Referências Brasileiras

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× Oficina de Seu Maurício × Oficina de Seu Manoel Carlos

× Oficina de Seu Timóteo

× Artesanato do Zé

× Oficina de Seu Messias

× Curtume

Referên cias B r as ileir as

A Simplicidade do Fazer


Todo artesão é um artista. To d o artesão é u m artis ta .

Em Cabaceiras, a Roliúde Nordestina, há muitos deles. A cidade que cravou definitivamente as suas ruas no mapa como o cenário d’O Auto da Compadecida é também o palco da arte de Seu Messias, de Seu Nino, de Seu Manoel Carlos. Pais, filhos, bisnetos de artesãos, eles são artistas das coisas simples. Costuram mais de um século de história nas riquezas culturais do Cariri paraibano com as próprias mãos. Todos os dias. Em Cabaceiras, a Roliúde Nordestina, há muitos deles. A cidade que cravou definitivamente as suas ruas no mapa como o cenário d’O Auto da Compadecida é também o palco da arte de Seu Messias, de Seu Nino, de Seu Manoel Carlos. Pais, filhos, bisnetos de artesãos, eles são artistas das coisas simples. Costuram mais de um século de história nas riquezas culturais do Cariri paraibano com as próprias mãos. Todos os dias.

× Lajedo de Pai Mateus × Igreja Matriz

× Fazenda

Nossa

dos 3

Senhora da

Irmãos

Conceição

× Oficina de Seu Nino

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A Simplicidade do Fazer


Em Cabaceiras faz calor. O astro-rei permanece fincado no cĂŠu por mais de metade do dia. Por boa parte desse tempo, ele vigia os paraibanos bem do alto: o sol a pino ĂŠ companheiro das horas do Cariri. Em Cabaceiras faz calor. O astro-rei permanece fincado no cĂŠu por mais de metade do dia. Por boa parte desse tempo, ele vigia os paraibanos bem do alto: o sol a pino ĂŠ companheiro das horas do Cariri.

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A vegetação do Cariri é dura como o chão que lhe dá vida. Em nenhum lugar do país chove tão pouco. As plantas são secas, espinhosas e baixas – sempre na altura do corpo. É justamente delas que a roupa de couro protege o vaqueiro. A vegetação do Cariri é dura como o chão que lhe dá vida. Em nenhum lugar do país chove tão pouco. As plantas são secas, espinhosas e baixas - sempre na altura do corpo. É justamente delas que a roupa de couro protege o vaqueiro.

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A diversidade de texturas, formas e cores marca cada passo dado sobre a terra de Cabaceiras. A paleta de cores da paisagem vai dos tons terrosos e sóbrios do chão até o verde das espinhosas palmas e o azul turquesa que tinge um céu de poucas nuvens dia após dia. A diversidade de texturas, formas e cores marca cada passo dado sobre a terra de Cabaceiras. A paleta de cores da paisagem vai dos tons terrosos e sóbrios do chão até o verde das espinhosas palmas e o azul turquesa que tinge um céu de poucas nuvens dia após dia.

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O bode é importante porque dele vai sair o couro, o chifre, a carne, tudo praqui. Tudo vem do bode. Só não vem do bode o leite, que vem da cabra .

O b ode é im portante porque dele vai sai r o couro, o ch i fre, a carn e, tudo praqui. Tudo vem d o b ode. Só não vem do b ode o leite que vem da cab ra .

Cabaceiras tem mais bode que gente. Lá, o bicho é rei. Dele vem tudo: a cultura, a garantia da comida na mesa e a tradição da arte no couro. Cabaceiras tem mais bode que gente. Lá, o bicho é rei. Dele vem tudo: a cultura, a garantia da comida na mesa e a tradição da arte no couro.

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Eu vivo d o bo de. tenh o a criaç ão e vend o só q uand o preciso p o rq u e vivo d o leite. D o bo de eu aproveito t u d o. Eu vivo do b ode. Eu ten ho a criação, ven d o quan d o preciso e vivo do leite. Do b ode eu aproveito tudo.

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Aqui é bem mais tranquilo que na cidade grande e tá todo mundo satisfeito. Aqui é b em mais tranqui lo que na ci dade g ran de e tá todo mun do satis feito.

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A vida é simples. As pessoas também. Cabaceiras é berço de gente humilde, que já nasce sabendo que para ser feliz só é preciso dar valor aos detalhes. A vida é simples. As pessoas também. Cabaceiras é berço de gente humilde, que já nasce sabendo que para ser feliz só é preciso dar valor aos detalhes.

