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por Thaís Sales, Camila Catunda e Hortensia Maia

Elementos que viram regras

A nível de primeiridade...

Este estudo busca encontrar, através do programa de necessidades, elementos importantes e essenciais que devem ser levados em consideração ao elaborar um ambiente destinado a uma população característica. Por fazer parte de um sistema, ou seja, por compartilhar relações, essas pessoas têm propriedades comuns. Necessidades comuns. São exatamente estes “algo em comum” que fizeram surgir parâmetros para desenvolver o projeto. Regras que devem ser seguidas e obedecidas para um provável melhor aproveitamento do espaço.

Partindo da percepção, do primeiro sentimento surgido, do imediato: foi dessa forma que percebemos, pela primeira vez, a região de Icapuí. Sem referências, encontramos casas de grandes varandas, de aconchegantes alpendres e de ventiladas áreas de trabalho.Tudo que favoreça a comunicação e interligação entre os espaços. Esses aspectos são inerentes no modo de viver daquelas pessoas. Então, passamos a buscar referências e a fazer comparações para entender como aquela população se organizava.


Programa de necessidades: diretrizes para projeto ? Quartos (1 ou mais) – Os

quartos devem estar preferencialmente ligados à sala. Não é necessário que estejam voltados para o nascente, pois são um local de pouca permanência. A planta da casa deve estar disposta de forma a tornar possível o crescimento do número de quartos. ? Salas ( 1 ou 2 ) - A sala é o lugar da televisão, o que atrai os moradores para este cômodo em determinadas horas. Na maior parte do dia, porém, funciona como local de transição entre varanda, cozinha e quartos. Deve, então, se apresentar como uma área de estar inserida no “eixo” que integra a casa da varanda ao serviço. Pode também se configurar como pequena área na frente do corpo da casa, o que faz referência às varandas das casas de taipa de Icapuí, as quais se dispunham ao redor do corpo da casa, até encontrar com o serviço. ? Cozinha – Os moradores prezam por este ambiente bem cuidado e limpo apesar de pouco o utilizarem. Às vezes, abriga apenas equipamentos, como geladeira, fogão e eletrodomésticos, deixando o preparo, bem como a refeição,

para serem realizados na área de serviço.Assim, não é importante que a cozinha possua grandes dimensões quando o serviço já apresentar uma área generosa. ? Área de serviço – Por ser o local mais freqüentado da casa, d eve p o s s u i r d i m e n s õ e s generosas e estar localizado em área privilegiada do terreno. É aí onde se desenvolve a maior parte do serviço doméstico e, às vezes, até a refeição. Por isso, é importante favorecer a ligação desse ambiente com o restante da casa, torná-lo bem aberto, de maneira que suas faces não sejam completamente vedadas por paredes. ? Banheiro – Os banheiros devem estar, pelo menos um, em local próximo ao serviço. Por questão de comodidade , havendo segundo pavimento, admite-se um segundo banheiro. ? Despensa/Depósito – A área da despensa varia de acordo com a necessidade de cada morador. Desta forma, deve ser localizada em locais passíveis de ampliação. Nos casos em que a cozinha é grande, admiti-se a eliminação de um cômodo e x c l u s i v o p a r a despensa/depósito, podendo este ocupar o espaço de um armário na própria cozinha. ? Procurar conservar o eixo VA R A N DA – S A L A – COZINHA – SERVIÇO, embora nem sempre ele se disponha “em linha reta”.

O gráfico mostra a relação da área de cada cômodo com a área total da casa.

Quartos Salas Cozinha Banheiro Despensa Varanda Serviço

Podemos observar que as maiores áreas são: varanda, serviço e salas. Áreas: Sala, Varanda, Serviço Áreas: Quartos, Cozinha, Banheiro, Despensa

Qu adro de áreas Máximas

Mínimas

Varan da

25m²

10m²

Salas

25m²

15m²

Q uartos

12m²

8m²

Cozinha

16m²

9m²

Serviço

20m²

10m²

Ban heiro

4m²

2m²

Despensa

10m²

2m²


As imagens ao lado mostram a evolução do processo criativo. Primeiramente os ambientes foram representados apenas através das áreas. Tendo feito o estudo da localização de cada, passou-se a dar forma através dos croquis. Então, após os croquis, criamos a volumetria do projeto. Dessa forma, criamos uma composição volumétrica daquilo que antes era uma abstração.

