Revista Pedagógica Espírita XIV

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NEUROPEDAGOGIA - A CONSTRUÇÃO DA MENTE À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA • EVANGELIZAÇÃO NA HOLANDA

Ano III • Nº XIV • Setembro/Outubro 2010 • www.rpespirita.com.br

Encarte

Atlas de Neuroanatomia R$ 9,00

Operações Mentais

Nubor Facure

• Poesia - Orvalho d’Alma • Psicologia e Educação do Espírito - William James • A Arte na Educação do Espírito - León Denis 1 | Revista Pedagógica Espírita | www.rpespirita.com.br

• Física Quântica, Psicologia e Educação • Prática Pedagógica na Evangelização - As Leis Morais www.IDEEDITORA.com.br


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EXPEDIENTE Direção geral Walter Oliveira Alves Ano III - Nº 14 - setembro/outubro - 2010

SUMÁRIO Poesia - Orvalho D’alma 02 Pedagogia e Educação do Espírita - A Pedagogia Espírita e a Teoria de Piaget 03 Psicologia e Educação do Espírito - William James

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A Arte na Educação do Espírito - O Espiritismo na Arte - Léon Denis 13 Encarte - Atlas de Neuroanatomia

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Filogênese do Sistema Nervoso Formação e Evolução dos Neurônios Formação e Evolução do Encéfalo Neuropedagogia - A Construção da Mente - Neuropedagogia e Doutrina Espírita 19 Artigo de Nubor Facure - Operações Mentais - Como o Cérebro Aprende 22 Física Quântica, Psicologia e Educação - A Física Quântica à luz da Doutrina Espírita 25 Evangelização na Europa - Holanda

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Prática Pedagógica na Educação - As Leis Morais 31

Revisão Doutrinária Hércio Marcos Cintra Arantes Revisão Geral Doralice Scanavini Volk Polos regionais Franca - São Paulo Campinas - São Paulo Santos - São Paulo São Paulo - São Paulo Matão - São Paulo Barbacena - Minas Gerais Uberlândia - Minas Gerais Rio de Janeiro - Rio de Janeiro Joinville - Santa Catarina Curitiba - Paraná Polos internacionais Nova York - Nova York - USA Boston - Massachusetts - USA Orlando - Flórida - USA Porto - Portugal Viena - Áustria Londres - Inglaterra Winterthur - Suíça Jornalista responsável Mario Joanoni - MTB 025546 Assinatura anual assinaturas@rpespirita.com.br www.rpespirita.com.br Brasil - R$ 45,00 Exterior - US$ 33,00 Número avulso: R$ 9,00

Editorial Vivemos tempos de grandes mudanças. Tudo o que aprendemos e vivemos nos trouxe até aqui. Trabalho gigantesco foi realizado por milhares de Espíritos, sob a égide de Jesus, através de séculos de atividades, auxiliando o processo evolutivo de todo o nosso Planeta. Estamos entrando na era do Espírito, conforme linguagem de amigos espirituais. Agora, a vida nos chama para escolhas íntimas, para uma tomada de posição, frente ao apelo do Mundo Espiritual para este momento de profundas transformações. A maior transformação, sem dúvida, se inicia dentro de nós mesmos, em nossa maneira de pensar, sentir e agir. E isso é tarefa da educação em seu aspecto mais profundo, a educação do Espírito. Nesse sentido, o Instituto de Difusão Espírita, através da Revista Pedagógica Espírita, se lança também nessa campanha de auxílio ao educador espírita que, de certa forma, somos todos nós, jovens e adultos, pais, professores, evangelizadores. Somente através da educação, que se inicia dentro de nós mesmos e se transforma em autoeducação, chegaremos ao mundo de Regeneração, que todos nós aguardamos. Por isso, a Revista Pedagógica Espírita se lança nas áreas da Ciência, da Filosofia e da Religião, aliando-se também à Arte como instrumento de elevação da alma, buscando responder ao apelo do Mundo Espiritual: “Espíritas, amai-vos e instruí-vos”. Que possamos, todos nós, dar o melhor de nós mesmos, em favor do trabalho de Regeneração de nosso “planeta escola”.

Walter Oliveira Alves Diretor Geral

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Equipes Artísticas Música: Juliana Hypólito Silva Dança: Daniela Pereira Teatro: Gustavo Lussari Artes Plásticas: Enis Mariano Rissi Literatura: Luiz André Miguel da Silva

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Orvalho d’Alma Orvalho d’alma Nas pétalas do coração Refletindo a Alvorada Seu brilho se faz estrada Aos braços da imensidão... Na dor ardente gemido, Que evola, compungido, E vai beijar a Mão Da Celeste Compaixão... É o órgão que ressoa, Pelo templo da alma ecoa, Reverberando seu louvor Aos pés do Criador... No coração sublime rosa, Que exala, majestosa, Os perfumes da gratidão Ao Senhor da Criação... É voz inaudível Que clama e canta com ardor É do sentimento o fervor Que torna a rocha sensível...

