PERÍODO HELENÍSTICO FUSÃO ORIENTE E OCIDENTE
Bruno Everson Nicole Gabriele Thamires Mendes Josiel Oliveira João Corá
ÍNDICE
Mundo Helenístico..........................................................................................1 Mitologia e sua função..................................................................................5 Arte Helenística.................................................................................................12 Religião e Filosofia...........................................................................................16 Estoicismo...........................................................................................................23 Epicurismo..........................................................................................................31 Cinismo e Ceticismo.......................................................................................35 Referências.........................................................................................................38
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O mundo Helenístico é caracterizado pelo fim das CidadesEstados Gregas pelo domínio Macedônico, e a posterior aproximação de Roma e Egito, isto é, o mundo oriental do mundo ocidental. Destacam-se neste período as ciências e a matemática, e na filosofia a fundação das escolas epicurista, estoica, e a doutrina do ceticismo. As conquistas de Alexandre fundam várias cidades gregas nos territórios que dominava, influenciando na aproximação de várias culturas. Essa aproximação, desde o saber babilônico às religiões da Índia, estabelece várias fusões entre o ocidente e o oriente.
PENÍNSULA GREGA, ORIENTE MÉDIO E NORDESTE DA AFRICA ANTES DA EXPANSÃO MACEDÔNICA
(431 a. C ~ 404 a. C – DURANTE GUERRA DO PELOPONESO)
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No período Helenístico surgem novas concepções. O avanço do império estabelecido por Alexandre funda em regiões da Europa, Ásia e África instituições influenciadas pela cultura Grega, caracterizando um avanço e uma predominância do mundo Helenístico também em toda a Mesopotâmia e Síria, nessas regiões o grego torna-se a linguagem da literatura e da cultura.
MAPA APÓS O DOMÍNIO MACEDÔNIO (323 a. C. – ANO DA MORTE DE ALEXANDRE O GRANDE)
Diferente da época das cidades antigas gregas, o povo deste período não possuía um espírito cívico, não possuindo ligações a tradições, uma vez que sequer seus cidadãos possuíam uma origem homogênea, sendo aventureiros provindos de todas as partes da Grécia, não constituindo uma cidade politicamente unificada.
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As influências religiosas vieram também de várias culturas: judeus, persas, budistas, babilônios, caldeus, etc. De tal forma que o politeísmo grego e sua imaginação foram invadidas por superstições como astrologia e magia, que influenciaram profundamente as crenças sobre o destino e a fortuna, colaborando para um aumento da confusão e a decadência de questões mais fundamentais nessa época. Toda a época helenística é influenciada por incertezas devido a uma tentativa de unificação de várias culturas, religiões e filosofias. Uma época onde as virtudes estão em queda, onde o medo toma lugar da esperança, e a finalidade da vida era apenas sobreviver e escapar do infortúnio, abrindo espaço na filosofia para uma ética individual, não mais buscando a verdade, mas sim o cuidado de si.
MOSAÍCO ROMANO DE ALEXANDRE (DATADO 100 A.C.)
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Na antiguidade grega a mitologia exercia vários papéis e, dentre suas aplicações, era utilizada também com uma relação direta entre pergunta e resposta. Por exemplo, com a falta de ciência dos gregos antigos sobre a leitura do Linear B de seu ancestral povo micênico, a historiografia sobre seus antecedentes havia se perdido, deixando brechas a serem respondidas sobre seu passado. Respostas essas que muitas vezes seriam influenciadas por conta da visão de mundo estabelecida naquele espaço temporal.
HERÓIS DA GUERRA DE TRÓIA
DA ESQ. PARA DIR.: MENELAU, PÁRIS, DIOMEDES, ODISSEU, NESTOR, AQUILES E AGAMEMNON.
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Pausânias, geógrafo grego que viveu durante o século II d. C., em seu livro “Descrição da Grécia”, relata a crença na região da Salamina onde um grande osso desenterrado pelo mar seria encarado como de Ajax1, um dos heróis de Ilíada, que por sua força e estatura era descrevido por Homero como “dos Gregos fortaleza e muro” . Vemos então a poesia se tornar uma construção histórica.
