Folha da Rua Larga Ed.45

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Divulgação

Artista da região cria joias e litografias eróticas

Uma visão antropológica da memória negra

Recém-chegada ao Morro da Conceição, a artista plástica Juliana Jorge está chamando a atenção de seus colegas pela qualidade estética de suas criações. Formada em gravura pela Escola de Belas Artes da UFRJ e especializada em ourivesaria pelo Senai, Juliana produz litografias e joias inspiradas pelo erotismo. página 13

folha da rua larga Em livro recém-lançado, que contém sua tese de doutorado para o IFICS/ UFRJ, a antropóloga Roberta Sampaio Guimarães analisa a visão que urbanistas tiveram da memória negra nas vizinhanças do Morro da Conceição, antes do início da Operação Urbana Porto Maravilha. cultura e cidadania - página C3

folha da rua larga RIO DE JANEIRO | MAIO – JUNHO DE 2014

livre opinião

Três pedidos para governantes municipais e estaduais

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Nº 45 ANO VII

Instituto Favelarte fará da fotografia instrumento de geração de trabalho e renda no Morro da Providência Maurício Hora

Moradores e trabalhadores da Região Portuária apresentam queixas e sugestões para a melhoria da qualidade de vida no âmbito da Operação Porto Maravilha. Os temas levantados são: recursos para os artistas do Morro da Conceição, construção de novos equipamentos urbanos na Gamboa e situação do trânsito na Rua Acre. página 2

empresas

Mais uma Semana do Porto Empreendedor Uma parceria da Cdurp e do Sebrae/RJ promoveu cursos de qualificação profissional para jovens aprendizes e apoiou uma rodada de negócios entre 80 pequenos fornecedores e seis empresas-âncoras da região. página 3

gastronomia

Descubra por que o Sentaí faz sucesso há 64 anos página 14 Carolina Monteiro

Camarão ao alho e óleo com arroz de brócolis

cultura e cidadania I capa

cultura e cidadania

Divulgação

Pensador australiano elege a vitalidade cultural como pilar da sustentabilidade

Para ser sustentável, o desenvolvimento deve ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. Considerando esses três pilares insuficientes, em 2001, o australiano John Hawkes lançou o quarto pilar da sustentabilidade: “a função essencial da cultura no planejamento público”. Para Hawkes, a vitalidade cultural é fundamental, por cultivar dimensões tipicamente humanas como a coesão social, a arte, a religião, a criatividade e as ciências, deixando para trás a obsessão pelo lucro. página C8

O sambista Jorginho do Império será a grande atração do projeto “Botequim da Rua Larga”, dia 11 de julho, às 18h30min, no Centro Cultural Light. A renda será destinada a uma instituição de caridade. página 16


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livre opinião Artistas querem reconhecimento “O Projeto Mauá existe desde o ano 2000, quando apenas quatro artistas plásticos moradores do Morro da Conceição (Paulo Dallier, Renato Santana, Marcelo Frazão e eu, Claudio Aun) abriram as portas de seus ateliês para receber visitação pública. Nesse projeto, sempre tivemos muito sucesso de visitação e mídia, abrindo nossas casas-ateliês no final de semana da Festa de Nossa Senhora da Conceição, em dezembro. Em média, tivemos cerca de 600 visitantes Divulgação

Gabriel Catarino Rodrigues Diretor de Comunicação e Projetos da Amaga (Associação de Moradores e Amigos da Gamboa e Adjacências)

por dia. E durante muito tempo nunca tivemos apoio de empresas ou de órgãos públicos. Cada artista participante sempre investiu do próprio bolso em uma das despesas: em mídia, banners, envio de e-mails, etc. Até hoje, conseguimos realizar o projeto uma vez por ano. Quando surgiu a operação urbana Porto Maravilha, a Concessionária Porto Novo financiou as oficinas de arte que ministramos para a população do entorno do Morro da Conceição. Dos quatro ateliês do início do

Mário Margutti

projeto, hoje evoluímos para 15 ateliês participantes. O problema é que estamos constrangidos por sermos os pioneiros no campo das artes plásticas na Região Portuária – e continuamos sem ter patrocínio e sem receber um apoio substancial. Por conta da nossa história, acreditamos que merecemos não participar de editais e que deveríamos, isso sim, receber o devido reconhecimento pelo trabalho que já realizamos e consolidamos. O pior de tudo é que estamos sendo usados por outros projetos da área de

Oficinas gratuitas

Claudio Aun, Escultor e presidente do Projeto Mauá

artes plásticas, que prometem apoio, usam a marca do Projeto Mauá e, no fim das contas, não nos dão nenhuma forma de apoio.”

Qualidade de vida no Porto “O bairro da Gamboa, localizado na Região Portuária do Rio de Janeiro, hoje possui mais de 13 mil moradores, com muitas residências e vários casarios seculares. Existe hoje um pequeno e variado comércio, e muitos acervos artísticos, culturais e históricos do tempo do Brasil-Colônia escravocrata que valorizam nosso bairro. O projeto Porto Maravilha, iniciativa da prefeitura do

Rio, chegou à Região Portuária no ano de 2010, redesenhando de forma construtiva e positiva todo o tecido social e urbanístico local. Porém nossa população de moradores da Gamboa está precisando urgente de novos equipamentos públicos, tais como: uma Escola Politécnica Profissionalizante, administrada pelo governo estadual ou pelo governo federal; uma Unidade de Pronto Atendi-

mento (UPA), que funcione 24 horas, (responsabilidade do governo do estado); um Hospital da Mulher (competência da prefeitura municipal); e a construção de uma maternidade dentro do bairro da Gamboa. Essas providências precisam ser tomadas por serem de grande importância social, pois contribuirão para elevar o nível da qualidade de vida local.” Mário Margutti

Problemas de mobilidade urbana “A região Portuária foi invadida por diversas promessas de melhorias em todas as áreas possíveis, desde mobilidade urbana a melhorias sociais para a população local. Muitas delas foram feitas, concordo, mas algumas pecaram na praticidade. Em relação ao trânsito e transporte público, por exemplo, piorou para quem tem car-

ro, para quem pega ônibus e para quem anda de táxi. O sistema de mão dupla de toda a extensão da Rio Branco não foi levado até a parte da via na Região Portuária, o que acarretou uma mudança dos principais pontos de ônibus que passaram para a Rua Acre. Concentrados todos em um mesmo ponto, muitos motoristas, disputando lugar

com táxis e carros, acabam não parando depois que os passageiros fazem sinal. Sem falar nos taxistas que agora têm calafrio quando indicamos o destino final de nosso trajeto. É muita complicação, mudanças constantes e acessos mal sinalizados que ninguém mais quer encarar. Mas sou otimista. Sei que as mudanças são para uma me-

radar

Yuri Maia Produtor cultural

lhoria futura e acredito que em pouco tempo as pessoas vão se adaptar.”

