2010_Fev_Lagoa Misteriosa

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IASB – Instituto das Águas da Serra da Bodoquena PROGRAMA PLANTE BONITO Introdução Restauração Ecológica é uma atividade intencional que inicia ou acelera a recuperação de um ecossistema em relação a sua saúde, integridade e sustentabilidade. (Society for Ecological Restoration International Science & Policy Working Group. 2004). Com o objetivo de recuperar áreas que já sofreram algum tipo de interferência antrópica na área que abrange a Lagoa Misteriosa bem como implantar corredores ecológicos entre os fragmentos de mata, implantou-se um programa de reflorestamento com mudas nativas do cerrado e mata ciliar. O programa de reflorestamento visa também restaurar os processos ecológicos através do resgate da diversidade vegetal e da busca da autoperpetuação dessas áreas no tempo. O plantio das mudas ocorreu no dia 23 e 24 de fevereiro de 2010 após um período de chuvas constante, deixando o solo com um grau de umidade elevado, propiciando melhores condições para o plantio das mudas. A área do plantio localiza-se na porção leste da Lagoa Misteriosa (S 21º.27.476´ W 056º. 27.170´). A experiência prática tem mostrado que todas as categorias de plantas (pioneiras, secundarias, clímaxes) podem ser implantadas numa única etapa (Lorenzi, 1992). Para a seleção das espécies utilizadas no presente reflorestamento, foi consultada a lista de espécies da flora da Lagoa Misteriosa (Ribeiro, 2009) sendo as espécies utilizadas no presente reflorestamento listadas abaixo (tabela 01): 

Cumbaru (Dipteryx alata) – Altura de 15 – 25m, com tronco de 40 - 70cm de diâmetro. Planta característica de terrenos secos do cerrado. O desenvolvimento das plantas o campo é moderado (Lorenzi, 1992).

Jatobá-mirim (Guibourtia hymenifolia) – Altura de 10 – 18m, tronco ereto e cilíndrico com 40 – 70cm de diâmetro. Planta semidecídua, clímax, característica e exclusiva das matas secas e calcárias do Pantanal Matogrossense. É indicada para a composição de reflorestamentos heterogêneos com fins preservacionistas. O desenvolvimento das plantas no campo é lento (Lorenzi, 1992).


Embiruçu (Pseudobomax tomentosum) – Altura de 4 – 10m, dotada de copa arredondada e rala. Planta decídua, característica e exclusiva dos cerrados e cerradões do Brasil central. Ocorre preferencialmente em formações primárias e secundárias de terrenos bem expostos, onde o sôo é arenoso e argiloso. O desenvolvimento das plantas no campo é lento (Lorenzi, 1992).

Embaúba (Cecropia sp.)- Altura de 4 – 7m, com tronco de 15 – 25cm de diâmetro. Pioneira característica de solos úmidos em beiras de matas e em suas clareiras. Prefere matas secundárias, sendo rara no interior de mata primária densa. Seus frutos são avidamente consumidos por muitas espécies de pássaros, por essa razão e pela rapidez de crescimento, é indispensável nos reflorestamentos heterogêneos de áreas degradadas de preservação permanente.

Angico-vermelho (Adenanthera macrocarpa) – Altura de 14 - 22m, dotada de copa frondosa e aberta. Troco de 40 – 80cm de diâmetro. Planta pioneira característica de matas semideciduais. Ocorre preferencialmente em formações primárias e secundárias, sobre terrenos arenosos e argilosos, porém bem drenados. As flores são apícolas. O desenvolvimento das plantas no campo é considerado rápido, geralmente ultrapassando 2,5m em dois anos.

Caroba (Jacaranda cuspidifolia) – Altura de 5 a 10m, com tronco de 30 a 40 cm de diâmetro. Planta pioneira produz anualmente grande quantidade de sementes. O desenvolvimento das plantas no campo é considerado apenas moderado, atingindo 3m de altura aos 2 anos (Lorenzi, 1992).

Cedro (Cedrela fissilis) – Altura de 20 a 35m, com tronco de 60 a 90cm de diâmetro. Árvore que não deve faltar na composição de reflorestamentos heterogêneos de áreas degradadas de preservação permanente. Ocorre preferencialmente em solos úmidos e profundos. O desenvolvimento da planta no campo é considerado rápido, podendo atingir 3-4m aos 2 anos (Lorenzi, 1992).

