Filmes do TaranTino
por Hiago Leal
O aniversário do meu melhor amigo (My Best friend’s birthday, 1987)
Como avaliar um filme incompleto? Pelo que há disponível. Neste caso, O
aniversário do meu melhor amigo é absolutamente amador, o que não é necessariamente bom.
Cortes ruins, atores não profissionais e lutas mal
coreografadas estão presentes nos cerca de 40 minutos da película de 16 mm. Foi tudo o que foi filmado. Há, na história, traços do humor, referências pop e ligação com o “universo tarantinesco”. Clarence Pool (Tarantino) trabalha na rádio K-BILLY (mesma de Cães de Aluguel) prepara um aniversário surpresa para Mickey (Craig Hamann), seu melhor amigo. Como presente, Pool contrata uma acompanhante e compra um bolo com glacê enquanto fala de Elvis e cinema. É mais um exercício que um filme.
Curiosidades:
1 - Tarantino diz não sentir vergonha do filme, já Craig Hamann disse não ter gostado. 2 - Os boatos são de que uma parte do filme se perdeu em um incêndio, mas, uma outra versão da história diz que ele apenas não foi finalizado. 3 - A base da história serviu para o roteiro de Amor à Queima-Roupa.
Cães de Aluguel (Reservois Dogs, 1992)
Cães de Aluguel é a verdadeira estreia de Tarantino. Foi um dos primeiros filmes ditos independentes dos Estados Unidos (o orçamento foi de 1,2 milhão de dólares) a arrecadar mais de 100 milhões de dólares no mundo. Causou alvoroço no Festival de Sundance, tendo sido indicado ao prêmio principal. Nascia um dos maiores diretores contemporâneos. Assaltantes com codinomes de cores (Mr. Blue, Mr. Pink, etc) roubam uma joalheria, mas o crime não sai como planejado. Esse é o argumento de uma das melhores estreias de grandes diretores. Diálogos mundanos como “o que significa a música Like a Virgin da Madonna”, trilha sonora escolhida a dedo, atuações naturais excelentes e uma violência estilizada e cômica deixaram a marca de Tarantino para sempre no cinema norte-americano.
Curiosidades:
1 - O depósito do filme era um mortuário. O segundo andar do local foi utilizado para ser o apartamento do Mr. Orange. 2 O maquiador Robert Kurtzman trabalhou em troco de Tarantino escrever o roteiro de uma história sua chamada Um Drink no Inferno. 3 - Um paramédico frequentava as filmagens para garantir que a perda de sangue de um dos personagens fosse o mais próxima do real possível.
Pulp Fiction – Tempo de Violência (Pulp Fiction, 1994)
A “menina dos olhos” de muitos fãs do diretor, seu segundo longa oficial traz de volta tudo aquilo que ele mostrou de melhor no primeiro, mas eleva cada característica sua a outra magnitude. Homenagens ao cinema, mistura de gêneros, divisão em capítulos, linha cronológica fragmentada e humor negro que arranca risadas em situações improváveis mostram que ele veio pra ficar. São três contos que acontecem paralelamente, se confundem e se misturam. Tudo gira em torno do chefão da máfia, Marsellus Wallace. Ele manda dois divertidíssimos assassinos realizarem cobraças, pede para um deles cuidar da sua namorada e contrata um boxeador para perder uma luta. Oscar de Melhor Roteiro e Palma de Ouro em Cannes. Tá bom ou quer mais?
Curiosidades:
1 - O carro do personagem Vincent Veja pertencia, na verdade, ao próprio Tarantino. 2 - O veículo foi roubado durante as filmagens. 3 - A passagem da Bíblia declamada no filme, a famosa Ezequiel 25:17, é falsa.
Jackie Brown, 1997
Pela primeira e única vez, Tarantino dirige um filme sem ter sido também o roteirista. Grande fã do universo Blaxploitation, de filmes das décadas de 70 protagonizados por atores negros como Jim Kelly ( Black Samurai) ele faz a sua própria obra no gênero, adaptando o livro de Elemore Leonard, Pum Punch. Pam Grier, musa desse universo, dá vida a personagem Jackie Brown, uma aeromoça que contrabandeia dinheiro de um traficante de armas (Samuel L. Jackson). O elenco reúne ainda Robert Foster (indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), Michael Keaton, Robert De Niro e Bridget Fonda evidenciando mais uma vez a capacidade de Tarantino de reunir grandes atores. Contudo, não é uma obra de destaque como as anteriores.
Curiosidades:
1 - Michael Keaton interpreta o policial Ray Nicolette, dos livros de Elmore Leonard. Ele voltou a fazer o mesmo personagem em Irresistível Paixão, outra adaptação do mesmo autor para o cinema. 2 - A sacola de dinheiro que aparece numa cena do filme é real. 3 Pam Grier havia feito testes para Pulp Fiction, para interpretar Jody.
Kill Bill, 2003
A ideia inicial era que Kill Bill fosse um épico de aproximadamente quatro horas, mas optou-se (sabiamente) em dividir a obra em dois filmes. Neste primeiro, somos apresentado à “Noiva”/Black Mamba, um personagem aparentemente sem nome real e claramente em busca de vingança. Uma Thurman rouba a cena vestida com o mesmo macacão amarelo já usado por Bruce Lee. Ela caça com uma espada o Bill do título, responsável por arruinar a sua vida. É o filme mais divertido de Tarantino. Absolutamente sem amarras, o Volume 1 consegue ser o maior pot-pourri do diretor/roteirista. Estão juntos western spaghetti, Wuxia (cinema e literatura com Kung Fu, chinês), cinema trash e anime.