O Centro Cultural Ação da Cidadania está oferecendo diversas oficinas gratuitas para os agentes culturais da Região Portuária: Oficina de Gestão Cultural e Elaboração de Projetos, Oficina de Produção de Eventos e Oficina de Fotografia. Em parceria com o Ponto de Cultura Circus Circus, também será realizada um oficina gratuita de artes circenses. As inscrições estão abertas de segunda a quinta-feira, das 10 às 12h e das 14 às 17h. Serão aceitos preferencialmente moradores da Região Portuária. A Ação da Cidadania fica na Rua Barão de Teffé, 75, Saúde. Mais informações com Luana Carvas pelos telefones 2233-7460 e 98464-4264 ou através do e-mail luanacarvas.prod@ gmail.com. Art Comfé A Incubadora Afro Brasileira deu início ao planejamento estratégico da Associação Art Comfé do Vicariato da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. A atividade está sendo conduzida pela gerente de relações institucionais da Incubadora, Márcia Ferrreira, e tem como objetivo a elaboração do plano de negócios da associação. A Associação ArtComfé é composta por mulheres que moram em comunidades de baixa renda e que confeccionam colchas, panos de prato e cordões, além de trabalhar com reciclagem de resíduos. A parceria entre a Incubadora e a Associação teve início em 2010, quando foram realizadas diversas palestras sobre empreendedorismo que culminou com a participação das artesãs na 51ª Feira da Providência no Rio de Janeiro. Capacitação para a construção civil Uma parceria entre o Instituto Cyrela e o Instituto de Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social (CNEP) irá capacitar mão de obra especializada para o setor de construção civil do Rio de Janeiro nas seguintes áreas: alvenaria geral, bombeiro hidráulico, carpintaria de fôrmas, elétrica predial e pintura e textura em paredes e madeiras. Os cursos serão teóricos e práticos e terão a duração média de três meses. É necessário apresentar carteira de identidade, CPF, comprovante de residência e certificado de conclusão do ensino fundamental. As inscrições podem ser feitas na Avenida Presidente Vargas, 502, 10º andar, no Centro, pelos telefones 2223-0290 e 3553-5462 ou através do e-mail alexandre.cnep@gmail.com. da redação I redacao@folhadarualarga.com.br Curta a Folha da Rua Larga no Facebook!

Onde encontrar o jornal

folha da rua larga Conselho editorial - Alberto Silva, Fernando Portella,

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Direção executiva - Fernando Portella

Produção gráfica - Suzy Terra

Editor e jornalista responsável - Mário Margutti

Produtora Executiva - Roberta Abreu

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Carolina Portella, Carolina Monteiro, Egeu Laus,

Contato comercial - Márcia Souza

Fernando Portella, João Guerreiro, Raphael Vidal,

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares

Roberta Abreu e Teresa Speridião

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A Folha da Rua Larga é de distribuição gratuita e pode ser encontrada com mais facilidade nos seguintes endereços: Redação do jornal Rua São Bento, 9 - 1º andar - Centro Rio de Janeiro RJ - CEP 20090-010 - Tel.: (21) 2233-3690 www.folhadarualarga.com.br redacao@folhadarualarga.com.br

• Colégio Pedro II – Av. Marechal Floriano, 80. • Tetto Habitação – Av. Marechal Floriano, 96. • Bandolim de Ouro – Av. Marechal Floriano, 120. • Sapataria Souza – Av. Marechal Floriano, 121. • Principado Louças – Av. Marechal Floriano, 153. • Restaurante Velho Sonho – Av. Marechal Floriano, 163. • Cedim – Conselho Estadual dos Direitos da Mulher – Rua Camerino, 51. • Multicoisas – Rua São Bento, 26. • Restaurante Málaga – Rua Miguel Couto, 121. • Centro Cultural Ação da Cidadania – Av. Barão de Tefé, 75. • Bar Imaculada – Ladeira João Homem, 7 – Morro da Conceição. • Subprefeitura do Centro – Rua da Constituição, 34.


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empresas

Porto do Rio como palco para o empreendedorismo Programas de qualificação profissional e culturais agitaram a região Divulgação

De 20 a 24 de maio, aconteceu a 3ª Semana Porto Empreendedor, maior evento empresarial da Região Portuária. Foram cinco dias de palestras, oficinas e consultorias gratuitas para microempreendedores individuais e também para pequenos e potenciais empresários. Através do programa Porto Maravilha Cidadão, foram abertas 35 novas vagas para uma turma de qualificação de Jovens Aprendizes. Os selecionados terão a oportunidade de participar de curso gratuito de Logística durante um

ano, de segunda a sexta, das 8h às 12h. Moradores do Morro da Providência tiveram prioridade nas inscrições. Além da ajuda de custo de R$ 449, os jovens receberão vale-transporte, R$ 17 por dia para refeição e R$ 310 por mês para alimentação. Programação cultural Durante o evento, três programas gratuitos valorizaram a cultura afro-brasileira e movimentaram a Região Portuária no fim de semana. Dois deles contaram com o apoio do

Pequenos fornecedores negociaram com seis empresas-âncoras Divulgação

Tenda de eventos da Semana do Porto Empreendedor

Prêmio Porto Maravilha Cultural: • 2ª edição do “Herança Africana – Intervenções Urbanas No Caminho do Porto”: realizada de 16 a 18 de maio, homenageou artistas da música, das artes cênicas e personalidades negras com exposição de fotografias, exibição de filmes, apresentações, feira de gastronomia e seminário. • “O Porto Importa”: no sábado, dia 17 de maio, a partir das 10h30, foi realizada a 4ª Roda dos Fazeres, seguida de roda de capoeira e visita aos pontos históricos do entorno. • “Festival Música dos Afri-

canos Escravizados”: grandes nomes da música popular brasileira se apresentaram no Centro Cultural Ação da Cidadania, de 15 a 17 de maio. O ponto alto No evento, seis empresas âncoras e 80 pequenos empreendedores participaram da 3ª Rodada de Negócios Porto Maravilha, que reuniu grandes companhias e potenciais fornecedores inscritos previamente para reuniões. Foram realizadas oficinas e palestras com inscrição na hora, incluindo temas como gastronomia e alimentos seguros, estética, layout de loja,

iluminação e arrumação de vitrine, turbinando uma programação inteiramente gratuita. A Semana foi promovida pelo Programa Porto Maravilha Cidadão, numa parceria da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp) com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/RJ). Calcula-se que mais de dois mil empreendedores passaram pelo local nos cinco dias de evento. O perfil do público atendido era bastante amplo: foi dada atenção ao microempreendedor individual, que trabalha sozinho ou com mais uma pessoa, e também a potenciais empresários que desejavam entender a dinâmica econômica da Região Portuária e buscar espaços de trabalho.

da redação recacao@folhadarualarga.com.br


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história baú da rua larga

Café, omelete, livros e panamás no Centro do Rio Apesar do “progresso”, estabelecimentos tradicionais resistem na Rua Larga Divulgação

No quarteirão que se inicia após o muro do Colégio Pedro II e segue até a Rua dos Andradas, encontra-se um belo conjunto remanescente de sobrados antigos da Rua Larga. O estado de conservação é razoável e o passante pode observar as cantarias e gradis de ferro que compõem alguns dos imóveis. Assim é a Avenida Marechal Floriano nos dias atuais. Um burburinho sonoro de gentes, máquinas e automóveis. São apitos, buzinas, gritos, sirenes e o som altíssimo de britadeira. Entretanto, se o transeunte se abstiver da barulheira e ativar outros sentidos poderá se surpreender. Do outro lado da histórica rua, na esquina da Uruguaiana, está a centenária Casa Paladino. O ambiente é pequeno para o comércio de mercearia e bar, mas é acolhedor e simpático. Fantásticas omeletes e sanduíches, ótimas sardinhas portuguesas e um bom chope, tudo servido por garçons diligentes e bem humorados. Omelete! Ah! Um prato simples que, segundo alguns, é de origem persa e foi adaptado ao paladar francês. Alguns ovos, ervas, ou presunto e temos um banquete mag-

