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É a energia ativa do próprio Deus que constitui o protótipo do trabalho (...) o trabalho corresponde à ordem divina das coisas. Às obras de Deus correspondem as obras dos homens. O primeiro homem foi colocado no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo. O trabalho é a atribuição normal prescrita para o homem pelo Criador. É por meio do trabalho que Deus associa o homem à sua obra criadora. É o sinal pelo qual Deus atesta que o homem é seu colaborador. O trabalho faz, pois, parte das disposições da sabedoria divina. Toda a criação trabalha. A ociosidade é condenada. O trabalho é ordem expressa de Deus ao homem. Desta forma, pois, o trabalho do homem é bom, enquanto for a resposta a esta ordem e se inspirar na obra de Deus. [Herrade Mehl-Koehnlein]
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O OCIDENTE, A BÍBLIA E O TR ABALHO
O trabalho ocupa lugar de destaque na Bíblia Sagrada. O Deus da Bíblia é um Deus trabalhador: “Meu Pai continua trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando”, disse Jesus [João 5:17]. A visão negativa a respeito do trabalho não consta da matriz original da tradição judaico-cristã. A cultura ocidental associa trabalho com castigo ou maldição. Isso se deve a um equívoco na leitura do Gênesis. Geralmente, o ponto de partida para a compreensão da perspectiva judaico-cristã a respeito do trabalho é a declaração feita por Deus a Adão: Visto que você deu ouvidos à sua mulher e comeu do fruto da árvore da qual eu lhe ordenara que não comesse, maldita é a terra por sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua vida. Ela lhe dará espinhos e ervas daninhas, e você terá que alimentar-se das plantas do campo. Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra, visto que dela foi tirado; porque você é pó e ao pó voltará. [Gênesis 3:17-19] Mas a verdade é que o trabalho aparece na Bíblia Sagrada muito antes dessa maldição sobre Adão. A começar da própria atividade criadora de Deus, o tra-
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balho é uma realidade presente na vida no paraíso. Adão e Eva recebem a delegação de administrar toda a criação de Deus, o que a teologia chama de Mandato Cultural: Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus os abençoou, e lhes disse: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra”. [Gênesis 1:26-28] Mas a verdade é que Adão deu nome a todos os animais, e isso certamente implica muito mais do que identificar com etiqueta cada bicho que passava ou simplesmente decidir como chamaria cada um deles. Na cultura judaica, o nome identifica o caráter e define um destino, ou, se preferir, um design – desígnio, propósito. Isso significa que o trabalho de dar nome aos animais pode ter implicado uma espécie de catalogação por espécie, ou no mínimo, um estudo dos animais
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para definir a maneira como o ser humano deveria se relacionar com cada uma das espécies. Exagerando um pouco, podemos dizer que Adão teria sido o precursor do que hoje entendemos como zoologia e biologia. Charles Darwin bem pode ter se inspirado em seu pai ancestral para sair em busca da origem das espécies. Disse também Deus: “Encham-se as águas de seres vivos, e sobre a terra voem aves sob o firmamento do céu”. Assim Deus criou os grandes animais aquáticos e os demais seres vivos que povoam as águas, de acordo com as suas espécies; e todas as aves, de acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom. Então Deus os abençoou, dizendo: “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham as águas dos mares! E multipliquem-se as aves na terra”. Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o quinto dia. E disse Deus: “Produza a terra seres vivos de acordo com as suas espécies: rebanhos domésticos, animais selvagens e os demais seres vivos da terra, cada um de acordo com a sua espécie”. E assim foi. Deus fez os animais selvagens de acordo com as suas espécies, os rebanhos domésticos de acordo com as suas espécies, e os demais seres vivos da terra de acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom. [Gênesis 1:20-25]
