Divulgação
Prêmio valoriza projetos socioculturais
Via Binário vai substituir Perimetral
A quarta edição do Prêmio Rio Sociocultural, idealizado pelo Instituto Cultural Cidade Viva, lotou o Teatro João Caetano com grupos organizados que torceram pelos finalistas. Veja quais foram os projetos vencedores.
Uma nova via expressa, de seis pistas (três em cada sentido) e capacidade para 4.500 veículos por hora nos momentos de maior pico de trânsito, tomará o lugar do atual Elevado da Perimetral.
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cidade I página 4
cultura I página 3
folha da rua larga RIO DE JANEIRO | JULHO – AGOSTO DE 2013
Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 40 ANO VI
Ministério Público faz acordo com Cdurp e extingue a ação que iria embargar a demolição da Perimetral
comércio
Quem bebe vinho compra chapéu
Divulgação
A Enoteca DOC, uma das mais acolhedoras lojas de vinho da Rua Larga, é associada à tradicional Chapelaria Esmeralda, ponto de encontro de artistas que buscam moda para “fazer a cabeça”. página 5
desenvolvimento
Comerciantes descobrem valor da internet Os associados do Polo Região Portuária se reuniram no Hotel Pompeu para ouvir palestras sobre a importância da web e das redes sociais para os seus negócios. Uma das palestras foi uma teleconferência de Marc Barros, de Seattle, nos Estados Unidos. página 7
A Cdurp mostrou novos estudos técnicos e o Ministério Público liberou as obras de demolição da Perimetral (foto). Em entrevista, o diretor-presidente da Cdurp, Dr. Alberto Silva, defende as obras do Porto Maravilha. desenvolvimento urbano I páginas 8 e 9
gastronomia
Lielzo Azambuja
Bistrô Santa Rita: diferencial no atendimento
página 14 Divulgação
Filé mignon au poivre
entrevista Márcia Ferreira e Paula Janaína, gerentes da Incubadora de Empreendimentos Populares, falam sobre a participação da entidade na 2ª Semana Porto Empreendedor, promovida pela prefeitura, pela Cdurp e pelo Sebrae/RJ na Região Portuária. A Incubadora participou do evento com exposição, visitação e debates sobre casos de sucesso de negócios. página 11
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opinião espaço dos leitores Divulgação
Um mineiro fala do MAR
Memória e subjetividade
Roberta Sampaio Guimarães, antropóloga e professora da Uerj
Mário Margutti
Carlos Machado, presidente da Associação Recreativa Cultural Afoxé Filhos de Gandhi (RJ)
“Ao desenvolver, entre 2007 e 2009, uma pesquisa de doutorado sobre a Zona Portuária, o patrimônio da Pequena África me chamou atenção, por mobilizar vários grupos sociais que desejavam perpetuar uma memória afrodescendente ligada ao samba, ao trabalho portuário, ao candomblé e à moradia popular. Com essa pesquisa, percebi que as ações de resgate de memórias são importantes, principalmente, para a formação da subjetividade de seus portadores, pois os que se envolvem no processo de preservação de um lugar ganham autoconsciência de si e do espaço que habitam. E, do ponto de vista objetivo, fortalecem-se para reivindicar um reconhecimento social e político mais amplo.” Pedido às autoridades “Fundado em 12/08/51 por estivadores e trabalhadores ligados à religião afrobrasileira, o Afoxé Filhos de Gandhi é a mais antiga instituição afrodescendente do Rio de Janeiro. Atua há 62 anos na Região Portuária e seu diferencial é o toque dos atabaques no ritmo Ijexá e os cânticos em yorubá. Na época do governador Moreira Franco, ganhamos uma sede, na Rua Camerino, n° 07/09, colada ao Jardim do Valongo. O imóvel está em ruínas, só existe a fachada. Não podemos fazer a reforma porque Rosinha Garotinho, quando foi governadora, cedeu a sede para o Cedine (Conselho Estadual dos Direitos dos Negros). Sem ter a posse definitiva do imóvel, estamos perdendo a chance de contar com o apoio da prefeitura, da Cdurp e do governo do estado. A questão nunca foi levada ao conhecimento dos conselheiros do Cedine, e creio que eles a resolveriam a nosso favor. O impasse precisa ser resolvido. Por isso, pedimos a atenção das autoridades municipais e estaduais.” Disputa pela memória
Divulgação
Giovanny Harvey, novo secretário-executivo da SEPPIR – Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, órgão do governo federal
“A memória social da Região Portuária tem sido preservada através de sítios arqueológicos, dentre os quais destacam-se o Instituto Pretos Novos (IPN) e o Cais do Valongo, de inúmeras manifestações socioculturais, como Afoxé Filhos de Gandhi e Quilombo da Pedra do Sal, além dos “Griots”, sendo Rubem Confete e Tia Rosa os mais conhecidos. É necessário ir além, pois a disputa pela hegemonia do legado africano já está posta e é preciso evitar que a Pequena África do futuro seja uma marca de fantasia explorada comercialmente por instituições e/ou segmentos que não tenham nenhuma conexão com os grupos sociais que construíram a sua história. Essas tensões sociais, que aumentarão com o tempo, só serão equacionadas através de um Programa de Ações Afirmativas, constituído por projetos transversais e focados no território.” Texto publicado no Boletim do Observatório Sebrae/RJ N.° 3 de julho de 2013, dedicado aos desafios da Operação Urbana Porto Maravilha, sob o título Políticas Públicas e alternativas para a manutenção e o desenvolvimento dos micro e pequenos negócios tradicionais.
Azambuja e Teresa Speridião
Francis Miszputen, João Carlos Ventura, Mário
Projeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana Lins
Margutti, Mozart Vitor Serra
Diagramação - Suzy Terra
Direção executiva - Fernando Portella
Revisão tipográfica - Raquel Terra
Editora e jornalista responsável - Sacha Leite
Produção gráfica - Paulo Batista dos Santos
Editor dos nºs 39 e 40 - Mário Margutti
Impressão - Maví Artes Gráficas Ltda.
Colaboradores - Aloysio Clemente Breves, Ana
Contato comercial - Teresa Speridião
Carolina Portella, Archimedes Monea, Danielle
Tiragem desta edição: 6.000 exemplares
Silveira, Elisa Rigoto, Fernando Portella, Lielzo
Anúncios - comercial@folhadarualarga.com.br
Sergio Mitre poeta, historiador e jornalista / Belo Horizonte O Cais do Valongo e nossas memórias No sábado dia 6/7/2013, assisti à lavagem do Cais do Valongo coordenada pela Mãe Celina de Xangô, evento promovido pela Associação Cultural Pequena África e que possibilitou aos presentes viver o passado distante, da comercialização de escravos e, ao mesmo tempo, refletir sobre a presença do negro na sociedade brasileira. Não fosse o ruflar do candongueiro, do caxambu e do angonauita, antagonizando com o arrastar das correntes de séculos passados, o evento seria mais uma manifestação sobre a recuperação da região do Cais do Porto. Segundo Rubens Confete, um dos mentores da Associação Cultural Pequena África, resgatar o Cais do Valongo como marco da cultura afro-brasileira não é apenas uma questão de vaidade pessoal e arrogância política, mas sim de recuperar fatos da trajetória de vida de brasileiros trabalhadores que não são incluídos na historiografia brasileira ou, de forma equivocada, são relatados de maneira esquiva à realidade vivida pela mão de obra escrava que aportou no Rio de Janeiro. Registro aqui minha satisfação em observar que a recuperação da Zona Portuária não é apenas um conjunto de obras urbanas, mas sim, e principalmente, o resgate da memória de milhares de trabalhadores que contribuíram e contribuem com o desenvolvimento sociocultural da cidade. José Carlos Félix sociólogo
folha da rua larga Conselho editorial - André Figueiredo, Carlos Pousa,
Foi com muita satisfação que visitei o MAR (Museu de Arte do Rio de Janeiro), na Região Portuária da cidade. Além da imponência do museu, composto de dois prédios, um antigo e um moderno, devidamente integrados, o que mais chama atenção são as diferentes exposições e todo o planejamento para a recepção de visitas, escolas e a devida preocupação com a educação patrimonial. Ainda carecendo de uma identidade mais definida – por exemplo: se é um museu de história da arte do Rio de Janeiro ou um museu de história do Rio de Janeiro, revelada a partir de obras de arte e arquitetura –, as exposições contam com uma miscelânea de tipos de objetos em exposição e temáticas, embora sejam todas relacionadas à cidade do Rio de Janeiro e ao seu povo. O MAR tem tudo para integrar e interagir com aqueles que fazem a história e, historicamente, a arte na Cidade Maravilhosa: o povo carioca.