Com mais de um século de história, a Casa Paladino oferece aos fregueses omeletes e sanduíches que valem por uma refeição Divulgação

A Elizart Livros, fundada em 1972 por Manoel Mattos, tem rica oferta de obras antigas e raras para seus clientes

nífico, acompanhado de um bom vinho e rodelas finas de pão. Terminada a refeição, irresistível é se deparar, ao sair do Paladino, com o delicioso cheiro de café moído que vem da casa ao lado, Café Capital. Para os amantes da bebida, a cafeteria é ponto certo para o aperitivo. De quebra, ainda se pode levar o precioso grão moído na hora e saboreá-lo em casa. No número 63 está a Eli-

zart Livros, fundada em 1972, por Manoel Mattos, que propicia ao consumidor de livros antigos e raros uma ótima opção. Para os iniciantes, existem pilhas de gravuras antigas, fotografias raras e coleções de revistas do século passado. Para o sol e a chuva, não nos esqueçamos de completar o passeio e comprar um bom chapéu ou um guarda-chuva. Na Chapelaria Porto, logo ali na Rua Senador Pompeu, 134, o acessório é fabricado, desde 1880, com máquinas de costura e formas de madeiras usadas há pelo menos 120 anos. Hoje, Vanusa, filha do Sr. Almir Romão Damaso, que fabricou chapéus por mais de 60 anos, administra o local. A técnica e o apuro artesanal continuam inigualáveis. Sugestão: numa cidade solar como a nossa, o uso de chapéus panamás deveria ser obrigatório. Costumo dizer que o Centro de uma cidade, por sua agitação e variedade de acontecimentos, é a melhor visita que um turista pode fazer. Nele tudo acontece, pois é possível estar ao mesmo tempo ocorrendo um incêndio, um assalto, uma passeata, negócios, um namoro,

uma inundação ou um papo de esquina. Múltiplas manifestações da natureza e demonstrações humanas boas ou ruins. A Rua Larga perdeu suas coberturas de ferro e zinco que acompanhavam grande parte de suas calçadas. O tempo e a falta de manutenção se encarregaram de retirá-las. Para muitos, o remédio aplicado se chama “progresso”. E, por falar em remédio, recentemente estive na Aldeia Sapukai, em Angra dos Reis, que é um atrativo cultural importante da região da Costa Verde. O cacique João, com mais de 100 anos, solenemente afirmou: “Quando o índio está doente, vai ao mato, colhe a planta e faz a infusão. Reza e toma quando quiser. Fica curado. Remédio de branco, só na hora certa, e às vezes não cura”. O Rhum Chreosotado, que nossos avós e belos tipos faceiros tomavam, desapareceu. Biotônicos à parte, esperamos todos que as obras do alcaide transformem o Centro do Rio de Janeiro em um lugar prazeroso e feliz, usando do remédio certo, na hora certa.

aloysio clemente breves soubreves@yahoo.com.br


cultura e cidadania

Divulgação

• O diretor executivo do Instituto Cultural Cidade Viva (ICCV), Fernando

Portella, recebeu o Prêmio Cultura 2014, concedido pelo Governo do Estado do Rio Janeiro. O motivo: a criação e manutenção do projeto Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos, no município de Rio Claro. A participação popular foi decisiva na conquista do prêmio: o projeto recebeu mais de 15 mil votos pela internet. página C4

Revitalização da Rua Larga | Zona Portuária | Centro do Rio

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Edição Especial

Zona Imaginária: cooperativa de artes visuais na Região Portuária Fotógrafo social do Morro da Providência cria mercado de trabalho para moradores Maurício Hora

Era meio-dia quando cheguei ao ateliê de Maurício Hora. Ele estava organizando uma viagem à França. Fotógrafo social que nasceu e morou no Morro da Providência, Maurício participou, de 7 a 9 de junho, do Festival Internacional de Livros e Filmes Étonnants-Voyageurs (Espantosos Viajantes), na cidade francesa de Saint-Malo, com a exposição Photo de La Favela (Foto da Favela), junto com André Diniz, autor do livro Morro da Favela, que conta a vida de Maurício em quadrinhos. O ateliê fica na Rua Pedro Ernesto, nº 61, sobreloja – a mesma rua em que Horácio José da Silva, mais conhecido como Prata Preta, liderou a trincheira e barricadas contra a obrigatoriedade da vacinação da população carioca, episódio esse que ficou conhecido como a Revolta da Vacina. Hoje, o ateliê comandado por Maurício também abriga um sonho de resistência: a Cooperativa Zona Imaginária. Indago a Maurício por que uma cooperativa. Ele responde: “É um empreendimento coletivo e solidário. Aqui os fotógrafos vão poder utilizar os equipamentos coletivamente, o que garantirá que eles tenham o melhor equipamento. Isso significa estar em igualdade de condições tecnológicas com os fotógrafos que saem das redações dos grandes veículos de comunicação que também utilizam os equipamentos de ponta adquiridos para uso coletivo”. Explica que, individualmente,

estar com equipamentos de captura de imagem (máquinas fotográficas, lentes e computadores para tratar imagens) sempre “na ponta” significa um investimento que impossibilita a entrada no mercado de trabalho da maioria dos fotógrafos oriundos das comunidades populares. E Maurício sempre se preocupou com isso. Há cerca de 20 anos, Maurício Hora iniciou o Instituto Favelarte. O objetivo era, já naquela época, utilizar as chamadas novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) a favor do Morro da Providência e da Zona Portuária, divulgando as manifestações artísticas da região. “Hoje, as TICs trazem oportunidades para que jovens e adultos das áreas periféricas do Rio de Janeiro rompam com a segregação dos espaços na cidade, conseguindo a visibilidade que sempre lhes foi negada; porém a geração de trabalho e renda continua como um problema a ser enfrentado”, diz Maurício, reafirmando que a cooperativa tenta romper esse cerco. Mas nem todos os 27 artistas visuais que estão estruturando a cooperativa são fotógrafos. Maurício explica que a proposta do ateliê é mais ampla: “Defendemos que o espaço seja utilizado por variadas linguagens”. Conheci uma das participantes antes da proposta da cooperativa: Vanessa Rosa. Artista urbana que atua sobretudo com pintura nas ruas, ela transformou uma fotografia de Maurício Hora em um grafite em frente à Casa

Depois de conseguir recursos do Fundo Brasil de Direitos Humanos, Maurício Hora começou a realizar seu sonho de tornar a fotografia um instrumento de geração de trabalho e renda para os jovens do Morro da Providência

Amarela, outro espaço do Instituto Favelarte, no alto do Morro da Providência. No ateliê ela poderá utilizar o espaço (cerca de 400 m2) para experimentos e receber clientes. Cristiano Magalhães, outro integrante do Favelarte, surgiu no ateliê e interrompeu a conversa acrescentando que hoje há uma necessidade, por parte de muitos fotógrafos, em receber clientes, ter um computador para realizar o tratamento das fotos, realizar ensaios fotográficos, enfim, de ter um escritório. Para chegar ao funcionamento ideal, segundo Maurício, é necessário maior investimento financeiro no ateliê e na cooperativa: “Já estamos funcionando. Só que o projeto requer apoio, patrocínio e/ou investimento. O Favelarte está se profissionalizando. Em julho, iremos realizar nosso

