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Ações Concretas junto aos Professores Na língua inglesa, o diretor da escola ainda é chamado de "headmaster", significando com isto que é o "mestre-chefe", ou seja, um dentre os mestres que, por alguma razão, passará a ser o "cabeça" da escola. O sentido original da palavra serve para lembrar que, num ambiente escolar, o diretor da escola incorpora valores e responsabilidades que são próprias do "mestre", isto é, aquele que ensina pelo exemplo. Por isso, a palavra liderar também é sinônimo de educar. O sentido original da palavra "mestre-chefe" reforça, ainda, o conceito de que, num ambiente escolar, uma das responsabilidades centrais do diretor é assegurar o espírito de colegialidade entre os mestres da instituição. Quando se fala em "colegialidade" está se dizendo que a escola é uma organização profissional, administrada profissionalmente, composta por profissionais que buscam, acima de tudo, servir aos interesses do educando, da melhor forma possível e dentro dos mais elevados padrões éticos.

"Seleção de professores" Seleção: nem sempre a escola pode escolher o professor, mas o professor costuma escolher a escola A seleção de professores, numa escola pública, raramente é feita pelo diretor. O que acontece, normalmente, é que os professores são designados pela Secretaria. Ao longo do tempo, na verdade, são os professores que escolhem as escolas, procurando ficar "lotados" nas escolas de sua preferência. De certa forma, a escolha da escola pelos professores revela o tipo de liderança que uma escola possui. Que tipo de professores esta escola é capaz de atrair? Por que ela atrai esse e não outro tipo de professores? O que podemos dizer às escolas de formação ao entrevistar jovens egressos das escolas de preparação de professores? O que aprendemos sobre as outras escolas ao entrevistar professores com outras experiências? Mesmo que o diretor não possua controle sobre os professores que entram em sua escola, a entrada de novos professores sempre será uma oportunidade para relembrar e reforçar os princípios que presidem a vida da escola. Qual a sua missão? Qual a visão que tem de si mesma? Quais os valores que a escola preza e pratica para manter-se no rumo correto? Será que o novo professor compartilha essa visão, esses valores?


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Estas perguntas, que podem ser feitas pelo diretor, pelos professores ou pelo Colegiado Escolar, diante da possibilidade de ingresso de um professor mandado pela Secretaria constituem-se excelentes oportunidades, não apenas para a escola mostrar ao novo professor o que espera dele, mas, sobretudo, para a escola conhecer-se melhor. Esta é uma tarefa importante da liderança do diretor. Se bem exercitada, contribui para manter o alinhamento da equipe da escola em torno de seus objetivos. A liderança eficaz no processo de recepção aos novos professores mostra que a escola espera que o novo professor seja alinhado com as propostas da escola e em condições de contribuir para o desenvolvimento do aluno e da própria escola.

Iniciação Um dos maiores medos do jovem professor são os seus primeiros dias de aula. Esse medo é maior nos casos em que o professor iniciante não teve uma experiência prévia, na forma de um estágio supervisionado. O que acontece, normalmente, quando um professor chega à escola pela primeira vez? Como se dá a iniciação do novo professor, na maioria das escolas? A resposta de grande parte dos professores é trágica: através do batismo de fogo: "Você vai dar aula de Geografia para a 5ª série. Aqui está o livro didático e o diário de classe. Boa sorte." Raramente, as escolas tomam tempo e trabalho para ambientar o novo professor na escola. Esta é uma tarefa indelegável da liderança escolar. É através dela que a liderança transmite aos novos membros a "cultura" da escola, os modos de se fazer as coisas, a ética da escola, ou seja, os valores importantes, as regras básicas sobre o que é e o que não é aceitável, a expectativa a respeito do trabalho de cada um. Numa escola organizada e bem administrada, a iniciação também inclui a apresentação do PDE e da Proposta Pedagógica, e a negociação preliminar do plano de trabalho do novo professor. E inclui, naturalmente, a apresentação do novo professor aos colegas, funcionários e demais colaboradores da escola. A iniciação é parte integrante das funções de liderança. Ela contribui não apenas para favorecer o alinhamento e o entrosamento dos novos professores, como também para evitar perdas desnecessárias. As escolas, sobretudo em outros países, utilizam variados mecanismos de iniciação de professores. Esses mecanismos permitem uma transição mais suave para os novos desafios, mas, sobretudo, permitem que a escola transmita ao novo professor sua cultura, seus valores, sua ética, sua forma de trabalho, suas regras básicas de funcionamento.


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Os mecanismos mais usuais incluem: a) sessões formais de visita e informação sobre a escola; b) supervisão do trabalho do professor durante as primeiras semanas, meses ou semestres de atividade, com sessões regulares de "feedback" e supervisão em práticas de ensino. Os processos de iniciação ainda cumprem duas outras importantes funções: A primeira delas é sinalizar para o novo professor o espaço existente na escola para acolher novas idéias. Se o professor sente que há espaço, pode apresentar sugestões e, mesmo, tentar implementá-las. Se o professor é mal visto ao questionar a Proposta Pedagógica ou práticas estabelecidas, ele tende a se conformar ou a deixar a escola tão logo tenha nova oportunidade. Com isso, a escola limita o grau de inovação que seria possível através da incorporação de "sangue novo". A segunda função é parte da primeira. Em todas as organizações é comum as pessoas se acomodarem às práticas existentes: "Aqui fazemos assim"; "Já tentei e não deu certo." O novo professor - seja na carreira ou na escola - normalmente vem cheio de idealismo, com novas idéias que quer experimentar. É comum que se exceda na dedicação, esforço e trabalho. Freqüentemente, a pressão dos colegas se exerce para que o professor "modere o entusiasmo", pois isso expõe a acomodação existente e acaba se apresentando como ameaça. Uma iniciação bem acompanhada constitui importante mecanismo para proteger o novo professor e assegurar-lhe um espaço, ainda que mínimo, para trazer novas idéias e novas práticas para a escola.

É função indelegável da liderança assegurar que o plano de trabalho de um novo professor contenha espaços para inovação, experimentação e implementação de novas idéias e práticas.


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Supervisão A supervisão é considerada por muitos como o mecanismo de liderança por excelência. Essa função comumente é exercida pelo diretor ou pela coordenação pedagógica da escola. Na maioria dos sistemas de ensino, onde a autonomia da escola é muito limitada ou inexistente, a supervisão externa da secretaria inclui a supervisão direta dos professores, atropelando, desta forma, a responsabilidade do diretor. Vale a advertência: não confundir supervisão com tutela. A grande diferença entre escolas eficazes e as demais escolas reside na concepção e na forma de implementação da supervisão. Alguns exemplos de práticas de supervisão, nas escolas eficazes: • verificar se o professor está presente, se dá aulas e se cumpre o plano de trabalho; • verificar como o professor dá aulas; • verificar resultados da ação do professor; • apoiar e ajudar o professor a superar dificuldades de conteúdo, método, domínio de classe, relacionamento com alunos, pais e colegas; • apoiar o professor em atividades de planejamento e avaliação do seu plano de ensino; • estimular o professor a trocar suas experiências, dificuldades e êxitos com outros colegas; • estimular o professor a engajar-se em outras atividades da escola. Em muitas escolas, a supervisão se constitui uma atividade de aprendizagem permanente, troca de experiências e crescimento profissional. Essas atividades podem incluir a realização de reuniões de trabalho com agendas mais genéricas ou mais específicas, sessões de estudo ou outras atividades, geralmente lideradas pelo coordenador pedagógico, pelo vice-diretor, pelo diretor da escola ou pelos próprios professores. Em todos esses casos, a supervisão está voltada para apoiar o professor no alcance de seus objetivos - e não se confunde com processos de controle, inspeção, tutela ou acompanhamento meramente burocrático. Em determinadas circunstâncias, a supervisão pode e deve se constituir num elemento adicional de capacitação dos professores.


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Um exemplo de supervisão estruturada O Projeto Fortalecimento da Gestão e Autonomia Educacional da SEC/BA desenvolve uma metodologia de supervisão com as seguintes orientações: • Supervisão e apoio: o Projeto orienta e acompanha de perto, por meio de visitas mensais, o desenvolvimento da gestão e do planejamento das unidades educacionais. • Instrumentação: elaboração de manuais e instrumentos de apoio ao planejamento e a gestão, tanto para a Secretaria de Educação como para as escolas. Os manuais e os instrumentos possibilitam alcançar o modelo de gestão idealizada e manter este modelo como padrão de desempenho do gestor. A exemplo, o presente Manual. • Transferência de tecnologia: a transferência de tecnologia é a garantia de que os manuais e os instrumentos de gestão serão utilizados independentemente da supervisão do Projeto, internalizando os conceitos e práticas gestoras já alcançados


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PDE e Proposta Pedagógica como exercícios de liderança A elaboração e revisão do PDE e da Proposta Pedagógica constituem oportunidades privilegiadas para o exercício da liderança, bem como para o surgimento de novas lideranças dentro da escola. Na elaboração, revisão e avaliação do PDE estas oportunidades incluem: • confiar estudos e tarefas aos professores; • criar oportunidades para os professores apresentarem novas idéias ou contestarem velhas idéias; • observar e avaliar o desempenho dos professores nas suas relações com colegas e pais e ajudar o professor a desenvolver suas competências de apresentar idéias, negociar e convencer; • avaliar o conhecimento e o nível de atualização do professor no domínio de sua disciplina e dos métodos de ensino; • criar espaços para contribuições do professor em áreas que vão além de sua sala de aula; • identificar novas tarefas da escola, nas quais o professor possa contribuir; • assegurar o alinhamento de cada professor com a missão, a visão e os objetivos da escola; • contribuir para a auto-avaliação do professor, estimulando-o no seu permanente autodesenvolvimento.

