Folha da Rua Larga 34

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Tereza Speridião

A Noite abre concorrência para reforma Considerado o primeiro arranha-céu do Rio, Edifício A Noite promove concorrência pública para selecionar a empresa que fará projeto de retrofit. Márcio Roiter explica a importância histórica da construção. página 15

Uma máscara para dois corações

folha da rua larga

Teresa Speridião conta a trajetória de Tânia Gollnick e Oyama Achcar, que ocupam o ateliê nº 117, na Rua Jogo da Bola, no Morro da Conceição. Página 13

folha da rua larga RIO DE JANEIRO | JULHO – AGOSTO DE 2012

entrevista

Quilombos e outras manifestações afro da região

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 34 ANO V

Valongo reformado motiva retorno de antigos moradores da região portuária

Yuri Maia

Stella Rodríguez Cáceres conta que as atuais comunidades quilombolas ainda reivindicam direitos básicos do cidadão. A antropóloga colombiana critica a monumentalização da história em detrimento da vida cotidiana das pessoas. página 5

cidade

Livraria da antiga Rua Larga completa 40 anos Arthur de Pinho conta a história da loja de livros usados fundada por seu pai, Manuel Mattos de Pinho, livreiro mais antigo do Rio, falecido em 14 de abril. Arthur revela que a empresa vai bem e já está adaptada aos tempos da internet. página 11 páginas 8 e 9

gastronomia

Beco do Bragança recebe área gastronômica página 14

Lielzo Azambuja

nossa rua

Novo sistema de coleta seletiva de lixo é instalado na região Dois metros de profundidade é a distância que vai separar os frequentadores da região do lixo por eles produzidos no Centro do Rio. Wanulsa Nunes, da Concessionária Porto Novo, explica a engrenagem adotada no sistema de coleta seletiva subterrânea, mais simples do que o praticado em Barcelona, porém adaptado às características do Rio. página 3


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julho – agosto de 2012

nossa rua

Você acha que o Rio de Janeiro está se preparando corretamente para abrigar as Olimpíadas de 2016? Yuri Maia

“O Rio terá que estar preparado! As obras de infraestrutura como as do Centro e Metrô aparentam estar atrasadas até para a Copa do Mundo. Tenho receio de que os erros apareçam às vésperas das Olimpíadas. Mas estou torcendo pelo sucesso.” Carlos Augusto Guimarães, professor

espaço dos leitores Proibição de estacionamento Comerciantes de diversos estabelecimentos nas ruas Camerino e Sacadura Cabral protestaram com relação à proibição de estacionamento, carga e descarga próximo aos seus respectivos pontos comerciais, desde a reabertura dessas ruas, no dia 2 de julho de 2012. Em nota oficial, a Concessionária Porto Novo, a serviço da Operação Urbana Porto Maravilha, informa: “Iniciamos estudo conjunto com a CET-Rio para revisão das restrições de vagas nas ruas Sacadura Cabral e Camerino. O novo estudo prevê alterações no zoneamento a fim de aumentar o número de vagas disponíveis para carga e descarga, turismo e estacionamento nos fins de semana (em períodos fora do horário de pico)”.

da redação

Yuri Maia

“Não teremos estrutura para comportar tanta gente. Se, em Londres, com a sua eficiente rede de transporte público, tiveram problemas com a demanda de pessoas, imagina no Rio. Alcançar a perfeição é difícil, mas 80% já está ótimo.” Regina Reis, economista

Yuri Maia

“Os projetos são bons e deixarão um legado importante para a cidade. Faremos as Olimpíadas muito bem, pois existe um grande interesse político envolvido. Ninguém vai querer ser responsável por um fracasso, certo?”

Água turva por perfuração de cano No dia 25/07/2012, houve mais um episódio de cano de abastecimento de água danificado, dessa vez por uma escavadeira, aqui na Rua Major Daemon, por volta das 16h. Às 19h, ao abrir a torneira da cozinha, minha esposa observou que a água estava muito turva e não cristalina como normalmente. Imaginamos então que, possivelmente, havia entrado terra no cano que foi arrebentado à tarde, não tendo sido alertados os moradores para tal fato. Fui então verificar a caixa d’água e o que encontrei foi água barrenta: havia terra na água! A única solução foi meu filho, minha esposa e eu esvaziarmos a caixa d’água, limpá-la e enchê-la novamente. Terminamos essa operação por volta de 3h da madrugada, quando então fomos tomar banho e nos alimentarmos para irmos dormir e trabalhar no dia seguinte.

Laércio Cavalcanti

Aluísio Silva, piloto de avião

Em nota oficial, o consórcio Saúde Gamboa, por meio da Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal de Obras, lamentou o incidente e informou que a falta de registros das ligações domiciliares nas redes da Cedae dificulta esse tipo de serviço.

folha da rua larga Conselho Editorial - André Figueiredo, Carlos Pousa,

Projeto gráfico - Henrique Pontual e Adriana Lins

Francis Miszputen, João Carlos Ventura, Mário

Diagramação - Suzy Terra

Margutti, Mozart Vitor Serra

Revisão Tipográfica - Raquel Terra

Direção Executiva - Fernando Portella

Produção Gráfica - Paulo Batista dos Santos

Editora e Jornalista Responsável - Sacha Leite

Impressão - Maví Artes Gráficas Ltda.

Colaboradores - Ana Carolina Portella, Carolina

www.maviartesgraficas.com.br

Monteiro, Danielle Silveira, Daniel Strauch, Fernando

Contato comercial - Teresa Speridião

Portella, Yuri Maia, Lielzo Azambuja, Mário Margutti,

Tiragem desta edição: 6.000 exemplares

Raphael Vidal, Sandra Amâncio e Teresa Speridião

Anúncios - comercial@folhadarualarga.com.br

da redação

Redação do jornal Rua São Bento, 9 - 1º andar - Centro Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690 www.folhadarualarga.com.br redacao@folhadarualarga.com.br

A Folha da Rua Larga recebe opiniões sobre todos os temas. Reserva-se, no entanto, o direito de rejeitar acusações insultuosas ou desacompanhadas de documentação. Devido às limitações de espaço, será feita uma seleção das cartas e, quando não forem concisas, serão publicados os trechos mais relevantes. As cartas devem ser enviadas para a Rua São Bento, 9 sala 101 CEP: 20090-010, pelo fax (21) 2233-3690 ou através do endereço eletrônico leitor@folhadarualarga.com.br.


nossa rua

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Praça Mauá recebe coleta seletiva subterrânea Sistema de descarte de lixo garante benefícios ambientais e melhoria da qualidade de vida Divulgação