Planejamento Estratégico e será produzido o Plano de Negócios da Cooperativa. Teremos mais o que mostrar para quem se interessar em sair na frente conosco”, sentencia o fotógrafo. Pergunto a ele, então, o que significa estar num festival na França neste momento de megaevento na cidade: “Um dos temas do festival será O Brasil hoje. Ocorrerão debates sobre a imensa desigualdade no país, que apresenta um produto futebol/carnaval/alegria adquirido pelo turista ao chegar ao Brasil, mas que faz esse turista encontrar aqui também a favela, os serviços públicos sendo questionados e uma concentração de renda vergonhosa. Não é à toa que todo o debate sobre o Brasil de hoje terá como pano de fundo a exposição de quadrinhos (HQ) do

André Diniz sobre a minha vida e que tem no Morro da Providência mais que um cenário, um território que molda vidas”, responde. Nesses debates, Maurício estará acompanhado por Paulo Lins, Marcelino Freire, Luiz Ruffato, entre outros, e muitos filmes sobre o país. Aproveitando a viagem, Maurício vai a Paris e fotografará a colônia brasileira radicada na capital francesa durante três jogos da seleção brasileira na Copa de Futebol da Fifa 2014. Ao retornar ao Brasil, fotografará os demais jogos da seleção brasileira, acompanhando moradores da Região Portuária. O objetivo desses registros nasceu de um projeto, que Maurício acalenta desde abril de 2014, chamado “Direito à cidade e mobilidade urbana: impacto da Copa de

2014 na Região Portuária do Rio de Janeiro”. O projeto visa a registrar a reação dos moradores da região frente a todas as intervenções que a área vem sofrendo, tendo como pano de fundo preparar a cidade para o Campeonato de Seleções da Fifa. Ele lembra que muitos turistas chegarão pelo mar e a porta de entrada será o Píer Mauá. “Não são só as Olimpíadas de 2016 que vêm mexendo com a região”, garante. Esta é a forma que a Zona imaginária toma: imagens, territórios e renda – cidadania e resistência. Vamos apoiar?

joão guerreiro professor do IFRJ e coordenador do Observatório da Indústria Cultural jguerreiro2@gmail.com


C2 Edição Especial

maio – junho de 2014

cultura e cidadania boca no trombone

Cliques Rua Larga

Divulgação

PRA FRENTE, BRASIL! Bola no centro do gramado. É hora de torcer ou de se contorcer diante dos problemas nacionais? A bola rola, é a Copa do Mundo no Brasil. A situação é grave: greves em todo o país. É hora dos gritos agudos contidos da nação. Soltam foguetes os cartolas que comandam a corrupção. “Pai”, diz o menino com os olhos brilhantes, “compra pra mim a camisa da seleção?”. Responde um taxista: “Não vamos estragar a festa, vamos deixar as críticas para depois da Copa”, da cozinha... Cuidar disso no banheiro, na privada das eleições. Nosso povo heróico, cujo brado sempre será retumbante. O juiz apita! Quanto tempo leva para se prender quem deu bola e roubou os ingressos para o desenvolvimento do país? A bola rola daqui para ali, vem e volta “x” por cento, debaixo das arquibancadas que deveriam sustentar os torcedores de um Brasil melhor. Promotores no ataque, advogados na defesa, agora parece que vai, não vai, uma falta marcada pode levar anos para erguer um cartão vermelho de expulsão. Os meninos jogam bola na comunidade pacificada, embora os bandidos escondidos ainda formem alianças para que a violência prevaleça e a vida se transforme num jogo de perdedores da condição de prosperar. Nossos gritos não ecoam, nem às margens do Rio Ipiranga. Enfeite as ruas, as casas, as janelas, estamos na Copa, alegria para os jovens puros que ainda não são o futuro da decepção. Vamos sair do banco de reservas, deixar os protestos para a disputa de pênaltis nas urnas. Gigantes pela própria natureza, somos os goleiros de tantas bolas impunes chutadas contra a nação. Triste são os brasileiros que vestem a camisa verde e amarela do lado do avesso, que já não sabem mais quem são. Jogadores dos campos de várzea, antigos idealistas que decidiram no passado pela vida pública por convicção e hoje são apenas garotos-propaganda do poder e da autopromoção. Corre a bola no dia a dia, mata no peito varonil, deixa cair, dribla os impostos, lança para o companheiro, que devolve, trabalha e se aperta de casa para o trabalho na condução. Brasil! Acredito na consciência daqueles que, em Recife, devolveram os eletrodomésticos roubados depois da confusão da greve da polícia. Quantos são aqueles que querem ser sorteados na Mega-Sena e passar o resto da vida vendo televisão? Brasil, único país do mundo que tem o nome de uma árvore e um povo deitado à sombra, eternamente em berços esplêndidos, sem recursos para a saúde e para a educação. Por favor, mascarados de plantão (eu os compreendo), grevistas de todas as áreas (eu os respeito), bandidos (aproveitadores, pela falta de opção), não quebrem nada agora, não parem os serviços fundamentais, vamos receber na nossa casa pessoas de todas as partes do mundo. Assumo a minha alienação. Vamos torcer, vibrar, sonhar, ganhar, gritar no gol do Fred e do Neymar, beber, sair nas ruas buzinando vitórias e sentar na frente da TV, com nossas placas de protesto na mão, e torcer pela seleção.

fernando portella cottaportella@globo.com

Os projetos FIM – Fim de Semana do Livro no Porto e Tramas do Porto (arte do bordado, projeto de Silvania Fonseca) agitaram o Largo de São Francisco da Prainha com feira, circuito gastronômico e palestras de escritores no Sobrado 04. Carolina Monteiro

Os dois projetos aconteceram nos dias 10 e 11 de maio e contaram com o apoio da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região Portuária (Cdurp) e da Concessionária Porto Novo, responsável pelas obras do Porto Maravilha.


cultura e cidadania C3 Edição Especial

maio – junho de 2014

A utopia da Pequena África Livro de antropóloga mostra como patrimônio afro-brasileiro da Região Portuária é visto por planejadores urbanos

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Durante dois anos, a antropóloga Roberta Sampaio Guimarães estudou o Morro da Conceição e suas vizinhanças, avaliando a noção de patrimônio construída pelos urbanistas que fizeram o Plano Porto do Rio, em 2001, para revitalizar a Região Portuária. Sua pesquisa virou tese de doutorado em Antropologia Cultural pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ e, recentemente, livro publicado pela FGV Editora, com o nome de A utopia da pequena África: projetos urbanísticos, patrimônio e conflitos na Zona Portuária carioca. A obra foi lançada dia 22 de maio, na Livraria da Travessa de Botafogo. No âmbito do território portuário, os planejadores urbanos que idealizaram o Plano concentraram investimentos simbólicos e materiais nos arredores da Praça Mauá. Naquele momento, algumas transformações já haviam ocorrido em seu entorno: a Rua Sacadura Cabral foi reurbanizada, resultando na instalação de bares e casas de espetáculos para um público de classe média; na Gamboa, foram construídas as arquitetonicamente

