Folha da Rua Larga Ed.43

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Sacha Leite

início e expansão do carnaval de rua

Arava o plano. Plantou o plano. E as imagens nasceram

Saiba quando aconteceram os primeiros desfiles pela Rio Branco e quais blocos fizeram tradição no carnaval carioca. Aloysio Clemente Breves lembra da história de ícones como “Cacique de Ramos” e “Bafo da Onça” e apresenta os blocos atuais.

Após traçar o perfil dos artistas que ocupam ateliês no Morro da Conceição, Teresa Speridião tem sua trajetória contada, de forma poética, pelo filho Gustavo.

folha da rua larga

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folha da rua larga RIO DE JANEIRO | JANEIRO – FEVEREIRO DE 2014

cultura e cidadania

Galeria de arte é inaugurada no Morro da Conceição

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 43 ANO VII

Imóveis degradados do Centro terão incentivo para reforma Carolina Monteiro

Villa Olívia Artes abre as portas com a décima edição da exposição “A cara do Rio”. Os 40 artistas participantes traduzem, em linguagem artística, qual é a essência da cidade. Marcelo Frazão é proprietário e curador do novo espaço página C8 cultural.

R$ 3,8 mi para alavancar projetos culturais no Porto do Rio 34 produtores culturais, sendo 21 empresas e 13 pessoas físicas, receberam o Prêmio Porto Maravilha Cultural. Iniciativas como Galpão Gamboa, Instituto Pretos Novos, o samba na Pedra do Sal e a biblioteca no Morro da Conceição foram contempladas.

cultura e cidadania I capa

página C6

gastronomia

cultura e cidadania

Beterraba muda de endereço, mas se mantém na região página 14 Divulgação

Dona Joana mistura música a outras formas de arte em shows catárticos O coletivo de artistas realiza apresentações performáticas e divertidas, com repertório autoral e versões de canções consagradas. Stephânia Medeiros, membro do conjunto desde sua fundação, fala da trajetória e das principais características da banda. Moradora do Morro da Conceição, ela conta que já se apresentou diversas vezes na região. páginas C4 e C5

É Carnaval!, de Paulo Villela, está na mostra do Vila Ollivia Artes, no Morro da Conceição


2 folha da rua larga

janeiro – fevereiro de 2014

nossa rua editorial Uma singela homenagem a um grande homem

A edição mais balzaquiana da Rua Larga Pela trigésima vez, edito o jornal Folha da Rua Larga. Trinta vezes reuniões de pauta, pesquisas, apurações, diálogos, negociações, assuntos, pessoas, conversas e trabalho em equipe. Cinco anos conhecendo os bairros do Centro do Rio e Zona Portuária, embebendo-me nas suas travas, amarras, armadilhas, faltas, abandono, imundície... Novidades, limpezas, tentativas, oportunidades, preocupações, melhoras reais, melhoras virtuais, comércio, empresas, residências, casario, ritmos, traçados, sorrisos, reformulações... Esperança. A cada dois meses, ao encontrar a pauta em branco, cubro-me de pânico e responsabilidade em compor uma edição que valha a pena ser produzida e, sobretudo, que valha ser lida depois de escrita. Em uma época de informações em tempo real, as obras de revitalização do Porto são noticiadas de forma instantânea. Todos sabem sobre as mudanças no trânsito. Basta “jogar”no Google e, em alguns centésimos de segundo, ter o mapa exato de como trafegar corretamente após intervenções que acabaram de acontecer. Portanto, o nosso desafio é falar de algo que permaneça um pouco mais do que um dia, uma semana, um mês. Falamos do cotidiano e de coisas que têm data para acontecer, mas focamos especialmente no intangível, em conversas exclusivas, registros inusitados, nas opiniões de quem frequenta, estuda ou admira o lugar. Nas questões que afligem, sinceramente, quem vive e trabalha na região. Por sermos um jornal dedicado a uma região específica da cartografia do Rio de Janeiro – Centro do Rio e Zona Portuária –, temos a tarefa especial de encontrar pautas locais. Tudo que diz respeito à localidade nos interessa. Mas, além disso, devemos examinar links com a região e trazer à tona assuntos correlatos, mesmo que estejam oldfashioned, malditos ou polêmicos. Temos o compromisso de saudar cada passante do Centro com imagens, palavras e arranjos renováveis periodicamente. O Morro da Conceição, a Providência, a Praça da Harmonia, a Rua Pedro Ernesto, o Galpão da Cidadania, centros culturais e lojas da região devem receber nossas edições bimestralmente – nos meses pares – sempre a partir do dia 15. Se não receber, cobre! Adoramos quem liga para pedir jornal. Adoramos críticas e sugestões. Na edição mais balzaquiana da Folha da Rua Larga, anuncio que criamos uma página no Facebook. Então, além do site do jornal, é possível acompanhar as novidades também por essa rede social. Enfim, só tenho a declarar que curti muito cada uma das 30, cada uma como se fosse única e a última. Sinto-me inspirada e protegida pelos espíritos frequentadores da Pedra do Sal e arredores, encarnando a tarefa de comunicar o que é fugaz, característico, marcante, assombroso, belo e essencial desta região cheia de heranças de múltiplas faces.

Faz um mês que a Folha da Rua Larga perdeu seu produtor gráfico e eu perdi o meu pai – Paulo Batista. Quando fui convidada a escrever um texto sobre ele, eu já sabia que estaria diante de uma das tarefas mais difíceis nos meus dez anos de profissão. Portanto, decidi redigir uma última carta a esse homem que marcou profundamente a minha história e que deixou um pedacinho seu na vida de cada pessoa que cruzou o seu caminho. “Querido paizinho, Estas poucas linhas que escrevo não serão capazes de expressar tudo o que gostaria de lhe dizer neste momento, logo prefiro me concentrar em apenas lhe agradecer. A começar, por ter aberto o seu coração para me amar e me deixar ser sua filha. Por ter se dedicado tanto à nossa família e trabalhado duro para realizar nossos sonhos. Sou grata pelas broncas e castigos que me ensinaram muito, mas também por cada conselho, que você tinha a maior paciência em dar. Por cada abraço protetor e beijo afetuoso que recebi. Por cada perdão seu concedido e pelos seus pedidos de perdão também. Agradeço por ter me revelado que, apesar da sua aparência durona, você era uma pessoa sensível. Pelas poucas vezes em que me permitiu vê-lo derramar lágrimas, mas que foram suficientes para me fazer amá-lo por isso. Em contrapartida, você conquistava as pessoas com seu humor característico, cheio de piadas e brincadeiras que arrancavam risos de todo mundo. Obrigada por isso também. Também quero lhe agradecer, pai, por ter sido um exemplo de profissional competente e comprometido com seu trabalho. Fomos parceiros algumas vezes e em todas você sempre acreditou no meu potencial. Obrigada por aquele sorriso orgulhoso que você estampava no rosto cada vez que me presenteava com algo que eu desejava muito. Aliás, foi você quem me deu a viagem da minha vida, quando fui para Nova York em lua de mel, e isso eu jamais esquecerei. Eu sempre me recordarei do dia do meu casamento, quando segurei o seu braço e você me conduziu ao altar. Aqueles segundos antes da Marcha Nupcial tocar, nós dois ainda do lado de fora – um momento que foi só nosso. A cumplicidade de um pai e sua filha no dia mais importante da vida dela.