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Os olhos que a população de Cabaceiras tem para a vida são a maior expressão da sensibilidade e da leveza que guia a existência do povo daquele chão. O que não se tem é motivo de trabalho e luta; o que se tem é razão suficiente para sorrir sempre com gratidão. Os olhos que a população de Cabaceiras tem para a vida são a maior expressão da sensibilidade e da leveza que guia a existência do povo daquele chão. O que não se tem é motivo de trabalho e luta; o que se tem é razão suficiente para sorrir sempre com gratidão.

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Aq u i em C abaceir as to d o mu nd o ĂŠ rico. Nem q u e fo r de preg u iç a . H ere i n Cabacei ras everyon e is rich, even i f it’ s with l a zi n ess .

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O c ar a tem q u e tr abalhar par a sab er das co isas, o d inheiro vem dep o is. O cara tem que trabalhar para sab er das coisas , o di n h eiro vem depois .

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D izem q u e aq u i é lo n g e. A g ente sai daq u i par a o Ri o e São Pau lo e a g ente acha q u e d is tante é l á . Dizem que aqui é long e. A g ente sai daqui para o Rio e São Paulo e a g ente acha que distante é l á .

Saí de São Lou renço da Mata pr a c á . Eu pas s ei três d ias pr a chegar p o r aq u i p o rq u e eu vim d e pé.

Saí de São Lourenço da Mata pra cá . Eu passei três dias pra ch egar por aqui porque eu vim de pé, a b urra que eu vim não prestava .

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S e u ma pes soa chega pr a mim e me d iz: “ melh o re is so aq u i ”. Eu vou ter a humildade de d izer q u e preciso da aj u da . If som eon e com es to m e an d says: make it b et ter. I’ll b e hum b le enoug h to say that I n eed h elp.

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Ser vaqueiro é trabalhar no mato, cuidar do gado, da criação, pegar boi brabo, mexer com bode. É trabalhar no campo. Tem que ser macho. B eing a cowb oy is working in th e woods , looki ng after th e cat tle, g oing after wild an imals . You have to b e a real macho.

Herois do Sertão. A coragem da lida e a dedicação ao gado que sustenta a terra batiza os vaqueiros uma segunda vez. Josés, Fábios e Raimundos: são todos Herois. Entre o homem e o bicho, apenas uma armadura de couro. No fundo, é o artesanato quem os protege dos espinhos da vegetação. E é no requinte das costuras e na opulência dos adornos dessa roupa com cara de carapaça que toda a maestria do trabalho manual do Cariri paraibano se mostra. Os detalhes do ponteado, os minunciosos recortes, os desenhos cravados à faca no couro atanado. As mãos do Cariri têm muito o que ensinar. Herois do Sertão. A coragem da lida e a dedicação ao gado que sustenta a terra batiza os vaqueiros uma segunda vez. Josés, Fábios e Raimundos: são todos Herois. Entre o homem e o bicho, apenas uma armadura de couro. No fundo, é o artesanato quem os protege dos espinhos da vegetação. E é no requinte das costuras e na opulência dos adornos dessa roupa com cara de carapaça que toda a maestria do trabalho manual do Cariri paraibano se mostra. Os detalhes do ponteado, os minunciosos recortes, os desenhos cravados à faca no couro atanado. As mãos do Cariri têm muito o que ensinar.

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A rou pa s erve pr a proteg er d o mato, d o es pinh o. Pr a proteg er a pele da g ente e nĂŁo arr anhar. A cos t u r a tem q u e s er boa , mu ito b em feita . A roupa s erve pra proteg er do mato, do espi n ho. Pra proteg er a pele da g ente, pra nĂŁo arran har. A costura tem que s er b oa , muito b em feita .

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D ifícil é só o q ue a g ente fa z à fo rç a . Aq u i o tr abalh o é de g os to. Não é d ifícil , não. Di fíci l é só o que a g ente fa z à força . Aqui o trabalho é de gosto. Não é di fíci l, não.

