IATE CLUBE DE SANTOS 70 anos
dedicados ao mar Nยบ 43 MAIO 2017
R$ 19,90
SUMÁRIO
NOSSA CAPA Foto antiga da Sede Guarujá do Iate Clube de Santos
42 42
POSTO DE COMANDO Para complementar o estilo de vida de quem aprecia seus carros, as marcas Lexus e Bugatti lançam embarcações irresistíveis
52
GALERA Restaurado, navio construído em 1927 que formou marinheiros noruegueses passou pelo Brasil
56
76 90
ICS
DIÁRIO DE BORDO
O Iate Clube de Santos celebra 70 anos de fundação e se fortalece como uma das mais tradicionais instituições náuticas do Brasil
Tudo o que faz da Nova Zelândia um dos destinos mais sedutores do planeta
66
92
O mar inspirou a poetisa Cecília Meireles, de longe e de perto, como cenário e como metáfora
Essaouira, no Marrocos; novidade em Noronha; vista e gastronomia em Èze, na Côte d’A zur; e a prima da lagosta no estado do Maine (EUA)
72
94
A ONG Ecosurf surgiu de um grupo de surfistas dispostos a limpar as praias e os mares para conscientizar as pessoas
Pulsante e bem localizado, o hotel The Dorchester é o lugar certo para curtir um conforto em Londres
76
98
MEMÓRIA
MEIO AMBIENTE
TIMÃO
HOTEL
MARÉ ALTA
AVENTURA
A beleza e a riqueza marinha da Grande Barreira de Corais, na Austrália; Giethoorn, a Veneza holandesa; e as ondas no estilo do Havaí em Mavericks, na Califórnia
Da ilha de Moorea até Huahine e Raiatea, na Polinésia Francesa, em um veleiro de luxo na companhia de uma tripulação desconhecida, mas gentil, de diversas nacionalidades
104
132
O Gugenheim de Bilbao é um marco arquitetônico na Espanha que mais parece um barco navegando
A gastronomia portuguesa de Vitor Sobral e as sobremesas com tema náutico propostas por brasileiros em concurso francês
108
138
Além da história e da beleza, o Palácio Blenheim, na Inglaterra, possui um aquífero de grande prestígio
Despojada e contemporânea, casa no litoral norte de São Paulo é cercada de belezas da Mata Atlântica
110
144
MUSEU
ISCA
ÁGUA
ÂNCORA
COSTADO
LUXO A BORDO
O português José Miguel Dantas Maio Marques destaca a importância da economia do mar no mundo e sugere caminhos para o Brasil
Tecidos e revestimentos têxteis para renovar o interior de iates
114
CABOTAGEM Site, portal e aplicativo promovem o uso racional das imensas potencialidades do mar no Brasil
116 MOTOR
O X Rally Náutico Copa Kia Motors promoveu uma acirrada disputa entre amigos no Yacht Club de Ilhabela
120 120
138
VELA
A primeira etapa do Campeonato Brasileiro da Classe C30; o 68º Campeonato Brasileiro de Snipe, e vivência náutica promovida pela marca Lexus
Papel certificado, consumo consciente
8 EDITORIAL
foto FABIO VOLPE
MUITO PARA COMEMORAR Fundado em um terreno à beira do Rio Santo Amaro, no Guarujá, em 1947, após apenas dois anos do término da Segunda Guerra Mundial, o Iate Clube de Santos foi criado para proporcionar aos associados um local seguro para guardar seus barcos – tanto veleiros, que eram a grande maioria à época, quanto lanchas, hoje mais imponentes e em maior número. Não demorou a se tornar um centro aglutinador de tendências e iniciativas, criando regatas e competições e servindo de passarela para que os estaleiros apresentassem suas novidades. Com muito orgulho faço parte dessa trajetória que, agora, completa 70 anos! Seja nos bastidores, ao lado de Marco Antonio Vieira de Carvalho, seja como Comodoro a partir de 2001, contribuí para o crescimento do clube e seu fortalecimento como instituição náutica idônea e de peso no cenário nacional. Me dedico com muito empenho a este clube, que tantos bons momentos me propiciou. Ao viajar pelo mundo, conheço cenários deslumbrantes e lugares incríveis, mas creio que navegar entre as quatro sedes do Iate Clube de Santos me proporciona um prazer inigualável. Conheça a trajetória dessa instituição em matéria exclusiva e renda-se aos seus encantos. Não é de hoje que empresas automobilísticas transferem a personalidade de seus carros para barcos. Acompanhe, portanto, nesta edição da Revista Iate as novidades das marcas Lexus e Bugatti. E não deixe de ler entrevista com o português José Miguel Dantas Maio Marques, um dos maiores especialistas europeus em economia do mar, que representa cerca de 2,5% do PIB bruto do mundo e é responsável por 31 milhões de empregos diretos. O Brasil ainda tem muito para aprender a fim de utilizar com mais eficiência esse importante recurso econômico, mas já tem gente fazendo a sua parte. Com a participação direta da nossa Marinha, o Projeto Rumar promove o uso racional das imensas potencialidades do mar, para que o Brasil assuma a sua inevitável vocação marítima.
Berardino Antonio Fanganiello
Comodoro
12 EXPEDIENTE
CLUBES CONVENIADOS NO MUNDO Ano 8 – nº 43– Maio de 2017
Mônaco
Uruguai
COMODORO Berardino Fanganiello
CONSELHO EDITORIAL Alberto Rubens Botti, Almirante Euclides Janot de Matos, Antonio Penteado Mendonça, Carlos Brancante, Eduardo de Souza Ramos, Felipe Furquim, Lars Grael, Luiz Felipe D’Avila, Mario Simonsen
Argentina Itália
Portugal
DIREÇÃO EDITORIAL Judite Scholz judite@revistaiate.com.br
Luxemburgo
Anguilla
DIREÇÃO DE ARTE Priscila Pagano Afonso priscila@revistaiate.com.br
Suíça
REVISÃO Hassan Ayoub
COLABORADORES Antonella Kann, Douglas Moreira, Eduardo Vessoni, Eloá Orazem, Fabiana Afonso, Felipe Mortara, Isabela Campos, Érica Giacomelli, João Simonsen, Luciana de Barros, Marcio Moraes, Marco Yamin, Mauricio Cassano
GERENTE-COMERCIAL Camila Gabriel camila@revistaiate.com.br
EXECUTIVO DE CONTAS Yuri Ikeda yuri@revistaiate.com.br
COORDENAÇÃO DE CIRCULAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO Natanael de Freitas natanael@revistaiate.com.br
DISTRIBUIÇÃO NACIONAL Correios
TRATAMENTO DE IMAGENS Kelly Polato Fineart Print Studio
IMPRESSÃO TypeBrasil
TIRAGEM 10.000 exemplares A Revista Iate é uma publicação bimestral do Iate Clube de Santos (ICS) Avenida Higienópolis, 18 - São Paulo – SP - CEP: 01238-001 - tel.: (11) 3155-4407 - Fax: (11) 3257-9451 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial. Não nos responsabilizamos pelo conteúdo dos anúncios e mensagens publicitárias incluídos nesta edição
REVISTA IATE NO IPAD www.revistaiate.com.br/ipad
REVISTA IATE NO ANDROID www.revistaiate.com.br/android
NO BRASIL
16 AVISO AOS NAVEGANTES
Coração do oceano
A fragrância Qalb Al Muheet, da Asgharali, marca de perfumes do principado de Bahrein, no Oriente Médio, é uma homenagem ao mar. Notas florais cítricas dão início ao aroma de maneira leve e fresca. Madeira e patchouli se misturam a essa Eau de Parfum que tem como significado Coração do Oceano. R$ 1.100 (100 ml). Al Zahra, tel. (11) 3857-7523, www.itsalzahra.com
Artesanal
Fundo do mar
Esta canoa-caiaque híbrida tem casco de polímero transparente que oferece vista subaquática de todos os ângulos. Acomoda duas pessoas dentro de um casco robusto feito do mesmo material durável encontrado no cockpit de jatos de combate supersônicos. Os assentos ajustáveis permitem que os remadores coloquem suas pernas de modo confortável. Acompanha duas pás transparentes e um colete de flutuação. US$ 1.900. Continenta, www.hammacher.com
Marca de bolsas veganas da empresária Kaline Demarchi são produzidas sem o uso de qualquer insumo animal, como a Saco Azul. R$ 279. La Loba, www.laloba.com.br
Obelisco
Com tonalidade entre o verde e o azul, a turquesa oferece energia de paz, harmonia e equilíbrio. O par de brincos combina a pedra com marcassitas. R$ 621. Santa Prata, tel. (11) 3085-7530, www.santaprata.com.br
Confortável
Leve e fácil de encher, o sofá inflável Air Bed é ideal para relaxar na praia, no parque, no quarto, onde você quiser. Feito com tecido de náilon resistente, pode enfrentar condições adversas, como neve, chuva e maresia. US$ 46. Sports Spirit, https:// sportspirit.info
Coco na cabeça
Rico em minerais como ferro e potássio, vitaminas B e C e ativos antioxidantes que nutrem todo o organismo, o Dermacoconut by Ivete Sangalo Hidratante para Pele com Água de Coco Natural é um banho de hidratação para os cabelos. Pode ser usado como leave-in após a lavagem ou aplicado no cabelo durante a praia e a piscina. R$ 64. Dermacoconut Industrial e Cosméticos, tel. (11) 3582-8603, www.dermacoconut.com.br
18 AVISO AOS NAVEGANTES
Caçadora
Inspirada nas tradicionais bolsas de caça, a Dahlia Bag ganhou novas cores e tamanhos. A bolsa em denim e couro com aplicações de cristais Swarovski acaba de chegar ao Brasil. R$ 5.850. Miu Miu, tel. (11) 5525-6370
Brinde
Taça de vidro azul com pé transparente para brindes cheios de estilo. R$ 393 (jogo com 6 unidades). Regatta Casa, tel. (11) 5543-8144, www. regattacasa.com.br
Fina estampa
Pequena e individual, a tigela Full é decorada por dentro e por fora, em seis padronagens modernas. Preço sob consulta. Oxford Porcelanas, www.oxfordporcelanas.com.br
Prá lá e prá cá
A banqueta Garden Sea Pupy mede 46 x 33 cm e pode ser carregada com facilidade. R$ 869. Regatta Casa, tel. (11) 5543-8144, www.regattacasa.com.br
Lembrança Puxador Coral azul. R$ 80 (set com duas unidades). Zara Home, www.zarahome.com
Intenções
Camisola Tule. R$ 199. Any Any, tel. 0800-7703288, www.anyany.com.br
Coroa
Destaques nas passarelas internacionais, os acessórios de cabelo roubam a cena e aparecem como peças-chave para incrementar a beauté da estação. Tiara Vintage Spirit com pompons. R$ 480. Alexandre de Paris, tel. (11) 3097-0942, www.alexandredeparis.com.br
Tesouro do mar
A peça Heure Marine combina a proeza da técnica de um relógio secreto com a delicadeza de uma joia feminina. Incontestavelmente, é um relógio-joia que chama atenção por suas safiras azuis e duas pedras do Sri Lanka. Duas fileiras de safiras formam uma gradação para destacar as curvas da peça, cujo coração revela o mostrador em madrepérola. Ao abraçar o pulso, a pulseira revela um baú com tampa de diamante, que é aberta ao pressionar o fecho de esmeralda que guarda o relógio secreto. Preço sob consulta. Van Cleef & Arpels, tel. (11) 3252-6630, www.vancleefarpels.com/br/pt
Treinos intensos
Tênis feminino Zoom Fearless Flyknit é rápido, estável e responsivo para corridas rápidas e treinos intensos. O amortecimento Zoom Air no calcanhar é leve e a espuma na extensão proporciona uma sensação macia. R$ 600. Nike, www.nike.com.br
Meia-lua inteira Anel de prata Passagem. R$ 720. Antonio Bernardo, tel. (11) 3083-5622, www.atoniobernardo.com.br
20 AVISO AOS NAVEGANTES
Descomplicado
Frescor mediterrâneo
O movimento de fábrica Unico Hublot conta com o mais novo módulo que permite a sincronização instantânea com um segundo fuso horário ao apertar um botão e facilita ver o horário local, exibido pelo clássico ponteiro principal do relógio. O Hublot Big Bang Unico GMT, relógio com estética original e leitura otimizada da hora, oferece uma rápida sincronização para um segundo fuso horário, com correção de tempo através de um simples botão. Em caixa de 45 mm, o modelo está disponível nas versões de titânio ou fibra de carbono, com pulseira de borracha natural azul e preta estruturada e raiada. Preço sob consulta. Frattina, tel: (11) 3062-3244
Dylan Blue, a nova e altamente marcante fragrância masculina de Versace, tem uma nova qualidade almiscarada com toques minerais, que desencadeia uma fragrância intensa e sedutora. O puro frescor das notas cítricas naturais, como a Bergamota e a Toranja, combina com os toques das Folhas de Figueira transmitindo à fragrância uma refrescância Mediterrânea. O frasco faz alusão ao Mediterrâneo. R$ 489 (100 ml). RR Perfumes, tel. 0800-77225500
Sem amarras
Charm de mala e chaveiro Latitude Sailboat de metal com acabamento de paládio e couro. R$ 1.200. Louis Vuitton, tel. (11) 3060-5099, www.brlouisvuitton.com
Custo-benefício
Com acabamento metálico de alumínio, a Experiência Moto e o sensor de impressão digital multifunção, que permite navegar com um toque, acessar rapidamente as telas e executar tarefas, deixando mais espaço no display, o smartphone Moto G5 é conhecido por seu processador que garante acesso rápido a fotos e aplicativos sem travamentos. O modelo traz uma câmera de 13 MP com tecnologia PDAF, que foca rapidamente, para obter fotos ainda mais nítidas. A partir de R$ 999. Motorola, www. motorola.com.br
Scotch Whisky
Líder mundial na produção de bebidas premium e dona das marcas Cîroc, Smirnoff e Johnnie Walker, a Diageo traz ao Brasil três Single Malts de seu portfólio internacional: Glenkinchie 12 YO, Talisker 10 e Singleton Glen Ord 12 YO, que apresentam aromas, sabores e personalidades característicos de diferentes regiões da Escócia. O Talisker é feito a partir das águas da bela e remota Ilha de Skye e conta com notas defumadas de trufas. R$ 280. Diageo, www.diageo.com.br
22 AVISO AOS NAVEGANTES
Paraíso
Suspenso entre o céu e o mar, o Spa Thermes Marins Monte-Carlo recebeu o prêmio de melhor spa de hotel na Europa na 13ª edição do Prix Villegiature Awards 2016, que teve júri formado por 23 jornalistas e correspondentes da imprensa. Com mais de 7 mil metros quadrados, o spa dispõe de equipe multidisciplinar e qualificada de 110 pessoas excelentes em 28 especialidades , que se mobiliza para realizar o sonho dos clientes. Thermes Marins Monte-Carlo, thermesmarinsmontecarlo@sbm.mc
Doces tardes
Taça para Martini de acrílico com capacidade para 320 ml na cor azul. R$ 6. Kos, tel. (11) 40575040, www.kos.com.br
Tricotada
A poltrona Pé Palito anos 50 tem estrutura de peroba mica, estofado de tricô com trabalho manual de intarsia. Preço sob consulta. Regina Misk, tel. (31) 98280-7007, www.loja.reginamisk.com
Energia à pele
A Espuma de Banho Energizante HidraSoft foi especialmente desenvolvida para realizar a limpeza completa da pele, ao mesmo tempo que elimina as células envelhecidas. Rica em algas marinhas e pantenol, forma uma película protetora que retém a quantidade de água necessária nas células e diminui a desidratação. R$ 40. Pharmapele, www.pharmapele.com.br
Refresco Copo long drink bico de jaca com capacidade para 385 ml. R$ 22. Camicado, tel. (11) 3004-5080, www. camicado.com.br
24 AVISO AOS NAVEGANTES
Borbulhas
A banqueta Bubble azul jeans tem estofado tricotado à mão. Preço sob consulta. Regina Misk, tel. (31) 98280-7007, www.loja.reginamisk.com
Inspiração
Pela primeira vez, a coleção Possesion, que faz parte do portfólio Piaget há mais de 25 anos, recebe pedras ornamentais. É a união perfeita do ouro com os diamantes brilhantes e muita cor: o azul profundo do lápis-lazuli e o turquesa vívido em pulseiras irresistíveis adornadas com pedras arredondadas e coloridas em cada extremidade. Preços sob consulta. Piaget, www.piaget.com
Temático
Abridor de garrafa Shark Garden AZ. R$ 20. Camicado, tel. (11) 3004-5080, www.camicado.com.br
Singela
Calcinha azul poá Tule. R$ 50. Any Any, tel. 0800-7703288, www.anyany.com.br
Sede de quê?
Garrafa Pop Tritan com capacidade para 600 ml. R$ 40. Camicado, tel. (11) 3004-5080, www.camicado.com.br
Lembrete
Quadros no formato 40x60 cm com frases e imagens gostosas para nos aproximar do mar. R$ 150 (cada). Prictures, tel: (11) 98112-8228, www.prictures.com.br
26 AVISO AOS NAVEGANTES
Sem complicações
Recife for Men, marca sueca de cosméticos, foi criada especialmente para a pele masculina. Com o conceito de Logical Skincare, que busca o cuidado “sem complicações” e conta com formulações exclusivas, como o Sebustop®, um coquetel à base de canela, gengibre e extrato de pimpinela que atua como tônico que ajuda a reduzir o tamanho dos poros e a controlar a oleosidade, possui a linha de limpeza, barba, hidratação e tratamento. Anti-shine Moisturizer é um hidratante facial antibrilho perfeito para os homens, R$ 489, enquanto o Under Eye Gel reduz o inchaço e o aparecimento de olheiras na área dos olhos. Sephora, tel. (11) 3004-7500, www.sephora.com.br
Alto-relevo
Alguns acessórios quebram a sobriedade da mesa de jantar e deixam seu décor mais charmoso. A fruteira Tunisi de vidro vermelho pode ser usada como elegante centro de mesa. Preço sob consulta. Lyor, tel. (11) 3616-9915, www.lyor.com.br
Monocolor
Capa de edredom confeccionada com algodão acetinado de 300 fios estampado na mesma cor, R$ 500, e capas de almofada no mesmo tecido, R$ 220 (2 unidades 60 x 60) e R$ 170 (2 unidades 50 x 75). Zara Home, tel. (11) 4134-2880, www.zarahome.com
Mistura perfeita
O clássico drinque italiano Negroni ganhou versão “ready to enjoy”. Pronto para beber, basta colocar a mistura perfeita de Campari, gin e vermute em um copo baixo com gelo e uma rodela de laranja. R$ 141. Campari Group, tel. (11) 4133-5000
28 AVISO AOS NAVEGANTES
Veneno
A bolsa Gucci Lilith, feita com pele de cobra, tem uma serpente impressa na frente, cuja cabeça é o fecho. A cobra é frequentemente associada à imagem de Lilith, que na mitologia é considerada a primeira esposa de Adão e, depois, o demônio. A cabeça texturizada da serpente tem cristais nos olhos. US$ 4.200. Gucci, www.gucci.com
Bandeirinhas
Vestido colorido. R$ 920. Gabriela B, www.gabrielab.com.br
Classé
Ilusão de ótica
A pouch GG Marmont é feita de couro com trompe l’oeil estampado, de modo que o desenho impresso dá um efeito tridimensional de sobreposição de cintos e fivelas. US$ 1.200. Gucci, www.gucci.com
Atualização do famoso Monsieur Louboutin Simple Pump, o New Simple Pump tem plataforma estreita que dá um toque contemporâneo ao estilo clássico. US$ 795. Christian Louboutin, http:// us.christianlouboutin.com
Pompom
Vaso de cerâmica Coral. R$ 220. Zara Home, www.zarahome.com
Bocão
Com Vitamina E, manteiga de karité e pigmentos sem metais pesados, Batom líquido Italian Make tem uso seguro para veganas, alérgicas e celíacas. Disponível em cinco tons, hidrata, confere sensação de preenchimento, tem ação antioxidante, alta consistência e efeito mate duradouro. R$ 42 (cada). Biozenthi, tel. (48) 4102-3322, www.biozenthi.com
30 AVISO AOS NAVEGANTES
Divertido
O conjunto de canecas Cacto Branco Basic Kitchen é incrível: as 4 canecas numeradas se encaixam, formando uma peça decorativa divertida, que acompanha também as colheres em um vaso bem charmoso. R$ 199. Doural Home & Design, tel. (11) 3062-4171, www.doural.com.br
Adorno
Potiche Opalina de vidro opaco na cor verde, formato redondo sobre pedestal, à maneira das antigas opalinas francesas, com listra dourada na borda. R$ 1.000. 6F para Divino Espaço, www.divinoespaco
Brinde a bordo
Mini-cooler com capacidade para 2 litros, R$ 15, bowl pequeno, R$ 10, e taças de champanhe, R$ 7 (a unidade), tudo de acrílico. Kos, tel. (11) 4057-5040, www.kos.com.br
Bem servido Jogo de argolas para guardanapo Sunny na cor verde. R$ 50 (4 peças). Camicado, tel. (11) 3004-5080, www.camicado.com.br
Dias melhores
Taça verde lapidada para vinho tem capacidade para 200 ml. R$ 149. Divino Espaço, www.divinoespaco.com.br
Textura
Vaso de vidro lapidado com acabamento de cristal. R$ 729. Breton, tel. (11) 4055-9707, www.lojabreton.com.br
32 AVISO AOS NAVEGANTES
Único
Acessórios originais que utilizam os cristais brutos como principal matéria-prima possuem beleza natural única e são o forte de Camila Rahal, como o colar com a pedra Crisocola. R$ 110. Camila Rahal, milarahal@hotmail.com
Irresistível Joia de cabelo
Fundada em 1971 pelo famoso coiffeur que emprestou nome à marca, Alexandre de Paris percebeu a necessidade de enfeitar seus penteados. Mais de 40 anos depois, a label francesa é a única de luxo no mercado especializada em acessórios para cabelo. Produzida em acetato resistente, a fivela Osmoses dá graça a qualquer look. R$ 740. Alexandre de Paris, tel. (11) 3097-0942
Cor do ano
A importadora La Pastina e a TartufLanghe – uma das maiores empresas italianas especializadas em trufas do Piemonte e produtos gourmet – lançam no Brasil a coleção Perlage, uma linha de pérolas saborizadas criada para dar o toque final de sofisticação aos pratos. As pequenas e delicadas pérolas são formadas por uma fina membrana que, ao entrar em contato com a boca, explodem, liberando aromas e sabores surpreendentes. Disponível nos sabores Azeite de Oliva Extravirgem, Trufa Branca, Alga Wakame, Trufa Negra, Pesto e Anchova. De R$ 280 a R$ 600. La Pastina, tel. (11) 4003-4866
Terra e mar
Bijou fofa, a pulseira Búzios junta pedras coloridas com um Fornecedora de padrões búzio, correntinha dourada e um rabinho charmoso. de cores para a indústria R$ 79. My Gloss, www.mygloss.com.br da moda e do design, a Pantone elegeu o Greenery para 2017. O verde, que faz referência à ligação com a natureza, além de trazer à tona o sentimento de esperança, O tênis de corrida masculino revitalização e renovação, está Air Zoom Structure 20 possui presente também nos acessórios, entressola com tecnologia como o relógio Michael Kors, que Dynamic Support, que promove tem mostrador Rose Gold e pulseira transições suaves e máxima de couro. Preço sob consulta. estabilidade. R$ 500. Nike, Grupo Technos, tel. 0800-7210108 www.nike.com.br
Mais rápido
34 AVISO AOS NAVEGANTES
Floral
Clutch Azul Lurex. R$ 189. La Loba, www.laloba.com.br
Bivolt
As pequenas conchas do colar Búzios remetem ao mar e ao divino, como manda o figurino: uma volta mais curta e outra mais comprida. R$ 79. My Gloss, www.mygloss.com.br
Porta-notícias
O revisteiro Magazine, de ferro e couro, mede 0,50 x 0,50 x 0,28 cm. R$ 1.127. Regatta Casa, tel. (11) 5543-8144, www.regattacasa.com.br
Influência oriental
Para comemorar a chegada do ano-novo chinês e os mitos e as lendas do Oriente, a Montblanc lançou uma caneta dedicada ao Galo, limitada a apenas 512 exemplares (a soma do número da sorte chinês 8, multiplicado por ele mesmo 3 vezes). Com a tampa de prata e o corpo de laca preta, o Rooster Limited Edition 512 faz parte da coleção Signals & Symbols, iniciada em 2015, que vai lançar uma nova edição anualmente até 2027. R$ 27.700. A coleção traz ainda um instrumento de escrita limitado a apenas 88 peças dedicado ao Dragão da Água, Jialong, um dos mais antigos da mitologia do Leste Asiático e muitas vezes referido como o deus dos animais da água. A lenda diz que, se ele anda na água, sua alma está em pleno vigor, mas, quando ele é privado desse elemento essencial, sua alma declina. Preço sob consulta. Montblanc, tel. (11) 3552-8000
Estampa
Imagens lúdicas sequenciais digitalmente impressas na madeira tipo Paricá, proveniente de reflorestamento e com tratamento anticupim. R$ 120 (cada). Prictures, tel: (11) 98112-8228, www.prictures.com.br
Sabor e saúde
Utilizada pelos melhores chefs do mundo, a Chapa de Sal Rosa do Himalaia pode ser usada no forno, fogão ou churrasqueira para grelhar carne, frango, peixe, camarão e legumes. Ela salga o alimento, além de liberar os elementos naturais importantes, como ferro, cálcio e manganês, entre outros. R$ 180 (grande). Natural Wonder, tel. (11) 2366-1500, www.naturalwonder.com.br
36 AVISO AOS NAVEGANTES
Paris, curtida e pintada
O livro minimapa de Paris, da coleção Mini Mini Map!, é divertido para crianças. Com 60 endereços bacanas na Cidade Luz para curtir em família, os pequenos podem ir colorindo as ilustrações que unem humor e poesia a cada lugar visitado na capital francesa. Produzido em inglês para estimular o aprendizado de novos idiomas, o livro foi desenvolvido para crianças entre 3 e 12 anos. R$ 35. Acaju do Brasil, tel. (11) 3263-0083, www.acajudobrasil.com.br
Noturno