O Plano de Trabalho do Professor O plano de trabalho de cada professor, descrito em capítulo próprio, decorre dos objetivos e metas da escola. Neste plano, o professor, em consonância com os objetivos da escola, estabelece os resultados que se compromete a alcançar no decorrer do ano letivo. Entre as atividades que podem contribuir para o desenvolvimento de capacidades de liderança do professor incluem-se: • confiar ao professor a responsabilidade pelo acompanhamento de uma turma, tornando-se um "chefe de turma" ou intermediário entre a liderança da escola e a turma;


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• confiar ao professor a coordenação de projetos especiais ou atividades rotineiras - de caráter acadêmico ou não - revisão curricular, bibliotecas, audiovisual, grupo de teatro, merenda escolar, caixa escolar, banda de música, organizar atividades que envolvam os pais, entre outras; • confiar ao professor o desenvolvimento de novas atividades, propostas pelo diretor ou incluídas no PDE. Algumas destas atividades podem ser acomodadas dentro da carga horária contratual do professor, através de horas extras, ou na forma de trabalho voluntário. A implementação desse tipo de cultura na escola depende, essencialmente, da atuação da liderança. O plano de trabalho também permite pactuar metas de desenvolvimento pessoal e profissional. Em muitas organizações, um dos resultados que todo líder deve apresentar é a formação de novas lideranças. O plano de desenvolvimento pessoal e profissional do professor é um dos instrumentos mais valiosos para este fim. E cabe ao diretor, como facilitador, estimular o professor a buscar seu autodesenvolvimento.

Atualização Profissional A responsabilidade pela atualização é uma responsabilidade de cada profissional. Não é a escola ou a Secretaria de Educação que são responsáveis pela capacitação e atualização do professor. No entanto, muitas organizações compartilham tanto as oportunidades quanto as responsabilidades e custos de uma atualização. No caso do magistério, no Brasil, muitas vezes as necessidades não se limitam à atualização: incluem a formação de base, a formação em docência ou mesmo a correção de graves lacunas de formação. Muitos sistemas, inclusive o da Bahia, oferecem programas de capacitação em serviço, em diferentes níveis, para os profissionais de suas redes de ensino. Algumas necessidades de capacitação e atualização em serviço podem, dependendo dos recursos existentes, ser efetivadas pela própria escola. Nesse caso, a liderança do diretor e da coordenação tem papel essencial no diagnóstico do problema e implementação das ações de capacitação necessárias.


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No texto "O Desafio da Capacitação" estão especificadas as necessidades de atualização que são mais típicas: deficiência de desempenho, insuficiência de desempenho e necessidade de realização de novas tarefas. O plano de desenvolvimento do professor se estrutura a partir da análise desses três grupos de "necessidades" e é organizado conjuntamente pelo diretor e pelo professor, em função do tempo disponível, dos recursos financeiros e das formas de apoio que se tornam necessárias. As saídas mais fáceis e usuais - como "cursos de capacitação" - raramente são as mais eficazes. Muito mais eficazes tendem a ser aquelas que podem ser aprendidas em serviço, mediante a reflexão a partir de problemas concretos e troca de experiências com colegas que enfrentam problemas semelhantes. A própria discussão entre o professor e o diretor, a respeito das melhores formas do desenvolvimento pessoal e profissional do professor, representa um importante capítulo da liderança. Freqüentemente, o desempenho do professor depende de muitos outros fatores - materiais condizentes com as necessidades do processo ensino-aprendizagem, adequação curricular, serviços de apoio aos pais e alunos, mudança de atitudes do professor ou do próprio diretor. Exercer a função de liderança é ajudar o professor a definir os caminhos mais adequados e a viabilizar os meios para que cada ano de magistério se constitua num ano de avanço profissional - e não apenas num ano a mais de serviço.


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Ações Concretas no Cotidiano da Escola Tempo, presença e exemplo No dia-a-dia da escola, o diretor exercita sua liderança de inúmeras formas. E é justamente a forma como o diretor exerce a sua liderança que vai determinar o clima da escola - fator decisivo para uma escola eficaz. As oportunidades para o exercício da liderança são inúmeras, praticamente infinitas. Tempo, presença e exemplo se materializam de diversas formas: • Acolher os professores Há diretores que "vigiam" o ponto e há diretores que acolhem, efusivamente, professores e alunos. • Acompanhar o desenvolvimento do programa de ensino Há diretores que "inspecionam" o diário de classe e há diretores que, com base no diário de classe, estimulam o professor a aprimorar, corrigir ou continuar a fazer o que está fazendo. • Acompanhar o que ocorre nas classes Há diretores que "inspecionam" as classes para ver o que está errado e há diretores que visitam as classes para estimular alunos e professores. • Promover reuniões eficazes Escolas costumam realizar muitas reuniões. Reuniões, como qualquer oportunidade de diálogo entre pessoas e profissionais, são importantes. Mas isto não significa que todas as reuniões são boas, necessárias ou eficazes. A eficácia da maioria das reuniões, inclusive reuniões de escola, deixa muito a desejar e acaba logrando efeitos negativos, como a apatia e o absenteísmo. Além de encaminhar a discussão e a decisão sobre tópicos substantivos da agenda de cada reunião, a liderança do diretor se exerce, sobretudo: • pela forma como ele se comporta e se conduz; • pelo exemplo que dá ao ouvir pessoas, dar oportunidades; • pelo equilíbrio e firmeza no encaminhamento ou tomada de decisões; • pela observação e encorajamento à participação dos professores.


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Da mesma forma, a participação de professores nas diversas atividades não docentes da escola se constitui não apenas de oportunidades para o professor ajudar o diretor a fazer as tarefas da casa, mas oportunidades para o exercício da liderança pela observação, pela orientação, pelo companheirismo, pelo encorajamento, pela aprendizagem mútua. Em outras palavras: o processo de conduzir o relacionamento cotidiano na escola, nas reuniões e nas várias oportunidades de interação faz a diferença no clima da escola. É desta forma que se exercita a liderança do diretor: pela dedicação do seu tempo para ouvir, escutar e compreender as pessoas; pela presença no cotidiano da escola e, sobretudo, pelo seu exemplo. O termo "agir" não significa estar ocupado, fazer coisas. Tempo, presença e exemplo são formas poderosas de "agir". Este agir inclui: • Criar e manter um clima de ordem, disciplina e colaboração dentro da escola Freqüentemente, diz-se que a escola tem a cara do diretor, que o clima da escola reflete o ambiente criado pelo exercício da liderança. O estabelecimento e cumprimento de regras, calendários, compromissos, a forma de delegar tarefas, acompanhar atividades, avaliar resultados, conduzir reuniões, resolver conflitos, relacionar com a comunidade, atender pais e alunos, tudo isto contribui para criar o clima de entendimento, respeito e segurança característicos de uma escola eficaz. • Apoiar os professores no seu trabalho de liderança Liderar é educar, conforme discutido no documento introdutório deste módulo. O professor passa mais tempo com o aluno, tem mais presença e mais oportunidades de liderá-los com seu exemplo. O professor lidera o aluno, respeitando-o e criando condições para que ele aprenda e logre os resultados que se esperam do aluno e da escola. O apoio que recebe do diretor e de outras lideranças da escola, através das atividades de acompanhamento, supervisão e avaliação de outros centros de resultado da escola, é essencial para que possa exercer adequadamente seu trabalho. Essas atividades são rotineiras, mas há momentos especiais em que se tornam exemplares: o elogio particular ou público a um bom trabalho; a ajuda do colega ou do diretor a um professor que enfrenta dificuldades momentâneas com o ensino, com um aluno, pais ou colegas. Novamente, aqui, somente a dedicação do tempo, presença e exemplo do diretor podem tornar sua liderança eficaz. É preciso estar lá, acompanhar, ajudar a fazer, dar exemplo de como se faz.


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• Arbitrar e intermediar relações O aluno espera que o diretor seja um árbitro e intermediário de suas relações com professores e pais. O diretor que toma decisões precipitadas, ou age injustamente, perde confiança dos liderados. O diretor cuja escola não cumpriu seu papel de ensinar e que "entrega" o aluno aos pais também perde a confiança dos alunos.


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Referências bibliográficas 1 - MURPHY, J. The unheroic side of leadership: notes from the swamp. [s.l.]: Phi Delta Kappan, 1988. p. 654-659. 2 - GURGEL, Paulo Roberto Holanda. Ditos sobre evasão escolar: estudo de casos. 3 - GURGEL, Paulo Roberto Holanda. Ditos sobre o sucesso escolar: estudo de casos da Bahia. Brasília: MEC/Projeto Nordeste, 1998. p. 78-79. 4 - MEDEIROS, M. L. A. A diferença está na igualdade. IN "Relacionamento Interpessoal na Escola". MG, SEE, PROCAD - Fase Escola Sagarana, 2001, p. 47-59. 5 - GONÇALVES, L. A. O. Educação e violência. IN "Relacionamento Interpessoal na Escola". MG, SEE, PROCAD - Fase Escola Sagarana, 2001, p. 89-104.