Para facilitar a reciclagem e evitar depósitos de lixo a céu aberto, desde o dia 2 de julho, passou a funcionar um novo sistema de limpeza urbana na área portuária, a coleta seletiva subterrânea. Foram instalados 42 coletores nos arredores da Praça Mauá e Morro da Conceição. Wanulsa Nunes, gerente de conservação e manutenção da concessionária Porto Novo, esclarece que se trata de uma engrenagem piloto, que será reavaliada daqui a seis meses. Ela pede a colaboração dos frequentadores da região no sentido de separar o material reciclável do orgânico antes de fazer o descarte. O novo sistema de coleta subterrânea terá impacto na rotina de quem frequenta a região? Sim, será uma quebra de paradigma, uma mudança de

hábito. Hoje você coloca o lixo na porta da sua casa na rua. No futuro, cada frequentador da região terá que ir até o ponto de coleta e colocar o seu lixo. Isso evitará que os sacos fiquem acumulados nas ruas, estando sujeitos a eventual manipulação por animais ou pessoas, resíduos nas vias, pestes, vetores, intempéries climáticas, entre outros transtornos que o lixo causa. Qual é a diferença entre o sistema implantado na Zona Portuária do Rio e a coleta seletiva adotada há 10 anos em Barcelona? O sistema de Barcelona envolve uma logística estrutural, operacional e econômica gigantesca. Desde a implementação à operação em si. O sistema implantado nesse piloto se identifica pela simplicidade de operação e manutenção.

-organismos? Existe algum processo para a retirada do oxigênio? Nossa cuba é de concreto resistente e o fechamento é realizado com borrachas para vedar completamente o acesso ao lixo. Além disso, não existem elementos metálicos em contato com o lixo. Estes fatores contribuem para a conservação do solo, o isolamento do lixo e impede a entrada de água. Sendo assim, não produz mau cheiro, não atrai animais e ratos. Mesmo nas lixeiras por sucção, a entrada de oxigênio acontece. Mas estes microrganismos que surgem nos contêineres de lixo orgânico não são poluentes e estão dentro das normas esperadas.

Aparência dos coletores instalados na região: moradores e visitantes devem ajudar na separação do lixo

Ambos buscam o mesmo objetivo que é a qualidade de vida dos munícipes. A grande diferença está nos custos de implantação, operação e manutenção. O projeto piloto inclui 42 coletores nos arredores da Praça Mauá e Morro da Conceição. Até quando dura a fase experimental? O piloto é exatamente para verificarmos os pontos e processos, para uma futura implantação na região, observando as características de cada área. Nossa expectativa para avaliação está em torno de seis meses. Dependemos muito da participação efetiva da população para qualquer projeto nessa área, todos nós cidadãos precisamos entender que a mudança está em nós, nos nossos hábitos. Se alterarmos nossa rotina para um processo mais seguro, todos ganharão na melhoria de qualidade de vida. Há benefício ambiental trazido pela nova lógica de coleta? Sim, sem dúvida. Os resíduos estando acondicionados

adequadamente, como nesse sistema soterrado, evitam a propagação de pestes e vetores, impedindo que chuvas arrastem lixo para as vias, entupindo e obstruindo o escoamento das águas e, do mesmo modo, rompendo sacos, levando os dejetos ao sistema de águas e mananciais, o que pode acontecer também com a abertura inadequada e atemporal por parte de elementos – sejam humanos ou animais. Outro benefício ambiental será a menor presença de veículos de serviço na área, visto que a coleta não precisará ser diária, diminuindo a poluição ambiental e sonora. Finalmente esse sistema permite e incentiva a coleta seletiva, podendo, à medida que a percepção da população aumenta quanto à segregação na seletividade, ter outros conjuntos para resíduos específicos, facilitando a reciclagem e endereçamento final dos resíduos. Se o mecanismo não funciona por sucção como o modelo adotado em Barcelona, de que maneira os detritos ficarão acondicionados em ambiente sem proliferação de micro-

A coleta do lixo passará de diária para três vezes por semana. Isso não causará proliferação de insetos e mau cheiro? Quais serão os benefícios dessa medida? Não, visto que o resíduo, estando adequadamente acondicionado num sistema soterrado e hermeticamente fechado (sem oxigênio), e com a limpeza e higienização prevista, não permitirá a saída de mau cheiro e vetores, o que acontece em sistemas de superfície. E a coleta tradicional permanecerá diária? Nesse primeiro momento, sim. Será adotado algum procedimento educativo para quem permanece depositando lixo a céu aberto? As campanhas de conscientização fazem parte constante de todo processo. Precisamos da conscientização de todos sobre a importância de mudar, de fazer correto e melhor.

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br


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cidade

Um passeio inesquecível do Saara à Praça Mauá Empresa de turismo aposta nas caminhadas para apresentar o Centro a todos os públicos Regina Helena

O Saara e outros lugares bem peculiares do Centro do Rio que ainda não fazem parte do roteiro da maioria das agências de turismo, como a Praça Mauá, têm sido o diferencial de uma nova empresa no ramo, a Rio Walks. Dois dos circuitos propostos pelo grupo, intitulados “Grand Bazaar Carioca” e “Amantes da História” são os mais pedidos pelos turistas. Após uma visita ao Grand Bazaar, de Istambul, os sócios da Rio Walks concluíram que o lugar possui a mesma atmosfera da Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega. Segundo eles, o tipo de comércio, a abordagem nas ruas, os produtos similares entre si e a negociação acirrada da Turquia, são fatores que se aproximam do estilo deste tão peculiar mercado popular a céu aberto carioca. Charutaria Syria, Mariazinha Palhas, restaurante Cedro do Líbano, Casas Pedro e Igreja de São Jorge são alguns dos lugares visitados. Os guias costumam chamar a atenção para o casario que compõe o local. “O Saara é uma das maiores áreas de concentração de imóveis tombados na cidade. Pedimos para que as pessoas olhem para cima e vejam o casario. É um ambiente de comércio dentro de um local que tem um casario histórico. Andamos pela Rua do Ouvidor, Quitanda,

A Casa Cavé, confeitaria mais antiga do Rio, é um dos pontos visitados pela Rio Walks

Gonçalves Dias, é impressionante o quanto ainda se mantém da arquitetura colonial com ruas estreitas”, conta Silene Berne, sócia da Rio Walks. Outro destino bastante solicitado é a Praça Mauá. De acordo com Silene, trata-se de um lugar que até pouco tempo estava sucateado: “A gente fala sobre a importância do porto, do píer, que foi criado porque a família imperial morava na região, e que o comércio de escravos, feito inicialmente pela praça XV, passou para o Píer Mauá. Acabou então se transformando em uma região de baixo meretrício, degradada. Depois destacamos a construção do Edifício A Noite. Quem não se lembra da Rádio Nacional