AJAX DEFENDENDO BARCO AQUEU DURANTE INVESTIDA TROIANA
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A objetividade do passado do indivíduo era uma das preocupações a serem preservadas na antiguidade grega, como podemos perceber no Canto VI de Ilíada, onde ao se impressionar com a coragem do troiano Glauco, o soldado grego Diomedes pergunta:
“Quem é, homem bravíssimo, a quem nunca Vi no conflito, que os varões afama? Tu na afouteza a todos longe excedes, Expondo-te ao rigor da lança minha; Só filhos malfadados me atrevem. Do céu vens? Com celestes não contendo”
E então Glauco responde:
“Magnânimo Tidides, Quem sou perguntas? Como as folhas somos; Que umas o vento as leva emurchecidas, Outras brotam vernais e as cria a selva: Tal nasce e tal acaba a gente humana. Pois o queres, conhece-me a linhagem...”
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Diomedes e Glauco perceberão que compartilham amizades entre antepassados e assim deixam de lutar para trocar armaduras em sinal de reconhecimento.
DIOMEDES E GLAUCO TROCAM ARMADURAS
(CERÂMICA DE FIGURA VERMELHA, 420 A.C. - MUSEU ARQUEOLÓGICO DE GELA)
A preocupação dos personagens acerca de laços familiares evidencia como a genealogia é um fato a ser considerado para definir a característica de um homem. Com isso, um antepassado famoso era algo a ser desejado, pois o indivíduo já teria virtudes em sua natureza.
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Olhemos então para a Dinastia Argéada, qual Filipe II traçaria descendência de Hércules, filho de Zeus, em sua árvore genealógica2. Filipe II – que viria a ser conhecido como o homem que unificou a Grécia, se casaria com Olímpia, qual teria Aquiles como descendente3 – esse um dos principais nomes entre os heróis perpetuados por Homero. Desta união nasceria Alexandre, o Grande, que assim como Hércules conquistaria vitórias da Grécia ao Egito e, também como Aquiles, triunfaria sobre os persas.
GENEALOGIA DE ALEXANDRE, O GRANDE
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Assim, após a morte de Filipe II, Alexandre sucede seu pai, dando continuidade ao expansionismo do império macedônico. Por seu parentesco mitológico, Alexandre deixaria de ser apenas um conquistador estrangeiro, trazendo consigo uma herança familiar ao mundo grego. Esta familiaridade, por exemplo, teria permitido que seu antecessor Alexandre I participasse dos jogos olímpicos na Grécia, qual era reservada apenas aos próprios gregos4.
MOEDA DO IMPÉRIO DE ALEXANDRE; HÉRCULES À ESQUERDA E ZEUS À DIREITA
Durante sua expansão, Alexandre prestaria sacríficos, realizaria procissões e organizaria eventos após suas vitórias: no Líbano, Alexandre encontraria um templo dedicado a Hércules na cidade de Tiro, que se tratava de um Hércules mais antigo do que aquele que tinha parentesco, mas que chamaria a atenção do rei macedônico⁵. Em Solos na Cicília, propiciaria culto ao deus da medicina Esculápio e em Malos, homenagearia o herói da Guerra de Tróia Antíloco qual teria nascido nesta cidade⁶ e, ao reconhecer Malos como colônia de Argos, Alexandre cessaria os impostos que eram pagos por seus cidadãos ao império de Darius⁷.
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Paralelo a isso, Strabo relata que na capital da Cicília, Tarso, é dito que a cidade teria sido encontrada por companheiros residentes de Argos do herói Triptólemo enquanto procuravam pela sacerdotisa de Argos, umas das paixões de Zeus⁸. JÚPITER E IO (ANTONIO CORREGGIO, 1523-1533)
Ou seja, ao passo em que a Dinastia Argéada utilizou do mitológico para afirmação de sua identidade, cidades agora pertencentes ao território desse império elaboram relações históricas com a cidade de Argos, onde esboçariam uma relação com Hércules e consequentemente com o próprio Alexandre. Se a mitologia serviria para a busca de reconhecimento de um indivíduo, ela também seria utilizada para a reformulação histórica de toda uma cidade, onde por ter sua fundação associada aos mitos, faria com que tivesse o respeito de uma cidade genuinamente grega.