Temas complementares Veja nesta edição: - PDE - Proposta Pedagógica - Plano de Trabalho do Servidor - Usos da Avaliação - Reuniões Eficazes


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13. Envolvendo Famílias e Pais • Educação: responsabilidade do Estado, da família e da sociedade • O que os brasileiros esperam da escola • Participação dos pais: o que sabemos? • Família brasileira: um cenário em mutação • Famílias e escolas: uma articulação possível e necessária • Fazendo contato e organizando a participação


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Educação: responsabilidade do Estado, da família e da sociedade "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho." (Art. 205 da Constituição Brasileira, 1998)

Segundo a Constituição Brasileira, a educação é dever dos pais e responsabilidade conjunta do Estado, da família e da sociedade. Os pais são co-responsáveis pela educação dos filhos. Conseqüentemente, são co-responsáveis por sua escolarização e pela escola. Recentes avanços na legislação educacional, decorrentes de pressões e da modernização de diversos setores da sociedade, vêm ampliando o espaço para os pais participarem de decisões fundamentais sobre a escola de seus filhos. Em grande número de redes de ensino, a participação dos pais no Colegiado Escolar vem se tornando um instrumento legal, oficial e essencial para a gestão escolar. Mas quem são esses pais? Quem é essa família? O que pensam e esperam da escola?

O que o brasileiro espera da escola Pesquisa intitulada “A escola de que o Brasil precisa”, realizada em 1996, pela Vox Populi, com uma amostra representativa da população brasileira, revela que: • 87% da população consideram a escola muito importante; • 12% consideram a escola importante. A principal função da escola, segundo as expectativas dos pais reveladas na mesma pesquisa: • 45% - ensinar a ler e escrever; • 29% - ensinar uma profissão; • 11% - ensinar a conviver.


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Outros resultados da pesquisa: • 60% acham que cada escola deve ter autonomia para definir seu currículo; • 64% acham que professores se interessam em fazer os alunos aprenderem; • 34% acham que os professores se interessam apenas um pouco pela aprendizagem dos alunos; • 90% dos pais afirmam que verificam o boletim dos filhos; • 84% verificam se o filho vai à escola e se leva o material; • 85% verificam se o filho está fazendo o “para casa”; • 74% ajudam o filho a estudar; • 62% procuram a escola se o filho piora nos estudos; • 56% participam de reuniões na escola. E na sua escola, como pensam os pais? Como agem? Como participam?

Participação dos pais: o que sabemos? A participação dos pais é importante? O que sabemos sobre o efeito desta participação? As evidências a respeito da participação dos pais no sucesso escolar dos filhos apontam para as seguintes direções: • existe impacto positivo quando há consistência de expectativas e valores, senso de continuidade e apoio entre família e escola; • esse impacto tende a ser maior quando as famílias cumprem melhor seu papel de família - inclusive em relação à dimensão escolar da vida dos filhos; • existe impacto negativo quando há falta de consistência entre as famílias e escolas. Isso tende a ocorrer de modo especial quando as famílias estão desintegradas ou em crise; • onde existe maior participação dos pais e comunidade, a escola tem mais recursos, torna-se menos dependente e o desempenho dos alunos tende a ser melhor.


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Na sociedade brasileira atual, os graus de participação variam conforme o "tipo de família", como definido na tese de mestrado do professor Leonardo Fraiman (1999): • a família denominada "tradicional" tende a participar, mas este tipo de família está diminuindo; • a família dita "moderna" opta por não participar; • a maioria das famílias "em transição" encontra-se em crise e os papéis dos pais em relação aos filhos nem sempre são claramente definidos, o que dificulta e complica a participação; • ambas as famílias, do tipo "moderno" e "em transição", delegam responsabilidades demais para a escola. Apesar de todo o suporte teórico, em que se evidenciam os benefícios da participação das famílias na escola, esta participação, na prática, tende a ser relativamente reduzida: • de modo geral todos reclamam, acham insuficiente a participação das famílias; • a participação dos pais tende a ser reduzida, limitando-se a ajudar as escolas em suas questões materiais ou a problemas específicos dos filhos; • em geral, os pais que participam são poucos - e sempre os mesmos; • a participação em questões pedagógicas e educacionais tende a ocorrer apenas quando os pais têm nível de escolaridade igual ou superior ao dos professores, ou quando as escolas fazem esforços especiais para se comunicar adequadamente com os pais; • existe falta de clareza da escola sobre a família ou sobre a própria função da escola: - seja porque as escolas adotaram a chamada "pedagogia da repetência" ou o "jogo da culpa": para manter-se firme em seu papel de autoridade ou para encobrir sua incompetência, a escola procura justificar seus insucessos, buscando no aluno ou nas famílias todas as causas de fracasso escolar e mau comportamento;


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- seja porque os professores e escolas mantêm uma visão idealizada da família e ignoram suas reais necessidades e possíveis limitações; - seja devido à estrutura autoritária que ainda caracteriza a gestão de muitas escolas e famílias (a onipotência da escola e/ou dos pais gera a impotência dos alunos perante suas vidas); - seja porque a escola não dispõe de instrumentos, pessoal e competência para lidar com as famílias. Os exemplos de falas, abaixo, ilustram o que se disse. • Pais devem ser mantidos em casa. • Pais vão querer invadir e dominar a escola. • Mas os pais na escola.... para fazer o quê? Frases "típicas" ouvidas pelo professor Leonardo Fraiman.

Por outro lado, há fortes evidências de que pais se envolvem mais quando: • têm clareza sobre seu papel de pais; • desenvolvem senso de eficácia com relação à sua participação na vida escolar dos filhos; • percebem oportunidades para se envolver.

Família brasileira: um cenário em mutação Quem são os pais? A sociedade está mudando e com ela muda a demografia, mudam os valores e as expectativas das pessoas a respeito das instituições, inclusive a escola. Não existe mais - se é que já existiu - uma unanimidade de opiniões a respeito do que é e do que deve ser uma escola. Dentro de cada comunidade escolar, as expectativas também se tornam muito variadas - nem todos os pais pensam e esperam o mesmo da escola que seus filhos freqüentam. Até entre os pais que participam é normal encontrar profundas divergências de opinião: uns querem uma escola "mais fácil"; outros, "mais difícil" (entretanto, o conceito do que é "fácil" e "difícil" ainda lhes é bastante ambíguo). Uns acham que o "para casa" é


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pouco, outros acham demasiado; uns querem ser envolvidos com o estudo dos filhos e se sentem marginalizados, outros reclamam que não sabem ou não podem participar. Uns elogiam e outros criticam os professores por serem muito liberais ou por exigirem disciplina. Numa escola da periferia de Belo Horizonte - MG, foram reunidos alguns pais de alunos de quarta série. Os pais convidados eram de alunos que não "acompanhavam" a turma, além de apresentarem problemas de comportamento. Uma senhora mais velha levantou-se e disse o seguinte: "Vocês estão querendo o quê? Minha neta é filha de um assassino, que está preso. Eu sou líder comunitária e nem sei ler. A mãe dela é da vida. Minha neta não podia estar melhor. Já sabe ler, escrever, fazer conta. Para mim é um sucesso!" A fala dessa avó nos mostra a importância de conhecermos a clientela com a qual lidamos, as suas reais necessidades, os problemas que vivenciam. Nos dizeres do Professor Carlos Rodrigues Brandão:

O desconhecimento não assumido da realidade do "outro" autoriza percebê-lo "como eu quero", para intervir sobre ele, transformando-o segundo a imagem e o horizonte que antecipadamente a minha boa consciência desenhou para ele através do "meu trabalho". Através das ações planejadas pelo educador sobre um universo de vida e saber, cuja lógica e cujas razões sociais e simbólicas não só ele desconhece, como, na verdade, não quer conhecer. O Dr. Carlos Rodrigues Brandão é professor da UNICAMP e tem vários livros publicados na área da Educação. Ë graduado em Psicologia, com Mestrado em Antropologia e Doutorado em Ciências Sociais.

A própria estrutura da família está em mudança. Aquela família considerada o protótipo da família "tradicional" - em que o pai tinha emprego e trabalhava, e a mãe ficava diligentemente cuidando dos filhos e ajudando-os nos trabalhos da escola, torna-se cada vez mais rara, embora muitas vezes seja este o modelo de família que professores e escolas ainda conservam em suas memórias.


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O perfil da família brasileira está mudando Segundo dados recentes (Berquó, 2000): • O número de casamentos legais é cada vez menor, embora a união consensual venha crescendo. • 20% das uniões são consensuais, ou seja, não legalizadas. • A proporção de uniões consensuais entre jovens de 15 a 19 anos é muito acentuada, em grande parte porque o Código Civil não permite o casamento de meninas antes de 16 anos e de rapazes antes de 18 anos. • A curva das separações e dos divórcios tem crescimento acentuado. • O tamanho médio da família brasileira é de 3,6 pessoas. E vem crescendo o número de pessoas que vivem sós. • A taxa de crescimento demográfico anual do Brasil está em torno de 1,3% ao ano, enquanto o número de arranjos familiares cresce a 8,8%: quando um casal se separa, o que era uma família vira duas, um domicílio vira dois. • O número de casais com filhos constitui 52% do total de arranjos domiciliares. • O número de casais sem filhos vem crescendo e representa 11% do total. • Famílias onde apenas um dos pais está presente representam 20% do total, percentual que vem crescendo velozmente. 90% dessas famílias são chefiadas por mulheres, a maioria das quais (76%) é separada ou divorciada. Apresentação da Dra. Elza Berquó, demógrafa e professora da Universidade Estadual de Campinas, no Simpósio "Família e Escola", realizado no Programa "Brasil 500 Anos" (informação verbal).