Redação do jornal Rua São Bento, 9 - 1º andar - Centro Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690 www.folhadarualarga.com.br redacao@folhadarualarga.com.br
A Folha da Rua Larga recebe opiniões sobre todos os temas. Reserva-se, no entanto, o direito de rejeitar acusações insultuosas ou desacompanhadas de documentação. Devido às limitações de espaço, será feita uma seleção das cartas e, quando não forem concisas, serão publicados os trechos mais relevantes. As cartas devem ser enviadas para a Rua São Bento, 9, sala 101, CEP: 20090-010, pelo fax (21) 2233-3690 ou através do endereço eletrônico leitor@folhadarualarga.com.br.
cultura
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Prêmio Rio Sociocultural: uma festa marcada pela emoção Cerimônia da 4ª edição lota o Teatro João Caetano com torcidas organizadas Jaqueline Machado
Como acontece todos os anos, a cerimônia de entrega do Prêmio Rio Sociocultural foi caracterizada pela emoção das torcidas organizadas e do público que compareceu ao Teatro João Caetano, no dia 25 de junho passado. A edição de 2013 teve um número recorde de inscritos: 387. As inscrições dos projetos concorrentes foram gratuitas e abertas para os municípios de todo o estado. Quatro representantes das instituições patrocinadoras selecionaram os dez finalistas, que receberam R$ 5 mil cada. Na grande final, o mesmo júri escolheu os cinco projetos vencedores, que receberam troféus e mais um prêmio adicional em dinheiro, no valor de R$ 10 mil. No total, foram distribuídos R$ 100 mil. A seguir, os projetos vencedores: Agência de Redes para a Juventude (Rio de Janeiro) - A agência atua de forma a agregar jovens de baixa renda que são incentivados a criar e implementar ações que melhorem as condições de vida em suas comunidades. A cada ciclo do projeto, 300 jovens recebem uma bolsa de criação no valor de R$ 100 que os ajudam a desenvolver as suas ideias. As 30 melhores propostas ganham R$ 10 mil cada, para serem realizadas. Idosos com Amor (Cabo Frio) – Criado há 13 anos, o projeto atende 110 idosos carentes da região e tem como focos a inclusão social e a promoção da cidadania. Os idosos ganham acesso a atendimentos médico e psicológico e participam de
Os vencedores do Prêmio, com os apresentadores Carlinhos de Jesus e Ana Botafogo (no centro)
Jaqueline Machado
Os bailarinos encantaram a plateia com exibição de dança
atividades de arte-terapia. Atualmente, está em curso um projeto literário chamado Caderno de Contar Histórias. Com a orientação de uma arte-terapeuta, os idosos relatam suas histórias em um caderno de memórias que futuramente deverá virar um livro.
Luar de Dança (Duque de Caxias) – O projeto teve início em 1990, em uma igreja. Para viabilizar as aulas de balé clássico e dança moderna, o altar virou palco e os bancos serviram de barra. No começo, 16 adolescentes iam às aulas. Hoje, o projeto atende 1.500 alunos entre crianças, jovens e adultos. Além das aulas de dança, há oferta de reforço escolar e oficinas de cultivo de horta familiar e de alimentação saudável. Projeto Jurujuba: Pescando Sonhos (Niterói) – A maior parte das crianças atendidas são filhos de pescadores da colônia de Jurujuba. A ideia é fazer com que as crianças valorizem o ambiente cultural da pesca e aprendam a preservá-lo. O projeto teve início em 1998 e acontece numa escola municipal, oferecendo reforço escolar, aulas de balé, oficinas de artesanato e meio ambiente. A cada ano são assistidas cerca de 100 crianças
entre 7 e 14 anos de idade. Trem Cultural (Casimiro de Abreu) – O projeto foi criado há 12 anos, com o objetivo de incentivar e promover a leitura, inspirado
no famoso Doutores da Alegria. No início, os integrantes atuavam junto às crianças internadas no Hospital Municipal de Casimiro de Abreu. Atualmente, as ações acontecem em escolas públicas, asilos, bibliotecas e palcos do município. Cerca de 500 pessoas são atendidas por mês e, ao longo dos anos, mais de 40 mil crianças, jovens e idosos já foram beneficiados. Uma comissão especial de 100 pessoas participou da cerimônia de premiação, escrevendo depoimentos sobre todos os dez projetos finalistas. As visões desses formadores de opinião são entregues aos responsáveis pelos projetos, que assim têm os seus currículos enriquecidos. O Prêmio Rio Socio-
cultural foi idealizado por Fernando Portella, diretor-executivo da ONG Instituto Cultural Cidade Viva (ICCV). A entidade realiza o evento em parceria com o Rio Solidário – Obra Social do Rio de Janeiro, com patrocínio da Ceg Rio, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro e com apoio do Sebrae/RJ. Antes de dar início à entrega dos prêmios, Fernando Portella citou o escritor alemão Goethe: “Quando eu acredito em uma coisa, todas as portas se abrem para mim”. E completou: “A missão do ICCV é transformar sonhos em realidade”.
da redação redacao@folhadarualarga.com.br
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cidade
Via Binário vai substituir Elevado da Perimetral Primeira grande obra do sistema viário do Porto Maravilha deve estar pronta no segundo semestre Divulgação
De acordo com a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp), a modernização do sistema viário da Região Portuária acontecerá com a execução de três grandes obras: a demolição do Elevado da Perimetral, a transformação da Avenida Rodrigues Alves em Via Expressa e a construção de uma nova rota, a Via Binário do Porto. Com 3,5 km de extensão, paralela à Avenida Rodrigues Alves, a Via Binária terá três faixas em cada sentido, além de várias saídas para o trânsito e diversos acessos ao Centro da cidade. No sentido de quem se dirige à Praça Mauá, a via fará a ligação da Rodoviária Novo Rio à Avenida Rio Branco. No outro sentido, o
Depois de concluída, a Via Binário (em amarelo na ilustração) terá capacidade para 4.500 veículos por hora em momentos de trânsito intenso trajeto começará na Rua Primeiro de Março e seguirá em direção às alças do Viaduto do Gasômetro, em construção. Hoje, alguns trechos da
Via Binário do Porto já estão em operação, como a Avenida Venezuela e parte da Rua da Gamboa. A nova via passará pelo
Túnel da Saúde, que já está quase concluído, e também terá três faixas de rolamento em cada sentido. No meio dessas faixas, circulará um
moderno Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que terá calçada para pedestres. Um estudo técnico do tráfego da região, realizado pela
Cdurp, aponta a Via Binário como o conjunto de ruas que fará a distribuição do trânsito de veículos nos bairros da Saúde, Gamboa, Santo Cristo e Centro. Quando estiver pronta, terá capacidade para 4.500 veículos por hora, nos momentos de maior pico do trânsito. Durante o processo de demolição do Elevado da Perimetral, a Via Binário será indispensável para desviar o fluxo de veículos. No futuro, juntamente com a Via Expressa, também em construção, será responsável pelo aumento do volume de tráfego na Região Portuária.
da redação redacao@folhadarualarga.com.br
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comércio
Um lugar para os apreciadores de vinho e de chapéus “Quem vem para beber acaba se interessando pela chapelaria”, diz o dono Divulgação
A Enoteca D.O.C., casa de vinhos sediada na Avenida Marechal Floriano, 32, tem em sua equipe o sommelier italiano Luca Gardini, de 30 anos, que ganhou o título de campeão do mundo num concurso realizado pela Worldwide Sommelier Association na República Dominicana em 2010. O jovem recebeu a honraria com apenas 28 anos, depois de ter sido escolhido como melhor sommelier da Europa em 2009, e melhor da Itália com somente 22 anos. Antes de vir para o Brasil, Luca foi sommelier do estrelado restaurante Cracco de Milão. Ninguém deve estranhar, portanto, que o forte da Enoteca D.O.C. sejam justamente os vinhos italianos. Como acontece em toda casa de vinhos, periodicamente são promovidas degustações. Uma delas entrou para a história: foi quando Luca Gardini mostrou aos seus clientes cariocas as qualidades do Gambero Rosso 2011, bebida que conquistou o prêmio de melhor espumante da Itália. Além disso, houve uma surpresa: Luca trouxe da Itália para o evento ninguém menos que o produtor do Gambero, Loris Biatta, da Azienda Le Marchesine, da cidade italiana de Franciacorta.