Ageless R, da Ecenne, inibe a ação dos radicais livres, suaviza rugas e previne o envelhecimento cutâneo por trazer na fórmula resveratrol, considerada a “molécula da longevidade”, encontrada no vinho tinto e em outras fontes naturais, além do óleo de romã, um poderoso regenerador celular. Deve ser usado à noite, pois retarda o envelhecimento, melhora a hidratação e a microcirculação, além de promover elasticidade e firmeza na pele. R$ 74. Ecenne, tel. (47) 3055-0098, www.ecenne.com.br
Gastronomicamente versátil
Considerado por muitos críticos o melhor vinho rosé de Portugal, Covela Rosé foi muito premiado em 2016, tendo recebido 90 pontos do crítico Robert Parker. O Covela também foi eleito o “Rosé do Ano” pela revista Adega e recebeu medalha de prata em harmonizações no festival Pink Rosé, realizado em Cannes. Elaborado com a uva Touriga Nacional, é elegante, delicado, floral, apresenta grande frescor e coloração provençal. R$ 80. Winebrands, www.winebrands.com.br
Do lixo ao luxo
Segundo estudo realizado pela entidade Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), quase 170 milhões de brasileiros não são atendidos por coleta seletiva em suas cidades. Isso significa que apenas 15% da população tem acesso à reciclagem. Para Maurício Cohab, diretor da Trisoft, essa realidade precisa ser modificada. “A palavra lixo é ultrapassada. Não existe lixo, existem matérias-primas valiosas e mal aproveitadas”, enfatiza ele. Maurício ajudou a criar uma empresa totalmente verde, com um processo produtivo limpo que gera um produto reciclado e 100% reciclável, respondendo, hoje, pelo atendimento de mais de 97 segmentos da indústria. A Trisoft já retirou mais de 1 bilhão de garrafas de PET do meio ambiente, para produzir a lã plástica que pode ser usada em colchões, estofados, palmilhas, isolamento termoacústico, móveis e moda, entre outros. Trisoft, tel. (11) 4143-7900, www.trisoft.com.br
38 AVISO AOS NAVEGANTES
Esotérico
Búzios, as conchas de praia de vários tamanhos que nos colocam em conexão com os orixás, enfeiram os brincos Búzios. R$ 79. My Gloss, www.mygloss.com.br
Efeito preenchimento
Dermaplump Skin Serum, da coleção U.SK Anti-Aging, tem proposta inteligente de entrega direcionada de ativos e embalagem exclusiva em dispositivo airless e livre de agulhas. Com extrato de Swertia Chirata, uma planta encontrada em grandes altitudes do Himalaia com potente poder cicatrizante, o sérum promove a melhora do volume facial com preenchimento, para redução de rugas e linhas de expressão. R$ 299. Under Skin, tel. 08007289700, www.underskin.com.br
Leveza
Body Sereia para looks livres, leves e soltos. R$ 179. Vida Bela, tel. (11) 3081-0726, www.vidabela.com
Volume
O spray de styling feito de sal marinho “This is a sea salt spray” garante volume aos cabelos com efeito mate para looks despojados. R$ 164. Davines, www.davines.com/br
Acetinada
Com textura densa e cremosa, a Nuxe Clarifying Cream-Mask clareia suavemente a pele sensível e elimina as impurezas, deixando-a com acabamento mate acetinado. R$ 89. Frajo Internacional de Cosméticos, tel. 08007733450, www.nuxe.com
Nada de crise
Inaugurada há pouco mais de um ano, operando com 320 vagas secas e molhadas, a Marina Itajaí, localizada na cidade de Itajaí, no litoral nortecatarinense, triplicou o crescimento nos três últimos meses de 2016 em relação aos meses de julho, agosto e setembro do ano passado. Com capacidade para receber desde pequenas embarcações até megaiates e veleiros com mais de 150 pés, a Marina Itajaí anunciou que deve iniciar, em 2018, as obras de ampliação com 80 novas vagas. “Mesmo sendo um ano de instabilidades econômicas, que fizeram com que muitos clientes adiassem seus investimentos, observamos sinais de crescimento no mercado náutico, especialmente a partir de outubro de 2016. Esperamos que o número de ocupação duplique até o fim de 2017 com 200 vagas. Se as previsões se confirmarem, iniciaremos em 2018 a ampliação de mais 80 vagas molhadas”, destaca Manuel Carlos Maia de Oliveira, diretor do Complexo Marina Itajaí. www.marinaitajai.com.br
42 POSTO DE COMANDO
ESTREIA SURPREENDENTE
O Lexus Sport Yacht é uma lancha conceito que complementa o estilo de vida de quem aprecia os carros da marca
I
mpulsionado por dois motores Lexus V8, o Lexus Sport Yacht é uma lancha elegante de desempenho premium que expande a marca Lexus – divisão de luxo da montadora japonesa Toyota, criada em 1989 – em novas áreas de estilo de vida e recreação. Esportiva e aberta, própria para passeios diurnos com capacidade para até oito convidados, a lancha tem 42 pés de comprimento e 3,86 metros de largura, e é produzida em fibra de carbono. “O conceito para um iate esportivo nos permitiu explorar como o estilo Lexus pode ser aplicado ao lifestyle marítimo”, disse Yoshiro Sawa, vice-presidente-executivo da Lexus Internacional. “O esforço é valioso para nós, uma vez que empurra a nossa imaginação para designs e possibilidades de estilo de vida fora do domínio automotivo que conhecemos bem.” Sendo conceito, o projeto recém-apresentado em Miami é filho único, sem a intenção de entrar em produção. Para produzir essa unidade única o departamento náutico da Toyota escolheu o respeitado estaleiro norte-americano Marquis-Carver Yacht Group. O Lexus Sport Yacht tem convés e casco unidos, sem emendas, em torno da estrutura interna em um material plástico reforçado com fibra de carbono, ou CFRP, que é a tecno-
FICHA TÉCNICA Comprimento total. . . . . . . . . . 12,7 m Largura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3,8 m Passageiros. . . . . . . . . . . . . . . . 8 pessoas Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 885 HP Velocidade máxima. . . . . . . . . 43 nós
44 POSTO DE COMANDO
logia usada na estrutura de carros de corrida ou supercarros como o Lexus LFA e aviões civis e militares. A construção do Lexus Sport Yacht com esse material diminuiu seu peso em mil quilos na comparação com um modelo similar fabricado em fibra de vidro. O design moderno deu ao casco linhas alongadas e curvilíneas, e a tecnologia tratou de facilitar a vida a bordo, sendo possível controlar e monitorar sistemas integrados a partir de um painel touchscreen colorido no leme; de modo que as telas mostram a navegação do GPS, cartas digitais, radares, sonares, iluminação, som e sistemas de entretenimento. E ainda se divertir como no videogame, já que as manobras podem ser feitas com o auxílio de um joystick. O piloto pode acomodar convidados muito especiais a seu lado, pois o banco pode acomodar até três pessoas, graças aos dois assentos extras que podem ser acionados ao toque de um botão. O cockpit conta com acomodações para oito pessoas. Em luxuoso couro Lexus com detalhes de madeira e vidro, a cabine concentra um sofá de seis lugares, mesa, tevê e Wi-Fi, além de banheiro completo, minicozinha com fogão, pia e geladeira. Alimentado por dois motores V8 de 5.0 litros, a lancha alcança até 43 nós por hora. u
LÍDER NO JAPÃO
O Departamento de Negócios Náuticos da Toyota foi criado em 1997 para desenvolver iates premium empregando tecnologia avançada e métodos de controle de qualidade aperfeiçoados na fabricação dos carros de luxo Lexus. A Linha Ponam da Toyota Marine inclui barcos de pesca esportiva em fibra de vidro com comprimentos de 26 e 28 pés, e luxuosas embarcações de cruzeiro de 31, 35, 37 e 45 pés de comprimento, com cascos em alumínio. Os modelos Ponam são alimentados por motores turbodiesel de alta eficiência baseados nos carros de luxo Lexus GX 300d e LX 450 d, e a linha é líder de mercado no segmento de iates premium no Japão.
46 POSTO DE COMANDO
PODEROSO SEDUTOR O estaleiro Palmer Johnson uniu-se à Bugatti para criar a edição limitada do irresistível Niniette 66, que tem a cara do modelo Chiron, o mais rápido e luxuoso automóvel da marca
A
primeira reunião sobre um projeto conjunto aconteceu no início de 2015. A ideia era criar um iate esportivo inovador baseado nos pontos fortes das duas empresas, explorando o DNA do design da Bugatti. Quando os primeiros layouts do iate foram apresentados no fim daquele ano, muitos compradores potenciais – entre eles vários proprietários de Bugatti – manifestaram interesse no projeto e pediram uma conexão mais próxima entre o iate e o modelo Chiron. “O desafio era criar a experiência e personalidade de um iate de luxo aerodinâmico, com estilo sofisticado e qualidade sem precedentes. Para os proprietários de amanhã, o Niniette vai elevar as expectativas para outro patamar”, disse Timur Mohamed, CEO da Palmer Johnson. O design do Bugatti Niniette 66 foi então inspirado no carro Chiron, mas evoluiu e ousou. A pureza das linhas e as proporções perfeitas causam um impacto imediato. A inovadora forma do casco da Palmer Johnson e o uso de materiais avançados como o carbono foram combinados com os traços marcantes da Bugatti para criar um iate esportivo e supermoderno. Dotado de centro de comando futurista com sistema de entretenimento interativo para navegação, monitoramento e controle, o barco também ganhou cadeiras exclusivas especialmente projetadas. O Niniette de 20 metros parece mais amplo, oferecendo a experiência de um iate maior. O uso de fibra de carbono aumenta a rigidez estrutural do iate ao mesmo tempo que reduz seu peso e aumenta a eficiência. “O Niniette é um membro genuíno da família Bugatti”, lembra Etienne Salomé, diretor de design da Bugatti. Ele tem espaçoso deck aberto com jacuzzi, sunpad e bar de champanhe, com áreas sociais ao lado. No centro, a lareira domina o espaço. Imagine-se à noite, em torno da lareira, tomando uns drinques ao ar livre. No interior, a área de estar é invadida por luz natural. O salão em forma de ferradura tem traços automotivos, incluindo a claraboia; e a suíte máster é trabalhada em materiais luxuosos, como couro, mármore e metal polido. Há ainda o lavabo e a
48 POSTO DE COMANDO
cozinha, equipada com pia, geladeira, freezer, micro-ondas e armário. E o acabamento interior é projetado de acordo com a vontade de cada proprietário. Com velocidade máxima de 44 nós, a edição limitada a 66 unidades do novo barco foi batizada em homenagem à lancha Niniette, construída pela Bugatti em 1930 para o príncipe Carlo Maurizio Ruspoldi. Ao unir duas marcas icônicas, que combinaram seus recursos de design, tecnologia e performance na criação de um iate esportivo, o resultado não poderia ser menos que impressionante. Com sua linha central acentuada e a dupla divisão de cores do exterior, o Niniette 66 engloba elementos-chave da herança Bugatti. Fiel ao princípio de design orientador da empresa, a “forma segue o desempenho”, as linhas claras e a postura dinâmica do iate, em combinação com a característica assinatura da Bugatti fundida no perfil lateral do barco, são uma referência ao recém-lançado Chiron. “Mesmo de uma grande distância ao entrar em um porto, o Niniette será sempre reconhecido como um verdadeiro Bugatti”, diz Salomé. u
FICHA TÉCNICA Comprimento total. . . . . . . . . . . 20 metros Feixe. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6,5 metros Velocidade máxima. . . . . . . . . . 44 nós Calado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 0,7 metro Convidados / tripulação. . . . . . 2/1
www.bugattininiette.com
52 GALERA
ConstruĂdo em 1927 na Noruega, o Sørlandet foi danificado na Segunda Guerra Mundial e restaurado em 1948 para ganhar motor 10 anos depois
RENOVAÇÃO
Navio norueguês Sørlandet, que por décadas formou marinheiros em seu país, passa pelo Brasil e oferece um “banho” de cultura local aos alunos a bordo
V
erdadeiro patrimônio norueguês, o navio Sørlandet foi construído, em 1927, no estaleiro de Høivolds Mek, na cidade de Kristiansand, na costa sul da Noruega. “Irmão” do Statsrad Lehmkuhl e Christian Radich, é o mais antigo dos navios noruegueses integrantes do “Grande Trio da Noruega”. É também a mais antiga embarcação totalmente equipada em operação no mundo. Quando foi lançado ao mar, não tinha motores, media 210 pés de comprimento e pesava 577 toneladas. Como parte da Instituição Seilend Skoleskibs de Sørlandet, desempenhou
papel vital na educação de jovens marinheiros da região sul da Noruega, conhecida como Sørlandet. Durante décadas, formou marinheiros e hoje está aberto para jovens de todas as idades que tenham interesse em aprender não só a velejar, mas também em preencher toda uma grade curricular a bordo – que inclui cursos de ciências, matemática, educação física, arte, literatura, redação, espanhol etc. Atualmente, o navio conta com 50 alunos a bordo e, embora a maior parte deles seja da Noruega, também há jovens de outras nações, como Estados Unidos e Hong Kong.
54 GALERA
Ao lado, foto histรณrica de uma passagem por Chicago. Abaixo, no mar, com as velas iรงadas. Na outra pรกgina, participando de uma regata, e o chef brasileiro Rodrigo Viriato
O navio percorreu a costa sul-africana e atracou em solo brasileiro, onde permaneceu de 19 a 24 de fevereiro em Fortaleza. No dia 21, o veleiro recebeu o cearense Rodrigo Viriato, chef-executivo do Grupo Alices e professor de Gastronomia na Universidade Federal do Ceará, que ministrou uma aula de culinária brasileira a bordo. “A gastronomia é o meio afetuoso de laço entre os convivas, mostrando o amor desprendido em bocados a serem servidos. Pelo alimento você recebe, acolhe e abraça cada pessoa, semeando experiências e sensações memoráveis”, afirmou o chef. Os alunos tiveram também a oportunidade de assistir a um seminário sobre aquicultura e frutos do mar na sede da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec). “O navio-escola Sørlandet tem longa história de velejar ao redor do mundo e oferecer para jovens a oportunidade de conhecer outros países e culturas, bem como aprender sobre transporte internacional e marítimo. Estou muito satisfeita que o Sørlandet escolheu o Brasil, especificamente a cidade de Fortaleza como um de seus destinos em 2017. O estado do Ceará tem muitas semelhanças com a Noruega, entre elas uma longa tradição de navegação marítima e de exportação e produção de peixes. Espero que a visita do navio a Fortaleza seja o começo de uma relação frutífera entre a Noruega e esse importante estado brasileiro”, afirmou Aud Marit Wiig, embaixadora da Noruega no Brasil.
HISTÓRIA VIVA
Em sua viagem inaugural a Oslo, em 1927, o Sørlandet foi inspecionado pelo rei Haakon e o príncipe herdeiro Olav. Mais tarde, no mesmo ano, viajou para Londres com 90 jovens a bordo, em estágio. Viajou também para Chicago, em 1933, para participar da Feira Mundial. Sendo o primeiro navio de treinamento norueguês a atravessar o Atlântico, serviu como pavilhão norueguês durante a exposição Century of Progress. O Sørlandet foi danificado durante a Segunda Guerra Mundial e serviu como navio de acomodação para mergulhadores alemães. Restaurado, ficou pronto para navegar em 1948. Dez anos depois, ganhou motor. Em 1974, deixou de ser usado como navio de treinamento público e foi vendido ao proprietário do navio Staubo. Registrado em Arendal e ancorado em Kilsund por três anos, acabou sofrendo considerável deterioração. Em 1977, o proprietário o devolveu à cidade de Kristiansand. Em 1981, foi criada uma fundação sem fins lucrativos, a Stiftel-
sen Fullriggeren Sørlandet, que é dona e operadora do navio. De 1980 a 1983, a Sørlandet foi a primeira embarcação aberta a homens e mulheres de todas as idades e nacionalidades. Cruzou o Atlântico quatro vezes em 1981, participou de um filme em Nova York e fez várias viagens entre Bermuda e Boston. Entre 1986 e 1988, cerca de 500 cadetes da Royal Norwegian Navy obtiveram sua primeira experiência de vida no mar, nos cursos de seis semanas de vela e treinamento a bordo do Sørlandet. Em conformidade com as regras da Organização Marítima Internacional (OMI), o Sørlandet passou a ter 499 toneladas. Bem equipado com ar-condicionado, conta com motor principal de 560 HP. Em 1980, o navio passou por uma restauração completa. Realizou reparos em 1988, e novamente de 2003 a 2007. No verão de 2012, o Sørlandet passou quatro meses em cais seco, em Tuzla, Istambul, para um grande projeto de restauração que incluiu o casco e a reconstrução completa da área principal “Banjer”, onde os alunos dormem e assistem às aulas. Em 2010, a escola canadense West Island College International fretou o Sørlandet para o seu programa Class Afloat, oferecendo cursos de ensino médio e universitário, além de treinamento de vela a bordo até 2014. Hoje, o navio constitui um internato único no mar com itinerário exótico e um currículo completo. Com capacidade para 70 estudantes, o navio partiu de seu porto norueguês, em Kristiansand, em agosto de 2015. Quando voltar para casa dois anos depois, o navio e seus alunos terão visitado mais de 44 cidades em 22 países. E terão muitas histórias para contar. u
56 ICS
por ISABELA CAMPOS fotos MARCO YAMIN, MAURICIO CASSANO, DOUGLAS MOREIRA, DELFIM MARTINS
70 ANOS DE AMOR AO MAR
Em junho, o Iate Clube de Santos celebra 70 anos de fundação e se fortalece como uma das mais tradicionais instituições náuticas do país
F
inal da década de 1940. Vivia-se a prosperidade do pós-guerra, surgiam novas indústrias, florescia a construção civil, o país usufruía os dólares recebidos pelo esforço de guerra. Aos paulistas de quatrocentos anos juntavam-se capitães de indústria há pouco chegados no país, e a população da cidade não parava de crescer. Já há algum tempo a elite paulista costumava enfrentar a travessia de balsas entre Santos e Guarujá em busca do turismo exclusivo na recém-criada cidade. O ponto de encontro ficava na piscina do Grande Hotel La Plage, na Praia de Pitangueiras. No fundo musical, Dick Farney ensinava que Copacabana é a princesinha do mar. Nossa história começa aí, em 1947, exatos dois anos após o término da guerra na Europa e ano da inauguração da via norte da Rodovia Anchieta. O Iate Clube de Santos foi criado a partir de um objetivo inicial: proporcionar aos associados um local seguro e abrigado para a guarda de seus barcos – tanto veleiros (que formavam a grande maioria à época) como lanchas, hoje mais imponentes e em maior número. O local escolhido foi um terreno à beira do Rio Santo Amaro, no Guarujá, que respondia às necessidades daqueles comandantes pioneiros. Enquanto se preocupavam em construir ali uma sede, já se engajavam em atividades náuticas. Tanto que em 1950, com a sede ainda em fase de estruturação, o clube sediava a primeira edição da Regata Santos-Rio, competição promovida em parceria com o Iate Clube do Rio de Janeiro e que se tornou uma das mais tradicionais regatas de oceano do calendário brasileiro. Essa importante história merece – e vai ganhar – um capítulo à parte na trajetória do ICS. Como conta o comodoro Berardino Fanganiello, naquele início de muita paixão e poucas finanças, parte da casa da pioneira sede foi construída a partir de contêineres de madeira de lei doados por Zeca Fernandes, segundo Comodoro eleito. Proprietário da Vemag, ele recebia peças de veículos em excelentes embalagens de madeira, que se transformaram, entre outros aposentos, em um charmoso bar.
58 ICS A sede atual foi construída já na administração de Marco Antonio Vieira de Carvalho, o Caco, quando o clube vivia um período de fortalecimento econômico e significativo crescimento do quadro associativo. Esse crescimento, aliás, teve grande impacto em toda a região, que se beneficiou com a oferta de empregos – o ICS chegou a ser um dos maiores empregadores do Guarujá – e com a movimentação do comércio ao redor da sede. Com demanda maior – e barcos cada vez mais sofisticados –, o clube investiu firme no treinamento de mão de obra especializada. Caco ficou mais de 30 anos à frente do ICS, e neste período forneceu as bases para lapidar o clube em direção a um novo tempo, o da expansão. Em 1986, surgia o desafio de criar uma segunda sede. Muito antes de assumir o leme do clube, em 2001, o Comodoro Berardino Fanganiello comandou a negociação da compra da sede Angra dos Reis, no condomínio do Frade. As primeiras obras da sede Angra aconteceram ainda na gestão de Caco. Um empreendimento que exigiu um estudo minucioso do terreno íngreme, ainda inexplorado, de 87.200 metros quadrados. A diversidade da flora e as dimensões da área inspiraram a criação de um projeto arrojado para a época, que, além da edificação da nova sede social e toda a estrutura de um clube náutico, permitia a construção de chalés para uso exclusivo dos associados. Assinado pelo arquiteto Manuel Brancante e pela arquiteta paisagista Miranda Matinelli Magnolli, o projeto foi desenhado em total harmonia com a natureza, preservando as imponentes rochas que até hoje são destaque das construções vanguardistas dos chalés, piscina, ruas e outros espaços. Uma obra excepcional que transformou a sede em uma das maiores e mais modernas estruturas náuticas da cidade.
Acima, no Guarujá, a maior sede do clube possui 313 vagas molhadas. À esquerda, pátio de área náutica: destaque para o imponente hangar “Marco Antônio Vieira de Carvalho”, com 3 mil metros quadrados e 15 metros de vão livre. Na outra página, a sede Angra dos Reis, hoje com 51 chalés, área social e hangar com capacidade para 50 embarcações
60 ICS
Acima, a charmosa fachada da sede Ilhabela. Ao lado, a jacuzzi completa a diversão na piscinaspa. Abaixo, com vista para o Canal de São Sebastião, o píer comporta 10 embarcações
Nos anos seguinte, Bera levou a flâmula do ICS para outras cidades litorâneas. Em 2003, foi criada uma sede em Paraty, nas instalações da Marina Porto Imperial. As vagas exclusivas em águas protegidas atraíram muitas embarcações de associados que costumavam passar férias na região. A sede Paraty formou um pequeno, mas fiel fã-clube, que não troca por nada a tranquilidade do lugar. Dois anos mais tarde, em 2005, a bandeira do clube foi hasteada no Saco do Indaiá, em Ilhabela, com vista para o Canal de São Sebastião. Já há tempos uma casa na ilha era considerada objeto de desejo de muitos associados, principalmente velejadores e adeptos do mergulho. A sede se tornou realidade com a instalação de um plano inclinado que venceu os 30 metros de declive da rua até o píer, com um amplo píer e deck projetado para o mar. E consolidou-se com a construção de uma área de lazer com piscina e jacuzzi ao lado da pequena praia de águas claras. Foi em 2008 que o ICS deu um salto patrimonial relevante ao concluir com sucesso as negociações de compra do histórico palacete de Veridiana da Silva Prado, um tesouro arquitetônico em área de 8.300 metros quadrados, no coração da cidade. Com a Sede São Paulo, um ciclo se completava. Pois foi naquele mesmo endereço, na noite de 4 de junho de 1947, que um grupo de apaixonados pelo mar se reuniu para fundar um iate clube. O palacete era então residência de Jorge da Silva Prado, que se tornaria o primeiro comodoro da recém-criada agremiação. Sempre sob os olhos experientes de seus dirigentes, o ICS vem se destacando como um dos principais clubes do Brasil; uma instituição sólida que reúne os maiores barcos de passeio do país. Prestes a completar 70 anos, o clube está pronto para uma nova etapa e novos desafios. “Garantir serviços náuticos de excelência, preservar o patrimônio e reafirmar a posição conquistada pelo clube no universo náutico do país são prioridade para esse jovem de 70 anos” finaliza Berardino Fanganiello.