As conseqüências dessas mudanças para a escola são apontadas pela professora Elza Berquó: "É hora de pensar claramente que a escola precisa mudar o seu relacionamento com a família, às vezes ela precisa lidar até com alunos que já são pais, na faixa de 15 a 19 anos. Neste processo de fragmentação e declínio da família conjugal, não podemos mais ter aquela visão de antigamente, de associações de pais e mestres, idéias de 20 ou 30 anos atrás. Não temos mais aquela família que cultiva os livros didáticos..."


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Se o conceito de família e as condições de seu funcionamento estão mudando, também mudou a disponibilidade da família para participar da vida escolar dos filhos e da vida da escola. Assim se manifestou uma professora no debate com a professora Elza: "O estudo da professora Elza abre uma pauta preciosa para a atuação do diretor ou da diretora da escola: é preciso conhecer as condições das famílias da comunidade para poder iniciar um processo de aproximação com elas. Saber como se organizam e como funcionam os grupos familiares, tendo em vista que a família é uma unidade que vem passando por grandes transformações na sociedade brasileira. Da mesma forma que existem famílias-problema, existem famílias que, independentemente da sua forma de organização, podem contribuir para facilitar essa aproximação. Não existem regras fixas, cada comunidade apresenta características diferentes." As mudanças dos conceitos dos membros da escola com relação ao perfil da clientela que atende é de suma importância, pois nossas concepções são estruturantes de nossa prática. Assim sendo, preconceitos e idéias falsas estruturam tanto grandes decisões relativas a políticas educacionais e a gerenciamento da escola quanto a relação diária da professora com seus alunos. Mudar concepções e preconceitos não é tarefa fácil. Mas é no enfrentamento do cotidiano da própria escola que essas mudanças podem acontecer. Abrindo espaços para que os preconceitos, as dúvidas, as dificuldades sejam explicitados, discutidos - em reuniões ou pequenos grupos - a escola estará possibilitando transformações nas relações cotidianas entre membros da escola e da família.


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Os pais sob a ótica do diretor da escola Do ponto de vista do diretor, os pais se apresentam na escola de diversas formas. Uma visão simplificada da percepção dos diretores permite visualizar os diferentes tipos de pais: • Pais-problema. Em muitas escolas, os diretores consideram que os pais não são parte da solução, são parte do problema. Alguns deles se envolvem com questões de droga, alcoolismo, violência, exploração do trabalho dos filhos. Na visão de alguns desses pais por vezes premidos pela miséria e em luta pela sobrevivência - são os filhos que devem ajudar a família, e não vice-versa. Alguns ainda não valorizam a escola ou vêem nela uma competição pelo tempo do filho. • Pais hostis. Embora valorizem a escola, alguns pais manifestam hostilidade em relação a ela, quase sempre por razões de medo, insegurança, baixa escolaridade, ou devido à experiência anterior com a escola, seja como alunos ou como pais. • Pais indiferentes. Para muitos diretores, esta é uma das realidades mais comuns. Os problemas demográficos apresentados anteriormente, as premências econômicas e a baixa escolarização dos pais acentuam a inclusão de pais neste grupo. • Pais unicamente preocupados com os filhos. Nesta categoria, segundo os diretores, incluem-se os pais cuja preocupação se centra unicamente nos filhos. Sempre estão na escola, quando convocados, apenas para tratar das questões dos filhos. Muitos deles, quando vêm à escola é para reclamar do ensino ou, mais freqüentemente, do tratamento dado ao filho. São pais que exigem, cobram, ameaçam, alguns nem sempre são delicados com o diretor ou com os professores. Entretanto, seu objetivo é assegurar o que consideram como sendo melhor para os seus filhos. • Pais que colaboram com a escola. Este grupo, cada vez maior, é constituído pelos pais que estão dispostos a colaborar com a escola, independentemente de resolver os problemas particulares ou pessoais de seus filhos. Muitas vezes, essa colaboração é articulada pelos próprios pais, insatisfeitos com o desempenho da escola ou desejosos de contribuir. • Pais que querem mandar na escola. Como em toda instituição, sempre há um reduzido número de pessoas que só entende a participação de forma autoritária, como exercício do poder. Muitas


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vezes, a razão desta atitude está no não reconhecimento da autoridade do diretor ou no fato de não gostarem de sua forma de exercê-la, o que os leva a pretender substituí-lo, controlar, vigiar, tomar decisões em seu lugar. A direção da escola lida com vários desses tipos de pais ao mesmo tempo. O modelo "tradicional" de família já deixou de existir ou de ser a maioria preponderante, não existindo um perfil único. Assim, é ilusão tratar os pais como se fossem uma categoria uniforme. Cada escola, em cada momento, apresenta uma diferente configuração de pais e famílias, que devem interagir com os diferentes objetivos das escolas. Numa, o desafio é ajudar os pais. Em outra, é trazer os meninos para a escola ou para a aula. Nesta, o problema é ajudar os pais a ajudar os filhos. Naquela, é canalizar a participação dos pais nas atividades que levam a resultados mais eficazes. Em todos os casos, no entanto, observam-se alguns movimentos convergentes: • cada vez mais as redes de ensino criam espaço para a participação formal dos pais na vida da escola; • famílias e pais se tornam cada vez mais interessados - ainda que de formas diferentes - na vida escolar dos filhos; • os professores se tornam cada vez mais abertos à participação dos pais.

Os pais e a escola: canais de participação Há dois mecanismos que são formas comprovadamente mais eficazes de participação: escolher a escola ou, se não puder escolher a escola, participar do Colegiado.


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Escolhendo a escola - No Brasil, a forma de participação mais forte se dá pelo direito de opção: os pais que podem escolhem a escola que desejam para seus filhos. Esses pais podem entrar e sair de uma escola no momento que quiserem. Normalmente, escolhem a escola que crêem ajustar-se às suas necessidades. Se não estão satisfeitos, reclamam ou ajudam. Se quiserem, podem se retirar e procurar outra escola. Para manter os alunos e satisfazer os desejos de suas famílias, essas escolas se esforçam para sintonizar-se com eles. Infelizmente, no Brasil, a participação pela via da opção é limitada aos que podem pagar escolas particulares ou aos que têm acesso a algumas escolas públicas, que podem, efetivamente, ser escolhidas, como opção, pelos pais e pelos alunos. Isso freqüentemente ocorre quando certas escolas abrem concurso de seleção, mas, neste caso, poucos são os alunos mais bem preparados, com chances efetivas de optar. Escolas comunitárias e cooperativas, sobretudo cooperativas de pais, tentam reproduzir algumas dessas características, com maior ou menor sucesso no entrosamento com as famílias. Participando do Colegiado - A segunda forma mais eficaz de envolvimento se dá através da participação efetiva dos pais no Colegiado Escolar. A participação dos pais na gestão da escola pública constitui-se em um avanço, uma conquista e uma forma alternativa de ajustar a escola às necessidades, objetivos e demandas das famílias. A participação e influência dos pais, entretanto, não retira a missão básica da escola, que é a de ensinar, dentro de parâmetros gerais estabelecidos pelo Poder Público e a partir de recursos definidos por ele. Na prática, a interação dos pais com as escolas se dá nas seguintes circunstâncias: • individualmente, por iniciativa dos pais, para tratar de problemas específicos dos filhos; • individualmente, por iniciativa da escola, quase sempre para tratar de problemas de desempenho acadêmico ou problemas de disciplina dos filhos; • em reuniões promovidas pela escola, normalmente para divulgar notas dos alunos ou para arregimentar o trabalho dos pais para campanhas ou iniciativas; • em reuniões anuais da Assembléia Geral; • em reuniões de Associações de Pais ou da Caixa Escolar; • em reuniões de Colegiado Escolar; • em atividades realizadas pelos pais em função de projetos da escola.


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Atualmente, na maioria das escolas, o Colegiado Escolar tem se constituído no mecanismo mais importante e adequado para se estabelecer um diálogo e formas de colaboração e participação eficazes da família na vida da escola. Na moderna concepção de gestão escolar participativa, o Colegiado dá aos pais poder e autoridade para influir nas decisões importantes da escola, como se pode ver no capítulo específico do tema. O envolvimento dos pais na elaboração, implementação, avaliação e revisão do PDE - Plano de Desenvolvimento da Escola - se constitui no instrumento em torno do qual os pais assumem e exercitam sua responsabilidade, visando o objetivo comum de pais e escola: promover o sucesso escolar dos alunos, como temos enfatizado.