Além de vinhos, a casa oferece cervejas artesanais Divulgação
Artistas compõem a clientela principal da chapelaria
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Outra curiosidade: o projeto dos proprietários, Christiane Faria e seu marido Fábio Soares, é desenvolver um negócio que mescla casa de vinhos com chapelaria. Tudo começou quando Christine herdou do pai a tradicional Chapelaria Esmeralda, propriedade de sua família desde 1920. Seu marido, que era professor, deixou para trás a área de Educação e passou a trabalhar com ela à frente dos negócios. Numa entrevista registrada no blog da Operação Urbana Porto Maravilha, Fábio esclarece o porquê
da duplicidade de negócios no estabelecimento: “Muitos de nossos clientes são artistas e músicos. Quando vinham fazer suas compras, diziam que ficariam por aqui se tivéssemos vinhos e charutos para vender. Começamos a amadurecer a ideia de formar um mix que compusesse a chapelaria e atendesse ao público com o qual a gente já trabalhava. Quisemos promover a maior integração possível entre os ambientes, criar um conceito novo, trazendo cultura, e também homenagear o avô e o pai da Chris, que adoravam cerveja”. Fábio considera animador o resultado que obteve com a loja. E afirma: “Inauguramos com o pé direito, trazendo Luca Gardini, o melhor sommelier do mundo”. Na visão do proprietário, a região da Marechal Floriano estava carente desse tipo de ambiente: “Eu mesmo tentava encontrar um lugar bacana para conversar e beber um vinho, mas não havia nada por perto”. Como o entorno tem empresas grandes, a enoteca/ chapelaria recebe muitos profissionais após o final do expediente. “As pessoas vêm, voltam e se tornam amigas. Clientes antigos adoraram o acolhimento de sua velha ideia. Continuam frequentando a chapelaria, mas agora o tempo
que passam com a gente é bem maior. Quem vem para beber acaba se interessando pelo chapéu, marca de um estilo de vida. Esses consumidores entendem que não se trata apenas de um acessório de beleza, mas da preocupação com a pele em um país tropical”, revela Fábio. Segundo ele, outro diferencial do mix é a promoção adicional de cultura: “A preocupação era passar para quem vem aqui a cultura do vinho e da cerveja, apresentar um mundo novo, com outros sabores e histórias. A gente quer tirar os preconceitos que muita gente tem por não conhecer o trio cerveja, vinho e charuto. O vinho aqui no Brasil ainda não é considerado alimento, como em outros lugares do mundo. Ainda é tido como bebida elitista, mas queremos mostrar que o vinho é para todo mundo, faz bem à saúde e traz qualidade de vida”. Hoje, o cardápio da casa oferece cerca de 400 vinhos e 100 cervejas. Como os clientes começaram a pedir que a loja servisse comida, o casal proprietário aceitou o desafio e criou um pequeno bistrô, que funciona na parte de cima da loja.
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boca no trombone
Cliques Rua Larga Sacha Leite
As ruas não vão se calar A Máquina Pública é um bicho sem coração que tomou conta da mente da maioria dos políticos e de seus servidores. Um vírus que conjuga o ser na primeira pessoa do singular e se alimenta de poder para si: “Você sabe com quem está falando”? Do alto do Planalto, o senador acena para a dor, enquanto na base, o vereador a venera e os doentes, roucos de tanto suplicar, deitam-se nos corredores dos hospitais, sem macas. O Papa Francisco pede licença para entrar no coração dos brasileiros. Os jovens querem que a simplicidade papal se torne um modelo de gestão. Apenas isto, nada mais – o resto é consequência. Estamos na Era da Emoção, o que implica em sentir, agir, experimentar e depois planejar. Assim são os jovens nas ruas, nas redes sociais – a única imprensa livre do planeta. O poder marqueteia, maquia, não enxerga a dimensão coletiva. Sentir implica em solidariedade. Os partidos partiram, não há mais ideologia, nem princípios. Todas as bandeiras são queimadas nas ruas. O partido novo, se nascer, surgirá das cinzas. Discursam por mais educação, saúde, transporte, moradia, oportunidade de emprego, qualidade de vida, bom uso dos recursos públicos – “palavras, você diz tudo e nada faz”. O bicho da máquina imprime o mesmo verbo da esquerda que é direita, de centro em cima do muro e embaixo das mesas das decisões. Os políticos clamam, os sindicatos mamam, as lixeiras ficam em chamas. Representantes não representam: a quem recorrer? O que está acontecendo no Brasil? Quem lidera as ruas? A diversidade unida pelo “basta”. Os jovens se cansaram de ser chamados de futuro da nação e querem ser presentes, cada qual no seu tom, na sua causa, no seu protesto. São as marionetes que puxam as cordas das mãos do desgoverno da nação. As redes sociais são cabos digitais que se unem a outros, formando nós – alianças. Não, não é um desabafo – é o bafo daqueles que querem mudar. Queremos Papas na maneira de ser de Francisco – não importa a religião. Claro, existem os infiltrados, as gangues, os paus-mandados da oposição, os arruaceiros: são faces vermelhas que apanharam na cara desde antes de nascer. É o nosso lado explosivo, incontrolável – marca de todas as revoluções. Nosso lado ruim, que nasce da nossa ruína. Como podem os fichas-sujas serem eleitos para assumir posições de comando no país, usar os recursos públicos para o lazer pessoal e acharem tudo isso normal? É a cultura do bicho-zumbi que comanda a lógica de suas cabeças. “São meus direitos”, dizem! Mas que direitos? Servidor público é aquele que serve ao público pagador de impostos. Os jovens são cupins que começam a devorar os caras de pau. Estamos na Era da Emoção e do Envolvimento, em que a palavra “des-envolvimento” (o não-envolvimento) perdeu o seu sentido, pois será cada vez mais impossível crescer sem se envolver. Olho no olho, ouvir, escutar, responder, desculpar-se, prestar contas – é o que precisa acontecer. O futuro será comandado pela transparência e pelo consenso, pelo conhecimento sem arrogância, pelo facilitador da decisão coletiva.
fernando portella cottaportella@globo.com
O antigo: pela beleza de sua arquitetura neoclássica, reproduzimos aqui a fachada da antiga Fundição de Bronze e Ferro, localizada na Rua Sacadura Cabral. Sacha Leite
O novo: o maior grafite da cidade é de autoria de Toz e também fica na Sacadura Cabral. Ajudado por oito artistas, ele usou 1.500 latas de tinta. O mural mede 2.100 m2 e 30 x 70m.
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A importância da internet e das redes sociais para o comércio Polo Região Portuária promove palestras com dicas sobre comércio eletrônico Israel Oliveira
No mundo atual, os comerciantes não podem prescindir de usar a internet como ferramenta de promoção dos negócios e de venda de produtos ou serviços através de meios eletrônicos. Esse foi o mote do “Bem-vindo Empresário”, programa promovido pelo Polo Região Portuária, dia 25 de junho, no Hotel Pompeu, no Centro, para divulgar, entre seus associados, informações estratégicas sobre a utilização da internet no mundo do comércio. Intitulado “Meu negócio na Web”, o encontro reuniu três palestrantes: Dominique Valansi, jornalista e fundadora da empresa Oz Comunicação e Gestão de Pessoas, o norte-americano Marc Barros, criador da Contour, marca de câmeras capazes de fazer e compartilhar vídeos na internet com extrema facilidade (que fez sua palestra por meio de teleconferência), e Luiz Cláudio Paiva, dono da Casa Caça e Pesca, que abriu recentemente a sua filial na web. Utilizando slides, Dominique apresentou aos presentes o trabalho da Oz na divulgação nas redes sociais da feira ArtRio, que acontece na Região Portuária e reúne galerias de arte nacionais e estrangeiras. “Eu enfoquei as redes sociais como uma nova maneira do consumidor interagir com as marcas”, disse Dominique para a Folha da Rua Larga. “Antes, o público recebia as mensagens das empresas via publicidade na rádio, tevê e impressos, era uma relação unilateral. Com o advento da internet e dos SACs (Serviços de Atendimento aos
De pé, Maria Eugênia Duque Estrada, presidente do Polo Região Portuária, no momento em que dava início às palestras sobre a internet como ferramenta de vendas
Consumidores), começa a rolar um feedback dos clientes e, depois que surgiram as redes sociais, as empresas não controlam mais o que sai a respeito delas. O que é bom e ruim”, completou ela. De acordo com Dominique, “Trata-se, por um lado, de uma pesquisa de mercado grátis: as opiniões estão ali para quem quiser ver; por outro, a crítica pode ser feita na hora em que o serviço é prestado ou na hora em que o consumidor não fica satisfeito com os produtos nas redes sociais: os amigos do cliente vão ler, tudo vai ficar gravado na web”. Daí a importância de que cada empresa tenha uma política de comunicação eficiente
nas redes sociais, porque, como testemunha Dominique, “o retorno a um cliente vai ser rápido e eficiente, podendo transformar um problema em uma oportunidade de fortalecer as relações e voltar a encantar um cliente insatisfeito”. Concluiu Dominique: “Imagino que, para micro/pequenas empresas, é bom pensar as redes sociais como mais um caminho para desenvolver qualquer negócio: a presença online hoje é fundamental para que um negócio não se limite a ser apenas local”. O segundo palestrante, o norte-americano Marc Barros, que participou do encontro através de uma teleconferência de Seattle, procurou mostrar por-
que a internet tem importância no mundo dos negócios e deu exemplos de como algumas companhias estão utilizando a web para desenvolver seus empreendimentos. Para Marc, a empresa que usa a internet “pode ampliar a sua experiência junto ao consumidor, o que aumenta as suas vendas e, no fim das contas, aumenta os lucros. Ao comentar para a Folha a emoção que sentiu ao fazer uma teleconferência, Marc Barros realçou: “Foi tudo muito divertido. Eu nunca havia falado antes para um grupo de empresários brasileiros e realmente gostei muito da experiência”. Em sua fala, Marc destacou que todo site de empresa já
deveria permitir interatividade com smartphones e tablets, porque a venda destes últimos será maior que a venda dos tradicionais PCs (Personal Computers). Com base no próprio sucesso da Contour, o norte-americano procurou ensinar aos brasileiros que os pequenos negócios podem se beneficiar muito com a internet, porque podem vender para quem está do outro lado do mundo. O terceiro e último palestrante, Luiz Cláudio Costa, mostrou aos presentes que está muito feliz com a filial que abriu na web, pois as vendas de artigos e equipamentos esportivos deram um salto surpreendente. A promotora do encon-
tro, Maria Eugênia Duque Estrada, atual presidente do Polo Região Portuária, avaliou o evento de forma positiva: “Quem foi, ficou muito ligado, conseguimos de fato abrir uma janela que mostra a importância da internet e das redes sociais para o desenvolvimento dos negócios”. Maria Eugênia, inclusive, destacou a participação no encontro de Dona Nildelene, uma doceira do Morro da Providência, que esteve bem atenta a tudo que viu e ouviu e, ao final, ainda pediu à presidente do Polo “um curso sobre a internet”.
