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Educomunicação para exposições do presente (Educativo AdC
Educomunicação para exposições do presente
Marina Romano Thiara Grizilli Renata Reis
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O desafio de mediar uma exposição de arte virtual foi parte da rotina de grande parte das instituições, na persistente realidade do distanciamento social. Diante desse quadro, de uma ocupação virtual subitamente imposta, cada equipe navegou pelos espaços das redes da maneira que foi possível.
No entanto, a equipe do núcleo de educação e comunicação do Academia de Curadoria observou rapidamente o aprimoramento de educadores e mediadores que passaram a empreender pesquisas na área de comunicação digital, utilizando ferramentas e linguagens diversas e adquirindo uma familiaridade decisiva com as especificidades das redes sociais.
Para o Academia de Curadoria, grupo de pesquisa que se consolida em meio à pandemia e se apropria das possibilidades múltiplas que os encontros virtuais oferecem, o caminho se apresentou de maneira bastante intuitiva: ao aproximar definitivamente as ações de comunicação e mediação, formamos a equipe de educomunicação1 .
Este núcleo surge de uma compreensão de que as duas áreas se entrelaçam em exposições de arte em ambientes digitais. Fatores comuns a ambas, como alcance, linguagem e retorno do público foram amplamente discutidos e considerados nas estratégias de mediação e comunicação adotadas para a exposição Vigas-mestras: outras narrativas concretas.
Em retrospectiva, a experiência nos mostrou que o público heterogêneo e vacilante das redes pode ser atraído a conhecer uma exposição de documentos, através de linguagem apropriada e de uma narrativa atraente. Além de ser possível alcançar um público-alvo específico e até atrair pesquisadores para explorarem por si mesmos o vasto acervo do Instituto de Arte Contemporânea - IAC, a
1 O conceito de educomunicação, que circula no Brasil desde 1999, designa a aproximação entre as áreas de pedagogia (educação popular) e teoria da comunicação (mídias e tecnologia). Aqui empregamos em sentido ampliado, específico em nossa ação de aproximar pesquisadores e estudantes das diversas áreas em uma prática comum, pautada ainda pelo pensamento curatorial coletivo do Academia.
Educomunicação para exposições do presente
Carrosséis criados para o Instagram, trazendo tópicos relevantes para a exposição, aproximando o público da temática de Arte Concreta e Curadoria.
ocupação desses espaços digitais revelou a possibilidade de transformá-los em espaços de discussão. Ampliando o alcance desse conteúdo, aumentou também as perspectivas de debate e a divulgação de pesquisas em outros meios que não só o acadêmico.
Por outro lado, foi possível compreender também que a própria escolha de fundir a mediação cultural e a comunicação criou impasses em relação aos objetivos e às expectativas traçadas em cada processo. Afinal, somos parte do sistema que experimenta os desafios mencionados na primeira linha deste texto. Propomos aqui o convite para discutir, examinar e compartilhar publicamente cada um deles.
Mesmo que a aproximação dessas áreas aconteça para além das exposições em ambiente digital, o trabalho desenvolvido para o projeto em parceria com o IAC se estabelece como uma experiência frutífera no caminho para novas práticas nas áreas em questão e nas necessidades urgentes geradas pela pandemia.
Educomunicação para exposições do presente
Nesses vídeos, os curadores escolhiam um dos documentos selecionados para a exposição para comentá-lo.
Neste sentido, assumimos a urgência em nos inserirmos nesse novo modelo de comunicação e interação, estendendo a dinâmica para outras iniciativas - inclusive em exposições físicas.
Parte fundamental de Vigas-Mestras: outras narrativas concretas foi a utilização das ferramentas e possibilidades dadas pelo digital para estabelecer a reflexão, seja para pensar na curadoria, seja para realizar a pesquisa em arquivo. Estabeleceu-se, desta forma, a mediação de exposições para os públicos de além-tela como uma componente do projeto por inteiro.
A respeito das questões sobre avaliação e acesso de públicos a partir da lógica quantitativa -- retomando aqui o debate sobre a catracalização das instituições --, transportam-se para este novo universo, por meio das análises de métricas e dados de acesso, as batalhas com algoritmos.
Diante deste cenário, investigamos como é possível nos beneficiar das discussões já desenvolvidas pela teoria da comunicação e da educação para elaborar novas estratégias de mediação cultural. Organizamos conversas com seguidores dos perfis de Instagram do Academia de Curadoria e do IAC a fim de aproximar estes públicos às ações que o próprio IAC promove, apresentando seus Fundos e acervo de importância indiscutível à crítica e à História da Arte no Brasil. Paralelamente, utilizamos essas mesmas plataformas para realizar rodas de conversas com temas transversais à exposição, num exemplo de como faríamos em situações cotidianas de espaços de mediação cultural no modelo presencial.
Concluímos que o encontro entre um grupo de pesquisa em curadoria e uma instituição parceira levantou discussões pertinentes a uma prática curatorial atual e progressista e possibilitou experienciar novas abordagens e estudos das estratégias vigentes. Partimos dessa vivência, como a recém-concebida equipe de educomunicação, determinados ao hábito da ação-reflexão permanente e atentos ao presente e aos futuros desdobramentos das relações humanas, que encontram na arte, na educação e na comunicação o seu foco, num mundo que, assim como nós, está em constante transformação.