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Depois que formou da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu, o Senhor Deus os trouxe ao homem para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a cada ser vivo, esse seria o seu nome. [Gênesis 2:19] O primeiro casal, Adão e Eva, recebeu a tarefa de cultivar e cuidar do Jardim do Éden. O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo. [Gênesis 2:15] Isso é suficiente para perceber que o trabalho não é experiência posterior ao chamado pecado original ou à maldição de Deus ao homem e à mulher. Trabalho não é castigo. Mas pode ser penoso. Uma coisa não está necessariamente ligada à outra. Somado a esse equívoco hermenêutico, existe também o debate a respeito da etimologia da palavra trabalho. Tripalium (do latim, literalmente, três paus) era primeiramente um instrumento usado pelos agricultores para bater o trigo e também para rasgar e esfiapar espigas de milho. Muitos dicionários, entretanto, identificam o tripalium apenas como instrumento romano de tortura no qual eram supliciados os escravos. Essa
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é uma possível origem da palavra trabalhador, que em um primeiro momento seria o carrasco. Trabalhar, isto é, no latim tripaliare significava torturar alguém no tripalium. O JA R D I M , A T E R R A A M A L D I Ç OA DA E O T R A B A L H O
O melhor entendimento da narrativa do Gênesis vai concluir que trabalhar é cooperar com Deus para colocar ordem no caos. O caos é o mundo pós rebelião, isto é, o mundo que tem origem com o chamado pecado original de Adão. Adão e Eva estavam inicialmente no jardim a leste do Éden, identificado como paraíso. Mas depois aparecem numa terra amaldiçoada, que produz espinhos e ervas daninhas, em vez de flores e frutos. O caos é o que caracteriza o ambiente desértico fora do paraíso. O caos é próprio de uma terra amaldiçoada. O Gênesis deixa claro que a nova situação do primeiro casal se deve a uma transgressão. E o Senhor Deus ordenou ao homem: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá”. [Gênesis 2:16-17]
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Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’? “ Respondeu a mulher à serpente: “Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’ “. Disse a serpente à mulher: “Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal”. Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se. Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus que andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim. Mas o Senhor Deus chamou o homem , p e r g unta nd o: “O nd e e s tá v o cê? “ E ele respondeu: “Ouvi teus passos no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; por isso me escondi”.
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E Deus perguntou: “Quem lhe disse que você estava nu? Você comeu do fruto da árvore da qual lhe proibi comer? “ Disse o homem: “Foi a mulher que me deste por companheira que me deu do fruto da árvore, e eu comi”. O S e n h o r D e u s p e r g unto u e ntã o à mulher: “Que foi que você fez?”. Respondeu a mulher: “A serpente me enganou, e eu comi”. Então o Senhor Deus declarou à serpente: “Já que você fez isso, maldita é você entre todos os rebanhos domésticos e entre todos os animais selvagens! Sobre o seu ventre você rastejará, e pó comerá todos os dias da sua vida. Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”. À mulher, Ele declarou: “Multiplicarei grandemente o seu sofrimento na gravidez; com sofrimento você dará à luz filhos. Seu desejo será para o seu marido, e ele a dominará”. E ao homem declarou: “Visto que você deu ouvidos à sua mulher e comeu do fruto da árvore da qual eu lhe ordenara que não comesse, maldita é a terra por sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua vida. Ela lhe dará espinhos e ervas daninhas, e você terá que alimentar-se das plantas do campo. Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra, vis-
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to que dela foi tirado; porque você é pó e ao pó voltará”. Ad ã o d e u à s ua mul her o nome d e Eva , pois ela seria mãe de toda a humanidade. O Senhor Deus fez roupas de pele e c o m e l a s v e s t i u A d ã o e s u a m u l h e r. Então disse o Senhor Deus: “Agora o homem se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Não se deve, pois, permitir que ele também tome do fruto da árvore da vida e o coma, e viva para sempre”. Por isso o Senhor Deus o mandou embora do Jardim do Éden para cultivar o solo do qual fora tirado. Depois de expulsar o homem, colocou a leste do Jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que se movia, guardando o caminho para a árvore da vida. [Gênesis 3:1-24] Geralmente se compreende o pecado do primeiro casal como transgressão moral: desobedecer um mandamento ou contrariar uma regra de comportamento estabelecidos por Deus. Mas a questão não é meramente moral. Como a teologia e a filosofia dizem, o pecado é de dimensão ontológica, isto é, da natureza e constituição do ser. Mais precisamente, o pecado do primeiro casal, que se estende à toda a raça – cada homem é Adão de sua própria alma (Russel Shedd), é a tentativa de existir fora de Deus, como ser autônomo