mário margutti mfmargutti@gmail.com
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desenvolvimento urbano
“O novo padrão de mobilidade urbana é focado nas pessoas, não nos carros” Diretor-presidente da Cdurp responde a críticas feitas à Operação Urbana Porto Maravilha Clarice Tenório Barretto
A Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), empresa da prefeitura responsável pelo Porto Maravilha, é a maior operação urbana consorciada do Brasil. A Cdurp surgiu a partir da Lei Municipal n.º 101/2009, que criou a operação na Região Portuária, com a missão de promover a reestruturação da área através da ampliação, articulação e requalificação dos espaços públicos da região, visando à melhoria da qualidade de vida de seus atuais e futuros moradores, sem esquecer da sustentabilidade ambiental e socioeconômica da região. As intervenções abrangem uma área de cinco milhões de metros quadrados, que têm como limites as avenidas Presidente Vargas, Rodrigues Alves, Rio Branco e Francisco Bicalho. Em entrevista para a Folha da Rua Larga, o atual diretor-presidente da Cdurp, Alberto Gomes Silva, responde a algumas das principais críticas feitas ao Porto Maravilha e aponta algumas das mais relevantes realizações da empresa, já feitas ou ainda por fazer. Sociólogo de formação, ele revela uma gestão preocupada em valorizar a cidadania, a cultura e o patrimônio da Região Portuária. FRL – O Ministério Público do Rio de Janeiro ajuizou ação civil pública pedindo a interrupção das obras de demolição do Elevado da Perimetral, por ter dúvidas sobre o impacto viário resultante da ausência dessa via de transporte e também por questionar
FRL – Qual será o destino do material removido? Alberto Silva – O concreto será reciclado e reutilizado na pavimentação de ruas e calcadas. As vigas, por sua vez, serão também reaproveitadas em obras da cidade. FRL – A própria Cdurp fez projeções de adensamento demográfico da Região Portuária, que indicam um salto dos atuais 30 mil moradores para 100 mil habitantes até 2020, englobando os bairros do Santo Cristo, Gamboa, Saúde e trechos do Centro, Caju, Cidade Nova e São Cristóvão. Como esses novos moradores serão beneficiados pelo Porto Maravilha? Alberto Gomes Silva, diretor-presidente da Cdurp
elementos do estudo técnico que justificou a obra. Qual a sua opinião sobre esse impasse? Alberto Silva – De fato, o Ministério Público Estadual entrou com uma ação para impedir a remoção do elevado, questionando os estudos técnicos feitos na época da aprovação do projeto. Mas a Prefeitura do Rio já apresentou novos estudos, celebrou acordo com o MPE, e o juiz extinguiu essa ação em 31 de julho de 2013. Como já dissemos em outras oportunidades, o Elevado da Perimetral foi construído num momento de governo autoritário, que simboliza um padrão de política de gestão urbana ultrapassada, em que os carros são mais importantes que as
pessoas. Até mesmo a função simples de dar vazão ao trânsito o elevado não cumpre mais. Desse ponto de vista, a pergunta sobre o elevado deveria ser: por que manter aquilo? Antigamente, a Praça Mauá era cheia de vida e fazia contraponto à Cinelândia. Depois a região ficou abandonada e degradada. O elevado impede a visão de vários bens tombados, que ficaram deteriorados por muito tempo. Agora que eles estão restaurados, devem continuar ocultos? Manter o elevado significa desprezo aos patrimônios público e privado. Demolir essa via é uma questão estética e ética. Estamos propondo um novo padrão de mobilidade urbana. A função de passagem para o trânsito será preservada
e inclusive ampliada: hoje são quatro faixas, e o nosso projeto prevê seis, sendo três em cada sentido. O novo padrão tem foco no transporte público e valoriza os pedestres. É focado nas pessoas, não nos carros. Nesse sentido, vai ao encontro das demandas que levaram muita gente a fazer manifestações nas ruas, exigindo um transporte público de qualidade. Além disso, a demolição do elevado vai dar passagem ao Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), uma forma de transporte com nível de Primeiro Mundo, que terá a função de integrar os vários transportes modais da cidade. Em resumo, a melhoria do transporte público na Região Portuária e no Centro da cidade depende da demolição da Perimetral.
Alberto Silva – Partimos do seguinte raciocínio: é difícil resolver o trânsito no Centro se um grande número de pessoas mora na Barra ou no Recreio e elas vêm trabalhar na cidade usando o próprio carro como meio de transporte. Se as pessoas morarem por aqui, poderão usar o transporte público e não levarão horas se locomovendo. Já foi lançado, inclusive, o primeiro empreendimento imobiliário voltado para estimular a moradia na região, o Porto Vida. É um prédio único, com sete setores, um dos quais com 35 andares. Ao todo, o Porto Vida terá 1.333 apartamentos de dois e três quartos, e irá ocupar uma área de 19 mil metros quadrados, com unidades a partir de R$ 420 mil. A ideia é vender mil unidades para funcionários da Prefeitura e as restantes para
outras pessoas. O projeto contempla, no térreo, espaço para lojas comerciais, que, em breve, poderão ser ocupadas por padarias, farmácias e salões de beleza. A princípio, o complexo servirá para abrigar a Vila dos Árbitros e Mídias nos Jogos de 2016. Depois, fará parte de um mix futuro de prédios comerciais, residenciais e de serviços. O empreendimento estará situado na Rua General Luís Mendes de Morais, bem em frente ao Trump Towers, com cinco torres comerciais e ao Porto Atlântico, que também serão erguidos no local. Nossa política não é remover pessoas, mas sim atrair novos moradores e fazer com que as pessoas que já moram na Região Portuária continuem morando lá. FRL – No que diz respeito ao restauro do patrimônio na região, obras importantes foram feitas, como a reforma do palacete que hoje abriga o Museu de Arte do Rio (MAR) e a recuperação do Centro Cultural José Bonifácio, na Gamboa, juntamente com a valorização do patrimônio arqueológico do Cais do Valongo. O restauro da Igreja de São Francisco da Prainha também já está encaminhado. Mas por que não foi feito o restauro da sede do Afoxé Filhos de Gandhi, na Rua Camerino, entidade cultural das mais antigas, criada em 1951? Alberto Silva – Porque há um conflito entre o pessoal do Afoxé e a liderança do Cedine (Conselho estadual dos Direitos do Negro). As
desenvolvimento urbano
folha da rua larga
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Divulgação
Divulgação
Obra de abertura do Túnel da Saúde Divulgação
duas entidades declaram ter direito a ocupar o prédio e não chegam a um acordo sobre isso. A Cdurp tem todo o interesse em fazer o restauro, mas não se pode fazer isso sem antes esclarecer a questão de quem é o dono do imóvel. Um problema semelhante existe no Quilombo da Pedra do Sal, onde há um conflito entre os moradores locais e a Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, que afirma ser a legítima proprietária dos antigos sobrados da área. Há casos que precisam encontrar solução no âmbito da própria sociedade civil, antes que a Cdurp possa fazer sua contribuição. As pessoas deveriam estar se perguntando por que nada foi feito antes. Agora estamos de fato fazendo coisas para melhorar a vida das pessoas, e uma delas é trazer à luz o movimento cultural da região.
O Porto Maravilha prevê uma nova infraestrutura urbana, sem fiação aérea e instalação com cabos de fibra ótica no subsolo Divulgação
Além de estar integrado a diversos transportes modais, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) chegará ao Aeroporto Santos Dumont Divulgação
FRL – O que está sendo feito em prol dos agentes culturais da região? Alberto Silva – Estamos dando apoio ao movimento ConDomínio Cultural, que reúne os principais grupos artísticos organizados da Região Portuária. Também apoiamos a Liga de Blocos e Bandas da Zona Portuária. Investimos na preservação do patrimônio material e imaterial da região. Criamos o Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana. Restauramos os Galpões da Gamboa e vamos restaurar a Igreja de São Francisco da Prainha, já lançamos um edital de concorrência. Tudo acontece por causa da Lei Complementar
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A Operação Urbana Porto Maravilha estuda a construção de um passeio público no lugar da Perimetral, entre a Praça Mauá e o Armazém N° 6
valor de R$ 150 mil). No total, serão concedidos R$ 2 milhões em patrocínios para projetos culturais, através da seleção de um conselho. O prazo de inscrições já foi aberto e será encerrado no dia 14 de agosto. Será dada preferência a projetos que valorizem o patrimônio cultural imaterial, que contribuam para preservar a memória das manifestações culturais da população da Região Portuária, projetos que produzam conhecimento sobre a memória da região ou que inovem na sua exploração sustentável. Também estudaremos com cuidado a possibilidade de patrocinar projetos de pesquisa e formação, assim como a edição de publicações sobre o patrimônio material e imaterial da área cuja revitalização está sob a nossa responsabilidade. Os critérios do edital foram amplamente discutidos com os agentes culturais locais, antes de chegar à sua versão atual, que está disponível na internet juntamente com os formulários de inscrição de projetos. FRL – Que outras possibilidades de desenvolvimento a Cdurp vislumbra e apoia na Região Portuária?