Acima, desde 2008, a sede paulistana (a mais nova do clube) funciona no histórico palacete de Veridiana da Silva Prado, em Higienópolis. Ao lado, a tranquila sede Paraty, instalada na Marina Porto Imperial, oferece vagas em águas abrigadas
62 ICS
VELA, A ALMA DO ICS
A promoção da Regata Santos-Rio foi o início de uma série de competições e participações que destacaram o clube como point da vela, por onde passaram os maiores nomes do esporte, de Torben Grael a Robert Scheidt. Como sede de dezenas de competições, de campeonatos pré-olímpicos a etapas dos campeonatos santista, paulista e brasileiro, o ICS demonstrou capacidade técnica para atender as embarcações, além de serviços de qualidade para garantir o conforto das tripulações. Foi também sob a égide do ICS que, em 1958, nasceu a Regata Volta da Ilha dos Arvoredos; criada pelo velejador e pesquisador Fernando Lee. Interrompida em 1993, após a morte de seu idealizador – que era sócio do clube e proprietário da ilha –, a regata foi resgatada em 2010 com a chancela da Suunto, marca finlandesa de equipamentos esportivos de alta precisão. Hoje, além de dar continuidade a essas clássicas competições, a vela do ICS vive um reflorescimento, com a conquista de novos barcos, parceiros e patrocinadores. O maior destaque das novas gerações é a dupla Rafael Gagliotti e Henrique Wisniewski, que disputa as principais regatas nacionais e internacionais da classe Snipe. Em 2010 os dois velejadores passaram a contar com o apoio do ICS e com o patrocínio da GP Guarda Patrimonial. Desde então, a dupla santista colecionou mais de 10 títulos, incluindo um 4º lugar no Campeonato Mundial de Snipe. Na galeria dos velejadores, eles poderão inscrever seus nomes ao lado dos antecessores que marcaram a Vela do ICS, entre eles, Fernando Pimentel Duarte, Bruno Hollnagel, Domingos Giobi, Roberto Pellicano, Fernando Nabuco de Abreu, os saudosos João e Guga Zarif e mais recentemente Eduardo de Souza Ramos e o veterano Jonas de Barros Penteado. Há quatro anos, o clube passou a representar a La Belle Classe no Brasil, categoria que reúne barcos clássicos no mundo todo, criada pelo príncipe Albert II, Presidente do Yacht Club de Monaco. O título de Embaixador da Belle Classe é conferido a poucas instituições e personalidades em todo o mundo, com o compromisso de promover os mais importantes valores do esporte, como o respeito pela etiqueta naval, a preservação do meio ambiente e do patrimônio marítimo. No ano passado, o clube fechou um convênio de reciprocidade com o Yacht Club Paulista com a ideia de fortalecer a Vela no Estado e, claro, abrir as portas de mais uma conceituada instituição náutica para os associados. A união trouxe uma novidade, um intercâmbio de raias que irá ampliar os locais de disputas das regatas promovidas pelo ICS e YCP. Em março, a sede Guarujá do ICS recebeu, pela primeira vez, as tripulações participantes da 3ª etapa da Copa Paulista, evento promovido pelo YCP desde 2015. A estreia na raia da Baía de Santos aconteceu com a disputa de quarenta veleiros em 7 diferentes classes.
No alto, o clássico veleiro Saga na edição de 1972 da Regata Santos-Rio. Ao lado, veleiros no primeiro píer da sede Guarujá. Veleiros eram maioria nas primeiras décadas; hoje, predominam as modernas lanchas
64 ICS
POLO NÁUTICO
A Sede Guarujá do ICS está sempre em movimento quando o assunto é a qualidade de atendimento. Há três anos, uma expansão complementou a estrutura da Área Náutica com a criação de um hangar auxiliar para pequenos reparos. Dessa forma, o ICS pode oferecer mais agilidade para essas embarcações, que não precisam “competir” com as grandes pelos espaços no hangar principal. Parte desse projeto envolveu a formação da Diretoria de Serviços, que chegou com uma proposta arrojada para divulgar ao mercado em geral toda a autonomia que a estrutura oferece
para operações de pintura, tapeçaria, eletrônica, hidráulica, marcenaria, laminação, adesivagem, elétrica e tornearia mecânica. Os barcos de outros clubes e marinas contam com um exclusivo canal de agendamento online, e um centro comercial com lojas do ramo náutico, que facilitam a contratação dos serviços. Tudo isso com um eficiente sistema de segurança 24 horas. Para comemorar seu 60º aniversário, o ICS fez um investimento significativo na área náutica de sua sede no Guarujá, causando uma mudança de paradigma no sistema de atendimento ao público interno e externo. Foi assim que o clube se transformou em uma potência local no setor de serviços náuticos. À época, a revolução deu-se com uma grandiosa obra de ampliação e modernização que incluiu a construção de um hangar com 3 mil metros quadrados, 15 metros de vão livre e com uma rede integrada de ar comprimido puro. Dimensões que permitem que o clube receba, até hoje, embarcações de até 80 pés. Para atender os sofisticados barcos, o clube também adquiriu um travel-lift de 75 toneladas e construiu um finger de 27 metros de comprimento. Considerada a construção mais complexa, a obra do finger foi realizada em nove meses e envolveu um minucioso estudo de solo para cravar as 20 estacas de sustentação da estrutura com mais de 120 toneladas de concreto. u
Com capacidade para 35 e 75 toneladas, dois travel-lifts auxiliam na movimentação das embarcações. Abaixo, hangar exclusivo para reparos menores atende, simultaneamente, até oito embarcações de até 50 pés. Na outra página, no Centro Comercial, oito empresas facilitam a contratação de serviços náuticos. Inaugurada em 2007, a área náutica ocupa um espaço de 10 mil metros quadrados
66 MEMÓRIA
por JUDITE SCHOLZ
DESDE SEMPRE,
O MAR
Os poemas de Cecília Meireles são precisos e quase sempre usam o mar para transportar memórias, solidão e liberdade
C
ecília nasceu no Rio de Janeiro em 1901. Órfã de pai e mãe, foi educada pela avó materna, que exerceu forte influência sobre a sua formação. Ela escreveu mais tarde: “Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos 3 anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a morte que docemente aprendi essas relações entre o efêmero e o eterno. Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano. (…) Vovó era uma criatura extraordinária. Extremamente religiosa, rezava todos os dias. E eu perguntava: ‘Por quem você está rezando?’ ‘Por todas as pessoas que sofrem’. Era assim. Rezava mesmo pelos desconhecidos. A dignidade e a elevação espiritual de minha avó influíram muito na minha maneira de sentir os seres e a vida”. Sua estreia literária aconteceu, em 1919, com o livro Espectros, reunião de sonetos escritos a partir de 1915. Outros tantos vieram. Mar Absoluto, de 1945, é considerada uma das cem
“Há as viagens que se sonham e as viagens que se fazem – o que é muito diferente.
O sonho do viajante está lá longe, no fim da viagem, onde habitam as coisas imaginadas”
68 MEMÓRIA
Mar em Redor
Meus ouvidos estão como as conchas sonoras: Música perdida no meu pensamento, Na espuma da vida, na areia das horas... Esqueceste a sombra no vento. Por isso, ficasse e partiste, e há finos deltas de felicidade abrindo os braços num oceano triste. Soltei meus anéis nos aléns da saudade. Entre algas e peixes vou flutuando a noite inteira. Alma de todos os afogados Chamam para diversos lados esta singular companheira.
obras obrigatórias da literatura brasileira. Embora cronologicamente vinculada à segunda fase do modernismo brasileiro, sua obra poética traz influências simbolistas, românticas barrocas e parnasianas. “Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e o seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo. A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea”, disse o crítico Paulo Rónai. Em 1922, casou-se com o ilustrador português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Foi com ele que a jovem poeta, professora, jornalista e mãe Cecília Meireles subiu a bordo do navio Cuyabá, em 1934, após a morte de sua avó, para fazer a travessia do Atlântico rumo a Portugal. Convidada pelo governo português para proferir uma série de conferências sobre literatura brasileira, era a primeira vez que Cecília pisava na terra de seus antepassados e que seu marido retornava ao país após 20 anos no Rio, onde se tornara um dos principais renovadores das artes gráficas brasileiras. O livro Diário de Bordo é resultado dessa frutífera experiência. Ao relatar a viagem marítima que durou 22 dias, a beleza e o silêncio do mar foram enriquecidos com os mistérios e o lado obscuro da morte – revelando uma poesia mística, lírica e serena. Os textos descrevem o matrimônio entre os mistérios do oceano e os céus enormes, em que procurou captar as constantes mudanças de cor e movimento, conforme as horas do dia, as nuvens, a força e a direção dos ventos. A obra da escritora sobre a viagem de ida encomendada pelo jornal carioca A Nação é ilustrada por desenhos e pinturas que o marido fez a bordo, muitas vezes em caixas de charutos e outros suportes. As pinceladas certeiras de Fernando retratam Vitória, Recife e o Arquipélago de Cabo Verde, entre outros, com nuances de cores que texturizam montanhas e o mar absoluto que acompanhou o casal durante as travessias pelo Atlântico. Cecília descreveu com poesia, precisão e humor elegante o que viu, experimentou e sentiu. Visitou o Farol da Barra, na Bahia, escreveu sobre a Miss Portugal a bordo, falou dos trabalhadores do mar, dos homens na terceira classe que retornavam ainda mais pobres para Portugal. Anotou todos os carregamentos do barco, o cacau baiano, o carvão de Pernambuco e os bichos silvestres que iam para os zoológicos europeus. O casal passou três meses em Portugal, durante os quais Cecília viu-se louvada e acarinhada, enquanto Fernando retornava vitorioso, pois ganhara fama no Brasil como renovador das artes gráficas, pintor, caricaturista, ilustrador, ceramista e escultor. Fernando Correia Dias, na verdade, teve enorme in-
Ritmo
O ritmo em que gemo Doçuras e mágoas É um dourado remo Por douradas águas.
Beira-mar
Não têm velas e têm velas; e o mar tem e não tem sereias; e eu navego e estou parada, vejo mundos e estou cega, porque isto é mal de família, ser de areia, de água, de ilha... E até sem barco navega quem para o mar foi fadada.
Tudo, quando passo, Olha-me e suspira. - Será meu compasso Que tanto os admira? Poesia Completa Vaga Música 1942
70 MEMÓRIA
fluência na formação cultural, literária e plástica de Cecília, e foi ele também quem a apresentou às rodas literárias e artísticas na década de 1920. A viagem a Portugal terminou em 12 de janeiro de 1935, quando Cecília e o marido desembarcaram no Rio, longe de ser os mesmos de antes. Meses depois, Fernando se suicidou em casa, enquanto as filhas se preparavam para os festejos do Dia da Bandeira. A tragédia, que transformaria a visão de mundo da poeta, jogou-a diante da “solidão robusta”, como escreve em seus poemas. “Há muitas mortes por detrás dessa morte. E não foi apenas um suicídio: foi também um assassinato. Posso eu viver muito tempo; pode minha existência tomar os mais inesperados rumos – mas essa noção da inutilidade humana, essa indiferença pela esperança e esse desapego da lógica farão de mim cada vez mais uma criatura sem raízes na terra, prescindindo de tudo e à mercê dos casos que a queiram transportar”, escreveu em carta ao amigo português Diogo de Macedo. Foi a partir das crônicas de Diário de Viagem que o mar se instalou na sua poesia como tema, paisagem e símbolo. A poetisa que merecia ser lida tornou-se a poetisa que não podia deixar de ser lida, graças ao livro Viagem, editado em Lisboa em 1939 e dedicado aos portugueses, com poemas em sua maioria escritos nos mesmos dias em que Diário de Bordo, durante a estada em Portugal e nos primeiros dois anos da imensa tristeza da viuvez. Sua obra passa a refletir as variantes de sua relação com o mundo. Viagem revela a maturidade da poeta e conquista o primeiro grande reconhecimento: o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, em 1939. Apesar de jovem, era autora de três livros e de uma série de artigos sobre educação brasileira, nos quais não dispensou críticas às políticas da época. Lutou por uma educação laica, posicionou-se contra a inclusão do ensino religioso e defendia as liberdades, como, por exemplo, a criação de escolas mistas em que ambos os sexos pudessem dividir o mesmo espaço. Cecília, sem dúvida, passou a maior parte de sua vida diante de uma máquina de escrever. De 1920 a 1964, quando sua última crônica foi publicada na Folha de S.Paulo, ela tinha escrito cerca de 2.500 crônicas. O novo casamento de Cecília aconteceu somente em 1940, quando conheceu o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira. O mar e os temas marítimos são os mais fortes de sua poesia produzida entre 1939 e 1945, mantendo-se pelo resto de sua obra, especialmente nos livros Viagem, Vaga Música e Mar Absoluto e Outros Poemas. Em Viagem, nos cerca de cem poemas, em pelo menos 21 deles há a ocorrência da palavra mar, sem contar o vocabulário náutico e a referência à água, que perpassa o livro todo. u
O Rei do Mar
DIÁRIO DE BORDO
Muitas velas. Muitos remos. Âncora é outro falar... Tempo que naveguei não se pode calcular. Vi as Plêiades. Vejo agora a Estrela Polar. Muitas velas. Muitos remos. Curta vida. Longo mar.
Diário de Bordo (Global Editora, 192 páginas, R$ 195), de Cecília Meireles com ilustrações de Fernando Correia Dias, reúne crônicas de uma viagem marítima a Portugal, publicadas pelo diário A Nação, sob o título Diário de Bordo. O formato 41 x 29,5 cm privilegia a beleza das pinturas. O livro conta ainda com texto de apresentação do renomado historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva e com dois textos de autoria de Jussara Pimenta, professora da Universidade Federal de Rondônia. Em sua tese de doutorado defendida na Uerj, a professora Jussara concentrou-se em estudar especificamente a viagem que Cecília Meireles fez à Europa em 1934. Essa obra, em que a poetisa registra suas minuciosas impressões, não retrata somente a beleza dos mares, mas também os que, na terceira classe, regressavam, vencidos e humilhados, a Portugal, sem terem realizado o sonho da América. www.globaleditora.com.br
Por água brava ou serena deixo meu cantar, vendo a voz como é pequena sobre o comprimento do ar. Nem tormenta nem tormento me poderiam parar. Muitas velas. Muitos remos. Âncora é outro falar... Ando entre a água e o vento Procurando o rei do Mar.
Solidão
Imensas noites de inverno, com frias montanhas mudas, é o mar negro, mais eterno mais terrível, mais profundo (...) Viagem, p. 240
por JUDITE SCHOLZ
72 MEIO AMBIENTE
SURFE-MODELO Ao se deparar com lixo na mesma praia onde buscava ondas, um grupo de surfistas do litoral sul de São Paulo criou uma ONG para limpar as praias e conscientizar as pessoas
C
iente da importância dos mares não apenas como cenários de seu esporte favorito, o surfe, que pratica há mais de 25 anos, João Malavolta começou a pensar no que fazer ao observar a sujeira das praias e oceanos. Um dia ele teve a brilhante ideia de engajar os surfistas nessa luta de conscientizar as pessoas sobre as consequências nefastas de jogar lixo nas praias. Basta saber que o maior lixão do mundo localizado no Oceano Pacífico – 4 milhões de toneladas de garrafas e embalagens – foram empurrados para lá pelas correntes marítimas, formando um amontoado de 700 mil quilômetros quadrados ou duas vezes o tamanho do estado de São Paulo, colocando em risco a fauna marinha. Sabe-se que 80% do lixo chega lá oriundo dos continentes e 20% é jogado pelos navios. Vale lembrar que os oceanos funcionam como reguladores climáticos; as algas marinhas produzem cerca de 55% do oxigênio do planeta. E, claro, os oceanos cobrem mais de 70% da superfície e somam 97% da água do planeta. Apesar de décadas de esforços para prevenir e reduzir o lixo no mar, há evidências de que o problema é persistente. Estudos apontam que bilhões de toneladas de lixo são jogadas nos oceanos todos os anos. Esses resíduos possuem grande capacidade de dispersão por ondas, correntes e ventos, podendo ser encontrados no meio dos oceanos e em áreas remotas, onde causam acidentes fatais com tartarugas, peixes e outros animais. Por aqui, o problema, contudo, torna-se mais aparente nas zonas costeiras, onde as atividades humanas estão concentradas, já que o Brasil possui mais de 8.500 quilômetros de costa, 395 municípios distribuídos em 17 estados costeiros e, aproximadamente, 25% da população residente nessas regiões. Criada em 2000 com sede em Itanhaém, litoral sul de São Paulo, a Ecosurf luta pela conservação das zonas costeiras em várias partes do litoral brasileiro. Sendo uma organização com foco na atuação colaborativa, por meio de uma grande rede de pessoas, as ações promovidas pela ONG têm chamado atenção da comunidade do surfe ao redor do planeta. Hoje, além do trabalho nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, nos estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, a Ecosurf tem embaixadores também no Marrocos, em outros países da África, Portugal e Itália. Com 16 anos de experiência, a entidade apoia e encoraja grupos que tenham interesse em replicar e multiplicar suas iniciativas e práticas em outras praias. Para isso foi criado o programa Coletivos Ecosurf. Além disso, ao promover expedições para realizar limpeza em ilhas e praias, mobilizar voluntários pela proteção das praias e organizar encontros de esportes náuticos, a ONG vai angariando novos adeptos e conscientizando cada vez mais as pessoas. Confira entrevista exclusiva com o diretor-executivo da Ecosurf, João Malavolta.
Seja recolhendo o lixo nos mares, seja promovendo a consciĂŞncia nas praias, a ONG conta com o apoio dos surfistas
74 MEIO AMBIENTE
REVISTA IATE Como surgiu a ideia de criar uma ONG engajando os surfistas na defesa dos oceanos? JOÃO MALAVOLTA: Moramos em uma cidade litorânea (Itanhaém) que, na alta temporada, feriados e fins de semana, recebe um grande número de turistas, visitantes e veranistas. Com isso, aumenta a quantidade de pessoas na cidade e, consequentemente, a geração de lixo. As praias ficavam imundas e os órgãos públicos sempre se omitiram. Assim, reagir a esse problema era uma opção. Pensamos em nós, enquanto comunidade do surfe, em cuidar do “nosso quintal” – a praia. No começo fazíamos mensalmente grandes limpezas de praia, para mostrar o problema do lixo nesses ambientes, e isso também era uma forma de pressionar o poder público a resolver a questão. Essa luta é travada até hoje, não só aqui, mas em todos os litorais do mundo que hoje enfrentam o problema da poluição. RI Você, como surfista, observou a sujeira das praias e, por isso, pensou numa forma de combatê-la? JM Exatamente. Os surfistas têm uma natureza nômade em busca das melhores ondas e, nessas viagens, muitas vezes para lugares extremamente isolados, a poluição, principalmente de resíduos plásticos, se encontrava em grande quantidade. Para além de uma questão estética e paisagística, esse tipo de poluição causa grandes danos à vida nos oceanos e todo o ecossistema marinho e costeiro. RI Os surfistas de fato se comprometem a atuar na proteção dos oceanos? JM Não. Poucos estão engajados firmemente na conservação dos oceanos. Prevalece a visão do surfe apenas, e é essa ótica que impera e distancia os praticantes da verdadeira essência do esporte, que engloba uma cultura muito forte e ancestral de comunhão com a natureza e respeito ao planeta e proteção ambiental. RI De que forma esses surfistas atuam? JM Os surfistas engajados atuam em grupos organizados ou não. São poucos e quase sempre silenciosos. Talvez por não enxergarem a importância que tem o seu protagonismo. Pela Ecosurf temos como missão o empoderamento dos surfistas para as causas públicas. Realizamos formações, cursos, eventos de fortalecimento da cultura do surfe, além de muitas mobilizações e ativismos para chamar atenção para o problema da poluição nos rios e oceanos e conflitos que acontecem no litoral brasileiro, desde a expansão de portos sobre áreas de preservação permanente, especulação imobiliária, desmatamento etc. RI Os resultados são efetivos? JM Acredito que sim. Já somamos alguns milhares de voluntários envolvidos com nossas pautas. Esse é um trabalho de “formiguinha” e é possível observar uma mudança de comportamento entre os surfistas que participam das ações da Ecosurf. Quando você limpa uma praia e remedia o problema do lixo naquele ambiente, você alcança um resultado imediato e isso inspira as pessoas a saírem do seu espaço de conforto e serem mais proativas e dar sua contribuição. RI Além de treinar os surfistas, quais são as outras formas de atuação da ONG? JM Trabalhamos com mobilização, ativismo, pesquisa,
educação ambiental e políticas públicas nas áreas de oceanos, mudanças climáticas, recursos hídricos e surfe sustentável. RI Qual é o objetivo maior da Ecosurf? JM Criar uma cultura de cuidado com os oceanos e respeito ao planeta entre as comunidades do surfe. RI Passados 16 anos, quais os resultados atingidos? JM Nosso trabalho já retirou mais de 30 toneladas de lixo das praias, cerca de 10 mil voluntários envolvidos, mais de 500 campanhas de despoluição das zonas costeiras, realizou, aproximadamente, 150 palestras sobre poluição nos oceanos, deu aulas de surfe para 160 alunos e conquistou representantes em todas as quatro macrorregiões do litoral brasileiro, além da Europa e África. RI Nesse período, qual foi a conquista mais gratificante para você? JM Acho que o reconhecimento das pessoas e de grandes instituições que convidam a Ecosurf para ser parceira em projetos – isso demonstra credibilidade e respeito, o que não é fácil de conquistar. Manter boa reputação na área ambiental ajuda a ter capilaridade no trabalho e isso faz toda a diferença na hora de fazer qualquer coisa. Mas, além de tudo isso, para falar de momentos pontuais, fomos convidados pelo cantor e surfista Jack Johnson para uma parceria com a turnê dele na América do Sul, em 2014, e em 2015 fomos convidados para uma expedição que percorreu o Oceano Índico de veleiro, estudando a poluição marinha naquela região e gravando um documentário para um canal de tevê da Suíça. Essa expedição foi incrível, porque eu era o único sul-americano embarcado no meio de grandes cientistas. RI Como vocês chegaram tão longe – Marrocos, África, Portugal, Itália…? JM Acho que conseguimos sensibilizar e encorajar as pessoas, pois sempre mostramos que todo mundo pode fazer parte de uma causa maior – a dos oceanos. Gente do mundo todo procura a Ecosurf para parcerias, apoio às suas causas etc. Com essa demanda passamos a criar um método de organização da Ecosurf em rede. Hoje somos uma rede de representantes com a mesma missão. As redes sociais ajudam muito nessa articulação, pois temos uma grande exposição em algumas dessas plataformas. No Facebook temos a página sobre surfe e meio ambiente com o maior número de seguidores orgânicos em todo o mundo. São mais de 580 mil pessoas que interagem nesse ambiente virtual. RI Acredita que seja possível conscientizar as pessoas sobre o problema do lixo e suas consequências nefastas nos oceanos? JM Acho que sim. Porém, o processo de conscientização está totalmente relacionado à carga e à qualidade das informações que as pessoas recebem a partir do dia em que nascem. Não existe outro caminho senão por meio da educação ambiental. No entanto, tudo isso passa por um componente político muito forte e geralmente não é priorizado nas políticas públicas de educação. Pouco se sabe ainda sobre os oceanos pela dimensão planetária que ele tem. A ciência avança lentamente e mais lenta ainda é a “pedagogização” dessa informação produzida pela academia, ou seja, é difícil explanar por que temos que preservar os oceanos mas, por outro lado, hoje, com a facilidade de circular informação devido à tecnologia, conseguimos levar isso para mais pessoas a cada dia e o processo pedagógico de alguma forma vai acontecendo. u
As ações da Ecosurf sensibilizaram pessoas de várias partes do mundo que se tornaram representantes com a mesma missão
texto e fotos MARI CAMPOS
76 MARÉ ALTA
EXUBERÂNCIA COLORIDA
Avistar a Grande Barreira de Corais, na Austrália, causa uma sensação difícil de descrever. Imagine, então, conferir a rica vida marinha que a rodeia e as ilhas que são as bases para explorá-la
S
ão mais de 2 mil quilômetros de extensão cobertos de recifes e mar esmeralda, tornando o litoral da província de Queensland na maior estrutura viva do planeta, visível até do espaço. Conhecer a Grande Barreira de Corais, na Austrália, eleita Patrimônio da Humanidade e um dos maiores ecossistemas do planeta, está mesmo na wish list de todo viajante que se desloca ao outro lado do mundo – e não decepciona ninguém: a rica e pulsante vida marinha é complementada com paisagens terrestres tão impressionantes quanto as aquáticas. Composta de quase 3 mil recifes diferentes, 300 atóis e mais de 600 ilhas e ilhotas de Port Douglas a Bundaberg, a Grande Barreira é considerada um conjunto muito importante da vida na Terra, sendo mais significativo que todo um continente (incluindo mais de 2 mil espécies de peixes, tubarões com até 3 metros de comprimento e seis espécies de tartarugas-marinhas). Em outros tempos, principalmente no início do século 20, destruiu mais de mil embarcações e foi temida por grandes exploradores, inclusive o lendário capitão James Cook. Hoje, é facilmente explorada por viajantes do mundo inteiro e encanta à primeira vista. A impressionantemente cor esmeralda das águas que a rodeiam, os formatos e cores tão surpreendentes dos corais, a riqueza da diversidade da vida marinha que ali vive e o colorido surreal de seus peixes são mesmo, ao vivo, tudo aquilo que se vê nas brochuras das agências de viagem. Nadar e mergulhar com snorkel, acompanhando seus corais, é como entrar de corpo e alma no mais incrível dos aquários. Da janela do avião já é possível observar a geografia recortada pelo mar e os recifes enfileirados ganharem terreno antes mesmo da aterrissagem. As bases preferidas para iniciar a exploração da região são as cidades de Cairns, Hervey Bay ou Port Douglas, ainda na porção continental. Mas é em suas inúmeras e preciosas ilhas, algumas delas facilmente acessíveis por via marítima ou aérea, que estão guardadas as mais belas facetas da Grande Barreira.