Solução e Defesa de propostas Buscando preservar o hábito da população; o eixo longitudinal principal e fatores ambientais locais, como ventilação e insolação, encontramos uma série de diretrizes que devem ser consideradas. A seguir, discorrem-se resoluções de como se imaginou adaptá-las ao partido arquitetônico escolhido. Para compor a volumetria de cada tipo, tomamos como partido a posição da escada, de forma que esta fosse vista na fachada. Nos fundamos no efeito estético que uma escada traz para a fachada e no volume vazado que ela dá à casa, contribuindo para a ventilação. Em alguns momentos, chegamos a projetar tipos nos quais o acesso à escada é feito pelo exterior da casa. Uma vez que é costume da população local utilizar os quartos, com freqüência, apenas à noite, não consideramos um problema o fato de o acesso aos quartos do pavimento superior ser, de certa forma, limitado devido à posição da escada. Além disso, há banheiro no pavimento superior, o que diminui a necessidade de deslocamento para o térreo durante a noite. Procuramos integrar as áreas de cozinha, serviço e sala através da utilização de pátios internos, com o objetivo de reunir as áreas de maior permanência. O pátio, além de interligar essas áreas, possibilita que as atividades nelas desenvolvidas “vazem” para esse ambiente, configurando-o como um espaço multifuncional. Esses pátios favorecem a ventilação, facilitando a retirada do ar quente acumulado. São elementos de sucção para lugares sem vento. Utilizamos também elementos vazados, como cobogós que ajudam na exaustão e na ventilação cruzada. Numa

região quente e úmida como Icapuí, a ventilação é essencial para o conforto térmico. Ainda para melhorar o conjunto das casas, trouxemos à memória as casas antigas de Icapuí, colorindo a fachada com faixas azuis ou vermelhas-escuro até o peitoril das janelas. Como materiais e sistemas construtivos, indicamos a utilização da comum alvenaria de tijolo cerâmico, com vigas e pilares em concreto moldado no local e lajes volterranas. Apesar do grande número de casas de taipa encontradas em Icapuí, este sistema construtivo já não é mais tão utilizado por questão de disponibilidade do material necessário e da grande vantagem do tijolo em relação à economia e rapidez. Considerando a enorme quantidade de casas a serem construídas, é importante notar que cada material utilizado será utilizado em enorme quantidade, caracterizando uma produção em série. O Fato de se tratar de uma espécie de conjunto habitacional faznos pensar ,também, na questão do financiamento. Por isso, optamos pelo tijolo cerâmico, que é de fácil transporte e fácil execução, e por vigas e pilares de concreto moldado no local.


Tipo A - 1 quarto

1

PL. PAV. TÉRREO esc.: 1:100

2

CORTE 7 esc.: 1:100

3

CORTE 8 esc.: 1:100


PL. PAV. TÉRREO esc.: 1:100

3

CORTE 3 esc.: 1:100

Tipo A - 2 quartos

1

2

PL. PAV. SUPERIOR esc.: 1:100

4

CORTE 4 esc.: 1:100


3

Tipo A - 3 quartos

1

2

PL. PAV. TÉRREO esc.: 1:100

PL. PAV. SUPERIOR esc.: 1:100

CORTE 1 esc.: 1:100

4

CORTE 2 esc.: 1:100


Tipo A

FACHADAS

PERSPECTIVAS INTERNAS

PERSPECTIVAS EXTERNAS


Tipo B - 1 quarto

1

PL. PAV. TÉRREO esc.: 1:100

2

PL. COBERTA esc.: 1:100

3

4

CORTE 5 esc.: 1:100

CORTE 6 esc.: 1:100


PL. PAV. TÉRREO esc.: 1:100

3

CORTE 3 esc.: 1:100

2

PL. PAV. TÉRREO esc.: 1:100

4

CORTE 4 esc.: 1:100

Tipo B - 2 quartos

1


Tipo B - 3 quartos

1

2

3

PL. PAV. TÉRREO esc.: 1:100

PL. PAV. SUPERIOR esc.: 1:100

4

CORTE 1 esc.: 1:100

CORTE 2 esc.: 1:100


Tipo B

FACHADAS

PERSPECTIVAS INTERNAS

PERSPECTIVAS EXTERNAS


B1

A1

A1

A2

A3

B1

A3

B2

A3

B1

B1

A1

A1

A2

A3

B1

A3

B2

A3

B1

B1

A1

A1

A2

A3

B1

A3

B2

A3

B1

B2

A1

A2

A3

A3

B1

A3

B2

A3

B1

B2

A1

A2

A3

A3

B2

A1

B1

B2

A1

A2

A3

A3

B2

A1

B1

B2

A1

A3

B1

A1

B2

A1

B1

B3

A1

A3

B1

A1

B2

A1

B1

B3

A1

A3

B1

A1

B2

A2

B2

B2

A2

A2

B1

A2

B2

A2

B2

B2

A2

A2

B1

A2

B2

A2

B2

B2

A2

A2

B1

A2

B2

A2

Legenda: A = Tipo A B = Tipo B 1,2,3 = Número de quartos

A composição

B1

As combinações dos tipos A e B com suas variantes foram verificadas a fim de encontrar restrições que direcionem as possibilidades de composição do quarteirão.