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Um sistema de pesquisa in loco, que nos tira da questão bibliográfica, que põe o designer em contato direto com a referência para assim decodificar os elementos em algo que vá influenciar o desenvolvimento de materiais e de um produto de moda. O Referências Brasileiras é isso: uma busca por revelar qual é a identidade da criação brasileira. Uma identidade que, obviamente, é influenciada por questões globais. Mas o que a gentefaz é contribuir para que esse design global tenha ingredientes originais do Brasil. Texturas, formas, acabamentos, digamos que essa é a base do que um designer precisa para construir um produto de moda. E é essa base de criação o foco da nossa busca. A gente visita artistas, artesãos, pessoas que produzem com características regionais para poder entender e aprender como aquele produto é trabalhado. Uma pesquisa basicamente cultural, uma busca por códigos, uma observação do dia a dia para que a gente possa aprender aquela arte e conseguir levar a receita adiante. A ideia é essa: que esses elementos culturais colhidos ultrapassem os ateliês, a pesquisa e virem produtos dentro das empresas. Afinal, a gente é surpreendido pela maneira de fazer das coisas. Um fazer que está longe dos nossos núcleos de pesquisa, os nossos “ateliês”. Uma maneira de produzir as coisas que é muito simples. Que surpreende, que inspira. E que vira o novo fazer de uma nova estação de moda. Quando estamos procurando a simplicidade, o que será que acontece de simples dentro de um ateliê no Cariri? Em Cabaceiras, na Paraíba, o sol aparece o tempo inteiro. A textura que vem da pele dos caprinos também é muito presente nessa história, assim como a figura do vaqueiro, que lida com esses animais acompanhado de uma indumentária que traduz o seu poder. É a partir de todos eles que está o trabalho artesanal de pessoas como o Seu Manoel Carlos, Seu Messias e o Seu Nino, uma das mais fortes e ricas características da região. Com costuras bem resolvidas, desenhos criados à mão e ferramentas feitas em casa, eles são verdadeiros artistas da moda. O mais mágico é que essa simplicidade do fazer não revela um produto medíocre ou marginal. Pelo contrário: podemos até dizer que há luxo nesse produto feito de maneira tão simples. O Referências Brasileiras é um agente facilitador, e por isso ele é importante. Coloca o mercado de moda, as empresas e a indústria em contato com a cultura brasileira. Mais do que isso, ele faz com que essa cultura permaneça viva, seja explorada e valorizada. Como resultado, temos produtos com identidade e originalidade. Porque a necessidade de o design brasileiro criar uma identidade é, afinal, uma realidade. É inacreditável como a gente não consegue ainda identificar o nosso design mesmo tendo essa riqueza de elementos culturais. E é isso que a gente propõe com o projeto, que o design brasileiro busque uma marca.

Jefferson de Assis

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Um sistema de pesquisa in loco, que nos tira da questão bibliográfica, que põe o designer em contato direto com a referência para assim decodificar os elementos em algo que vá influenciar o desenvolvimento de materiais e de um produto de moda. O Referências Brasileiras é isso: uma busca por revelar qual é a identidade da criação brasileira. Uma identidade que, obviamente, é influenciada por questões globais. Mas o que a gentefaz é contribuir para que esse design global tenha ingredientes originais do Brasil. Texturas, formas, acabamentos, digamos que essa é a base do que um designer precisa para construir um produto de moda. E é essa base de criação o foco da nossa busca. A gente visita artistas, artesãos, pessoas que produzem com características regionais para poder entender e aprender como aquele produto é trabalhado. Uma pesquisa basicamente cultural, uma busca por códigos, uma observação do dia a dia para que a gente possa aprender aquela arte e conseguir levar a receita adiante. A ideia é essa: que esses elementos culturais colhidos ultrapassem os ateliês, a pesquisa e virem produtos dentro das empresas. Afinal, a gente é surpreendido pela maneira de fazer das coisas. Um fazer que está longe dos nossos núcleos de pesquisa, os nossos “ateliês”. Uma maneira de produzir as coisas que é muito simples. Que surpreende, que inspira. E que vira o novo fazer de uma nova estação de moda. Quando estamos procurando a simplicidade, o que será que acontece de simples dentro de um ateliê no Cariri? Em Cabaceiras, na Paraíba, o sol aparece o tempo inteiro. A textura que vem da pele dos caprinos também é muito presente nessa história, assim como a figura do vaqueiro, que lida com esses animais acompanhado de uma indumentária que traduz o seu poder. É a partir de todos eles que está o trabalho artesanal de pessoas como o Seu Manoel Carlos, Seu Messias e o Seu Nino, uma das mais fortes e ricas características da região. Com costuras bem resolvidas, desenhos criados à mão e ferramentas feitas em casa, eles são verdadeiros artistas da moda. O mais mágico é que essa simplicidade do fazer não revela um produto medíocre ou marginal. Pelo contrário: podemos até dizer que há luxo nesse produto feito de maneira tão simples. O Referências Brasileiras é um agente facilitador, e por isso ele é importante. Coloca o mercado de moda, as empresas e a indústria em contato com a cultura brasileira. Mais do que isso, ele faz com que essa cultura permaneça viva, seja explorada e valorizada. Como resultado, temos produtos com identidade e originalidade. Porque a necessidade de o design brasileiro criar uma identidade é, afinal, uma realidade. É inacreditável como a gente não consegue ainda identificar o nosso design mesmo tendo essa riqueza de elementos culturais. E é isso que a gente propõe com o projeto, que o design brasileiro busque uma marca.