Projeção da passagem do VLT nas cercanias da Praça da Harmonia e do Moinho Fluminense
101/2009, que determina aplicação de pelo menos 3% dos recursos arrecadados com Cepacs (Certificados de Potencial Adicional de Construção) na recuperação do patrimônio local e no fomento à atividade cultural. Nosso apoio mais
recente às atividades culturais foi o lançamento do Programa Porto Maravilha Cultural, que define uma política de concessão de patrocínios para projetos de pessoas físicas (no valor de R$ 50 mil) e pessoas jurídicas sem fins lucrativos (no
Alberto Silva – Uma de nossas ações mais relevantes é o Programa Porto Maravilha Cidadão, por meio do qual procuramos preparar os moradores da Região para as mudanças que estão em curso e para o aproveitamento de novas oportunidades. Na prática, em parceria com outros órgãos do poder público, organiza-
ções sociais, entidades de fomento e o setor privado, desenvolvemos ações que realçam o papel da indústria criativa e que sejam também capazes de promover igualdade de condições entre os sexos e equidade de etnia. Os resultados são cursos de formação profissional, o apoio efetivo à produção de Habitações de Interesse Social, incentivo aos micro e pequenos empreendedores (com apoio do Sebrae/RJ, inclusive), além de atividades de educação ambiental e de educação para a cidadania. Em síntese, estamos promovendo a requalificação da população local, com base na participação e na inclusão social. Estamos sempre abertos ao diálogo com a comunidade: temos um estande no pé do Morro da Conceição para receber reclamações de moradores. FRL – Como será desenvolvido o Porto Digital, que pretende ampliar a capacidade de conexão da internet na Região Portuária? Alberto Silva – Antes de começar o trabalho, fizemos o mapeamento da rede existente, que era desconhecida. Verificamos que existem redes diferentes, que pertencem a diversas operadoras. Na verdade, um emaranhado de fios, administrados por 18 operadoras concorrentes entre si. Concluímos que essa situação não poderia continuar. Pela nossa proposta, não haverá mais redes aéreas e haverá uma única rede, que será implantada e administrada pela Concessionária Porto Novo. A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)
já aprovou nosso projeto, que permitirá oferecer o mesmo preço para todas as operadoras. Além disso, como trabalharemos com fibra ótica, haverá redução dos custos de manutenção e vai estimular uma saudável concorrência entre as operadoras, com benefícios para o consumidor final. A operadora única fará a gestão da rede subterrânea de dutos e a rede de fibra ótica. Toda a rede aérea de fios será retirada, e o projeto prevê a utilização dos modelos conhecidos como FTTH (Fiber To The Home) e FTTB (Fiber To The Building). Isso representará um aumento real na capacidade de conexão, passando dos 100 megabytes atuais para 1 gigabyte de banda. Daqui a cinco anos, a capacidade de conexão deverá passar para 10 gigas, disponível inclusive para todos os morros da região. Estamos trabalhando com tecnologia de ponta e a solução proposta pelo nosso projeto permitirá a conversão das redes de telecomunicação em rede subterrânea, disciplinando o uso do subsolo na área, dando cobertura a toda a região e garantindo serviços de alta velocidade e qualidade superior a todos os usuários. As empresas locais também serão beneficiadas, porque poderão prestar serviços melhores sem a necessidade de investimentos próprios em infraestrutura, pois estes serão feitos pela concessionária Porto Novo.
mario margutti mfmargutti@gmail.com
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música
A forte presença da música na Região Portuária Das lojas de instrumentos aos projetos socioculturais, uma história cheia de musicalidade Divulgação
Historicamente, a região do Porto tem sido porta de entrada para todo tipo de manifestação, seja ela cultural ou outra forma de expressão. A instalação da família imperial na Quinta da Boa Vista transformou esta região em rota obrigatória de pessoas para São Cristóvão e também de todo tipo de eventos que se poderia esperar do povo que lá começava a se instalar. Nessa perspectiva, não poderiam faltar locais onde fosse possível aprender artes, como a dança e também a música. Nas regiões da Gamboa, Morro da Providência e
também da Rua Larga, a insistência e perseverança dos artistas que viviam e se apresentavam ali fizeram com que surgissem lugares onde se podia aprender a tocar algum instrumento ou mesmo cantar e dançar, pois a necessidade dos músicos em disseminar sua arte, engordando também sua receita, sempre ficou clara. Restam poucos heróis daqueles que por lá já passaram, deixando seu legado nas lojas e fábricas de instrumentos, como Do Souto e também Cavaco de Ouro, entre outras ali instaladas. Professores de renome como Dilermando
Um dos saraus realizados no Morro pelos alunos do projeto
Reis, Jacó do Bandolim, Zé do Cavaco e Dino 7 cordas, entre outras lendas da música regional carioca, além do professor Rafael que dá suas
aulas na loja Ao Bandolim de Ouro. Mas existe ainda uma força que faz com que estas histórias não se percam: um projeto no Morro da Providência poderá resgatar um pouco do passado da região que tenta se renovar buscando força nas suas raízes. O projeto Som+Eu traz uma luz às crianças e adolescentes que tentam de alguma maneira buscar novas fronteiras através da arte, tendo como carro-chefe a música de orquestra temperada com o apelo da música popular brasileira, para que se possa mostrar aos jovens novas perspectivas de vida com a prática dos instrumentos musicais e do canto coral. Assim, a música é transformada numa arma poderosíssima contra a violência, o descaso que tomou conta da Região Portuária do Rio durante décadas.
Divulgação
A música favorece a inserção social dos jovens
O projeto é voltado para a educação musical de crianças e adolescentes, entre 6 e 20 anos de idade, em situação de vulnerabilidade social, residentes na comunidade da Providência. Através das oficinas musicais de canto coral, musicalização infantil, violino, viola, violoncelo, violão clássico, contrabaixo acústico, percepção musical, capacitação em produção cultural e tecnologia musical, se promove a melhoria da qualidade de vida de crianças e adolescentes da Comunidade da Providência. Desenvolvido pela Associação Cultural Amigos da Providência e patrocinado pelas empresas Hope, Nitshore, Limpind e Nitport, o projeto busca promover o desenvolvimento individual através da multiplicidade de experiências e universos,
beneficiando garotos e garotas que levam uma vida cotidiana precária e fragilizada, a fim de possibilitar novas chances de inserção social. A coordenação geral é de Moema Viterbo e a coordenação pedagógica está a cargo de Marina Falcão. O que as pessoas que moram e trabalham na Região Portuária desejam é renovar a área, com mais projetos desse tipo, não só voltados para a música como também para a dança, a pintura, as artes plásticas e outras formas de expressão artística, pois, no final, todas se completam na formação da cidadania plena dos jovens de hoje, que serão os adultos de amanhã.