A articulação possível e necessária O fracasso escolar, a repetência, a evasão e mesmo a indisciplina e a violência têm sido apontados como resultados do distanciamento e do não entrosamento entre escola e família. Se de um lado encontra-se a descrença de pais e responsáveis em relação ao sistema, do outro há os educadores e profissionais de educação que pouca experiência possuem na tarefa de buscar o apoio e o relacionamento com a família para romper essa distância. O resultado é a falta de articulação entre as duas instituições que, por prática, funcionam separadamente no exercício de formar os cidadãos.


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Dona Lindalva foi chamada para a reunião de pais do caçula Rafael. Logo à entrada da escola, ela percebe algo diferente. Uma jovem alegre e acolhedora cumprimenta as mães e pais que vão chegando. Cada convidado recebe um crachá com o nome do filho. Coisas novas. Jeito todo diferente de falar com os pais. Isso teria cheiro de quê? O que viria depois? Dona Lindalva recebe o crachá com o nome do Rafael, senta-se num banco lá bem no fundo da sala. A professora Rita lê uma mensagem. Coisa bem bonita, falando da importância de escola e famílias trabalharem juntas. Serem luzes na vida das crianças. Tantas idéias lindas, mas tudo estava longe, eram só palavras. A professora Rita fala do seu trabalho na sala de aula, explica os conteúdos que está desenvolvendo. E, depois, se dispõe a ouvir os pais. Que sugestões tinham para o trabalho? Pouca gente arriscou um palpite. Dona Lindalva continuava a achar tudo muito estranho. Qual seria a hora das verdades duras? Quando é que viriam os recados individuais? Em que momento a professora ia dizer que o "Rafa" era um "demônio", uma "peste"? Será que ela ia pedir para mudá-lo de escola? Nas reuniões de pais, Dona Lindalva já estava cansada de ouvir o nome dos filhos como sendo difíceis, sem solução, desorganizados, sem ajuda no dever. E a reunião chegou ao final. Rita queria se despedir de cada um e foi abraçando a todos. Dona Lindalva teve vontade de fugir, mas a professora veio chegando: - A senhora é a mãe do Rafa? Mas que bom conhecê-la! Eu adoro o Rafa! Sinto falta quando ele não vem à aula. Até queria pedir para a senhora não deixá-lo faltar. Ele está indo muito bem e não quero que fique prejudicado com ausências. A senhora deve se orgulhar de ter um filho tão solidário como o Rafa! Dona Lindalva se encolheu: - A senhora se enganou. O meu Rafa não deve ser esse menino que a senhora está falando. É muito levado, difícil de aprender... ele já repetiu duas vezes o 1º ano. A senhora deve ter confundido com outro menino. Rita se surpreendeu: - Eu só tenho um Rafa na sala. Estou falando do seu mesmo: companheiro, muito querido de todos nós. Ele é mesmo levado, mas a gente se entende e temos sido bons amigos. Dona Lindalva cresceu, fortaleceu, reagiu com a alma, com o coração. Desta vez, ela levava para casa muita alegria, muito orgulho de ser mãe do Rafa. E, naquele momento, a escola nasceu para ela.


226 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos Em sua tese de mestrado sobre a participação dos pais na escola, o professor Sérgio Luis Avancine observa a existência de três movimentos simultâneos: a democracia de base, que é um conjunto de formas de participação indireta articuladas na base do tecido social; a democracia representativa clássica, que se dá pelo voto e pelas formas de escolha de diretores; e os instrumentos da democracia direta, fundada em assembléias e consultas, que, no caso da escola, se estrutura em torno da Assembléia Geral e do Colegiado Escolar. Essa participação nem sempre é bem-vinda nas escolas. Por outro lado, por razões diversas, os pais nem sempre estão preparados para lidar com a escola. Nas palavras de uma delegada de ensino do Estado de São Paulo: Às vezes você percebe em alguns diretores um medo da comunidade. Suas escolas são verdadeiros ‘feudos’, fechados com cadeados e grades, impermeáveis às necessidades vitais do bairro. A população é vista por eles como incapaz, agressiva e arrogante ou, então, passiva e omissa frente à educação dos filhos. Quando recebem os pais dos alunos, fazemno de modo autoritário ou paternalista, chegando mesmo à discriminação no tratamento das classes sociais diferenciadas." Cabe ao diretor, portanto, um longo processo de preparar a escola e os professores para receberem, acolherem e dialogarem com os pais de forma compreensível, respeitosa e produtiva. Mas, mesmo quando é bem-vinda, a participação dos pais não é fácil de se promover. Nem todos estão disponíveis, interessados ou prontos para participar. Embora sejam numericamente poucas as mães que participam na escola, "parece ser exatamente sua qualidade o que conta", observa o professor Avancine. Nem sempre é fácil conviver com as famílias dos alunos e vivenciar de perto suas dificuldades, sem poder fazer muita coisa de imediato. As soluções virão sempre de um trabalho de equipe envolvendo professores, os próprios alunos, voluntários e serviços sociais da comunidade. Para o diretor atento, frases de membros da comunidade, tais como: "Os meninos vão bem na escola porque os professores nunca falam nada"; "A escola nunca pede ajuda a não ser dinheiro"; "A escola só pede ajuda quando tem festa"; "Bilhete da escola é sinal de mau comportamento ou despesa extra", sinalizam um baixo índice de participação das famílias e indicam que existe um campo enorme para se trabalhar.


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Fazendo contato e organizando a participação Embora os problemas, momentos e características de cada escola sejam diferentes, apresentamos abaixo algumas iniciativas que vêm sendo implementadas com sucesso em diversas escolas. O sucesso, naturalmente, depende das circunstâncias de cada caso. • Identificar as razões que levam grupos da comunidade a participar ou não da escola. Identificar se a participação vem do interesse genuíno de contribuição ou se há outros motivos por trás dessa presença. Conhecer a história de relacionamento entre a escola e a comunidade e vice-versa. • Organizar ciclos de palestras com a participação aberta a toda a comunidade, abordando questões comuns à vida das pessoas, suas dificuldades e curiosidades a respeito de temas e assuntos especiais. • Nas comunidades atuantes, estimular cada vez mais a participação, criando novas ações ou ampliando e melhorando as existentes. • Nas comunidades hostis e indiferentes, buscar um caminho novo. Observar muito, estabelecer alianças e traçar uma estratégia junto com os aliados. As lideranças que a comunidade respeita precisam ser envolvidas e conquistadas para o projeto da escola. Uma mãe de aluno pode ter maior poder de influência sobre o grupo do que o líder comunitário. O diretor deve saber identificar essas pessoas. • Descobrir na localidade grupos de dança, músicos, artistas, mágicos, esportistas, contadores de estórias, artesãos e convidar estas pessoas a promoverem apresentações, exposições, jogos e brincadeiras na escola. • Promover programas culturais e de lazer para as famílias nos finais de semana, um "domingo de criação", feiras de livros e de artesanatos, uma gincana esportiva, uma festa comemorativa do aniversário da escola, festas e shows promovidos pelo Grêmio Estudantil, apresentação de grupos folclóricos, por exemplo.


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• Os pais que já conhecem e convivem com a escola são os melhores aliados para conquistar os pais mais arredios que, por timidez ou desinteresse, não se aproximam. Muitas vezes, um convite informal partindo desses pais atuantes funciona mais do que um convite do diretor. • Esta fase inicial de aproximação é extremamente importante. É quando as atitudes do pessoal da escola para com as famílias vão mostrar que elas são importantes, bem aceitas. É a atitude inicial que irá estabelecer a relação entre a família e a escola, no futuro ano letivo. É a hora de mostrar aos pais que seus filhos são queridos e respeitados, que a escola, enquanto espaço físico público, é de todas elas; que a escola é um direito de todos e que o aluno é a pessoa mais importante. A participação é fundamental para que as pessoas se sintam co-autoras e co-responsáveis pelo trabalho e pelos resultados. A participação gera compromisso.

PDE: instrumento-chave na participação e responsabilização Em escolas com um grau mais elevado de organização, os momentos de elaboração, revisão, avaliação e de implementação do PDE constituem instrumentos-chave para articular a participação e responsabilização dos pais na vida da escola, como temos enfatizado. Na discussão do PDE, os pais são chamados a apresentar suas expectativas, bem como a opinar - e posteriormente aprovar - a missão, a visão e os objetivos da escola. A escola deixa de ser aquilo que o diretor, o professor ou o governo querem - e passa a ser a expressão do desejo coletivo da comunidade. Se uma das metas, por exemplo, é assegurar a freqüência dos alunos em 100% dos dias letivos o intenso envolvimento dos pais, as comunicações freqüentes da escola e as ações de apoio mútuo e mobilização são imprescindíveis. Inúmeras atividades extra-classe dependem exclusivamente da mobilização e até mesmo da liderança de alguns pais como, também, muitas outras atividades a serem desenvolvidas.