Jefferson de Assis

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Em Cabaceiras, o artesanato é das mais valiosas heranças familiares há décadas. Seu Manoel Carlos com cinco anos já ajudava o pai a pontear, Seu Nino com 12 já sabia costurar selas, Seu José Carlos com 13 já tinha o dom de transformar o couro em arte. As crianças crescem às voltas do trabalho manual, e é na cara de pais, mães, avós, bisavós e tataravós que cada artesão reconhece seu grande mestre. Em Cabaceiras, o artesanato é das mais valiosas heranças familiares há décadas. Seu Manoel Carlos com cinco anos já ajudava o pai a pontear, Seu Nino com 12 já sabia costurar selas, Seu José Carlos com 13 já tinha o dom de transformar o couro em arte. As crianças crescem às voltas do trabalho manual, e é na cara de pais, mães, avós, bisavós e tataravós que cada artesão reconhece seu grande mestre.

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É centenári o, né? D es de o meu tatar avô q ue es s e tr abalh o vem pas sand o de pai pr a filh o. Meu pai d izia: ens ine aos s eus filh os e d iga q u e eles ens inem aos filh os deles. É centenário, n é? Desde o m eu tataravô que ess e trabalho vem passan d o de pai pra fi lho. M eu pai dizia: ens i n e aos seus filhos e diga que eles ens i n e aos filhos deles .

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Minha mãe já tr abalhava co m a vó del a em cou ro. Aí, q uand o meu pai c aso us e, mamãe d is s e a ele: “J oaq u im, t u vai aprend er a tr abalhar em co ro na”. q uand o is so aco nteceu Eu não tinha nem nascid o ainda . M i n ha mãe trabalhava com a vó del a já em couro. Aí, quan d o m eu pai casous e, mamãe diss e a ele: Joaqui m, tu vai apren der a trabalhar em corona . Eu não tin ha n em nasci d o ain da .

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Eu tenh o o rg ulh o d o meu tr abalh o. Eu ten ho orgulho do m eu trabalho.

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No Cariri paraibano, a inigualável sabedoria popular. Imitar a criação dos outros, para que? Dentro de seu espaço artesanal, mirando a terra vermelha e um punhado de cabras através da única janela da oficina, Seu Manoel Carlos dá aula. Pensa a gestão de seu produto como gente grande. Sentado à beira da máquina de costura, Manoel Carlos enxerga o que imensas empresas muitas vezes não conseguem ver: é preciso ser único para as pessoas perceberem o valor que você tem. No Cariri paraibano, a inigualável sabedoria popular. Imitar a criação dos outros, para que? Dentro de seu espaço artesanal, mirando a terra vermelha e um punhado de cabras através da única janela da oficina, Seu Manoel Carlos dá aula. Pensa a gestão de seu produto como gente grande. Sentado à beira da máquina de costura, Manoel Carlos enxerga o que imensas empresas muitas vezes não conseguem ver: é preciso ser único para as pessoas perceberem o valor que você tem.

Não tem fáb ric a de fa zer is so, não. Is so é t u d o man ual . Não tem fáb rica de fa zer isso, não. Isso é tudo manual.

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Artesanato, pr a mim, é tão nat u r al q uanto andar. Artesanato, pra m im, é tão natural quanto an dar.

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Pr a d izer q u e eu criei, eu não criei, não, mas eu aperfeiço ei o q ue tava criad o. Pra dizer que eu criei, eu não cri ei, não, mas eu aperfeiçoei o que tava criad o.

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Aos cinco anos Seu Messias já ponteava. Desde 1956, trabalha na mesma máquina de costura. Há 70 anos, tem na criação de mantas e coronas a sua arte. A mesma de seu pai, de seu avô e de seu bisavô antes dele. “É um divertimento”, garante. O artesanato é mesmo a história de Cabaceiras. Aos cinco anos Seu Messias já ponteava. Desde 1956, trabalha na mesma máquina de costura. Há 70 anos, tem na criação de mantas e coronas a sua arte. A mesma de seu pai, de seu avô e de seu bisavô antes dele. “É um divertimento”, garante. O artesanato é mesmo a história de Cabaceiras.