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e dos programas de auditório?”. Ensaio dos monges é cereja do bolo Silene conta que o grupo pensou em suspender as visitas à Praça Mauá, quando retiraram a estátua do Barão de Mauá, cercaram a Praça e cobriram o Edifício A Noite, mas persistiu em manter o roteiro: “Mesmo vendo tapumes, eles vêem o processo de transformação acontecendo e isso tem sido muito positivo”. Ela conta que os passeios costumam acabar com o canto gregoriano do ensaio dos monges: “A arquitetura surpreende porque mais parece um forte do que um mosteiro. Foi construído em uma época em que eram

(21) 2233 3690 www.folhadarualarga.com.br

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os próprios engenheiros das forças armadas que cuidavam da arquitetura. Entrar nesse ambiente com o canto dos monges é fechar o passeio com chave de ouro”, garante. Um dos principais objetivos da empresa, segundo Silene Berne, é fugir do lugar comum. “Nós fazemos nossos roteiros com uma abordagem diferenciada, passando por lugares que pouco aparecem nos tours tradicionais e com um conteúdo rico, porém leve, de modo que o cliente termine o tour com a sensação de ter passado a tarde passeando com os amigos”, define. A administradora Flávia

Tinoco fez o walking tour em Barcelona, na Espanha, e quis experimentar o mesmo no Rio de Janeiro. Foi quando descobriu que esse serviço também existia na cidade. “Nós conhecemos muito mais o local quando podemos fazer todo o percurso caminhando. Além disso, foi muito bom aprender mais sobre a história da minha cidade”, destaca a carioca, que teve a irmã e o sobrinho como companheiros de passeio.

Sandra Amâncio e Sacha Leite smara@eletronuclear.gov.br sacha@folhadarualarga.com.br


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entrevista

Múltiplos coletivos culturais difundem a cultura afro-brasileira Antropóloga pesquisa as representações culturais negras da área portuária do Rio Carolina Monteiro

A antropóloga colombiana Luz Stella Rodríguez Cáceres estuda comunidades negras e políticas das identidades na América Latina há 14 anos. O interesse pelo tema começou no seu país de origem e, nos últimos anos, se concentrou no Brasil. Há três meses, ela defendeu a tese Lugar, memórias e narrativas da preservação nos quilombos da cidade do Rio de Janeiro, no departamento de Geografia da UFRJ. Sua pesquisa está relacionada à territorialidade e ao caráter social da questão. “Quando falamos de quilombos estamos falando de movimentos sociais contemporâneos. Como definição, quilombo não se refere a resíduos arqueológicos de ocupação temporal. Também não se trata de grupos isolados ou de uma população estritamente homogênea. Consiste, sobretudo, em grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos num determinado lugar”, esclarece. Stella explica que as atuais comunidades quilombolas têm como característica principal a luta por direitos territoriais e reconhecimento ante o estado: “Os atuais quilombolas são os novos sujeitos de direitos. São grupos que buscam uma cobertura social na lei. Trata-se de uma categoria política em disputa e em permanente redefinição. E se bem esta definição tem representado uma ruptura no plano conceitual das ciências sociais no Brasil, ela não se encontra ainda plenamente estabelecida e comporta uma diversidade de situações para os grupos que a assumem como identidade”. De acordo com a pesquisa, a Pedra do Sal veio se apresentando como uma espécie de nó, em uma dinâmica cultural que reúne pessoas

das mais diversas origens: “Samba na Fonte, por exemplo, conseguiu atrair músicos e compositores de lugares como Salgueiro, Engenho da Rainha, Campo Grande, Niterói, Gamboa, Estácio, Bangu, Penha, Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Engenho Novo, Tijuca, Água Santa e Catumbi”. Segundo ela, essas práticas culturais, por exemplo, descentram a Pedra do Sal e criam uma ruptura entre o lugar da residência e o lugar do pertencimento, permitindo exercer sua influência além das fronteiras microlocais. Por que decidiu estudar as comunidades quilombolas? Sou colombiana e trabalhava com comunidades negras no meu país desde 1998, e, pelas similitudes entre ambos os países, quis comparar. O Brasil é o maior país com população afrodescendente na América Latina, a Colômbia é o segundo. Também estavam as semelhanças em termos dos desenvolvimentos jurídicos para proteger comunidades negras rurais. Sempre trabalhei na área rural. Quando cheguei ao Brasil não estava pensando em pesquisar na cidade, cheguei ao trabalho urbano pelo acaso, mas me surpreendi, a cidade é uma selva de símbolos. Aqui no Brasil, os estudos socioculturais no espaço urbano são muito desenvolvidos. Como você se inseriu no campo? Comecei a trabalhar na comunidade Sacopã, na Lagoa, com uma família de aproximadamente 30 pessoas. A partir de uma notícia que saiu na mídia, tomei conhecimento da Pedra do Sal. Fui conhecer e comecei a fazer uma etnografia do lugar

processos relacionados com a descoberta do passado e da memória africana da região. Sua atuação para a modernização da região tem possibilitado a presentificação desse passado a partir das escavações arqueológicas. Agora, o projeto Porto Maravilha aparece como o salvaguarda dessa memória, mas vale a pena nos perguntar se não estamos assistindo para uma neutralização das demandas dos coletivos sociais. Stella Cáceres, sobre a Pedra do Sal: “O lugar é uma espécie de nó, que reúne pessoas de diversas origens”

e não do grupo. Interpretei o quilombo como um ator a mais na Pedra do Sal. Contudo, a porta de entrada para a minha pesquisa no local, foi o conflito entre a comunidade quilombola e a VOT. O que mais te encantou no objeto? Fiquei impressionada com a riqueza da história relacionada à inserção do negro no Rio de Janeiro. Era um lugar extremamente marcado pela história, carregado simbolicamente, que aparecia como fonte de representação e memória para muitos sujeitos e coletivos negros da cidade – bloco Afoxé Filhos de Gandhi, Samba na Fonte, Centro Cultural Pequena África. A Pedra do Sal é um marco da história afro-carioca. Mas a pesquisa me permitiu entender que não se trata de uma memória única, há várias memórias concorrentes, histórias e contradições que avivam no lugar. Fui mapeando os movimentos. Como percebeu a influência do Porto Maravilha no local? Acho que tem um papel muito ambíguo. Quando me aproximei do campo, o projeto era apresentado, por di-

ferentes atores, como o vilão da história, mas hoje está mediando, entre outras coisas,

De que maneira a memória afrodescendente local está sendo tratada? Para mim, há um risco de cair na banalização dessa

memória a partir da sua mercantilização. Nós temos que pensar, por exemplo, o que significa edificar um memorial da diáspora africana. É um marco zero que contém algum tipo de reconciliação entre as partes afetadas pela escravidão e seus descendentes? Ou é apenas um item a mais para atrair turistas à região, enquanto as pessoas, por exemplo, continuam a ser movidas como coisas, no atual contexto das remoções que se vivenciam na área portuária?

sacha leite sacha@folhadarualarga.com.br


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nossa rua folha da rua larga