archimedes mones confraria gastronomica@oi.com.br
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entrevista Incubadora seleciona 100 pequenos negócios da Região Portuária Em parceria com o Sebrae/RJ, entidade vai apoiar gratuitamente empreendimentos populares Mário Margutti
A Incubadora de Empreendimentos Populares é um braço da Incubadora Afro Brasileira e tem sua sede na Rua Senador Pompeu, 75, no Centro do Rio de Janeiro. Patrocinada pela Petrobras desde o início de suas atividades, em 2004, ela é a primeira incubadora do país com uma abordagem étnica, direcionada para a promoção do desenvolvimento econômico da população negra. Juntamente com o apoio do Sebrae/RJ e da Cdurp, a Incubadora participou da 2ª Semana Porto Empreendedor, realizada na Região Portuária do Rio, de 9 a 14 de julho, promovendo, durante três dias, talk shows
Paula Janaína e Márcia Ferreira, gerentes da Incubadora de Empreendimentos Populares
de casos de sucesso de pequenos negócios. O evento teve entrada franca e os relatos foram mediados pela repórter Sônia Araripe para um público misto (visitantes e incubados), que se mostrou bastante interessado em conhecer modelos de gestão que levam a um maior crescimento profissional. A incubadora também realizou uma exposição fotográfica na qual as “estrelas” eram empreendedores populares bem sucedidos. O resultado foi que muitas pessoas se candidataram ao processo de incubação, com vistas a receber consultoria para o desenvolvimento de seus negócios. De acordo com Márcia Ferreira, gerente de Relações Institucionais da Incubadora, foi realizado um processo
seletivo que culminou na escolha de 100 empreendedores que têm seus negócios na Região Portuária, entre 336 candidaturas. Alguns até moram em outros bairros, mas todos os negócios selecionados são desenvolvidos na região. Por sua vez, Paula Janaína, gerente da Incubadora de Empreendimentos Populares, relatou que o processo seletivo foi realizado em quatro etapas. A primeira, de caráter classificatório, consistiu na análise do questionário de inscrição. A segunda etapa, uma entrevista de análise social conduzida por uma assistente social, já teve cunho eliminatório e serviu para verificar quem tinha mais necessidade dos serviços da incubadora. A
terceira etapa, uma dinâmica de grupo coordenada por um psicólogo, teve o propósito de analisar comportamentos e atitudes das pessoas que se candidataram ao processo de incubação e foi igualmente um procedimento eliminatório. A última etapa, uma análise do negócio específico de cada concorrente, levou à definição dos 100 empreendedores escolhidos para ganhar o apoio da incubadora. Os selecionados constituem um grupo heterogêneo: há pessoas que desenvolvem artesanato (como Marisa Aguiar), outras que lidam com confecção de roupas (como o Ateliê Cretismo e a Cabrocha) e há quem se dedique a vender alimentos (como Nivalceia da Tapioca e Sônia do Acarajé). O setor cultural ficou representado por uma companhia de dança afro liderada por Eliete Miranda e um escultor (Henrique Matuscello), para mencionar apenas alguns. O segmento de beleza também foi contemplado, através da empresa Vector, de Anselmo Almenterio. A partir de agosto, os 100 incubados começaram a ter aulas de gestão de negócios e passaram a contar com consultoria especializada, em áreas como marketing e administração financeira. Todos os serviços da incubadora são gratuitos.
da redação redacao@folhadarualarga.com.br
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educação Moradores da Zona Portuária pedem mais investimentos em Educação Associação de moradores reivindica a instalação de uma escola politécnica na região Elisa Rigoto
A Região Portuária do Rio de Janeiro está passando por mudanças com as obras de revitalização realizadas pela prefeitura e pela concessionária Porto Novo. Apesar disso, uma mudança que os moradores reivindicam há alguns anos ainda não foi atendida. Eles pedem a construção de uma escola politécnica de nível médio para receber os quase quatro mil alunos dos bairros da Saúde, Gamboa, Caju e Santo Cristo. Levando em consideração que a escola técnica
Gabriel Catarino, da Associação de Moradores da Gamboa: “Uma escola politécnica qualificaria profissionalmente os jovens da Região Portuária”
mais próxima fica no bairro de São Cristóvão, uma escola na Zona Portuária evitaria que os alunos tivessem que sair de seus bairros para fazer cursos profissionalizantes. Atualmente, a Associação de Moradores da Gamboa discute com o governo federal a instalação da escola politécnica na área do Porto, mas ainda não existe nenhum projeto em andamento. De acordo com Gabriel Catarino, diretor de Comunicação e Projetos da Associação, existem gal-
pões do governo federal que estão desativados e poderiam ser adaptados para abrigar a escola. Segundo Gabriel, a instituição de ensino proposta pelos moradores contribuiria para a qualificação profissional dos jovens da região, possibilitando que estes pudessem ajudar na renda familiar, melhorando, assim, sua condição social.
elisa rigoto elisarigoto@hotmail.com
patrimônio 13 folha da rua larga
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Relíquias arqueológicas do antigo Cais do Valongo Arqueóloga revela a importância dos achados, que são do tempo da escravidão Mariana Aimée
As obras do Porto Maravilha revelaram, aos pés do Jardim do Valongo, uma série de objetos históricos, dos tempos do Brasil Colônia. Esses objetos constituem testemunhos do estilo de vida no Rio Antigo e foram confiados à análise da arqueóloga Tânia Andrade Lima. Seu depoimento não deixa dúvidas: “Nas As obras no antigo Cais do Valongo trouxeram à luz achados escavações arqueológi- arqueológicos. Para Tânia Lima, que estuda o material cas realizadas entre 2011 encontrado, a maioria das peças tem significado religioso e 2012, foi encontrada uma abundante cultura Acrescenta Tânia: “En- uso pessoal, como adormaterial, pertencente tan- tre os objetos pertencen- nos femininos (pulseiras, to às classes dominantes tes aos primeiros, foram anéis, colares, brincos, quanto aos escravos”. recuperados objetos de travessas de cabelo, entre
outros); objetos de toucador e de higiene pessoal (escovas de dente, pastas dentifrícias, pentes, perfumes, loções, cremes, vidros de remédios, etc.); itens de vestuário (cintos, guarda-chuvas, fivelas, solas de sapatos, botões, entre outros); objetos lúdicos (bonecas, dados, dominós, soldados de chumbo, etc.). E também objetos de uso doméstico, como variadas louças de mesa, copos, talheres, panelas de barro, vasilhames para armazenamento, braseiros, garrafas de bebidas diversas e potes, entre outros”.
Já entre os achados atribuídos aos escravos, Tânia revela que foram recuperados objetos de uso pessoal, como adornos (pulseiras, anéis, pendentes, colares, guisos, entre outros) e cachimbos. Também foram encontrados objetos relacionados às práticas mágico-religiosas, aos cultos às divindades afro-brasileiras. Na visão da arqueóloga, “os materiais atribuídos aos escravos são sem dúvida os de maior interesse e importância, não apenas por serem mais raros e difíceis
de serem encontrados, mas, sobretudo, porque, perdidos, esquecidos, abandonados ou escondidos, eles constituem o pouco que restou desses indivíduos submetidos a formas extremas de sofrimento. O pouco que eles conseguiram deixar para os seus descendentes são a sua herança, um patrimônio inestimável”.
da redação redacao@folhadarualarga.com.br
morro da conceição Divulgação
Projeto Mauá e seu novo DNA O Projeto Mauá teve início em 2002, por iniciativa de alguns artistas que já moravam no Morro da Conceição, entre eles, Renato Sant´Ana e Paulo Dallier. Ao longo do tempo, houve uma pausa de dois anos, mas o projeto foi retomado após esse período. Nos últimos anos, vários artistas vieram morar no Morro e muitos passaram a fazer parte do Projeto Mauá. O Morro da Conceição exerce incontestável fascínio nas pessoas. Cada um tem seu motivo para morar aqui: a praticidade de estar no Centro da cidade, uma fantasia escapista ou, quem sabe, para os mais sonhadores, capturar estrelas e ler no céu as poesias voadoras dos pássaros. Sonho é sonho, e a verdade é que todos se rendem a esse espírito do Rio Antigo, bucólico e sossegado, embora todos saibam que aqui há problemas como em qualquer outro lugar. Retomando a questão do Projeto Mauá: desde o final
do ano passado, ele se organizou com um novo DNA, formado pela integração de 14 ateliês, que estabeleceram parceria com a gestora de projetos Marli Fernandes, diretora-executiva da Fábrica Cultural Holding (FCH). Entre as estratégias determinadas para esta fase de transformação do Projeto Mauá, está a criação do Plano de Comunicação e Marketing e a legalização de uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), instituição sem fins lucrativos, para dar suporte jurídico e administrativo ao grupo de artistas e garantir o desenvolvimento técnico e conceitual dos projetos dos ateliês e dos artistas que integram o Projeto Mauá. O novo projeto está alinhado com os mecanismos da Cadeia Produtiva da Indústria Cultural, com foco na Economia Criativa, devido ao caráter coletivo e empreendedor dos artistas envolvidos. O Projeto Mauá tem um compromisso com a identidade cultural do Morro da Conceição e segue a tradição de preser-
var e proteger este local ímpar no Rio de Janeiro, onde vive uma população que se orgulha de seu passado histórico. O novo projeto, com seus modernos conceitos de gestão, manterá o compromisso com a tradição, a preservação e a proteção cultural do Morro. Nós, os artistas que dele fazemos parte, esperamos viver uma bela época para colher os frutos que o passado nos prometeu.
Bicicletas, pintura de Vilmar Madruga Divulgação
Notícias do Morro Os artistas Vilmar e Bianca Madruga inauguraram seu ateliê no dia 7 de julho deste ano, com um farto brunch, sob as árvores da pracinha que fica em frente ao local, ao som de chorinho. O Ateliê Azul Azulzinho, número 119 da Rua Jogo da Bola, recebeu amigos e também contou com a presença dos colegas do Projeto Mauá. Breve história de Vilmar E Bianca Vilmar Madruga é natural do Rio Grande do Sul, se
Instalação de Bianca Madruga
formou em Arquitetura, mas optou mesmo pelo mundo das artes. Duchamp e Andy Warhol influenciaram seus trabalhos. Vilmar costuma se apropriar de objetos cotidianos abandonados e enferrujados para transformá-los em obras de arte por meio de suas observações criativas.
Madruga também apresenta uma série de pinturas em telas, tendo como tema “bicicletas”, em que o artista afirma o valor autônomo da pintura e alça voo através da cor e da forma numa pulsão estética quase primitiva, na qual reafirma seu desejo de buscar uma lírica moderna.