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Arte, né? P o rq ue q u em é artesão é u m artis ta . Tem d iversos artis tas. Q u e c anta , q u e d iz p o es ia e tem outros q u e é na o b r a , na mão. Arte, n é? Porque quem é artesão é um artista . Tem diversos artistas . Que canta , que diz poesia e tem outros que é na ob ra , na mão.

Eu peg o u ma co isa s imples e tr ans fo rm o n u ma co isa bo nita par a as pes soas s e admir arem. I g et som eth i ng s i m ple an d turn it i nto som eth i ng b eauti ful for people to adm i re.

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A cu lt u r a da g ente é o tr abalh o em cou ro. Vem d es de os meus trisavós. Nasceu co m eles e a g ente co ntin ua . Acred ito q u e es teja n o san g u e da g ente. A cultura da g ente é o trabalho em couro. Vem des de os m eus trisavós . Nasceu com eles e a g ente conti nua . Acredito que esteja no sangue da g ente.

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O povo de Cabaceiras sabe rir de si mesmo. Com dois cornos de bode enfiados em um chapéu tradicional de vaqueiro surge o chapéu do corno, feito para dar de presente aos amigos. Os detalhes preciosistas do artesanato local e o bom humor fazem parte dessa brincadeira como fazem de todos os aspectos da vida por lá. O povo de Cabaceiras sabe rir de si mesmo. Com dois cornos de bode enfiados em um chapéu tradicional de vaqueiro surge o chapéu do corno, feito para dar de presente aos amigos. Os detalhes preciosistas do artesanato local e o bom humor fazem parte dessa brincadeira como fazem de todos os aspectos da vida por lá.

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Uma vida toda de artesanato ensinou ao Seu Manoel Carlos o peso exato da martelada que une uma peça de couro à outra, ao Seu Messias o ritmo do pedal que roda com perfeição a engrenagem da antiga máquina de costura, ao Seu Maurício a distância exata entre os recortes que enfeitam como uma renda a roupa do vaqueiro. Uma vida toda de artesanato ensinou ao Seu Manoel Carlos o peso exato da martelada que une uma peça de couro à outra, ao Seu Messias o ritmo do pedal que roda com perfeição a engrenagem da antiga máquina de costura, ao Seu Maurício a distância exata entre os recortes que enfeitam como uma renda a roupa do vaqueiro.

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Foi o tempo quem ensinou a Seu José Carlos que, para curtir couro de forma natural, com cinza de madeira e tanino de angico, é preciso paciência para esperar quatorze dias – o tempo necessário para que, em duas etapas, a água seja capaz de separar da seiva da árvore tudo o que é preciso para fazer o xarope que irá para o curtume. Em cada detalhe do trabalho dos artesãos de Cabaceiras está uma história, um aprendizado e, sobretudo, está a simplicidade do fazer. E é na singeleza dos gestos que esculpem o couro e na modéstia dos artesãos que surgem as maiores riquezas do artesanato do Cariri. Foi o tempo quem ensinou a Seu José Carlos que, para curtir couro de forma natural, com cinza de madeira e tanino de angico, é preciso paciência para esperar quatorze dias – o tempo necessário para que, em duas etapas, a água seja capaz de separar da seiva da árvore tudo o que é preciso para fazer o xarope que irá para o curtume. Em cada detalhe do trabalho dos artesãos de Cabaceiras está uma história, um aprendizado e, sobretudo, está a simplicidade do fazer. E é na singeleza dos gestos que esculpem o couro e na modéstia dos artesãos que surgem as maiores riquezas do artesanato do Cariri.

Resgatar técnicas artesanais e usar o trabalho passado de geração em geração como inspiração para a moda brasileira é garantir que a cultura nacional permaneça viva. É admitir as raizes simples da arte feita aqui e mostrá-las com orgulho ao mundo. É um exercício de aprendizado. É recriar. É olhar para trás para poder seguir em frente. Em Cabaceiras, a Roliúde Nordestina, há muitos deles. A cidade que cravou definitivamente as suas ruas no mapa como o cenário d'O Auto da Compadecida é também o palco da arte de Seu Messias, de Seu Nino, de Seu Manoel Carlos. Pais, filhos, bisnetos de artesãos, eles são artistas das coisas simples. Costuram mais de um século de história nas riquezas culturais do Cariri paraibano com as próprias mãos. Todos os dias.