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boca no trombone

Cliques Rua Larga Sacha Leite

Tempo Preciso de tempo – alguém tem para vender? Preciso de tempo para não fazer nada e assim poder enxergar a vida, meu rumo e os outros. Reconhecer as portas que se abrem e se fecham na frente do meu nariz. Ver é diferente de enxergar. Ver é olhar para o céu nublado e dizer: “Não há estrelas no céu”! Enxergar é olhar o mesmo céu e dizer: “As estrelas estão lá, atrás das nuvens”. Preciso de tempo – alguém quer compartilhar? Tempo para os amigos – papos sem hora para acabar; para ouvir os filhos, rir com eles, perceber a direção de suas velas para soprá-las com amor e respeito. Quero tempo para doar algumas roupas, jogar fora tantos papéis inúteis; mudar alguns objetos de lugar, acertar o quadro torto na parede e poder degustar, bem devagar, a pessoa que eu amo. Preciso de pelo menos mais um dia na semana. Poderíamos instituir a “primunda” (dia antes da segunda), que, por não existir, tudo seria permitido sem culpas, inclusive, não fazer nada. Quero parar, olhar as ondas do mar, sempre diferentes, inspirar o vazio e sentir o conteúdo profundo de todas as almas do mundo. Preciso de tempo para caminhar, comemorar as novas folhas que acabaram de nascer e ouvir a história das que secaram. Tempo para rezar de forma tranquila, trazendo Deus para se aninhar comigo e sonhar com um futuro melhor para todos nós. É necessário tempo para a saúde, prevenir o que pode vir se não me cuidar, sabendo que, se eu não me der tempo para sonhar e me lembrar dos sonhos, posso adoecer por ter simplesmente passado pela vida sem saborear. Preciso de tempo para parar e conversar com o menino que joga bolas nos sinais fechados; tempo para fazer algo por alguém que precisa de tão pouco – mostrar que existem sinais abertos. Acreditar é a luz que ilumina caminhos escuros, sem esperanças. Desejo tempo para deixar minha cabeça ao sabor do vento e permitir que ele leve meus pensamentos pesados para outras paragens e me traga novas ideias, leves e executáveis. Tempo para viver apenas, sem ter que acordar mais cedo ou dormir mais tarde. Tempo para ler os livros que comprei e apenas folheei, e depois poder ficar pensando nos conteúdos que mudaram a minha vida. Tempo para me reler. Preciso mesmo de tempo para agradecer às pessoas amigas, aquelas que me ergueram quando estava no fundo do poço; pessoas únicas e especiais, que me deram seus tempos, e eu (descuidado) me esqueço de ligar no dia de seus aniversários. Preciso de muito tempo para fazer tantas coisas que adio por falta de tempo. Meu parceiro Zeca Araújo, poeta baiano, todo mês me envia versos, me telefona para saber se estou bem e sempre lhe digo: “Estou na luta, correndo”! Um amigo uma vez me disse: “É preciso saber parar andando”. Estamos no mundo dos bits, nos comunicamos com pessoas que estão na sala ao lado pelo computador. Gostaria de segurar o ponteiro dos segundos, parar os minutos e curtir as horas paradas. Não temos tempo! Corro tanto atrás que, outro dia, atrasado, desviando das pessoas na Rua Larga, esbarrei-me de frente com as minhas costas. fernando portella cottaportella@globo.com

A calçada larga, ao lado do prédio onde será instalado o Museu de Arte do Rio, estava sendo finalizada ainda em meados de julho. Será que se transformará em uma área com mesas e cadeiras? Stella Rodríguez

Até o grafite no depósito de lixo em frente à Pedra do Sal inspira a memória local: “O mar já veio até aqui”, diz a figura meio mulher meio peixe. Ao lado, imagem feminina com traços afro remete às origens históricas da região.



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cultura

O Brazil que deseja voltar Antigos moradores retornam ao Valongo reformado, junto com suas memórias e fotografias do passado Yuri Maia

velmente, as crianças que brincam de escorregar, com uma tábua de madeira, pela ladeira.

“Eu quero voltar”. A voz do outro lado da linha é do consultor de comércio exterior Marcelo Brazil. E a história que ele conta transformará mais ainda a relação entre a memória e o resgate histórico da região portuária. Iremos conhecer “pessoalmente” os efeitos de um século na vida de uma família que viveu os processos sofridos, tanto de requalificação quanto de degradação, no local.

Morro da Conceição

Ladeira do Vallongo, n.º 35 Em 1904, a família Brazil, formada pelo casal Secundino e Maria, devido a proximidade do trabalho do patriarca, no Porto, e também do comércio e da agitação cultural da capital, se estabelece em um dos prósperos endereços da cidade: Ladeira do Vallongo, n.º 35. Bem na porta de casa, em 1906, seria construído o Jardim Suspenso do Vallongo, um jardim romântico, com terraço, arborização, cascata e uma grande área de lazer para a família, que iria crescer. Uma das fotos de época retrata bem o estilo de vida: na calçada, de sandálias de couro, sentado, com seu cachimbo, está o sorriso largo de Secundino, a admirar, prova-

Da esquerda para a direita: Luiza Rosa de Figueiredo Brazil (mãe de Marcelo), Mariana Gonçalves Brazil (filha), Ivone Figueiredo Marques (tia) e Marcelo Brazil (fotografando) Yuri Maia

Algumas décadas se passam e Maria, precocemente sem Secundino, enterrado no Caju depois de acidente em um guindaste, vive nos tempos do pós-guerra. Alguns dos milhares de refugiados que chegam ao Porto encontram moradia no Morro da Conceição. Um deles, alemão, se joga nas “trincheiras” ao ouvir o estrondo das bombinhas de São João. Seu barraco ficava no “Chico Velho”, nome dado a um lado da encosta, depósito de lixo e sinal de que a qualidade de vida por ali começava a mudar. Gamboa

Da esquerda para a direita: Marcelo Brazil, Ivone Figueiredo Marques (tia), Luiza Rosa de Figueiredo Brazil (Mãe de Marcelo) e Dona Maria (moradora da ladeira do Valongo)

Enquanto a cidade cresce para os lados Sul e Norte, na segunda metade do século XX, a região portuária vive um momento de decadência. Reduto dos pingentes do Porto: prostitutas, cafetões, trambiqueiros, traficantes, muambeiros, falsificadores, marginais, etc., que transformam aquele antigo local de formação para a família Brazil em um dilema.


cultura

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Acervo Marcelo Brazil

Os filhos saem de casa para morar em bairros com supostos menos problemas, como Leme e Madureira, mas a avó Maria não quer sair do antigo sobrado. Ela tenta resistir ao tempo. Faz a feira sozinha na Rua da Gamboa e sobe a ladeira do Morro com dificuldade, tudo para aprontar os quitutes do almoço de domingo, momento único que reúne a família. Os netinhos se divertem na mesma ladeira, mas agora vigiados pelos olhares preocupados dos pais, afinal, o Jardim Suspenso do Vallongo havia se tornado um lugar perigoso, com os viciados em plena luz do dia. Saúde 1949: Luiza Brazil, criança, no Jardim Suspenso do Valongo Yuri Maia