Lágrima n’alma poesia, Luz que se faz melodia Vertida na harpa do Amor Nota de doce esplendor Quando filha da harmonia...

Ensina-nos o fervor Não nos lábios nascido, Mas no coração ouvido Pelo Coração do Senhor...

Oh, divina prece! Tu que, nos lábios de Jesus, Fez-se-nos rota de luz E dizendo, “assim orai” Guia-nos à Casa do Pai!

Pérola do sentimento, Riscando o firmamento, Traça estrada de luz Que ao peregrino conduz Às plêiades do conhecimento...

Da fé seja filha, E a pureza que nela brilha Seja a seiva do coração Que, cheio de perdão, É oferenda de Amor No Altar do Criador...

Âncora do navegante, Firmando o coração No Sol que, incessante, Brilha acima da ilusão...

Sol que a alma inflama, E nela derrama Num êxtase bendito As claridades do infinito...

Oh, oração! Estiveste no monte das oliveiras, E te fizeste companheira Da vigília do salvador, Quando em todo seu fulgor Brilho de santa humildade, Subiste às divinas claridades Espalhando aos céus o clamor: - Pai, faça-se a Tua Vontade!

Oh, orvalho d’alma, Bálsamo do coração, Afago que acalma És tu, ó oração!

É o fio condutor Por onde sobe o clamor Do íntimo do coração, E por onde desce a inspiração Do caminho do Amor...

Já foste misericórdia, puro Amor, Quando do alto da cruz, Levaste ao Senhor O perdão de Jesus!

Ensina-nos a humildade Do coração do publicano, Que na voz da simplicidade Além do julgamento mundano, Reconheceu-se em engano E a Deus pediu a piedade...

Em meio à escuridão Que confunde o coração... É Portal n’alma aberto, Apontando rumo certo Para além da aflição...

por Dayane Assenço 4 | Revista Pedagógica Espírita | www.rpespirita.com.br


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Jean Piaget, bem como outros pensadores como Vygotsky e HenriWallon, compreendem a aprendizagemcomoumprocesso de construção de estruturas mentais. Comparando com alguns autores espíritas, especialmente André Luiz, na obra citada à frente, percebemos que as ideias desses pensadores possuem muitospontosemcomumcom a Doutrina Espírita, embora a própria Doutrina Espírita amplie de forma belíssima, o conceito de aprendizagem e de educação.

por Walter Oliveira Alves

Pequena biografia

Jean Piaget nasceu aos 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel na Suíça. Faleceu em Genebra, aos 84 anos, em 16 de setembro de 1980. Em 1907, com 10 anos, publica na revista da Sociedade dos Amigos da Natureza de Neuchâtel um artigo com estudos sobre um pardal branco (albino), que é considerado o início de sua carreira como cientista. Durante a adolescência, trabalhou como voluntário na seção de moluscos do museu de História Natural, escrevendo artigos sobre o tema. Piaget frequentou a Universidade de Neuchâtel, onde estudou Biologia e Filosofia. Formou-se em Ciências Naturais com 21 anos. Em Zurique, passou a interessar-se e a estudar psicologia e psiquiatria. Depois de se formar, foi para Zurich, onde trabalhou como psicólogo experimental além de trabalhar em psiquiatria. Em 1919, foi para Paris, onde desenvolveu trabalhos no Laboratório de Alfred Binet, investigando o desenvolvimento intelectual da criança a partir de testes elaborados pelo investigador francês. É este traballho que o irá motivar a de-

senvolver as suas pesquisas na área da psicologia do desenvolvimento. Em 1921, retorna à Suíça e assume as funções de diretor de estudos no Instituto Jean-Jacques Rousseau da Universidade de Genebra, onde iniciou sua carreira, ao registrar suas observações de crianças brincando, que deram o fundamento para a construção de sua teoria. Piaget casou-se em 1923 com Valentine Châtenay e tiveram três filhas: Jacqueline (1925), Lucienne (1927) e Laurent (1931). Uma parte da teoria piagetiana teve por base as observações de Piaget e da esposa a respeito do desenvolvimento cognitivo de seus filhos durante a primeira infância. Aos 27 anos, escreveu o seu primeiro livro de psicologia: A Linguagem e o Pensamento na Criança. Em 1925, ocupou o cargo de professor de Filosofia na sua cidade natal. Na década de 50, fundou, congregando investigadores de vários ramos do saber, o “Centro Internacional de Epistemologia Genética” da Faculdade de Ciências da Universidade de Genebra, de onde saíram importantes obras de psicologia cognitiva. Lecionou a disciplina de Psicologia da Criança, a partir de 1952, na Sorbone, Paris. Sua carreira é intensa como professor e pesquisador. Publicou cerca de 150 livros. Jean Piaget é considerado um dos maiores teóricos da aprendizagem e ainda hoje exerce forte influência na educação. Foi o primeiro teórico cognitivista a desenvolver teorias apoiadas em resultados experimentais. Piaget descobriu e comprovou cienti-