FRASER ISLAND
A Baía de Hervey – coração da chamada Fraser Coast – fica cerca de 300 quilômetros ao norte de Brisbane e suas águas protegidas pelos recifes são tão calmas que se tornam perfeitas para esportes aquáticos, inclusive velejar e pescar. De julho a novembro é possível ver bem diante do porto grandes grupos de baleias nadando no estreito entre a baía e a Ilha Fraser, logo em frente. Leva-se cerca de 40 minutos para a travessia das águas que separam Fraser Island de Hervey Bay. Trata-se da maior ilha de areia do mundo, Patrimônio da Humanidade e uma das mais bonitas da Oceania. Com boa parte de seu território coberto por florestas tropicais, Fraser foi batizada assim para homenagear os primeiros europeus que ali chegaram, Eliza e James Fraser, cujo barco encalhou tragicamente na ilha. Para os aboríge-
O belo resort One&Only Hayman Island Great Barrier Reef toma conta de quase toda a ilha Hayman, e é o mais próximo hotel do idílico Heart Reef. No alto, detalhe da riqueza na barreira de corais
Casas com estilo arquitetĂ´nico tĂpico, em perfeito estado. No detalhe, as caixas de correio personalizadas
78 MARÉ ALTA
nes, que habitaram o local desde muito antes disso, seu nome de batismo é K´gari: paraíso. Com mais de 1.800 quilômetros quadrados de área total, Fraser é para ser explorada aos poucos, com calma. Habitada por menos de 200 pessoas, não possui muitas opções de hospedagem; mas, democrática, inclui desde campings para os mais aventureiros até o charmoso Kingfisher Bay Resort. Além das florestas, o local tem areias multicoloridas (como no impressionante conjunto de dunas Hammerstone Sandblow), carcaças de navios encalhados (como o S.S. Maheno, que virou navio-hospital durante a Primeira Guerra Mundial), inúmeros vestígios aborígenes e mais de cem belíssimos lagos. Os dingos, famosos cães selvagens australianos, ali são facilmente avistados. A melhor pedida é explorar a ilha em veículos 4x4 e há ampla oferta de aluguel de carros e passeios do gênero – mas vale destacar que muitas rotas não estão bem sinalizada e que é a Seventy-Five Miles Beach que funciona como “estrada” principal. E é da mesma praia que partem os belos sobrevoos da ilha em monomotor – e é só voando que se consegue entender por que o Butterfly Lake ganhou esse nome. Com natureza tão exuberante, não é de estranhar que seja hábitat de mais de 350 espécies de pássaros ou que suas águas sejam lar para mais de 2 mil espécies de peixes. Snorkel por ali é puro deleite. Mas nem só de banho de mar vive a ilha: mergulhar em seus lagos – como o Wabby – pode ser ainda mais gostoso. O lago mais famoso é o Mackenzie, de impressionante cor azul-caribe nos dias ensolarados. Além do delicioso banho, suas águas são famosas por funcionarem como polimento natural para joias e objetos de prata – não é raro ver turistas esfregando suas peças na areia e banhando-as no lago.
LADY ELLIOT
Uma das menores ilhas da Grande Barreira, Lady Elliot é perfeita para passeios de um dia, partindo também de Hervey Bay. Aviões Cessna fazem o trajeto privativo duas vezes por dia, em meros 50 minutos. É por via aérea também que chegam quase todos os suprimentos gerais à ilha definitivamente remota (barcos só são autorizados ali duas vezes ao ano). A ilha é tão pequena que, pouco antes de pousar, da janelinha do diminuto avião consegue-se visualizar Lady Elliot inteirinha, cortada ao meio pela minúscula pista de pouso, tomada de verde, rodeada de corais e um impressionante mar turquesa. Para os biólogos, Lady Elliot é um paraíso de pesquisa e eles são figurinhas fáceis entre o staff da ilha. Com fartura de vida marinha e altíssima visibilidade nas águas muito cristalinas, é considerada um dos melhores pontos para snorkel e mergulho em toda a Grande Barreira. O snorkel ali é mesmo difícil de superar: variedade incrível de estrelas e pepinos-do-mar de cores incrivelmente vibrantes e uma quantidade impressionante de tartarugas que não se importam nem um pouquinho em nadar acompanhadas de humanos. Apesar de ser propriedade privada, a ilha fica aberta à visitação o ano inteiro, com o máximo de 150 visitantes e 30 funcionários permitidos por dia, por questões de conservação e sustentabilidade. A infraestrutura para visitas de um dia inclui equipamento e saídas para snorkel, caminhadas, passeios em pequenas embarcações e almoço caseiro. Há também a possibilidade de ficar para dormir, mas essa é uma tarefa somente para os muito aventureiros, já que a hospedagem é bastante simples, com jeito de acampamento. Dar a volta na ilha caminhando leva apenas uma hora – e é só assim que se consegue entender como cenários tão distintos (inclusive uma área com jeito de deserto) conseguem coexistir plenamente num território tão diminuto. A paisagem ao redor da ilha também muda bruscamente ao longo do dia, entre a maré cheia e a maré baixa,
Relativamente pequena, com quatro quilômetros de comprimento por três de largura. Hayman Island tem vistas de tirar o fôlego, piscinas no mar e águas absolutamente azuis
80 MARÉ ALTA
quando é possível literalmente caminhar por entre os recifes – outra atividade deliciosa. Debaixo d’água é como mergulhar num documentário de Jacques Cousteau, dada a impressionante variedade de espécies, cores, tamanhos e formas da vida marinha, incluindo pequenos tubarões e arraias.
ILHAS WHITSUNDAY
Localizada bem no coração da Grande Barreira de Corais, Whitsunday é seu arquipélago mais famoso, composto de 74 ilhotas de diferentes tamanhos. A maioria é até hoje inabitada e foi transformada em distintos parques nacionais, mas quatro delas são bases perfeitas para o turista que queira se hospedar em terra firme: Hamilton Island, Hayman Island, Daydream Island e Long Island. Com horizonte aparentemente interminável, pontuado por inúmeras ilhotas, as águas protegidas de Whitsunday oferecem navegação segura dentre as mais tranquilas do Hemisfério Sul – pretexto perfeito para alugar um iate ou veleiro e aproveitar as praias paradisíacas (algumas desertas), a incrível vida marinha, os recifes e os deliciosos frutos do mar locais. Há um farto menu de experiências exclusivas dentro e fora d’água (Whitsunday são a porção mais luxuosa da Grande Barreira), e os mais aventureiros podem também explorá-las em jet skis ou skydiving. Além dos milhares de peixes e moluscos, as Whitsunday são lar de seis das sete espécies existentes de tartarugas-marinhas, de 30 espécies de baleias e golfinhos e de mais de 130 espécies de tubarões e arraias. Por isso, não à toa o mergulho e o snorkel são as atividades preferidas de nove entre dez turistas que por ali aportam (essa conta só não é ainda mais redonda porque muitos asiáticos visitam a região, mas, acredite, não entram na água). Prepare-se para uma explosão de cores e formatos subaquáticos – a maior dificuldade de quem visita a região é lembrar que é preciso sair da água de vez em quando. Mas há muito o que fazer em terra firme também. Airlie Beach é a maior cidade da costa de Whitsunday e um dos poucos lugares com animada vida noturna no arquipélago (além de boa oferta de restaurantes). Durante o dia, os tours contemplam, além de mergulho e snorkel, também Vela, pesca, passeios em 4WD, mountain biking, segway e até bushwalking. A praia mais famosa do arquipélago é, sem dúvida, Whitehaven Beach, considerada a melhor do Pacífico Sul e uma das melhores do mundo. Com beleza arrebatadora, são 7 quilômetros de areias branquinhas, águas cristalinas em temperatura perfeita e arredores ainda com cara de selvagem, com muita mata nativa. Vale desviar uns minutinhos da trilha para chegar direto à praia e poder contemplá-la do alto, com a vista do mirante Tongue Point. Simplesmente inesquecível. Facilmente acessível por mar, Whitehaven faz uma exigência: jogue-se em suas águas absolutamente transparentes. O reflexo do sol nas areias e nas águas ultraclaras cria cores e contrastes surpreendentes o tempo todo. Vale também caminhar pela areia até Hill Inlet, um belíssimo istmo de areia branquíssima confusamente banhado pelas águas turquesa. Antes de partir, tomar um sobrevoo em hidroavião ou helicóptero também é mandatório por lá. Afinal, após conhecer tão bem e tão de pertinho a grandiosidade do conjunto marinho que compõe suas águas, é preciso entender a imensidão geográfica da Grande Barreira – e a vista aérea é a melhor maneira de fazê-lo. Não há como não se impressionar com tamanha vastidão de água e corais até onde a vista pode alcançar. Além disso, é somente do ar que se pode ver com perfeição o Heart Reef, um recife naturalmente esculpido no formato de coração, que virou o símbolo maior de Whitsunday e da própria Grande Barreira. Descoberto por acaso, em 1975, por um piloto que sobrevoava a área, hoje, por motivos de preservação, não se pode mergulhar nem fazer snorkel no seu entorno. Contemplá-lo durante o breve voo panorâmico, perfeitamente esculpido e rodeado de impressionante água turquesa, igual à visão que o piloto que o descobriu teve, é passeio tão prazeroso e inesquecível quanto alguns dos melhores mergulhos.
Ali é possível explorar o mar por baixo e por cima — de qualquer maneira, vale a pena
PARA FICAR COM ESTILO
Para se hospedar em terra firme, as melhores opções estão em Hamilton Island e em Hayman Island. A primeira é onde fica o belo Qualia (www.qualia.com.au), nome que significa “coleção de experiências sensoriais profundas” – e que o descreve perfeitamente. As suítes estão dispostas em elegantes e sofisticadas vilas-pavilhões (60 no total), espalhadas entre a mata virgem da geografia montanhosa desse pedaço da ilha, sempre com vista desobstruída para o horizonte tomado por água e ilhotas – o pôr do sol visto das varandas e piscinas é simplesmente arrebatador. Dentre os passeios disponíveis, barcos próprios fazem o transporte privativo de hóspede até as praias paradisíacas, onde são deixados com uma cesta de piquenique. No hotel, as refeições ficam todas sob o comando do chef Doug Innes-Will, cuja cozinha tenta refletir a atmosfera da ilha, com menus de alta gastronomia leves, frescos e saudáveis. E um belo spa oferece tratamentos antiestresse, anti-idade, desintoxicantes e relaxantes, com vista para o mar, incluindo o “Bularri Yarrul”, que utiliza pedras quentes com mais de 300 milhões de anos. Em Hayman Island, o belo resort One&Only Hayman Island Great Barrier Reef (oneandonlyresorts.com) toma conta de quase toda a ilha – e é o mais próximo hotel do idílico Heart Reef. A ilha, que já foi sede de laboratórios de pesquisa na primeira metade do século passado, hoje, como propriedade privada, abriga, desde 2014, o mais luxuoso resort das Ilhas Whitsunday. São quatro alas com diferentes propostas de hospedagem, incluindo espaçosas suítes com paredes de vidro, suítes com acesso direto à piscina principal, penthouses e vilas com piscinas privativas. As facilidades incluem um imenso spa com amplo menu de tratamentos, incluindo massagens realizadas ao ar livre e no mar e tratamentos para crianças. As opções de lazer incluem, além do impressionante complexo de piscinas, quadras esportivas, praias privativas desertas e do farto menu de esportes aquáticos, um campo de golfe com 18 buracos by Peter Thomson. E, como quem se hospeda ali geralmente acaba jantando no próprio resort, a gastronomia conta com restaurantes de especialidades australianas, italianas, chinesas e malaias. u
82 MARÉ ALTA
TROQUE O CARRO PELO BARCO
L
ocalizada no centro de um sistema de canais na província de Overijssel, na região leste da Holanda, quase no limite com a Alemanha, Giethoorn não tem ruas – mas apenas 90 quilômetros de canais e 176 pontes! Conhecida como a “Veneza holandesa”, foi fundada por fugitivos da região do Mediterrâneo por volta de 1230, e se manteve município independente até 1973, quando se tornou parte de Brederwiede. O nome de Giethoorn tem origem na descoberta, pelos primeiros habitantes, de centenas de chifres de cabra (gieteho-
rens) no pântano, vestígios de uma inundação no século 10. Hoje, nenhum chifre de cabra é encontrado ali, mas a vegetação ainda é bem distinta. A vasta série de lagos e canais é ideal para barcos, pesca, ciclismo e esportes náuticos. Encontra-se nas cercanias de um grande Parque Nacional: Wieden, que tem cerca de 6 mil hectares, lagoas, canhameirais, pântanos, prados úmidos e uma área natural única. Na parte velha da vila não há carros, apenas bicicletas, e todo o transporte é realizado principalmente sobre a água dos canais, utilizando embarcações similares às gôndolas, chamadas punter. Os turistas devem deixar seus carros para chegar a
Giethoorn é tão tranquila, tão diferente e tão bonita que nem parece real. É deslizando suavemente ao longo de pequenos canais que se explora a cidade, que, não por acaso, recebeu o apelido de “Veneza holandesa”
84 MARÉ ALTA
em os punters de Giethoorn e outros barcos de fundo plano para a região. No Museu Het Olde Maat Uus pode-se conferir como era uma típica casa de fazenda em Giethoorn, em 1800. O museu de Oude Aarde apresenta ampla coleção de pedras preciosas e minerais. E se você é apaixonado por carros antigos, o museu Histomobil possui uma vasta coleção de carros, motos e carruagens. Para chegar em Giethoorn, a maneira mais fácil é pegar o trem de Amsterdã até Zwolle, capital da província de Overijssel. Mas também é possível chegar ali de carro, em viagem de menos de duas horas.
AO REDOR DE GIETHOORN
Giethoorn a pé ou de bicicleta. Mas o mais gostoso na cidade é passear por seus canais e lagos – é possível alugar botes elétricos, a remos, ou os famosos punters. As casas parecem construídas sobre pequenas ilhas, as quais são acessíveis por meio de pontes. E no lugar do carro na garagem há sempre um barco ancorado por garantia. A maioria das 176 pontes foi construída pelos próprios moradores, para ligar suas casas às “ruas” adjacentes. O vilarejo, que atualmente conta com 2.620 habitantes, atraiu vários artistas ao longo dos anos, que elegeram cenas do local como tema. Muitos desses pintores pertenciam à Escola de Haia e Laren, como Cornelis Vreedenburgh. Alguns deles se estabeleceram definitivamente ali, como foi o caso de Piet Zwiers. Giethoorn ficou famosa em 1958, quando o cineasta holandês Bert Haanstra filmou a comédia Fanfare em seus cenários. Navegar, andar de bicicleta e caminhar pelas trilhas que rodeiam a aldeia são os melhores programas para explorá-la e sentir-se ingressando em um cenário de conto de fadas. Por ali, até mesmo o carteiro entrega a correspondência por meio de botes, e o som mais alto que se ouve é o canto dos pássaros. Embora haja passeios de barco organizados, é mais divertido alugar um pequeno barco elétrico que não requer grande habilidade técnica para operar, e acomoda até três pessoas confortavelmente. A maioria dos restaurantes do lado do canal os aluga e é uma maneira bem ao estilo Giethoorn para levar uma tarde deslizando pelas estreitas vias navegáveis, passando por graciosas pontes e observando agradáveis e acolhedoras casas de campo. Há uma grande variedade de cafés e restaurantes para paradas estratégicas. Além de explorar o ambiente rural e seus belos cenários, admirar os canais, lagoas e as paisagens, há mais possibilidades de passar o tempo livre. Com paciência você vai descobrir igrejas, antigas fazendas convertidas em habitações e um grande moinho de vento construído em 1837. Há três museus do lado do canal para visitar e o estaleiro Schreur, onde se pode ver o trabalho dos artesãos que constro-
Amsterdã é incrível, mas não se restrinja a ficar alguns dias ali, pois na área rural da Holanda há muito para ver e desfrutar. Giethoorn está situada na parte ocidental da região de Overijssel e, além de Giethoorn, há muitos lugares para visitar. Zwolle, a capital de Overijssel, data do século 9, embora seu auge se tenha dado no fim da Idade Média, quando foi admitida na Liga Hanseática. Praticamente, todos os edifícios e estátuas parecem ter uma história intrigante para contar, seja a fonte erigida em 1892 em honra do burgomeister (prefeito), cujas características rotundas podem ser reconhecidas nos bicos de água, ou o símbolo da cidade – Sassenpoort – o portão de 590 anos, onde o óleo fervendo e o alcatrão eram derramados sobre os inimigos invasores. A oeste de Zwolle, o distrito de Ommen é bastante arborizado e suavemente montanhoso, perfeito para a prática do ciclismo. A maioria das estradas do país tem um caminho de bicicleta separado, protegido por uma fileira de árvores altas e retas. Markelo é um refúgio de férias popular. Aninhado nas colinas, suas trilhas que atravessam florestas atraem os amantes da natureza. Várias casas de fazenda antigas foram convertidas em pousadas, como a da família Lammertink, de 500 anos. As chaminés abertas, as paredes com azulejos azuis e brancos, os pavimentos de paralelepípedos e os vasos transbordando de flores encantam instantaneamente o visitante. A cidade vizinha de Diepenheim é cercada por cinco castelos, resultado da rivalidade entre os bispos de Munster e Utrecht. Como Diepenheim estava entre os dois domínios, foi muito disputada durante a Idade Média. Amantes de plantas devem fazer uma parada para visitar o Castelo Warmelo, cujas partes datam de 1457. Seus jardins franceses foram originalmente concebidos no estilo naturalista inglês. Mais tarde, um jardim vitoriano foi adicionado. É um lugar tranquilo e perfeito para comparar as tendências de jardinagem ao longo dos séculos, com fúcsias, azáleas, rododendros e rosas proporcionando um colorido surpreendente. Perto da fronteira alemã, Ootmarsum é uma encantadora cidade antiga, onde tradições centenárias ainda são praticadas. Embora a cidade tenha sido estabelecida em 126 a.C., a maioria de seus edifícios é do século 18 e seu centro uma mistura de ruas de paralelepípedos e praças. u
Canais como ruas, barcos como veículos de transporte, casas sem muros, pequenas pontes e jardins floridos — e não é conto de fadas!
86 MARÉ ALTA
CALIFORNIA
DREAMING
É difícil acreditar que ondas gigantes, do tamanho daquelas do Havaí, sejam comuns na costa norte da Califórnia. Mavericks faz a alegria de surfistas do mundo inteiro
M
avericks, perto de Half Moon Bay, a apenas 20 minutos ao sul de São Francisco e perto do coração do Vale do Silício, no norte da Califórnia, abriga um dos melhores e maiores picos de surfe do mundo. As arrebentações formadas por ondas batizadas de “mavericks” (ou simplesmente “Mavs” para os fãs de ondas grandes), que deram nome ao lugar, são monstruosidades que atingem regularmente uma crista de 7,6 metros, com algumas chegando a 24 metros e explodindo com tanta força que pode ser gravada na escala Richter. Durante muito tempo o local foi o parque de diversões de alguns poucos surfistas até que, em 1990, a Surfer Magazine publicou uma reportagem com fotos das ondas – e Mavericks virou destino obrigatório para qualquer surfista. Cientistas americanos estudaram o local para saber o que faz essa onda tão gigante, e apresentaram mapas bem detalhados do fundo do mar. Devido à topografia acidentada do recife rochoso em Mavericks, a energia das ondas que vem do oeste interage com o fundo e se converte em altura. Em 1999, a primeira competição realizada em Mavericks transformou o lugar de um point conhecido por poucos
88 MARÉ ALTA
em fenômeno internacional. Realizadas sempre que as condições permitem, algumas competições fazem um tributo a todos os que desafiaram os limites, como Mark Foo, que desapareceu em 1994, após dropar uma onda de 18 pés, e o havaiano Sion Milosky, que morreu surfando por lá em 2011. Considerado o mais cobiçado evento de ondas grandes, Titãs de Mavericks é uma das competições mais perigosas do mundo, e reúne um seleto grupo de surfistas profissionais de ondas gigantes de todas as partes do planeta (24 homens e 6 mulheres). Acontecerá dia 31 de março, mas o horário de início só é anunciado com 24 horas de antecedência, de modo que os surfistas devem estar prontos para levar suas pranchas e partir assim que Mavericks receber sinal verde. O mesmo vale para os fãs. Nos points com as melhores vistas à beira-mar, há pessoas enfileiradas olhando por telescópios, teleobjetivas e binóculos, tentando ver um pouco da ação no mar. Uma opção mais fácil é participar do clima de festival da cidade, normalmente no estacionamento do Oceano Hotel & Spa: muita praia, surf music, comida e bebida. Se quiser conferir de perto, pegue um dos tours que levam de barco até o pico – há até tours de duas horas que combinam a visita ao pico com observação de baleias. Quando a competição terminar, fique para conferir a premiação, quando os surfistas normalmente permanecem no local para bater um papo com os fãs. u
90 DIÁRIO DE BORDO
por MARCIO MORAES fotos SHUTTERSTOCK
NOVA ZELÂNDIA Conheça os motivos que fazem desse pedacinho de terra no meio do Pacífico um dos destinos mais sedutores e completos do planeta
Tour de caiaque no Parque Nacional Abel Tasman
Safári no rio Haast
Plenitude é a palavra que define a Nova Zelândia, terra de praia e neve, vales profundos e picos montanhosos, esportes radicais e rituais tradicionais, de fantasias, gêiseres, fiordes e hobbits. O país é, sem dúvida, um destino pelo qual valeu a pena literalmente cruzar o mundo. Multicultural, multifacetado, sustentável e dinâmico. Povo feliz e aberto, hospitalidade que vem do coração. A viagem até lá cruza todos os fusos horários, dura, aproximadamente, 24 horas em voo, e o país consegue se virar muito bem sem o controle de uma superpotência. Em 2015, ficou em 9º lugar no ranking da ONU que classifica os melhores locais para se viver no mundo. Ostenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) altíssimo e é referência em educação pública, liberdade econômica e de imprensa, combate à corrupção e proteção dos direitos civis e políticos. Em resumo, é o paraíso na Terra. Com área de 270 quilômetros quadrados, equivalente ao Japão ou à Califórnia (EUA), a Nova Zelândia tem tamanho inversamente proporcional aos encantos que enriquecem suas principais ilhas, Norte e Sul. Vou falar um pouco da Ilha Sul nesta edição, mas fiquem atentos que, na próxima, conto o que gostei na Ilha Norte. Esparsamente povoada, a Ilha Sul é responsável pela fama neozelandesa de ser a capital mundial dos esportes radicais. Um ambiente inóspito convida jovens aventureiros a percorrer glaciares, picos nevados e praias frequentadas por focas e baleias, e a praticar balonismo, escaladas, paraquedismo, bungee jump e esqui. Um dos três destinos mais populares do país é Queenstown, cidade dedicada aos amantes de adrenalina. Foi lá que aconteceu o primeiro salto de bungee jump comercial do mundo, em 1988, e que se estabeleceu, pela primeira vez, o conceito de turismo de aventura. A oferta é vasta: paraquedismo, parapente, asa delta, rafting, esqui aquático... Basta escolher o esporte, respirar fundo, juntar coragem
Localizada na parte superior da Ilha Sul, Malborough é a região vinícola da Nova Zelândia
e seguir em frente, aproveitando a paisagem que, de tão linda, faz muitos se esquecerem do risco. Os Alpes do Sul formam a cordilheira glacial que se estende por 540 quilômetros e divide a ilha ao meio, como uma espinha dorsal. De um lado, a costa oeste, porção mais intacta do país que oferece acesso a cinco dos 14 parques nacionais do país. No litoral, é possível fazer observação de focas, golfinhos e baleias cachalote. Do outro lado, Canterbury, maior região da ilha, que inclui a charmosa cidade de Christchurch, cuja influência britânica permanece até hoje. Outro destaque na região é o Spa Hanmer Springs, que une um cenário alpino com nascentes termais, tratamentos estéticos e relaxantes e ainda atividades de aventura. A agradável surpresa da viagem é a região de Southern Lakes, que abrange a porção oeste do extremo sul do país e foi designada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, pelo reconhecimento como um “lugar especial” no mundo. Southern Lakes abriga também o maior parque nacional da Nova Zelândia, o Fiordland, que se estende por 1,2 milhão de hectares de vales rochosos, profundos e exuberantes, cortados por rios – conhecidos também como fiordes. Os mais icônicos são Milford Sound e Doubtful Sound. A área pode ser explorada a pé, de caiaque, barco ou em sobrevoo. As principais trilhas incluem Routeburn, Milford e Hollyford, que permitem a observação de aves raras, focas e golfinhos, passando por locais históricos, onde se deu o início da civilização maori e da colonização inglesa. E o trajeto pela ilha da Nova Zelândia chega ao fim, em grande estilo, na pequenina cidade litorânea de Bluff, onde é possível experimentar a famosa ostra Bluff, iguaria que colocou o destino portuário sob o foco dos amantes da gastronomia. Na próxima coluna vamos conhecer um pouco mais sobre a Ilha do Norte, como suas praias, grandes cidades e o local que foi usado para as filmagens da morada dos hobbits na famosa trilogia O Senhor dos Anéis.