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O helenismo é considerado uma época de declínio da cultura grega, onde perde seu caráter homogêneo e os novos conceitos estéticos resultam da integração da arte grega com as variadas manifestações artísticas de povos que foram integrados ao Império. Na arquitetura, com a influência da arte clássica, mantém-se os estilos gregos: dórico, jônico e coríntio.
ALTAR DE PÉRGAMO DEDICADO A ZEUS (DATADO SÉC II A. C.)
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As novas funções exigidas pela cultura e política do Império criaram a necessidade de construção e modificação de monumentos como palácios, altares, ginásios e bibliotecas como as de Pérgamo e de Alexandria.
BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA
Em competição com a Acrópole de Atenas, foram construídos, nesse período, diversas estruturas na cidade de Pérgamo. O conjunto dessas estruturas resultou no monumento de estilo jônico conhecido como Altar de Zeus.
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Assim como na Grécia Antiga, a escultura desse período desenvolveu-se com o uso de pedra e bronze e, abandonando o ideal clássico rígido das artes plásticas gregas, o artista helenístico é livre e naturalista, suas obras refletem sedução e são altamente expressivas, capazes de reproduzir emoções através do realismo, como na obra denominada O Gaulês Moribundo, e com grandes demonstrações técnicas transmitidas pela movimentação e torção dos corpos como em Vitória de Samotrácia, estatua em mármore produzida em comemoração à uma batalha.
GAULÊS MORIBUNDO (DATADO SÉC III A.C.)
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A VELHA BÊBADA (DATADA II A.C.)
VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA (DATADA II A.C.)
GRUPO DE LAOCOONTE (DATADO APROX. 40 A.C.)
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APÓSTOLO PAULO, EM ATENAS
Na antiguidade havia dois círculos culturais: Gregos, constituindo o Ocidente e Semitas, cultura árabe, judaica e hebraica, constituindo o Oriente. A partir do século IV a.C., as duas culturas se fundem e dão origem ao que hoje chamamos de Helenismo. Com isso, se dá a fusão Oriente – Ocidente, e nesse período surgem novas concepções e ideias filosóficas e religiosas que incorporam elementos orientais e ocidentais. O espaço helenista cria novas culturas, linguagens e comportamentos. Esse processo de fusão ocorre durante um longo período da história, iniciado pelo expansionismo do Império Macedônico, que domina o mundo grego, e posteriormente se estende ao oriente médio.
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Alexandre, tutelado por Aristóteles, filósofo da Grécia, ao dominar o mundo grego, em vez de destruí-la, o incorporou ao contexto macedônico. As Cidades-Estados, por exemplo, perderam sua autonomia e foram subordinadas ao Império, no entanto, a cultura grega não se dissipou, mas foi agregada pela cultura oriental. ALEXANDRE E ARISTÓTELES
O conhecimento da existência das crenças e práticas religiosas e da filosofia grega causou indignação aos orientais, que buscaram entender e absorver alguns pensamentos e ensinamentos desconhecidos por eles até então.
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O período helênico perdurou desde o século IV a.C. até III d.C. Nesse meio tempo surge a figura histórica de Jesus Cristo como marco divisor, onde, como ramificação do judaísmo, ergue-se um novo ramo do monoteísmo histórico: o Cristianismo, religião essencialmente helênica por incorporar elementos orientais e ocidentais nas suas práticas e concepções. Os judeus, mesmo convencidos da superioridade de suas crenças e lutando por elas, apresentaram suas ideias aos gregos e absorveram alguns de seus costumes e noções, assim, se encontraram envolvidos na fusão de valores gregos e judeus⁹. LÁPIDE COM SÍMBOLOS JUDAÍCOS E ESCRITURAS GREGAS ESCAVADA EM ROMA
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O encontro da cultura hebraica com a cultura grega é retratado na Bíblia, no capítulo 17 do livro de Atos, no novo testamento.
