pessoal da autora.
Figura 50 – Senna alata.
Fonte: FARAH; SCHLEE; TARDIN, 2010, p.65.
Fonte: Mauricio Mercadante. Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/mercadanteweb/>. Acesso em: 13 jun. 2017.
Figura 61 – Praça do Ministério das Forças Armadas, Brasília, DF. Projeto paisagístico de Burle Marx. Figura 62 – Banco Safra, Agência Bela Cintra. Planta Geral. Projeto paisagístico de Burle Marx. Fonte: FARAH; SCHLEE; TARDIN, 2010, p.107.
Figura 51 – Stylosanthes capitata. Fonte: Tropical Forages. Disponível em: <http://www.tropicalforages.info/key/Forages/Media/ Html/Stylosanthes_capitata.htm>. Acesso em: 15 jun. 2017.
Figura 63 – Implantação de Terraço Jardim no Ministério da Educação e Saúde, Rio de Janeiro. Projeto paisagístico de Burle Marx.
Figura 52 – Chapada dos Veadeiros - GO, estação chuvosa.
Figura 64 – Fazenda Tacaruna, Pedro do Rio, RJ. Projeto paisagístico de Burle Marx.
Fonte: SIQUEIRA, 2016.
Figura 53 – Chapada dos Veadeiros - GO, estação seca. Fonte: SIQUEIRA, 2016.
Figura 54 – Escócia, verão. Fonte: Blog Intentionally Offpath. Disponível em: <https://intentionallyoffpath.files.wordpress.com/201 5/09/dsc02102.jpg>. Acesso em: 15 jun. 2017.
Figura 55 – Escócia, outono. Fonte: Keywordsuggest.org. Disponível em: <http://keywordsuggest.org/gallery/742759.html>. Acesso em: 15 jun. 2017.
Fonte: CHAN, 2016.
Fonte: Portfolio do escritório de paisagismo Burle Marx. Disponível em: <http://burlemarx.com.br/bm/wpcontent/uploads/2014/12/Fazenda-Tacaruna-03.jpg> Acesso em 2 abr. 2017.
Figura 65 – Leuvehoofd, Rotterdam, Holanda. Projeto paisagístico de Piet Oudolf. Fonte: OUDOLF; KINGSBURY, 2013, p.107.
Figura 66 – Olympic Gardens Southern Hemysphere, Queen Elizabeth Olympic Park, Londres, Reino Unido. Projeto paisagístico de Sarah Price. Fonte: Sarah Price Landscapes. Disponível em: <http://sarahpricelandscapes.com/?page_id=51> Acesso em 2 abr. 2017.
Bibliografia BOURLIÉRE, F.; HADLEY, M. Present-day savannas: an overview. In: BOURLIÉRE, F. (Ed.). . Ecosystems of the world 13: tropical savannas. Amsterdam: Elsevier Scientific Publishing Company, 1983. p. 1– 17. CABALLERO, D. Guia de campo dos Campos de Piratininga ou O que sobrou do cerrado paulistano ou Como fazer seu próprio Cerrado Infinito. São Paulo: La Luz del Fuego, 2017. CHAN, K. Roberto Burle Marx: Um mestre muito além do paisagista modernista. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/792669/r oberto-burle-marx-um-mestre-muito-alemdo-paisagista-modernista>. Acesso em: 2 abr. 2017. CNCFLORA. Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2. CONSERVATION INTERNATIONAL. Why Hotspots Matter. Disponível em: <conservation.org/hotspots>. Acesso em: 23 mar. 2017. CRITICAL ECOSYSTEM PARTNERSHIP FUND. Cerrado. Disponível em: <http://www.cepf.net/resources/hotspots/S outh-America/Pages/Cerrado.aspx>. Acesso em: 23 mar. 2017. EMBRAPA. Espécies Vegetais para Recuperação. Disponível em: <https://www.embrapa.br/codigoflorestal/especies>. Acesso em: 3 jun. 2017. EMBRAPA. Bioma Cerrado. Disponível em: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Ag encia16/AG01/Abertura.html>. Acesso em: 13 jun. 2017.