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e auto-suficiente. A melhor síntese do que chamamos pecado original que resultou na expulsão do primeiro casal do paraíso pode ser encontrada nas palavras de C. S. Lewis: A partir do momento em que você tem um “eu”, surge a possibilidade de colocá-lo em primeiro lugar, de querer ser o centro – de querer, na verdade, ser Deus. Foi esse o pecado de Satanás; e esse também o pecado que ele ensinou à raça humana. Algumas pessoas pensam que a queda do homem está relacionada ao sexo, mas isso é um erro (o livro de Gênesis na verdade sugere que a depravação da nossa natureza sexual foi resultado da queda, e não sua causa). O que Satanás colocou na cabeça dos nossos ancestrais mais remotos foi a idéia de que eles poderiam ser “como deuses” – que poderiam depender de si mesmos como se tivessem sido seus próprios criadores. “Sejam seus próprios mestres”, dizia ele, “inventem o tipo de felicidade que vocês desejam para si mesmos, fora de Deus”. E foi dessa tentativa desesperada que surgiu praticamente tudo o que se relaciona ao que chamamos de história humana: dinheiro, pobreza, ambições, guerras, prostituição, classes, impérios, escravidão. A longa e terrível história do homem à procura de algo diferente de Deus para lhe trazer felicidade.
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Expulso do paraíso, em rebelião contra Deus, o Criador, o ser humano está não apenas em um ambiente hostil, como também a mercê das bestas feras e de todos os animais selvagens. O ser humano que volta as costas para Deus fica de frente para a Serpente. Mais do que isso, fica ele também serpentizado. No Gênesis se diz que homem e mulher estavam nus e não se envergonhavam [2.25]. Mas também diz que depois de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, tiveram vergonha de sua nudez [3.7]. Na verdade, a Bíblia está falando de dois tipos de nudez. Uma, a da integridade. A outra, a da astúcia da serpente, que é descrita como astuta [3.1]. A palavra nudez e astúcia são da mesma raíz: arum, arumin. O primeiro casal que dá ouvidos à serpente astuta, arum, se torna arumim. A imagem de deus é substituída pela imagem da serpente. Agora, a matriz da identidade do ser humano é não mais apenas a imago Dei [Gênesis 1.26,27], mas também a imagem da serpente. O mundo não é mais identificado com um paraíso, ou o que os gregos chamavam de cosmos. Antes, cuidado pelo ser humano em parceria com Deus, o mundo era um todo harmônico de equilíbrio e beleza. Agora, usurpado pelo ser humano que se associa à serpente, o mundo é um caos, e, conforme a linguagem do Novo Testamento, está sob o poder do Maligno [1João 5.19], que é o deus deste mundo [2Coríntios 4.4].
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Trabalhar é, portanto, cooperar com Deus para colocar ordem no caos. Outra forma de dizer isso é afirmar que trabalhar é cooperar com Deus para que venha o Reino de Deus, isto é, para que a vontade de Deus seja feita na terra como é feita no céu [Mateus 6.9,10]. O Reino de Deus é equivalente ao jardim, de onde o homem foi expulso. O jardim é o mundo sob o comando de Deus. Toda vez que um ambiente, uma relação, uma atividade são submetidos a Deus, o caos começa a entrar em ordem, isto é, o jardim dá os seus sinais. Haverá um dia quando o caos será transformado em jardim. Nesse dia, o Reino de Deus, que já foi inaugurado, estará consumado. Enquanto o Reino de Deus não vem em plenitude, nós trabalhamos para que ele seja sinalizado ao nosso redor. Enquanto o mundo todo não é transformado em um grande e único jardim, nós construímos alguns jardins no mundo. O R E I N O, A I G R E JA E O M U N D O
O Reino de Deus é o domínio de Deus sobre todas as dimensões de toda a criação. O Jardim do Éden é o símbolo do Reino, onde as relações entre Deus e os seres humanos - o ser humano e o restante da criação, e o ser humano e seu próximo - vivem a harmonia que resulta em justiça, paz e alegria. Expulso do Jardim (o mundo conforme Deus), o homem está no mundo (sistema humano).