PAULO NO AREÓPAGO
O texto narra o momento em que o apóstolo Paulo, de sangue hebraico e fortemente zeloso às tradições e crenças judaicas, chega à cidade de Atenas e se encontra em um mundo desconhecido, onde há liberdade de pensamento e espaços para discussão sobre as mais variadas concepções filosóficas, diferentemente da cultura hebraica. 19
Paulo, durante suas andanças por Atenas, fica cada vez mais indignado com as imagens de esculturas, práticas de idolatria aos deuses e símbolos que encontra. Em determinado momento, se encontra na Ágora, onde discute a respeito do pensamento e religião hebraicos e das práticas atenienses com filósofos estoicos e epicureus, que fazem parte do contexto helenístico e propunham libertar as pessoas de suas preocupações quanto à vida. Em contraste com o pensamento do estoicismo, que será abordado mais a frente, o Apóstolo apresenta aos atenienses e estrangeiros residentes as práticas religiosas e filosofias que traz consigo. APÓSTOLO PAULO, DISCURSANDO EM ATENAS
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Esse encontro resultou na integração de práticas gregas e judaicas e, “ainda que o helenismo não tenha uma substância determinante na referência do pensamento cristão, não se pode negar que a linguagem e o pensamento (de mundo, do homem e da religião) não tenham, em grande parte, advindo do pensamento grego” ¹⁰
Curiosidade A ideia de morte transmitida pelo cristianismo, de que após a morte a alma sobe ao céu, é um exemplo do impacto dos pensamentos gregos no pensamento cristão, que é influenciado pelo dualismo platônico (mundo sensível e inteligível).
No que se refere à filosofia e também à política, com o domínio do Império, a liberdade, antes valorizada pelos gregos, deixou de ser importante e foi restringida, assim como a autonomia e os debates na assembleia. A dominação do Império levou ao fim da democracia grega, e a ligação entre o cidadão e a pólis foi quebrada, o indivíduo se percebe não mais como parte importante da política e do cotidiano, então o homem grego precisou reinventar-se. O pensamento caminhou ao entendimento do privado e não mais ao público e coletivo, que foi impedido pelo intervencionismo. Contudo, o centro da reflexão deixou de ser o bem comum, a assembleia e a pólis e, em função da restrição da liberdade individual, passou a ser a busca pela felicidade e paz interior. 21
O homem, diferentemente de antes e não condicionado aos deuses e heróis, passa a ser capaz de se voltar sobre si mesmo e sobre sua própria liberdade e não sobre a liberdade política. O helenismo faz do homem um ser que volta sua reflexão para seu interior e não para o externo. O mundo, que antes era regido pela metafísica, pelas forças dos deuses e pela pólis, com o estoicismo se torna a interioridade humana, e a preocupação passa a ser pela vida do homem e não pelas doutrinas. Assim, o espírito helenista é a individualidade, a interioridade (cinismo) e a espiritualidade. O homem deixa de se voltar ao “ser cidadão” e passa a buscar sua própria identidade. “A educação cívica do mundo clássico formava cidadãos, a cultura da época de Alexandre forjou, depois, indivíduos” ¹¹.
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Após a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a. C, houveram conflitos intermitentes por parte dos generais de destaque e membros da família de Alexandre pelo Império, deixando o quadro político de Atenas em grande instabilidade, qual mesmo continuando sendo uma forte capital intelectual, este cenário se encontrava de grande desordem.
