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União de esforços
Especialistas defendem cumprimento de normas, certificação de produtos e o estabelecimento de regulamentos mais rígidos para aumentar a segurança contra incêndios. Profissionais destacam ainda a importância do consumidor se posicionar a favor da qualidade. Reportagem: PAULO MARTINS
A
promoção da segurança contra incêndios foi o tema central de um grande fórum de debates realizado no dia 15 de março, em São Paulo (SP). Conduzido por renomados especialistas, o 54 Revista da InstalaçÃO
evento pode ser considerado um marco no processo evolutivo do setor. Durante todo o dia, representantes dos fabricantes, prestadores de serviços, órgãos técnicos, laboratórios, bombeiros e seguradoras falaram a um público
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de 280 pessoas sobre questões como normatização, certificação e qualidade dos produtos. Promovido pela UL - multinacional norte-americana do setor de inspeções, ensaios e certificação de produtos -, o evento teve como objetivo conscientizar o mercado sobre a importância do segmento de proteção e combate a incêndio adotar certificações compulsórias e normas mais rígidas a fim de ampliar a segurança da população. A data foi marcada ainda pelo lança-
mento oficial do Programa de Certificação Voluntária de Segurança contra Incêndio da UL do Brasil. Álvaro Theisen, diretor-presidente da companhia no País, relembrou o incêndio ocorrido em 2013 na boate Kiss, que vitimou 242 pessoas, e destacou que a sociedade está sujeita a novas “tragédias anunciadas” como essa. “Alguma coisa precisa ser feita, e tenho certeza de que os agentes necessários para essa transformação estão nesta sala hoje”, disse o executivo
A congress held in March, in the city of São Paulo, joined experts from many fields to discuss initiatives related to protection and fire safety. The meeting was sponsored by UL Brazil and aimed to educate the market about the importance of the country to adopt stricter standards to ensure the safety of the population.
ao iniciar sua apresentação. De acordo com Álvaro, a realização de debates envolvendo importantes players visa construir um novo momento na área de segurança contra incêndio: “Esta é uma ocasião histórica para a área de certificação de produtos, em relação ao que chamamos de fire protection”, destacou. O porta-voz da UL disse que o Programa de Certificação Voluntária de Segurança contra Incêndio lançado pela empresa irá complementar as ati-
Un congreso realizado en marzo, en la ciudad de Sao Paulo, reunió expertos de diversos sectores para discutir iniciativas relacionadas con la protección y seguridad contra incendios. La reunión fue auspiciada por UL Brasil, con objetivo de educar al mercado acerca de la importancia del país adoptar normas más rigurosas para garantizar la seguridad de la población. Foto: Ricardo Brito/HMNews
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vidades já desenvolvidas pelo Inmetro, apoiar o cumprimento das leis federais e estaduais que regulamentam as atividades de proteção contra incêndio e apoiar a indústria no processo de Avaliação da Conformidade. Álvaro observa que, apesar de voluntário, o programa é baseado em normas técnicas, e que a UL está trazendo para o
Brasil toda a bagagem histórica acumulada ao longo do tempo: “Dos instrumentos de Avaliação da Conformidade, a certificação é o mais adotado no mundo todo”. Segundo o gerente de Regulação da UL, Alfredo Ramírez, o Programa de Certificação Voluntária de Segurança contra Incêndio envolve o esforço de aproximadamente 400 engenheiros da companhia. “A UL trabalha pela segurança do mundo desde 1894, por isso, o foco principal do programa é continuar garantindo a segurança das pessoas ao conscientizá-las da importância das certificações voluntárias, além de provocar os órgãos públicos para que estas certificações também passem a ser compulsórias para di-
Programa de Certificação Voluntária de Segurança contra Incêndio lançado pela UL irá apoiar o cumprimento das leis que regulamentam as atividades de proteção contra incêndio. ÁLVARO THEISEN UL do Brasil
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versos produtos utilizados no setor”, menciona. O diretor de Operações de Engenharia da área de Fire Protection da UL, Kevin Faltin, destacou que a companhia possui grande presença no desenvolvimento e criação de normas técnicas nos Estados Unidos e no Canadá e está expandindo sua atuação para outros mercados, como a Europa. O novo programa de certificação lançado no Brasil vem sendo trabalhado mais fortemente há cerca de um ano e meio e poderá servir de modelo para os países vizinhos. “A ideia é, do Brasil, expandir para outros mercados na América Latina”, revela Faltin. Nas demais palestras, os especialistas evidenciaram a necessidade de difundir a cultura da segurança das edificações junto à sociedade e destacaram que é possível avançar neste aspecto a partir da valorização da qualidade e da observação da legislação vigente no País. João Carlos Wollentarski Júnior, diretor da Ipê Consultoria e presidente da Associação Brasileira de Sprinklers (ABSpk),
