N Y Is the Sky Blue?

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N Y Is the Sky Blue? (2014)

Algures sobre o Oceano Atl창ntico, Setembro 2013


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Hugo Oliveira American, born 1984

From: N Y Is The Sky Blue? 2014 Pigmented inkjet prints, printed 2014 (Texto retirado de uma exposição no MoMA) Since the early 1980s, Graham has rendered the world around him with allegiance to the photography’s documentary traditions and an embrace of its capacity to uncover hidden truths of our everyday lives. A1: The Great North Road is a taut series of forty portraits, landscapes, and vignettes made along the A1 highway, the metaphorical spine of England, in 1981-82 - Graham’s answer to the heralded American road trip of photographers Walker Evans and Robert Frank. Like the hand-processed chromogenic color prints Graham made at the time, the pigmented inkjet prints on view here (made in 2011) encompass a virtuosic range, including the delicately nuanced grays of the storied English weather and the seductively vibrant color of roadside services. Graham’s insistent attention to lorry drivers and waitresses, painted signs and fluorescent lights along “The Great North Road” belies the sense that with the construction of the more efficient, faster M1, this road, and life along it, might fall short of the expectations conveyed by its name. 3


Why Is The Sky Blue? 1 É enquanto crianças, perante a abóbada enorme que cobre a nossa realidade, que quase todos os seres humanos que existem – ou já existiram – neste planeta, através das mais variadas linguagens, se interrogam: “Porque é que o céu é azul?”. Ainda que a verdadeira origem desta dúvida seja pouco clara, pode-se dizer com alguma certeza que Aristóteles terá feito a primeira aproximação à questão no seu tratado “Sobre as Cores”. Outras personalidades como Leonardo da Vinci, Isaac Newton, Kepler, Rene Descartes, Euler (Thomas Young, James Clerk Maxwell, Hermann von Helmholtz) ou mesmo Albert Einstein também se dedicaram a esta tarefa universal. 2 Parte da razão pela qual apenas recentemente se conseguiu cumpri-la prende-se com o facto de ter sido necessário o desenvolvimento de várias áreas da Ciência – nomeadamente no campo da óptica, da matemática, da física molecular e da biologia, para nomear algumas – para se obter a explicação. No desmontar deste problema, entre os vários elementos que a compõe destacam-se dois de escalas


completamente diferentes: a atmosfera que circunda este grande globo terrestre e o nosso próprio glóbulo ocular. A atmosfera é formada por 78% de nitrogénio, 21% de oxigénio e 1% de outras moléculas e partículas. A luz que provêm da estrela mais próxima ainda que seja branca ela é composta por todas as cores existentes. Tal facto é comprovado através da utilização de um qualquer prisma ou através da observação de um arco-íris. A ordem pela qual as cores surgem nesse espectro depende das suas diferentes frequências e energias, sendo o encarnado a cor com menor frequência e o violeta aquela com maior frequência. Desde que não haja nada que o impeça a luz move-se numa linha recta. No entanto, quando esta penetra a atmosfera, a luz terá alterações na sua cor resultado da absorção e refracção da luz através das moléculas e partículas existentes na atmosfera. Ondas curtas de luz (violeta e azul) são mais facilmente absorvidas e depois radiadas/reflectidas. Todas as outras cores que poderão compor o céu fazem parte de condicionantes que têm a ver com o ângulo com que a luz intercepta a atmosfera assim como quantidade de atmosfera por onde ela tem de passar (resultante, nas típicas cores do por-do-sol) ou na existência de outras partículas e moléculas (gases poluentes, sal do mar, pó, etc.).