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Roberta Sampaio: herdeiros da cultura negra resgataram sua memória histórica

Uma obra sobre a memória espacial dos negros e do “povo de santo” na região do Morro da Conceição

monumentais Vila Olímpica e Cidade do Samba; o terminal de passageiros do Porto foi reformado, aumentando o fluxo de turistas nacionais e internacionais na região; e o Morro da Conceição foi divulgado como “sítio histórico de origem portuguesa”, atraindo gra-

que os espaços do Morro portavam diferentes cosmologias e formas de habitar, e que ali os espaços eram estruturados a partir de múltiplas relações de oposição. Na proposta elaborada pelos urbanistas da prefeitura para a “revitalização”, os sobrados habitados por diferentes núcleos familiares ligados ao trabalho no porto e ao pequeno comércio haviam sido classificados como “insalubres”, “vazios” ou “invadidos”. Roberta então direcionou sua pesquisa para os grupos que se contrapunham às propostas e classificações da prefeitura, que se autoidentificavam herdeiros de um patrimônio “negro” e “do santo”, operando uma cosmologia e um

dualmente moradores de maior poder aquisitivo. Definido como setor prioritário de criação de novas unidades habitacionais, o Morro da Conceição foi escolhido por Roberta para desenvolver um trabalho de campo entre 2007 e 2009. No processo, ela percebeu

imaginário próprios, que a antropóloga chamou de “mito da Pequena África”. Esses grupos eram os habitantes do Quilombo da Pedra do Sal e os integrantes do Afoxé Filhos de Ghandi, ligados ao candomblé, que hoje lutam para ter uma sede no Valongo – referencial simbólico importante por estar situado no local do antigo mercado de escravos do Rio de Janeiro. Foi assim que a antropóloga concluiu que os espaços do Morro da Conceição e da Zona Portuária ultrapassaram a dimensão de um território e natureza inanimados, a serem dominados e explorados economicamente. Ela descobriu que eles eram “espaços vivos, constituídos

por humanos, animais, plantas, deuses e mortos, em constante criação e dissolução”. Para Roberta, os urbanistas da prefeitura que atuaram antes do surgimento da Operação Porto Maravilha mediaram a narrativa sobre o patrimônio do Morro da Conceição e sua vizinhança, tornando praticamente invisível o legado da cultura negra, pois eles consideravam que a ocupação da região havia sido feita por portugueses, espanhóis e seus descendentes, assim como por migrantes nordestinos e franciscanos. A memória espacial dos “negros” e do “povo de santo” foi excluída. Entre os diversos patrimônios que existiam na região, os que eram denominados como referentes à “Pequena África” chamaram atenção de Roberta “porque mobilizavam vários grupos sociais portadores da memória e cultura afrodescendente e das práticas ligadas, principalmente, ao samba, ao trabalho portuário, ao candomblé e à moradia popular”. Na época, afirma a autora, “esses grupos não estavam sendo contemplados por nenhuma proposta urbanística ou patrimonial e, em reação a esse esquecimento, começaram a propor ações de resgate de memória e de valorização de suas práticas culturais, ampliando seus vínculos sociais e logrando um reconhecimento político mais amplo”.

da redação daredacao@folhadarualarga.com.br


C4 Edição Especial

maio – junho de 2014

cultura e cidadania

ONG da Região Portuária ganha importante prêmio cultural O projeto premiado é um resgate da história do município de São João Marcos ICCV

O Instituto Cultural Cidade Viva (ICCV) recebeu o Prêmio Cultura 2014, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, pela criação e manutenção do projeto Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos, no município fluminense de Rio Claro. A participação popular foi decisiva na conquista do prêmio, pois o projeto recebeu mais de 15 mil votos pela internet. A entrega do prêmio foi realizada na noite do dia 9 de maio, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no bairro do Jardim Botânico. Quem recebeu o troféu em nome do Instituto foi o seu diretor-executivo, Fernando Portella: “É um belo reconhecimento ao nosso trabalho, que já levou mais de 30 mil visitantes ao Parque. Aproveito a ocasião para agradecer às pessoas que votaram em nosso projeto, que contou com a mobilização das escolas públicas da região de Rio Claro, com apoio da prefeitura local e da Secretaria Municipal de Educação. Também quero agradecer à Light, que é a grande patrocinadora do projeto através da lei de incentivo à cultura do ICMS/RJ, desde o ano de 2007, quando começamos a fazer o levantamento das ruínas arqueológicas da cidade que ali existiu no começo do século”, declarou na ocasião.

ções, suas impressões sobre a experiência vivida durante a visitação, possibilitando uma reflexão sobre questões relacionadas ao meio ambiente, ao patrimônio e à própria história das comunidades do interior do estado. Outra atividade é a oferta de visitas guiadas ao parque para incentivar o turismo ambiental, ecológico e cultural, contribuindo com as ações já existentes de revitalização do Vale do Paraíba. No momento, o Parque está lançando o concurso cultural “Contos de São João Marcos”, que reunirá dez contos vencedores em uma antologia a ser lançada no Festival Literário do Parque, no mês de outubro. As inscrições poderão ser feitas através dos Correios. As informações sobre como participar estão no site do projeto: http://www.saojoaomarcos. com.br/. Lá o internauta irá encontrar a história de São João Marcos. Na noite do prêmio (da esquerda para a direita): Ronaldo Lupi, secretário municipal de Cultura de Rio Claro, Fernando Portella, diretor-executivo do ICCV, Paulo Bicalho, gerente do Centro Cultural Light, e José Carlos Barros, gestor do projeto. Divulgação

Dupla premiação O projeto já havia recebido o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, concedido pelo Iphan em 2011, na categoria Proteção do Patrimônio Natural e Arqueológico. O Parque Arqueológico e Ambiental de São João Marcos é um verdadeiro museu a céu aberto, às margens da Represa de Ribeirão das Lages, e possui 33m2 tratados do ponto de vista arqueológico e museológico. Dentro das suas instalações foi estruturada uma trilha sinalizada de três quilômetros, onde os visitantes são informados sobre a imponente cidade que ali havia antes de sua destruição. O parque possui um anfiteatro com capacidade para 250 lugares, no qual são realizados eventos culturais. O espaço nasceu do projeto de revitalização da área do município de São João Marcos, no Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro, uma das primeiras cidades tom-

Vista do Centro de Memória do Parque Ecológico e Ambiental de São João Marcos

badas do Brasil pelo Sphan (atual Iphan), em 1939, que foi oficialmente destombada e demolida em 1940, no governo Getúlio Vargas, para a construção da Usina das Lages. A cidade foi destruída, mas não inundada pela represa. A região, que hoje pertence ao município de Rio Claro, abriga elementos que ajudam a recontar a história do país.