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garantiu que uma das grandes preocupações da entidade envolve o uso de produtos certificados nas instalações voltadas ao combate a incêndios. “A certificação dá ao usuário a confiança de que aquele produto vai realmente funcionar para aquilo que ele precisa”, destaca. Segundo o executivo, a partir de 2009 começou a entrada no Brasil de bicos de sprinklers sem certificação. Por esse motivo, o presidente da ABSpk defende a compulsoriedade envolvendo esse tipo de produto. “Antes de 2008 não tínhamos importação de bicos sem certificação. Hoje, somente 30% dos produtos importados são certificados. Este dado é preocupante, e, por isso, precisamos garantir a certificação do produto e também torná-la compulsória”, complementa Wollentarski Júnior. “A importância da normalização no processo de certificação” foi o tema abordado por José Carlos Tomina, superintendente do ABNT/CB-24 (Comitê Brasileiro de Segurança Contra
Ideia é implantar o Programa de Certificação Voluntária de Segurança contra Incêndio também em outros países da América Latina. KEVIN FALTIN UL
Incêndio da Associação Brasileira de Normas Técnicas). Entre os diversos benefícios proporcionados pelas normas, o especialista destacou que esse instrumento torna o desenvolvimento, a fabricação e o fornecimento de produtos e serviços mais eficientes, seguros e limpos. As normas fornecem base técnica para saúde, segurança, legislação ambiental e para a avaliação da conformidade; compartilham os avanços tecnológicos e a boa prática de gestão; disseminam a inovação; protegem os consumidores e usuários em geral e facilitam o comércio entre países, tornando-o mais justo. “As normas são referências idôneas e são usadas em processos de regulamentação, acreditação, certificação,
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metrologia e informação técnica, e, ainda, nas relações comerciais entre cliente e fornecedor”, reforça Tomina. Na avaliação do porta-voz, o Brasil detém hoje um conjunto de normas de boa qualidade técnica, e que se fossem devidamente cumpridas, elevariam o País a um patamar maior de segurança. “Existe muita coisa no papel ainda”, lamenta.
O papel do consumidor Presidente do Comitê Brasileiro de Avaliação da Conformidade, o engenheiro Fabián Yaksic lembrou do movimento popular que foi às ruas nos últimos meses para protestar contra a situação política e econômica do País e destacou que oferecer produtos inadequados, que não atendem normas, também é uma forma de corrupção e, portanto, precisa ser combatida por todos.
Para ele, a segurança contra incêndio não estará completa apenas com legislação e fiscalização eficazes. “Deve haver também uma legislação que regulamente a certificação de produtos de forma a garantir que os artigos comercializados e utilizados na segurança contra incêndio sejam eficazes e, de fato, funcionem”, complementa Fabián, que também gerencia o
A certificação dá ao usuário a confiança de que o produto realmente vai funcionar corretamente quando for acionado. 58 Revista da InstalaçÃO
Departamento de Tecnologia e Política Industrial da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica). A propósito, a entidade criou em 2005 o Grupo Setorial de Sistemas de Detecção e Alarme de Incêndio, que reúne fabricantes e integradores do setor e visa desenvolver e aprimorar o mercado. “Os fabricantes proveem as mais modernas tecnologias. Porém, temos que criar no País a consciência de que essas tecnologias precisam ser bem empregadas, com bons projetos e uma correta escolha de sua aplicação”, pondera Fabián. O executivo destaca que todo e qualquer esforço para prevenir incêndios é importante e defende a adoção de soluções - como normas e certificações - em nível nacional: “Uma víti-
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ma do Acre, do Amapá e de São Paulo têm a mesma importância. Todos são iguais”. Fabián observou ainda que o fluxo internacional de comércio depende cada vez mais da adoção de regulamentos, normas, padrões e processos de Avaliação da Conformidade e des-