Contudo, isto não explica porque razão o céu é azul e não violeta. A forma como os nossos olhos são compostos é a outra parte da explicação. Ainda que as ondas violetas sejam mais curtas comparadas com as ondas da cor azul e portanto mais fáceis de serem absorvidas e reflectidas pelas moléculas e compõem a atmosfera, os nossos olhos são de facto mais sensíveis ao azul. 3 Da mesma forma que os mais variados desenvolvimentos da óptica não se estagnam dentro da sua própria área mas permitem, através das sinergias com outras áreas da ciência, responder a questões mais amplas (como o porquê do céu ser azul), esta também não é uma questão que se esgota no campo cientifico. Não é por acaso que também filósofos estiveram envolvidos na procura pela resposta a esta dúvida. Gilles Deleuze levanta precisamente a problemática da relação de identidade (“A é A”) e do julgamento por atribuição (“A é B”) dando como exemplo o céu azul. Ainda que se possa dizer e confirmar que “o céu é o céu” (“A é A”), questiona-se a veracidade da afirmação “o céu é azul” (“A é B”). A atribuição da propriedade “azul” ao objecto “céu” – à luz das explicações anteriormente expostas – é apenas suportada em última análise através da biologia dos nossos olhos. Para uma qualquer outra criatura não-humana essa realidade poderá não ser


válida. Desta forma a realidade é dependente do sujeito e consequentemente questionável quanto à sua universalidade. 4 Imaginemos por breves instantes este planeta sem a luz do Sol. Mesmo colocando de parte a notária dificuldade (para não dizer mesmo impossibilidade) em sobreviver e multiplicar sob estas condições, o conhecimento que teríamos do mundo seria bastante distinto. Indubitavelmente o Sol torna possível o desenvolvimento de quase todo o nosso conhecimento. É o responsável pela “luz sobre as coisas”. Há uma dependência biológica e intelectual deste astro e da energia que dele provem. Como seres inteligentes produzimos o Conhecimento. Este por sua vez é habitualmente “compartimentado” em várias áreas, da mesma forma que a luz do sol é composto por várias cores. Contudo, há uma valorização da luz sobre todos as cores. Já com o Conhecimento parece existir uma valorização dos “compartimentos” e da “compartimentação” que o compõe. Isto poderá ser uma perspectiva perversa que hoje em dia é comumente defendida através da chamada hiperespecialização. 6 Aos 6 anos Hugo Oliveira parte dos EUA em direcção a


Portugal. É aí que descobre porque o céu é azul e o que quer ser quando for “grande”. Quase 23 anos depois regressa ao país onde nasceu. Aproveita uma bolsa de investigação da FLAD, para estagiar num centro de investigação da prestigiada Universidade de Columbia, em Nova iorque. Este conjunto fotográfico resulta desse regresso e desse confronto. Que diferenças existem entre estas duas culturas atlânticas e que diferenças existem entre a cultura americana da década 1980 e da década e 2010? É este tipo de questões muito profundas que fizeram desta experiência – já há muito antecipada – algo profunamente enriquecedor na vida deste arquitecto. O céu é o mesmo pano de fundo nestes dois diferentes espaços e tempos. (Nova Iorque é ainda assim diferente do restante território americano no sentido em que será provavelmente o último grande testemunho do projecto americano oitocentista: um país feito de imigrantes.) Aspectos mais técnicos à parte, a escolha dos objectos registados reflecte-se grandemente nesses 23 anos passados em Portugal. Estes (maioritariamente edifícios com não mais de 100 anos) encontram-se sob


o pano de fundo mais universal existente na Terra, o mesmo de há duas décadas atrás. O céu pretende espelhar as infinitas possibilidades que a criança poderá ter assim como as várias formas de ver o mundo que ela poderá desenvolver. O restante é resultado dessas mesmas escolhas. E é na aceitação da diversidade do percurso de cada um que poderá ser encontrado o significado da existência humana. “Agradezco a la arquitectura que me haya permitido ver el mundo con sus ojos” Rafael Moneo Notas soltas: A resposta a esta curiosidade não nos prolongará a vida, nem é o elixir da juventude, no entanto obriga-nos a questionar-nos, a questionar a realidade, a olhar para dentro de nós mesmos. Deleuze, o julgamento de atribuição. Todos nós nos tornamos algo, mas o céu permanece azul.

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