Pesca no rio Dart
Horse track na praia Wharariki
92 TIMÃO
por ANTONELLA KANN
ESSAOUIRA, ONDE OS VENTOS NÃO FAZEM CURVA Aninhada na beira do Atlântico, Essaouira parece estar bem mais afastada do que as duas horas que a separam do burburinho de Marrakech. Isso porque, felizmente, tornou-se Patrimônio da Unesco e preserva um caráter único, que a distingue de outras cidades marroquinas mais badaladas. Ainda hoje é conhecida por seu nome lusitano – Mogador, herança deixada pelos portugueses que, no comecinho do século 16, ancoraram nesse pequeno porto encravado entre Agadir e Casablanca. No mundo moderno, a região deve sua fama internacional às rajadas de vento, razão pela qual se tornou o nicho perfeito para a prática de esportes náuticos. Durante o ano inteiro, principalmente nos meses de julho e agosto, Essaouira atrai praticantes de wind e kitesurfe para as suas praias semidesertas. E, embora esteja chamando cada vez mais a atenção dos viajantes, consegue a proeza de figurar como um destino que ainda se mantém discreto. De fato, a sua Medina é considerada a mais tranquila de todo o Marrocos. A infraestrutura hoteleira é brindada com hotéis excelentes, mas o destaque fica mesmo com o Heure-Bleue Palais, um requintado Riad que pertence à cadeia Relais& Châteaux. www.heure-bleue.com
PLANA SUB, DIVERSÃO À NORONHA O programinha é imperdível mesmo para quem tem medo de mergulhar: puxado por um cabo a 4 km/h, você pode curtir toda a beleza dos corais do fundo do mar de Fernando de Noronha sem ter de afundar ou usar equipamento especial. Inventado por aquelas bandas, o Plana Sub consiste numa engenhoca simples, uma espécie de prancha em formato de meia-lua que você segura com as duas mãos e assim se mantém flutuando na superfície. Ao mesmo tempo, também permite estripulias, como fazer piruetas, ir para o fundo – tudo isso sem qualquer risco, porque basta um leve movimento das mãos para impulsioná-lo de volta. Se cansar, a tripulação puxa você de volta para a embarcação. Basta uma máscara e um respirador para curtir o mar transparente e piscoso dessa ilha paradisíaca, onde nadam tartarugas, lagostas, arraias, moreias e muitos outros habitués marítimos locais, zelosamente protegidos pelo Ibama. Para agendar essa brincadeira, que dura cerca de 3 horas e custa R$ 80 por pessoa, incluindo equipamento, basta dirigir-se a um dos centros de apoio ao turista espalhados na Vila dos Remédios, no porto e nas melhores pousadas.
ÈZE, BEM NO ALTO DA MONTANHA A vista é de tirar o fôlego: toda a baía da Côte d’Azur aos seus pés, enquanto você degusta um daqueles pratos mediterrâneos à base de peixe, camarão e lagosta, regado a um bom vinho regional. O vilarejo, onde não entra carro, chama-se Èze e está encravado numa montanha a apenas 8 quilômetros de distância de Mônaco e 12 de Nice. Ou seja, vale uma escapada para almoçar, perambular sem rumo pelas estreitas ruelas medievais, garimpando lembrancinhas provençais pelo caminho e apreciar a paisagem. Entretanto, quem quiser realmente aproveitar a ocasião para celebrar alguma data, anote: apesar do seu tamanho, Èze oferece hospedagem de alto luxo com estabelecimentos de primeira categoria. Dá para comemorar em grande estilo no Château Eza (www.chateaueza.com), também conhecido como o Castelo do Príncipe da Suécia (que era o antigo dono desse hotel-restaurante), cuja construção data do século 15 e tem dez suntuosas suítes que se debruçam sobre o mar cristalino a mais de mil metros de altura. O serviço é “real” (e as diárias, diga-se de passagem, também), mas uma estadia lá vale cada tostão. Detalhe: suas bagagens são trazidas por um burrico.
MAINE, ONDE VIVE A PRIMA DA LAGOSTA O estado do Maine, no leste dos EUA, é conhecido como um dos lugares mais incríveis para se deliciar com lagostas – ou melhor, a lobster ou homard, que, de fato, é um “primo” com muitas semelhanças, mas com sabor diferenciado. A região costeira, principalmente, é uma sequência de palcos para qualquer apreciador se familiarizar com o crustáceo. E também admirar a paisagem que é de cortar o fôlego. E, ao contrário do que acontece no Brasil, a lagosta do Maine é pescada o ano inteiro, e não falta para ninguém. A explicação é simples: existe um comportamento consensual, adotado por todos os pescadores profissionais da região, ou seja, um modus operandi que preserva a espécie. Não podem ser maiores ou menores do que determinado tamanho e fêmeas com ovas são poupadas. Em suma, são as medidas do bicho que vão determinar se ele vai ser devolvido ao mar ou se vai para a panela. E assim elimina-se o perigo de extinção e todo mundo fica feliz 365 dias por ano. Coloque no seu itinerário um simpático vilarejo chamado Kennebunkport, onde se encontram pescadores dispostos a contar tintim por tintim os procedimentos de como é o trade por aquelas bandas. E aproveite para jantar e pernoitar no The White Barn Inn & Spa, um hotel que merece seu rótulo de Relais & Châteaux. www.gracehotels.com
94 HOTEL
NO LUGAR CERTO
Pulsante e bem localizado, com spa, vários restaurantes e o mais concorrido chá da tarde de Londres, o hotel The Dorchester é o lugar perfeito para se hospedar na capital inglesa
A
s luxuosas suítes do hotel The Dorchester, em Londres, foram feitas para que a gente se sinta em casa. E, dependendo da escolha, você vai é se sentir num castelo. Com tantos cuidados, como a máster banheira de hidromassagem, os cosméticos do famoso spa, a máquina de café que não nos deixa passar vontade a qualquer hora do dia ou da noite e algumas opções de guloseimas ali, à mão, é capaz de você se sentir a princesa do castelo. Ao descer para conferir o concorrido ritual clássico e refinado do chá da tarde, servido no seu suntuoso salão Promenade, com uma sucessão de delícias irresistíveis, pode-se chegar à conclusão de que nesse castelo só falta mesmo o príncipe – pelo menos no meu caso. De resto, está tudo ali: elegância, decoração suntuosa e serviço pessoal de alto padrão. Não por acaso, é frequentado por empresários e executivos, e é ponto de encontro de alguns famosos e influentes. De repente, com um pouco de sorte, você tropeça no seu príncipe... Já pensou nisso? Localizado em uma das mais nobres áreas da cidade – Park Lane –, no coração do
Ao lado, as amplas salas da suíte Dorchester. Abaixo, o mais autêntico espírito inglês no The Promenade. Na outra página, a simpática entrada do hotel em frente à pracinha florida
96 HOTEL
bairro Mayfair e de frente para o Hyde Park, The Dorchester ainda reúne alguns dos melhores restaurantes de Londres, incluindo o três estrelas Michelin Alain Ducasse, que serve cozinha francesa contemporânea, o China Tang, com autênticos pratos cantoneses, e The Grill, com a moderna gastronomia britânica. No coração do hotel, com suas ricas cortinas de seda e espelhos com molduras douradas, The Promenade recebe para o tradicional chá da tarde, enquanto The Bar convida os hóspedes para um happy hour fora do comum – para começar ou encerrar a noite. O melhor de tudo é que, além do movimento de hóspedes, o hotel é, de fato, parte da vida dos moradores e por isso é pulsante, movimentado e interessante. Para se ter ideia, Kate Moss comemorou seu aniversário de 43 anos no restaurante chinês China Tang, no The Dorchester, em janeiro passado. No mesmo cenário em que o príncipe Phillipe organizou um grande baile para comemorar seu casamento com Elizabeth II, atual rainha da Inglaterra, em 1947. Ao mesmo tempo que o ambiente solene no clássico estilo art déco, que remonta à origem do hotel, em 1931, dá um ar suntuoso, o local transborda de glamour porque tem uma faceta contemporânea e um clima que pode ser traduzido como ótima energia, que se estende ao Spa The Dorchester, que é um delicioso ponto de tratamento e relaxamento em Londres. O emblemático hotel, considerado um dos melhores do mundo, conta com 250 suítes e quartos. Ao longo das décadas, The Dorchester convida designers de interiores para atualizar salas, sem perder a personalidade. Em 2002, o hotel passou por uma restauração de vários milhões de libras, que proporcionou a renovação de quartos e suítes, e incluiu um sistema de entretenimento e negócios de alta tecnologia em cada quarto, além de um sistema de telecomunicações bem avançado. As novas suítes permanecem fiéis ao estilo clássico inglês do hotel, enquanto o novo design combina o conforto contemporâneo com o glamour atemporal e a herança da propriedade de renome mundial. u
The Dorchester 45 Park Lane, Londres, www.dorchestercollection.com
Ao lado, o restaurante de Alan Ducasse no The Dorchester. Abaixo, o quarto da suíte Dorchester. Na outra página, de cima para baixo: The Bar, para começar ou encerrar a noite; sala de relaxamento no Spa do hotel; e vista do The Promenade, coração e alma do The Dorchester
98 AVENTURA
texto e fotos FELIPE MORTARA
SONHO E ACASO NO PACÍFICO SUL
Como um almoço despretensioso se transformou num convite para descobrir, a bordo de um veleiro de luxo, a mítica ilha de Bora Bora, na Polinésia Francesa
N
ão tinha nem cinco minutos que o sujeito havia pedido permissão para se sentar à minha mesa. Fechei o caderno e passei a escutá-lo, num inglês que exigia atenção máxima dos meus ouvidos. Simpático, na faixa dos 50 anos, pele bem bronzeada, cabelos que passaram de loiros a grisalhos há algum tempo, a regata azul pareava com os olhos. Ah, e uma simplicidade que só o mar imprime às almas dos que nele se embrenham. Terry Dunn era um sujeito leve e descontraído, talvez só quisesse prosear. Embora meu dia tivesse começado esquisito na turística ilha de Moorea, engatei um papo, me apresentei como jornalista brasileiro escrevendo uma grande reportagem sobre a Polinésia Francesa. Até hoje não sei bem o quê o levou a fazer o convite. “Você gostaria de velejar conosco até as ilhas de Huahine e Raiatea?”. Macaco quer banana? Deputado quer propina? Boca quer cerveja gelada? Oras, era claro que a proposta deflagrada naquela tarde do último mês de setembro me apetecia. E não era pouco. Só que algo me impediu de aceitar logo de cara. Surpresa mesclada com um quê de desconfiança. Além de já ter programação para as duas semanas seguintes, coisas facilmente adiáveis, é verdade, me deu uma bobeira momentânea. Vem cá, mas não é estranho você acabar de conhecer um sujeito e ele te propor uma viagem irrecusável? “Aparento ter rins saudáveis?”, pensei. Aliás, passou um pouco de tudo pela minha cabeça. Mas algo em mim sorria. Em pouco tempo juntou-se à mesa sua carismática esposa, esguia, também na casa dos 50, loira, igualmente bronzeada, mas com um inglês um tanto mais claro. Cindy era claramente mais prática e menos sonhadora do que o marido. Canadense há muitas décadas na Nova Zelândia, onde conheceu o marido, nativo da Ilha Norte. Dizem que o inesperado vem
quando deixamos de ter expectativas. Sinceramente, não tenho motivos para desmentir essa tese. Inclusive, quanto menos ansiedade se carrega a respeito de algo, maiores as chances de outra coisa, ainda melhor e mais surpreendente, acontecer. Energias reverberam e alguns momentos particulares da vida deixam isso muito claro. Que bom. Dali a quatro dias estava de mochila nas costas, no mesmo restaurante Lilikoi Garden Café, onde nos conhecêramos, pronto para embarcar no veleiro Elvis Magic. Ancorado na Baía de Oponohu, flutuava a confortável embarcação de 66 pés, lançada ao mar em 2010 pela marca Oyster. De propriedade de um irlandês de nome Graham, que conheceram nas Ilhas Marquesas, o barco estava em um delivery capitaneado por Terry, que exerce regularmente a função de skipper. Por sinal, a gentil e divertida irmã dele, Maureen, apanhou um voo e veio da Nova Zelândia percorrer o trecho entre Moorea e Tonga, de onde voaria de volta. Por questões de cronograma foi decidido que iríamos direto para Raiatea, a 109 milhas náuticas, passando direto por Huahine. De lá, seguiriam para a mítica ilha de Bora Bora e em seguida navegariam até Tonga e Nova Zelândia. Eu me despediria e seguiria de volta para Tahiti, onde estava baseado durante 60 dias. Pronto, esses eram os planos. Sob as luzes mágicas de um entardecer alaranjado, a partida de Moorea deu-se com os picos dentados da ilha cobertos por nuvens coloridas. Difícil não se distrair ao sair do anel de coral que cerca a ilha. Sem a menor sombra de dúvida, um dos mais belos lugares que já vi – Hollywood descobriu isso na década de 1960, quando foi rodado ali o filme O Grande Motim (1962), com Marlon Brando. Porém, aposto que a equipe de produção não tinha ao redor quase uma dezena de baleias-jubarte saltando e
A chegada do veleiro Elvis Magic na mĂtica ilha de Bora Bora. Na outra pĂĄgina, ancoragem em Raiatea, conhecida como Ilha Sagrada, e a beleza idĂlica de Matira Beach, uma imensa piscina turquesa
100 AVENTURA rodopiando suas nadadeiras naquele mar. Entre julho e novembro, as gigantes são figurinhas fáceis em Moorea e na ilha vizinha do Tahiti, onde fica Papeete, a capital da Polinésia Francesa. Território ultramarino francês, é composto de 118 ilhas em seis diferentes arquipélagos – nós ficaríamos apenas nas Ilhas Sociedade, cujas principais ínsulas são Tahiti, Moorea, Bora Bora, Raiatea, Tahaa, Maupiti e Huahine. Embalados por ventos de popa de 6 nós, uma noite tranquila de navegação nos teve em dois turnos de quatro horas, com dois tripulantes cada. Logo depois do jantar estreei minha confortável cabine de proa de bombordo, com banheiro, um pouco abafada. Da meia-noite às 4 da manhã, eu e Cindy proseamos sob um céu absurdamente estrelado, entre uma ronda e outra no radar e no visual. Ao amanhecer já margeávamos a longilínea Raiatea. Pelas 8 da manhã, uma surpresa: um atum de cerca de 6 quilos mordeu a isca! Que alegria garantir um lindo jantar logo pela manhã. A maior parte das ilhas do arquipélago é envolta por anéis de coral, oriundos de formação vulcânica, o que torna as entradas e saídas sempre delicadas. As aberturas nesses cinturões são conhecidas como passos e o de Miri-Miri era especialmente belo. Uma pequena ilha (localmente, as ilhotas são chamadas motus), com areia clarinha e coqueiros, diante da qual ondas de 2 metros se espatifavam azuis, em tubos cilíndricos quase translúcidos, para a direita e para a esquerda. Delírio visual não apenas para surfistas, mas para qualquer amante da natureza. A ancoragem próxima à Marina Carenage, em Raiatea, foi delicada. O vento incessante tinha picos de 40 nós e deixava Terry apavorado com a possibilidade de o Elvis Magic se soltar e colidir com outros veleiros ao redor. Por conta disso, nos quatro dias seguintes sempre haveria alguém a
bordo. Ainda assim, conseguimos alugar um carro e dar uma volta na ilha, muito verde e montanhosa por dentro, com o pico do Monte Temehani se sobressaindo a 1.017 metros. Conhecida como Ilha Sagrada, Raiatea abriga as ruínas do Marae Taputapuatea, o maior e mais venerado templo de toda a Polinésia Francesa. Os antigos povos do Pacífico Sul veneravam seus mortos e seus deuses nesse amplo complexo de pedras empilhadas em face do nascer do sol. Deslumbrante e poderoso lugar. Pequenina e sem o menor ar de cidade grande, Uturoa faz as vezes de capital de Raiatea e pode ser percorrida a pé em cinco minutos. Ali, vale explorar as barraquinhas do andar de cima do mercado municipal, com belos artesanatos, principalmente feitos com pérolas negras. Vale muito a pena conhecer de perto o cultivo dessas preciosidades subaquáticas. Durante a volta da ilha descobri a Perle d’Ô (PK 9.5), fazenda de ostras onde o atencioso Raimana nos levou para entender o passo a passo da produção das valiosas esferas não apenas acinzentadas, mas de múltiplas tonalidades e formatos. Uma imersão num universo que parece tão distante, mas que é tão rico de sabedoria e tradição. Não vá achando que são impagáveis, pois há várias pérolas consideradas imperfeitas, que são vendidas por preços na casa de US$ 20, rendendo assim lindos presentes para pessoas queridas que saberão admirar a beleza de curvas assimétricas, dos formatos de gota e de ranhuras poéticas. Talvez a grande beleza das ilhas polinésias seja essa soma de beleza intrínseca e pequenas deformidades, que quebram a linearidade e lhe dão um sentido próprio, autêntico. Não há lugar como esse. Envolta no mesmo anel de corais de Raiatea, e por onde se chega de barco em 45 minutos, a ilha vizinha de Tahaa é a maior produtora de favas de baunilha da Polinésia e grande responsável por esse item de exportação.
Embora não tenha conseguido visitar a ilha, por conta do cronograma do barco, só de avistar suas águas azulzinhas ao longe me enchi de vontade. Contudo, ainda em Raiatea, pude aproveitar um dos mais belos mergulhos das Ilhas Sociedade. O Passo de Teavapiti é por onde entra e sai a maior parte da vida marinha que vive no entorno da barreira de coral. Na mudança de maré se dá ali um grande – e intenso – espetáculo. É preciso técnica para lidar com a potente correnteza, mas, acima de tudo, calma para contemplar cardumes de xaréus, garoupas e barracudas passando ao redor. Bandos de budiões e peixes-borboleta rondam curiosos os visitantes e suas imensas bolhas de ar. Tubarões-galha-preta e cinza aparecem para conferir as criaturas com roupas coloridas, que se agarram em pedras para não terminarem a submersão precocemente. O segundo mergulho, no ponto conhecido como Miri-Miri, mostrou-me que existe uma translucidez possível e inimaginável naquelas águas encantadas do Pacífico. Cheguei a acreditar que voava ou que estava flutuando no espaço, quando não podia enxergar absolutamente nada entre mim e o tubarão de recife, que me encarava olhos nos olhos, a três palmos de distância. Se dá medo? Dá medo de nunca mais poder ver aquilo de novo, isso sim. Nunca do animal que não o vê como presa, que é pescado aos milhões anualmente. Observar cada textura e curva da pele daquele belo espécime a poucos centímetros do vidro da máscara é regalia divina. Admirei a maior anêmona que já vi, repleta de peixes-palhaço bebês, o famoso Nemo. Aliás, “que eu já vi” se tornou uma expressão de praxe na Polinésia Francesa. Em meu diário de bordo há inúmeros registros comentando algo mais bonito, mais intenso ou mais assustador “que já vi”. Aliás,
nesses dois mergulhos havia esquecido de recarregar a bateria de minha câmera subaquática e tive de registrar esses grandes momentos apenas na mente e no caderno. Um lindo exercício, afinal. A atmosfera a bordo do barco fica mais plena e mais latina com a chegada de Grace Pincay e Haritz Urteaga, respectivamente, equatoriana e basco. O casal se conheceu no Equador e, após viver por seis anos nas Ilhas Galápagos como instrutores de mergulho, resolveram rumar à Nova Zelândia de carona em veleiros e seguiriam com Terry e Cindy até lá. Vivendo há meses em suas mochilas e barraca, a dupla trouxe um frescor nômade a bordo e muita proatividade para as obrigações mais chatinhas da rotina do barco. Tivemos uma agitada manhã de faxina, que culminou com a chegada do avião de Laurence e Kei Anzai, francesa e japonês, ela dona do Lilikoi Garden Café, em Moorea, onde conheci Terry e Cindy, ele professor numa escola em Papeete. Durante os primeiros dias, eu assumi as panelas e, modéstia lá na Polinésia, conquistei os estômagos dos outros tripulantes. Só que, com a presença de Laurence na cozinha do Elvis Magic, passei a coadjuvante no preparo dos ingredientes – e todos ficaram ainda mais felizes com a torta, o ceviche e o brownie divinos. Essa placidez no convívio a bordo é uma ciência inexata e sem fórmula precisa, às vezes apenas dá liga. Ainda bem. Mas eu deveria partir no dia seguinte e retornar ao Tahiti, pois o combinado era esse. Já havia até cedido meu quarto ao casal latino, mudando-me para a beliche de cima do quartinho transformado em despensa. Mesmo sitiado por vegetais enlatados e pacotes de macarrão, estava mais confortável do que em grande parte dos hostels onde dormi ao longo da vida. Na minha última noite a bordo, com as mãos de cebola para um omeHotel Intercontinental, na Matira Beach, com os bangalôs que deram fama à Bora Bora. Na outra página, peixes borboleta e meninas em Moorea
102 AVENTURA lete, Terry e Cindy me abordaram e me chamaram a um canto. Contaram estar muito felizes e satisfeitos comigo e me convidaram a seguir com eles para Bora Bora. Baita surpresa, a minha. Já estava tão feliz com a chance de aprender mais sobre vela e de desfrutar daquele paraíso de Raiatea, aquilo bastava. Como foi bom ser impressionado novamente. Respondi com um sorriso e um abraço acebolado em cada um. Ao alvorecer levantamos âncora depois do café da manhã. Bora Bora despontava a oeste, com o Monte Temanu aflorando no horizonte. Sol, céu azul, calor e ventos de 7 nós. Ao longo de seis horas víamos a linda montanha não apenas se aproximar, mas mudar de formato à medida que contornávamos a mítica ilha até alcançar o Passo de Tapu, por onde o Elvis Magic entrou placidamente. Aquele nome, Bora Bora, reverberava na minha mente. Que sonho aportar ali, que bom nunca haver imaginado algo assim, torna tudo ainda mais significativo e inesperado. Ancoramos numa poita da Marina de Vaitapé, a cidadezinha da ilha com cerca de 3 mil habitantes. A essa altura, ainda não tínhamos visto direito as cores deslumbrantes do mar, pois estávamos em áreas mais fundas, portanto, com água mais escura – ainda assim, de um azul potente. Depois de um primeiro fim de tarde com banho de piscina na marina, voltamos a bordo, onde bebemos, cozinhamos e papeamos. Embora o inglês fosse o principal idioma, adorei gastar meu portunhol com Haritz e Grace. Apesar da chuva no segundo dia em Bora Bora, conseguimos fazer boas compras no supermercado e é impressionante como cozinhando a bordo e dividindo em oito pessoas os custos são baixos: com cerveja custou 12 dólares por dia por pessoa. Bastou o sol dar as caras sutilmente e seguimos todos os oito no bote até o Motu Tapu. Amontoados, recebemos
o apelido de “refugiados” por parte do dono de um veleiro amigo, o Exit Strategy. Nos recifes, lindos peixes coloridos, arraias-chita e manteiga e até mesmo um tímido tubarão-galha-branca. A luz estava linda e o entardecer deu uma prévia de seu potencial. No terceiro dia, aí sim, Bora Bora arregaçou as manguinhas, mostrou a que veio e justificou o renome. Apinhado de forasteiros, nosso bote rasgava as águas na direção leste. O vento contra até queria nos parar, como se protegesse um segredo. Ao dobrarmos a Ponta Rahiti, o mistério começou a se revelar. As tonalidades do mar sacaneavam nossas retinas. Ninguém a bordo sequer tentava esconder a excitação. Éramos crianças gargalhando. A bombordo, os três montes, Nue, Pahia e Temanu, pareciam disputar atenção com a salada líquida azul e verde que os raios de sol transformavam a cada instante. Felizes e aprisionados numa imensa piscina turquesa que atendia pelo nome de Matira Beach, uma das poucas praias públicas da ilha. As outras estão “apropriadas” pelos hotéis. Enfim, encontráramos a nossa Terra do Nunca. Logo ali do lado, a tripulação comprovou sua cara de pau ao invadir o Hotel Intercontinental. Finalmente, vimos os famosos bangalôs sobre as águas, que deram fama a Bora Bora. Emoldurados pelo Monte Temanu, envoltos em prainhas pequeninas e perfeitinhas, por fim descobri o romantismo da ilha. Ainda que a primeira cena tenha sido um estabanado casal de meia-idade virando uma canoa – não contive o riso. Destino cobiçado de lua de mel, é comum ver cerimônias de união nos hotéis, em geral aos moldes de casamento polinésio, com a noiva e o noivo chegando em barquinhos diferentes. Enquanto alguns tripulantes do Elvis Magic aproveitavam as espreguiçadeiras como se fossem hóspedes, outros admiravam o “sim”