Luiza Brazil, atualmente, no Jardim Suspenso do Valongo

No entanto, o recorte da história não é horizontal, nem linear. Afinal, as lembranças são como nuvens. E mesmo com a agravante cicatriz da Perimetral, o Porto ainda vivia momentos de euforia. O carnaval com o bloco Coração das Meninas animava os foliões da Saúde, fazendo seu cortejo pela Rua Camerino, e saudados de cima, no Jardim, pela família Brazil. No mesmo Jardim onde os netinhos sacanas, protegidos, explorando a molecagem, jogavam tomates podres no elétrico que seguia para a Cinelândia. E onde também escondiam-se de medo, temendo o 16, armazém em que, vez ou outra, ainda se ouviam as lamúrias dos negros mortos e enterrados ali, no antigo comércio de escravos.

Santo Cristo “Minha família morou aqui desde 1904 e só saiu quando minha avó, Maria, faleceu, em 1995. Ninguém quis vir morar aqui e nós nunca mais voltamos. Era uma área degradada, muita violência, consumo de drogas. Esquecemos essa casa. Mas passamos muitos bons momentos no Valongo. Minha família escolheu esse lugar para viver. Meus pais foram criados aqui. Nossa infância foi pelas ladeiras,

aos domingos, nas férias. Brincamos muito nesse Jardim. Foram momentos especiais”, conta Marcelo Brazil, lacrimejando. E continua: “Vi uma reportagem, outro dia, falando do processo de reurbanização e restauração da região e fiquei empolgado. Parece que passou na minha frente toda a minha história. Aí decidi: vou lá. Chamei a família toda. Minha irmã avisou vocês, do jornal, para registrar o momento. Agora fico aqui pensando

se não volto pra cá. Ainda somos donos do imóvel. Está em péssimo estado, mas dá pra reformar. Quem sabe não vira um escritório? Seria ótimo ter um escritório aqui. É bem localizado. Ao lado do Porto, do Santo Cristo, né? Dá pra fazer um churrasquinho no escritório. Ou melhor, um piquenique no Jardim!”.

raphael vidal raphaelvidal@gmail.com



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comércio

Um sebo que une o tradicional ao moderno há 40 anos Elizart Livros comemora sucesso no ramo, apesar das projeções pessimistas Daniel Strauch

Quando abriu a Elizart Livros, no Centro do Rio, em 14 de agosto de 1972, Manoel Mattos de Pinho ouviu inúmeras críticas quanto à escolha do local. “Muitos brincavam dizendo que íamos morrer de fome”, conta Arthur de Pinho, filho do fundador, que faleceu em abril deste ano. Desde o início, ele esteve ao lado do pai na administração do negócio, além dos irmãos Jorge, Manoel e Bento. De acordo com Arthur, havia certo preconceito, na época, devido à proximidade com a Central do Brasil. Contrariando as expectativas, a Elizart driblou as

Na contramão da tendência, o livreiro Arthur comercializa apenas livros

dificuldades e conquistou clientes, tornando-se um sebo de referência na região, título que permanece até hoje, diferente de outros sebos que não existem mais por ali. Atualmente, a livraria dispõe de mais de 10 mil obras de todos os gêneros, da literatura aos didáticos, passando pelos técnicos e jurídicos.

Arthur ainda administra o local, mas agora na companhia dos seus filhos. “Com o passar dos anos, muitos estudantes que estavam sempre aqui se tornaram juízes, jornalistas e artistas”, revela. Dentre os renomados clientes da livraria estão Ruy Castro, Nei Lopes, Joaquim Ferreira dos Santos, Zuenir Ventura e Paulinho da Viola. Embora tradicional, a empresa familiar tem se adaptado aos tempos modernos. A Elizart disponibiliza seu acervo através do site Estante Virtual, realiza reservas pelo telefone e faz entregas sem cobrança de taxas, pois, segundo Arthur, “a venda em si tem que ser feita por todos os artifícios”. A frequência de visitas na loja física tem diminuído como reflexo direto da comodidade e disponibilidade da comercialização pela internet. Em compensação, eles não atendem somente o Rio de Janeiro: costumam vender para todo o território nacional.

Recentemente, as novas políticas da Estante Virtual passaram a estimular uma concorrência desigual, pois, ao incluir vendedores que não são pessoas jurídicas, estes acabam vendendo seus livros por preços mais baratos, já que possuem menos encargos e compromissos com o mercado. Mesmo assim, a Elizart continua marcando presença tanto no mercado virtual como no físico, que conta com um ambiente aconchegante procurado pelos novos clientes e tão querido pelos antigos. Refletindo o sucesso entre seus pares e a satisfação dos fregueses, a livraria segue como um foco de cultura e tradição na antiga Rua Larga. “Estamos abertos ininterruptamente há 40 anos. Vendemos somente livros e a relação com os clientes que temos nos dá muito prazer”, diz Arthur, orgulhoso.

daniel strauch danielstrauch@globo.com


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cidade

Polo Região Portuária assina protocolo de intenções Acessibilidade, limpeza urbana e capacitação estão entre os dez objetivos estipulados Divulgação

Com nova diretoria para gestão trienal, eleita no dia 16 de julho, o Polo Região Portuária deve cumprir protocolo de intenções que engloba metas de sustentabilidade, capacitação, limpeza urbana, acessibilidade e inclusão. O documento também foi assinado pelos demais polos empresariais do Rio formalizados junto à prefeitura. Giovanni Harvey, atual vice-presidente, fala sobre os pontos contemplados e explica a responsabilidade do Polo nesse processo. Quais mecanismos o Polo usará para garantir acessibilidade em pelo menos 30% dos estabelecimentos associados? Compete ao poder público garantir a mobilidade urbana das pessoas com algum tipo de deficiência nas vias públicas e nos transportes coletivos. Cabe a nós, empresários e comerciantes, a responsabilidade de garantir o acesso dos cidadãos deficientes a todos os produtos e serviços que oferecemos nos nossos estabelecimentos. A Região Portuária tem problemas sérios nesses quesitos. A nossa expectativa é que essas limitações sejam superadas ao longo da execução do Porto Maravilha, tanto através da manutenção das vias públicas realizadas pelas concessionárias quanto pelas ações de reurbanização que estão em curso. O “realinhamento estratégico” do polo prevê a adoção de campanha educativa com o objetivo de disseminar as boas práticas existentes na região. Já existe alguma parceria institucional que possibilite a capacitação de mão de obra das empresas associadas? A necessidade de investimentos na melhoria dos pro-