Sua obra esteve em salões de arte e em exposições itinerantes pela paz mundial em Londres, Paris, Nova Iorque e Bagdá. Além de ter sido um dos precursores da arte urbana, ele realizou vários trabalhos artísticos junto à população carcerária. Foi diretor da Galeria de Arte da UFF, coordenou oficinas de arte e já trabalhou como curador no Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Sua filha Bianca Madruga, artista visual, trabalha com pinturas-objetos, vídeos e instalações. Ela já participou de várias exposições e frequentou oficinas no Parque Lage. Muito além do jardim, Bianca estuda Filosofia na UFF e, em breve, será artista filósofa (ou filósofa artista?). Ela veio costurar o céu para lidar com o mundo no Alto da Conceição. Sejam bem-vindos!
teresa speridião teresa.speridiao@gmail.com
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gastronomia
Cardápio abençoado pela ‘Santa dos Impossíveis’
receitas carol
Bistrô Santa Rita oferece opções para um almoço clássico na Rua Larga Em um diminuto salão localizado à Rua Visconde de Inhaúma, ao lado da Igreja de Santa Rita, funciona um simpático bistrô nomeado em homenagem à santa que o protege de perto e que ficou conhecida na história do Catolicismo como a “Santa dos Impossíveis”, por causa dos milagres prodigiosos que realizou. A casa tem muitas histórias para contar. Após quatro anos funcionando como lanchonete, sentiu-se a demanda do público por um restaurante que pudesse oferecer a combinação entre ambiente agradável e bom atendimento. Assim, logo após a Copa do Mundo de 1986, os lanches deram lugar ao Restaurante Bistrô Santa Rita. Ao longo de quase 30 anos, o local passou por mudanças e reformas, mas funciona com dois andares e um cardápio variado de clássicos da gastronomia há cerca de dois anos, tempo em que está sob o comando de Paulo César Fernandes, atual proprietário do bistrô. “Nosso cardápio oferece mais de 30 pratos, entre carnes, frutos do mar, massas, e outros; montamos esse menu com a ideia de oferecer pratos variados e tradicionais, mas os clientes também nos ajudaram com sugestões”, explica ele. Entre os sucessos culinários estão o filé de linguado com panachê de legumes (R$ 29), a picanha à campanha (R$ 35) e o filé de truta com arroz de brócolis e batatas coradas (R$ 30,90). Além do cardápio fixo, diariamente são servidas entre 10 e 12 sugestões do chef, que saem mais em conta.
Mário Margutti
A partir de julho, os mercados voltaram a ofertar camarões e lagostas frescos, pois acabou, desde o fim de junho, o período de defeso, época em que a pesca é proibida para garantir a reprodução dos crustáceos. Tenho visto as peixarias abarrotadas e a preços bem acessíveis. Mas nem sempre sabemos o que preparar com ingredientes tão nobres – e às vezes ficamos até encabu-
lados de chegar em casa com um punhado de caudas de lagosta. O ideal é manter-se no simples, sem complicar muito. Existem receitas incríveis que vão deixar toda a família surpresa. Por que não aproveitar o Dia dos Pais para um almoço gostoso e sofisticado? Não conte para ninguém que a receita é fácil e impressione a todos. Bom apetite!
Bobozinho de lagosta com camarão (para 4 pessoas) ACP
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Com seu ambiente acolhedor e comida saborosa, o Bistrô Santa Rita faz sucesso crescente Divulgação
Ingredientes
2 caudas de lagosta fora da casca 500g de camarão médio limpo 4 colheres de sopa de azeite 1 colher de sopa de suco de limão 1/3 colher de chá de cominho 1/4 de pimenta dedo-de-moça, sem semente e picada
300g de aipim em cubos médios 300g de batatas-doces inteiras 2 talos de alho-poró em rodelas 200ml de leite de coco 400g de requeijão 4 colheres de sopa de coentro fresco picado
Modo de preparo
Carne seca com aipim, um dos pratos mais pedidos pelos clientes
Quando assumiu a direção do Bistrô Santa Rita, Paulo César fez questão de manter a equipe de garçons, que hoje são um diferencial da casa. “Nosso público é fiel e os garçons conhecem nossa clientela. Além disso, nossa comida é muito boa!”, orgulha-se o proprietário. Vindo do ramo de restaurantes e da região do Centro, Paulo César conta
que se interessou pela área da Rua Larga, principalmente após os projetos do Porto Maravilha. “A expectativa para essa região é muito grande. A área vai ficar renovada!”, acredita. Adiantando-se aos bons tempos aguardados pelo bairro, Paulo César já tem montado um cardápio especial que pretende inaugurar para a happy hour. Para acompanhar chope e
vinho, figurarão pizzas e petiscos. “Só estou aguardando o momento certo”, conta. O bistrô Santa Rita funciona de segunda a sexta-feira das 11h às 16h e, desde 1992, promete servir “a melhor feijoada do Centro do Rio de Janeiro”.
danielle silveira daniellethamires@hotmail.com
Cozinhe o aipim com bastante água. Enrole as batatas-doces em papel-alumínio e asse no forno, em temperatura, média até que fiquem bem macias. Retire a pele e reserve. Bata no liquidificador o aipim e a batata-doce com um pouco da água do cozimento do aipim, até ficar um purê bem fino. Caso fique com pedaços, passe pela peneira. Deixe os camarões de molho no azeite com o suco de limão, pimenta dedo-de-moça, coentro e cominho por 20 minutos. Corte as caudas das lagostas em rodelas médias e tempere com pouco sal e pimenta-do-reino branca, moída na hora. Em uma frigideira bem quente, coloque um fio de azeite, uma colher de manteiga e grelhe as lagostas. Ponha aos poucos na frigideira para
não criar água, pois elas cozinham rápido. Reserve os medalhões. Recupere os sucos colocando um pouco de água na frigideira e reserve. Na mesma frigideira, grelhe os camarões e tempere com sal. Ainda nesta frigideira, refogue o alho-poró e a pimenta dedo-de-moça. Acrescente o leite de coco e o requeijão e incorpore bem. Junte o purê de batata com aipim e os sucos do refogado. Na hora de servir, coloque os crustáceos e o coentro picado. Sirva quente, puro ou com farofa de dendê.
ana carolina portella carolnoisette@hotmail.com Confira outras receitas da Carol no blog nacozinhacomcarol. blogspot.com
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história baú da rua larga A marcha dos meninos de São Bento: Deus, Pátria e Liberdade! Em 1895, o Mosteiro de São Bento abrigava em seus salões cerca de 630 alunos, com idades entre 6 e 20 anos. A novíssima República instalada no Brasil vivia anos conturbados. O alagoano Floriano Peixoto, segundo presidente do Brasil, enfrentou a Revolução Federalista apoiado por Júlio de Castilhos e a pressão do maragato Silveira Martins, morrendo em maio em sua fazenda de Barra Mansa (RJ). Prudente de Moraes assumiu o poder. Manifestações eram constantes e as arruaças eram temidas e combatidas com truculência pelas forças policiais. O jornal O Apóstolo, de setembro de 1895, dos padres João Scaligero e José Alves Martins do Loreto, teciam elogios ao caráter da passeata promovida pelos jovens do São Bento que, acompanhados de banda de música, seguiram até a Rua Larga de São Joaquim, onde ficava a residência da Presidência da República. O motivo da marcha era prestigiar o presidente, que chegou até os alunos e discursou em profundo agradecimento. Exortou aos meninos o amor à Pátria e o respeito aos direitos constituídos, salientando que a juventude era o futuro da nação. Os jovens portavam um estandarte com a seguinte divisa: M. S. B. Deos, Pátria e Liberdade. Na despedida, entregaram flores às filhas do presidente. Outros tempos, dirão alguns! Pode ser. Muito diferente do “vem pra rua!” de hoje, a manifestação dos meninos de São Bento foi de apoio ao governo. A ordem e a civilidade foram aclamadas pela Gazeta de Notícias e outros jornais da Rua do Ouvidor. O ano de 1895 foi especialmente movimentado com os debates sobre a votação do divórcio, o positivismo e a separação entre Estado e Igreja. Entretanto, o povo, com todas as dificuldades, ainda saboreava a lembrança do ótimo carnaval do início do ano. O Club dos Fenianos promoveu em janeiro um “Kankanatico Baile a Phantasia”, com um concurso de beleza. O Democráticos, para não ficar de fora, promoveu um “Cathecismo do Amor”, e os Tenentes do Diabo fizeram sua festa com a “Revelação Irônica de Satanás sobre a Música do Futuro”. “Que topete!...”, foi a nota do Correio da Tarde para um pedido dos bookmakers do Catete, do Boliche Nacional e do Belódromo aos juízes da Fazenda Municipal, exigindo ressarcimento indenizatório pelos prejuízos causados pelo fechamento das casas de jogo. Alertava o jornal que os espertos indivíduos adotaram o pseudônimo de Banco de Comissões para continuar a vida fácil. Enquanto isso, Madame Leonie Barros, parteira de primeira classe, aprovada pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e Paris, atendia a qualquer hora na Rua Larga de São Joaquim, 171, fazendo vir ao mundo a “nova geração de manifestantes”. Hoje, ainda temos: carnaval, bookmakers e passeatas benditas ou pagãs, com as graças de Deus! Um pequeno cartaz chamou minha atenção nos recentes protestos. Menos óbvio que os demais, e com muito bom humor, dizia: “Menos ar no saquinho de batata frita”. Dizem que São Bento de Núrsia, patrono do colégio carioca e dos beneditinos, venceu algumas ciladas armadas pelo Diabo, quando lhe ofereceram vinho e pão envenenados. Portanto, reza a tradição popular: “São Bento, São Bento, livrai-nos das cobras e animais aloysio clemente breves beiler soubreves@yahoo.com.br peçonhentos”!