tacou que, para que haja convergência regulatória, é preciso seguir normas internacionais. Gustavo Kuster, chefe da Divisão de Articulação Externa e Desenvolvimento de Projetos Especiais do Inmetro, falou sobre o papel do instituto como gestor do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade e detalhou as diretrizes de regulamentação adotadas pelo órgão. O especialista lembrou que o País passa por um momento de posicionamento generalizado contra custos e impostos e afirmou que quando a sociedade solicita ao Inmetro a certificação de um produto, isso implica em aumento do chamado ‘Custo Brasil’. “É preciso estabelecer uma regulamentação e usar as certificações quando elas
Somente 30% dos bicos de sprinkler importados são certificados, o que preocupa. Precisamos garantir a certificação do produto e também torná-la compulsória. JOÃO CARLOS WOLLENTARSKI JÚNIOR ABSpk
efetivamente forem necessárias. Existem casos em que não são”, pondera. Kuster garantiu que o Inmetro tem feito sua parte. Atualmente, existem no País mais de 500 produtos regulamentados pelo instituto. “Esse número passou de 100 para 500 nos últimos dez anos. A gente não foge de nossa responsabilidade, mas essa é a solução?”, questiona o porta-voz. Ele destaca que o consumidor faz parte do processo e precisa assumir seu papel, exigindo qualidade. Para defender seu ponto de vista, Kuster cita o resultado de uma pesquisa feita pelo Inmetro no ano passado. Segundo ele, o percentual de pessoas que compram ou já compraram brinquedo no comércio informal - correndo risco de adquirir produto não certificado pelo instituto - é superior a 40%. “É um grande erro imaginar que a solução é pedir para o Inmetro certificar. Isso implica em aumentar os custos de todo mundo, principalmente dos fabricantes sérios e que prezam em fazer o negócio direito”, entende. Kuster compara que a sociedade norte-americana age de maneira difeRevista da InstalaçÃO 59
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renciada. Ele cita como exemplo o setor imobiliário, no qual, segundo ele, desde o comprador até o construtor costumam exigir uma marca de certificação, como a da UL. “Não existe nenhuma lei obrigando isso, mas todas as partes do processo fazem essa opção”, informa. O especialista do Inmetro concorda que a certificação é uma ferramenta “poderosíssima”, mas representa apenas uma parte do processo. “Avaliar a certificação não é a solução para uma
questão de polícia. A melhor solução para casos de polícia é que todas as partes envolvidas no processo estejam conscientes do seu papel, suas responsabilidades e fazer isso tudo valer”. Para Kuster, o maior desafio no Brasil é que cada ator da sociedade se veja como parte do problema. “Só assim é que se vai perceber que também somos parte da solução, obviamente, cada um dentro do seu papel. O Inmetro, de forma nenhuma, foge de sua responsabilidade”, reforça.
SP: 12 mil incêndios em edificações O major Marcelo Alexandre Cicerelli falou sobre um dos trabalhos realizados pela corporação na área de prevenção. Trata-se do Serviço de Segurança Contra Incêndio (SSCI), que inclui a análise de projetos, a realização de vistorias técnicas e o atendimento ao público para esclarecer dúvidas técnicas, por exemplo. Aqui, os números revelam uma oscilação no comportamento da populaFotos: Ricardo Brito/HMNews
Os números expressivos comprovam que toda preocupação com o assunto não só é bem-vinda, como necessária. De acordo com estatísticas do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, no ano de 2014 foram registrados 12.224 incêndios em edificações. Esse tipo de ocorrência só ficou abaixo dos incêndios em vegetação natural (36.980) e em objetos fora das edificações (13.070).
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Os fabricantes proveem modernas tecnologias. Temos que criar no País a consciência de que essas tecnologias precisam ser bem empregadas, com bons projetos e uma correta escolha de sua aplicação. FABIÁN YAKSIC ABINEE
ção. Em média, a procura pelo serviço cresce 12% ao ano. Em 2013, por influência do acidente na boate Kiss, essa demanda saltou para 28%. Entretanto, em 2015 a estatística do SSCI registrou aumento de 17%, ou seja, voltou a se aproximar da média histórica. “A sociedade ainda procura pouco pelo Serviço de Segurança Contra Incêndio”, analisa Cicerelli. O major garantiu que o Corpo de Bombeiros está empenhado em melhorar processos, diversificar as formas de atendimento e ser mais eficiente para atender à demanda da população. Cicerelli considerou uma importante conquista a instituição do Código Estadual de Proteção Contra Incêndios e Emergências, em 2015. Para os bombeiros, uma edificação segura depende da somatória de quatro fatores: norma, projeto, produto e instalação adequados.
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