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O conceito bíblico de mundo é tríplice. • universo natural, o “mundo criação”: Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe, o mundo e os que nele vivem [Salmos 24:1]; • a totalidade dos seres humanos, o “mundo humanidade”: Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna [João 3:16]; • o sistema organizado em oposição à vontade de Deus, o “mundo sistema”: Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus [Romanos 12:2]; Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provêm do Pai, mas do mundo [1 João 2:15-16]. A Igreja é a parte do “mundo humanidade”, que habita o “mundo criação”, mas não está submetida – não pertence - ao “mundo sistema”, pois a maneira como se organiza em termos de valores, relações e padrões de justiça está sujeita ao Reino de Deus – domínio de Deus. A tarefa da Igreja é sabotar o “mundo sistema”,
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sinalizando o Reino de Deus para o restante do “mundo humanidade”. Em outras palavras: cooperar com Deus para colocar ordem no caos. OS SINAIS DO REINO DE DEUS
A tarefa da Igreja é sabotar o “mundo sistema”, cuidando do “mundo criação” e sinalizando o Reino de Deus para o restante do “mundo humanidade”. Jesus inaugurou o Reino de Deus na história [Marcos 1:14,15; Lucas 11:20], mas o Reino será consumado na eternidade [Mateus 26:29; 1Coríntios 15:24-28], pois em sua plenitude o Reino de Deus não é deste mundo [João 18:36]. Isso significa duas coisas. A primeira é que a experiência do Reino de Deus é uma possibilidade histórico–social, mas também que sua plenitude é uma realidade inclusive espiritual e atemporal. Nas palavras de Robinson Cavalcanti, “a Igreja deve manifestar aqui e agora, como anúncio profético, a maior densidade possível do Reino que será consumado ali e além” – o novo céu e a nova terra [Apocalipse 21:1]. Em outras palavras, o mundo–humanidade saberá da existência do Reino eterno quando este Reino eterno mostrar os seus sinais na história. Os sinais do Reino de Deus foram manifestos no ministério terreno de Jesus e podem ser resumidos
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em três expressões: salvação – o relacionamento com Deus; libertação – a destruição das obras dos poderes do mal e do Maligno; e restauração – a retomada do projeto original de Deus. A Igreja é herdeira da missão terrena de Jesus [João 17:18; 21:20] e deve protagonizar os mesmos sinais, sendo ela mesma o maior sinal do Reino de Deus [Mateus 5:13-16; Efésios 3:10]. S U O R D O R O S T O, C A N S AÇ O E D E S GA S T E
Expulso do paraíso o homem vive em uma terra amaldiçoada que produz espinhos e ervas daninhas, o que explica porque o trabalho é acompanhado de fadiga e suor do rosto. Estes espinhos e ervas daninhas podem simbolizar muitas coisas. Por exemplo, as demandas e exigências do mercado, do cliente, do patrão, e até mesmo da própria consciência de um profissional responsável. Podem apontar também para as dificuldades nos relacionamentos pessoais, a competitividade e a injustiças no ambiente de trabalho. E também podem ser figuras do mal incrustado no próprio coração humano, que gera toda sorte de injustiças e conflitos presentes tanto nos contextos mais afetivos, como a família, quanto nos espaços de convivência da sociedade e do ambiente de trabalho, chegando aos choques de civilizações e guerras entre as nações.