de uma noiva rechonchuda, branquinha e com cara de mulher mais feliz do mundo. Motivos não faltavam. De volta à nossa também confortável pensão flutuante, ainda ganhamos de presente o pôr do sol mais lindo da viagem. Nos meus 62 dias de Polinésia Francesa eu não veria nada como aquela batalha de tons rosáceos, magenta e alaranjados a cobrir tudo ao redor. As definições de absurdo foram atualizadas. Já era noitinha quando recebemos Liam, um neozelandês de 24 anos, fortinho e bem educado, que voltaria para casa após dois anos viajando e trabalhando. Assim, Terry e Cindy teriam a companhia de Haritz, Grace e Liam, e com cinco tripulantes os turnos de uma jornada de 30 dias ficam deveras mais leves e menos entediantes. Portanto, nos dias seguintes, eu, Laurence e Kei desembarcaríamos em Bora, e lá em Tonga – ainda distante cinco dias de navegação – a Maureen apanharia seu avião para Wellington. O derradeiro dia aproveitável começou com um mergulho logo cedo do lado de fora da lagoa. A 23 metros de profundidade, uma série de corais duros forrava o fundo do mar, abrigando peixinhos miúdos e coloridos. Nada de muito grande até o momento em que dois tubarões-limão de mais de 2 metros começaram a procurar comida perto de nós – o grande barato daquela manhã. De volta ao Elvis Magic, embarcamos todos no bote (agora éramos nove!) e o valente motor de popa de 30 cavalos lutou bravamente por uma hora contra o vento e o mar batido. Encharcados chegamos ao Motu Há’apiti Rahi, do lado oposto de nossa ancoragem. Passei um tempo em meu diário de bordo, tentando definir a cor do mar. Cor de água, cor de areia ou cor de aconchego. Afora que o lugar é lindíssimo, não cheguei a conclusão alguma. Um piquenique com cerveja deu-se à sombra de uns
Raiatea vista do avião. Na outra página, a tripulação “multinacionalidades” do Elvis Magic e todos os tons de azul e verde nas águas de Haapiti Rahi
arbustos, espremidos entre a vegetação e a imensidão líquida. Brindes e mais brindes ao entardecer. Cada lata de Hinano, cerveja nacional e marca mais querida do país, parece fabricada exatamente para descer garganta abaixo diante daqueles matizes. Um a um, todos encontravam em prosas e risadas suas afinidades, escutavam-se e contavam de suas vidas “reais”, o que eram longe daquele sonho. De tal sorte que mostravam aos outros, a cada segundo de atenção, o valor que davam àqueles dias privilegiadíssimos. Quatro neozelandeses, um basco, uma equatoriana, um brasileiro, um japonês e uma francesa. Juntos. Aqui e ali já se escutava sobre um tal futuro encontro, em 2018, lá pras bandas da Nova Zelândia. Chegada a hora da minha partida, arrumei a mala, metódico, evitando pensar muito. Apenas grato à gentileza de Terry e Cindy, à sua vontade de compartilhar, de aprender e ensinar. Poucas coisas carregam tanta verdade quanto despedidas. Despedidas fáceis, só as que carecem de afeto. A força de um abraço, a sinceridade de um beijo, tudo ganha dimensão maior. Sobre o convés do Elvis Magic, todos acenavam teatralmente com panos brancos, enquanto o casal anfitrião me levava de bote até o cais de Vaitapé, onde outro barco me conduziria ao aeroporto de Bora Bora. Deixei meu coração naquele veleiro de bandeira das Ilhas Virgens, apenas para pagar menos impostos. Eu paguei com entrega e envolvimento ao bem-estar de todos. Terry me deu um abraço apertado como nunca recebi de um anglo-saxão – deve ser coisa de gente do Hemisfério Sul. Metida a durona, Cindy segurou as lágrimas no cais, mas bastou entrar no bote para desabar em choro. Dias inesperados e surpreendentes. É inspirador não apenas encontrar, mas simplesmente saber que ainda há gente assim mundo afora. u
104 MUSEU
Criação do arquiteto norte-americano Frank Gehry, o Museu Guggenheim de Bilbao, Espanha, completa 20 anos como um marco arquitetônico que mais parece um barco navegando pelo Rio Nervión
Q
uando Frank Lloyd Wright plantou sua “batedeira” – o museu Solomon R. Guggenheim – em plena Quinta Avenida, em Nova York, criou o museu-espetáculo, aquele que é uma atração em si. Pipocaram museus pelo mundo em formas e plantas inusitadas, mas em poucos lugares isso é tão evidente como no Guggenheim de Bilbao, no norte da Espanha, um incrível trabalho de engenharia e planejamento do arquiteto norte-americano Frank Gehry. Apesar de suas fabulosas 19 galerias guardarem obras modernas e contemporâneas de artistas espanhóis e internacionais, como Richard Serra e Willem de Kooning, o destaque ali são realmente as curvas e formas recobertas de titânio do exterior, lembrando ora um ser marinho, ora um grande barco, dependendo do ângulo. O Guggenheim de Bilbao foi inaugurado em 1997, depois de um processo de quase cinco anos entre o projeto e a obra e, para se ter ideia, em seus primeiros três anos de operação atraiu 4 milhões de turistas e, ano passado, 1,2 milhão de pessoas visitaram suas instalações, superando pela oitava vez em sua história a barreira de 1 milhão de visitas ao ano. Em outubro de 2017, o museu completa 20 anos, e nesse período inseriu a cidade no
BARCO
VANGUARDISTA
106 MUSEU
contexto artístico internacional e turístico. Diversas atividades especiais estão programadas para comemorar a data, de modo a fortalecer o posicionamento do museu como entidade de referência no panorama artístico internacional. Afinal, a obra é responsável por mudar a cara – e o rumo – da cidade, que naquele momento era um deserto pós-industrial. Fortes em aço e na construção naval, as antigas indústrias de Bilbao estavam morrendo na década de 1980, e ela se reinventou como centro de alta tecnologia com um novo museu. Então, o edifício que custou 84 milhões de Euros e mais 36 milhões de Euros em obras de arte, e foi duramente criticado tanto pela direita quanto pela esquerda do país, atraiu 19 milhões de visitantes desde a sua inauguração – 70% de fora da Espanha –, gerando, direta e indiretamente, cerca de 400 milhões de euros por ano, sem contar os benefícios adicionais que são impossíveis de medir, da publicidade ao orgulho cívico. “O museu tem sido um importante catalisador do desenvolvimento econômico”, disse Juan Ignacio Vidarte, diretor do Guggenheim. “O que fez o Guggenheim ser tão bem-sucedido foi que ele não foi construído isoladamente – fazia parte de um programa mais amplo. O rio foi limpo, o centro da cidade foi enfeitado. Era uma cicatriz no meio da cidade. A missão do museu era que o edifício ajudaria a transformar a natureza desse local”, completou. Localizado em uma área de 32.500 metros quadrados, à margem do Rio Nervión, a 16 metros abaixo da altura da cidade de Bilbao, o edifício é uma combinação extraordinária de interligação de formas. Os blocos ortogonais em pedras calcárias contrastam com as formas curvas e retorcidas dos blocos recobertos de titânio. Esses blocos se integram com paredes de cortina de vidro, fornecendo luz e transparência ao edifício. As paredes de cortina de vidro foram feitas para proteger as obras de arte do calor e da radiação. Assim, os painéis que recobrem grande parte da estrutura como se fossem “escamas de peixe” são lâminas de titânio com 0,38 milímetro de espessura. O museu está rodeado de atrativos e praças em uma zona de recente urbanização, superando seu passado industrial. A
praça e a entrada principal do museu encontram-se na Iparraguirre, uma das principais ruas que cruzam diagonalmente Bilbao, estendendo o centro urbano até a porta do museu. Uma vez na praça, o visitante chega ao átrio por meio de uma ampla escadaria – recurso pouco frequente que, neste caso, resolve a diferença de altura entre o nível do rio e o nível do centro da cidade, tornando factível que um edifício de 24 mil metros quadrados de superfície e mais de 50 metros de altura não ultrapasse a altura das construções que o rodeiam. Considerado um dos profissionais mais importantes e influentes do mundo, Frank Gehry é conhecido por sua arquitetura pessoal, que incorpora novas formas e materiais, e é especialmente sensível com o entorno. As galerias de exibição são organizadas em três níveis em torno do átrio central, e se conectam por meio de passarelas curvilíneas suspensas do telhado, dos elevadores de vidro e das séries de escadas. Ao todo, uma visão espetacular que um visitante descreveu como uma cidade metafórica, onde os painéis de vidro que cobrem os elevadores lembram as escamas de um peixe que saltam e se contorcem. As passarelas que circundam as paredes interiores são como autopistas verticais e as curvas esculturais que coroam o átrio sugerem fibras moldadas por um desenho de Willem de Kooning. O exterior do museu, que pode ser totalmente percorrido, apresenta diferentes configurações desde as distintas perspectivas, pois serve também para a exibição artística, abrigando telas de artistas como Louise Borgeois, Eduardo Chilida, Yves Klein, Jeff Koons ou Fujiko Nakaya. A parte em que está o edifício é cercada em um de seus extremos pela Ponte La Salve, que, desde 2007, serve de suporte à intervenção escultórica intitulada Arcos Vermelhos, de Daniel Buren. Sob a ponte fica a Sala 104, uma enorme galeria livre de colunas que abriga a instalação escultórica A Matéria do Tempo, de Richard Serra, e que se encontra, no extremo, com uma torre, a escultura do desenho arquitetônico que abraça a colossal ponte e a integra, de forma eficaz, ao edifício. u
108 ÁGUA
LEGADO VIVO
Além da história e da beleza, o Palácio Blenheim, na Inglaterra, possui um aquífero de grande prestígio
C
onstruído entre 1705 e 1733 pela rainha Anne como um presente a John Churchill, o primeiro duque de Marlborough, para comemorar sua vitória sobre a França na Batalha de Blenheim, em 13 de agosto 1704, o Blenheim Palace, em Woodstock, Inglaterra, é uma viagem no tempo. Residência do 12º Duque de Marlborough e sua família, e lugar de nascimento de Winston Churchill, Blenheim Palace é Patrimônio Mundial da Unesco e ostenta uma história longa e diversificada. Além de casa particular, tem sido usado para um grande número de outras atividades ao longo da história. Foi hospital para os soldados feridos durante a Primeira Guerra Mundial e lar para os evacuados na Segunda Grande Guerra. Em 1950, o décimo Duque de Marlborough abriu o Blenheim Palace para o público pela primeira vez e, desde então, milhões de visitantes passaram por suas portas, transformando-o em um dos locais mais visitados do Reino Unido. Além da história e da beleza que o palácio guarda, ali ainda são desenvolvidos muitos projetos durante todo o ano. O palácio e seus arredores são usados como locação para filmagens e constituem um dos melhores lugares para casamentos no país. Além disso, há cursos de fotografia e de mordomos (!), programas de pesca, passeios de buggy ao redor do parque, trilhas, visitas guiadas pelo interior do palácio, exibições de arte contemporânea, palestras e passeios. Obra-prima da arquitetura barroca, o Blenheim Palace possui uma extensa e importante coleção de retratos, móveis, esculturas e tapeçarias. Entre os muitos tesouros que podem ser encontrados em seus salões estão as famosas Tapeçarias de Marlborough (a série “Vitórias”) na Sala de Escrita Verde e nas salas Primeira, Segunda e Terceira. A magnífica Biblioteca tem paredes forradas por mais de 10 mil livros, muitos deles com centenas de anos de idade e grande significado histórico. Os visitantes são convidados a descobrir a rica história do palácio de várias maneiras: pelas visitas guiadas às salas, que contam a história de cada duque e suas coleções requintadas; visitando a exposição sobre Winston Churchill, para conhecer a vida do “Grande Britânico”, e passando pela experiência “História Não Contada”, para ouvir contos do passado do palácio. Disponível até 30 de outubro, o Downstairs’ Tour dá aos visitantes um vislumbre de como tem sido a vida dos funcionários no palácio ao longo dos séculos. Essenciais para o estilo de vida aristocrático, já que seria impossível para a família cuidar de si, administrar a casa e cuidar das crianças, e muito menos organizar um simples jantar sem a ajuda de sua equipe, eles eram contratados em grande número. O quarto duque teve o maior sé-
quito de pessoal e o número aumentava cada vez que sua esposa tinha um novo bebê – chegou a 102! Nesse tour, os visitantes podem percorrer a rede de corredores, ver o sistema icônico de sinos e visitar algumas áreas que ainda estão em uso pela equipe do palácio, incluindo a cozinha. A majestosa casa britânica do Palácio Blenheim situa-se entre mais de 2 mil hectares de paisagem do parque e de jardins bem cuidados. O paisagista e arquiteto Lancelot “Capability” Brown criou um legado duradouro no parque do Blenheim Palace ao criar o Grande Lago e plantar milhares de árvores em seu entorno, numa paisagem que parece natural, mas foi realmente “planejada para ter um efeito agradável”. A propriedade guarda surpresas. Como um de seus vários negócios, produz ali a água mineral natural Blenheim Palace. Na verdade, trata-se de uma tradição que começou no século 12, quando o rei Henrique II construiu uma piscina para Rosamund Clifford, com quem tinha um caso amoroso, ali no parque, que era alimentada por uma fonte antiga, a qual, diz a lenda, nunca seca. A verdade é que a água mineral natural do palácio de Blenheim é tirada de uma fonte de água subterrânea natural encontrada nas terras da propriedade, com o compromisso de preservar o ambiente natural e histórico para as gerações futuras. A água mineral natural Blenheim Palace tem qualidade premium, é rica em cálcio e possui baixo teor de sódio. Com e sem gás, é engarrafada na propriedade e está disponível em garrafas de 33 e 75 cl. Encontrada nos melhores restaurantes de Londres, é também vendida nas lojas mais prestigiadas da City. u
Especialista europeu destaca a importância da Economia do Mar no mundo e sugere caminhos para o Brasil
O
Mar Territorial e a Zona Econômica Exclusiva oceânica do Brasil somam 3,6 milhões de quilômetros quadrados. Essa área – denominada pela Marinha Brasileira de “Amazônia Azul” – é um dos mais importantes patrimônios do País e tem um potencial econômico ainda não totalmente dimensionado, embora, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 68 atividades econômicas no Brasil dependam do mar e das águas interiores. No âmbito federal, o poder público não trabalha com o conceito de Economia do Mar: o Plano Nacional de Logística Portuária – PNLP 2015, produzido pela Secretaria de Portos da Presidência da República, avalia apenas a questão portuária, de maneira isolada. Uma recente iniciativa com a visão de cluster foi realizada pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina, em 2014, com o estudo “Rotas Estratégicas para a Economia do Mar” no contexto do PDIC 2022 – Programa de Desenvolvimento Industrial Brasileiro, elencando mais de 50 ações de curto, médio e longo prazo para o setor – mas apenas para aquele estado da Federação. Portugal tem um território físico 92 vezes menor que o brasileiro, mas uma Zona Econômica Exclusiva bastante ampliada, por causa dos arquipélagos oceânicos de Madeira e Açores, e é um dos países que mais bem pesquisa, avalia, monitora e gerencia a utilização dos recursos do mar. Esse status foi construído a partir de um estudo realizado em 2009, que dimensionou o “Hypercluster da Economia do Mar”, envolveu centenas de organizações em todos os setores da sociedade, inclusive o poder público, e se solidificou na forma da “Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020”. Já refletindo essa mobilização, em 2013 a Economia do Mar do país movimentou cerca de 4,7 bilhões de euros. Para saber o que o Brasil poderia aprender com os portugueses para utilizar com mais eficiência esse importante recurso econômico, a Revista Iate entrevistou José Miguel Dantas Maio Marques, um dos maiores especialistas europeus em Economia do Mar. Nascido e criado em Póvoa de Varzim, cidade litorânea próxima de Porto, Portugal, ele é professor na Coimbra Business School, economista com três pós-graduações e Partner na PricewaterhouseCoopers Portugal, onde lidera globalmente o Projeto de “Thought Leadership” relacionado com a Economia do Mar. Confira a seguir.
foto: Guta Carvalho
110 COSTADO
por ROGÉRIO R. RUSCHEL*
ECONOMIA DO MAR
*Jornalista, autor de sete livros e 32 estudos e pesquisas, e editor do site In Vino Viajas, de cultura do vinho e do enogastroturismo.
112 COSTADO
REVISTA IATE Qual é o volume global do PIB da Economia do Mar? JOSÉ MIGUEL DANTAS MAIO MARQUES As estatísticas mundiais sobre as diversas atividades marítimas, como portos, transportes marítimos, construção naval, pesca, aquacultura, turismo, biotecnologia, energia, banca, seguros não são muitas, mas recentemente foi publicado um estudo da OCDE (“The Ocean Economy in 2030”) indicando que, em 2010, as indústrias do mar representaram cerca de US$ 1,5 trilhão (2,5% do PIB bruto no mundo), e seriam responsáveis por 31 milhões de empregos diretos e em tempo integral. O quadro abaixo resume esses dados:
quantificação do valor da Economia do Mar. Foi o primeiro país no mundo a criar uma conta-satélite para o mar. De uma forma geral, uma conta-satélite é uma compilação de valores retirados da contabilidade nacional com referência a um setor ou vários setores da economia. Tive o privilégio de participar nesse trabalho a pedido do Cluster do Mar de Portugal (Fórum Oceano) e, avaliando dados relacionados ao Cluster do Mar nos anos de 2010 a 2013, chegamos à conclusão de que a Economia do Mar atinge cerca de 3,1% do PIB de Portugal. O turismo, a fileira alimentar (cadeia produtiva) do mar e os portos e serviços marítimos são as indústrias mais relevantes na Economia do Mar de Portugal (quadro abaixo).
Economia do Mar em 2015, segundo a OCDE
Indicadores da Economia do Mar em Portugal, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
RI Por que valorizamos tão pouco os recursos do mar, se mais de 70% do planeta é coberto por oceanos? JMM Numa perspetiva do ser humano, um ser terrestre que necessita de água doce, de ar e de estar seco para sobreviver, é normal que valorize mais os recursos existentes em “terra firme”, que estão à sua “mão”, do que os recursos que estão num espaço molhado, que se mexe constantemente, cuja água está saturada de sal. Desde sempre o ser humano teme a força dos oceanos e, por isso, com raras exceções, vive de costas voltadas para o mar. Mas os recursos do oceano não são menores do que os da terra firme; nós, seres humanos, é que valorizamos menos os recursos do mar. Há cerca de cem anos acreditava-se que não existia vida para lá dos 600 a 700 metros de profundidade, porque se acreditava na ideia de que a vida animal, principalmente a vegetal, necessita de luz para que aconteça a fotossíntese. No entanto, hoje em dia, se sabe que existe vida no mar profundo. O elevado ritmo de crescimento da população mundial está esgotando os recursos em terra firme, fazendo subir os preços dos mesmos, acabando por viabilizar projetos de aproveitamento dos recursos marinhos. Esperemos que esse avanço do ser humano sobre o mar seja feito de uma forma sustentável, sem provocar danos no ambiente que afetem o futuro das próximas gerações. RI Hoje, em termos econômicos, qual é a importância do mar para o seu país? Quais são os setores prioritários para a Economia do Mar de Portugal? JMM Portugal é um dos países mais avançados na
. RI Como o governo português se organiza e se associa à iniciativa privada em relação à Economia do Mar? Quais são as políticas públicas fundamentais para o desenvolvimento da atividade em Portugal? JMM Os governos, em Portugal, têm dado crescente importância ao tema da Economia do Mar. Atualmente, até existe um ministério totalmente dedicado ao Mar, liderado pela engenheira Ana Paula Vitorino, uma pessoa muito experiente nessas matérias, particularmente no setor dos portos e transportes marítimos. Existe também em Portugal um cluster dedicado ao mar, chamado Fórum Oceano. E outra das formas de interligação entre todos os agentes do mar é a convocação de reuniões da Comissão Interministerial para os Assuntos do Mar, realizada todos os anos em Portugal. Como Portugal é um Estado-membro da União Europeia, são realizados com frequência diversos fóruns na Comunidade dedicados às indústrias do mar, dos quais Portugal participa. RI Quais são as políticas públicas fundamentais para o desenvolvimento da atividade em Portugal? JMM Entre as mais impactantes iniciativas públicas estão a de investimento e modernização dos portos portugueses, que tem feito crescer bastante o volume de cargas que passam pelos portos, a política de pescas, que tem conseguido recuperar os estoques de peixes, e os esforços de promoção de Portugal como um destino de excelência em termos de mar, que tem feito crescer significativamente o número de passageiros de
cruzeiros e de nautas ao país. Existe ainda muito por fazer em termos do desenvolvimento da Economia do Mar em Portugal, no entanto, parece-me que a trajetória está correta. RI Que atividades a PricewaterhouseCoopers Portugal exerce em relação à Economia do Mar? O que é o LEME – Barómetro PwC da Economia do Mar? JMM Há mais de dez anos que a PwC Portugal tem um projeto de Thought Leadership dedicado ao desenvolvimento da Economia do Mar. Esse projeto inclui várias atividades, nomeadamente os Prémios Excellens Mare, que visam sublinhar o mérito de pessoas e entidades que têm valorizado o mar, e o LEME – Barómetro PwC da Economia do Mar, que vai já na sua sexta edição anual e que visa fornecer à sociedade informações quantitativas sobre a evolução das indústrias do mar e os resultados de inquéritos realizados a líderes de entidades relacionadas com o oceanol. O LEME tem sido muito bem recebido por todos os portugueses, desde a comunidade marítima, desportistas, universidades, governo e empresas, dentre outros. A apresentação anual desse estudo, que acontece sempre em janeiro de cada ano, já é uma referência em Portugal. A experiência que a PwC Portugal construiu nessas matérias já está sendo partilhada com o mundo, por meio da construção do primeiro LEME Mundo e do LEME de vários países, como, por exemplo, o LEME Brasil. Todos os resultados desse projeto de responsabilidade social e de Thought Leadership são disponibilizados para a sociedade no site http://www.pwc.pt/pt/temas-actuais/economia-mar.html
Indicadores da Economia do Mar do Brasil, segundo o estudo
Seminário sobre a Economia do Mar no Instituto Fernando Henrique Cardoso.
RI Em novembro de 2015, o senhor participou de um seminário sobre o valor do mar no Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo. Poderia comentar seus resultados? JMM Considero muito importante a iniciativa promovida pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso, no sentido de juntar as várias entidades do mar do Brasil, como Marinha, portos, universidades, fileira alimentar do mar, turismo, entidades públicas etc., numa mesma reunião, procurando criar uma visão integrada das diversas indústrias do oceano. É isso que a Economia do Mar traz de novo: uma visão holística, uma visão integrada das suas atividades. Das reuniões de que já participei em todo o mundo sobre Economia do Mar considero que a do Brasil foi de altíssimo nível, que deu o “tiro de partida” para vários eventos semelhantes visando a promover e desenvolver a Economia do Mar do Brasil. RI Que outros países promovem atividades relacionadas à Economia do Mar com os quais o Brasil poderia obter aprendizados potencialmente importantes? JMM Para além da experiência portuguesa, o Brasil deve estar atento ao histórico da Noruega, no que diz respeito a petróleo offshore, ou os Estados Unidos, na atividade de cruzeiros, ou Cingapura, na área de portos, e ao Japão, no setor da construção naval, entre outros países.
RI Quais aprendizados Portugal poderia oferecer para o desenvolvimento sustentável da Economia do Mar no Brasil? JMM Penso que Portugal e Brasil têm tudo a ganhar com o reforço da cooperação em termos de matérias marítimas, não só pela história comum, mas acima de tudo por terem um mar com características semelhantes, notadamente a sua elevada profundidade. Algumas das contribuições que Portugal poderia dar estão no nível da quantificação da Economia do Mar, do know-how em termos de construção naval, da excelente experiência logísticoportuária, da qualidade na transformação e conservação do pescado e da atração de cruzeiristas e nautas.
foto: Guta Carvalho
PwC HELM Circumnavigation Brazil December 2015.