A MORTE DE ALEXANDE, O GRANDE (CARL THÉODOR VON PILOTY. 1824-1886)
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Nesse contexto conturbado, a filosofia cumpre o papel de reconciliar o homem com a natureza através de princípios e condutas, visando principalmente a moral a fim de assegurar a felicidade. Segundo o professor Gilbert Murray: “quase todos os sucessores de Alexandre – e, podemos dizer, todos os principais reis que existiam nas gerações que se seguiram à de Zenão – se declaravam estoicos.
Por volta de 300 a. C, Zenão, fundador corrente e escola filosófica estoica, sai de Chipre e chega Atenas. Materialista e racionalista ético rejeitava todo tipo de transcendência, grande parte de seu ensinamento era baseado no cinismo e na filosofia de Heráclito¹¹. Por não ser cidadão ateniense, não tinha o direito de comprar terras ou edifícios, então ele lecionava em um pórtico da cidade, onde outrora haviam sido mortos cerca de 1.400 atenienses devido à tirania dos Trinta. ZENÃO DE ELEIA
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O estoicismo propõe viver de acordo com a lei racional da natureza, sendo a virtude a disposição em estar de acordo com esta. Não é através da virtude que se alcança a felicidade, mas ela em si é o bem supremo. O sábio atende esta lei natural, reconhecendo-se como uma parte no propósito e ordem do universo. Caracterizado por uma equanimidade perante o mundo, que o faz manter a serenidade perante as tragédias e as coisas boas. Assim, o homem sábio deve renunciar a tudo que não esteja ao seu alcance, no seu domínio, pois este é dessa forma que se conquista a ataraxia, termo grego que denomina um estado de “imperturbabilidade da alma” ou “tranquilidade de ânimo”. A paixão para eles é o oposto, ou seja, o vício da alma, que traz inquietações e é uma emoção irracional. O ideal não seria dominar tais emoções, mas sim anulá-las, para que sejam substituídas pela razão¹².
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Após, Zenão de Tarso (Turquia) assume a frente, depois Diógenes da Babilônia ocupou a posição dianteira da escola. Em 156 foi enviado a Roma, juntamente com Carnéades, Critolaus e Antípatro de Tarso, seu discípulo que foi professor de Panécio em Atenas. Quando em Roma, fez amizade com Cipião Emiliano (Romano), juntos viajaram para Alexandria e percorreram as costas ocidentais da África.
DEUSA ROMANA PAX NO ARCO DO TRIUMFO DO CARROSSEL, CONTRUÍDO POR NAPOLEÃO I
Então, o estoicismo passa a inclinar-se para um humanismo da razão e a virtude deixa de ser uma ordem indivisível e universal, afastando-se assim do rigor da filosofia dos antigos estoicos. Panécio utiliza-se das obras dos seguidores de Aristóteles e da Nova Academia, sua filosofia passa a ser um chamariz durante o período da Pax Romana, onde muitos ansiavam uma moral pessoal que era facilmente atendida pelo humanismo universalista dos estoicos. Acredita ser por isso que Panécio tinha amizade com célebres romanos. 26
Depois da morte de seu instrutor, Antíprado, Panécio assume em Atenas a frente da escola. Seu aluno, Possidónio, nascido na Síria, depois de viajar todas as costas do Mediterrâneo, funda uma escola estoica em Rodes, exercendo juntamente respeitáveis encargos políticos. Ao contrário de seu instrutor, Possidónio acreditava que a alma “continua a viver no ar e permanece imutável até a próxima conflagração mundial”¹³ e que os eflúvios da alma emanados após a morte distinguiria os bons e os maus: os bons eram elevados ao plano estelar, e os maus permaneciam esperando a próxima reencarnação.