As atrações do Parque Inaugurado em agosto de 2010, o Parque oferece como um de seus principais atrativos um programa educativo que já atendeu mais de dois mil estudantes. Professores e alunos das escolas participantes são orientados e estimulados a expressar, através de desenhos e reda-

Os demais projetos premiados Os projetos que conquistaram o Prêmio foram escolhidos a partir de uma lista de 100 indicações, com dez nomes de cada uma das regiões do estado (Costa Verde, Médio Paraíba, Baixada Litorânea, Centro-Sul, Norte, Serrana, Metropolitana Rio, Metropolitana Baixada, Metropolitana Leste e Noroeste). No total foram 30 premiados, (três por cada região), escolhidos por especialistas e também pela população, que pôde votar via internet. Os ganhadores através do voto popular, além do Parque Ambiental e Ecológico de São João Marcos, foram: Grupo Teatrama, de Araruama; Sociedade Musical Camerata Rioflorense, de Rio das Flores; Quarto do L, de Volta Redonda; Escola Livre de Cinema, de Nova Iguaçu; Cia. Holos de Dança, de Niterói; Cine Literário, Rio de Janeiro; Sementes da Capoeira, de Porciúncula, Banda Cervical, de Macaé e Latex – Laboratório de Artes e Teatro Experimental, de Cachoeiras de Macacu.

da redação recacao@folhadarualarga.com.br


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maio – junho de 2014

cultura e cidadania

Cultura: o quarto pilar da sustentabilidade Pensador australiano amplia debate sobre desenvolvimento sustentável Divulgação

Em 2001, ao escrever o estudo intitulado O quarto pilar da sustentabilidade: o papel essencial da cultura no planejamento público, o australiano Jon Hawkes propôs que o desenvolvimento sustentável não podia mais se basear apenas nos tradicionais três pilares do crescimento econômico, da justiça social e da responsabilidade ambiental. A esse famoso tripé da sustentabilidade – Profit (lucro), People (pessoas) e Planet (planeta) – criado em 1990 pelo consultor britânico John Elkington, Hawkes acrescentou um quarto pilar: a cultura. Isso ocorreu na medida em que o autor australiano considerou que, apesar do efetivo crescimento da economia e da ampliação das inovações tecnológicas, milhões de pessoas em diversos países do mundo estão à margem desse processo. Hawkes concluiu que o foco da sustentabilidade deve ser o “bem-estar dos cidadãos”. Nesse horizonte, Hawkes não se refere à cultura como o mundo das artes ou da erudição acadêmica, mas sim dentro de suas dimensões cotidianas, tal como são descritas pela Antropologia e pela Sociologia: 1) A produção social e a transmissão de identi-

Jon Hawkes: “A política cultural deve ser um dos componentes-chaves da estratégia de desenvolvimento” Reprodução

O antigo tripé da sustentabilidade (à esquerda). O modelo atual (à direita) inclui a cultura como pilar da sustentabilidade

dades, significados, conhecimento, crenças, valores, aspirações, memórias, propósitos, atitudes e compreensão; 2) O “estilo de vida” de um determinado grupo de

seres humanos: costumes, fés e convenções; códigos de condutas, vestimentas, cozinha, linguagem, artes, ciência, tecnologia, religião e rituais; normas e regras de comportamento,

tradições e instituições. Nessa perspectiva, a cultura é ao mesmo tempo o meio e a mensagem – os valores inerentes e os significados e resultados da expressão social. A cultura abrange cada aspecto das interações humanas: a família, a educação, as leis, os sistemas políticos e de transporte, os meios de comunicação de massa, as práticas de trabalho, os programas assistenciais, as práticas de lazer e o ambiente construído. Além disso, o consumo desenfreado também é uma questão cultural, e para mudar estilos de vida, as pessoas precisam absorver novos valores éticos e existenciais. É por isso que os aspectos culturais de um povo precisam ser levados em conta no planejamento das políticas governamentais. Nas palavras de Hawkes: Sustentabilidade: os recursos naturais não são ilimitados – a exploração desordenada causa degradação e escassez. A menos que a exploração seja cuidadosamente planejada e controlada, a perseguição imediatista da riqueza material resultará inevitavelmente em pobreza e desastre ecológico a longo prazo. Bem-Estar: pesquisas têm demonstrado que, embora a sociedade no seu

Caderno Cultura e Cidadania Realização

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conjunto seja mais próspera materialmente, muitos de seus membros se sentem excluídos, pobres e infelizes. O que é bom para a economia não é necessariamente bom para a sociedade. Em suas reflexões, Hawkes realça que o conceito de sustentabilidade, na sua forma mais simples, expressa o desejo de que as futuras gerações herdem um mundo com recursos tão abundantes quanto os que temos hoje. Como conseguir isso é que é o cerne do debate incessante. Ele conclui que se trata de uma debate sobre valores e, por isso, trata-se de um debate essencialmente cultural. Assim Hawkes chega ao conceito de vitalidade cultural como fator indispensável para a obtenção do desenvolvimento sustentável. Ele sabe e assume que “a cultura é um organismo frágil e delicado”, que pode facilmente ser atrofiado, fragmentado, hierarquizado de forma a criar exclusão, ou ser reduzida a blocos monolíticos de expressão sob regimes autoritários. A saúde cultural de um povo requer cuidados constantes e, para Hawkes, deveria ser objeto constante de atenção das políticas governamentais. A cultura floresce das interações humanas,

tornando-se produtos tangíveis dessas interações. Por isso a cultura não deve ficar restrita à escola, aos meios de comunicação e aos espaços propriamente culturais. Ela precisa de vitalidade, tornar-se um evento diário, vivido nas ruas, nas lojas, nos trens e nos bares. Trata-se de um processo público e incessante, que constitui o que ele chama de “assinatura da sociedade”. Para que exista vitalidade cultural, é necessário que “exista uma diversidade robusta e uma coesão social baseada na tolerância, no igualitarismo multidimensional, na inclusão social, na criatividade energética e na curiosidade exercida com a mente aberta”. Atributos que farão as crianças do futuro nos agradecer pela introdução de novos valores no tecido social. Neste horizonte altamente promissor, Hawkes pede a governos e empresas que tenham uma clara compreensão do papel que a cultura deve ter nos métodos de gestão, para promover concretamente a aparição dos fatores acima descritos em nossas sociedades de consumo.

mario margutti mfmargutti@gmail.comr


13 folha da rua larga

maio – junho de 2014

cidade morro da conceição Uma joia de artista Apresento nesta coluna a jovem artista Juliana Jorge. Sua obra tem uma linguagem artística extraordinariamente simples, embora o conteúdo seja complexo. Nascida em Santa Teresa em 1981, ela é artista plástica, designer de joias e fotógrafa. Formou-se em gravura pela Escola de Belas Artes da UFRJ e especializou-se em ourivesaria pelo Senai. Participou das mostras Novíssimos, em 2009, na Galeria de Arte Ibeu, e Parede – II Festival Internacional de Pôster Arte do Rio de Janeiro, em 2010, no Centro Cultural da Justiça Federal. Ainda em 2010, realizou trabalhos de fotografias imprimindo seu olhar artístico sobre a noite carioca. Ainda como fotógrafa, trabalhou com vários books de artistas com ensaios eróticos. É também autora de 20 ilustrações em aguada de nanquim que ilustram o livro de poesia Descursos, lançado em setembro de 2011. Atualmente Juliana está mergulhada na criação de suas joias e, em breve, lançará nova coleção de peças eróticas. O erotismo está presente em tudo o que faz, incluindo a fotografia, a gravura, o design e outras obras de arte, sempre com um olhar crítico e refinado. Na roda viva do fazer artístico, ela funde em si mesma a própria essência da arte, se fotografando como modelo na divulgação de suas obras. Com um senso de observação aguçadíssimo, ela é capaz de extrair de uma simples palavra ou da silhueta de um prédio o design perfeito para a criação de uma joia. Muitas vezes ela se inspira em uma nuvem e retira dela a linguagem visual suficiente para confeccionar uma peça. Há alguns anos, usou sua própria casa como galeria por duas semanas e fez dela o cenário de uma experiência de vida. Casa vazia foi o nome da instalação que sublimou a solidão, o vazio, os amores que vêm e vão, deixando rastros positivos e negativos, expondo a alma nua da artista às observações dos mais sensíveis. Juliana acredita que seu sucesso está ligado diretamente ao apoio incondicional que sempre recebeu dos pais, Antônio Carlos, professor e escritor de livros de química, e Lúcia. Ambos são coadjuvantes na sua existência como artista. Juliana Jorge faz parte do projeto Mauá e acaba de chegar ao Morro da Conceição: ela veio enriquecer o Morro com sua arte, suas joias e seu espírito despojado. Todo artista tem a alma nua, a mente imagética e o corpo a serviço do fazer artístico. Assim é Juliana Jorge. Seu ateliê fica na Rua Pedro Antonio, 32. Para contato, o e-mail é: julianajorge.s@gmail.com. teresa speridião teresa.speridiao@gmail.com