Curiosidades:
1 - A ideia para o filme surgiu durante as filmagens de Pulp Fiction. 2 - O papel principal foi dado para Uma Thurman como um presente no dia do seu aniversário de 30 anos. 3 - A cena em que uma bola de baseball é partida ao meio é real e foi feita em estúdio com uma dublê. 4 - A “Noiva” foi criada por Tarantino e Thurman juntos.
Kill Bill Vol. 2, 2004
A “Noiva” continua sua jornada sangrenta. Neste capítulo, somos apresentados ao treinamento que fez dela uma assassina profissional e mestre em artes marciais. O Volume 2 se concentra mais em dar as respostas que ficaram suspensas na primeira parte. Cenas em preto e branco e diálogos memoráveis dão o tom do capítulo. Para o derradeiro acerto de contas com Bill, a personagem de Thurman deve ir atrás de outros membros do seu antigo grupo de assassinos à lá As Panteras em uma versão vilanesca. Duelo de espadas, golpes especiais e “nerdices” de Tarantino vão às últimas consequências.
Curiosidades:
1 - O personagem Pei Mei não foi criado por Tarantino e sim pelos irmãos Shaw. Ele aparece em diversas obras das décadas de 70 e 80. 2 - Uma cena do filme foi dirigida pelo amigo de Quentin, Robert Rodrigues por um dólar. O cineasta retribuiu filmando uma cena de Sin City pelo mesmo preço. 3 - Durante a exibição de teste o filme foi aplaudido durante cinco minutos.
Grindhouse/À Prova de Morte (Death Proof ), 2007
Se tem uma coisa que é inegável sobre o cineasta nascido no Tennessee, é o seu extenso conhecimento sobre filmes, em especial as produções B da década de 70. Junto do seu amigo Robert Rodrigues, foi criado o projeto
Grindhouse
uma
sessão
dupla
com
filmes
que
prestariam
uma
homenagem/sátira a estas produções. Infelizmente, o projeto não obteve sucesso comercial e os diretores decidiram relançar as suas partes separadas e com mais tempo de projeção. O filme de Tarantino é À Prova de Morte, onde, pela terceira vez seguida, as mulheres são protagonistas. Trata-se de uma típica obra de perseguição a um grupo de jovens, formado inteiramente por membros do sexo nada frágil. Excelentes sequências de carro e uma belíssima cena de dança são os pontos altos da obra.
Curiosidades:
1 - O argumento para o filme surgiu de uma conversa que Quentin teve com um amigo sobre qual carro seria mais seguro comprar. 2 - A atriz Zoë Bell foi a dublê de Uma Thurman em Kill Bill. Ela não usou dublê em nenhum momento do filme. 3 - A jukebox que aparece no filme é do próprio Tarantino.
Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds), 2009
O gênero escolhido para se aventurar em 2009 foi o cinema de guerra. Volta aqui a divisão da história em diferentes núcleos, semelhante a Pulp
Fiction. De um lado há o grupo de “caçadores de nazistas” liderado por um hilário Brad Pitt, com um sotaque bastante carregado, por outro há uma francesa em busca de (adivinhe só:) vingança, tema central do cineasta. O filme não se atém aos fatos reais. A catarse que o cinema consegue provocar através da fantasia/ficção sempre fica em primeiro lugar para Tarantino. A ideia que permeia o sétimo longa do diretor é basicamente: “E se um plano mirabolante conseguisse acabar com a Segunda Guerra Mundial?” A resposta do público e da crítica não poderia ter sido melhor. Foram oito indicações ao Oscar, com a vitória de Christoph Waltz na categoria Melhor Ator Coadjuvante e mais de 320 milhões de dólares arrecadados em bilheteria.
Curiosidades:
1 - Quentin trabalho no roteiro deste filme durante cerca de 10 anos. 2 - O ator Christoph Waltz é poliglota de verdade. Ele é fluente em todas as quatro línguas que fala no filme: inglês, francês, italiano e alemão. 3 - Foi o primeiro trabalho de Brad Pitt com o diretor, mas o ator fez um personagem em Amor à Queima-Roupa, cujo roteiro é de Tarantino.
Django Livre
Novamente trabalhando com a inversão de papéis, no lugar de judeus caçando nazistas temos o escravo Django (Jamie Foxx), libertado por um alemão (Christoph Waltz) que vai atrás de sua esposa, mantida prisioneira por um fazendeiro dos Estados Unidos logo antes da Guerra Civil. As citações
de coisas sobre super-heróis aparecem personificadas na
figura de Django. Seu figurino, os enquadramentos, tudo favorece o personagem que é um verdadeiro anti-herói. Com planos abertos para explorar o cenário dos westerns (faroestes), gênero mais querido pelo diretor, o filme se desenrola em um ritmo mais lento, recompensado pelo final mais apoteótico de Tarantino.
Curiosidades:
1 - O compositor Ennio Morricone disse que provavelmente não trabalhará de novo com Tarantino. O motivo, segundo ele, é a falta de coerência das músicas com as cenas. 2 - O cavalo que Jamie Foxx usa no filme é dele mesmo. 3 - A cena em que Leonardo DiCaprio corta a mão é real. Crédito das imagens: divulgação.