Aroeira (Myracrodruon urundeuva) – Altura de 6 – 14m no cerrado, até 20 – 25m em solos mais férteis da floresta latifoliada semidecidua. Planta característica de terrenos secos e rochosos. O desenvolvimento da mudas no campo é médio (Lorenzi,1992).

Manduvi (Sterculia striata) – Altura de 10 – 24m, dotada de copa globosa. Planta secundária ocorre geralmente no interior de matas primárias e secundárias, porém é capaz de regenerar com facilidade em áreas abertas e capoeiras. Árvore indicada para reflorestamentos, seus frutos são consumido por aves, macacos e roedores. O desenvolvimento da planta no campo é rápido (Lorenzi, 1992).

Ximbuva (Enterolobium contortisiliquum) – Altura de 20 – 35m, com tronco de 80 – 160cm de diâmetro. É ótima para reflorestamentos de áreas degradadas de preservação permanente em plantios mistos, principalmente por seu rápido


crescimento inicial. Planta pioneira com desenvolvimento no campo extremamente rápido (Lorenzi, 1992). 

Pororoca (Rapanea ferruginea) – Altura de 6 – 12m, com tronco de 30 – 4cm de diâmetro. Seus frutos são avidamente consumidos por várias espécies de pássaros, o eu a torna útil para plantios mistos em áreas degradadas de preservação permanente. Plana pioneira, característica de formações secundárias como capoeiras e capoeirões. O desenvolvimento das plantas no campo é rápido, podendo atingir 3 – 4maos 2 anos Lorenzi, 1992).

Ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa) – Altura de 8 – 12m (20 – 30m no interior da floresta), com tronco de 60 – 90cm de diâmetro. Planta característica das florestas semideciduas e pluvial. Ocorre tanto no interior da floresta primária densa, como nas florestas abertas e secundárias. É ótima para compor reflorestamentos destinados a recomposição vegetal de áreas degradadas de preservação permanente (Lorenzi, 1992).

Mamica-de-porca (Zanthoxyllum sp.) – Planta aculeada de 8 -18m de altura, com tronco de 40 – 60cm de diâmetro. Planta pioneira e rústica, é indispensável nos reflorestamentos mistos destinados a recomposição de áreas degradadas de preservação permanente. O desenvolvimento das plantas no campo é considerado rápido (Lorenzi, 1992).

Mutambo (Guazuma ulmiflora) – Altura de 8 – 16m, com tronco de 30 – 50cm de diâmetro. Seus frutos são muito apreciados por macacos e outros animais; por essa qualidade e pelo rápido crescimento, é planta indispensável nos reflorestamentos heterogêneos destinados a recomposição de áreas degradadas de preservação permanente. O desenvolvimento das plantas no campo é bastante rápido (Lorenzi, 1992).

Para-tudo (Tabebuia caraíba) – Altura de 12 – 20m (4 – 6m no cerrado), com tronco tortuoso revestido por casca grossa, de 30 – 40cm de diâmetro. È útil para reflorestamentos mistos de áreas degradadas destinadas a recomposição da vegetação. O desenvolvimento das mudas no campo é lento. (Lorenzi, 1992). Jatobá-do-cerrado (Hymenaea stinocarpa) – Altura de 6 – 9m, com tronco de 30 – 50cm de diâmetro. Os frutos são muito procurados por várias espécies da fauna, sendo por isso útil nos plantios de áreas degradadas destinadas a recomposição de vegetação arbórea (Lorenzi, 1992).

Carne-de-vaca (Combretum leprosum) – Altura de 10 - 15m, dotada de copa globosa. Tronco ereto e mais ou menos canelado superficialmente, de 40 – 60cm de diâmetro. As flores são apícolas. Planta pioneira rústica e de rápido crescimento. Ocorre principalmente em capoeiras e capoeirões de terrenos argilosos calcários, bem drenados e férteis. É muito recomendada para a composição de reflorestamentos heterogêneos (Lorenzi, 1992).


Cabrito (Rhamnidium elaeocarpus) – Altura de 8 – 16m. com tronco de 30 – 50cm de diâmetro. A árvore é produtora de frutos avidamente consumidos por muitas espécies de pássaros, o que a torna bastante recomendável para reflorestamentos mistos destinados a recomposição de áreas degradadas de preservação permanente. Ocorre de maneira mais expressiva em formações abertas e capoeiras (Lorenzi, 1992).