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Todos os ambientes, relacionamentos e atividades contrárias ao caráter e propósitos de Deus podem ser considerados terras amaldiçoadas, cheias de espinhos e ervas daninhas. Todas as vezes que o ser humano estiver inserido em tais contextos experimentará fadiga, cansaço, desgaste e sofrimento inerentes ao esforço para promover a ordem no caos. JÁ E A I N DA N ÃO
Como já dissemos, a Igreja deve manifestar aqui e agora a maior densidade possível do Reino de Deus que será consumado ali e além. Quando falamos em maior densidade possível, admitimos que jamais conseguiremos expressar a totalidade do Reino de Deus na história. Isso nos coloca diante do “princípio do Já e Ainda não”, que implica três posturas distintas. John Stott sugere que há os “otimistas iludidos”, que acreditam que tudo quanto existe no Reino de Deus está disponível hoje, e nesse caso, para aqueles que tiverem fé suficiente haverá pouca diferença entre o céu e a terra. Do outro lado da calçada estão os “pessimistas sombrios” que acreditam que nada está disponível e vivem angustiados à espera do céu, onde, aí sim, tudo será resolvido. A melhor postura é a dos “realistas engajados”, que sabem das limitações das possibilidades do Reino de
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Deus na história, mas, animados pela utopia e esperança do futuro, buscam com todas as forças experimentar e manifestar aqui e agora os “primeiros frutos” deste Reino. T R A B A L H O E A D O R AÇ ÃO
A atividade profissional é um ato de adoração – todo trabalho deve ser um serviço a Deus. A palavra grega mais comum para designar o serviço a Deus é liturgia, que geralmente associamos à ordem de uma cerimônia religiosa. A palavra liturgia foi usada no Novo Testamento com pelo menos três significados diferentes e complementares. Liturgia é o serviço de uma pessoa para outra, como a ajuda financeira que os cristãos da Ásia enviaram aos cristãos de Jerusalém [Romanos 15:25,26], ou a oferta que Epafrodito levou de Filipos para o apóstolo Paulo na prisão em Roma [Filipenses 4:18]. Liturgia é também o serviço religioso, como as atividades dos pastores e profetas de Antioquia [Atos 13:1-3], o ministério apostólico de Paulo aos gentios [Romanos 15:15,16]. Finalmente, liturgia é o serviço público de uma autoridade civil, como o ato de governar e julgar [Romanos 13.1-7]. Liturgia é um ato que beneficia pessoas e é feito por ordenação divina ou como expressão de adoração a Deus. Esta é a razão porque relacionamos a atividade profissional como um ato de adoração.
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A G R A N D E N O V I DA D E
A grande novidade é a redenção do trabalho. Existem pelo menos 5 razões para crermos assim: • O trabalho é parte integrante do caráter de Deus: Deus trabalha, Deus é trabalhador, e o Filho de Deus também; • O trabalho tem origem em Deus: foi Deus quem delegou o cuidado de sua criação ao ser humano; • O trabalho é a maneira como nos identificamos com Deus, como nos tornamos co-participantes de sua atividade criativa e produtiva; • O trabalho é a principal maneira como servimos a Deus no mundo; • Todo e qualquer trabalho feito em harmonia com o caráter de Deus e que promove o útil e o belo em favor das pessoas pode e deve ser considerado um ato de adoração a Deus. Essas afirmações sugerem que podemos e devemos redimir o trabalho de sua dimensão de fadiga, cansaço e desgaste, isto é, esvaziar a experiência de trabalhar de qualquer associação com castigo e maldição. Parece claro que a Bíblia e a teologia revelam dois grandes segredos a esse respeito.