folha da rua larga Conselho editorial - Fernando Portella, Francis

Projeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana

Miszputen, Maria Eugênia Duque Estrada, Mário

Lins

Margutti, Mozart Vitor Serra, Roberta Abreu, Sacha

Diagramação - Suzy Terra

Leite, Teresa Serra e Teresa Speridião

Revisão ortográfica - Raquel Terra

Direção executiva - Fernando Portella

Produção gráfica - Suzy Terra

Editora e jornalista responsável - Sacha Leite

Produtora Executiva - Roberta Abreu

Colaboradores - Aloysio Clemente Breves Beiler, Ana

Impressão - Maví Artes Gráficas Ltda.

Carolina Portella, Carolina Monteiro, Daniel Murgel,

Contato comercial - Teresa Speridião

Fernando Portella, Gustavo Speridião, Raquel Terra,

Tiragem desta edição: 6.000 exemplares

Sacha Leite e Stephânia Medeiros

Anúncios - comercial@folhadarualarga.com.br

Redação do jornal Rua São Bento, 9 - 1º andar - Centro Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690 www.folhadarualarga.com.br redacao@folhadarualarga.com.br

Simplesmente, obrigada. Justamente por isso, agradeço por você ter sido um marido tão apaixonado e companheiro para a minha mãe – os dois pincelaram um retrato tão lindo de casamento duradouro e verdadeiro. Por fim, encerro esta carta tão singela agradecendo a Deus por ter permitido que eu e você fizéssemos parte da vida um do outro. Agradeço também em nome da minha mãe e dos meus irmãos, pois você, Paulo Batista dos Santos, será sempre inesquecível para nós. Com saudade eterna, Raquel Terra.”


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4 folha da rua larga

janeiro – fevereiro de 2014

história baú da rua larga

A onça, a pedra e um tombo no carnaval Reprodução

O Café Paraíso, na Rua Larga de São Joaquim, no fim do século XIX, era frequentado por sambistas baianos. O Rei de Ouros, pioneiro rancho de carnaval, foi criação de Hilário Jovino, mestre-sala, que proporcionou aos cariocas o primeiro desfile. Com as cores vermelho e amarelo e a inusitada participação de mulheres – as baianas –, portavam estandartes confeccionados na Casa Sucena, especializada em artigos religiosos. O carnaval se expandiu com as escolas de samba desfilando na Avenida Rio Branco e os blocos Cacique de Ramos e Bafo da Onça. Passamos por algumas décadas sem o carnaval de rua, e as escolas se transformaram em empresas. O carnaval ficou frio, disseram alguns. O momento atual é de irreverência e uma apoteose de blocos pela cidade. Dizem alguns que é o verdadeiro carnaval. Com a explosão, a prefeitura pensa em limitar o número de blocos que passam dos 500. Na região da Rua Marechal Floriano, Alexandre Mackenzie, Senador Pompeu, Largo de São Francisco da Prainha, Pedra do Sal e Morro da Conceição,

proliferam-se agremiações com nomes interessantes. “Escravos da Mauá”, “É pequeno, mas vai crescer”, “Larga a Onça, Alfredo!”, para citar alguns. O Escravos da Mauá hoje é um gigante. Surgiu em 1993, composto por profissionais que trabalham no Centro da cidade e que cultuam e divulgam essa região tão rica em história. O bloco É pequeno, mas vai crescer foi criado, em 2007, por um grupo de amigos fregueses do bar do Chico “O perigoso”, que fica na esquina das ruas Senador Pompeu com Alexandre Mackenzie. O Larga a Onça, Alfredo! surgiu de uma roda de companheiros que bebericavam numa segunda-feira de primavera, à noite, num boteco no Alto Cosme Velho. Por conta da zombaria dos amigos com um tal de Alfredo, que apareceu todo amarfanhado, afirmando ter sido atacado por uma onça ao ir ao banheiro na mata, o ataque da fantasmagórica onça serviu de mote para o bloco. Reunidos com alunos da Maracatu Brasil em Laranjeiras, aconteceu o primeiro desfile em 2008. Durante o ano, o bloco bate ponto no Largo da

Bloco Bafo da Onça surgiu em 1956 como um dos pioneiros do carnaval de rua do Rio

Prainha, Pedra do Sal e Morro da Conceição, onde realiza ensaios e encontros musicais, e uma semana antes do carnaval, desfila da Rua Ipiranga à Praça São Salvador. O trajeto é curto e leva-se mais de três horas para chegar à praça. Justificável demora, pois o calor e a cerveja são parceiros da alegria e do vagaroso passo da Onça. A bateria com uma expressiva quantidade de mulheres

assombra pelo número de surdos e tamborins, promovendo um som único de acompanhamento de sambas-enredo de sucesso e marchinhas. Num dos ensaios, na Pedra do Sal, escorreguei e levei um monumental tombo na lisa pedra onde, no passado, chegavam escravos e sal. Segundo os mais experientes, isso é batismo, pois é carnaval. Nada impede, entretanto, que eu,

modesto folião, dispense de “arriscar” um tamborim na furiosa bateria. Fiquemos com a louvação do “Larga a Onça”, uma pérola emprestada de Juca do Bolo: Eu vi uma onça gemer na mata do arvoredo Olelê São João, me vale a São Pedro De onça eu tenho medo

Brincar o carnaval é relativamente fácil. Basta acompanhar um bloco, assistir à evolução de uma escola na passarela, ouvir um samba ou marchinha, ou até mesmo ver pela TV. “Brincar o carnaval!” – uma expressão antiga, e, sem dúvida, uma bela ideia de carnaval na rua.

aloysio clemente breves beiler soubreves@yahoo.com.br


cultura e cidadania

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio

janeiro – fevereiro de 2014

Edição Especial

Mais um incentivo ao Patrimônio Cultural da Zona Portuária Edital distribuirá R$ 4 milhões para restauração de imóveis privados na região Carolina Monteiro

O abandono que gera incêndios e desabamentos em edifícios no Centro do Rio terá incentivo para acabar. A prefeitura do Rio, por meio do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), está selecionando, através de edital público, projetos de restauração de imóveis que concorrerão a financiamento. “Uma das inspirações do Pró-Apac foi a experiência de Barcelona. Não estamos querendo ser originais, estamos apenas tentando avançar em alguns pontos e romper alguns gargalos”, explicou o presidente do IRPH, Washington Fajardo. No dia 21 de janeiro, o IRPH, em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), promoveu o seminário “O Centro do Rio: ambiências e patrimônio urbano”. O objetivo era discutir ações de valorização da região e detalhar o Programa de Apoio à Conservação do Patrimônio Cultural (Pró-Apac). Na ocasião, os presidentes do IRPH, Washington Fajardo, e do IAB-RJ, Pedro da Luz Moreira, lançaram oficialmente a campanha de valorização do Centro do Rio. Em seguida, uma mesa-redonda, com os arquitetos e urbanistas Rafael Winter Ribeiro, Flávio Ferreira, Sérgio Magalhães, Ernani Freire e Ubirajara Mello, discutiu conceitos e práticas de preservação do patrimônio. Para Washington Fajardo, a preservação da identidade e da memória

Washinton Fajardo convoca organizações interessadas no patrimônio do Centro para se inscreverem no edital

de uma cidade está diretamente relacionada à conservação de seu patrimônio cultural: “Precisamos valorizar e preservar a nossa história. Por isso, queremos continuar selecionando projetos que revitalizem o patrimônio do Rio”. Na avaliação de Pedro da Luz Moreira, o Centro do Rio concentra a maioria dos imóveis tombados da cidade, que precisam ser preservados. “O atual edital do IRPH contempla iniciativas de restauro para fins habitacionais, comerciais e culturais.

Essa mudança pode trazer ganhos qualitativos importantes àquela região”, explica Pedro da Luz. A expectativa é que sejam investidos ao todo R$ 12 milhões na restauração de antigos sobrados do Centro (R$ 8 milhões) e imóveis da Região Portuária (R$ 4 milhões). Na primeira edição, lançada em 2012, nove imóveis já foram contemplados. As inscrições para a segunda edição estão abertas até o dia 25 de fevereiro. Os projetos inscritos precisam prever a recuperação de imóveis de

quatro Áreas de Proteção do Ambiente Cultural (APACs): Corredor Cultural; Cruz Vermelha; Catumbi e Cidade Nova; Catete e Glória. A área prioritária e que teve mais relevância – maior pontuação na seleção – foi a compreendida no entorno da Praça Tiradentes, da Praça dos Arcos, na Lapa, e em imóveis com endereços voltados para as ruas do Lavradio, Mem de Sá e Rua da Lapa. Nessas regiões, cerca de 8.500 imóveis podem concorrer a cotas de fomento, que variam de R$

200 mil a R$ 400 mil. Ao todo, R$ 5,6 milhões serão investidos no Centro e R$ 4 milhões para a Região Portuária. A meta é chegar a mais de 20 restaurações. São aceitas inscrições de produtoras culturais, organizações não governamentais, organizações sociais, escritórios de arquitetura, empresas de engenharia com especialização em restauração ou cooperativas de artesãos e restauradores. Para concorrer, a empresa deve ter sede na cidade do Rio de Janeiro, e não são aceitas

inscrições de pessoas físicas, mesmo sendo os donos do imóvel. O evento também suscitou discussões sobre temas como as Áreas de Proteção do Ambiente Cultural (APAC) e a elaboração e apresentação de projetos de restauração. Além disso, durante a tarde, técnicos do IRPH fizeram assessoramento técnico para a elaboração dos projetos para participação no edital.

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br


C2 Edição Especial

janeiro – fevereiro de 2014

cultura e cidadania boca no trombone

Cliques Rua Larga

Divulgação

ROLEZINHO Nos anos 1960, tempo da Cuba Libre, época em que fumar não dava câncer, existiam as turmas de rua. Ponto marcado numa esquina, perto de um bar, cerveja e combinações de zoadas. Azarar uma festa num bairro vizinho, por exemplo, era o programa de muitos adolescentes e jovens. Os mais fortes e bons de briga lideravam, um momento de afirmação, sem tantas opções, talvez a busca de um lugar no presente, já que eram chamados apenas de “futuro da nação”. O preconceito e a covardia eram uma tônica. Bater em homossexuais era diversão (horrível!), assim como expulsar alguém de outro bairro, de outro bairro que não fosse aliado, e quisesse namorar uma menina local (triste...). Uma época sem celular e Facebook. Tudo era combinado nas esquinas no final das tardes. Apanhei muito naquela época. Só bati uma vez, em legítima defesa, e dias depois, mais de cem me esperavam na porta do colégio. Meu pai me salvou. A turma de Copacabana era liderada pelo Jurandir (caratê) e a turma de Ipanema pelo Pernambuco (capoeira). Houve uma luta entre os dois na Galeria Colombo em que o Jurandir venceu, pois o pessoal da sua turma fechou a roda, evitando as jogadas de perna do capoeirista. Não me lembro quando tudo isso acabou. Poucos anos depois, tornei-me presidente do grêmio do colégio e passei a lutar por um país mais democrático. Participei das passeatas – a “porrada” agora vinha da polícia – até que entrei para a faculdade e a minha vida teve um outro rumo. A juventude daquela época nunca esquecerá aqueles instantes de nossas vidas, cerceados da liberdade de ir e vir. Costumava dar um rolé pelo nosso bairro, com meu amigo Mac-Dowell, faixa-preta de caratê. Dar um rolé era sair por aí para olhar o cenário, vitrines, gatas, até parar num bar e tomar uma ou duas cervejas. Não havia shoppings. O que tem sido os rolezinhos hoje, pelo menos até agora? Um ponto de encontro para se fazer um barulho, encontrar pessoas, afirmar-se, estar em grupo, azarar alguém? Isso assusta? Um bando de gente cantando e gritando apavora qualquer um, em qualquer lugar. Será uma brincadeira de afirmação ou a constatação da ausência de espaços culturais e de lazer? Será um esgotamento de ficar de cara o dia todo para o computador ou para o celular viajando no Face? Não aguentar mais ver TV, ficar só em rede, num momento da vida de adrenalina explosiva, de formação de personalidade? Será uma luta de classes como querem achar alguns? Nestes tempos rápidos, só podemos afirmar uma coisa: não sabemos ao certo. Precisamos aprender hoje a conjugar o verbo “duvidadear”. O que pode acontecer, ou não, adiante é que os protestos contra a falta de oportunidades, corrupção, preços de tudo, saúde deficitária e pela melhoria na educação resolvam se somar aos rolezinhos. Pode ser que os encapuzados queiram amanhã entrar nessa festa para promover quebra-quebras. Outros podem se infiltrar para roubar. Movimentos semelhantes aos dos anos 60. É um ciclo que se repete? Precisamos sim (única coisa que eu sei) fazer um rolezinho pelos nossos valores e saber escolher bem o nosso futuro. fernando portella cottaportella@globo.com

Em junho de 2013, Marcelo Jacome expôs uma série de instalações de pipas na antiga Fábrica Bhering. O artista costuma partir da observação da paisagem levando em conta a potência cromática do que considera marcas “urbano-humanas”, como cartazes lambe-lambe, neon, outdoors, muros com grafites e pichações. Carolina Monteiro

Sônia Baiana Menezes é moradora da Providência e quituteira de mão cheia. A comunicativa senhora declarou que é leitora assídua da Folha da Rua Larga e adora o jornal. Ela vende acarajé na Pedra do Sal e anuncia: “Já virei tese de mestrado, de doutorado. Sou uma entidade que lembra as raízes afro-brasileiras da região”. Ela é mesmo uma instituição a se valorizar!



C4 Edição Especial

janeiro – fevereiro de 2014

cultura e cidadania I entrevistas

Som, cores e despojamento nos palcos cariocas Dona Joana traz divertidas versões de músicas consagradas além do repertório autoral Otávio Santos

“Empilhando seus integrantes, a banda mede 13,35m e pesa 534,5kg (sem os instrumentos)”, autodefine-se a Dona Joana, em seu site oficial. Experiência musical coletiva formada por instrumentistas, compositores, atores, bailarinos e circenses em 2009, quando o conjunto surgiu por ocasião de um espetáculo de cabaré circense. Desde então, passou a apresentar sua irreverente miscelânia sonora nos mais diversos palcos. Com a versão inusitada da música Pare de Zezé di Camargo e Luciano, a trupe ficou nos trend topics do Twitter. Stephânia Medeiros, integrante da banda desde a sua fundação, explica como funciona o processo criativo e fala da trajetória do conjunto, que, segundo ela, tocou até em “campanha de vacinação do Zé Gotinha”, na Fiocruz. Moradora do Morro da Conceição, Stephânia diz que sabe da existência de muitos artistas no Morro, exceto músicos. E finaliza acrescentando que adoraria descobri-los na região.

do Brasil. Poderia falar um pouco da trajetória da banda até aqui?

Stephânia Medeiros fala de seu envolvimento com o Dona Joana, coletivo de artistas de diversas linhas Renato Mangolin

Há um líder na banda? Qual é a formação? A banda não tem um líder, pelo contrário, a gente tem uma relação totalmente horizontal. Isso no que diz respeito à criação e às decisões. Surgimos como um octeto, e com a saída de nosso tecladista e também compositor Otávio Santos, agora somos sete. A formação é baixo, guitarra, bateria, flauta, trompete, escaleta e vozes, muitas vozes. Vocês já realizaram apresentações em casas de espetáculos cariocas, em rádio, TV e até fora

“O que falam para a gente é que o show é uma espécie de catarse. E a gente concorda (risos)”

A gente começou a se apresentar como a banda oficial de um espetáculo de variedades, o Cabaré Valentim, que juntava circo, teatro, dança, música, audiovisual. A partir daí, a banda foi sendo chamada pra se apresentar fora do evento e, de lá pra cá, a gente não parou. Posso dizer que, nesses cinco anos de estrada, a gente encontrou muita gente legal pelo caminho e fizemos coisas muito divertidas também. Gravamos dois discos, fizemos dois videoclipes, viajamos um bocadinho pelo Brasil, e fizemos bastante show, que é das coisas que a gente mais gosta de fazer! Ano passado rolou uma turnê pela Itália que foi transformadora pra gente, com pessoas, paisagens e situações incríveis. Tivemos a chance de participar de alguns programas de TV que divulgaram nosso trabalho de um jeito super legal. Teve a ida ao Som Brasil, que é um programa que a gente adora, onde fizemos três versões de músicas do Zezé di Camargo, pelas quais a gente tem o maior carinho e que acabaram entrando para ro repertório de tanto que a gente gostou. Estivemos em algumas rádios, algumas emissoras de TV, circulamos um bocado pela internet, e por aí vai... Até na campanha de vacinação do Zé Gotinha a gente tocou, lá na Fiocruz, que, aliás, foi um barato. (risos) As composições são autorais ou vocês também interpretam músicas de terceiros? Poderia citar alguns exemplos?


cultura e cidadania C5 Edição Especial

janeiro – fevereiro de 2014

Renato Mangolin

As músicas dos dois discos são autorais, mas em shows a gente adora tocar versões que fazemos de outros artistas. Aliás, o segundo disco tem uma exceção, que é a faixa 3, Coxinhas, da banda Biltre, com quem temos uma parceria super afetiva, e que acabou ganhando uma versão também. É um lance que a gente curte mesmo fazer. Rolaram essas três versões do Zezé di Camargo, Saudade Bandida, Mentes Tão Bem e Pare. A gente tem uma versão de Baba Baby, da Kelly Key (acho que é a mais antiga, aliás). Fizemos Garotas só querem o funk, versão de Girls Just Wanna Have Fun. Baby, do garoto-problema Justin Bieber, também ganhou versão, Óculos, dos Paralamas... Qual é a importância que vocês atribuem para a parte performática da apresentação? É preciso muito ensaio ou há uma valorização do improviso?

mesmo, e se diverte muito! Então acaba que isso contagia quem tá ali vendo, dançando, cantando junto.

A importância é total! A gente vem disso, né? Na banda, há atores, circenses, bailarinas... Então não tem como isso não aparecer em nossa performance. E, apesar de ensaiarmos regularmente, criar algumas marcas e tal, o improviso é bem-vindo sempre! Não adianta, a gente combina um lance e pode ter certeza de que vai sair diferente! (risos) Como é o show do Dona Joana? Qual tipo de experiência vocês buscam junto ao público?

Em março, lançaremos nosso segundo disco, que foi financiado pelo público através da internet. O primeiro show de lançamento será no Sesc Tijuca, dia 28/03, com surpresas e convidados queridos. A banda já se apresentou no Centro do Rio? Se sim, como foi a experiência?

O que falam pra gente é que o show é uma espécie de catarse. E a gente concorda (risos). Como a gente ama o que faz, a gente se entrega

Podemos dizer que se trata de um grupo de jovens, fazendo música para jovens? Podemos dizer que se trata de um grupo que se sente jovem e que faz música pra quem se sente jovem! Independente da idade. Esse frescor da juventude a gente quer preservar sempre, na vida, no nosso trabalho. E amadurecer sem precisar envelhecer, sem perder a vitalidade. O Otávio é um exemplo disso. Era nosso integrante com mais idade, e sempre foi da brincadeira, sempre fazendo todo mundo dar risada. Essa capacidade de rir de qualquer situação talvez seja o grande barato da vida. Quais são as novas de 2014? Há algo que já podemos divulgar?

A banda, formada em 2009, é composta por integrantes de diferentes vertentes das artes Renato Mangolin

A região é repleta de artistas. Muitos ateliês de artistas plásticos, fotógrafos, artesãos. Confesso que não sei da presença de músicos no Morro, mas, sem dúvida, eles existem! E vou adorar conhecer! Teria algo que não perguntei que gostaria de acrescentar?

“Trata-se de um grupo que se sente jovem e faz música para quem se sente jovem. Independente da idade”

A gente já se apresentou no Centro Cultural Carioca, Gafieira Elite, Hotel Paris (isso mesmo! O antigo prostíbulo da Praça Tiradentes já foi reduto de uma festa que convidou a gente pra tocar). Se você considerar a Lapa como Centro então, aí, nem se fala... Circo Voador, Fundição Progresso, o falecido

parceiras, inclusive, já passaram por ali como o Mohandas, Maracutaia, Noites do Norte. Não só a Pedra, mas a Praça Major Valô, a pracinha da Jogo da Bola seriam lugares deliciosos de tocar. E sem dúvida, é muito estimulante a possibilidade de tocar em novos palcos, sobretudo quando saem do circuito mais recorrente dentro desse eixo Lapa/Zona Sul, que a gente também adora, a propósito! Mas tocar no Galpão Gamboa, por exemplo, foi uma experiência maravilhosa! Assim como é sempre incrível tocar na Maré. Há outros músicos/artistas na região? Como é a sua convivência com a vizinhança?

Cine Lapa, Teatro Odisséia, Arcos da Lapa. E é sempre uma experiência única e inesquecível. É uma parte da cidade com muita história e que recebe todo tipo de gente, isso enriquece muito o lance. Como o público pode en-

contrar a agenda de shows do grupo? Está tudo lá no nosso site www.bandadonajoana.com. br ou pelo facebook/bandadonajoana. Já imaginou a banda tocando no Morro da Con-

ceição? O que significaria um projeto como esse para vocês? Sem dúvida, já imaginei. A Pedra do Sal, reduto do samba, é um lugar que hoje recebe uma variedade muito grande de manifestações musicais. Algumas bandas

A gente agradece o espaço que vocês nos deram, porque iniciativas como essa fortalecem a cena musical independente. Uma parte considerável do nosso público surgiu pelo boca a boca de um amigo que falou pra amiga, que compartilhou o vídeo. E nisso a gente vai vendo crescer o alcance do nosso trabalho, e isso é combustível pra gente, né? Então, muito obrigada! (risos)

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br


C6 Edição Especial

janeiro – fevereiro de 2014

cultura e cidadania

Recursos para quem produz cultura no Porto do Rio Centro Cultural José Bonifácio sediou evento que premiou 34 produtores culturais A Prefeitura do Rio, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio De Janeiro (Cdurp) e da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), entregou um prêmio total de R$ 3,8 milhões a 34 produtores culturais que atuam na Região Portuária. A cerimônia de premiação aconteceu no dia 22 de janeiro, no Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa. Os artistas, produtores, grupos, coletivos e projetos – selecionados via edital no 1º Prêmio Porto Maravilha Cultural – receberão incentivo financeiro para produções com duração de até um ano. O edital permitiu a participação de pessoas físicas, com prêmios de R$ 50 mil, e de pessoas jurídicas, que ganharão R$ 150 mil por projeto. Ao todo, 206

Carolina Monteiro

Projetos aprovados por pessoa física receberam R$ 50 mil. Pessoas jurídicas receberam R$ 150 mil

projetos foram inscritos. Os recursos para a premiação estão previstos na Lei Complementar nº 101/2009 – que instituiu a Operação Urbana Porto Maravilha e determina a aplicação de pelo menos 3% da arrecadação de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) na valorização do patrimônio material e imaterial da Região Portuária e no fomento à atividade cultural. Inicialmente, o edital premiaria 20 projetos, sendo 10 de pessoa física e 10 de pessoa jurídica. Mas a relevância para a região e a qualidade das propostas fez com que o prefeito Eduardo Paes autorizasse a ampliação dos recursos, estendendo o prêmio a 34 concorrentes, com 21 contemplados de pessoa jurídica e 13 de pessoa física.

Confira os projetos que receberam o incentivo de R$ 150 mil • À Moda do Porto – Festa de Gastronomia, Cultura e Conhecimento Divulgação da gastronomia local e resgate do tipo de alimento consumido no porto no final do século XIX. Proponente: Polo Região Portuária. Responsável: Maria Eugênia de Castro • Arte na Gamboa Formação de cidadania por meio de cursos de artes cênicas, visuais e dança para crianças, adolescentes e terceira idade. Proponente: Instituto Galpão Gamboa. Responsável: Luis Fernando Libonati Coelho. • Carnaval do B.E.M – Oficinas e Atividades Pré-Carnavalescas do Bloco Escravos da Mauá Apoio às oficinas e ensaios do bloco Escravos da Mauá. Proponente: Associação do Bloco Escravos da Mauá (Associação do B.E.M). Responsável: Ricardo Sarmento Costa • Cinema em Movimento – Circuito Escola e Oficinas Oficinas de audiovisual para alunos das escolas das comunidades no entorno da região do Porto Maravilha. Proponente: Instituto Cultura em Movimento – ICEM. Responsável: Alberto Augusto. dos Reis Graça. • Desfiles dos Blocos e Bandas da Liga Portuária Apoio aos desfiles de cada bloco. Proponente: Associação Recreativa e Cultural Liga de Blocos e Bandas da Zona Portuária da Cidade do Rio de Janeiro. Responsável: Rosiete Marinho de Mesquita. • Docas D. Pedro II - Um Patrimônio da Região Portuária a Revelar Programação de filmes, teatro e debates sobre a história de André Rebouças, engenheiro e abolicionista. Proponente: Associação Comitê Rio da Ação da Cidadania. Responsável: Oduvaldo Azeredo Braga. • Documentário A Pequena África Filme sobre a diáspora negra a partir da história do Cais do Valongo. Proponente: Centro de Articulação de Populações Marginalizadas. Responsável: Luiz Carlos Amaral Gomes • Ecomuseu do Porto Maravilha Exposição multimídia e oficina de educação patrimonial. Proponente: Raízes da Tradição. Responsável: Ana Paula Mendes Gomes. • Em Torno da Fábrica Apoio aos artistas com ateliês na antiga fábrica da Behring. Proponente: Associação Civil Criativa Orestes 28. Responsável: Igor Merath Reis Silva/ Vivian Martins Caccuri. • Fim de Semana do Livro no Porto 2ª edição da festa literária do Morro da Conceição. Proponente: Instituto FIM. Responsável: Raphael Vidal. • Herança Africana no Porto do Rio Reverência a todos os Africanos que por Ali Passaram


cultura e cidadania C7 Edição Especial

janeiro – fevereiro de 2014

Exposição de fotografia, exibição de filmes, apresentações cênicas e musicais e feira de gastronomia para valorizar a memória das manifestações culturais do povo africano. Proponente: Centro Afro Carioca de Cinema. Responsável: Maria Luiza Ferreira Vianna. • Midiateca Comunitária de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente Criação de uma biblioteca com videoteca comunitária no Morro da Conceição. Proponente: Associação dos Amigos da Escola Padre Dr. Francisco da Motta e do Colégio Sonja – AME. Responsável: Aparecida Maria de Souza (irmã Evanira). • Mystérios e Novidades do Porto Apoio à companhia de teatro que encena usando pernas de pau. Proponente: ANAC – Associação de Artes e Cultura. Responsável: Karen Gonçalves dos Santos. • Oficinas de História na Zona Portuária Divulgação da memória da região. Proponente: Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos. Responsável: Ana Maria de La Merced. • O Porto Importa: Memórias do Cais do Valongo Produção de vídeo e livro, organização de seminário e exposição fotográfica sobre capoeira com apresentação e oficina de capoeiristas. Proponente: Associação Cultural Ilê Mestre Benedito de Angola. Responsável: Luiz Antônio Santos. • Os Ancestrais no Valongo. O centenário de Abdias Nascimento Programação voltada à celebração do centenário de Abdias do Nascimento. Proponente: Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro). Responsável: Elizabeth Larkin Nascimento. • Porto Aberto: A Memória Viva Apoio ao grupo artístico Ensaio Aberto, que tem sede no armazém 6. Proponente: Instituto Ensaio Aberto. Responsável: Luiz Fernando Lobo. • Porto da Pequena África Filme sobre a Região Portuária. Proponente: Associação Armazém Cultural das Artes e Técnicos em Espetáculos e Diversões. Responsável: Adílio Jachinto da Silva. • Projeto Som e Samba Carioca Apoio à ONG na Rua Pedro Alves, no Santo Cristo. Proponente: Instituto Carioca de Desenvolvimento. Responsável: Margareth da Silva Barros. • Projeto Som Mais Eu Projeto de educação musical para jovens de 6 a 29 anos, com ênfase no repertório que remete à história da Região Portuária. Proponente: Associação Cultural Amigos da Providência – ACAP. Responsável: Izabel Cristina Pereira. • Roda de Samba da Pedra do Sal, De Mãos Dadas Apoio à roda de samba da Pedra. Proponente: Associação Veia Cultural. Responsável: Ana Cláudia Simplício.

Visita à gastronomia portuária do século XIX Polo Região Portuária promoverá circuito gastronômico para lembrar história da região Carolina Monteiro

O Polo Região Portuária promoveu sua primeira reunião anual em clima de celebração: teve o projeto “À Moda do Porto – Festa de Gastronomia, Cultura e Conhecimento” contemplado com o prêmio Porto Maravilha Cultural. Portanto, vai administrar ao longo de 2014 uma verba na ordem de R$ 150 mil para a produção do ciclo de eventos. De acordo com a presidente Maria Eugênia Duque Estrada, serão realizadas oficinas preparatórias para os donos de restaurantes. Além disso, diversos cozinheios, chefs e quituteiros locais vão participar apresentando pratos específicos, ambientados na região: “Faremos edições temáticas. Enfocaremos o século XIX e início do século XX, época do governo Francisco Pereira Passos,

nesta primeira edição”, revela. Eugênia informa ainda que serão produzidos guias gastronômicos impressos, para distribuição gratuita, com fotografias e receitas dos pratos e quitutes participantes. Sônia Baiana, moradora da Providência e vendedora de acarajé na Pedra do Sal, avisa que será uma das participantes: “Vai ser uma grande festa gastronômica e cultural”. Segundo a presidente do Polo, o foco do festival será a mistura de influências africana, cigana, portuguesa, espanhola e outras culturas que passaram pela Zona Portuária do Rio, revelando novas tradições gastronômicas.

Maria Eugênia Duque Estrada exibe o cheque recebido, rodeada pelas quituteiras Sônia Baiana e Nildelene, ambas da Providência

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br


C8 Edição Especial

janeiro – fevereiro de 2014

cultura e cidadania

Primeira galeria de artes do Morro da Conceição é inaugurada Villa Olívia inaugura com mostra coletiva “A Cara do Rio” Divulgação

Depois de sucessivas edições que ocuparam o Centro Cultural Correios, a exposição coletiva “A Cara do Rio” mudou de endereço e inaugurou, no dia 8 de fevereiro, a Villa Olívia Artes, a primeira galeria de artes do Morro da Conceição. O Morro abriga ateliês individuais, mas ainda não contava com espaço cultural destinado a expor peças de múltiplos artistas. Iniciada em 2003, a mostra chega a sua décima edição apostando na renovação e na continuidade do talento dos artistas, além de tentar atrair novos colecionadores. O desafio proposto pelo curador Marcelo Frazão aos 40 artistas integrantes da mostra foi responder, em linguagem artística, à pergunta “Qual é a cara do Rio?”. O público poderá conferir o resultado de todo esse processo criativo através de pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, vidro, cerâmica e gravuras. Os trabalhos são assinados por Ana Catarina Hallot, Antônio Silveira, Benjamim Rothstein, Bruno Lins, Carlomagno, Clare Caulfield, Claudia Hirszman, Claudia Lyrio, Claudine Dereczynski, Diana Doctorovich, Eliane Avellar, Emílio Gonçalves, Fernando Duval, Flavia Tavares, Henrique Martus-

Divulgação

Rosa do Porto, de Marina Vergara. Fibra de vidro e tinta automotiva Divulgação

...continua lindo!, de Flory Menezes. Terracota.

cello, Ian Guerra, José Carlos de Araújo, Luiz Vitor, Manuela Bencze, Marcelo Frazão, Marina Vergara, Maurício Barbato, Newton Lesme, Paula Erber, Paulo Villella, Rachel Sarandy, Regina Guimmarães, Silvio Moreia, Solange Palatinik, Sonia Madruga, Teresa Asmar, Zulma Werneck, entre outros. Para esta exibição, a artista plástica Marina Vergara, por exemplo, preparou uma escultura com quatro metros de altura para a fachada do antigo sobrado da Ladeira João Homem, nú-

mero 13, onde se localiza a Villa Olívia. Segundo a artista, trata-se de uma ode à mulher carioca. Segundo Marcelo Frazão, “a ideia que permeia esta exposição não é apenas expor os trabalhos, mas também incentivar e dar suporte para novos colecionadores, ajudando na preservação ou conservação de sua coleção, bem como dar suporte para formar e organizar a coleção”. O conjunto dos trabalhos expostos na mostra “A Cara do Rio” é marcado pela diversidade e ofe-

Patrocínio

Maravilha do Caos, de Newton Lesme. Técnica mista sobre papel

rece ao espectador uma pequena, mas significativa representação da cidade, a partir da memória afetiva ou visual de cada artista. Já o catálogo da exposição, reunindo o perfil dos 40 artistas, vai além de fornecer dados sobre os autores, funcionando também como um anuário dos artistas que estão em atividade na

cidade e nem sempre têm espaço para levar seus trabalhos ao público, como explica Frazão. A exposição “A Cara do Rio” fica em cartaz até o dia 3 de abril. A galeria Villa Olívia Artes estará de portas abertas para receber o público de quarta a sábado, das 14h às 18h. Fora desse horário, as vi-

sitas podem ser agendadas pelo telefone (21) 988882613. A entrada é franca. Mais detalhes podem ser acessados no endereço www.ateliervillaolivia. com.

da redação redação@folhadarualarga.com.br

Realização


13 folha da rua larga

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cidade morro da conceição

Sobre Teresa Speridião Gustavo Speridião

Com pano, tinta, madeira e poesia. É difícil escrever um texto sobre uma pessoa que, além de ser a minha mãe, foi a responsável por me ensinar a ver e usar as ferramentas daquilo que entendemos como “Arte”. Das nuvens aos mofos, de caixas de fósforos às telas. Em tudo ela cria. Até em casca de melancia. Teresa Speridião nasceu em Minas Gerais (Uberaba) e há 38 anos vive e trabalha no Rio de Janeiro. Em nossas ótimas conversas sobre arte, sempre falava com particular atenção de dois períodos da História da Arte: o Dadaísmo e o Surrealismo. Além disso, sempre foi ligada no suprematismo russo; Kasimir Malevich especialmente. Um dia, Teresa realizou uma série de pinturas. Esta série chamada Sombras foi um dos trabalhos mais interessantes que a vi fazer. E ele tem uma importância sentimental em minha memória: o pai de Teresa era lavrador. Um dia, vi Sinomar arando a terra. As linhas paralelas do vermelho escuro da terra mineira brotando. Uma série de ondas paralelas e férteis. Uma antiga e crucial geometria para a humanidade. Um dia, longe da terra vermelha, ao redor de concretos, viadutos, morros e praias, vi Teresa deslizar uma técnica de “arado” em uma tinta branca, muito branca, e de textura peculiar sobre uma tela de madeira. Arava o plano. Plantou o plano. E as imagens nasceram. As imagens formadas por este desenho com tinta e sombra são cinéticas (as sombras correm com o movimento do olho). Teresa é um ótima observadora da realidade. Viajante de olhos atentos e cheios de imaginação. Caderno

Detalhe do trabalho Digitais, 2010, técnica mista

de anotação para as frases distraidamente poéticas proclamadas pela massa no cotidiano das cidades. Em seu olhar, pássaros passarão em formação e seu rastro será traçado por um arado que deslizará por uma tinta

Digitais, 2010, técnica mista

macia. Em outra série chamada Transgressões, uma pequena bola branca de pingue-pongue escapa da bidimensionalidade opressora, tentando fugir do plano. Para ela, a representação do Gustavo Speridião

“despertar político” do ser humano, achatado pelo Sistema Capitalista, em busca de sua plenitude. A questão da vida e da morte, tão presente no Dadaísmo e no Surrealismo, é talvez o principal interesse de Teresa Speridião, que se diverte criando epitáfios, poesias sobre a morte. Na série Digitais: barbantes tecem impressões digitais em relevo no plano. Marcas únicas, vidas únicas. O desenho do acaso de cada um. Um mundo infinito de pequenos objetos, telas ob-

tio milho

Transgressão, 2010, técnica mista

Gustavo Speridião

jetos, percorre a produção de Teresa Speridião; cria arqueologias com madeira e tinta: um fóssil fácil falso narra o drama de Rapunzel e suas tranças pubianas numa risada abusada. Uma atitude de transgressões e piadas, política e surrealismo, poesia e geometria. Há muita ironia em sua geometria que narra sua própria vida. E lá está ela, olhando os pássaros, preocupada com eles, sempre vigiando dos gatos. Entre telas brancas e madeiras cortadas, lixadas e

trabalhadas, potes de tintas de plástico com um profundo estudo de cor (Teresa sempre alcança as cores que quer), pincéis com mãos habilidosas pintam listras coloridas em ritmo de festa. E lá está ela novamente ensinando a enxergar a cor. Mais tarde, ao som de La Traviatta, ela ensina a ver o retrato que a mancha de vinho fez na toalha da mesa.

gustavo speridião senhorsperidiao@yahoo.com.br

Daniel Murgel


14 folha da rua larga

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gastronomia

Culinária natural permanece no Beterraba Restaurante oferece comida saudável com bom custo-benefício Carolina Monteiro

Na vibração das tranformações do Centro do Rio e Zona Portuária, o Beterraba Gastronomia Natural também está de mudança. O restaurante de culinária orgânica permanecerá na Rua Dom Gerardo, porém no número 64, loja E. “Estamos mudando para melhor atender os nossos clientes, que frequentam diariamente o restaurante e buscam uma alimentação mais saudável para o dia a dia”, explica Luciana Ganem, uma das sócias da casa. Quem passa pela porta do Beterraba, logo entende que ali os ingredientes naturais têm posição de destaque. Mas o que muita gente não sabe é que o lugar nem sempre foi tão natural assim. Há quase cinco anos, a filial do Centro ganhou novos donos e uma grande reformulação no cardápio, que eliminou da preparação todos os produtos industrializados e diminuiu ao máximo o nível de gordura dos pratos. “Temperamos tudo com alho, cebola e temperos naturais, retiramos a gordura dos grelhados e, em outros pratos, como o feijão, utilizamos o mínimo possível”, explica Luciana. O bufê a quilo do restaurante é composto por cerca de 16 pratos quentes e 16 saladas, que mudam diariamente. Além de natural, o menu é também vegetariano e conta com pelo menos um prato vegano por dia, ou seja, sem o uso de leite e ovos no preparo. Essas opções fazem sucesso: “Recebemos por volta de 15 clientes veganos por dia”, conta Luciana. Alfafa, suflê de ricota com cenoura e arroz vermelho são alguns exem-

O bufê variado satisfaz diversos perfis de clientes Carolina Monteiro

Ingredientes naturais e alimentos frescos estão sempre presentes Carolina Monteiro

As inúmeras saladas são algumas das opções saudáveis

plos do que recheia o bufê do Beterraba. As opções que mais agradam são o quibe de banana, a polenta frita e o bacalhau. Sexta-feira, a culinária de Minas Gerais invade as panelas e pratos como couve mineira e feijoada light fazem sucesso. Entre as sobremesas, a estrela é

a concorrida torta de banana. Para acompanhar as refeições, o restaurante oferece mais de 50 opções de sucos, incluindo guaraná da casa e gengibre com agrião e broto. Engana-se quem pensa que o local não é uma boa sugestão para quem costuma ter uma alimenta-

ção menos rígida. Segundo Luciana, a maior parte do público do restaurante não é vegetariano e naturalista, mas pessoas que trabalham na região e optam por uma alimentação mais balanceada durante a semana. Também é fácil ver entregadores do Beterraba pelas ruas do Centro, já que o delivery é pedida certa no horário do almoço. Os sócios da casa realmente enxergam o cliente como prioridade. Além de aceitar sugestões de pratos dos fiéis frequentadores, são preparadas até mesmo receitas levadas por eles. “O clima é muito caseiro. O restaurante é como uma extensão da casa dos clientes e, por isso, tentamos adequar o cardápio a eles”, diz Luciana. Ainda pensando em deixar o cliente satisfeito, o Beterraba tem algumas promoções especiais, como o desconto de 10% para funcionários de empresas cadastradas. Os aniversariantes do mês também ganham presente: levando cinco ou mais pessoas, o almoço e uma fatia de torta de banana são grátis. Quem for almoçar sozinho ganha a sobremesa. E isso vale para todos os dias do mês de aniversário. Para quem ainda não conhece a casa, aqui fica a dica: vá de coração aberto e mente livre de preconceitos, porque a culinária natural tem tudo para conquistar quem estiver disposto a experimentar novidades sem fazer careta.

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br

receitas carol Com temperaturas acima dos 30ºC no Rio de Janeiro, só conseguimos pensar em sombra e água fresca. Para cozinhar, dê preferência a receitas bem rápidas, que quase não precisem do fogão, com ingredientes leves

e que possam ser comidos frios. A salada é, em geral, servida na entrada, mas, neste caso, trata-se do prato principal. Combinamos tudo isso com muito sabor e praticidade. Bom apetite e refresque-se!

Salada de couscous com camarão ACP

Ingredientes Para o camarão: 250g de camarões limpos 100ml de azeite 40ml de suco de limão 5g de coentro picado sal e pimenta do reino a gosto Para o couscous: 1 xícara de couscous 1 xícara de água ½ cebola em cubinhos 1 colher de chá de gengibre ralado ½ pimenta dedo de moça picada Para o vinagrete: 40ml de suco de laranja

1 pitada de páprica 1 pitada de canela em pó 1 pitada de cominho 2 colheres de sopa de cebolinha picada 80ml (1/3 xícara) de azeite 3 colheres de sopa de óleo sal e pimenta do reino a gosto Para a salada: 40g de cebola roxa em tirinhas 60g de cenoura em cubinhos 50g de amêndoas torradas e picadas

Modo de preparo Em um recipiente misture os camarões limpos com o azeite, o suco de limão, o coentro e a pimenta. Deixe na geladeira por aproximadamente 1 hora. Escorra bem os camarões e tempere-os com sal. Esquente bem a frigideira e grelhe os camarões rapidamente. Reserve. Coloque o couscous numa tigela. Refogue a cebola com o gengibre e a pimenta. Junte a água do couscous e deixe ferver. Assim que o caldo ferver, vire sobre o couscous, cubra com um filme

plástico e deixe o couscous inchar. Prepare o vinagrete marroquino, batendo todos os ingredientes no liquidificador e junte os óleos em fio. Quando os camarões e o couscous estiverem frios, misture as guarnições e o vinagrete. Sirva frio ou em temperatura ambiente.

ana carolina portella carolnoisette@hotmail.com Confira outras receitas da Carol no blog nacozinhacomcarol.blogspot.com



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lazer folha da rua larga

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Museu Light da Energia está com programação especial

dicas da cidade Maiores fotógrafos do mundo retratam o amor

Curiosidades científicas configuram tour divertido e informativo para pais e crianças

Divulgação Acervo Light

As mais distintas formas de amor, sob o olhar de 22 nomes consagrados da fotografia contemporânea mundial, são o tema de mostra no CCBB Rio. Amor, Amor, Amor reúne 58 fotografias do acervo da Maison Européenne de la Photographie e inclui imagens de nomes como os franceses Henri Cartier-Bresson, Robert Doisneau, Pierre Verger e Raymond Depardon, os norte-americanos Larry Clark e Duane Michaels e o japonês Nobuyoshi Araki. A curadoria é de Jean-Luc Monterosso e do brasileiro Milton Guran. A exposição fica em cartaz até 31 de março, com entrada franca e visitação de quarta a segunda, das 9h às 21h. O CCBB fica na Rua Primeiro de Março, 66. África hereditária na voz dos griots A cultura africana é homenageada em espetáculo interativo no Centro Cultural Justiça Federal. África hereditária-interativa mostra a força da palavra, do canto e da música na tradição dos griots (sábios e contadores de histórias). O tema é um convite à reflexão, através de jogos, dramatizações e contações de histórias sobre a cultura africana. O público participa como personagem das narrativas. Interessados devem agendar pelos telefones (21) 3261-2567 e 3261-25. A entrada é franca. O CCJF fica na Avenida Rio Branco, 241. da redação redacao@folhadarualarga.com.br

Até o dia 28 de fevereiro, o Museu Light da Energia oferecerá programação cultural gratuita destinada a todos os públicos, em especial, a jovens e crianças. No roteiro estão incluídas atividades recreativas e educativas, realizadas pela manhã e à tarde, que contam a história da região e explicam, sempre de forma lúdica, conceitos básicos da energia elétrica. A peça Uma história familiar é uma das atrações da parte da tarde e acontece no teatro do Centro Cultural Light, com uma produção de qualidade e infraestrutura técnica e profissional de sonorização, iluminação cênica e segurança, com cenografia e figurinos criados especialmente para o projeto. A narrativa é descontraída e dirigida ao público de todas as idades, complementando o circuito de visitação ao Museu Light da Energia. A direção do museu solicita que o público chegue com 30 minutos de antecedência e informa que as vagas são limitadas. Mais informações

Instrutor apresenta funcionamento de circuito elétrico para crianças visitantes

Programação de férias no Museu Light da Energia 10h - Visita guiada ao Bonde e Espaço Memória Circuito Histórico 11h - Visita guiada ao Museu Light da Energia Circuito Energia

no site www.museulight. com.br. O Centro Cultural Light fica na Avenida Marechal Floriano, nº 168, Centro. Ponto de referência: próximo à estação de metrô Presidente Vargas.

14h - Contação de histórias 15h - Peça teatral Uma história familiar

da redação redacao@folhadarualarga.com.br


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