José Miguel Marques, em evento da PwC
114 CABOTAGEM
MENTALIDADE MARÍTIMA
Site, portal e aplicativo promovem o uso racional das imensas potencialidades do mar, para que o Brasil assuma a sua inevitável vocação marítima
O
Brasil está entre os dez países do mundo com maior área de plataforma continental. A “Amazônia Azul” constitui a soma da Zona Econômica Exclusiva - ZEE do Brasil, com cerca de 900 mil quilômetros quadrados de Plataforma Continental, e das 200 milhas náuticas, totalizando 4,5 milhões de quilômetros quadrados. Essa superfície corresponde em área a 54% do território nacional, tendo como limite, ao Norte, a Guiana Francesa, ao Sul, o Uruguai, a Oeste, 8 mil quilômetros da costa brasileira, e, a Leste, a Ilha do Sul, no Arquipélago de Martim Vaz, no Espírito Santo. Com esses números, o mar e a Floresta Amazônica, presentes nos dois extremos do continente, abrigam biodiversidade importante, riquezas mineral e energética semelhantes, unidas pelo nome. A expressão Amazônia Azul renova a imagem do Brasil, associado a um país continental, contribuindo para promovê-lo a uma nação também oceânica, de acordo com Amazônia Azul, a Última Fronteira, do Centro de Comunicação Social da Marinha. O mapa abaixo dá uma ideia da dimensão atual da Amazônia Azul. Entre tantos outros interesses do País no mar, cabe ressaltar que prospectamos hoje em nossas águas jurisdicionais mais de 85% do nosso petróleo, 75% do nosso gás natural, e perto de 95% do nosso comércio exterior é realizado por via marítima. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), além de petróleo e gás, a Plataforma Continental Brasileira, coberta pelo Oceano Atlântico, contém em seu subsolo pelo menos 17 variedade de minerais, entre ferro, níquel, carvão, estanho, ouro, diamante, calcário, areia, fósforo e cobre. A pesquisa e a lavra em mar aberto estão sendo desenvolvidas no Brasil com participação ativa da Marinha do Brasil e do Ministério de Minas e Energia, entre outros representantes do governo federal e com apoio da iniciativa privada. Esse é o cenário exuberante que precisa ser convertido em favor dos brasileiros e, por tabela, para o resto do planeta. José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), um dos “inventores do Brasil”, talvez o primeiro estadista a assumir consciência da maritimidade nacional, já vislumbrava a nação como potência transatlântica. Situações conjunturais passageiras, de acordo com o Almirante Paulo de Castro Moreira da Silva, colocaram “o Brasil de costas para o mar”. Ele escreveu no livro O Desafio do Mar: “A nação é feita por piratas e profetas. Mas piratas e profetas dos bons geram-nos a Universidade. Somente com bons piratas e bons profetas do mar é que nos apropriaremos desse Mar com uma posse real, profunda, apaixonada, definitiva”. O Brasil precisa assumir a sua inevitável vocação marítima. Para isso, precisamos fortalecer a nossa “Mentalidade Marítima”, descrita como “a convicção ou crença, individual ou coletiva, da importância do mar para a nação brasileira, e o desenvolvimento de hábitos, atitudes, comportamentos ou vontade de agir no sentido de utilizar de forma sustentável as potencialidades do mar”. Fortalecer a Mentalidade Marítima significa motivar os brasileiros no sentido do uso racional das imensas potencialidades do mar, entender o seu significado real e até mesmo o seu valor transcendental. Diante de tamanha grandeza e os desafios que ela nos impõe, a Marinha do Brasil, em conjunto com a Secretaria Interministerial para Recursos do Mar (Secirm), desenvolveu
o Programa de Mentalidade Marítima (Promar) e, para dar sustentação jurídica e legal às ações que emanam do Promar, elaborou o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, hoje em sua segunda edição , o PNGCII. O PNGCII é uma lei criada com a perspectiva e amplidão da Amazônia Azul, que considera os obstáculos que se interpõem ao progresso e busca soluções no diálogo entre as partes interessadas com aporte dos conhecimentos técnicos e científicos mais relevantes – para abrir as mentes para novas soluções criativas, e não com o intuito de proibir ou punir. Conscientes da magnitude dessa causa, um grupo de 86 brasileiros, entre civis e militares, reuniu-se no Museu Naval do Rio de Janeiro no dia 3 de junho de 2008, encabeçado pelo Comandante Carlos Borba, para somar esforços no fomento e na difusão da Mentalidade Marítima, facilitar a aplicação do PNGCII e aproximar a sociedade civil da Marinha do Brasil. A data de fundação, justificou o comandante Borba em seu relatório da primeira Assembleia, não foi escolhida aleatoriamente. “Nascia o Rumar – Instituto Rumo ao Mar na lua nova, simbolizando o compromisso de crescer continuamente, até atingir a sua plenitude na lua cheia.” Em seus oito ano de vida, o Rumar criou diversas ações, como o site www.rumar. org.br, e parcerias concernentes à sua missão social: com a Diretoria de Portos e Costas (DPC), no Ensino Profissional Marítimo e no ensino Amador, com Empresas de Navegação e Turismo Marítimo, com o Iate Clube do Rio de Janeiro, sua Escola de Vela e o Grupo de Escoteiros do Mar 116 para ministrar aulas de vela, com prefeituras do estado do Rio de Janeiro; com a Secirm no âmbito da “Mentalidade Marítima” e “PNGC II”, com o Aqua RIO; com a Coppetec Fundação da UFRJ, para desenvolvimento de um barco-escola de iniciação coletiva, com a Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), firmou um vasto Plano de Trabalho, incluindo o desenvolvimento do aplicativo “Boletim ao MAR” para aparelhos celulares e tablets, objetivando promover a disseminação de dados meteorológicos e de segurança à navegação gerados pela DHN, em conformidade com os compromissos assumidos pelo País perante a comunidade marítima, comointegrante da Convenção Internacional para Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS - Decreto 92.610), e com o Abrigo do Marinheiro (AMN), que patrocinou o desenvolvimento do aplicativo. Na sequência do plano de trabalho assinado entre a DHN e o RUMAR veio a criação do Portal Rumo ao MAR (www.rumoaomar.org.br), tornando-se mais um veículo de fortalecimento da Mentalidade Marítima Brasileira. Com o objetivo de ser o principal veículo de informações sobre o Mar Brasileiro e contribuir para um Brasil potência marítima, o portal também almeja ser o ponto de encontro de marinheiros, esportistas, estudantes, cientistas, empreendedores, mestres nas artes e ciências ligadas à navegação e pesquisadores do mar. O mar é considerado “o coração do sistema meteorológico do globo”, de acordo com o Relatório aos Tomadores de Decisão do País Brasil e o Mar no Século XXI. Para viabilizar o uso de tudo que o mar pode oferecer, um número cada vez maior de nossos jovens, treinados nas ciências básicas e capacitados para fazer pesquisas fundamentais num campo extremamente complexo e às vezes perigosos, terão de se dedicar ao conhecimento das regras do mar. Cientistas precisam inventar e construir equipamentos especiais que estendam o alcance de seus sentidos, tão limitados hoje ao ambiente terrestre, empreender esforços comuns, integrar suas descobertas com os recursos da matemática e da computação. Se formos assim tecendo as tramas do conhecimento, chegará o dia em que seremos capazes de predizer as variações e mudanças do mar, conservar e renovar todos os recursos do oceano, dilatar o campo de oportunidades práticas e, finalmente, nos tornarmos capazes de realizar em grande escala as maiores esperanças: a piscicultura, a maricultura, a cultura de plâncton, a extração de minerais da água, a conversão da água do mar em água doce e a produção de energia. O RUMAR une-se nesse esforço, para envolver o Brasil de Norte a Sul em novos tempos de maritimidade. u
116 MOTOR
fotos MARCO YAMIN
DISPUTA ENTRE AMIGOS Dividido em duas categorias, o rali de Ilhabela teve corrida, confraternização e diversão
E
m um sábado ensolarado no início de fevereiro, cerca de 20 embarcações participaram do X Rallye Náutico Yacht Club de Ilhabela – Copa Kia Motors. A prova de regularidade teve início às 10 horas, com largada em frente à sede do Yacht Club e chegada na subsede, no Saco do Sombrio. Este ano, a prova apresentou uma novidade – foi dividida em duas categorias: Sportage, com embarcações entre 16 e 40 pés, e Sorento, com barcos acima de 40 pés. Todos largaram em intervalos de 1 minuto de diferença entre si. As embarcações tinham de cumprir um trajeto predeterminado pela organização, com médias de velocidades diferentes entre os trechos de
As lanchas prontas para a disputa na sede do Yacht Club de Ilhabela
118 MOTOR
navegação indicados na planilha. No caminho, 46 pontos de controle virtuais (ou seja, posições geográficas marcadas no percurso) pelos quais as embarcações deveriam passar em seus tempos ideais, de acordo com as instruções. Para cada segundo adiantado ou atrasado, um ponto era atribuído à equipe. Em resumo, um exercício de navegação que exigiu muita atenção das equipes. Venceria quem errasse menos. E foi a equipe Picanto, com os integrantes Luiz Durval, Henrique Yunes Motta e Gustavo Gandini, que acumulou apenas 42 pontos. Luiz Durval atribuiu a vitória à determinação da equipe: “Naveguei com dois jovens que têm metade da minha idade. Acho que a soma da experiência com a vontade fez a diferença”. Já Henrique destacou que o mais importante “foi cada um estar focado em sua tarefa”, afirmação com a qual Gustavo concorda. “Com cada um ocupado com suas atribuições, o importante foi confiar plenamente na força da equipe”, declarou. Em segundo lugar na categoria Sportage ficou o barco Escape, de Oldemar Santos Filho, e, em terceiro destacou-se o Barbarossa, de Frederico Loureiro. Já na categoria Sorento, “vítima” de muitas brincadeiras por causa de seu favoritismo, Luis Claudio Volpe, com a embarcação Dudu Locco, não deixou por menos e acumulou apenas 57 pontos, o que lhe garantiu o primeiro lugar. “Naveguei na unha, sem uso de computador”, fez questão de ressaltar. Julio Cardoso, a bordo do Ballerina, foi o segundo colocado, e, em terceiro, a equipe de Luis Fernando Pugliesi, comandando a lancha Laumar. O Rallye contou pontos apenas na “perna” de ida até a subsede do Saco do Sombrio e, como não haveria mais preocupação com os resultados, a parada na subsede foi só festa. Um animado churrasco comemorou o sucesso do evento, cuja premiação foi feita no fim da tarde, já de volta à sede social do YCI. “A Kia Motors Corporation já investe em esportes como tênis (Australian Open, com patrocínio individual a Rafael Nadal), basquete nos Estados Unidos e futebol na Europa. No Brasil, a Kia Motors também investe em futebol, futebol de areia, tênis e golfe, entre outros esportes. Investimos no esporte porque nossos produtos têm tudo a ver com o público jovem ou aqueles que têm esse espírito, ou seja, design moderno, arrojado e tecnologia de ponta, em se tratando de motorização. Quem participa de rali náutico, quem tem uma embarcação, sempre associa seu estilo de vida com o automóvel. Por isso já estamos na décima edição do Rallye Náutico Kia Motors”, disse José Luiz Gandini, presidente da Kia e grande apoiador do evento. u
1 2
3
4
5
Depois das emoções no mar, a chegada na subsede do Yacht Club de Ilhabela. 1 José Yunes; Henrique Yunes Motta, Luis Durval e Gustavo Gandini, da equipe vencedora Picanto; e José Luiz Gandini. 2 Na categoria Sorento venceu Luis Claudio Volpe, com sua embarcação Dudu Locco. 3 Giovanna e Roberto Monteiro de Andrade 4 Brinde festivo 5 Equipe Kia Motors: os diretores Ary Jorge e Edison Ruy e o gerente Eduardo Mariani
120 VELA
MATCH RACE Foto Edu Grigaits/Balaio
A primeira etapa do Campeonato Brasileiro da Classe C30, em Santa Catarina, foi marcada por fortes disputas
Foto Marcos Mendez/Sail Station
E
O Caballo Loco esteve na disputa até o final, mas sua vela balão deu sutiã na última regata Foto Gabriel Heusi/Heusi Action
ntre 8 e 11 de fevereiro, os tripulantes que participaram da primeira etapa do Campeonato Brasileiro da Classe C30 viveram boas emoções na raia de Jurerê, em Florianópolis – e prometem ainda mais em julho, quando o campeonato será concluído em Ilhabela. Realizada no Iate Clube de Santa Catarina, a competição – que valeu também para o Circuito Oceânico Ilha de Santa Catarina – foi marcada pelo equilíbrio proporcionado pelas regras da classe com embarcações praticamente iguais. Para se ter ideia, no penúltimo dia da competição apenas um ponto separava o líder Zeus, de Santa Catarina, do segundo e terceiro colocado após quatro regatas. Em busca do bicampeonato, o Zeus Sailing Team, comandado por Inácio Vandressen, manteve a calma mesmo sob forte pressão do Caballo Loco, de Mauro Dottori, de São Paulo. Além da competitividade proporcionada pelo equilíbrio, a união entre os velejadores tem sido fundamental para a evolução da Classe C30. Dottori faz questão de destacar a hospitalidade oferecida
Foto Gabriel Heusi/Heusi Action
122 VELA Foto Gabriel Heusi/Heusi Action
Katana, acima, e Zeus protagonizaram disputas acirradas. O belo cenário de Jurerê também colaborou para o sucesso do torneio
Foto Marcos Mendez/Sail Station
pelo Iate Clube de Santa Catarina. “Valeu muito todo o nosso esforço para estarmos aqui, nesse paraíso que é Jurerê. O empenho de Inácio Vandressen tem sido indispensável para garantir o sucesso da classe em Florianópolis”, destacou o responsável pela tripulação do Caballo Loco. O último dia do campeonato foi também o mais emocionante, pois o vencedor só foi definido na linha de chegada da regata final, com diferença de apenas 14 segundos após 1h10 de regata. Qualquer um dos dois que vencesse ganharia a liderança, e o Katana Energia se saiu melhor que o Caballo Loco. Fabio Pillar, velejador olímpico da classe 470 nos Jogos de Pequim, vibrou com a conquista do Katana. “Foi a vitória da persistência. Disputamos a regata toda casco a casco com o Caballo e só conseguimos ultrapassar no último bordo da última perna de popa. Ganhamos por pouco, foi emocionante”, contou Pillar, após a regata impulsionada pelo tradicional vento nordeste entre 8 e 10 nós na sede do Iate Clube de Santa Catarina, em Jurerê. Das sete regatas da C30 disputadas em quatro dias, cinco foram válidas pelo Circuito de Santa Catarina, com um descarte para cada campeonato. A prova
final teve vitória do atual campeão brasileiro Zeus Sailing Team, com Inácio Vandresen no comando, seguido por Corta Vento, de Daniel Matos. Ao Katana bastou o terceiro lugar, à frente do Caballo Loco, para consolidar a conquista. No rigor do equilíbrio da Classe C30, Katana e Zeus terminaram a primeira etapa do Brasileiro com 13 pontos perdidos, porém, com uma vitória a mais para o primeiro. No circuito de oceano, a diferença entre o vencedor e o vice-campeão Caballo Loco foi de apenas 2 pontos perdidos: 9 a 11. A tripulação do Caballo Loco contou ainda com a experiência do também velejador olímpico Alexandre Paradeda, campeão brasileiro da Classe Snipe há menos de um mês, em Ilhabela. “Na briga pelo título, Caballo e Katana desgarraram da flotilha e passaram a se marcar em autêntico match race. Na segunda boia de contravento, Caballo estava um pouco à frente, mas a vela balão deu sutiã (torceu no momento de inflar). Foi uma tremenda disputa. Parabéns ao Katana, que conseguiu nos ultrapassar quase em cima da linha de chegada”, destacou Mauro Dottori, comandante do Caballo Loco. “Na C30 costuma ser assim, não existe campeão enquanto não tivermos a última regata.” u
1ª ETAPA DO CAMPEONATO BRASILEIRO 1º Katana - 13 pontos perdidos 2º Zeus Team - 13 pp 3º Caballo Loco - 14 pp CIRCUITO OCEÂNICO ILHA DE SANTA CATARINA 1º Katana - 9 pp 2º Caballo Loco - 11 pp 3º Zeus Team - 11 pp
124 VELA
fotos MARCO YAMIN
RIVALIDADE EXTREMA O alto nível dos velejadores transformou o 68º Campeonato Brasileiro de Snipe em um evento de muita emoção
E
ntre 20 e 27 de janeiro, a Escola Municipal de Vela Lars Grael, em Ilhabela, foi palco do 68º Campeonato Brasileiro da Classe Snipe. Com nove regatas realizadas no Canal de São Sebastião e na Ponta das Canas, em percursos barla-sota, olímpico e triangular, 67 duplas de oito estados disputaram o título. E não foi fácil. A dupla campeã formada por Alexandre Paradeda e Lucas Mazim, do Clube dos Jangadeiros, do Rio Grande do Sul, só foi conhecida na última regata, e mesmo assim com apenas 1 ponto de vantagem da segunda colocada, formada por Bruno Bethlem e Dante Bianchi, bicampeões mundiais, do Iate Clube do Rio de Janeiro. Não era para menos, já que o nível dos competidores não era pouca coisa: na água se defrontaram16 portadores de títulos mundiais, três pan-americanos, 16 sul-americanos e 20 brasileiros. Apesar da chuva, que adiou o início das regatas para domingo 21, o vento deu as caras em Ilhabela, que sediou pela primeira vez um Brasileiro de Snipe. Com rajadas de até 12 nós no Canal de São Sebastião, disputas acirradas e emocionantes, a competição explorou as boas condições locais. “Trazer um campeonato como esse para Ilhabela faz com que a cidade volte a ser a Capital da Vela. Estamos começando a nossa administração com o pé direito”, disse Beto de Jesus, secretário de esportes de Ilhabela. Em 2018, o campeonato terá como sede o Clube dos Jangadeiros, em Porto Alegre. u
126 VELA
por ISABELA CARRARI
SOLTE SUAS VELAS
Lexus proporciona vivência náutica para convidados na Sede Guarujá do Iate Clube de Santos
E
m um dia ideal para aprender a velejar, 20 convidados da Lexus, divisão de veículos de luxo da Toyota, foram recebidos no Iate Clube de Santos, em Guarujá, para viver uma experiência única. Na manhã de um sábado ensolarado, foram recepcionados com um café da manhã e depois convidados a velejar com a equipe Lexus Sailing Team, patrocinada pela empresa. Além da clínica de Vela, também puderam passear na embarcação vintage Highlander e fazer um test drive nos modelos Lexus RX350 F-Sport, RX350 Luxury, CT 200h e o NX 200t F-Sport. As condições do tempo estavam perfeitas para a atividade, com ventos entre 8 e 12 nós, mar tranquilo e sol. Quatro tripulantes auxiliaram os convidados nessa experiência. Eles foram divididos em duas equipes e encararam a proposta de uma competição. “O dinheiro pode dar acesso a muitas coisas, mas não a tudo. Nossa ideia é colocar vocês em um barco profissional que nós velejamos com a nossa equipe”, explicou Luís Gustavo de Crescenzo, comandante do veleiro Lexus/ Chroma. “Vamos dar uma aula básica, ensinar as funções do barco e depois deixá-lo nas mãos de vocês. Vocês vão velejar.”
Segundo Crescenzo, a Lexus incentiva o espírito aventureiro de seu público ligado a um esporte “verde” que utiliza o vento para se locomover. Enquanto uma equipe velejava, a outra acompanhava no barco vintage. Por uma diferença de 1 ponto, a Equipe 1 venceu a prova, que contava com os critérios importantes do esporte: tempo de subida da vela grande, tempo de subida da genoa (vela menor), entrosamento da equipe, número de manobras, tática e, por fim, o item que desempatou a competição, o tempo de regata. O casal Thales e Sílvia de Britto Costa viveu pela primeira vez a experiência de velejar. Médico anestesista de 58 anos, Thales acredita que a Vela é um esporte que exige muito do time, preparo físico, logística e conhecimento meteorológico. “Foi muito bom, uma aventura, porque o barco pende para um lado e para o outro, e você precisa trocar de lado nas manobras.” Sua esposa, a médica pediatra Silvia, que estava como tática no barco, teve de orientar sua turma. “Trouxe esses ensinamentos para a vida: trabalho em equipe e logística. Queria que meu filho fizesse também, porque ele é piloto de avião e acho que envolve tudo isso que vivenciamos aqui.”
Convidados da Lexus que participaram de uma clínica de vela na Sede Guarujá do Iate Clube de Santos. Na outra página, o veleiro Lexus/Chroma, que o comandante Luís Gustavo de Crescenzo leva para as competições, com os convidados como tripulantes
128 VELA O dia começou com farto café da manhã, prosseguiu com aula básica de vela, regata, passeio em barco vintage, test drive em vários modelos de carros Lexus e delícia de almoço, antes de pegar a estrada de volta a São Paulo. Na outra página, a recepção da Lexus no Iate Clube de Santos. Os diretores da Lexus. A golfista Victoria Lovelady, embaixadora da Lexus no Brasil, que também participou do evento. Mãe e filha velejaram juntas
Na equipe vencedora estavam Fábio Ruella de Souza Santos, gerente financeiro de 25 anos, e seu pai, o arquiteto Guilherme Galli, de 56 anos. “É um barco pequeno e são 12 pessoas que têm de se comunicar o tempo inteiro. Um olhando para o outro, sabendo o que precisa fazer, porque, senão, a vela pode bater, mas é uma coisa bem gostosa, uma experiência única”, disse o pai, que já havia velejado na categoria laser. “Mas essa foi completamente diferente. Repetiria, adorei velejar”, disse Guilherme Galli. Depois da premiação, foi anunciado o vencedor do desafio do Instagram. É que foi proposto aos aventureiros que tirassem fotos durante o dia com a hashtag #lexusexperience. Fábio de Souza Santos ganhou a camisa oficial do time de Vela pela fotografia vencedora. “Desde que chegamos, o clima foi muito família. Fiquei feliz por ganhar o prêmio, mas o mais interessante foi conhecer pessoas novas e fazer coisas diferentes”, observou. Com uma foto selfie de baixo para cima, dentro do veleiro, mostrando a vela toda aberta, Felipe Barahona foi o outro vencedor e levou de prêmio o modelo RX 350 – mas só para desfrutar o carro no fim de semana. Rodrigo Rumi, gerente de marketing da Toyota e da Lexus, foi o jurado da competição, que elegeu os dois vencedores. “Na foto do Fábio estão todos felizes dentro do barco, com uma luz bonita”, contou. Rumi explicou que a divisão Lexus está com operação própria no Brasil há cinco anos e agora, com dez pontos de venda espalhados em várias cidades, há uma grande perspectiva de crescimento dentro do segmento de luxo no País. “A Lexus, no mundo, iniciou em 1989 e a busca incansável pela perfeição faz parte de seu DNA. Essa busca não está relacionada somente ao produto, mas também pela forma como a marca se relaciona com as pessoas. Temos como principal drive o omotenashi, uma
de nossas principais fortalezas. Além disso, a Lexus é conhecida pela qualidade dos seus concessionários e pelo nível de serviço entregue por meio da experiência com o consumidor”, disse. Prêmios entregues, hora de almoçar, pois o mar sempre desperta o apetite. E o almoço contou com a presença do vice-presidente comercial da Lexus e Toyota do Brasil, o português Miguel Fonseca, que explicou que, desde 2012, a marca decidiu ampliar sua presença no Brasil e associou-se a eventos que expressam o relacionamento que a montadora pretende estabelecer com seus clientes. “De fato, o golfe e a Vela são duas plataformas que nos permitem ter eventos experienciais com os nossos clientes e amigos. Dessa forma, eles podem entender um pouquinho a essência do que é ter um Lexus. A marca oferece uma experiência diferenciada de outras de luxo por dar muita atenção aos detalhes e à dinâmica relacional encontrada nesses esportes”, revela Rumi. Há uma relação muito especial com o Iate Clube de Santos, por meio do patrocínio do barco Lexus/Chroma. “Começamos o relacionamento em 2012, mas nesse formato em 2014. Estamos muito satisfeitos com essa associação.” A Lexus também realizou atividades em regatas em Ilhabela e uma, recentemente, no Recife, para Fernando de Noronha. “Proporcionamos uma vivência um pouco diferente porque foi uma experiência de preparação da regata com partida do Recife”, contou, adiantando que pretendem, no futuro, ampliar essa atividade em outras áreas de atuação da companhia no Brasil. “O que é mais importante para nós é o espírito das pessoas que convidamos. Queremos nos conectar com elas porque desejamos que a Lexus seja parte do estilo de vida delas. Nosso objetivo é criar embaixadores para a marca que tenham o perfil das pessoas que queremos encantar.”
130 VELA
A VELA E O GOLFE
A embaixadora da Lexus no Brasil, a golfista Victoria Lovelady, também participou da experiência. Durante o almoço, ela contou como é ser uma atleta olímpica e a sensação de entrar no estádio. “Fiquei muito emocionada, com lágrimas nos olhos”, revelou. E o vice-presidente aproveitou a deixa para emendar: “Essa descrição dela faz parte do que queremos trazer. Com nossos clientes e amigos, queremos que essa experiência seja relevante em nossas vidas. Na Lexus privilegiamos o pequeno volume e a relação especial”. No ano passado, a atleta participou dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. Um momento histórico para o esporte, já que a modalidade, em 2016, voltou a fazer parte da Olimpíada, após um hiato de 112 anos. “A Lexus sempre acreditou na minha carreira”, conta Victoria, que é patrocinada há três anos pela marca. Ela foi a timoneira da primeira equipe. “Foi a minha primeira vez em um veleiro e não sabia como todas as funções eram interligadas. Achei superbonita a importância do time. Para fazer um barco velejar, você tem de estar em sintonia e todos precisam ter a mesma missão. E você vê o produto dessa experiência: logo todo mundo ficava dando força para quem estava içando a vela principal e depois a genoa. E eu, como a timoneira, tinha de sentir na mão o vento puxando. Precisava ser sutil porque o timão é muito sensível”, disse a atleta. Nascida no Rio de Janeiro, Victoria gosta de estar ao ar livre e tem uma ligação forte com o mar, já que também surfa nas folgas. “A Vela tem muito a ver com o golfe, de estar na natureza. Estou pensando em voltar aqui para fazer uma regata com Gustavo”, disse a golfista, que adora competir. “Foi muito legal receber esse presente da Lexus e viver uma experiência maravilhosa no mar, com pessoas queridas que tive a oportunidade de
conhecer. Foi um momento de entrosamento, de experiência mesmo, que dinheiro nenhum não pode comprar. Me apaixonei pela Vela hoje”, afirmou. Para ela, a Vela e o golfe são semelhantes nos fatores externos: “No golfe, o vento e até a direção da grama podem favorecer uma jogada. A qualquer momento o vento pode mudar o jogo”. Eduardo Monteiro, proprietário da concessionária Lexus Jardins, em São Paulo, também esteve presente no evento: “Nossos clientes sempre ficam encantados. A sensação de surpreender de forma positiva, não com valores, mas com experiências de vida, é sensacional”, afirma.