Números da Economia da Região Portuária Levantamento do Sebrae traz dados sobre perfil dos moradores da área portuária Marfemp
Um estudo do Sebrae/ RJ, intitulado Panorama Socioeconômico da Região Portuária do Rio de Janeiro, realizado em agosto de 2012, levantou algumas estatísticas relevantes sobre a conjuntura da área do Porto. A população, por exemplo, é de 25.646 habitantes, para 9.029 domicílios, o que resulta em uma média de 2,8 moradores por unidade domiciliar. O valor médio da renda familiar é de 3,31 salários mínimos (aproximadamente R$ 1.688,10 reais por mês). Foram encontrados 5.720 estabelecimentos de negócio, além de 532 empreendedores indivi-
1933,12, sendo a média do município equivalente a R$ 1.981,70. De acordo com dados da RAIS, a região tem 47 estabelecimentos dedicados a atividades artísticas, criativas e de espetáculos. A distribuição das empresas por setor mostra o predomínio dos Serviços (61,4%). Os outros setores estão assim distribuídos: Comércio (27%), Indústria (8%), Construção Civil (3,2%) e Agricultura (0,3%).
duais. O número de trabalhadores ativos é de 95.157, representando 4%
do total da cidade do Rio. A média do salário desses trabalhadores é de R$
da redação redacao@folhadarualarga.com.br
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lazer folha da rua larga
julho – agosto de 2013
Artigo Rio: uma nova forma de comércio de arte
dicas da cidade O universo da cruz A realização da Jornada Mundial da Juventude no Rio de janeiro multiplicou o número de eventos religiosos na cidade. Um dos mais interessantes é a exposição Crux, Crucis, Crucifixus – O Universo Simbólico da Cruz, que ficará em cartaz no segundo andar do Centro Cultural Banco do Brasil até o dia 23 de setembro. A mostra reúne peças do acervo do Museu de Arte Sacra de São Paulo, do Museu Afro-Brasileiro, além de obras emprestadas por renomados colecionadores particulares. Ao todo, o público pode apreciar 150 cruzes, santos, relicários e oratórios dos séculos XVIII e XIX. As peças foram produzidas em diferentes estilos e técnicas, e em diversos materiais, que realçam a presença da cruz no imaginário religioso do nosso país. A curadoria da exposição é da historiadora Dalva Abrantes, que, em entrevista ao site da Agência Brasil, afirmou: “A história do Brasil está toda marcada pela presença da cruz. O primeiro nome do país foi Ilha de Vera Cruz e o segundo, Terra de Santa Cruz. Só em 1527 é que passamos a ter o nome de Brasil”. Complementou a curadora: “A primeira imagem que os índios viram, avistaram do mar, foram as velas das naus, que traziam estampadas umas cruzes vermelhas, da Ordem de Cristo, que praticamente financiou o empreendimento das descobertas. E o primeiro ato em terra foi a missa. Os índios não entenderam nada, mas viram a cruz latina, acompanhada de toda a liturgia católica”. Divulgação
Imagens do segundo núcleo temático da exposição do CCBB
Do ponto vista psicológico, o símbolo da cruz habita o imaginário da humanidade desde os primórdios da civilização. Trata-se de um símbolo “totalizante”, que representa tudo que existe: o braço vertical representa a dimensão espiritual, nos seus aspectos ascendente (o alto da cruz) e descendente (a parte de baixo, que muitas vezes é associada à morte, ao pecado e aos infernos). Por sua vez, o braço horizontal, assimilável à linha do “horizonte terreno”, representa a dimensão material do universo. O centro da cruz, por ser um “ponto de encontro entre espírito e matéria”, sinaliza um dos mistérios transcendentes desse símbolo universal. A exposição foi estruturada em quatro núcleos temáticos. O primeiro trata da Via Crucis, revelando todo o sofrimento de Cristo. No segundo núcleo, passa-se do universal ao local, com várias imagens de Jesus crucificado e diferentes formas da cruz. O terceiro núcleo oferece aos visitantes peças de arte sacra, principalmente objetos usados na liturgia católica, confeccionados em prata e em ouro e demonstrando os recursos estilísticos de quem os produziu. No centro desse terceiro módulo, há uma instalação que abriga uma grande imagem de Cristo, com 4,5 metros de altura. O último segmento traz exemplos de diferentes tipos de cruzes, cristãs e não cristãs, que têm textos explicativos ao lado. Graças a essa estratégia expositiva, o visitante pode ver a diferença entre as cruzes culturalmente diversas, como a suástica, a cruz ansata egípcia e a cruz andina. O Centro Cultural Banco do Brasil fica na Rua Primeiro de Março, 66 Centro (3808-2020). da redação redacao@folhadarualarga.com.br A entrada é franca.
Feira disponibiliza obras de arte por até R$ 17 mil Mário Margutti
De 17 a 21 de julho deste ano, foi realizada no Centro de Convenções SulAmérica a Artigo Rio – Feira de Arte Contemporânea, que trabalha com um novo conceito no mercado de artes plásticas: o principal perfil de negócios é a venda de obras de arte a preços mais acessíveis (nenhuma peça excede o limite de R$ 17 mil). Daí o slogan da feira ser “Arte de qualidade com o preço que você pode comprar!”. Nessa perspectiva, atrair a classe média e criar uma nova geração de colecionadores é o grande objetivo dos marchands e donos de galerias que aderiram à proposta. A produção do evento é da empresa Artéria Produções, que já executou diversas exposições e eventos corporativos nos últimos 20 anos. A curadoria e a realização foram assinadas por Alexandre Murucci e a produção executiva esteve a cargo de Hélène Untereiner. Essa foi a segunda edição da feira. No ano passado, a visitação atingiu o patamar de 10 mil pessoas e a cobertura da imprensa proporcionou 80 reportagens, notas, artigos ou entrevistas em diversos meios de comunicação. Algumas galerias chegaram a lucrar 12 vezes o valor que investiram em aluguel de espaço, montagem de estandes e divulgação. Os espaços disponíveis para as galerias variam entre 12m2 e 35m2 ao custo de R$ 750 o metro quadrado. A área total da feira é de 1.200m2. Uma das facilidades é o estacionamento próprio e coberto, que dispõe de 1.300 vagas. Nesta edição de 2013, participaram 28 galerias (uma a mais que a feira do ano passado). No dia da abertura do evento, foi muito criticada pelos visitantes a ausência de água para beber. Não havia água potável disponível nem em bebedouros nem à venda. É importante que os organizadores providenciem a
Claudio Aun e duas de suas obras: um pé alado e um torso humano cujo verso é uma folha vegetal Mário Margutti
O premiado Osvaldo Gaia com três de suas obras que mesclam madeira tensionada por “linhas de força” e mantas difusoras brancas que lembram casulos
Mário Margutti
Ligia Teixeira ao lado de suas expressivas pinturas
solução dessa demanda. A praça de alimentação seguiu a linha popular, oferecendo buffet a quilo e comida japonesa. De acordo com as estimativas dos organizadores, cerca de 20 mil pessoas circularam pelos estandes, durante os cinco dias de feira. Quem não tinha convite, pagou R$ 10 pelo ingresso. Enquanto a feira internacional ArtRio, que acontece na Região Portuária, teve o apoio oficial do governo do estado, a Artigo Rio é uma proposta alternativa que se sustenta pelos esforços dos galeristas e dos promotores do evento. Dois artistas moradores do Morro da Conceição participaram desta nova edição: o escultor surrealista Claudio Aun, que expôs no estande da galeria Artéria Art Projects, e o singular Osvaldo Gaia, que cria engenhosas estruturas de madeira, linhas tensionadas e mantas difusoras brancas, e participou pela H. Rocha Galeria de Arte. Aliás, Gaia foi contemplado, na Artigo Rio deste ano, com o Prêmio de Melhor Trajetória de Artista, com direito a um período de residência na Cidade do Porto, em Portugal, e também a expor na Casa da Imagem local. A nota curiosa foi dada pelo Coletivo Filé de Peixe: os artistas que o integram criaram o projeto Cm2 Arte Contemporânea, que colocou à venda obras de apenas 1 cm2, criadas por estrelas renomadas como Cildo Meireles, Antonio Dias, Carlos Vergara e Rosângela Rennó. Os preços variam de R$ 0,50 a R$ 45,90. Entre os talentos emergentes, destacamos Ligia Teixeira, que expôs na Artéria Art Projects duas pinturas de fatura incisiva que exploram os temas da solidão e da relação amorosa.
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