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A exemplo: • A criação de uma atividade de contraturno pode tornar-se viável se os pais se dispuserem a colaborar com a escola e participar de atividades de leitura ou de apoio extra-escolar. • Pais podem colaborar com professores na sala de aula, na biblioteca ou no recreio. • Numa semana determinada, os pais podem ser convidados para vir à sala de aula falar de sua profissão, ou o professor pode levar os alunos ao local onde um deles trabalha. • Podem ajudar a organizar festas e eventos, gincanas esportivas e culturais. • O PDE pode prever a participação dos pais em trabalhos de manutenção ou reforma da escola. A participação dos pais na Caixa Escolar e nos conselhos que administram os recursos que chegam às escolas é essencial. Em diversas comunidades, a própria educação ou instrumentação dos pais pode ser o objetivo das ações da escola: escola de pais, palestras, encontros para discutir temas de interesse, ou mesmo cursos de alfabetização, cursos de educação de adultos e cursos voltados para interesses específicos da comunidade, particularmente aqueles voltados para ajudar os filhos na sua vida escolar. Reunir pais para discutir a questão da adolescência foi a tarefa da professora Jane. A escola convidou os familiares, mas não tinha idéia de quantos apareceriam. Foram 150. Surpresa geral. Ninguém sabia que o assunto era tão interessante. Mas era. Jane não conhecia a escola. A caminho, pediu informação e escutou a seguinte resposta: - "Pra quê pressa? A reunião só fica boa depois das dez horas. Tem palestra antes e, você já viu, a gente até dorme." Jane riu, agradeceu e não disse quem era. Iniciou a "palestra" contando este caso e brincou com os pais. Para explorar melhor o assunto, os pais foram divididos em dez grupos e "consultados" sobre sua experiência como pais de adolescentes de 14 a 18 anos. Cada grupo recebeu a tarefa de listar as atitudes dos filhos em relação à família, aos amigos, ao estudo, aos limites impostos pela sociedade; além de certezas e incertezas dos pais quanto à educação dos filhos. Eles deveriam definir um comportamento padrão, freqüente e mais comum destes jovens. Espontaneamente, os pais elegeram coordenadores e criaram um formato para definir o perfil. Jane se surpreendeu com a participação de todos. No final, foram reunidos em um grupão e, a partir da fala dos pais, discutiram como tratar os adolescentes com aqueles padrões de comportamento.


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Desta forma, integrados aos objetivos do PDE, os resultados da participação dos pais se tornam visíveis, deixam de ser ações isoladas ou esforços esparsos de convencimento do diretor. A participação é focada em decisões específicas, das quais os pais participam, e em ações concretas, vinculadas a resultados.

É através do Colegiado Escolar e do PDE que a liderança escolar cria condições para a efetiva participação das famílias e pais na vida da escola e na vida escolar dos seus filhos.


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Referências bibliográficas 1 - AVANCINE, Sérgio Luis. Daqui ninguém nos tira: mães na gestão colegiada da escola pública. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, 1990. p. 168-170. (Tese, Mestrado). 2 - BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Ardil da Ordem. Campinas: Papirus, 1986. 3 - FRAIMAN, Leonardo. A Importância da Participação dos Pais na Educação Escolar. São Paulo: IPUSP, 1997. (Dissertação de Mestrado) em 1999. 4 - BERQUÓ, Elza. Família e Escola. Programa "Brasil 500 Anos", 2000. Temas complementares Veja nesta edição: - PDE - Colegiado Escolar - Escolas Eficazes - Reuniões Eficazes



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14. Voluntários: os Aliados da Escola na Implementação do PDE • O que é trabalho voluntário • Oportunidades para o trabalho voluntário nas escolas • Como atrair e envolver colaboradores nas tarefas da escola • Preparando a escola para receber o voluntário • Integrando a oferta de voluntários com as demandas do PDE • Voluntários na escola: idéias e dúvidas


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O que é trabalho voluntário? O trabalho voluntário, no mundo inteiro, é sinônimo de exercício de cidadania e solidariedade e também de realização pessoal. Entretanto, a nova visão do trabalho voluntário não tem nada a ver com caridade e esmola, nem com ocupação de quem sofre de tédio. O voluntário é na verdade um profissional. Antes de tudo, precisa ser competente e responsável. Ele tem disponibilidade e quer sentir-se útil. As instituições e entidades que operam com programas de voluntários devem agir como empresas sociais. Devem buscar eficiência e resultados. Para a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança: "O voluntário, como ator social e agente de transformação, presta serviços não remunerados em benefício da comunidade; doando seu tempo e seus conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político ou emocional". De acordo com o Programa Voluntários, do Conselho da Comunidade Solidária: "O voluntário é o cidadão que, motivado pelos valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada, para causas de interesse social e comunitário".

Você sabia que no Brasil • É grande o número de pessoas que já trabalham como voluntárias? • Os voluntários encontram-se em todas as camadas sociais e níveis de renda? • Muitas pessoas que nunca foram voluntárias alegam que nunca foram convidadas? • A maioria da população considera o trabalho voluntário como algo muito importante? • Existem voluntários dispostos a trabalhar em diversas atividades que são do interesse da escola? • Mais de 30 %, das escolas urbanas, estão envolvendo voluntários em suas atividades?


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Trabalho voluntário: uma necessidade O trabalho voluntário vem se tornando uma necessidade para complementar os recursos públicos de que as escolas dispõem para implementar os seus planos de trabalho. Por maiores que sejam os recursos de que uma escola dispõe, há sempre tarefas adicionais que precisam ser feitas para que a escola atinja o seu objetivo maior: o sucesso do aluno. Mobilizar voluntários para contribuir com a escola requer a liderança do diretor para: • assegurar a identificação de oportunidades de trabalho voluntário; • integrar as ofertas de voluntários com as demandas do PDE; • atrair voluntários e envolvê-los adequadamente nas tarefas da escola; • preparar a escola para receber o voluntário; • receber o voluntário e assegurar a eficácia de sua contribuição para atingir os objetivos da escola. O voluntariado, hoje, é uma necessidade. Entretanto, não é um plano para substituir o Estado, diminuir seus compromissos, nem para substituir o trabalho dos profissionais da educação. Se, de alguma forma, sua presença se constituir um pretexto para afastar e restringir a ação governamental, o voluntariado entra em uma zona de risco. A função do voluntário é sempre de complementaridade: Assim, ele pode enriquecer o trabalho desenvolvido pelos profissionais da escola, desenvolver funções não exercidas pela instituição e envolver crianças ainda não atendidas. Seu trabalho deve ser entendido como um trabalho de co-equipe, em que ele complementa o trabalho da equipe remunerada, sem substituir postos de trabalho.

Amparo Legal Constituindo uma necessidade e sendo uma realidade presente no Brasil, o trabalho voluntário, desde 1998, é amparado pela Lei 9.608, cujo artigo 3 foi alterado pelo artigo 13 da Lei 10.748 de 22 de outubro de 2003.


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Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998 Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Artigo 1° - Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive, mutualidade. Parágrafo Único: O serviço voluntário não gera vínculo empregatício nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim. Artigo 2° - O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições do seu exercício. Artigo 3° - O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias. Parágrafo Único: As despesas a serem ressarcidas deverão estar expressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço voluntário. Artigo 4° - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Artigo 5° - Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 18 de fevereiro de 1998; 117° da Independência e 110° da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Paiva (Publicado no Diário Oficial da União de 19/02/1998)


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Oportunidades para o trabalho voluntário nas escolas Na maioria das escolas, boa parte das necessidades de colaboração de voluntários pode ser agrupada em seis categorias: • reforço escolar; • estímulo à leitura; • gestão escolar; • atividades extra-escolares, artes e esportes; • saúde na escola; • instalação e equipamentos. No colégio Estadual José Augusto Tourinho Dantas, em Salvador, o trabalho voluntário mobiliza pais, alunos e professores. Os alunos fazem a faxina, cuidam da biblioteca, distribuem a merenda e vigiam as portarias. Nunca houve um caso de vandalismo e o grupo de voluntários já conquistou várias melhorias para a comunidade como, por exemplo, o transporte coletivo. A natureza e a forma de colaboração de voluntários dependem essencialmente das características dos voluntários disponíveis, das necessidades da escola e das prioridades e metas estabelecidas no PDE. Uma escola eficaz sempre deixa abertas suas portas para contribuições extras ou não planejadas que possam ser trazidas por um voluntário. E, também, leva em conta as potencialidades dele. A essência do trabalho voluntário não está no que o voluntário sabe fazer ou no que faz, mas no ato de dar-se, no ato de colocar-se à disposição do outro. Sua presença na escola reveste-se de caráter eminentemente educativo e cívico - e deve servir de exemplo para a comunidade escolar.


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É claro que competências técnicas são importantes: • engenheiros ou pintores orientam a manutenção ou reconstrução do prédio; • marceneiros ajudam a consertar as carteiras ou ensinam os alunos a consertá-las; • médicos dão orientação sobre hábitos de higiene, saúde ou alimentação; • universitários ajudam, com reforço escolar, nas matérias em que são mais competentes; • artistas emprestam seus talentos, promovendo shows ou ensinando os segredos de sua arte para alunos e professores; • o repentista e o contador de estória ajudam na aula de leitura. Mas, em se tratando de trabalho voluntário: • a dona de casa pode ajudar no laboratório de computação; • o advogado aposentado pode colaborar na merenda; • o pintor pode ajudar os alunos a fazer cálculos da quantidade de tinta; • o engenheiro pode ajudar na limpeza da cozinha; • o aposentado pode ajudar na implantação ou operação da horta comunitária ou do jardim.