Nova abrangência geográfica do Polo, que passou de Nova Rua Larga a Região Portuária

dutos e serviços oferecidos no território foi um tema recorrente ao longo do processo de realinhamento estratégico do Polo Nova Rua Larga que resultou na criação do Polo Região Portuária. Em dezembro de 2011, prefeitura, CDURP e Sebrae celebraram um convênio, com o objetivo de fortalecer o empreendedorismo na região. Um dos objetos desse convênio é a “capacitação” e a “especialização” da mão de obra local. O polo terá um papel ativo nesse processo. Considera a meta de 80% nesse quesito um número razoável? É uma meta ambiciosa, mas necessária. Temos consciência da necessidade de melhoria na qualidade dos produtos e serviços prestados no território. O Ministério do Turismo criou o Cadastur, para estimular o desenvolvimento e a melhoria da qualidade dos produtos e serviços prestados na cadeia produtiva do turismo. A Região Portuária é um local com enorme potencial turístico. Se as empresas que já estão instaladas no território não começarem

a investir em qualidade hoje, elas perderão mercado e oportunidades diante das empresas que se instalarão na região nos próximos anos, principalmente, para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Como pretendem envolver os moradores da Saúde, Gamboa, Santo Cristo e Morro da Conceição? O maior indicador de envolvimento das pessoas é a efetiva participação nos processos decisórios do polo e nas oportunidades de negócios que são geradas na região. Os moradores e os trabalhadores da Zona Portuária são os principais consumidores dos produtos e serviços oferecidos pela maioria dos empresários que atuam no território. Muitos moradores exercem atividade comercial e têm sido estimulados a se associarem ao polo. Os moradores dos bairros da Saúde, Gamboa, Santo Cristo, incluindo os morros da Providência e da Conceição, mantêm e cultivam relações familiares, comunitárias e sociais que não podem ser ignoradas pelos empresários e investidores que atuam no território.

Que espécie de negociações conjuntas desejam praticar? A hipótese de criação de uma “central de compras” foi discutida ao longo do processo de realinhamento estratégico. A sua implementação depende de vários fatores e a proposta ainda está em aberto. Não será tomada nenhuma decisão sem uma consulta formal aos associados. Quais as vantagens de se associar ao novo Polo? O Polo é um instrumento de desenvolvimento local, em que o empreendedor tem acesso a informações estraté-

gicas e oportunidades de negócios que passam despercebidas em função da sua dedicação às tarefas do dia a dia. A Região Portuária do Rio é objeto da maior parceria público-privada já realizada no Brasil. Barcelona e Buenos Aires viveram experiências semelhantes e se transformaram em referências internacionais. Associar-se ao Polo é um dos caminhos para que o empreendedor não se arrependa, daqui a alguns anos, das oportunidades que perdeu por absoluta falta de informação.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br


cidade

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morro da conceição

Central de Leitores homenageia Nordeste

Persona Um casal de artistas muito especial habita o sobrado nº 117 da Rua Jogo da Bola, no Morro da Conceição, intitulado Atelier Ventos do Norte. Tania Gollnick veio de Santa Catarina e Oyama Achcar, de Minas Gerais. O Rio de Janeiro foi palco do encontro de duas almas sensíveis que, unidas na arte, no amor e no trabalho, se completam perfeitamente. Witmarsum é o nome da pequena cidade de Tania, que é filha de agricultores. Ela conta que, apesar de os pais viverem longe do mundo das artes, foram eles os maiores incentivadores para que seguisse esse caminho. Depois de terminar o 2º grau na pequena Witmarsum, ela foi estudar em Blumenau (SC). Formou-se em educação artística, passeou pelo mundo da música, mas optou pelo bacharelado em Teatro. Veio para o Rio de Janeiro e, há nove anos, atua na Companhia do Gesto.

seus olhos cheios de brilho são testemunhas disso. Oyama conta que nasceu em Juiz de Fora, mas foi ainda criança para Matias Barbosa, de onde saiu muito jovem. Aos 17 anos, alistou-se na Marinha e veio para o Rio de Janeiro. Não demorou muito para descobrir que a carreira militar estava muito distante de seu jardim. Dedicou-se aos estudos, fez Psicologia e, em seguida, pós-graduação em Arte Terapia. Levou alegria aos pacientes do Inca com o projeto Médicos do Barulho, e hoje atua em solos cômicos. Paralelamente, Oyama é um constante pesquisador de restauro em papel, arquitetônico e artístico, coordenando cursos sobre conservação e restauração. Essa diversidade no campo artístico faz lembrar uma composição de Sidney Miller: “Faço versos pro palhaço que na vida já Divulgação e

Máscaras de Tania Gollnick e Oyama Achcar

Foi a paixão pelas máscaras que motivou Tania e Oyama a fazerem um curso com o grupo Moitará, com supervisão do italiano Donato Sartori, considerado o maior mascareiro do mundo. A diferença entre máscara decorativa e máscara teatral é destacada por eles: “As máscaras teatrais são possivelmente o mais simbólico elemento da linguagem cênica através de toda a história do teatro”. Assim, Tania e Oyama estudam cuidadosamente a alma de um personagem antes da confecção, que pode demorar até 20 dias. A máscara deve ser incorporada ao personagem. O casal fala com orgulho do que fazem e

foi tudo / Foi soldado, carpinteiro, sertanejo e vagabundo / Sem juízo, sem juízo fez feliz a todo mundo / Mas no fundo não sabia que em seu rosto coloria / Todo encanto do sorriso que seu povo não sorria”. Na realidade, Oyama não é sem juízo, ao contrário. É uma pessoa dedicada, que trabalha pelos quatro cantos e sabe muito bem o que quer. Oyama e Tania são, acima de tudo, artistas completos. Uma só máscara é suficiente para dois corações cheios de sonho?

teresa speridião teresa.speridiao@gmail.com

Professores e alunos celebram autores nordestinos em festa de incentivo à leitura Sacha Leite

Professoras da Escola Rivadávia cantam para os alunos e demais participantes do evento literário Sacha Leite

Unindo São João e amor aos livros, a Escola Rivadávia Correa realizou, pela segunda vez no ano, a Central de Leitores. Premiado pelo Instituto C&A e monitorado pela professora Laura Sandroni, o projeto reuniu professores e alunos no hall de entrada da escola, no dia 17 de julho. O Nordeste e seus autores – Luiz Gonzaga e Ariano Suassuna – foram os homenageados da vez, com cartazes, ilustrações e cordéis. Alunos e professores se engajaram em apresentações musicais, leituras de charadas e poesias. Como na primeira edição, livros conseguidos pelo projeto foram doados aos passantes. A ideia das professoras Martha Maria Gomes, Renata Ricoca e Bárbara Portilho, organizadoras da Central, é promover saraus nesse formato a cada dois meses. Laura Sandroni, monitora do projeto e criadora da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), explica a sua função ao longo do processo: “Procuro estimular o hábito de leitura na escola dando subsídio aos professores e melhorando as bibliotecas”. E se alegra com a diversidade de pessoas que demonstram interesse e curiosidade com a iniciativa: “Há pouco, havia uma pequena multidão, pessoal da Comlurb, policiais, etc.”, conta.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br

