newsletter #3
abril 2008
© Alejo Bagué
Destaque
Carlos Ferrater Reflexão
E-Studio
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Índice Editorial Notícias Destaque Carlos Ferrater Reflexão E-Studio Fotografia Recomendamos Agenda
Capa Carlos Ferrater - Casa Fotografo Design Nuno Pereira
Notícias Aeroporto Internacional de Shenzhen Massimiliano e Doriana Fuksas Os arquitectos italianos, Massimiliano e Doriana Fuksas, ganharam o concurso para o projecto do terminal Internacional de Shenzen Bao'on, na China. O Terminal de 400.000 metros quadrados será construído em três fases, com a conclusão dos elementos finais em 2035. Shenzhen é um dos locais mais importantes em toda a China, destacando-se pela sua indústria e turismo. www.fuksas.it
Museu Hermitage Guggenheim, Vilnius - Zaha Hadid Arquitectos Zaha Hadid Arquitectos ganhou o concurso para o projecto do Museu Hermitage Guggenheim, em Vilnius, na Lituânia. O concurso fazia parte de um estudo de praticabilidade entre a Fundação Guggenheim e o State Hermitage Museum de St. Petersburgo, Russia. Concorreram também para este concurso arquitectos como Daniel Libeskind e Massimiliano Fuksas. www.zaha-hadid.com
Projecto Bryghusgrunden OMA Os OMA desenvolveram o projecto de Bryghysgrunden, um prédio na margem de Copenhaga, que irá albergar o Danish Architectura Center e a Fundação Realdania. www.oma.eu
Destaque
Carlos Ferrater Ferramentas Para a Criação antinatural”. Carlos Ferrater, arquitecto singular, preocupado em imprimir singularidade a cada uma das suas obras, aceita este esboço de teoria projectual e diz reconhecer-se nela. Mas quase de imediato revolve e acrescenta: “é certo que o trabalho do arquitecto é um continuum, e que de certa forma toda a obra é a continuação da anterior, e é inclusivamente nesse momento que se acaba por definir um estilo ou uma linguagem. No entanto, para mim não me interessa muito a linguagem e é por isso que tento sempre acertar o relógio no zero quando inicio um projecto. Actuar de outra forma é autocondenar-se, é converter a experiência não numa ajuda, mas numa carga. E equivale a assegurar que a nova obra não será original. Não se trata de consolidar uma linguagem, senão em aprender a dominar umas ferramentas (os espaços, os volumes, a luz, a relação entre estes elementos). Porque só dominando este instrumental pode o arquitecto alcançar a capacidade de abstracção necessária para fazer do seu trabalho um acto criativo”. Llatzer Moix (coordenador da Cultura do “La Vanguardia” e autor de “La ciudad de los arquiutectos”)
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Após ver estes exemplos da arquitectura de pequena escala de Ferrater – seleccionados por ele mesmo – e sendo coerente com a ideia de que: apenas a actividade profissional pode gerar teoria (e, jamais em caso algum, o inverso), parece apropriado concluir estas notas com uma síntese do seu processo projectual, com três ideias. “O que é mais belo no início de um projecto – afirma Ferrater – é detectado no que será o seu espaço central, gerador. Esta ideia é provavelmente a mais difícil de se obter. No entanto, a partir dela, o projecto se ordena e cresce”. “A segunda ideia – prossegue Ferrater – tem a ver com a luz, com a luz como articuladora do espaço. Quando me perguntam em que consiste a resolução de uma casa, respondo que o mais importante é criar a tensão entre as linhas ou planos envolventes que definem a obra e o espaço interior articulado pela luz. Não é algo que se baseie na composição ou na geometria, está sobreposto a todas essas coisas. Penso sempre no poema de Maragall que fala do feito construtivo e que se refere ao espaço interior de um edifício como um pedaço de Natureza naquele momento captado. Penso que este espaço deve conservar uma vida própria e, para tal, nada como a tensão e o movimento que é proporcionado pela luz”. “A terceira ideia – acrescenta Ferrater – está relacionada com as duas primeiras, e refere-se ao espaços intermédios, que para mim me parecem cruciais neste tipo de obra: espaços que não pertencem nem ao interior nem ao exterior, mas que coabitam rquiutectos”) actividades importantes, que se usam durante várias horas e que se opõem ao conceito de encer ramento duro, seco, cortante,
Casa Alonso-Planas | Esplugues de Llobregat (1994-1998)
modo a criar um túnel provido de luz zenital. Esta entra e ilumina o vestíbulo da casa, a zona de estacionamento assim como os ateliers.
