4 minute read

O Divórcio De Vasti

POR BLENDA E. BORTOLINI

O ano de 2020 foi um ano regado com lág rimas. Não foi somente lágrimas pela perda dos entes queridos por causa do covid19, mas também pelo divórcio. O número de divórcios bateu recorde em 2020. Mesmo com o confinamento, os casais não se alinharam e o dia-a-dia teve um efeito contrário, promovendo a separação ao invés da aproximação.

Advertisement

Segundo a Rádio Agência Brasil, ¨Em números, foram mais de 43 mil divórcios extrajudiciais realizados no segundo semestre de 2020 contra 38 mil no ano de 2019” Quem virou o ano de 2020 com seu cônjuge, precisa levantar as mãos para os céus porque ainda faz parte do time dos casados que venceram a prova de fogo do covid19. Além de não poder sair de casa, os casais ficaram sem atividades esportivas e com os filhos jogando vídeo games, além dos animais de estimação sem passear. E, ainda, vivendo com a sombra da ameaça da perda do emprego. E, junto a isso, assistindo à Televisão com o bordão massificante do "Fique em Casa" e, não menos importante e ainda avassalador do "Vá trabalhar" apregoado pelo Facebook. Portanto, estes casais têm mesmo que comemorar a

vitória da resistência e, sem contar, os privilegiados casais que tiveram a sogra e o sogro de companhia por não poderem deixá-los sozinhos. Vocês são heróis!!

Quando se ama a aproximação é prazerosa, porém percebemos que os relacionamentos estão cada vez mais desgastados. Então, quais seriam os motivos? Seriam questões mal resolvidas? Ou mágoas? E até mesmo mais pessoas dentro dos relacionamentos? Ou Irresponsabilidades? Ou seria a falta de sexo? A perda do trabalho? Videogames? Conversas no whatsApp?

Existem aqueles que separaram porque a mulher ganhou peso. Outros, porque a mulher envelheceu, não é mais a garota de 20 anos que um dia conheceu. Têm aqueles que preferem a comida da mãe do que a da esposa. Tem outros que separaram porque a mulher não pode ter filhos. Enfim, muitas expectativas na base do físico. Assim, como mudou, procurou algo que o atraísse novamente e trouxesse de volta aquele desejo. Portanto, para alguns homens, muitas mulheres não passam de objeto sexual ou objeto de desejo. Se mudam fisicamente, elas também são substituídas.

A "mulherada" também não fica para trás, basta o homem perder o emprego que a guerra se instala. Ganhando uma barriguinha e trocando os passeios por fazer compras, a insegurança apita. Os hormônios da serotonina gritam por uma instabilidade. Não se sentem seguras e atacam seus parceiros. Com os anos, a fase de gatinho passa para a fase do cavalo. A paciência chega no limite zero.

Concluímos que ninguém casa para separar e ninguém casa já pensando no divórcio. O divórcio é um luto que nem sempre é superado e traz traumas nas crianças e, também, no casal. Uma sensação de fracasso aliado a um sentimento de desgaste emocional. Tanto o amor envolvido para nada. O divórcio hoje ficou banalizado. Um dia casa, outro dia divorcia. O ego tem sido o grande vilão. As campanhas da turma do ¨separa que é melhor" não dá sossego. Quase ninguém ajuda a resolver a raiz do problema, porque se a base não está estruturada, a nova relação provavelmente irá se comprometer. Há um caso relatado na Bíblia que muito me chama a atenção, isto é, O divórcio de Vasti. A rainha que resistiu obedecer ao seu marido, que também era o rei da Pérsia. Não obedeceu sua ordem em desfilar como uma modelo na passarela dos nobres. Vasti, mesmo tendo uma decisão firme como uma mulher que não quis se expor ao grupo de homens bêbedos, se valorizou, o que acarretou em um problema de ordem nacional uma vez que seu marido era o rei da Pérsia. E ela havia desrespeitado a ordem real, pois ele não era somente o seu marido, mas também um rei. Porém, o conselho dos "amigos da onça¨ fez o rei Assuero divorciar-se de Vasti. O orgulho do rei foi maior que o seu amor que sentia por ela e decidiu divorciar-se de Vasti, o que o deixou profundamente triste. Inevitavelmente, a justificativa dos seus conselheiros foi enfatizar que as mulheres de todo o país iriam sentir-se no mesmo direito de Vasti e seguir o seu exemplo caso o rei recuasse. Em outras palavras, se a rainha pôde desobedecer ao rei, o que poderia acontecer então a um um pobre agricultor, eles redarguiam.

Assim, uma mulher empoderada não tinha vez e nem voz naquela época. O Rei Assuero ouviu os conselhos da turma do ¨separa¨ e tomou a decisão de se divorciar da mulher que ele tanto amava. Sofreu muito durante anos, mas aprendeu a lição.

Apaixonou-se novamente e recomeçou uma nova história de amor com Ester. Dessa vez, agiu certo, mesmo quando sua nova esposa infringiu uma ordem real, entrando em uma reunião sem ser convidada, isso poderia resultar em morte e não somente um divórcio. Ester fez bem pior que Vasti, porém o rei não a matou e tampouco divorciou-se dela. Mas, a poupou, a perdoou, a ouviu e fez o que ela pediu. Afinal, ele era o rei. Os conselhos dos seus conselheiros não poderiam influenciar em sua decisão e ele deu ouvidos ao seu coração. Afinal, o amor é a base do relacionamento e mesmo com erros, devemos repensar e ouvir o outro lado.

This article is from: