Carolina Monteiro
‘Se essa rua fosse minha’ muda de formato Durante dois anos a coluna investigou o que as pessoas mudariam na região. Nesta edição, os passantes dizem se acham estar bem informados quanto às obras do Porto Maravilha. página 2
Prefeitura planeja nova rede de telecomunicações parafolha o Porto da rua larga O diretor de operações da Cdurp, Luiz Lobo, explica projeto de telecomunicações para a Zona Portuária, de gestão de galerias e engenharia, inédito na América Latina. Página 5
folha da rua larga RIO DE JANEIRO | SETEMBRO – OUTUBRO DE 2011
cidade
Centro de emprego para deficientes é inaugurado
Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio
Artistas oferecem oficinas gratuitas
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 29 ANO IV
Sacha Leite
Passa a funcionar na Av. Presidente Vargas, o Centro Integrado de Atenção à Pessoa com Deficiência (Ciad). O secretário municipal de Emprego e Renda afirma que existem muitos deficientes qualificados, mas ainda faltam oportunidades. página 12
boa vida
Degustação de vinhos na antiga Rua Larga O premiado sommelier italiano Luca Gardini promoveu degustação em nova loja de vinhos da Av. Marechal Floriano, com apresentação de vinhos sicilianos de produção familiar. Ele também falou sobre a sua peculiar trajetória de sucesso. página 11
gastronomia
Quilo sofisticado para almoço e café página 14
Em outubro, os artistas do Morro da Conceição irão presentear os moradores da região com oito oficinas gratuitas. Os integrantes do Projeto Mauá, atuante há 10 anos no Centro do Rio, explicam a proposta das oficinas e planejam abertura de portas para dezembro. páginas 8 e 9 Lielzo Azambuja
cidade
Nova associação de comerciantes protegerá arredores da Sacadura Cabral Luiz Alberto Barbirato, presidente da Associação de Comerciantes do Porto Maravilha, legalizada em julho, divulga os principais motes da nova organização. A Associação pretende reivindicar informações sobre o cronograma de obras da prefeitura do Rio e concessionária Porto Novo, possibilitando aos empresários um planejamento adequado. página 13
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nossa rua
Você está bem informado quanto às obras do projeto Porto Maravilha? Fabiola Buzim
“Acho que não é muito divulgado nos meios de comunicação. Não vejo nada na internet e nem nos jornais. Eles precisavam investir mais nisso, em um modo de avisar a população sobre o que está acontecendo e quais ruas ficarão interditadas.” Lucas Barreto, analista de sistemas
Fabiola Buzim
espaço dos leitores Achados arqueológicos Em primeiro lugar, quero congratular a equipe pelas excelentes matérias. Venho sugerir que postem fotos dos achados arqueológicos. Seria interessante ter uma visão da complexidade do trabalho de arqueologia neste rico solo que é o Rio de Janeiro. Grato. Marcos Orlando de Oliveira Ferreira Ao jornal Folha da Rua Larga Solicitamos da prefeitura que dê atenção para os milhares de pedestres que circulam pela Rua Alexandre Mackenzie diariamente, que têm que disputar a rua com os carros. Além das calçadas serem estreitas, muitas vezes obstruídas, os carros também estacionam ao longo da via, estreitando ainda mais o espaço de circulação de pedestres. Aguardamos uma solução da prefeitura, para que nós pedestres possamos circular com tranquilidade e sem riscos. Eduardo Marinho de Paula
“Eu leio algumas notas sobre as obras para as Olimpíadas e Copa do Mundo, mas não sei nada sobre o Porto Maravilha. Mas imagino que seja algo bom, que vai modificar esta região, pois o que temos aqui no Centro é uma situação de abandono.”
(enviado por leitor)
Joriela Pacheco Cardoso, vendedora
Fabiola Buzim
“Sinto falta de ter notícias sobre o projeto, sobre as obras e seu andamento. Gostaria de entender como vai funcionar a remoção da Perimetral. A criação de um site e propagandas na TV poderiam ajudar a divulgar a revitalização na região.” Dagoberto Carvalho, consultor de Tecnologia da Informação
Três importantes acessos ao Morro da Conceição estão fechados. Gostaria de saber até quando.
folha da rua larga Conselho Editorial - André Figueiredo, Carlos Pousa,
Projeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana Lins
Francis Miszputen, João Carlos Ventura, Mário
Diagramação - Suzy Terra
Margutti, Mozart Vitor Serra
Revisão Tipográfica - Raquel Terra
Direção Executiva - Fernando Portella
Produção Gráfica - Paulo Batista dos Santos
Editora e Jornalista Responsável - Sacha Leite
Impressão - Maví Artes Gráficas Ltda.
Colaboradores - Ana Carolina Portella, André Calazans,
www.maviartesgraficas.com.br
Arthur Dapieve, Carolina Monteiro, Danielle Silveira,
Contato comercial - Teresa Speridião
Fabiola Buzim, Fernando Portella, Lielzo Azambuja e
Tiragem desta edição: 6.000 exemplares
Teresa Speridião
Anúncios - comercial@folhadarualarga.com.br
Redação do jornal Rua São Bento, 9 - 1º andar - Centro Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690 www.folhadarualarga.com.br redacao@folhadarualarga.com.br
A Folha da Rua Larga recebe opiniões sobre todos os temas. Reserva-se, no entanto, o direito de rejeitar acusações insultuosas ou desacompanhadas de documentação. Devido às limitações de espaço, será feita uma seleção das cartas e, quando não forem concisas, serão publicados os trechos mais relevantes. As cartas devem ser enviadas para a Rua São Bento, 9 sala 101 CEP: 20090-010, pelo fax (21) 2233-3690 ou através do endereço eletrônico leitor@folhadarualarga.com.br.
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Hospital dos Servidores recebe reunião do CCS Associação de funcionários lembra excelência do HSE, em meio a polêmicas Sacha Leite
A edição de setembro do Café da Manhã do Conselho Comunitário de Segurança foi realizada no Hospital Federal dos Servidores do Estado. Em auditório com 400 lugares compareceram cerca de 40 pessoas, metade do número que costuma frequentar a reunião, segundo a diretoria do CCS AISP 5. Havia representantes do Exército, da Guarda Municipal, da prefeitura e do Sindicato dos Funcionários do Hospital dos Servidores. De acordo com a organização do CCS, instituições como CET-Rio e Comlurb nunca vão às reuniões realizadas mensalmente, tampouco enviam representantes. O mesmo para o subprefeito do Centro, Thiago Barcellos.
O diretor de Comunicação do CCS AISP 5 lembra da motivação das reuniões: “O conselho foi criado para trabalhar na procura da melhoria das condições de segurança da região”. E deu exemplo de um problema resolvido a partir do diálogo durante os cafés da manhã: “O Eduardo e o Bené solicitaram a colocação de iluminação na rua lateral do HSE. Foi feito. Bem como foi realizada mudança de trânsito conforme solicitado, através da Guarda Municipal.” Uma das participações da reunião do Conselho foi a intervenção da Sociedade dos Amigos, Usuários e Pacientes do Hospital Federal dos Servidores do Estado. O porta-voz da enti-
Luiz Henrique dos Santos mostra os prêmios recebidos, na antessala do laboratório do HSE
dade, Luís Henrique dos Santos, funcionário há 30 anos do HSE, luta contra o processo de privatização dos laboratórios dos hospitais federais, defla-
grado diante de escândalos motivados por má administração:“Querem criar a Rede Hospitalar S.A. para gerenciar os laboratórios federais”.
O servidor afirma que o HSE realiza 30 mil exames ao mês e dispõe de estrutura de primeira linha. “Isso sem falar nos prêmios que a equipe
médica residente já recebeu”, conta.
da redação redacao@folhadarualarga.com.br
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boca no trombone
Cliques Rua Larga Sacha Leite
Ver ou enxergar Podemos caminhar pela Rua Larga vendo tudo, mas não enxergando nada. Ver é diferente de enxergar. Enxergar é olhar com sentimento o que há por traz do óbvio, das expressões, das linhas tensas de uma testa, da arquitetura de um prédio histórico. Todos caminham distantes dos pés, são cabeças em direção a seus destinos. Não estão cegas, veem, mas não enxergam. Só param o olhar quando há um acidente ou um fato inusitado, fora da normalidade. Nas ruas, quase nunca estamos onde de fato estamos. Por isso não vemos as estrelas do céu à noite. O poeta diz em dias nublados: “Elas estão lá! Não estão vendo? Ali! Atrás das nuvens”. Quando na tempestade o vento balança os galhos de uma árvore, ele diz: “São os galhos amorosos que sacodem suas folhas por amor ao vento”. É essa maneira diferente de olhar o mundo que faz toda a diferença. Quando se passa simplesmente pela vida sem enxergar sua essência não se vive. Devemos buscar a leveza da luz e isso se dá quando entendemos que não somos apenas um corpo, mas uma alma vestida de corpo integrada a todas as almas. A leveza do ser nos permite enxergar, ler o outro, a realidade e a nós mesmos, descobrindo quem somos e para onde queremos ir. A ignorância, a inveja, a violência, a corrupção, todos os males pesam. A densidade tenciona, traz doenças, nos cega. Não carregue no corpo os problemas da vida, os pianos do passado, lance tudo no plano de luz, ele é leve, e neste estado você conseguirá enxergar saídas para os fardos do dia a dia. O corpo é limitado, o espírito não. Observe seu trajeto pela Rua Larga, veja os belos casarios, conheça suas histórias. Entre nas lojas, olhe no olho do atendente, pergunte seu nome, apresente-se, enxergue-o. Observe as pessoas, seus modos de vestir, as cores, o que está no fundo dos olhares. Veja as árvores, suas folhas, sorria, agradeça a Deus, perceba os detalhes. Descubra-se na multidão. A Rua Larga tem belos casarios, sobrados, que contam histórias maravilhosas, desconhecidas pela maioria que passa, trabalha e mora nesta região onde nasceu a cidade do Rio de Janeiro. Preservar, respeitar essas obras arquitetônicas é cuidar de si mesmo. Conhecer é lembrar, recuperar a memória coletiva. Quando fazemos isso passamos a compreender que a nossa vida começa bem antes do nosso nascimento e vai muito além da nossa morte. Quando chegamos ao mundo, com certeza, naquele instante a cidade onde nascemos não foi construída para nós na fração de segundo do nosso parto. Ela já estava lá com seus valores, culturas, prédios, ambientes e pessoas. Herdamos de nossos pais traços físicos vindos de nossos avós, bisavós... Herdamos seus jeitos, valores e maneiras de ser, como também sofremos a influência do lugar onde vivemos. Mas tratamos tudo, absurdamente, como se não tivéssemos nada a ver com isto e passamos a viver apenas em função da nossa pobre memória de vida pessoal. Enxergar é recuperar a memória, esquecida ao nascer, de tudo o que trazemos ao mundo dentro de nós. fernando portella cottaportella@globo.com
Os moradores do Morro da Conceição acabaram de pintar as fachadas de suas casas, na ladeira João Homem. Veja como ficou bonito! Sacha Leite
O sopé da Pedra do Sal, lugar de referência da cultura brasileira como um dos berços do samba carioca, se tornou depósito de lixo a céu aberto.
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entrevista
Zona Portuária receberá rede única de telecomunicações Porto Maravilha licita concessão: projeto é pioneiro na América Latina Carolina Monteiro
Há dois anos, quando foi elaborado todo o respaldo legal do projeto Porto Maravilha, foi prevista a internalização de todas as estruturas elétricas e de telecomunicações da região. Só não existia, na época, a determinação de que fosse uma concessão. Luiz Carlos de Souza Lobo, diretor de operações da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região Portuária (Cdurp) explica, nesta entrevista para a Folha da Rua Larga, como funcionará esse projeto e de que forma ele afetará a vida dos moradores e frequentadores da região. Em qual área será implantada a nova rede de telecomunicações? Em toda a área de abrangência do projeto Porto Maravilha: da Av. Presidente Vargas até o Porto e da Av. Rio Branco até a Francisco Bicalho. São ao todo cinco milhões de m² ou 500 hectares. O que será feito até o início de 2012? Estão sendo construídas galerias subterrâneas por onde passarão cabos de fibra ótica. Todo o tráfego de dados, voz, etc. ocorrerá nesse espaço. Fizemos um chamamento público para que empresas de infraestrutura nos propusessem projetos para a
execução dessa obra, que não é simples, no qual se inscreveram a CCR, a Promon Logical e a Braynner. No dia em que se findou o prazo para entrega de projetos, apenas a CCR entregou. A nova concessionária irá se responsabilizar pela prestação do serviço de telecomunicações? Não, ela se ocupará da gestão das galerias subterrâneas, isto é, da distribuição de fibras óticas, garantia de qualidade das conexões e toda a engenharia das galerias. As operadoras Oi, Vivo, Tim, e todas as outras, prestarão serviços utilizando essa estrutura que está sendo criada em toda a área do Porto, fazendo a locação das fibras. Ou seja, as operadoras não poderão concorrer pela qualidade da rede, que será igual para todas, então terão que competir pelo serviço. Quem ganha é o usuário.
Luiz Lobo explica as bases do projeto de gestão de galerias a ser implantado no Porto
em luz, com uma capacidade de transmissão de dados muito maior. Por não ser uma rede elétrica, não fica a mercê de intempéries como chuvas e por isso é muito mais estável.
Quais são as bases para esse projeto?
Essa experiência já foi feita no Brasil?
Os dois programas do governo federal: “Banda Larga para Todos” e “Cidades Digitais”. O que nós pretendemos é que esta área tenha a mesma qualidade de serviço que outras áreas. Queremos fazer uma rede passiva GPON, rede toda baseada
Não, nem no Brasil nem na América Latina. Temos informações de que algo do gênero já foi feito na Coréia do Sul, Inglaterra, Itália, Espanha, Singapura e Estocolmo. Que diferença a implantação da nova rede
fará para o usuário? Além do aumento da estabilidade, a qualidade das conexões vai melhorar já que as operadoras terão de aperfeiçoar o serviço. Em cada contrato com as prestadoras de serviço, elas se responsabilizam em entregar apenas 10% da conexão contratada. No Porto será diferente. Uma conexão de 5MB de verdade é uma “senhora” conexão. Além disso, recursos como o da telepresença, que é superior à videoconferência pois não gera corte de áudio
e imagens, possibilitando uma transmissão mais fluida, poderão ser utilizados, por exemplo, para depoimentos à distância para o Tribunal Federal. A empresa que vencer a licitação para gestão das galerias poderá oferecer serviço de Telecom? Não, a concessionária vencedora da licitação fica proibida de prestar qualquer serviço de telecomunicações por meio da rede de fibras óticas a ser criada no Porto.
O que será exigido das operadoras para esse novo cenário? Um maior nível de especificação e qualidade, uma maior contrapartida e menor tarifa aos consumidores. Para prestar serviço direto ao usuário, ele precisa ter uma licença da Anatel. Então acredito que “pipocará” empresas de serviços multimídias utilizando a rede.
sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br
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opinião A Pequena África: atenção à verdadeira Cidade do Samba
Olhar para o passado com foco na saúde Sacha Leite
Existem passados e passados. O recente deve ser superado, embora não esquecido (para não ser repetido). O distante precisa ser preservado, mesmo se não tiver sido glorioso. A mais nova edição da “Inteligência Empresarial”, revista trimestral do Centro de Referência em Inteligência Empresarial da Coppe/ UFRJ, editada por Marcos do Couto Bezerra Cavalcanti e coordenada por Luiz Carlos Prestes Filho, levanta uma bola importante nessa hora de renascimento do ufanismo carioca. O número 35 da publicação reúne artigos e uma entrevista – com a arqueóloga Tania Andrade Lima, do Museu Nacional – que tratam da necessidade de equilibrar desenvolvimento e preservação histórica. O primeiro tende a literalmente passar por cima da segunda, demolindo prédios importantes e redesenhando vizinhanças em nome do progresso de ocasião. Quase sempre sem consultar os habitantes da área afetada. Os dois grandes protagonistas dessa “Inteligência Empresarial” são o Porto Maravilha e a Pequena África. O primeiro é o projeto lançado em junho de 2009 para a crucial revitalização da zona portuária dos bairros de Santo Cristo, Gamboa e Saúde, projeto inspirado em experiências bem-sucedidas em Barcelona (Port Vell) e em Buenos Aires (Puerto Madero), en-
Pedra do sal, parte da área compreendida como Pequena África
tre outras. Lá, áreas degradadas foram reurbanizadas, atraíram investimentos e passaram a gerar lucros para a economia das cidades. Já a Pequena África foi uma área delimitada, grosso modo, pelas atuais avenidas Rio Branco, a leste; Francisco Bicalho, a oeste; por uma linha paralela à Presidente Vargas, quarteirões ao sul dela; e pelo recorte da própria Baía de Guanabara, ao norte. A região tinha esse nome – que soa simultaneamente preconceituoso e carinhoso, numa ambiguidade muito brasileira, aliás – por conta da grande quantidade de negros ali encontrados. Às vezes, de modo permanente: o cemitério de escravos fica na Saúde. Com a chegada de D. João VI e da corte portuguesa da Europa, em 1808, toda a movimentação do tráfico humano deveria ficar longe dos olhos da elite branca do Rio. Portanto, quando chegavam da África, os escravos passaram a desembar-
car no Cais do Valongo, na fronteira norte da Pequena África, e não mais na Praça XV, bem central. Mesmo o Valongo, contudo, acabou sendo soterrado pelas obras do Cais da Imperatriz, por onde desembarcou a princesa Tereza Cristina para o casamento com D. Pedro II. Tania Andrade Lima vê assim a missão de sua equipe nos 2.000 m² escavados: “Trabalhamos na arqueologia histórica com o propósito de sermos um antídoto contra amnésias sociais, buscando o resgate do que o tempo e a sociedade preferiram ocultar e esquecer. O Cais do Valongo é um exemplo concreto dessa amnésia social.” Os negros foram as principais vítimas dessa memória seletiva, mas não os únicos. Em seu artigo na revista, o historiador Milton Mendonça Teixeira lembra que “em toda a extensão do Porto do Rio de Janeiro residiam, majoritariamente, negros, judeus, árabes e ciganos. Pobre e excluída
socialmente, essa parcela da sociedade encontrava-se abandonada nesta área e era utilizada pelo poder político e econômico da época como mão de obra barata.” O comércio popular da Saara é um resquício vivo dessas outras colônias. A área correspondente à Pequena África é a verdadeira Cidade do Samba: ainda concentra, segundo os dados da “Inteligência Empresarial”, 63 barracões de escolas adultas e mirins – além do próprio Sambódromo, não muito distante de onde ficava a lendária casa da Tia Ciata. Esta há muito foi posta abaixo, mas estão lá, aguardando reforma, preservação e valorização, as casas onde nasceram dois gigantes da cultura carioca, Machado de Assis (no Morro do Livramento) e Ernesto Nazareth (no Morro do Pinto). Compreensivelmente entusiasmado pelo Projeto Porto Maravilha, o poder público tem também o desafio de não ignorar a história do Rio em nome de uma modernidade asséptica. Nenhuma cidade conquista o futuro dando as costas ao passado. Trecho de artigo publicado originalmente no jornal O Globo do dia 23 de setembro de 2011.
arthur dapieve ahmdapieve@globo.com
Traços de outras épocas vieram à tona com os achados arqueológicos no Centro do Rio. Não podemos esquecer a importância real que tem esses resquícios para a memória da cidade. Sobre esse aspecto a arqueóloga Tânia Andrade Lima, do Museu Nacional / UFRJ, promove um trabalho incansável de pesquisa histórica no Cais do Valongo, citado no artigo ao lado, por Arthur Dapieve. As escavações são importantes para fazer brotar o passado e aprendermos com ele, cuidarmos de suas evidências adequadamente, como cuidamos da memória de nossos antepassados, conservando objetos antigos e colecionando passagens em álbuns de fotografia. Só a lembrança sistemática da escravidão pode fazer com que as gerações futuras não incorram no mesmo erro. Mas é preciso também dar as mãos ao novo e corroborar com a construção do futuro. Ao visitar o Hospital Federal dos Servidores do Estado, na Rua Sacadura Cabral, nos deparamos com um belo projeto social para a promoção de autoestima e reestruturação psicológica em portadores de HIV. Eduardo Rasberge, presidente da entidade, realiza um belo trabalho voluntário que é exemplo para todos.
Ainda no Hospital dos Servidores, conversamos com o funcionário Luis Henrique dos Santos, que fez questão de que conhecêssemos as instalações do laboratório do hospital. Ele apresentou um corredor com diversos prêmios e menções honrosas ao Hospital dos Servidores, referindo-se, sobretudo, à excelência da equipe de médicos residentes. Eraldo Bulhões, médico e ativista social, advoga pela prevenção da dengue e divulga uma forma simples de se prevenir do mosquito: comendo banana três vezes ao dia. Seja esse método eficaz ou não, uma coisa é certa: o combate à dengue deve ser continuado ao longo dos meses e são bem-vindas novas pesquisas sobre o tema. Estudos do passado podem representar ações que garantirão desenvolvimento para a região, mas existe uma inércia muito grande, que está lentamente sendo rompida. Pouco a pouco as pessoas começam a se animar em participar do processo com sugestões e comentários. Isto porque percebem que essa mudança estrutural cedo ou tarde afetará o universo particular de cada um que ama e frequenta a Zona Portuária do Rio.
sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br
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cultura
A união que faz a arte do Morro Artistas oferecem oficinas gratuitas e preparam terreno para o Dia da Conceição De outubro a novembro, os moradores do Morro da Conceição serão presenteados com uma série de oficinas oferecidas gratuitamente. O projeto é resultado de uma ação conjunta entre nove artistas da região, do Observatório do Valongo, Concessionária Porto Novo, Porto Maravilha e Prefeitura do Rio. Serão ministradas para os moradores e alunos de escolas circunvizinhas oficinas de cerâmica artística, confecção de máscaras e objetos decorativos, pintura livre em acrílico, pintura a óleo, pintura em tecido, velas artesanais, marchetaria e fotografia digital. A finalização do programa será nos dias 2, 3 e 4 de dezembro, período em que ocorre o Projeto Mauá, em que os artistas abrem seus ateliês para os visitantes. Uma das novidades é que todos os materiais produzidos nas oficinas também serão expostos. Este ano haverá um leilão com algumas obras de arte e toda a verba será destinada para a manutenção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição. O artista plástico Marcelo Frazão e o professor Carlos Roberto Rabaça coordenam as oficinas. De acordo com Frazão, a expectativa é boa e a proposta é incentivar a formação de futuros artistas. “Quem sabe estas pessoas começam a produzir, abrem seus próprios ateliês?”, especu-
Carolina Monteiro
Teresa Speridião, Marcelo Frazão, Tania Gollnick e Paulo Dallier Carolina Monteiro
Guenther Leyen, Osvaldo Gaia, Oyama Achcar e Claudio Aun
la. Segundo ele, a vizinhança está animada com as oficinas, até porque todos os professores são conhecidos dos moradores: Oswaldo Gaia, Claudio Aun, Claudio Pereira, Oyama Achcar, Guenther Leyen, Tania Gollnick, Paulo Dallier, Renato Sant´Ana e Teresa Speridião. E foi nas ladeiras do Morro da Conceição que estes artistas escolheram para ter o seu espaço de criação. O próprio Marcelo comenta que ele procurava há muito tempo um local tranquilo para instalar seu ateliê e encontrou o Morro por influência do amigo Claudio Aun. “Eu gosto muito daqui e por enquanto é muito tranquilo, mas não sei como será depois da revitalização do Porto. Na verdade, não gostamos muito desse termo ‘revitalização’, porque você só revitaliza o que está morto. E o Morro nunca esteve morto. Foi abandonado pelo poder público, mas sempre aconteceram diversas atividades, como o Escravos da Mauá, que existe há 18 anos, e o nosso projeto que foi criado em 2001”, conta. O capixaba Renato Sant’Ana teve o seu primeiro contato com o Morro em 93 e se apaixonou. Dois anos depois, assumia o espaço que pertenceu ao artista João Grijó na Ladeira do João Homem, 46. O ateliê fica num casarão antigo com pé-direito de quatro metros e meio. “O espaço
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cultura
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setembro – outubro de 2011 Carolina Monteiro
é maravilhoso”, comenta. Da união de forças entre Renato e o artista Paulo Dalier que surgiu a ideia de se abrir os ateliês para visitação. Era o embrião do Projeto Mauá. Agora já são 12 artistas que aderem ao movimento. Desde então, todos os envolvidos se reúnem periodicamente para discutir os rumos do projeto. Renato explicou que, inicialmente, o evento era bienal, depois passou a ser anual, e outras instituições entraram como parceiras, como o Observatório do Valongo. A exposição sempre aconteceu em um final de semana próximo ao aniversário de Nossa
Senhora da Conceição, comemorado no dia 8 de dezembro. “Estou aqui desde muito cedo, sempre esperando por algo acontecer. Muitos chegam dizendo que vão fazer um monte de coisas, mas não fazem nada. Talvez agora pode ser que pinte algo bom. Eu sou igual a mineiro, vou esperar para ver”, brinca. Já o empresário Guenther Leyen vai ministrar a oficina de fotografia digital. Ele também é fotógrafo e artista plástico. Conheceu o Morro da Conceição através do Projeto Mauá. Logo fixou residência e também abriu o seu ateliê. “Adorei o lugar e as pessoas. Quando você
A série de oficinas foi inaugurada dia 7 de outubro, no ateliê de Claudio Aun
sobe as ladeiras é como se fosse uma viagem no tempo. Não dá para imaginar este espaço bem no centro do Rio de Janeiro”, comenta. Sobre as modificações no entorno, Guenther avalia como positiva: “Por enquanto está uma bagunça, mas é uma bagunça necessária. A valorização é inevitável. O Morro da
Oficinas de arte Projeto Mauá 2011 Velas artesanais Claudio Aun – 7 a 28 de outubro – 10h às 12h30 Marchetaria Claudio Pereira – 19 a 27 de outubro – 17h às 19h Fotografia digital Guenthen Leyen – 8 a 29 de outubro – 14h às 16h Cerâmica artística Osvaldo Gaia – 8 de outubro a 12 de novembro – 10h às 12h Confecção de máscaras Oyama Achcar e Tania Gollnick – 22 de outubro a 6 de novembro – 14h às 18h Pintura livre em acrílico Paulo Dallier – 13 de outubro a 3 de novembro – 14h às 16h Tintas: Pinturas a óleo Renato Sant’Ana – 13 de outubro a 3 de novembro – 16h30 às 18h Pintura em tecido – Teresa Speridião – 19 de outubro a 9 de novembro – 16h às 18h
Conceição ficou esquecido no tempo e agora, de repente, foi descoberto. Com esse projeto de revitalização o Morro entrou em evidência”. Teresa Speridião, que vai ministrar aulas de pintura em tecido, reforça que sua oficina é voltada para iniciantes e artistas. Segundo ela, a ideia é en-
sinar como fazer pintura livre e customização de camisas. “Às vezes a pessoa acha que não tem criatividade, mas ela pode se surpreender com as possibilidades. Quem não conhece vai adorar e quem já conhece vai se aperfeiçoar”. Tereza também aguarda com certa apreensão as modificações no entorno e
está atenta aos pontos negativos e positivos dessas mudanças. “Todo projeto tem seus prós e contras. Por um lado, há a desapropriação das casas, a especulação imobiliária e muitos moradores não estão preparados para isso, pois a tendência é subir o nível econômico. E há o outro lado, que é o da requalificação e limpeza”, enfatiza. Mais informações sobre as oficinas e demais atividades do Projeto Mauá: (21) 2263-0685.
fabiola buzim fabiolabuzim@gmail.com
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social
Arte de reinventar a vida Viva a Vida completa 14 anos de trabalho sociocultural para portadores de HIV Sacha Leite
valioso”. O artista é portador do vírus HIV há 30 anos, e foi um dos primeiros infectados do Brasil. Eduardo esclarece que hoje a situação da AIDS no Brasil é bem melhor do que há tempos atrás, já que a medicina avançou bastante, gerando remédios mais eficazes. De acordo com ele, os pacientes atendidos não costumam ficar internados e os que se internam, em geral, ficam poucos dias. Ele explicou que as vivências do Viva a Vida estimulam a tomar o remédio, menosprezado por alguns. As oficinas são oferecidas no hospital de segunda a sexta-feira: “As quartas-fei-
O ator Eduardo Rasberge, voluntário do grupo há 14 anos
Desde 1997, o projeto rece doações de alimentos, sociocultural Viva a Vida produtos de higiene pessovem se estabelecendo como al, roupas, além do acesso referência no acompanha- a diversas opções de lazer gratuitas, mento de incomo teatro, fectados pelo artesanato, vírus da AIDS. origami e arteOcupando uma terapia. pequena sala “Tive uma no térreo do Hepatite C Hospital dos Servidores, na com tratamento muiseção de Doento agressivo. ças Infecciosas Com 1,80 m e Parasitárias Eduardo Rasberge cheguei a 49 (DIP), o prokg, fiquei cajeto atende a reca, na cadei1.500 famílias que sofrem com as dificul- ra de rodas, foi muito difícil dades trazidas pela doença a vida nessa época. Quando crônica. A organização ofe- tive a cura, há um ano, os
“Queremos ensinar a pescar e não dar o peixe.”
próprios médicos e funcionários do hospital sugeriram que eu me voluntariasse. De um ano pra cá, recuperei quase 30 kg”, conta o ator Eduardo Rasberge, voluntário do grupo há 14 anos e eleito presidente há nove meses. Ele afirma que a marca da sua gestão será a transparência: “Quero organizar a casa para que não haja desvio de verba”. Rasberge não poupa esforços em nome da entidade que o ajudou quando mais precisava: “Trabalho, às vezes, das sete da manhã às dez da noite. Tenho certeza de que estou fazendo algo muito
ras abrimos para todos os interessados, mesmo para quem não seja paciente de HIV”, explica Rasberge. Segundo ele, frequentando o grupo, é possível aprender a construir mandalas, peças em fuxico, retalhos, luminárias em miçanga, dobraduras de origami e outras maneiras de, como diz o professor, transformar lixo em luxo: “Queremos ensinar a pescar e não dar o peixe. Que as pessoas de baixa renda aprendam a reciclar, a fazer arte e, através dela, a se autoajudar”. Eduardo Rasberge diz que procura trazer a sua experiência de vida para o trabalho voluntário: “Há
29 anos, criei a personagem Mulher da Mala, uma homenagem às mulheres e ao carnaval carioca. Das malas saem as nossas surpresas internas”. O ator, premiado pela RioTour e homenageado na Cidade do Samba trouxe o conceito de Telegrama Animado – teatro a domicílio – para o Rio de Janeiro da década de 1980. Para mais informações sobre o projeto Viva a Vida: (21) 2291-3131, ramal 3733.
sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br
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boa vida
Campeão mundial desvenda os mistérios dos vinhos Italiano Luca Gardini comanda degustação em nova loja da região Recém-inaugurada na região, a Enoteca Doc realizou a sua primeira degustação oficial em grande estilo. Um petit comité (‘pequeno grupo de pessoas’, em francês) compareceu ao casarão do início do século XX, anexado a uma das casas mais tradicionais da região, a Chapelaria Esmeralda. Para o evento, os sócios convidaram Luca Gardini, premiado sommelier italiano que, com apenas 29 anos de idade, já conquistou o título de melhor da Itália, em 2004, da Europa, em 2009, e do mundo, em 2010. O jovem especialista explicou o que é, em sua opi-
nião, um bom vinho: “Tem que traduzir as características do território. Aí podemos dizer que é um grande vinho”. Foram oferecidos três espumantes, um vinho branco e um tinto, todos Le Marquesine, bebidas produzidas tradicionalmente pela família do próprio Luca Gardini, no sul da Itália. Ele descreveu os vinhos fabricados nessa região: “A uva típica siciliana transmite todas as características da ilha: é quente e elegante”. O sommelier da Enoteca Doc, Nei Passos, explicou que o sucesso de Luca se deve ao seu próprio talento, por ter começado a tra-
Sacha Leite
balhar cedo, associado ao fato de seu pai ter a mesma especialidade e também ser ex-campeão mundial. Segundo Nei, o bom sommelier é aquele que conhece o produto, os produtores, as safras, sabe harmonizar bem, e para isso tem conhecimento de prato e de vinho. “Mas o que acho mais importante é você conhecer o consumidor e atendê-lo bem”, sintetiza. Tanto para quem não costuma frequentar degustações quanto para quem é cativo nesse tipo de evento, a experiência foi fantástica. Luca Gardini provou cada vinho na frente de todos e Luca Gardini o premiado sommelier fala ao petit comité presente na Enoteca Doc
Sacha Leite
O grupo escuta com atenção os detalhes percebidos pelo italiano na prova dos vinhos
detalhou os sabores percebidos, tais como: After Eight, morangos com chantilly, laranjas cristalizadas, cascas de cebola. Para quem não provou, pode soar uma percepção forçada, ou fora do comum, mas quem degustou afirma que é possível sentir os itens descritos. O impressionante é que, se o sommelier não tivesse falado, provavelmente esses traços não seriam notados. Alguns especialistas em vinho prestigiaram a
primeira degustação da casa. Um exemplo disso é a especificidade da pergunta formulada por um dos participantes: “Em todos os vinhos são utilizadas leveduras indígenas?”. O pai de Luca, Roberto Gardini, ex-campeão italiano e diretor da Associação Italiana de Sommelier, respondeu prontamente: “Sim, utilizamos esse tipo de levedura tanto para fazer os produtos top quanto para cultivar os produtos base”.
Todos os produtos degustados nesse dia estão à venda exclusivamente na Enoteca Doc (Avenida Marechal Floriano, nº 32, Centro do Rio). Misto de winebar e gastrobar, o espaço também será destinado a cursos e eventos voltados para os amantes do vinho.
sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br
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cidade
Centro de Atenção à Pessoa com Deficiência é inaugurado Emissão de documentos e auxílio na busca de empregos é uma das funções da entidade Divulgação
Inaugurou em setembro o Centro Integrado de Atenção à Pessoa com Deficiência (Ciad), na Av. Presidente Vargas, nº 1.997. O escritório oferece serviços de cadastro, encaminhamento para vagas de emprego, emissão de carteira de trabalho e benefício de seguro desemprego. Segundo a organização, estão disponíveis no momento mais de 300 oportunidades de trabalho. Há vagas para auxiliar de serviços gerais, operador de telemarketing, auxiliar administrativo, copeira, auxiliar de frente de caixa, entre outras oportunidades. Os
candidatos podem se cadastrar das 10h às 18h, munidos de carteira de trabalho, identidade, CPF e PIS. O novo posto faz parte do Plano Nacional do Sistema Nacional de Emprego (Plansine) e oferece também inscrições para cursos de qualificação profissional. Os moradores do Centro e da região metropolitana do Rio serão beneficiados com o atendimento. De acordo com Augusto Ribeiro, secretário municipal de Trabalho e Emprego, a abertura do posto é apenas o início de um longo caminho, já que o número de vagas seria pequeno para
Georgette Vidor na inauguração do Ciad
a demanda. Ele informou que, no último Censo Demográfico, em 2000, o Brasil já possuía 24,6 milhões de pessoas portadoras de alguma deficiência, o que correspondia a 14,5% da população brasileira. A secretária municipal da Pessoa com Deficiência, Georgete Vidor, orienta que, se uma empresa tem intenção de contratar um deficiente auditivo, seria recomendável que alguns funcionários fossem capacitados: “Isso facilitaria a comunicação e contribuiria com a integração dessas pessoas no ambiente de trabalho”. Segundo Augusto Ri-
beiro, o serviço é pioneiro no estado do Rio. O espaço está equipado com seis guichês de atendimento com adaptações, painel de senhas com sistema de voz e conta com a colaboração da Central Carioca de Intérpretes (Libras). Há um cadeirante no quadro de funcionários do Ciad: “Todos são capazes de desenvolver atividades, mesmo que para isso seja necessário um apoio especial. Nós já demos o primeiro passo e precisamos dar o exemplo também”, garante. fabiola buzim fabiolabuzim@gmail.com
cidade
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morro da conceição Circo dos sonhos Filho de mineiros, pai médico e mãe artista, Gustavo Moreira Speridião é um legítimo “carioca da gema”. Primeiro, porque nasceu na Pró-Matre, e segundo, porque sua primeira escolinha foi no Morro da Conceição (Adro), além de ter escolhido o Centro para morar. Aos oito anos, Gustavo foi estudar no Colégio Zaccaria, no Catete, e de lá só saiu quando foi para a UFRJ fazer graduação e mestrado em Artes Plásticas. Lá, foi assistente do professor Carlos Zílio, por quem tem grande amizade e admiração. Sua vida profissional foi iniciada antes mesmo de terminar o mestrado. Ganhador de vários prêmios e exposições, Gustavo já expôs no Museu de Arte Moderna, Centro Cultural Banco do Brasil, Hélio Oiticica, Paço Paris (onde morou), Costa Rica, Japão,
possível imaginar Gustavo em outra profissão senão a de artista. Como disse Chateaubriand: “Você tem uma alma atormentada pela explosão de ideias” Quando Gustavo tinha quatro anos de idade, disse: “Já sei quais são as partes de uma célula: membrana, citoplasma e Plutão”. Será que foi um núcleo tão desconectado assim que o inspirou a criar Nuvem? A Nuvem chega até Plutão? E no Circo dos Sonhos, os palhaços são de aço? Os pássaros são poesias voadoras? Ah, Gustavo! Sua adrenalina não vai conseguir acompanhar o ritmo alucinante de sua criação, a julgar pelos prognósticos gerais. Deixe que a Gráfica Utópica estampe isso para o mundo ver você. Gustavo Speridião é um jovem artista trotskista, que faz da sua arte um link entre a realidade e o sonho de dias Gustavo Speridião melhores para a massa, seja no sentido político, social ou humanístico. Milton Santos soube definir essa maneira de ser de Gustavo: “O papel do intelectual é a busca pela verdade, para isso não basta encontrá-la, é preciso Nuvem, de Gustavo Speridião proclamá-la. Todo intelectual Brasília, Curitiba, São Pau- deve se alinhar a todo tipo lo, MAC de Niterói (onde de luta para restaurar direiquatro obras suas fazem tos e afirmar igualdades.” parte do acervo), Bolívia, No dia 20 de outubro, Recife, além de galerias a premiada obra Circo como Artur Fidalgo e, atu- dos Sonhos, de Gustavo almente, Anita Schwartz. Speridião, será exposta no Viajou por vários pa- Museu de Belas Artes, na íses: França, Inglaterra, Cinelândia. Vale lembrar Portugal, Espanha, Itália, que os trabalhos do artista Rússia, Grécia, Marrocos, também estão na Galeria Egito, Iugoslávia, tudo isso Anita Schwartz, na Rua sempre trazendo material e José Roberto Macedo Soaimagens impressionantes. O res, 30, Gávea. artista conta que muitas vezes chegou a jogar fora suas roupas da mochila para trateresa speridião teresa.speridiao@gmail.com zer o que encontrou. Não é
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Mais uma associação de comerciantes para o Porto Nova entidade reivindica informações sobre obras na região A região portuária do Rio de Janeiro conta agora com mais uma sociedade protetora dos direitos dos lojistas e empresários locais: Associação de Comerciantes Porto Maravilha. O presidente da organização, Luiz Alberto Barbirato, explica por que não houve conciliação com outros grupos pré-existentes, como o Polo Empresarial Nova Rua Larga: “A nossa associação quer focar na região da Rua Camerino, Sacadura Cabral e adjacências, por isso não era o caso de se associar”. Fábio Kusdi, um dos dirigentes da nova associação, fala da dificuldade de entendimento com o poder público: “O subprefeito do Centro agendou por três vezes reunião conosco e não compareceu a nenhuma delas”. Além disso, alega que não foram consultados em momento algum: “Até agora ninguém chegou para os comerciantes e perguntou
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Rua interditada
se estava incomodando ou se havia algum problema”. De acordo com os membros da organização, o intuito está em minimizar o sofrimento dos comerciantes ao longo da reforma urbana já deflagrada. “Queremos saber sobre a agenda de obras do projeto do Porto: quais ruas vão fechar, o que será feito e em que época. Dessa forma poderemos nos organizar e
não quebrar”, explica Barbirato, que também é vice-presidente do Conselho Comunitário de Segurança da AISP 5. Essa é a grande preocupação da nova entidade, daí a referência no nome ao projeto Porto Maravilha, da prefeitura do Rio: como evitar que os fechamentos de ruas gerem crises comerciais motivadas pela dificuldade de acesso
por parte dos consumidores. Desde julho, a nova associação já está devidamente legalizada, com estatuto e CNPJ. Segundo Fábio Kusdi, mais de 100 comerciantes já declararam interesse em participar das reuniões.
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Obras do Porto Maravilha interditam vias da Praça Mauá Itinerário de quatro linhas de ônibus também será alterado Segundo o site Prefeitura do Rio, do dia 8 de outubro deste ano até a meia-noite de 10 de fevereiro de 2012, a Praça Mauá terá interditadas ao tráfego a via interna de retorno depois da Avenida Rio Branco e a via de retorno junto às edificações depois da Avenida Vene-
zuela, para uso exclusivo de pedestres. Nessas vias serão proibidos o estacionamento e parada de ônibus de linhas municipais e intermunicipais. Quatro linhas de ônibus com ponto final ou regulador naquela praça e na Rua Sacadura Cabral, operadas pelos consórcios
Intersul e Transcarioca, passarão a trafegar como “circulares” com novo itinerário: Avenida Presidente Vargas (pista central), Praça Pio X, ruas 1º de Março e Visconde de Inhaúma e avenidas Rio Branco e Presidente Vargas (pista central). A Linha 220 (Praça
Mauá-Usina, via Haddock Lobo) terá a vista alterada para Usina-Candelária, via Haddock Lobo; Linha 338 (Praça Mauá-Taquara, via Linha Amarela) se torna Praça Mauá-Taquara, via Haddock Lobo; Linha 341 (Praça Mauá-Taquara) será alterada para Taquara-Candelária. Esta linha também tem serviço parcial, Freguesia-Praça Mauá, que passa a operar como “circular”. A Linha 345 (Praça Mauá-Barra da Tijuca) passa a ser Barra da Tijuca-Candelária.
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gastronomia
Comida a quilo com charme de bistrô Baroa inova com ingredientes requintados e ambiente moderno Divulgação
Ao falarmos de restaurante a quilo logo pensamos em uma comida simples, servida em grande quantidade e, claro, com muitas calorias! Pois esqueça essa ideia. O Restaurante Baroa é a prova de que é possível unir a rapidez e variedade da comida a quilo com a qualidade e boa apresentação dos pratos à la carte. Há três anos na Rua da Quitanda, o estabelecimento se destaca na região. Os clientes podem até se assustar com o preço, um pouco acima do cobrado pela maioria dos restaurantes a quilo, mas depois de conhecer a proposta diferenciada e o ambiente agradável do Baroa, veem que os centavos a mais valem a pena. Variedade é a palavra de ordem na casa. Pratos como bruschetta de parmesão e tomate cereja, feijoada, bacalhau grelhado, caneloni recheado de brócolis e escondidinho de salmão fazem parte de um cardápio que oferece, além de pratos frios e quentes, carnes grelhadas na hora e comida japonesa, totalizando cerca de 60 a 70 opções diárias. Ingredientes de primeira linha como bacalhau, salsicha alemã e truta são figurinhas certas no buffet. Para incrementar ainda mais as opções do menu, cada dia da semana recebeu um tema para rechear os pratos com comidinhas diferentes: Segunda Light, Terça Mineira, Quarta Mediterrânea, Quinta Internacional e Sexta Contemporânea. É para agradar a todos os paladares. Outra grande preocupação de Luis Carlos, proprietário do Baroa, é com a exibição dos pratos. Para evitar incômodos conhecidos de restaurantes a quilo, como comida fria e “mexida”, ele criou algumas solu-
Opções variadas de comida que atendem a todos os gostos Divulgação
O ambiente agradável, moderno e aconchegante do Baroa
ções para a manutenção dos pratos expostos no buffet. O balcão tem acesso para os clientes apenas por um lado, do outro, ficam funcionários com microfones sem fio, responsáveis por manter a reposição constante da comida. Os pratos são servidos em pequenos vasilhames, dessa forma a reposição acontece regularmente, mantendo sempre os alimentos aquecidos e com boa aparência, praticamente feitos na hora. Também pensando em oferecer uma apresentação
bonita e agradável, foram adotadas na casa porções individuais de pratos como lasanha, quiche e empadão, que geralmente são servidos em grandes tabuleiros e depois de algum tempo de exposição estão feios e desmontados. O ambiente também conquista clientes pelo seu charme. Com decoração jovem e moderna, é possível perceber uma grande preocupação em oferecer um espaço aconchegante, prático e funcional, com todas as soluções necessárias para
um agradável almoço entre colegas de trabalho ou uma reunião de negócios. Detalhes como gancho para bolsa nas mesas, internet wi-fi e ar-condicionado fazem toda a diferença para quem está no Centro durante a semana. As sobremesas merecem um destaque especial. Com mais de 15 opções disponíveis, os carros-chefe são os tradicionais petit gâteau e brownie com sorvete fabricados na casa. Servidas em porções generosas, as delícias podem ser degustadas sozinhas pelos fãs de doces ou divididas tranquilamente entre um grupo de amigos. É de lamber os beiços! O almoço é o mote principal do Baroa, mas quem deseja tomar um café da manhã especial também vai encontrar saborosas sugestões para a primeira refeição do dia. O restaurante oferece buffet de café da manhã das 07h30 às 10h, com frutas, bolos de fabricação própria, pães variados, salsicha alemã, bacon, entre outras opções. Quem deseja algo mais casual, como um expresso ou drinks com café, vai encontrar o que procura na cafeteria do Baroa. Aberto das 07h30 às 15h30, o local é ideal para uma parada rápida para começar o dia ou mesmo antes de voltar ao trabalho. E uma boa notícia para quem trabalha em empresas da região: o restaurante oferece desconto de 7% para funcionários dos empreendimentos cadastrados. Quem ainda não pode aproveitar essa promoção, basta procurar o Luis Carlos, que explicará como cadastrar a sua empresa. O Baroa definitivamente vale a sua visita.
danielle silveira daniellethamires@hotmail.com
receitas carol Cada vez mais as receitas da vovó estão na moda aqui em casa. Ando apaixonada pelas tradições, pelos segredos de culinária passados de geração para geração. Talvez seja por causa dos estudos que estamos fazendo na cultura brasileira, sobre os doces de goiaba em tachos de cobre, sobre o traçado dos paneiros da farinha d`água no norte, os tipitis… Enfim, uma cultura milenar brasileira que encanta todo mundo e vem ganhando status e
reconhecimento entre seus artesãos. Por isso fui buscar nos caderninhos da família a receita de hoje: compota de laranja. Fiz umas pequenas adaptações usando a criatividade e as belas laranjinhas que colhi de uma única laranjeira plantada no vaso da varanda, uma dádiva! A compota pode durar até seis meses na geladeira. Como geleia fica uma delícia em um pão caseiro, com um café no final da tarde. Aproveite e bon appétit!
Compota de laranja Kinkan
ACP
Ingredientes: 750 g de laranjas Kinkan 1,200 litros de água
1,200 kg de açúcar Sumo de meio limão
Modo de preparo: Lave muito bem as laranjas e corte-as em fatias finas. Se usar laranjas inteiras, corte-as em um quarto de lua. Deixe a laranja cortada de molho na água por 8 horas. Coloque numa panela funda e ferva até as cascas estarem quase moles (cerca de 1 hora). Junte o açúcar e o sumo do limão e deixe-o ferver lentamente, cerca de 1 hora para ganhar consistência. Para ver se está pronto, coloque um pouco da compota num pires, deixe
esfriar e passe o dedo ao meio, se abrir um caminho está pronto, se não, deixe ferver lentamente até obter a espessura desejada. Por fim, apague o fogo, retire a espuma que se forma na superfície e deixe amornar. Encha os frascos apropriados e vede-os. Rende 4 frascos.
ana carolina portella carolnoisette@hotmail.com Confira outras receitas da Carol no blog nacozinhacomcarol. blogspot.com
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lazer
Poesia Pintada Reprodução
Reprodução
Balão Solta o menino o balão em noite de São João. Correio para a menina, paixão de festa junina. Coração era só dela, bucha de papel e vela. Tentou seu amor provar, lambeu ainda no ar. Já não brinca com a chama e nem da vida reclama. Aquilo que achava graça voou da vida que passa.
Menino com Pipa – Nando Ribeiro
Reprodução
Vista Vejo dessa janela vaso, flor, mato, casa. Vivo só, eu e ela, vista distante e rasa. Vale pela ilusão, vale dentro de mim. Vejo o que não verão, vivo meu jeito assim.
Composição – Ferracioli
Colhedores de Café – Nerival Rodrigues
Harmonia Céu mais azul, tão vasto verde.
Traz, norte a sul, tanto querer-te.
Paz, eu e tu, chão sem parede.
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dicas da cidade Mais Aun nos Correios A exposição individual de Claudio Aun no Centro Cultural dos Correios, prevista para permanecer até o dia 18 de setembro, poderá ser conferida até 13 de novembro. O artista, que é membro da Academia Brasileira de Belas Artes e possui um ateliê no Morro da Conceição, comemora 40 anos de carreira. Mosaico, arte milenar O Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Rua Camerino, nº 51) receberá, a partir do dia 19 de outubro, o 7º Rio Mosaico. 14 mosaicistas vão expor objetos decorativos no Cedim. A mostra ficará até o dia 10 de novembro, com entrada franca. Segundo os organizadores, o Rio Mosaico pretende agregar difusores de uma arte milenar de alta complexidade técnica, que se utiliza de materiais e conceitos diversos. Rio Branco parada para o Funk Domingo, dia 30 de outubro, parte da Avenida Rio Branco será fechada para o Rio Parada Funk. A manifestação, autorizada pela prefeitura, homenageia os 20 anos de surgimento do movimento cultural carioca. A Cinelândia receberá 50 DJs e 40 MCs para um dia dedicado não só ao ritmo como aos valores de cidadania, educação da redação redacao@folhadarualarga.com.br e liberdade.
Clarão no Botequim da Rua Larga CCL reabre suas portas com espetáculos gratuitos ou a preços simbólicos O Teatro Lamartine Babo reabriu com instalações reformadas, trazendo novos ares para o Centro Cultural Light. Uma das boas novidades da programação é a volta do Botequim da Rua Larga, que anima as sextas-feiras da região desde o dia 7, quando trouxe Leonardo Bessa ao palco do CCL. No próximo dia 4 de novembro, sexta-feira, às 18h30, o Projeto Botequim da Rua Larga receberá o cantor, cavaquinista, compositor de samba-enredo e presidente da Viradouro Gustavo Clarão. No repertório, os grandes sucessos de sua carreira. Gustavo ingressou na música profissionalmente em meados dos anos 1990 com um grupo de samba. Neto e filho de compositores, foi criado no meio de serestas e ro-
Divulgação
CCL recebe o presidente da Viradouro, Gustavo Clarão
das de samba promovidas pelo pai no quintal de sua casa. Herdou do avô o fascínio pelo cavaco e começou a tocar o ins-
trumento ainda criança. Cresceu, graduou-se em Medicina e virou compositor de samba-enredo, deixando o CRM apenas
como documento de identidade. Aos 18 anos, fez seu primeiro samba-enredo em parceria com o pai, na Estácio de Sá, e, a partir daí, não parou mais. Ganhou vários prêmios na mesma escola, passando depois pela Mangueira, Viradouro e Beija-Flor. Só na Viradouro, ganhou oito sambas, sendo sete consecutivos. Atualmente, Gustavo Clarão exerce carreira solo. Seu estilo é o samba, mas com grande influência da MPB. Gravou um CD independente com composições próprias e algumas co-autorias de sambistas consagrados. A entrada é franca. O Centro Cultural Light fica na Avenida Marechal Floriano, 168, Centro.
da redação redacao@folhadarualarga.com.br