Um terreno em forma trapezoidal, muito longo, com um acesso inferior que se faz entre a cota inferior e superior do monte, um desnível de 16 metros. Na cota mais alta domina a vista sobre os dois vales, a cidade de Barcelona e sobre o plano de Llobregat, em ambos os casos o mar é o pano de fundo. O projecto propõe colocar o corpo principal da casa na parte superior do terreno perpendicularmente às curvas de nível. Desta forma conseguem-se espaços horizontais na parte anterior e posterior e uma perfeita orientação sul para os vales. Este corpo estreito e comprido estrutura-se ao longo de três pisos. O programa familiar é desenvolvido de forma a relacionar-se com o pátio anterior onde se situa a piscina, o solário e os corpos posteriores. O nível superior (localizado sob um duplo pé-direito) dispõe-se por um conjunto de terraços mais privados e fechado por muros. Toda a casa assenta num pódio (escavado no monte) onde se instalam os acessos, o parqueamento, zona técnica, piscina. Por baixo o pátio, os ateliers de pintura e escultura são iluminados por uma grande abertura horizontal harmonizada por um corpo inclinado em betão, que recolhe a vista do pátio interior. O acesso inferior faz-se serpenteando entre um conjunto de carvalhos e arbustos. Chegase a um espaço recolhido por uma parede de
Um lote perpendicular ao mar, com 250 metros de comprimento e 18 de largura. Uma zona de cultivo que se desenvolve desde da praia até ao fundo onde estão localizadas umas ruínas, umas canas e uns limoeiros. É aqui que se situa a casa havendo um palmeiral que conduz o visitante desde da praia até à casa. Construída sobre uma plataforma com 70cm de altura (terreno naturalmente inundável), três pequenos volumes, de planta e secção irregulares, estabelecem um diálogo através de um vazio com pontos de fuga visuais. A decomposição volumétrica tem em conta as condições da paisagem, de construção e de luz que sugere um quadro de Picasso pintado naquela zona. O vazio central converte-se no espaço central da casa, um espaço tenso, definido geometricamente na parte superior por corpos opacos e altos dos diferentes quartos e pelo seu plano de solo até uma altura de 2.10m num lugar contínuo que relaciona os vários espaços interiores em sombra com as perspectivas do mar, do fundo vegetal e as zonas de estar sobre a plataforma. O jogo decomposto de volumes recorda-nos a composição cubista de Picasso.
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Casa para Fotografo 2 | Delta do Ebro (Tarragona) | 2003-2006
Casa Tagomago | Ibiza | 1999-2001 A casa situa-se no extremo nordeste da ilha de Ibiza, em torno de uma paisagem mediterrânica com pinheiros e sabinas, de frente para o mar e para a ilha de Tagomago, num terreno com uma ligeira pendente.
Devido à sua utilização como casa de férias propôs-se uma organização dependente de um núcleo (destinado ao corpo principal) e outros pequenos blocos autónomos. Isto permite um uso progressivo e flexível de acordo com o seu número de residentes. A articulação da casa faz-se através de um eixo longitudinal que nos oferece peças isoladas, perfeitamente orientadas, que podem ser independentes.
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O claro-escuro e a luz intensa desta zona do mediterrâneo equilibram a plenitude da topografia de toda a zona do Delta.
O projecto desenvolve-se à mesma maneira que as construções rurais: por adição de diferentes peças dando especial importância aos percursos espaciais e ambientais entre estes volumes de pedra branca que recebem a luz mediterrânica. O ambiente criado relembra a arquitectura mudéjar e mediterrânica, oferecendo ao tempo um clímax repousado e sereno próprio de construções monásticas. Os materiais utilizados em estado puro promovem essa leitura. A ausência de zona ajardinada, conservando e reconstituindo a paisagem natural, potencia a imagem subliminal. A organização, composta por peças isoladas e autónomas, permite criar uma série de espaços abertos que estabelecem limites imprecisos entre o interior e o exterior. Apesar da utilização de materiais tradicionais, o sistema constr utivo utilizado é completamente contemporâneo.
o mar. Dois corpos conectados no nível inferior, que organizam o espaço da garagem e espaços anexos nas traseiras, enquanto que frontalmente criam um espaço linear extenso com as zonas de funções mais relacionadas com o lazer. O piso superior abriga um grande espaço destinado à sala de estar/biblioteca/estúdio que comunicam com o piso inferior – onde se localiza o quarto – através de uma escada inundada por uma luz zenital. No corpo posterior existe uma pequena zona de refeições e cozinha. Formando um nexus de união entre estes dois corpos que atravessam o pátio está um pequeno corpo envidraçado que se pode abrir e que integra o espaço vazio entre os volumes. Finalmente no piso mais elevado encontramse dois quartos para hóspedes. O jardim, com vista para Barcelona é inclinado, estando a piscina ao nível do piso mais baixo.