Pata-de-vaca (Bauhinia rufa) – Planta de 4 – 7m de altura, dotada de copa mais ou menos arredondada e rala. Fruto legume (vagem). A planta e reputada como medicinal. A árvore de pequeno porte e de rápido crescimento (Lorenzi, 1992).

Capitão (Terminalia argentea) – Altura de 8 – 16m, com tronco de 40 – 50cm de diâmetro. Planta pioneira adaptada a terrenos secos e pobres, é ótima para plantios mistos em áreas degradadas de preservação permanente. Produz anualmente grande quantidade de sementes viáveis (Lorenzi, 1992).

Amendoim-do-campo (Platypodium elegans) – Altura de 8 – 12m tronco de 40 – 50cm de diâmetro. Como planta pioneira e rústica não pode faltar nos plantios mistos destinados a recomposição de áreas degradadas de preservação permanente (Lorenzi, 1992).

Canafístula (Caesalpinia peltophoroides) – Altura de 8 – 16m, com tronco de 30 – 40cm de diâmetro. Planta de médio a rápido crescimento é também indicada para plantios mistos em áreas degradadas de preservação permanente. Ocorre tanto no interior da mata primário como em formações abertas (Lorenzi, 1992).

Angico-roxo (Parapiptadenia sp.) – Altura de 12 – 20m, dotada de copa frondosa e arredondada. Tronco ereto e mais ou menos cilíndrico, de 30 – 80cm de diâmetro. As flores são apícolas. Produz anualmente uma grande quantidade de sementes viáveis, amplamente disseminadas pelo vento (Lorenzi, 1992).

Saboneteira (Sapindus saponaria) – Altura de 5 – 9m, com tronco cilíndrico de 30 – 40cm de diâmetro. Seus frutos são comidos por morcegos. Planta rústica e de moderado crescimento, é indispensável para a composição de reflorestamentos heterogêneos (Lorenzi, 1992).

Guaviroba (Campomanesia sp.) – Altura de 4 – 7m, dotada de copa globosa, densa e baixa. Os frutos são comestíveis e muito apreciados pela avifauna. Recomendada para a composição de reflorestamentos heterogêneos destinados a recomposição da vegetação de áreas degradadas. Produz anualmente grande quantidade de sementes que são amplamente disseminadas pela avifauna. (Lorenzi, 1992).

Seputá (Salacia elliptica) – Altura de 4 – 8m, dotada de copa globosa e extremamente densa. Tronco curto e cilíndrico, de 30 – 40cm de diâmetro. Os frutos são comestíveis e muito procurados por peixes (pacus) e outros animais


silvestres. Sua copa densa é o local preferido para várias espécies de aves fazerem

seus

ninhos.

Também

indicada

para

reflorestamentos.

Ocorre

preferencialmente em formações secundárias de várzeas sobre solos argilosos e ricos em matéria orgânica (Lorenzi, 1992).

Araticum (Annona crassiflora) – Altura de 4 – 8m, com tronco geralmente tortuoso de 20 – 30cm de diâmetro. Árvore de pequeno porte e de lento crescimento. Característica e exclusiva do cerrado, principalmente de terrenos elevados e solos argilosos. Produz anualmente abundante quantidade de sementes viáveis, prontamente dispersas pela fauna (Lorenzi, 1992).

Ipê-amarelo (Tabebuia sp.) – Altura de 15 – 25m, com tronco de 40 – 70cm de diâmetro. Planta adaptada a terrenos secos, é útil para plantios em áreas degradadas de preservação permanente. Característica do cerrado situado em terrenos bem drenados. O desenvolvimento das plantas no campo é apenas moderado, alcançando 2,5m aos 2 anos (Lorenzi, 1992).

Metodologia O programa de reflorestamento utilizado foi o plantio heterogêneo, o qual consiste no plantio conjunto de diferentes espécies numa mesma área, recriando condições mais próximas das florestas naturais. É indicado para enriquecimento de matas e na recuperação das florestas nas margens de rios. Foram selecionadas 28 diferentes espécies de mudas nativas do cerrado, dentre pioneiras, secundárias e clímax. Totalizando 375 mudas, todas produzidas no viveiro de mudas do Recanto Ecológico Rio

da

Prata.