XIV - Voluntários: os aliados da escola na implementação do PDE - 239

As formas e necessidades de ajuda são inesgotáveis. Apresentamos abaixo alguns exemplos de maneiras como os voluntários estão participando do trabalho de apoio às escolas: • apoiando os alunos nas atividades escolares para que aprendam mais e melhor; • trazendo de volta para a escola alunos faltosos ou que desistiram de estudar; • ajudando a montar e manter bibliotecas; • ajudando atividades de leitura, junto a alunos dentro e fora da sala de aula, ou mesmo fora da escola, lendo e contando estórias ou comentando notícias; • organizando e desenvolvendo atividades culturais, artísticas e esportivas; • orientando as famílias e alunos sobre cuidados com a saúde; • organizando, articulando e implementando ações de saúde na escola; • ajudando a escola a conservar seu prédio, móveis e equipamentos; • colaborando em necessidades específicas de gestão da escola ou de órgãos como Caixa Escolar, Colegiado ou Associação de Pais e Mestres; • colaborando com a direção da escola em tarefas como escrever cartas, bilhetes e recados para os alunos ou suas famílias; • organizando atividades de recreação para os alunos, no intervalo das aulas, no contraturno ou nas férias, ou colaborando na preparação ou distribuição da merenda; • ensinando aos alunos e às suas famílias alguma habilidade (informática, marcenaria, língua estrangeira, música, entre outras); • colaborando em projetos especiais - como, por exemplo, ajudando a reconstituir a história da comunidade, arrumando a sala de leitura, confeccionando jogos ou materiais didáticos, organizando uma apresentação teatral ou feira de ciências; • acompanhando crianças com necessidades especiais; • dando assistência a professores, colaborando na correção de trabalhos ou mesmo em sua capacitação.


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Atraindo e envolvendo voluntários nas tarefas da escola Existe uma enorme experiência, já acumulada no Brasil, sobre trabalho voluntário. Em todas as comunidades, existem escolas que já vêm fazendo uso desse trabalho. Há diversas formas de atrair voluntários. Pode-se ir atrás do voluntário ou esperar que o voluntário bata às portas da escola. Campanhas feitas pelos alunos, pais e escolas, ou campanhas como o Programa "Amigos da Escola" são exemplos de formas de atração de voluntários. Outra forma, menos usada, é utilizar instituições intermediárias - como centros de voluntariado - para identificar e selecionar voluntários. Em todos os casos, o essencial é assegurar a consistência entre o que a escola precisa e o que o voluntário pode oferecer. Em alguns casos, o trabalho que é oferecido não tem interesse imediato, mas pode ser de grande valor no futuro. Uma escola fez o mapeamento dos primeiros contatos com voluntários em potencial e descobriu que a oferta era maior que a sua possibilidade de utilizá-la. A escola organizou um banco de dados e, sempre que precisava, oferecia oportunidades para os voluntários interessados. Além disso, montou um programa de intercâmbio de voluntários com outras escolas e instituições, o que beneficiou um número ainda maior de pessoas. A maioria dos voluntários utilizados pelas escolas já está dentro da escola: alunos mais velhos ou com talentos especiais podem ajudar os mais novos em atividades de contraturno, reforço e atividades extracurriculares. Arranjos, denominados de aprendizagem colaborativa, permitem que os alunos mais velhos também se beneficiem de sua própria colaboração voluntária. Funcionários e professores também costumam se oferecer como voluntários para inúmeras tarefas - de caráter eventual ou sistemático. Os pais constituem o maior reservatório de voluntários e são elos para atrair outras pessoas para o trabalho. Não é preciso ir longe: basta olhar para o potencial existente em cada escola.


XIV - Voluntários: os aliados da escola na implementação do PDE - 241

Merenda e voluntariado Em Barbacena, voluntários plantam horta comunitária para reforçar a merenda da escola A Escola Municipal Embaixador Martim Francisco, em Barbacena, Minas Gerais, cedeu o terreno e montou uma grande horta comunitária em parceria com o núcleo local do Programa "Amigos da Escola". Desde o trator, que preparou o terreno, até os insumos, sementes, fertilizantes e equipamentos para trabalhar a terra, tudo foi conseguido através de doações. Metade dos legumes e verduras colhidas é destinada para a merenda escolar. A outra metade é distribuída para as famílias em torno da escola. O resultado desta ação é fruto do trabalho de voluntários como o Sr. Sinvaldo Mendes de Souza, aposentado, e o Sr. Sebastião Agostinho da Silva, desempregado, que toda manhã dedicam parte de seu tempo cuidando da horta.


242 - Módulo II - Mobilizando Recursos Estratégicos

Preparando a escola para receber o voluntário Para receber, acolher e se beneficiar do trabalho voluntário, professores e funcionários devem estar conscientes da importância desse trabalho. Para isto, é necessário preparar o terreno. Muitas vezes existem resistências - inclusive resistências justificadas pelo medo, preconceito e experiências negativas que precisam ser superadas. Muitas vezes as resistências ocorrem porque professores e funcionários: • temem que os voluntários venham substituí-los ou que o governo pare de mandar recursos para as escolas; • acham que pessoas de fora vão perturbar o trabalho escolar; • têm insegurança de se expor à observação de outras pessoas que podem ser até mais qualificadas; • tiveram experiências desagradáveis com a participação de pessoas de fora em certas atividades da escola; • terão que trabalhar mais, orientar os voluntários, esperar até que eles aprendam o serviço; • simplesmente não gostam que pessoas de fora participem ou interfiram em suas atividades na escola ou na sala de aula; • não receberam informação a respeito de como o voluntário pode ajudar; • não participaram da elaboração do PDE, quando se definiram as políticas e metas da escola para envolver voluntários; • sabem que trabalho voluntário dá trabalho. Fundadas ou não, estas razões precisam ser ouvidas, escutadas, compreendidas, analisadas e esclarecidas. Estratégias para preparar o terreno: • visitas a outras escolas que já possuem experiência; • palestras de professores, diretores ou voluntários de outras escolas; • análise de material sobre trabalho voluntário;


XIV - Voluntários: os aliados da escola na implementação do PDE - 243

• uso progressivo de voluntários, passo a passo, em áreas que mais se oferecem para receber esta participação dentro da escola; • envolvimento, primeiramente, dos alunos, dos pais e do pessoal da própria escola, como voluntários. Qualquer que seja a estratégia de preparação do terreno, o importante é que seja superada e que se crie um clima positivo de aceitação e de trabalho. Normalmente, observam-se dois tipos de estratégias usuais nas escolas que iniciam trabalhos com voluntários. É mais freqüente acontecer o seguinte: o voluntário chegar, dizer o que sabe, o que quer ou gostaria de fazer e a escola "permitir" que ele faça algo. Nem sempre o que o voluntário quer fazer é considerado como importante ou prioritário. Menos usual, mas cada vez mais usada, é a estratégia de negociar as tarefas, com o voluntário, de acordo com as necessidades da escola. Nas escolas mais experientes, a tendência é haver mais negociação com o voluntário. Nelas, há sempre intercâmbio, as escolas não apenas querem o trabalho do voluntário, mas organizam a sua atividade de forma a ouvir suas opiniões, sugestões e observações sobre o seu próprio trabalho e sobre o trabalho da escola. A preparação da escola para receber o voluntário, quando bem-feita, implica abrir as portas, não apenas para receber "mão-de-obra", mas para ouvir, escutar, compreender e receber novas influências. Esta é uma forma adicional de a escola abrir-se para a comunidade.

Recebendo o voluntário Antes de admitir voluntários, alguns pontos devem estar claros para a escola. Ela deve procurar saber: • o quê na, escola, precisa ser complementado pelo trabalho voluntário; • se o trabalho que os voluntários realizarão será relevante para a escola, se atenderá às suas necessidades; • como cada tarefa poderá se encaixar na estrutura organizacional da escola; • qual o perfil de voluntário de que a escola precisa (faixa etária, profissão, habilidades, preferências);


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• quais as formas de se fazer uma seleção criteriosa do voluntariado (entrevistas, questionários, fichas de inscrição, termos de adesão); • quais os compromissos, responsabilidades e direitos da escola com o voluntário e deste com a escola. Para que o trabalho do voluntariado tenha sucesso, primeiramente, devese conseguir um compromisso claro e firme da direção e do pessoal remunerado da instituição, para que atuem de modo a permitir que os voluntários se sintam sempre parte integrante da organização e da equipe de trabalho. Eles chegam movidos por um impulso solidário. Para trabalhar bem, devem encontrar na instituição um espaço acolhedor e um programa de trabalho com objetivos e prazos definidos. Também deve ser feito, como promulga o artigo 2º, da Lei nº 9.608 de 1998, um contrato entre a entidade e o prestador do serviço voluntário, em que são estabelecidos os objetivos, as formas de ação colaborativa de ambas as partes, definindo possibilidades de ações e limites, assim como os princípios éticos. A experiência de milhares de escolas que vêm trabalhando com voluntários sugere que os seguintes passos contribuem para resultados positivos: • definir com clareza a tarefa do voluntário; • explicitar as expectativas da escola e do voluntário a respeito do trabalho; • estabelecer horários e formas de trabalho, de maneira clara; • elaborar um "termo de compromisso", semelhante ao plano de trabalho usado para professores e funcionários; • designar uma pessoa como responsável pelo acompanhamento, supervisão e avaliação do trabalho do voluntário; • fazer registro de todas as atividades desenvolvidas: entrevistas, termos de adesão, horas trabalhadas, avaliações de desempenho; • estabelecer momentos para avaliar a contribuição do voluntário e para ouvir suas avaliações e contribuições, individualmente ou em grupo, sobre seu trabalho e sobre o trabalho da escola; • promover momentos: encontros informais, reuniões internas, eventos oficiais para reconhecimento e valorização dos voluntários. Procedendo desta forma, a escola assegura que o trabalho voluntário não seja apenas um trabalho a mais para o diretor, e que o voluntariado não seja "um peso" para a escola.