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Depois de décadas de embates políticos em Roma, Augusto declarou o fim das guerras civis e promoveu o ideal de paz e prosperidade. A partir desse momento o poder centraliza-se na figura do imperador. Após ele, sucederam nomes como Valéria Messalina, Tibério Cláudio, Calígula, sua irmã Júlia Agripina e seu sobrinho, Nero. Mesmo a unicidade do Império sendo mantido, o clima é de terror e sofrimento por conta dos assassinatos, perseguições e exílio. Os principais alvos eram os filósofos, escritores e historiadores. Como exemplo, “Nero proíbe Lucano de ler suas obras em público; o estóico Musónio Rufo é exilado; em 93, Domiciano expulsará os filósofos por um senado-consulto.” ¹⁴
AUGUSTO, CALIGULA E NERO
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Além das influencias que este cenário provocará na filosofia, o paganismo vindo do Oriente e o cristianismo incipiente também terão seus reflexos nos pensamentos filosóficos deste período. Onde se destaca os nomes de Sêneca, de Epicteto, um escravo, e de Marco Aurélio. Como os antigos estoicos, Sêneca acreditava que existe uma lei ordenadora e universal (logos). Então, o sábio é aquele que se utiliza da razão, a fim da sua consciência se coincidir com a ordem determinada pelo logos.
NERO E SENECA (EDUADO BARRON, 1858-1911)
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Marco Aurélio escreveu doze livros de Meditações, onde há reflexões sobre o sentido do dever, da liberdade, felicidade e do bem-estar, para ele estas só dependem de um bom entendimento e aproveitamento do presente: “Que a imagem de tua vida inteira não te perturbe jamais. Não sonhes com todas as coisas dolorosas que provavelmente te aconteceram, mas, a cada momento presente, pergunta? O que há de insuportável e irreversível neste acontecimento? Lembra-te então de que não é nem o passado, nem o futuro, mas o presente que pesa sobre ti.” ¹⁵
ESTÁTUA EQUESTRE DE MARCO AURÉLIO (DATADA EM 175 D.C.)
Após Marco Aurélio o estoicismo não teve outros grandes nomes, mas estes deixaram um legado significativo para a humanidade. Notam-se na retórica romana princípios fundamentais da dialética estoica¹⁶ e influência de sua ética no império romano. O Cristianismo também adotou ensinamentos estoicos.
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O epicurismo foi fundado na Grécia durante o século IV a.C. por Epicuro (341-270 a.C.). Dedicou-se a filosofia desde muito cedo e legou sua vida a tentar decifrar um dos maiores enigmas da existência humana no momento de domínio Macedônico: “o que nos faz felizes?”.
BUSTO DE EPICURO
Em sua Carta sobre a Felicidade a Meneceu ele anuncia: “é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando está presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.” Sua filosofia proporcionou o surgimento de comunidades epicuristas por todo mediterrâneo. A vida desses grupos era muito simples por motivos de princípios da filosofia epicurista, e também por causa da falta de dinheiro. 31
Em 311 a. C, Epicuro fundou sua escola em Mitilene, depois em Làmpsaco, e a partir do ano de 307 a. C, em Atenas¹⁷. Ficaria conhecido também como o “Filósofo do Jardim”, porque costumava ensinar sua filosofia em tais ambientes.
ILUSTRAÇÃO DE CANDACE H. SMITH (1987) DESTACANDO A DISTÂNCIA DOS JARDINS EPICURISTAS DA ÁGORA
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Segundo o Epicurismo, a filosofia cumpre o papel de instrumento para se alcançar a felicidade através dos prazeres moderados que permitiria alcançar a “imperturbabilidade da alma” (ataraxia), do conhecimento dos limites dos desejos e da ausência de dor (aponia). Sendo os desejos classificados em naturais e necessários (fome, sono, etc.), naturais e não necessários (instinto de procriação), não naturais e não necessários (luxo, glória, etc.). Dessa forma, Epicuro acreditava que a riqueza e o luxo distanciavam da felicidade, além de que a própria felicidade dependia da liberdade, sendo assim, não sendo a favor da política.
ROMANOS EM SUA DECADÊNCIA, THOMAS COUTURE (1847)
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Apesar de sua posição apolítica não ser famosa entra a elite, segundo escrito de Marco Túlio Cícero, Consul da República Romana, o epicurismo teria muitos seguidores no império romana, sendo um dos mais importantes Diógenes de Enoanda, que por volta de 120 d.C., mandou construir um paredão de pedra no qual inscreveu a filosofia da felicidade de Epicuro, com o intuito dos habitantes da cidade aprende-la, sua justificativa tem base na tese epicurista de que é necessário ler um argumento filosófico diversas vezes para relembrar constantemente a fim de não esquecer.