Essas

mudas

foram

patrocinadas

pelas

seguintes

empresas/associações: Wetiga Hotel, ATRATUR, Local Comunicação e Marketing. Além destas, foi feito o replantio das mudas patrocinadas pelas empresas: Hotel Pousada Águas de Bonito, Agência Ar, Projeto Jibóia, Bonito Aventura, Hotel Bonsai, Balneário do Sol, Supermercado Santos, Buraco das Araras. Todas as mudas foram geradas a partir de sementes coletadas de árvores adultas e sadias na Fazenda Cabeceira do Prata e entorno bem como pela equipe do IASB. A altura das mudas utilizada no reflorestamento variou de 20 – 30cm. Abaixo segue a lista e a quantidade de espécies utilizadas no reflorestamento. Espécies

Qtde.

%

Espécies

Qtde.

%

Jatobá-mirim Jatobá-do-cerrado Canafístula Araticum Para-tudo Manduvi Pororoca Mutambo Cabrito Carne-de-vaca Cedro

5 10 17 10 8 15 27 21 15 5 15

1,3 2,6 4,5 2,6 2,1 4 7,2 5,6 4 1,3 4

Embaúba Embiruçú Capitão Aroeira Pata-de-vaca Guaviroba Angico-vermelho Angico-roxo Ipê-amarelo Seputá Cumbaru

43 20 10 20 7 10 15 10 10 3 15

11,4 5,3 2,6 5,3 1,8 2,6 4 2,6 2,6 0,8 4


Piúva Caroba Amendoim-do-campo Tabela 01 – Quantidade

7 1,8 Mamica-de-porca 10 2,6 26 6,9 Saboneteira 4 1 13 3,4 Ximbuva 4 1 de indivíduos de cada espécie utilizada no

reflorestamento. Os maiores percentuais destinam-se as espécies pioneiras.

Área utilizada para o reflorestamento: A área escolhida localiza-se na porção

leste

da

Lagoa

Misteriosa, ao lado da borda de floresta estacional semidecidual e

savana

ambiente

arborizada. caracteriza-se

O por

possuir grande concentração de capim humidícola com altura de aproximadamente

50cm.

Algumas árvores em fase de crescimento como:

avançado,

Araticum

crassiflora), (Tabebuia

tais

(Annona Ipê-amarelo

sp.),

Pororoca

(Rapanea ferruginea) e Pau-

Imagem extraída do Google Earth evidenciando a área da Lagoa Misteriosa bem como o local onde foi realizado o reflorestamento (área hachurada).

Lagoa Misteriosa.

terra

(Qualea

megalocarpa).

Vale

salientar

que

outros

reflorestamentos

foram

realizados em outras áreas da


Espécies encontradas na área do reflorestamento em diferentes estágios de crescimento. A) Tabebuia sp. em crescimento inicial; B) Myracrodruon urundeuva em crescimento avançado; C) Bromelia balansae comumente encontrada na área.

Sistema do plantio Antes do plantio da muda, fez-se a preparação do terreno através da marcação do local com estaca de 1m de comprimento com a extremidade pintada de branco e coroamento

(capina)

do

terreno

com

aproximadamente 1m de diâmetro, deixando a terra exposta. Cavou-se um buraco de 20cm de profundidade para o plantio da muda. Com o capim extraído do coroamento, cobriu-se o solo onde foi plantada a muda (foto 01). Tal Foto 01 – Muda após o plantio. Notar

procedimento é muito importante, uma vez

colocação da palha no entorno da muda para

que o capim atuará como um retentor de

manutenção da umidade.

umidade, bem como proteção da muda por

camuflagem contra possíveis predadores.

Monitoramento das mudas Após cinco dias da realização do plantio as mudas foram vistoriadas com o intuito de verificar se as mesmas suportaram o período de transplante dos tubetes para o local definitivo, sendo que monitoramento das mudas será realizado mensalmente através da coleta de dados da altura e condições gerais das mudas. Além da medição e avaliação das condições gerais das mudas plantadas, fez-se um registro fotográfico da área com o intuito de acompanhar periodicamente o desenvolvimento do reflorestamento. Abaixo segue a foto tirada no dia do reflorestamento (24 de fevereiro de 2010).


Aspecto geral da área reflorestada.

Referências Bibliográficas 

Fundamentos de Restauração Ecológica – Sociedade Internacional para Restauração Ecológica Grupo de Trabalho em Ciência e Política. (2004)

Lorenzi, H (1992) Árvores Brasileiras – Manual de identificação e Cultivo de Plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa – SP.

Primack, R. B.;Rodrigues, E. (2002) Biologia da Conservação. Londrina–PR.

Plano de Manejo RPPN Cabeceira do Prata (2006). Jardim- MS.

Plano de Manejo Lagoa Misteriosa (2009). Jardim-MS.


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