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Integrando a oferta de voluntários com as demandas do PDE Para o êxito do trabalho voluntário é fundamental que ele seja parte integrante da organização da escola, definida no PDE. Em algumas escolas, onde não há experiência com trabalho voluntário, atrair voluntários e estabelecer programas de voluntariado pode, inclusive, se constituir uma meta. Algumas escolas separam, no planejamento, atividades essenciais, para as quais já existem voluntários comprometidos, de atividades opcionais, que poderão ser desenvolvidas, se houver voluntários. Numa escola, onde o nível de participação dos pais era muito baixo, a direção organizou visitas dos professores às casas de todas as famílias, pedindo, antes, a concordância dos pais. O objetivo era conhecer de perto a realidade das famílias e discutir os problemas da comunidade, antes de convidar os pais para reuniões na escola. Os professores perceberam que havia problemas graves e prioritários que preocupavam a maioria da pessoas, e que era preciso atacar primeiro essas questões antes de falar sobre a escola. A escola acabou se tornando um ponto de referência da comunidade, que passou a se reunir lá e criou uma associação de moradores, da qual se originou, mais tarde, um amplo voluntariado. Para a efetivação do trabalho voluntário, alguns aspectos precisam ser reforçados: O primeiro, e mais importante, é reconhecer a necessidade e importância dos voluntários para assegurar o alcance dos objetivos previstos no PDE e na Proposta Pedagógica. A escola eficaz não procura voluntários porque é bonito, interessante ou está na moda. Ela engaja voluntários para assegurar que as metas do PDE sejam atingidas e superadas. O segundo aspecto a ser reforçado relaciona-se à necessidade de se obter a aceitação e adesão dos professores e dos profissionais locados na escola. O trabalho dos voluntários só é eficaz se integra a estratégia pedagógica da escola. O terceiro aspecto diz respeito à necessidade de identificar o voluntário certo para a tarefa certa e assegurar as condições necessárias para que seu trabalho tenha êxito. E por último, mas não menos importante, todo trabalho voluntário deve ser avaliado continuamente, de modo a identificar resultados parciais, cuja divulgação pode ajudar a reforçar o processo e motivar os envolvidos.


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Com o suor do próprio rosto Pais, professores e alunos arregaçam as mangas e deixam a escola pronta para a volta às aulas Família e escola têm uma coisa importante em comum: preparam para a sociedade seus futuros cidadãos. Esse fato tece laços profundos entre as duas instituições, favorecendo a troca de informações e a ajuda mútua. A escola que reconhece isso e abre suas portas para a comunidade consegue dar um salto qualitativo em relação às outras. Em certos casos, esse salto não se traduz apenas em melhoria das ações pedagógicas, mas também na própria garantia de sua existência física. O Centro Educacional 01, do Cruzeiro, escola pública de Brasília, deu o exemplo de como envolver pais e comunidade nos problemas da escola. Antes, as verbas para construções, consertos e reformas dos prédios públicos, entre eles as escolas, eram destinadas segundo o chamado orçamento participativo, que levava em conta as aplicações consideradas prioritárias pela comunidade. O sistema foi extinto. A escola, que contava com uma verba para reparos, a serem feitos no início do ano letivo, não teve como realizá-los.

Felizmente, a administração escolar não ficou de braços cruzados: convidou pais, alunos, professores e todo o resto da comunidade para, em mutirão, melhorar as instalações do colégio. Alguns pais iniciaram o trabalho às 9 horas da manhã e saíram às 18 horas, vencidos pelo cansaço. Muitas pessoas ainda ficaram, entre elas professores, alunos e servidores da escola. Durante aquele duro dia de trabalho, lixaram e pintaram paredes, portas e janelas, varreram e lavaram o chão. Nenhuma expressão de desagrado ou desânimo no rosto de ninguém. Os alunos colocaram música para animar o ambiente, mas o som que mais se ouvia eram as vozes alegres dos adolescentes que, lambuzados de tinta, carregaram rolos, pincéis, vassouras, baldes e mangueiras, trabalhando com energia e entusiasmo. Uma festa de força e participação, numa escola que, com otimismo e sabedoria, foi além do currículo oficial e ensinou seus alunos a superarem as dificuldades, impedindo que elas se transformassem em "impossibilidades".


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Voluntários na escola: destaque para idéias e dúvidas Questão - O voluntário não vai substituir o trabalho dos profissionais e, com isso, eliminar postos de trabalho, ajudando a aumentar o descompromisso do Estado com a contratação de recursos humanos para a escola? • O voluntário exerce um trabalho complementar e em nenhuma hipótese poderá substituir os profissionais que nela trabalham. A escola deve funcionar normalmente sem os voluntários. • Voluntários e parceiros podem tornar-se porta-vozes importantes das necessidades da escola junto aos órgãos públicos, dando uma nova dimensão política e institucional ao apoio oferecido inicialmente. • Voluntários poderão desenvolver funções que hoje não são desempenhadas pela escola ou envolver crianças que hoje não são atendidas por ela. • A ação do voluntário não é uma intromissão ou ameaça ao trabalho dos professores e da escola em geral. Ele se soma ao esforço da escola. Questão - O voluntariado não será mais uma sobrecarga para a escola, que já tem tantos problemas? • De fato, se o trabalho voluntário não for bem acolhido e organizado, com pouco poderá contribuir. Desenvolver uma ação em colaboração com diferentes atores sociais não é fácil e exige um esforço adicional durante a implantação. Porém, a experiência tem demonstrado que o trabalho voluntário, depois de uma boa organização inicial feita pela instituição que o acolhe, ganha autonomia, começa a caminhar por conta própria. Questão - Não é muito arriscado a escola abrir suas portas à participação da comunidade? E se por acaso algumas pessoas inadequadas ou perigosas resolverem ser voluntárias na escola para tirar alguma vantagem? • Ao abrir as portas à participação, a escola poderá receber inscrições de todo tipo, o que não quer dizer que seja obrigada a aceitá-las. Aqui é preciso cuidado para não restringir, de maneira preconceituosa, a participação de pessoas. O importante é que todos sejam bem recebidos e cadastrados, e que sejam obtidas referências sobre a idoneidade das pessoas. • Pessoas que se apresentam com propostas com as quais a escola não concorda ou que não estão de acordo com as diretrizes da Secretaria de Educação devem ser informadas claramente sobre as prioridades e formas de atuação da escola e, eventualmente, sua colaboração pode vir a ser dispensada. Adaptado de materiais de apoio do Programa "Amigos da Escola".


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Fontes de consulta 1 - O Programa "Amigos da Escola" distribui um kit com informaçães práticas a respeito do trabalho voluntário nas escolas. Para maiores informaçães, acesse os sites www.amigosdaescola.com.br; www.programavoluntarios.org.br ou www.portaldovoluntario.org.br 2 - Parte do material utilizado na confecção do presente documento foi retirada dos materiais produzidos pelo Cenpec - Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária para o Programa "Amigos da Escola": Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 2045 - 01441-001 - São Paulo - SP - www.cenpec.org.br Temas complementares Veja nesta edição: - Contraturno - Aprendizagem Colaborativa - PDE - Parceria - Colegiado Escolar - Acompanhamento de Egressos


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15. A Parceria na Construção da Escola Eficaz • O que é parceria • Tipos de parceria • Como se constitui uma parceria • Como a parceria funciona na escola • Requisitos para uma parceria bem-sucedida • Histórias de sucesso


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O que é parceria Uma outra forma da escola abrir-se para a comunidade, além do voluntariado, é estabelecendo parcerias. A parceria faz parte das relações da escola com seu contexto interinstitucional, seja ele público, privado ou comunitário.

Parceria é uma relação de colaboração entre instituições que compartilham objetivos ou interesses comuns. Parceria e voluntariado são duas formas distintas, porém convergentes e complementares da relação escola-comunidade. Assim como para o trabalho voluntário, é preciso que a escola e seus profissionais se conscientizem que a parceria não substitui os profissionais regulares, nem a obrigação dos governos municipal, estadual ou federal. A função da parceria é complementar e sua intenção é fortalecer ações que a escola já desenvolve, ou ajudá-la a iniciar atividades que contribuam para a sua melhoria, sempre pensando na aprendizagem dos alunos. A parceria tem muito a ver com o trabalho de voluntários, mas dele difere nos seguintes aspectos: • é uma relação entre instituições, não uma relação entre pessoas; • os parceiros têm interesses comuns e a relação é positiva quando as partes somam; • em alguns casos, a parceria pode envolver recursos financeiros, o que requer cuidados especiais. Os princípios e estratégias gerais para trabalhar com parceiros são semelhantes aos apresentados no documento "Voluntários" e não serão repetidos aqui. O presente documento se concentra apenas nos aspectos que são específicos às parcerias.


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