Alunos registram o sarau literário com suas câmeras fotográficas


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gastronomia

Sabor no Beco do Bragança

receitas carol

Mesas do lado de fora se destacam como novidades do Centro Grill Há 15 anos no Beco do Bragança, o Centro Grill é um exemplo de restaurante que soube aproveitar o sucesso e não se limitou ao básico. Já conhecido entre as empresas da região por ser uma boa opção no horário do almoço, o restaurante acaba de lançar uma happy hour que promete esquentar as sextas-feiras de quem trabalha próximo à Rua Larga. Durante a semana, a casa funciona com buffet a quilo no almoço, oferecendo o melhor da culinária brasileira. Um dos diferenciais da casa é a diversidade dos pratos, que conta com um esquema fixo de duas variedades de peixes, um prato com bacalhau e um com camarão, além de massas, carnes, frangos e opções vegetarianas, totalizando 20 pratos quentes por dia, além do bufê de saladas e de sobremesas. O churrasco do Centro Grill já virou uma tradição local. Assim como o filé de salmão ao molho de maracujá, a batata rostie e a farofa da casa. O cardápio de cada dia da semana tem seus queridinhos: às segundas, delícias mineiras e bacalhau a Gomes Sá; às terças, frango caipira e escondidinho de carne seca; quarta-feira tem camarão empanado e medalhão de filé mignon; já o aipim na manteiga com carne seca e o risoto de camarão são servidos às quintas e a feijoada e a caldeirada de frutos do mar são as estrelas de sexta-feira. Para inovar, os sócios Marcos Melo e Luís Miguel contam que sempre pesquisam novas receitas de pratos e, para isso, dispõem de uma extensa coleção de livros de culinária, que ficam à disposição dos clientes. “Damos grande atenção ao sabor dos nossos pratos,

Divulgação

Adoro o inverno do Rio! A estação tem um colorido especial, a nossa atmosfera fica mais limpa e os dias são claros e brilhantes. Nessa época do ano, encontramos alcachofra nas feiras e mercados. Uma flor exótica, diferente, que tem um sabor marcante e encantador, uma maravilha! Lembro-me que, na minha infância, minha mãe servia com manteiga e limão, um dos preferidos

da família. Hoje podemos dar leveza ao molho optando por azeite e outros temperos mais saudáveis. Como agosto é mês de comemoração e restaurante cheio, essa é uma entrada super simples e que vai surpreender todos os papais – já está escalada para o cardápio da minha casa. Parabéns a todos os pais pelo seu dia, comemorem e aproveitem!

Alcachofra com molho de linhaça ACP

Divulgação

Diversos tipos de carnes grelhadas na hora são sempre uma opção agradável Divulgação

Ingredientes: • 4 flores de alcachofra • 1 unidade de limão Bobó, escondidinho e risotos variados elevam o padrão do quilo com sabor caseiro

pois isso é o que torna tão especial a comida brasileira”, garantem. Desde 20 de julho, o Centro Grill funciona às sextas-feiras a partir das 18h, para a happy hour. Segundo os sócios, a estreia no Dia do Amigo foi um grande sucesso: “Já pretendemos expandir o Beco também para as quartas e quintas”, revelam. Entre os petiscos estão bolinho de bacalhau e batata frita. Para abrigar todas essas mudanças, o restaurante passou recentemente por uma série de reformas que

se iniciaram há dois anos e ainda não estão completas. O Centro Grill ganhou uma área externa com mesas ao ar livre, um novo piso para o salão e houve a troca de todo o mobiliário por um mais moderno e charmoso. A decoração do salão também está sendo renovada, com novos quadros e luminárias pendentes. Alinhado com o tão em voga pensamento sustentável, o restaurante ganhará uma iluminação ecologicamente mais eficiente: “É essencial, para o crescimento do restaurante, mudar frente

às exigências do mercado e, principalmente, dos nossos clientes”, explicam os sócios. Para oferecer maior comodidade aos frequentadores, o cardápio do bufê de cada dia da semana está disponível no site do restaurante (www.centroriogrill.com.br). Que tal juntar o pessoal da empresa para uma esticadinha no Beco do Bragança, na próxima sexta-feira?

danielle thamires daniellethamires@hotmail.com

Para o molho: • 2 colheres de sopa de suco de limão • 1 ½ colher de sopa de linhaça moída • ½ xícara de azeite • 1 colher de sopa de manjericão picado • 1 dente de alho amassado • 1 colher de chá de sal Modo de preparo: Colocar a alcachofra numa panela com água, juntar o suco e as duas metades do limão. Levar ao fogo e deixar cozinhar por 15 minutos em água fervendo ou até que as folhas comecem se a soltar. Escorrer e reservar. Misturar todos os ingredientes do

molho. Servir ao lado da alcachofra.

ana carolina portella carolnoisette@hotmail.com Confira outras receitas da Carol no blog nacozinhacomcarol. blogspot.com


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negócios

Edifício A Noite será desocupado para reforma INPI promove concorrência para selecionar empresa que criará projeto de retrofit Divulgação

O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), que ocupa 20 andares do Edifício A Noite, na Praça Mauá, abriu licitação para fazer o retrofit deste prédio histórico, que foi o primeiro arranha-céu construído no Brasil, concluído em 1927. “A intenção é modernizar o prédio para os funcionários e abrir suas portas à sociedade com a criação de um centro cultural”, anunciou à imprensa o presidente do INPI, Jorge Ávila. Atendendo a um pedido do prefeito Eduardo Paes, o topo do prédio, com vista panorâmica da cidade, deverá abrigar o centro cultural previsto, além de atividades gastronômicas. Os funcionários do INPI já estão desocupando as salas e passarão a trabalhar em outros dois prédios até o fim das obras. Instalada no último andar, a Rádio Nacional também funcionará em outro local durante as intervenções. A Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) já procura uma instalação provisória para a emissora. No momento, o A Noite está praticamente vazio, porém é necessário que se cumpram os prazos e procedimentos licitatórios até que a reforma propriamente dita se inicie, o que, segundo a comunicação social do INPI, deve acontecer próximo a 2014. Com estilo art déco nova-iorquino, o edifício foi um marco na cidade: a partir dele, o perfil arquitetônico do Rio passaria a ser menos europeu e mais norte-americano. O prédio tem 87 metros de altura e 22 andares, que correspondem a 30 de um prédio moderno, por cau-