PATROCÍNIO EQUIPE LEXUS SAILING TEAM
Desde 2012, a Lexus patrocina o veleiro comandado por Luís Gustavo de Crescenzo. É uma embarcação de 46 pés, de fibra de carbono, do tipo botin&carkeek, projeto espanhol construído no Brasil. Crescenzo iniciou sua paixão pela Vela em 2005 e hoje participa com sua equipe de campeonatos estaduais e brasileiros da Classe ORC. Também disputou três vezes o Mundial de Vela, em Antígua, no Caribe. Ele ressalta a importância da Vela, que é o esporte que mais trouxe medalhas olímpicas em números totais e a segunda em medalhas de ouro, atrás apenas do judô. “A Vela tem uma representatividade impressionante no mundo inteiro. Todos os países respeitam muito o Brasil por sua tradição na Vela”, conta. Segundo ele, o Brasil possui os títulos mundiais mais importantes, com Torben Grael: Olímpicos e Pan-Americanos. “O Brasil, hoje, é um grande celeiro de velejadores. E esse foi um dos motivos, quando formamos o nosso time de Vela, que nos levou a buscar o apoio da Toyota e da Lexus”, conclui. u
Abaixo, Fabio de Souza Santos ganhou a camisa da equipe de Vela Lexus, comandada po Luís Gustavo de Crescenzo, pela fotografia vencedora da #lexusexperience; festa da tripulação, e modelo Lexus para test drive. Na água, colocando em prática o que aprenderam. Na outra página, Luís Gustavo de Crescenzo dá as dicas antes de zarpar
132 ISCA
DOCE MAR
Formada por três chefs, equipe brasileira enfrenta mares internacionais com muita técnica e criatividade
A
sobremesa é considerada o grand finale das refeições, podendo fechar com chave de ouro uma experiência gastronômica que ficará na lembrança. Desde que, no século 19, passou a ser servida no final das refeições, a sobremesa sofreu forte influência dos doces portugueses à base de ovos, açúcar e amêndoas e da pâtisserie francesa. O doce virou coisa séria. O grande boom na confeitaria ocorreu no fim do século 20, quando doceiras pipocavam pelo mundo. Chefs pâtissiers ganharam fama com criações sofisticadas, saborosas e pouco calóricas. Em 1989, o chef francês Gabriel Paillasson criou o concurso internacional de alta confeitaria Coupe du Monde de la Pâtisserie, que acontece durante o Salon International de la Restauration, de l’Hôtellerie et de l’Alimentation (Sirha). Realizado entre 21 e 25 de janeiro na cidade francesa de Lyon, a edição 2017 da Coupe du Monde de la Pâtisserie contou com a participação de uma equipe brasileira. Treinados pelo chef Ramiro Bertassin, que já havia participado três vezes da competição, Abner Ivan, especialista em chocolates, Marcone Calazans, expert em açúcar, e Fernando Oliveira, responsável pela parte de gelo, chegaram à final com o tema Piratas do Caribe. Durante a acirrada disputa, apresentaram uma sobremesa de chocolate com coco, nibs de cacau, sablet de chocolate e castanha de baru; uma sobremesa gelada com coco, abacaxi sablet salgado e manga; e sobremesas empratadas que imitavam uma garrafa de rum, feitas com casquinha de chocolate, banana, bavaroise de rum e espuma de coco. Além disso, apresentaram quatro esculturas: uma de açúcar, uma de chocolate, uma de gelo e uma peça esculpida à mão com chocolate. Uma das novidades do concurso este ano foi a proposta do pensamento sustentável. Respeitando as regras do que os candidatos deveriam apresentar como escultura, o comitê internacional de organização, presidido pelo francês Philippe Rigollot (campeão em 2005), limitou a 15 quilos o peso permitido para as esculturas
de chocolate. Assim, os candidatos produziram peças ocas, evitando o desperdício e o uso exagerado de matéria-prima. A equipe brasileira chegou à final com muita dedicação e talento. “Foi uma grande honra participar mais uma vez da competição, dessa vez como técnico e jurado. Vivi de perto o esforço e a dedicação da equipe e estou muito orgulhoso do resultado que conquistamos, ficando entre os melhores do mundo. Isso já é um prêmio imenso”, disse Ramiro. Ao lado do Brasil, competiram mais 11 equipes: Inglaterra, México, Bélgica, Argentina, Suíça, Turquia, Cingapura, Indonésia, Malásia, Japão e França. O francês Philippe Rigollot é o novo presidente da Coupe du Monde de la Pâtisserie e endossa o que disse Gabriel Paillasson: “Só os melhores estão aqui, por isso os jurados são rígorosos e esperam ser surpreendidos”. Excelência, paixão, toque humano, compartilhamento e abertura ao mundo são alguns dos valores promovidos pelo concurso. O presidente de honra dessa última edição foi Kamal Rahal Essoulami, chef que contribuiu muito para o desenvolvimento da confeitaria no Marrocos. Entre 22 equipes, vindas de quatro continentes, formadas por três profissionais especializados (em açúcar, chocolate e sorvete), o team francês foi o grande destaque, ficando com o primeiro lugar da edição 2017 da Coupe du Monde de la Pâtisserie. Sob comando do técnico Marc Rivière, o trio francês, formado por Etienne Leroy, Bastien Girard e Jean-Thomas Schneider, cumpriu a prova com excelência nas dez horas disponíveis, seguido por Japão e Suíça. u
O expert em doce, Marcone Calazans, com a mĂŁo na massa durante o concurso
134 ISCA
por REILA CRISCIA
CHEF EMBAIXADOR Com mais de 35 anos de carreira, Vitor Sobral divulga a gastronomia portuguesa mundo afora
V
itor Sobral tem sua história constituída na cultura gastronômica portuguesa e leva essa formação para o mundo como verdadeiro embaixador. Relaciona-se com especial vivacidade com os países lusófonos. Conhecido pela sua inimitável habilidade para manipular os mais tradicionais sabores lusitanos, mantém sua ligação com os produtos, temperos e suas raízes. Origens obtidas desde a infância, com o hábito de cultivar e colher, observar o alimento espontâneo e nativo, alimentar as criações e viver “ao pé do fogão”, cozinhando com a mãe e avó materna. “Sempre quis ser cozinheiro, nunca percebi outra opção”, ele diz. A fusão entre os pratos tradicionais portugueses e a inovação é um desafio que o conduz pelas várias cozinhas por onde difunde o seu trabalho. O chef alia técnica com a autenticidade de produtos simples e genuínos. O resultado é a reinvenção da gastronomia portuguesa. Deixa como legado o seu cunho pessoal e o dom de fazer discípulos. Cozinheiros que seguem a sua cozinha e os ensinamentos, registrando a técnica de extrair o máximo de cada produto, transformando as aparas em texturas e sabores e dominando o ponto exato da cocção de cada matéria-prima. Defensor do patrimônio gastronômico, não deixa de se referir: “Os produtos portugueses são a nossa maior riqueza, e a nossa cozinha sem produtos genuínos não tem sentido”. Essa definição está presente em todas as suas palestras, até nas mais “caseiras”, as que servem de formação à sua equipe. Por essa conservação e divulgação cultural foi agraciado com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique. Criatividade e ousadia são os ingredientes principais que Vitor Sobral tem em mãos ao criar e reinventar o seu trabalho. Assim, o alentejano traz mais originalidade para sua autêntica cozinha portuguesa.
O BRASIL NA ROTA
Além-mar, Vitor Sobral também tem sido um empreendedor da valorização das raízes da cozinha portuguesa no Brasil. Apresenta toda a matriz lusitana e tem a delicadeza de respeitar os produtos nativos e os genuínos hábitos alimentares entre os brasileiros. “Sou patriota e admiro os brasileiros que assumem a mesma postura.” Ainda quebra paradigmas, pois apresenta que a cozinha portuguesa vai muito além do bacalhau e, como um artista, brinca em sua ‘tela de sabores’, miscigenando cores e texturas de produtos do Brasil tão Portugal. Assim, ensina a sofisticada simplicidade do informal: dá grandeza a produtos coadjuvantes, como a mandioquinha, o maracujá, a jabuticaba e outros nativos. Na restauração tirou as toalhas das mesas, desmitificando a formalidade dos restaurantes portugueses no País. Valoriza o artesanal em louças e copos. Coloca os vinhos à mesa com o conhecimento da harmonização de sabores. Mostra leveza ao conquistar que o cliente se sinta em casa. Permite pôr à prova a arte da cozinha portuguesa e, por meio da gastronomia, valoriza a amizade de Portugal pelo Brasil.
“DA ESQUINA”
Com maturidade profissional criou a marca “Da Esquina”. Hoje com seis casas que levam o conceito da marca. Duas em Lisboa, a matriz Tasca da Esquina e a Peixaria, ambas localizadas no Campo de Ourique. Em 2011, abriu a filial da Tasca da Esquina em São Paulo, nos Jardins. Na África, criou a Kitanda da Esquina, em Luanda, a capital angolana, com conceito adaptado ao país. O sucesso da marca no Brasil rendeu mais dois empreendimentos: a Taberna da Esquina, no Itaim, e a Padaria da Esquina, também nos Jardins, em São Paulo. A recém-inaugurada Padaria da Esquina celebrou o título de melhor panificadora da cidade, eleita pelo júri técnico da revista Veja Comer e Beber. Projeto desafiador que teve como objetivo trazer a tradição milenar do pão português, cujo segredo está na paciente
fermentação que determina texturas, densidades e aromas. Também trazer a vocação portuguesa para a valorização dos grãos, dos doces, embutidos e outros itens da charcutaria. “Da Esquina” é uma linha de restaurantes nos quais a preocupação principal é fazer com que o cliente se sinta em casa, onde o luxo é a autenticidade, espaços informais que respeitam a descontração, sem deixar ao acaso a qualidade da excelência na gastronomia e no serviço. Cada casa tem projeto arquitetônico com a mesma linguagem de conforto e comunicação visual, com olhar voltado à sustentabilidade.
LIVROS
A partilha de conhecimento sempre foi basilar no percurso de Vitor Sobral. No Brasil, suas obras Alentejo, Além-mar e As Minhas Receitas de Bacalhau – 500 Receitas foram lançadas pela Editora Senac São Paulo. O primeiro teve prefácio e reportagem assinados pelo historiador e jornalista J.A. Dias Lopes, enquanto o outro ganhou, em dezembro de 2013, o título literário Gourmand World Cookbooks Awards 2013.
PARCERIAS
A experiência do profissional e a especialização em distintas áreas da gastronomia rendem-lhe importantes trabalhos como consultor gastronômico e chef de cozinha de expressivas empresas, como a companhia aérea TAP, a empresa portuguesa de louças e utensílios Vista Alegre, a organização Norge, retentora dos cuidados da pesca da Noruega, do Grupo Silampos, de louças metálicas domésticas e industriais, e do Grupo Sovena, dos Azeites Oliveira da Serra e Andorinha entre outras. Em 2016, assumiu a consultoria e concepção de restauração do projeto da Fundação Eugênio de Almeida, responsável pela produção de vinhos fantásticos, como Cartuxa e Pera Manca. u
136 ISCA
BACALHAU CONFITADO, AZEITONA VERDE E PIMENTÃO VERMELHO INGREDIENTES 2 kg de bacalhau seco demolhado 200 g de azeitona verde seca 300 g de pimentão vermelho descascado 10 dentes de alho laminados 2 a 3 malaguetas Azeite extravirgem a gosto
Coloque todos os ingredientes e cozinhe em azeite extravirgem, que deverá cobrir todo o bacalhau. Corte o bacalhau em lascas. Coloque no pirex em camadas, pela seguinte ordem: alho, pimentão, azeitona, bacalhau e repita até finalizar, cubra o recipiente com o azeite e leve ao forno.
RAIA COZIDA EM AZEITE INGREDIENTES 2 kg de bacalhau seco demolhado 3 kg de raia 400 g de echalotas 10 dentes de alho em camisa 100 g de alcaparras 50 g de pimentão verde Azeite extravirgem Sal marinho a gosto 2 folhas de louro Amanhe o peixe e dose em postas de 300 g cada um. Tempere-as com sal marinho e pimenta preta de moinho. Coloque azeite virgem e aqueça num souté. Adicione as echalotas cortadas ao meio, alho com casca, alcaparras, pimentão verde, folha de louro. Junte a raia, tape o souté e leve ao forno aquecido a 200ᵒC por cerca de 10 minutos. Sirva com purê de batatas, colocando-o no centro do prato e a raia e tudo o que foi cozido com ela ao redor. Regue com azeite da cozedura da raia e termine aromatizando com hastes de cebolinha
138 ÂNCORA
fotos MARCO YAMIN
AQUÁRIO
Despojada e contemporânea, casa no litoral norte de São Paulo é toda envidraçada para levar a Mata Atlântica com toda a sua exuberância para seu interior
As delícias estão dentro e fora da casa: a floresta, o conforto, o lazer e o pequeno Osvaldo, cachorro da família reproduzido na parede. Para deixar a casa mais divertida, a arquiteta desenhou bichos nas paredes
140 ÂNCORA
O térreo ganhou modernidade com os azulejos Lurca aplicados na área do home office e perto da escada. Abaixo, a sala de TV se destaca com o painel de madeira pinus natural e um móvel tipo industrial para abrigar a televisão. Na outra página, a sala de estar com lareira Tarus a sala de estar com lareira Tarus (Construflama)
A
bela Praia da Baleia, no litoral norte de São Paulo, é bem familiar. De longa extensão, areia dura e águas calmas, abriga vários condomínios com casas de veraneio. Dizem que foi batizada em homenagem à pequena ilha em frente, cujo formato lembra uma baleia. Nesse cenário, uma casa de 260 metros quadrados e dois andares, com vários toques de cor e um estilo que permeia entre o industrial e o praiano, é refúgio de um casal com dois filhos – a menina de 9 anos e o menino de 10. O casal – ele engenheiro e ela advogada – desejava um projeto mais espaçoso e iluminado, por isso contratou as arquitetas Luciana Uras e Beatriz Messeder do escritório Studio ArquitetUras. De cara, eles pediram mais uma suíte, mas não queriam de forma nenhuma fechar o pé-direito da entrada como as outras casas do condomínio. Desejavam mais integração com a Mata Atlântica ao redor. Além disso, buscavam melhorar a entrada de serviço, fazer um banheiro para empregada, melhorar a circulação da cozinha e sua bancada. Como o pé-direito foi mantido, a ideia também era preservar a integração completa do térreo, onde tudo se comunica – a cozinha, home office, sala de TV e sala de estar. Sem paredes ou
obstáculos visuais, a ideia era enxergar todos os cantos da casa de qualquer ponto, fazendo com que o verde emoldure as janelas e abrace os ambientes. A sala de TV recebeu um painel de madeira pinus natural, e um móvel para abrigar a televisão inspirado no estilo industrial, com estrutura de ferro enferrujado e resinado, para não soltar sujeira e madeira de demolição. O espaço ainda contou com uma composição de quadros divididos em dois lados – à esquerda são fotos tiradas pela proprietária, no lado direito um díptico de Frida Kahlo supermoderno da artista Desirée Feldman para a UrbanArts. Tudo isso mostra o toque bem-humorado da decoração, que tem a cara dos proprietários. Atentas aos desejos e sonhos dos clientes, as arquitetas criaram um espaço de lazer confortável e bem quentinho para os dias mais frios: a sala de estar com lareira Tarus (Construflama), já que a proposta dos proprietários é aproveitar a casa em todas as estações. Mas para isso foi necessário criar uma fundação de 7 metros de profundidade, para dar estabilidade à nova laje, pois a casa fica localizada em cima de um mangue, por isso é elevada para que a água continue correndo por baixo da mesma. Para deixar a casa ainda mais divertida, a arquiteta Luciana
142 ÂNCORA
Uras desenhou bichos que representam o local da morada. A baleia foi inspirada no nome da praia onde está o projeto, há ainda um caranguejo e o desenho do cachorro da família, o pequeno Osvaldo. Para deixar o térreo mais moderno e vibrante foram aplicados azulejos nas cores azul e branco (Lurca) na área do home office e perto da escada, complementando a atmosfera despojada e harmônica do projeto. Por se tratar de uma casa na praia, a ideia foi deixar a cozinha funcional e prática – sem muitos eletrodomésticos e utensílios, mas com tudo sempre à mão, o que explica o armário aberto. Após a reforma, a cozinha escura perdeu uma porta de madeira e ganhou as duas janelas em fita. A porta foi substituída por portas de PVC e vidro para dentro da área de serviço e depósito ao lado da geladeira. Esse deslocamento permitiu liberar a parede para uma grande bancada em “L”, feita de granito. A bancada que divide a cozinha e a sala de almoço foi mantida. A geladeira, que já pertencia à casa, foi repaginada com adesivo de lousa. A varanda integrada com a área da churrasqueira e a sala de estar externa são os espaços preferidos da família, que adora receber amigos e familiares. É ainda na área externa que acontecem as melhores e mais divertidas brincadeiras da criançada, já
que o condomínio não dispõe de nenhum espaço destinado ao lazer. As crianças pediram uma casinha na árvore, que funciona como um ponto de encontro para reunir os amigos (é um espaço exclusivo da menina, onde os adultos não entram). Feita de troncos de eucalipto tratado, a casinha aproveita o fundo do terreno, que originalmente é uma área alagada de mangue, que antes não era utilizada. O espaço ganhou ainda um deck de madeira elevado com um banco que circunda toda a área. No segundo andar da casa ficam os quartos do casal e dos filhos. O quarto dos pais foi ampliado e a sacada, que era subutilizada, reduziu de tamanho. Os móveis já pertenciam à família e foram mantidos, acrescentando apenas quadros. No quarto compartilhado pelos dois filhos, o armário existente e escuro foi reformado e deslocado para a outra parede. Dessa forma foi possível colocar duas bicamas nas extremidades, abrindo um grande espaço para receber os amigos nos fins de semana e aumentar a turma. A cabeceira, feita de madeira pinus, que une os dois móveis, ganhou uma prateleira que vai de ponta a ponta, com tomadas para carregar celulares e tablets. Os quadros da turma da Mônica Toy (UrbanArts) compuseram muito bem o quarto unissex. u
Acima, o quarto do casal e dos filhos. Ao lado, A varanda foi integrada com a área da churrasqueira e sala de estar externa. Abaixo, as crianças têm diversão garantida com a casa na árvore e espaço de lazer. Na outra página, a cozinha funcional e prática é bem aconchegante
por ÉRICA GIACOMELLI*
144 LUXO A BORDO
TEXTURAS O outono-inverno aposta em duas tendências principais em tecidos e revestimentos têxteis – um bom motivo e uma boa maneira de renovar o interior de seu iate *Érica Giacomelli é arquiteta e designer de interiores
Próximo ao outono-inverno tropical, vamos explorar as duas tendências que prometem tomar conta das superfícies têxteis de iates e residências. Essas duas tendências, HumaNature e Dark Wonder, se misturam para criar uma estética que não ficará apenas marcada nas estações mais frias do ano, mas também se estenderá para todo o ano de 2018. A tendência HumaNature explora o desejo de se reconectar com a natureza, celebrando sua beleza e o seu lado selvagem. Os resultados estendem-se em duas direções para os têxteis: uma com desenhos táteis e texturas rústicas, em textura de penugem e esfiapado, e outra em um tema mais figurativo que se concentra em representações de folhagens botânicas e com estampas que são inspiradas em diferentes culturas.
2
STATEMENTS SAZONAIS • As composições em patchwork têm inspiração em diferentes culturas: 1 essas inspirações incluem os têxteis ikat, costura kantha e técnicas tiedye. Borlas e franjas também são reutilizadas para novos produtos. (1) • I magens de florestas e folhagens assumem o seu lugar: todos esses padrões podem ser impressos como representações realistas ou traduzidos em tecidos jacquard e abstratos. (2) • As texturas tácteis permanecem importantes: as texturas quentes e aveludadas ou crespas e esfiapadas e desgastadas são trabalhadas nos 6 tecidos, fornecendo um visual reconfortante e de aspecto “usado”. (3) A paleta de cores da tendência HumaNature inspira-se em paisagens silvestres e tons outonais para uma história rica e tátil. Detalhes nas cores vermelho-sangue e amarelo-mostarda trazem calor aos tons de cinza e marfim, enquanto o verdefloresta e o marrom-cedro adicionam uma qualidade terrena às coleções. Algumas das características que podem ser exploradas nessa tendência são: • Aconchegante e Felpudo: o calor e a suavidade são um dos focos centrais da tendência HumaNature, que podem ser trabalhados com fibras que sejam felpudas ou peludas em tons saturados. O Mohair, a pele falsa e as misturas de lã dão uma sensação quase de pelúcia, e essas texturas podem ser imitadas em fibras sintéticas ou até impressas para uma solução mais econômica. Explore as cores vibrantes! (4) • Superfícies Desgastadas: as superfícies que são visualmente desgastadas, desbotadas e “utilizadas” se tornaram vanguarda das novas coleções, seguindo o princípio do wabisabi de comemorar as imperfeições da vida. O segredo é procurar texturas que parecem erodidas pelo tempo, mas que ainda permaneçam macias ao toque. Jacquard de veludo, tece e chenille dão às almofadas e aos tapetes uma qualidade aconchegante. (5) • Composições de Patchwork: a mistura de diferentes padrões de diferentes culturas, com detalhes de outras peças utilizadas em outros ambientes sugere uma abordagem sustentável e criativa. (6) Para projetar. Os padrões Ikat podem ser embelezados com técnicas kantha e pontos grosseiros, ou podem ser misturados e combinados com motivos desbotados. Geometria, jogo com escala e fronteiras para composições rítmicas.
3
4
5
A Dark Wonder explora o espaço misterioso entre os estados de sonho e realidade, resultando em tecidos altamente opulentos e táteis. Os tecidos dessa tendência têm foco em texturas ornamentadas e combinação de materiais com pesos contrastantes, como o veludo e a seda. Damasco e padrões barrocos apresentam uma ornamentação diferente da usual, que pode adicionar um senso de drama aos projetos de interiores de iates e que são perfeitos para criar uma atmosfera de aconchego chique. STATEMENTS SAZONAIS • Os padrões barrocos são mais contemporâneos: os motivos opulentos clássicos exploram tratamentos especiais que fornecem uma aparência desbotada e apagada. (7) •E xploração dos contrastes do mate e do lustroso: os acabamentos contrastantes são fundamentais nessa tendência, com veludo liso e de aparência esmagada, ou brilhos de cetim e seda, combinados com uma mistura de cores escuras profundas e tons vibrantes de pedras preciosas. (8) •O rnamentação de produtos com lantejoulas, contas e glitter: tonalidades escuras e iridescentes são importantes para enfeites que criam efeitos que vão desde um brilho sutil para a mais dramática mudança de cor e de superfícies. (9)
8 7
A tendência Dark Wonder oferece uma mistura de tons ricos e profundos, com brilhos metálicos e acentos brilhantes, quase como os de néon. Preto e azulmarinho reforçam o sentido do drama quando emparelhados com o amarelo do marca-texto. O tom de ameixa da tendência adiciona um calor sofisticado ao lado do verde-musgo. A paleta oferece a oportunidade de explorar peças intrigantes de superfícies aveludadas e brilhantes, que são ideais para a temporada de férias de meio de ano, normalmente cheias de eventos. Algumas das características que podem ser exploradas nessa tendência são: •O pulência Misteriosa: os padrões de damasco e de origens barrocas permanecem importantes, e vêm como impressões em tecidos de padronagens novas em tons mais escuros. O mistério reside na descoberta de vestígios de estampas, que são totalmente ou completamente apagados, ou ainda incorporados em superfícies. Os tapetes exploram composições intrincadas desgastadas ou em técnicas de alto e baixorelevo. Os tons escuros aumentam o drama desses tecidos. (10) • Movimento Líquido: a fluidez e o movimento suave e sinuoso dos tecidos 12 são um foco-chave no Dark Wonder, explorado através de veludos e sedas macios em cores fechadas e escuras e em tons de pedras preciosas. Uma qualidade dramática e sensual é criada contrastando tons mate com brilhos metálicos, criando desenhos que são perfeitos para o período de inverno tropical. (11) •B rilho: os detalhes em brilho dos tecidos da Dark Wonder criam um olhar glamouroso e teatral, usando lantejoulas e brilhos nos produtos têxteis. As lantejoulas que mudam de cor em tons escuros e iridescentes dão às almofadas um apelo lúdico e tátil. Cortinas internas feitas de veludo ou de tecido metálico têm um luxuoso drapeado que dá às janelas um visual aconchegante e sensual. (12) A maneira mais fácil de renovar o interior de um iate é abrindo mão de tecidos e revestimentos têxteis novos. E você, já está pronto para uma mudança radical?
9 10
11
146 PROA
foto DAVID LAMBROUGHTON
“Onde quer que você esteja, seja a alma deste lugar” JALAL MUHAMMAD RUMI