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Canção do bandido

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Tudo na mesma

Tudo na mesma

Uma residente foi burlada ao longo de dois anos, seduzida pela promessa de riquezas feita por um cidadão português de 74 anos. Depois de dar sinais de levar uma vida de opulência, o homem propôs um negócio de venda de relógios de luxo, que acabaria por desfalcar a vítima em 1,78 milhões de dólares de Hong Kong

UMA vida fácil de abundância e luxos quotidianos. Foi esta a expectativa que um cidadão português transmitiu a uma residente no dia em que se conheceram, em Novembro de 2018, num restaurante de yum cha na zona central da península de Macau.

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A aparência do indivíduo, ostentando marcas luxuosas e relógios caros, passou a ser a imagem transmitida à vítima em encontros posteriores. O português, de 74 anos de idade, vangloriava-se da vida de luxo e riqueza que levava na Tailândia, imagem que seria determinante para o golpe que já estava em acção e que culminou com a sua detenção na passada quinta-feira, depois de aterrar no Aeroporto Internacional de Macau. Segundo informações veiculadas pela Polícia Judiciária, o suspeito terá alegadamente convencido a vítima a participar num esquema de venda de relógios de luxo.

O indivíduo é suspeito da prática do crime de burla, que devido ao prejuízo patrimonial de valor consideravelmente elevado pode resultar na pena de prisão de dois a 10 anos

Sob o pretexto de pagar portes de envio, despesas alfandegárias e de transporte, a vítima começou a fazer transferências de dinheiro para uma conta bancária num banco tailandês.

Mais tarde, o suspeito alegou estar retido em Guangzhou devido às restrições resultantes do combate à pandemia na cidade, motivo pelo qual precisava de dinheiro para cobrir as despesas do dia-a-dia, até conseguir regressar à Tailândia.

Milhões invisíveis

Convencida de que estaria a ajudar um homem abastado, entre Novembro de 2019 e Junho de 2021, a residente, com idade na casa dos 50 anos, fez 55 transferências bancárias para a conta do suspeito, num total de 1,78 milhões de dólares de Hong Kong.

Além da promessa de enviar artigos de relojoaria de luxo, nas comunicações via WeChat o suspeito convenceu a vítima de que teria ganho um prémio avultado numa lotaria e recebido dividendos de investimentos, razões que levaram a residente a confiar que seria ressarcida das despesas feitas.

A meio de Junho de 2021, sem reembolso das despesas pagas e sem os relógios prometidos, a residente finalmente apercebeu-se de que teria sido vítima de uma burla e apresentou queixa às autoridades. Depois de ser detido, na passada quinta-feira, a PJ indicou que o suspeito admitiu os crimes praticados e que terá gasto o dinheiro transferido pela residente com despesas do quotidiano na Tailândia.

O suspeito, um reformado de apelido Lei, detentor de passaporte português, terá nascido em Macau, fala fluentemente cantonês, mas não tem título de residente da RAEM.

O caso foi enviado para o Ministério Público e o indivíduo é suspeito da prática do crime de burla, que devido ao prejuízo patrimonial de valor consideravelmente elevado pode resultar na pena de prisão de dois a 10 anos.

João Luz

QUANDO PENSAMOS na evolução sociopolítica e jurídica da mulher chinesa, somos, de imediato, remetidos para valores, ideias e construções socio-imagéticas que buscam as suas raízes no confucionismo (o qual se impõe como sistema de valores e de pensamento na China Imperial, em particular no período da Dinastia Han (206-220 AEC)). É, deste modo, fundamental compreender aquela proposta de sistematização do pensamento para que possamos refletir, por exemplo, sobre o nascimento, nos finais do século XIX, de um movimento feminista chinês e o porquê de este se erguer, precisamente, como oposição aos valores confucionistas. Aliás, a ideia de submissão patriarcal remonta, precisamente, ao século XIX, quando Karl Marx e Friedrich Engels refletem sobre este tema, estabelecendo que aquela nos remete para uma relação ilimitada de dominação exercida por homens. Sobre a relação entre patriarcado e confucionismo, já Alfred Doeblin, estudioso do confucionismo, considerava que, na China, a subordinação secular das mulheres chinesas advinha de uma organização patriarcal imposta pelo sistema de pensamento confucionista.

Da China Imperial à Revolução de 1949: pequenos passos para o grande salto que virá

Ainda que na China Antiga tenham existido, como afirma Capdeville (2018), sistemas matrilineares (como é o caso da minoria étnica Na), predominaram, até ao século XX, sistemas patrilineares; o confucionismo, pela sua parte, virá acrescentar a este princípio patrilinear o princípio da hierarquia social. A união do princípio patrilinear com o princípio confucionista advogador de um sistema social, hierarquicamente organizado, relegará, em definitivo, a mulher chinesa, para um patamar inferior, colocando-a num papel subalternizado onde predomina, nos diversos domínios da vida, a figura masculina. A linhagem da família era, então, assegurada pelos membros masculinos, o que fazia com que as funções atribuídas à mulher se circunscrevessem ao círculo familiar. Por conseguinte, a mulher dever-se-ia submeter à autoridade masculina - primeiro, do pai, depois do marido e, finalmente, do(s) filho(s) -,

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