A construção de um centro cultural e gastronômico no terraço do ícone art déco é estudada Divulgação

para o desenvolvimento arquitetônico da cidade. História de importância nacional

Construção do Edifício A Noite 1930

sa do pé-direito ampliado. Na época, o edifício despontou como a maior construção em concreto armado do país. As referências do seu estilo arquitetônico se concentram na área externa e nas áreas internas de uso comum

do edifício. Estas últimas, inclusive, já foram bastante descaracterizadas em diversas reformas mal feitas. Além de ser o prédio que introduziu o art déco no Brasil, em seu planejamento, também foi pensada a ação dos ventos

sobre a estrutura. O arquiteto responsável pelo projeto do Edifício A Noite foi o francês Joseph Gire, que, alguns anos antes, planejara o Hotel Copacabana Palace. Essas duas construções consolidaram novos paradigmas

Tombado pela prefeitura (Decreto n.º 18.995 de 2000), o edifício hoje pertence à União e deve seu nome ao letreiro do jornal diário vespertino A Noite, instalado logo abaixo da cobertura. Esse periódico foi criado, em 1911, pelo jornalista Irineu Marinho, pai de Roberto Marinho, e teve origem em desentendimentos ocorridos na direção do Gazeta de Notícias, precipitando a saída de Irineu para fundar outro veículo. Depois, A Noite foi extinto e, em seu lugar, foi criado o atual jornal O Globo. Márcio Roiter, presidente do Instituto Art Déco Brasil e estudioso desse estilo, que abrangeu arquitetura, decoração, publicidade, cinema e artes gráficas, entre outras manifestações,

lamenta, por exemplo, que o hall de entrada do Edifício A Noite tenha sido totalmente transformado, e espera que, com a próxima reforma, ele possa ser “recuperado conforme o projeto original”. De acordo com Roiter, o mirante da cobertura “era o mais visitado da cidade, competindo com o Pão de Açúcar, pois o Cristo do Corcovado só surgiria um ano depois”. Roiter também informa que, além de diversos escritórios de companhias marítimas, como a norte-americana Moore McCormack, A Noite sediou o escritório dos arquitetos sócios Lúcio Costa e Gregori Warchavchik. Em 1930, Lúcio Costa, diretor da Escola de Belas Artes, onde, na época, se estudava Arquitetura, convidou Warchavchik, estabelecido em São Paulo desde o início dos anos 1920, para ser professor e ensinar princípios modernos de construção a alunos acostumados ao ecletismo e estilo neoclássico vigentes na época. Os dois se associaram e projetaram diversos prédios no Rio. Outro ocupante ilustre do A Noite é a Rádio Nacional, criada em 1937 e instalada nos últimos andares do edifício. Com seus programas de auditório e de radioteatro, a emissora magnetizou a atenção dos brasileiros. Tinha mesmo audiência nacional, graças ao uso das ondas curtas e ao sucesso de seus programas humorísticos e jornalísticos. Inicialmente uma empresa privada, foi estatizada por Getúlio Vargas, em 8 de março de 1940, e transformada na rádio oficial do seu governo.

mário margutti mfmargutti@gmail.com


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lazer folha da rua larga

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dicas da cidade Negritude letrada Em 20 de setembro, será inaugurada a biblioteca afro-brasileira do Instituto Pretos Novos. São cerca de 300 títulos de literatura, religião e ciências humanas. A coleção completa História geral da África, editada pela Unesco, faz parte do acervo. Os visitantes poderão fazer consulta local. Rua Pedro Ernesto, 32/34, Gamboa. Samba do Fim O Fim de Semana do Livro no Porto, festa literária que acontecerá em 20 e 21 de outubro, no Morro da Conceição, terá dois dias de warm up. O Samba do Fim será liderado pelo grupo Terreiro de Breque e promete animar as tardes de 26 de agosto e 23 de setembro, no Armazém Zero4: Largo de São Francisco da Prainha, nº 4, a partir das 15h. Grátis. 30 anos sem Elis A partir de 9 de agosto, o Centro Cultural Banco do Brasil recebe a exposição multimídia Viva Elis! São cerca de 200 fotos da cantora, além de entrevistas, ingressos, pôsteres, vídeos de apresentações, especiais de TV, réplicas de figurinos e revistas e jornais da época, acompanhados de muita música. Rua Primeiro de Março, 66. Entrada franca. da redação redacao@folhadarualarga.com.br

Água de Moringa no Centro Cultural Light Sopros, cordas e percussão do sexteto trazem Pixinguinha e Joel Nascimento Um dos mais versáteis grupos de música instrumental, o Água de Moringa, estará no próximo dia 26 de setembro, quarta-feira, no Centro Cultural Light. No repertório, composições dos elogiados CDs As inéditas de Pixinguinha e Obrigado Joel, um tributo ao bandolonista Joel Nascimento, entre outros sucessos. Tendo como filosofia o mesmo “espírito chorão” dos músicos do final do século XIX, que criaram uma nova linguagem a partir da tentativa de tocar as músicas então vindas da Europa, o sexteto vem apresentando seu trabalho em diversos estados do Brasil, e também no exterior. Em seu primeiro CD (Água de Moringa, 1994), por exemplo, o conjunto colocou lado a lado músicas de Nazareth, Pixinguinha, Caetano Veloso e Gilberto Gil,

Divulgação

Água de Moringa brinda o público com joias do choro há 23 anos

num trabalho indicado ao Prêmio Sharp. O segundo álbum, (Saracoteando, 1998), chegou ainda mais longe: foi agraciado com dois Prêmios Sharp – melhor grupo e melhor arranjador (Josimar Carneiro), categoria instrumental, com obras de Canhoto da Paraíba, Jacob do Bandolim, Radamés Gnattali, Guinga, Hermeto Pascoal e Guerra-Peixe.

Já As Inéditas de Pixinguinha, terceiro e elogiádíssimo CD, rendeu a indicação de melhor grupo instrumental do Prêmio Tim de Música Brasileira, edição 2003. O quarto trabalho, Obrigado Joel, lançado em 2010, homenageia o grande bandolinista Joel Nascimento, uma das maiores influências do grupo.

O Água de Moringa é formado pelos músicos: Rui Alvim, clarinete e clarone; Marcílio Lopes, bandolim e violão-tenor; Jayme Vignoli, cavaquinho; Luiz Flávio Alcofra, violão; Josimar Carneiro, violão de sete cordas, e André Santos (Boxexa), percussão e bateria. A apresentação do grupo integra a série de encontros musicais do projeto MPB 12:30 em Ponto, sempre às quartas-feiras, no formato de talk-show, comandados pelo jornalista e pesquisador Ricardo Cravo Albin, com direção de Haroldo Costa e Paulo Roberto Direito. A entrada é franca. O Centro Cultural Light fica na Avenida Marechal Floriano, 168, próximo à estação de metrô Presidente Vargas.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br


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