Um mestre-sala que venceu pelo talento e dedicação Após aptidão revelada na infância, hoje ele samba na Imperatriz Leopoldinense Diego Mendes

Phelipe Lemos é um dos mais jovens e talentosos mestres-salas do carnaval carioca. Junto com a sua parceira Rafaela Theodoro, ele defende as cores da Imperatriz Leopoldinense desde o ano de 2011. Ele conta: “Tudo começou nas festas de família, quando eu era criança. As meninas seguravam uma vassoura e um pano para fazer a porta-bandeira e eu, que sempre fui muito extrovertido, sambava com elas. Um amigo achou que eu levava jeito e me chamou para participar dos ensaios da Escola Acadêmicos do Cubango de Niterói, onde minha família desfila no carnaval. E foi assim, quando eu tinha apenas 8 anos, que fui indicado para participar do projeto mestre-sala mirim”. Nessa escola, um mestre-sala já reconhecido, Antonio Carlos, da Porto da Pedra, foi seu grande professor: “Foi ele quem me deu a maior inspiração”, confessa. Em 2008, Phelipe decidiu participar de um concurso para ser o segundo Diego Mendes

Depois do desfile: embaixadinhas ao lado de sua parceira Rafaela Theodora

Fantasiado de Rei Arthur, Phelipe faz passo em homenagem a Michael Jackson, inventado por seu professor Antonio Carlos, mestre-sala da Porto da Pedra

mestre-sala da Vila Isabel. Eram 16 casais concorrendo e Phelipe e sua parceira Rafaela venceram o concurso. “Fiquei dois anos na Vila. Até então, eu sambava com total compromisso, mas era mais por diversão. A partir de 2011, eu e Rafaela fomos convidados para ser o primeiro casal de mestre-sala e porta-

-bandeira da Imperatriz Leopoldinense. É uma escola muito tradicionalista e já estamos lá há quatro anos. Agora eu vejo minha atuação como mestre-sala como uma verdadeira profissão”, revela.

da redação daredacao@folhadarualarga.com.br


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gastronomia receitas carol

Delícias do mar no Sentaí Tradicional restaurante da região mantém a qualidade da sua cozinha há 64 anos Carolina Monteiro

Quando o Sr. Cezário Cardoso chegou com a família nos anos 40, vindos de Portugal, certamente não imaginava que o Sentaí fosse entrar para a história da cidade como um dos mais tradicionais restaurantes portugueses do Rio. O filho, José Rodrigues, juntamente com sua esposa, Dona Hilda, deram prosseguimento a essa tradição familiar que tem feito do Restaurante Sentaí uma verdadeira joia da culinária portuguesa. Localizado na Rua Barão de São Félix, o lugar é bastante simples, mas confortável. O luxo fica por conta do cardápio, capaz de causar indecisão com tamanha variedade de pratos apetitosos. Ninguém permanece 64 anos no mercado por acaso. A razão principal do sucesso é que sempre mantiveram um controle de qualidade excepcional. Ao longo do tempo, o Sentaí tem recebido figuras importantes como os ex-presidentes Figueiredo e Fernando Henrique Cardoso, além do prefeito Eduardo Paes. Além disso, Lulu Santos, Gilberto Chateaubriand, Camila Pitanga, Wagner Moura e Silvia Poppovic são outras celebridades que adoram o lugar. A estrela da casa é a lagosta. Comê-la é um acontecimento. O cliente pode escolher: lagosta grelhada com batatas coradas, lagosta grelhada com arroz e brócolis, lagosta à baiana, lagosta com salada de maionese, lagosta com molho branco gratinado, risoto de lagosta, lagosta ao catupiry ou uma suculenta moqueca de lagosta. A cozinha também oferece pratos calcados na tradição lusitana: bacalhau à portuguesa, bacalhau à lagareira, bacalhau à milanesa, sardinhas portuguesas e muitas outras delícias, como o cabrito à chanfana (feito ao vi-

Nesta época, as frutas silvestres estão lindas e a bom preço. O morango está super suculento e com um colorido incrível. Está na hora

de usar e abusar destas frutinhas. Pensando nelas, escolhemos uma sobremesa linda e prática para esta edição. Bom apetite!

Pavlova de frutas vermelhas ACP

O segredo do sucesso: comida saborosa e ambiente informal Carolina Monteiro

Moqueca de lagosta: imperdível Carolina Monteiro

Grelhados de frutos do mar: uma das muitas especialidades

nho). Enfim, trata-se de uma autêntica casa portuguesa. Como entrada, o Sentaí oferece seus famosos croquetes de camarão, casquinha de siri, bolinhos de bacalhau, empadas, lagostas ou lulas ao vinagrete. Uma boa pedida é a picanha marítima. Os pratos mais caros servem duas ou três pessoas. Há

também pratos executivos: lulas grelhadas com arroz e brócolis (R$ 23), risoto de camarão (R$ 22) e bacalhau do Brás (R$ 30). Até julho, o restaurante oferece rodízio de camarão a R$ 59,90, uma boa oportunidade para experimentar em uma só refeição vários tipos de pratos. No cardápio há também

opções de filés e contrafilés. Os vinhos portugueses são variados, entre maduros e verdes, e o cliente pode escolher até uma simples taça do famoso vinho Pêra-Manca. Mas o chope também é excelente pedida, pois sai a toda hora e é extremamente gelado. As deliciosas sobremesas portuguesas são um capítulo à parte: toucinho do céu, pastel de Belém, barriguinha de freira e pastel Santa Clara – ainda bem que termina com nome de santa, porque assim o freguês pode pedir uma ajudinha a ela. Os amantes da velha e boa gastronomia portuguesa têm motivos de sobra para ir ao Restaurante Sentaí e se deliciar como se estivessem além-mar. Então, escolha sua mesa, sente aí e fique totalmente à vontade, pois a casa é sua. O Sentaí fica na Rua Barão de São Félix, 75, Centro. Telefones: 22338358/22234419. Horários: das 11 às 16h (sábados e domingos até 17h). Não abre às segundas-feiras.

teresa speridião teresa.speridiao@gmail.com.br

Ingredientes 2 xícaras de creme de leite fresco 2 colheres de sopa de açúcar 1 colher de chá de essência de baunilha 150g de suspiros 150g de morangos picados 100g de framboesa 100g de blueberry 1 colher de sopa de mel ¼ xícara de vinagre balsâmico Modo de preparo Bata o creme com o açúcar e a baunilha até ficar na consistência de chantilly. Cuidado para não bater demais e virar manteiga. Misture o mel ao vinagre balsâmico e regue o morango. Deixe o morango marinar por alguns minutos. Esfarele grosseiramente os suspiros e reserve. Numa taça, coloque um pouco do creme no fundo,

salpique as frutas e regue com o caldo de balsâmico. Cubra com mais creme, salpique as frutas e os suspiros. Sirva em seguida.

ana carolina portella carolnoisette@hotmail.com Confira outras receitas da Carol no blog nacozinhacomcarol.blogspot.com


Há 64 anos servindo o melhor bacalhau da cidade.