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O terreno está situado numa encosta com problemas de acessibilidade. Está orientado para nordeste, ainda que tendo uma magnifica vista sobre um bosque muito próximo e sobre a cidade de Barcelona. A casa foi desenhada como dois corpos paralelos integrados no terreno inclinado, criando um espaço aberto com orientação para sul com uma vista distante para a serra e
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Casa Triginer | Valldidrera (Barcelona) | 1993-1996
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Reflexão
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“De quanto pode a fortuna nas coisas humanas e de que modo se lhe deva resistir.” Há poucos ofícios como o dos arquitectos. Alimentamos-nos da nossa própria profissão. Usamos o passado para justificar o que fazemos no presente. Servimo-nos dos edifícios dos outros arquitectos como referência para os nossos. Usamos os edifícios que não foram feitos por arquitectos para mostrar o que está mal feito. Projectamos para convencer a nossa classe, e não os nossos clientes. Comunicamos com uma linguagem própria. Usamos expressões específicas para denominar coisas comuns. C h a m a m o s p a v i m e n t o a o c h ã o. Empregamos palavras que ninguém usa. Vão, tardoz, zenital. Casamos uns com os outros, e temos filhos que querem ser arquitectos, tal como o avô já era. Reservamos férias em outros países para ver outra arquitectura. Ainda que nos custe reconhecer, a nossa prática é influenciada pelos postais que nos enviam dos lugares mais banais. Por mapas
das estradas, guias turísticos e cartas astrais. Pelos jogos do Risco que perdemos ao tentar conquistar a Ásia. Lemos alto “De quanto pode a fortuna nas coisas humanas e de que modo se lhe deva resistir”, o décimo quinto capítulo do Príncipe do Maquiavel. Preferimos supermercados em que não haja grande variedade de produtos. Ficamos hipnotizados por leds, strobes, neons e por tudo o que o João Paulo Feliciano já fez. Abusamos de técnicas de laser cut, rapid prototiping, cnc e waterjet. Recebemos a eflux todos os dias. Idolatramos duplas criativas como os Smithsons, os Eames, o Batman e o Robin. Acreditamos no trabalho em equipa. Coleccionamos enciclopédias ilustradas. Exploramos ingenuamente o mundo dos vinhos do António Saramago, do Domingos Soares Franco, do Jorge Borges e da Filipa Pato. Usamos software open source. Entusiasmam-nos arbustos e árvores endémicas, infestantes, trepadeiras, perenes e exóticas. Gostamos dos desenhos e das histórias do Breccia e do Taniguchi. Ofuscamnos os cromados das esculturas do Zhan Wang e os banquetes do Rirkrit Tiravanija. Invejamos os turistas que procuram o Lightening Field do Walter de Maria. A l i m en ta m o s -n o s d a s i m a g en s d o Koyaanisquatsi do Godfrey Reg gio. Comparamos a cor laranja das motas KTM com a estrutura dos quadros das Ducati. Gostávamos de vir para o trabalho a pedalar numa Biomega. Discutimos sobre a receita dos croissants do Chico Careca. Inventamos cores novas para os M&M's. Apoiamos todos os protestos, manifestações, comícios e revoltas. Preferíamos que o Eça tivesse escrito mais livros. Não entendemos porque desapareceram
civilizações como os Maias, Aztecas, Incas, Egípcios, Gregos, Etruscos e Vikings. Sempre nos inconformámos por não ter sido incluída a cena da explosão da aldeia do coronel Kurtz no final do Apocalypse Now. Perguntamos porque já não se fazem gárgulas nos topos dos telhados. João Costa Ribeiro, João Ferrão, Sónia Oliveira, Madalena Atouguia e Maria João Oliveira e-studio: extrastudio, arquitectura, urbanismo e design lda. www.extrastudio.pt Café em Setúbal, 2007
Fotografia
Loja Valentim de Carvalho - Tomás Taveira (1966) João Morgado
CaixaForum, Madrid - Herzog & de Meuron Tiago Cruz
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O IndieLisboa é um local privilegiado para a descoberta de novos autores e tendências do cinema mundial e integra uma competição de longas e curtas metragens de novos realizadores. Mantendo o seu foco na criatividade e independência dos autores, em apenas quatro anos, o IndieLisboa é já reconhecido como um dos mais importantes festivais de cinema em Portugal. www.indielisboa.com
Olhar de perto. Os Primitivos Flamengos do Museu de Évora Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) 27-02-2008 a 20-04-2008
As Vampiras Lésbicas de Sodoma, de Charles Busch Teatro-Estúdio Mário Viegas 14-10-2007 a 25-05-2008
Workshop Fotografia ‘Pinhole’ Com o Professor Rui Cambraia Integrado na Semana Cultural da AEISCTE / 06-05-2008
BES Photo 2007 Museu Colecção Berardo - Arte Moderna e Contemporânea - 13-03-2008 a 04-05-2008 A quarta edição deste prémio anual integra dois momentos: a exposição colectiva de obras dos três fotógrafos seleccionados e a atribuição de um prémio no valor de 15 mil euros ao artista vencedor. Os artistas convidados para a exposição BESPhoto 2007 são Daniel Malhão, Eurico Lino do Vale e Miguel Soares.
I Instituto Superior de CiĂŞncias do Trabalho e da Empresa
nĂşcleo de arquitectura e urbanismo do iscte