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COMUNICAÇÃO

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APÊNDICE B

APÊNDICE B

CAPÍTULO 6

POR UMA ASSESSORIA QUE PREZE PELA COMUNICAÇÃO

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Voltei para Aracaju em virtude da finalização do processo de mobilidade na UFMG, com isso continuei a graduação à distância, devido a pandemia de SARS-COVID. Apesar de ter voltado para minha terra natal, continuei atuando no UNSCORRE, mas a distância, contribuindo com demandas de produção de vídeos para o canal do Youtube™ da extensão (UNSCORRETV). O fato de agora estar sem vínculo com alguma entidade ou coletivo de assessoria estava me distanciando da atuação com assessor e me deixando cada vez mais inseguro acerca deste caminho profissional. Mas ao refletir sobre esse caminho percorrido, destaco alguns pontos que foram chamando atenção ao cruzar minhas experiências e as referências bibliográficas. Compreender o conceito de comunicação de Freire (1969) que se contrapõe a forma como desenvolvi a maioria das atividades relacionadas à assessoria técnica é um caminho dado passo a passo, buscando inserções que não causem uma “invasão cultural”. O que aprendi é que antes dos mapas e explicações precisa da boa e velha “conversa fiada” para existir confiança entre os envolvidos no processo. Esta autocrítica é necessária visto os enormes prejuízos que atividades sem o devido planejamento acabam por acarretar. Na assessoria, o planejamento precisa ser pensado de maneira a não interferir na comunicação entre técnico e morador. A cada reunião ou visita técnica, o conteúdo mais rico vem da fala dos moradores, que estão atrelados ao cotidiano do

território. Planejar atividades de assessoria traçando metas em cima de metas sem uma consolidada relação entre os moradores pode acarretar problemas a curto, médio e longo prazo. Portanto, cautela ao entrar, responsabilidade ao sair. Importante destacar a extensão universitária em todo este trabalho, sendo esta de suma necessidade para a pavimentação de relações frutíferas entre comunidade, academia e exercício profissional. O projeto EMAU dentro do curso de Arquitetura e Urbanismo tem papel fundamental na formação de jovens comprometidos com a justiça habitacional, devendo ser pensada como uma base de formação de assessores e assistentes técnicos, buscando municiar e ocupar todos os espaços necessários onde se discuta produção habitacional. Penso também que não devemos nos iludir em relação as negociações com o poder público e o caminho institucional. Afinal, o que sobra para nós assessores ou assistentes técnicos em um eventual fim das políticas públicas com participação popular nas decisões? O que sobra para os movimentos sociais? Que hoje utilizam dessas políticas públicas como principal bandeira para aglutinar essas camadas periféricas que vivem sem moradia ou com o crivo pesado do aluguel. Nos movimentos sociais organizados ou em territórios de ocupação espontânea com lideranças ge-

radas na luta, a ameaça é continua. Os movimentos e lideranças independentes se desgastam em inúmeras reuniões junto às prefeituras, se expõem aos diversos agentes que podem botar em risco sua integridade física e mental, e acabam não sendo valorizados por sua própria comunidade. E, após anos de luta, ao chegar o asfalto, vai ocorrendo um apagamento da história desses territórios, e os aplausos e afagos vão em totalidade para o poder público, geralmente na figura de um prefeito ou governador. E as lideranças populares são descartadas? Todas essas condicionantes estão no cotidiano do assessor técnico, o desafio deste exercício profissional está na busca por caminhos que potencializem a autonomia dos territórios, sendo necessária a formação dos próprios moradores como assessores, já que por mais dedicado que o assessor técnico possa ser, ele não estará cotidianamente no território ao longo dos anos. Devemos compreender as diferentes demandas que a assessoria técnica atrai, não se reduzindo à produção habitacional, atrelando outros problemas de ordem urbanística ou até mesmo geológica. Necessitamos de uma abordagem transdisciplinar como foi mostrado ao longo do trabalho, sendo necessária ainda outras áreas do conhecimento. Os moradores das “áreas de risco” ou das áreas de proteção ambiental são parte da solução das problemáticas urbanísticas e não o contrário. Essa postura de expulsar essas famílias dessas áreas é

fundamental no desenvolvimento da sociedade capitalista moderna, afastando-a da natureza para garantir rentabilidade imobiliária.

“Na moderna sociedade capitalista, o processo de trabalho perde as evidências de sua relação direta com a natureza. O capital não apenas consome sistematicamente os recursos naturais (objetos do trabalho) e transforma a propriedade da terra (meio de trabalho), mas também organiza o processo de trabalho de maneira a “aliená-lo” da natureza. ” (ARAÚJO SILVA, 2013, p. 98) Por fim, agradecer à cada moradora e morador, coordenadores, estudantes, professores e movimentos sociais que me ajudaram nesta trajetória.

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