O Restaurante Sentaí tem o bolinho de bacalhau mais famoso da cidade e os mais variados pratos de frutos do mar. Não há outro português como este. Venha presentear seu paladar conosco. Rua Barão de São Félix, 75 • Centro Tel (21) 2233 8358 • 22234419


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lazer folha da rua larga

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dicas da cidade CCBB mostra o gênio surrealista de Salvador Dalí Mostra reúne 150 obras das diversas fases do polêmico artista catalão Até 30 de setembro, o Centro Cultural Banco do Brasil apresentará uma exposição de 150 trabalhos do artista catalão Salvador Dalí, entre pinturas, gravuras, documentos, fotografias e ilustrações. A mostra reúne 30 pinturas a óleo, mais de uma centena de trabalhos gráficos e uma instalação, oferecendo um mosaico das diversas fases criativas do pintor, que alcançou fama mundial por sua adesão ao surrealismo, seu comportamento polêmico e atitudes provocativas. A arte surrealista procura uma linguagem “acima do real”, na qual o artista projeta na obra as manifestações do seu inconsciente, dando asas à sua livre imaginação. E é por isso que as imagens surrealistas nos aproximam do mundo dos sonhos. Dalí, em particular, ficou célebre por suas pinturas de imagens bizarras, de alta qualidade técnica, a exemplo de seus relógios moles (Persistência da memória) e suas obras de arrebatamento místico (Cristo Hipercúbico). Influenciado pelos mestres pintores do Renascimento, Dalí insistiu em sua descendência árabe, afirmando que seus antepassados mouros ocuparam o sul da Espanha por quase 800 anos (de 711 a 1491), e atribuiu a esse atavismo seu amor por tudo que é excessivo e dourado, sua paixão pelo luxo e seu amor oriental pelas roupas. Suas atitudes extravagantes chegavam a aborrecer aqueles que admiravam sua arte e incomodavam os críticos que viam no seu comportamento teatral um obscurecimento da sua obra artística. O evento custou R$ 9 milhões, que foram obtidos graças ao enquadramento do projeto na Lei Rouanet. No conjunto, as obras têm valor estimado em US$ 170 milhões, o equivalente a quase R$ 400 milhões. Dos R$ 9 milhões do orçamento da mostra brasileira, um terço custeia somente os direitos autorais das peças, faturados pela Fundação Gala-Salvador Dalí, que é dirigida pelo espanhol Joan Manoel Sevillano. A curadora No dia 30 de maio, data da inauguração do evento, foi realizada uma palestra com a curadora do projeto, a catalã Montse Aguer, que nasceu em Figueras, mesma cidade natal de Dalí. Aguer já levou a mesma mostra para o Centro Pompidou de Paris e para o Museu Rainha Sofia, de Madri. Segundo ela, “Dalí foi um grande tímido, um artista solitário”. Montse o conheceu em 1985, quando ele tinha 81 anos e ela era estudante de Filologia na Universidade de Barcelona. Dalí estava morando na Torre Galatea, depois que um incêndio arrasou o seu castelo de Pubol em 1984. Ela passou a trabalhar para ele, “que necessitava de alguém que substituísse sua antiga secretária”. Conta Aguer: “Basicamente, minhas funções consistiam em ler para ele e acompanhá-lo quando saía; Dalí havia se refugiado em um mundo íntimo, longe desse outro midiático – para ele, foram momentos de uma solidão desejada. Ao contrário do que a imprensa sensacionalista dizia dele na época, Dalí continuava sendo uma pessoa lúcida e inteligente”. Sobre o artista, declarou: “Ele é uma máquina de pensar. É sinônimo de curiosidade e imaginação transbordantes. É um artista e um personagem, a quem interessaram todos os campos artísticos e que se antecipou aos momentos atuais. A exposição nos aproxima desse duplo Dalí, deixando para trás os preconceitos e assumindo que Dalí criador e Dalí midiático são inseparáveis e uma das figuras mais fascinantes do século XX e também do século XXI”. Sobre o papel do artista no âmbito da escola surrealista, Montse Aguer faz um comentário esclarecedor: “Dalí representou uma convulsão no movimento surrealista. Impregnou-se do desejo de subverter o mundo e criou o método paranóico-crítico. Segundo ele, deveríamos sistematizar o delírio e fazer da obsessão uma realidade outra. Seu maior desejo foi sistematizar a confusão, algo que em Dalí faz todo o sentido. Ali está sua vontade inesgotável de criar imagens duplas. Suas obras nos dão ferramentas para perceber a realidade de muitas outras maneiras, longe de um modo canônico ou padronizado”. Em outubro, a exposição seguirá para o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, que, há cinco anos, negocia sua vinda ao país. O CCBB fica na Rua Primeiro de Março, 66. da redação redacao@folhadarualarga.com.br

O samba do “Imperador” aporta no Centro Cultural Light Jorginho do Império promete muita música e alegria para os fãs Divulgação

Jorginho do Império: atração de julho no CCL

O sambista Jorginho do Império será a estrela do projeto “Botequim da Rua Larga”, promovido pelo Centro Cultural Light, no próximo dia 11 de julho, às 18h30min. O projeto conta com os incentivos fiscais da Lei do ICMS/ RJ e acontece na última sexta-feira de cada mês, no fim de tarde, em um espaço ambientado como no Rio Antigo, na Avenida Marechal Floriano, 168. Nesse espaço se apresen-

tam músicos que representam as diversas correntes musicais da MPB, com ingresso a preço bem popular: apenas R$ 5 (e a contribuição é voluntária). Jorginho do Império é filho de Mano Décio da Viola, um dos fundadores da Escola de Samba Império Serrano. A canção Na beira do mar, lançada em 1975, foi o seu maior sucesso. Jorginho começou a carreira ao lado do amigo Martinho da Vila, fazendo

a abertura de seus shows. Nos anos de 1996, 1997 e 1999, foi puxador oficial do samba da Império Serrano no carnaval carioca. Em 1971, foi eleito “Cidadão Samba do Estado da Guanabara”. Em mais de 30 anos de carreira, lançou 24 discos e fez shows na Argentina, na França e no Japão. Jorginho também é radialista e comanda o programa Barracão do Samba, da Rádio Livre 1440, ao lado de Marcelo Pacífico. A renda do show será revertida para a Casa Maria de Magdala, que foi idealizada pelo médico Renê Pessa, em 1991, para oferecer uma ação integrada de educação e assistência social aos portadores do vírus da AIDS.

da redação redacao@folhadarualarga.com.br


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