ENSINAMENTOS EPICURISTAS ETERNIZADOS EM PEDRA
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O período helenístico, que se liga ao eclipse da CidadeEstado, é marcado por uma filosofia feita por pessoas que se encontram cosmicamente desesperadas e politicamente impotentes. As perguntas filosóficas voltam-se da política, questionamento dos filósofos da Grécia Antiga, para a salvação individual, e perguntavam acerca de como poderiam ser felizes num mundo indigno? Em busca da salvação individual o filósofo do período helenista encontrava-se limitado, não encontravam certezas no mundo ao seu redor. O cinismo, fundado por Diógenes, é uma escola que nasce nesse período de caos, como é conhecido o helenismo.
DIÓGENES PEDINDO PARA ALEXANDRE, O GRANDE, PARAR DE TAMPAR SEU SOL 35
Esta escola filosófica acredita nas coisas simples, na volta "à natureza", e repudia tudo o que é refinado em filosofia, assim como todas as convenções.
OS CACHORROS DE DIÓGENES
A filosofia de Diógenes era voltada para essa época helenística, onde o homem encontrava-se perdido e desesperado. Volta-se para um protesto contra o mal, que este acredita estar nos bens materiais e nos desejos humanos.
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DIÓGENES E SEU LAMPIÃO EM BUSCA DA “VERDADE”
O Ceticismo é proclamado por Pirro que pertenceu ao exército de Alexandre, morreu em 275 A. C. É precedido depois por Timon (235 A.C.), até Clitômano (69 A.C.). Essa filosofia aponta que "ninguém sabe, e ninguém jamais poderá saber". O ceticismo mostra que o conhecimento é inatingível, e que o ignorante é tão sábio como o homem de muito saber. Toda doutrina do período helenístico voltava-se para sanar as preocupações, e as incertezas do homem em relação a si e o futuro, o ceticismo tinha êxito numa realidade onde apenas importava o presente e tinha-se o futuro como incerto.
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REFERÊNCIAS
1. PAUSIANAS. 1-35. 2 e 3. ERSKINE, ANDREW (ED.). A COMPANION TO THE HELLENISTIC WORLD. BLACKWELL, 2003. PAG. 218 4. HERODOTUS. 5.22;8.137-9; TUCÍDIDES. 2.99.3 5. ARRIANO, LUCIO FLAVIO THE ANABASIS OF ALEXANDER, 1575. 2.5.9 6 e 7. The Anabasis of Alexander; or, The history of the wars and conquests of Alexander the Great - E. J. CHINNOCK, 1884. PAG 89. 8. STRABO. 16.2.5 9. MOMIGLIANO, A. Os Limites da Helenização – Interação cultural das civilizações Grega, Romana, Céltica, Judaica e Persa. Ed. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 1991. P.16 10. WARDISON, .C.S. Revista de Cultura Teológica, OUT/DEZ 2010 – V.18, N.72 11. REALE; G.; ANTISERI, D. História da filosofia — Antiguidade e Idade Média. V.1. São Paulo: Paulus, 1990, P. 228 12. RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental - Livro Primeiro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957. P.293 13. PADOVANI, Umberto Antonio; CASTAGNOLA, Luís; VELLOSO, Artur Versiani. História da filosofia. 15. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1990. P.148 14. RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental - Livro Primeiro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957 P.301 15. BRUN, Jean. O estoicismo. Lisboa: Edições 70, 1986. P.22 16. MEDITAÇÕES VIII – MARCO AURÉLIO 17. ULLMANN, Reinholdo Aloysio. O estoicismo romano: Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996. P.114 18. RUSSEL, Bertrand. História da Filosofia Ocidental - Livro Primeiro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957 P.281
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