Em busca de uma regra A fim de encontrar regras para a distribuição dos tipos no quarteirão, combinamos as fachadas das variantes dos tipos A e B de diversas formas possíveis, duas a duas, usando tanto a simetria quanto a repetição. Após analisar tais combinações, verificamos que não existem grandes restrições se considerarmos questões como confor to ambiental da edificação ou execução da obra. Apenas uma conseqüência das combinações consideramos relevante: o tipo B com 2 ou 3 quartos, se não combinado com ele mesmo por simetria, de forma a não justapor os volumes superiores, torna possível a exaustão do banheiro superior pela fachada lateral da casa. O mesmo ocorre com os quartos, que poderiam ter mais uma janela aberta para a lateral. Isso, porém, não cabe aqui como uma restrição à multiplicação dos tipos, uma vez que esse banheiro já possui esquadria para o interior da casa, a qual possibilita a exaustão; e os quartos já possuem janelas e cobogós em outras direções. É evidente que, dependendo de como estiverem organizadas as casas, obteremos índices diferentes de ventilação e de insolação direta para o interior de cada edificação. Estes indicadores, entretanto, não estarão comprometidos em nenhuma das combinações. Dessa forma, as restrições para disposição das casas nos lotes se limitariam a questões estéticas, que, por sua vez, caem no gosto pessoal. As restrições, portanto, estariam a critério do bom gosto do morador.


Tentativas de composição Primeiras tentativas de composição.

HIPÓTESE 1

Propostas de composição.

A composição

HIPÓTESE 2

Tentamos, de diversas formas, obter uma composição harmônica entre as variáveis dos tipos A e B. Procuramos dispor os lotes de forma a não deixar volumes chapados na fachada. A alternância dos recuos laterais dos tipos A, bem como a diferença dos recuos das paredes da fachada, possibilita ao conjunto uma volumetria interessante que não se torna monótona e causa agradáveis surpresas ao fruidor. A diferença entre os 2 tipos, principalmente quanto à localização d o vo l u m e s u p e r i o r, torna interessante a combinação entre eles. Procuramos não justapor esses volumes para facilitar a circulação de vento entre os lotes. Seguindo tais orientações, propusemos distribuições, por nós consideradas harmônicas e confortáveis em termos de ventilação. encontramos as seguintes combinações para a disposição dos tipos no quarteirão de 26 lotes: A= tipo A B= tipo B 1,2,3 = número de quartos Hipótese 1: B1, A1, A2, A3, B2, A1, A2, A3, B3, A1, A2, A3 ,B1. Hipótese 2: A1, B1, B2, B3, A2, B1, B2, B3, A3, B1, B2, B3, A1. Ainda para melhorar o conjunto das casas, trouxemos à memória as casas antigas de Icapuí, colorindo a fachada com faixas azuis ou vermelhas-escur até o peitoril das janelas.


É importante, ao desenvolver um projeto de habitação popular, voltado para uma comunidade específica, levar sempre em consideração os hábitos locais. É essencial que estes sejam preservados, não necessariamente copiando a forma das casas antigas. Não devemos procurar impor novos meios de vida àquela população, mas procurar conservar os já existentes, criando espaços capazes de abrigar e intensificar a prática das atividades cotidianas. Dessa forma, devemos explorar possíveis realidades, buscando uma organização mais eficiente do espaço.

Bibliografia: Sites: http://www.livingsteel.org/ http://www.andrademorettin.com.br/ http://housingprototypes.org/ http://www.alfonsoramirez.com/ http://www.vitruvius.com.br/institucional/inst77/inst77.asp Livros: CARDOSO, Daniel Ribeiro. Desenho de uma poiesis. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Tese de doutorado. São Paulo, 2008. DUARTE, José Pinto. Personalizar a habitação em série: uma gramática discursiva para as casas da Malagueira do Siza. Lisboa: Fundação Caloustre Gulbenkian, 2007. SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2007. VIEIRA, Jorge de Albuquerque. Ontologia. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2008



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