Henrique Perin

Não consigo me apegar à essas pessoas presas nas poltronas defronte à tv em suas salas de estar; tão pouco acredito na verdade definitiva pregada na Esquina Democrática; preciso salvar-me de mim mesmo. Duas garrafas de vinho são tudo o que posso comprar com o dinheiro do bolso; bêbado lembro com saudades de uma vida que não vivi, colhendo uvas em fazendas Vitorianas (outras frutas, outros tempos, outras latitudes); corro por ruas cinzas perguntando-me quando vou poder entrar nas lojas e comprar pão e leite apenas com a minha beleza. Triste porto dos casais, R$2,00. Chuto pedras na Redenção sob o céu de abril e não percebo (finjo não perceber) as árvores nuas que insinuam seus galhos sobre a minha cabeça; ouço os primeiros pingos do outono - porto vá lá, mas por que alegre?