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Anexo A EXPERIMENTO JARDINS DE CERRADO N O J A R D I M B OTÂ N I CO D E B R A S Í L I A
IMPLANTAÇÃO GERAL COM FOTO AÉREA ESCALA 1/500
90. 45.00
COM REGA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
C B A
10
4
2
3
1
2
14
7
12
13
8
15
15
9
13
15
11
11
1
10
10
12
13
1
13
9
12
5
6
6
2
8
14
11
5
6
3
1
8
4
4
15
12
6
9
2
13
11 12
1
9
7
6
5
4
4
4
13
2
8
5
14
7
6
2
5
9
15
14
10
3
9
15
3
10
7
7
14
11
3
8
11
8
12
5
10
7
14
3
1
30.00
COM ADUBO
30.
SEM ADUBO
ESQUEMA DE PLANTIO ESCALA 1/250
PROJET
0
11
20
50m
.00 45.00
SEM REGA 14
12
11
11
3
3
1
3
13
4
14
10
2
15
5
9
13
10
5
3
4
7
6
2
10
13
7
9
12
15
1
11
5
15
11
2
7
8
7
8
8
4
10
5
11 13
6
4
6
6
8
2
4
5
15
7
15
7
9
9
12
14
12
9
2
13
1
6
3
14
5
10
8
14
3
1
1
9
10
13
6
2
1
12
15
4
14
8
11
12
.00
C B A
5.50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
30.00
COM ADUBO
TO EXECUTIVO DE ARQUITETURA PAISAGÍSTICA
SEM ADUBO
OBRA
JARDINS DE CERRADO - EXPERIMENTO 01 - JBB (R02) TÍTULO
ÁREA
IMPLANTAÇÃO GERAL
4105m²
DATA
JAN/2016
ESCALA
INDICADA
01/03 FOLHA A3
COM R COM ADUBO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1
C B A
10
4
2
3
1
2
14
7
12
13
8
15
15
9
13
1
2
8
14
11
5
6
3
1
8
4
4
15
12
6
9
2
5
14
7
6
2
5
9
15
14
10
3
9
15
3
10
7
SEM R COM ADUBO
30 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 6
14
12
11
11
3
3
1
8
3
13
4
14
10
2
15
14
5
9
13
10
5
3
4
6
2
10
13
7
9
12
11 13
6
4
6
6
8
2
6
3
14
5
10
8
14
7
12
1
PROJET
0
5
11
20m
REGA SEM ADUBO
16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 1 2
15
11
11
1
10
10
12
13
1
13
9
12
5
6
6
14
12
2
13
11 12
1
9
7
6
5
4
4
4
13
2
8
3
13
7
7
3
14
11
3
8
11
8
12
5
10
7
14
5
9
1
REGA SEM ADUBO
16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
15
1
11
5
15
11
2
7
8
7
8
8
4
10
5
4
5
15
7
15
7
9
9
12
14
12
9
2
13
1
3
1
1
9
10
13
6
2
1
12
15
4
14
8
11
TO EXECUTIVO DE ARQUITETURA PAISAGÍSTICA
C B A
OBRA
JARDINS DE CERRADO - EXPERIMENTO 01 - JBB (R02) TÍTULO
ÁREA
PLANTA BAIXA
4105m²
DATA
JAN/2016
ESCALA
1 : 135
02/03 FOLHA A3
FOTOGRAFIAS
1
Achyrocline satureoides Macela
2
Anacardium humile Cajuzinho-do-cerrado
3
Andropo Andropo
6
Asteraceae (espécie) xxxxx
7
Chresta sphaerocephala João-bobo
8
Eremant Candeeir
11
Schizachyrium sanguineum Capim-roxo
12
Senna alata Fedegosão
13
Solanum Lobeira
PROJET
ogon fastigiatus ogon nativo
tus sp. ro-roxo
lycocarpum
5
4
Aristida riparia Rabo-de-raposa
9
Loudetiopsis chyzothrix Brinco-de-princesa
10
Paepalantus chiquitensis Chuveirinho
Vernonanthera polyanthes Assa-peixe
15
Vernonia aurea Amargoso
14
TO EXECUTIVO DE ARQUITETURA PAISAGÍSTICA
Aristida sp. Capim-carrapato
OBRA
JARDINS DE CERRADO - EXPERIMENTO 01 - JBB (R02) TÍTULO
ÁREA
ESPÉCIES VEGETAIS - FOTOGRAFIAS
4105m²
DATA
JAN/2016
03/03 FOLHA A3
Anexo B R E S TAU R A Ç Ã O PA I S A G Í S T I C A N O PA R Q U E N A C I O N A L D E B R A S Í L I A escala reduzida