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A Via de Iluminação dos Luohans de Fanlong
Executadas com o pincel controlado, as meticulosas figuras convivendo com a vida banal, produzem no observador a suave sensação de proximidade ao esforço dos monges na sua aspiração à transcendência.
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Fanlong
DAGUAN ZHENKE (1543-1603), também conhecido como Zibo Laoren, «o velho cipreste púrpura», por sua disposição natural podia ser chamado um yiseng, um «monge excêntrico». São os relatos daqueles que o conheceram que mostram o seu carácter surpreendente. Dizem que certa vez se forçou a caminhar durante um dia mais de noventa e seis quilómetros (duzentos li); noutra ocasião terá feito uma inscrição na parede de um templo com o seu próprio sangue.
Também se diz que o monge tinha, durante muitos anos o hábito de à noite, dormir sentado, o que o aproxima de modo paradoxal ao poema atribuído a Huineng (638-713) o Sexto patriarca da «Escola do Sul» do Chan que advogava a «súbita iluminação» contra a calma contemplação dos monges sentados da «Escola do Norte»: «Estando vivos estamos sempre sentados, não nos deitamos, Morrendo está-se sempre deitado sem se sentar. Nos dois casos, um conjunto de ossos infectos! Que tem isso a ver com a grande lição da vida?»
Zibo deixaria clara a sua admiração por Huineng quando após atravessar o rio Cao sob a montanha Shuangfeng em Qujiang, Guangdong, junto à morada do Sexto patriarca, escreveu:
«Caminho através de panoramas desabitados de verdes infindáveis/ Até que o serpenteante Cao bloqueie o caminho do templo. Pergunte-se que mensagem chega dos Cumes do Sul? No som das águas, pássaros brancos em montanhas verdes.»
As deambulações do carismático Zibo pelo território equivaliam ao vaguear do seu espírito recolhendo de maneira sincrética conhecimentos para informar a sua via vital. Shitao (1642-1707), um monge que viveria depois, na sua dedicação à liberdade da pintura, mostraria a superação da oposição entre religiosos e literatos que o pensamento de Zibo prenunciava. Como no rolo horizontal de Dezasseis luohans (no Metmuseum) em que usou esse celebrado tema da pintura de figuras que já ocupara outros monges pintores na expressão da sua heterodoxia.
Fanlong foi um desses monges que, na longa tradição que vinha já de Wang Wei, no século XII procurava na figuração de pessoas aparentemente comuns e utilizando a tinta diluída sugeria a existência escondida de um corpo misterioso. Desenrolando o seu rolo horizontal de Dezasseis luohans, que está no Smithonian (tinta sobre papel, 30,5 x 1062,5 cm) vão-se descobrindo, em etapas sucessivas que ocupam a distância de um braço estendido, cenas que representam esses seres que vivem no Mundo para auxiliar os outros na sua via da iluminação (fangdao). Que são também episódios referidos por metáforas na vida monástica dos adeptos do Budismo chan.
Como a domesticação de tigres (fuhu) ou a subjugação de dragões (xianglong). Executadas com o pincel controlado, as meticulosas figuras convivendo com a vida banal, produzem no observador a suave sensação de proximidade ao esforço dos monges na sua aspiração à transcendência.
PINTURA, CALIGRAFIA E TRADUÇÃO
o rio, admirando o
Tão perto e inquietante à chuva e ao vento, como será possível ascender ao monte Kuanglu?
Por entre as nuvens, a sua dimensão não se pode calcular, será que ainda lá vivem monges da Sexta dinastia?»
Qian Qi (710-782)