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T R A B A L H A R PA R A D E U S
Para redimir o trabalho você precisa trabalhar para Deus. Escravos, obedeçam em tudo a seus senhores terrenos, não somente para agradar os homens quando eles estão observando, mas com sinceridade de coração, pelo fato de vocês temerem ao Senhor. Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo. [Colossenses 3:22-24] # 1
A expressão “é a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo” significa pelo menos três coisas. A primeira é que o que você está fazendo deve atender aos interesses e propósitos de Deus, isto é, deve ser uma forma de cooperar com Deus para colocar ordem no caos. Seu trabalho é a maneira como você contribui para que esse mundo se organize de maneira útil em benefício do maior número possível de pessoas. Pense em algo necessário para que o mundo funcione, algo que as pessoas realmente precisam que seja feito para que suas legítimas necessidades sejam satisfeitas e suas vidas sejam afetadas em menores e cada vez menores
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proporções de sofrimento: isso é trabalhar para Deus, pois trabalhar para as pessoas é trabalhar para Deus. Servir pessoas é servir a Cristo. # 2
O segundo significado é que em última instância é a Cristo a quem você deve se reportar. Em outras e simples palavras, seu verdadeiro chefe é Cristo. Isso significa também duas coisas: seu padrão de qualidade no serviço, e sua integridade na maneira como você faz o seu trabalho. Sabendo que tudo quanto você faz tem “Cristo como cliente”, evidentemente, você não vai fazer de qualquer jeito, e muito menos vai entregar qualquer coisa. # 3
Finalmente, mas não menos importante, apenas quem trabalha para Deus consegue transformar caos em cosmos, sendo verdade o oposto. O jardim se transforma em terra amaldiçoada não por causa de um castigo de Deus, mas por causa da postura do homem em viver como se Deus não existisse. Os males do mundo se explicam pelo pecado do homem. Como disse C. S. Lewis, a história humana marcada pela pobreza e pela injustiça, resulta da ação do homem em sua tentativa desesperada de inventar a felicidade
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nos seus próprios termos, vivendo e existindo como se Deus não existisse. O homem egocêntrico promove o caos. Quem trabalha para Cristo constrói jardins. T R A B A L H A R N O SH A B AT
Para redimir o trabalho de sua dimensão de fadiga, cansaço e desgaste, isto é, esvaziar a experiência de trabalhar de qualquer associação com castigo e maldição, você precisa trabalhar no shabat. Mais uma vez, você deve fazer o caminho inverso ao que foi feito pelo primeiro casal, nossos pais ancestrais Adão e Eva. Eles quiseram construir o mundo à sua imagem e semelhança, e acabaram transformando o jardim em uma terra amaldiçoada. Transformaram o cosmos em caos. Para transformar caos em cosmos precisamos voltar a trabalhar para Deus. Adão e Eva também acreditaram que seriam capazes de construir o mundo com suas próprias mãos, suas próprias forças, como se fossem auto-suficientes, plenos em si mesmos, e abdicaram de qualquer interferência de Deus. O trabalho se tornou penoso, e eles experimentaram não apenas o cansaço e a fadiga, mas também e principalmente o desgaste. Viver passou a ser sinônimo de uma luta sem trégua, e desde então a vida deixou de ser encarada como dádiva divina e passou a se sustentar no esforço humano.
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O shabat é uma tradição milenar judaica. Desde a Lei de Moisés, consta dos Dez Mandamentos. Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor, teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor o abençoou. [Êxodo 20:8-11] Original e literalmente, guardar o sábado indica o descanso ao final de um ciclo semanal de trabalho produtivo, seguindo o exemplo de Deus que descansou ao sétimo dia da criação. Mas o Novo Testamento ensina que o shabat é uma metáfora do céu, o verdadeiro e definitivo lugar de descanso. Considerando que céu não é sinônimo de ociosidade, e muito menos que Deus deixou de trabalhar, parece que shabat e trabalho não são experiências antagônicas ou mutuamente excludentes, como se você tivesse que escolher entre trabalhar ou guardar o sábado.