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P U B L I C A Ç Ã O DE P ES Q U IS A REFER Ê N C I A S B R A SI L EIR A S

COORDENADOR DO PROJETO REFERÊNCIAS BR ASILEIR AS

Jefferson de Assis

COORDENADOR A DO SEBR AE/ PB

Ericka Vasconcelos Albuquerque

ASSINTECAL

W i ll i a n M a r c e l o N i c o lau  { P r e s i d e n t e }

V al d e ma r M a s s e ll i J r .   { V i c e P r e s i d e n t e E x e cu t i v o }

R o qu e O r la n d o V i e i r a J u n i o r   { V i c e P r e s i d e n t e d e D e s i g n }

Il s e M a r i a B i a s o n Gu i ma r ã e s   { Sup e r i n t e n d e n t e }

A pe x - B rasil

Mariana Gomes  { Gestor a }

M au r í c i o B o r g e s   { P r e s i d e n t e }

SEBR AE NACIONAL

R o b e r t o S i m õ e s   { P r e s i d e n t e d o C o n s e l h o D e l i b e r a t i v o Nac i o n al }

L u i z E d ua r d o P e r e i r a B a r r e t t o F i l h o   { D i r e t o r P r e s i d e n t e }

C a r l o s A lb e r t o d o s Sa n t o s   { D i r e t o r T é c n i c o }

J o s é C l á u d i o d o s Sa n t o s   { D i r e t o r d e A d m i n i s t r açã o e F i n a n ça s }

K e lly C r i s t i n a V ala d a r e s d e P i n h o Sa n c h e s   { G e r e n t e d a U n i d a d e d e A t e n d i m e n t o C o l e t i v o – I n d ú s t r i a }

Fau s t o R i ca r d o K e s k e C a s s e m i r o   { G e r e n t e A d ju n t o U n i d a d e d e A t e n d i m e n t o C o l e t i v o – I n d ú s t r i a }

J ul i a n a F e r r e i r a B o r g e s   { C o o r d e n açã o Nac i o n al I n d ú s t r i a d a M o d a }

L ú c i a Sa n t a n a L e ã o B u s o n   { C o o r d e n açã o Nac i o n al I n d ú s t r i a d a M o d a }

R o b e r t a A v i z d e B r i t o F e r n a n d e s   { C o o r d e n açã o Nac i o n al I n d ú s t r i a d a M o d a }

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A Simplicidade do Fazer


NÚCLEO DE DESIGN ASSINTECAL

W al t e r R o d r i g u e s   { C o o r d e n açã o d o n ú cl e o }

A n a M a r i a P a e s d e B a r r o s M e n d e s      A n d r é Fab i a n o d a S i lva

B i t i A v e r bac h      C r i s C u n h a    É r i c o G o n d i m Ol i v e i r a    Fab i a n a B e r t o l d i

Flav i a V a n e ll i     H e l o i s a M o r i t z T r av i      J e f f e r s o n d e A s s i s      J o a n a Dalla R o z a

J o t t a S y bbal e n a     L uc i u s V i la r      M a r i a Eu g ê n i a C a s t e lla n o s A n d r a d e

M a r n e i C a r m i n a t t i      M e l i s s a W al z e r Sa n t ´A n a    Ram o n Ol i v e i r a S o a r e s

R o d r i g o C e z a r i o  S o la n g e P e d e m o n t e     T h a i s Sau r e s s i n g     Ta t i a n a S o u z a

T h i s a P a s s i n i      V i c t o r B a r b i e r a t t o      V i n i c i u s P r a d o

EQUIPE DE OPER AÇÕES DE DESIGN DA ASSIN TECA L

A r i a n e A lm e i d a    F r a n c i e l e C e g e l s k i      K e l i n F e r r a r i     S i lva n a D i lly

PROJETO EDITORIAL

A n a B e ck e r      M a r c o C h apa r r o      M A R C O A N U S C HE C K     N e a K a n d e l i n

P e d r o L u n a r d i     Tal i t a M e n e z e s     T o m á s B e ll o

{ TR A NS A }

FOTOGRAFIA

b r u n a d e s o u z a f e r r e i r a   M a r c o c h apa r r o    P e p e M ENDIN A   Yu r i J u n g e s

RE A L IZ AÇ ÃO

|

P RO M OTION

A P OIO

|

S U P P ORT

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