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O shabat pode ser compreendido muito mais como uma postura em relação a Deus e à vida, e também em relação ao trabalho, do que uma pausa nas atividades. Dia de folga não é o mesmo que dia de descanso. Muitas pessoas folgam sem descansar, e outras tantas trabalham sem se cansar. A diferença está na atitude interior. Aqueles que acreditam que o pão sobre a mesa é uma conquista meritória humana, trabalham sem parar, e como Atlas, carregam o mundo nas costas. Os que acreditam que o pão de cada dia é dádiva divina trabalham livres da ansiedade e do stress que caracteriza os que, consciente ou inconscientemente, querem ocupar o lugar de Deus. Se não for o Senhor o construtor da casa, será inútil trabalhar na construção. Se não é o Senhor que vigia a cidade, será inútil a sentinela montar guarda. Será inútil levantar cedo e dormir tarde, trabalhando arduamente por alimento. O Senhor concede o sono àqueles a quem ama. [Salmos 127:1-2] Portanto eu lhes digo: não se preocupem com suas próprias vidas, quanto ao que comer ou beber; nem com seus próprios corpos, quanto ao que vestir. Não é a vida mais importante do que a comida, e o corpo
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mais importante do que a roupa? Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas? Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Contudo, eu lhes digo que nem Salomão, em todo o seu esplendor, vestiu-se como um deles. Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé? Portanto, não se preocupem, dizendo: “Que vamos comer?” ou “que vamos beber?” ou “que vamos vestir?”. Pois os pagãos é que correm atrás dessas coisas; mas o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal. [Mateus 6:25-34] Servir a Deus cansa, mas não desgasta. Trabalhar para Deus implica suor do rosto. Mas está longe de ser uma experiência parecida com o que entendemos como castigo e maldição.
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E M T R I N TA SEG U N D O S
Deus criou um jardim e convidou o ser humano para viver nele O ser humano colocou Deus para fora e transformou o jardim em um deserto O jardim é obra das mãos de Deus O deserto é obra das mãos dos homens O jardim era um cosmos: lugar de abundância e beleza O deserto é um caos: lugar de injustiça e pobreza O jardim era lugar de flores e frutos O deserto é lugar de espinhos e ervas daninhas No jardim, o ser humano trabalhava para cuidar e cultivar No deserto, o ser humano trabalha para sobreviver No jardim, o trabalho era cansativo, mas não era penoso No deserto, o trabalho é extenuante e desgastante No jardim, trabalhar era cooperar com Deus No deserto, trabalhar é rivalizar/competir com Deus No jardim, o ser humano trabalha para Deus No deserto, o ser humano trabalha para si mesmo No jardim, o ser humano desfruta coletivamente de tudo quanto é belo e bom No deserto, o ser humano acumula egoisticamente o belo e o bom
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Mas é possível plantar e cultivar jardins no deserto O deserto e a terra ressequida se regozijarão; o ermo exultará e florescerá como a tulipa; irromperá em flores, mostrará grande regozijo e cantará de alegria. A glória do Líbano lhe será dada, como também o resplendor do Carmelo e de Sarom; verão a glória do Senhor, o resplendor do nosso Deus. Fortaleçam as mãos cansadas, firmem os joelhos vacilantes; digam aos desanimados de coração: “Sejam fortes, não temam! Seu Deus virá, virá com vingança; com divina retribuição virá para salvá-los”. Então se abrirão os olhos dos cegos e se destaparão os ouvidos dos surdos. Então os coxos saltarão como o cervo, e a língua do mudo cantará de alegria. Águas irromperão no ermo e riachos no deserto. A areia abrasadora se tornará um lago; a terra seca, fontes borbulhantes. Nos antros onde outrora havia chacais, crescerão a relva, o junco e o papiro. E ali haverá uma grande estrada, um caminho que será chamado Caminho de Santidade. Os impuros não passarão por ele; servirá apenas aos que são do Caminho; os insensatos não o tomarão. Ali não haverá leão algum, e nenhum animal feroz passará por ele; não se acharão ali. Só os redimidos andarão por ele, e os que o Senhor resgatou voltarão. Entrarão em Sião com cantos de alegria; duradoura alegria
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coroará suas cabeças. Júbilo e alegria se apoderarão deles, e a tristeza e o suspiro fugirão. [Isaías 35:1-10]
© 2012 Ed René K iv itz
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