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ficamente que as estratégias usadas na aprendizagem e a capacidade de aprender novos conceitos variam de acordo com a idade e aprofundou seus estudos. A originalidade de suas pesquisas, empregando o método clínico, consistiu em criar situações concretas para as crianças, e suas respostas foram analisadas de acordo com estágios ou níveis ordenados de compreensão. Piaget compreendeu e apresentou as formas de organização do pensamento. Devemos lembrar que Piaget não propõe um método de ensino, mas elabora uma teoria do conhecimento e desenvolve muitas investigações cujos resultados são utilizados por psicólogos e pedagogos.

Na foto, professores e alunos do Instituto Jean-Jacques Rousseau - Genebra - Suiça - 1928


Alunos do Instituto Jean-Jacques Rousseau, estudando o funcionamento do cérebro. No centro, em pé, Edouard Claparède

Fundada por Édouard Claparède, a escola reuniu alguns dos grandes nomes da psico-pedagogia da época, entre os quais Adolphe Ferrière, Ernst Schneider, Jean Piaget e Hélène Antipoff. O ensino ministrado e a preparação pedagógica visavam a introdução no sistema educativo dos conceitos das correntes, ao tempo modernas e inovadoras, que dariam origem à Escola Nova.

Piaget ,no centro, sentado, e os membros do Bureau internacional de Educação (IBE), 1925.

Construção Mental

A atividade mental se processa pela assimilação e acomodação em níveis gradualmente crescentes, num avançar progressivo, construindo gradativamente novas estruturas em níveis cada vez maiores, ou seja, partindo do que já se tem dentro de si, construindo estrutura nova, em nível superior. Esse processo de assimilação e acomodação é constante. A criança assimila o meio através das experiências, da vivência, até o momento em que acomoda suas estruturas interiores às novas experiências, construindo, assim, nova estrutura, em nível superior. Essa nova estrutura mental servirá de base para a construção de outras estruturas, em níveis cada vez mais superiores. O termo “estrutura mental” se refere à capacidade de realização e não a conteúdos acumulados ou meros conhecimentos.

Assimilação e Acomodação

Segundo Piaget, o desenvolvimento cognitivo se faz por mudanças das estruturas anteriores e consequente construção de novas estruturas mentais, através de mecanismos de adaptação que são assimilação e acomodação. Entende-se por assimilação a incorporação de novas experiências, ou seja, é um processo mental pelo qual se incorporam os dados das novas experiências aos esquemas existentes. Entende-se por acomodação como sendo uma transformação ou mudança interior, ou seja, é um processo mental pelo qual os sistemas existentes vão modificar-se em função das experiências novas. As exigências do meio, desafios ou necessidades, causam um 7 | Revista Pedagógica Espírita | www.rpespirita.com.br

desequilíbrio, levando o indivíduo a agir para adaptar-se às novas experiências ou ao meio e restabelecer o seu equilíbrio. A esse processo dá-se o nome de equilibração progressiva. Quando o indivíduo ainda não conhece determinada realidade (conteúdo, mecanismo, etc.) ou quando o desafio foi um pouco além de sua capacidade atual, ele se desequilibra e age, para restabelecer o equilíbrio. Neste agir, do ponto de vista mental, ele vai assimilando gradualmente a nova experiência, até ocorrer o processo de acomodação, ou mudança interior e consequente construção de novas estruturas mentais. Para ocorrer a construção de novas estruturas mentais, a criança necessita de desafios um pouco acima do estágio em que se encontra para, através de seu próprio esforço, atingir um estágio em nível superior. O indivíduo sempre utiliza suas estruturas mentais já existentes para, através de novas experiências, construir novas estruturas. Assim, exemplificando, a criança que aprendeu a somar e subtrair, aprende a multiplicar e dividir. Depois aprenderá as demais operações como equação do primeiro grau, evoluindo para equações mais complexas. Não seria possível aprender equação do segundo grau se ela ainda não sabe as quatro operações básicas. Isso, não apenas na matemática, mas em todas as áreas do conhecimento. É importante compreender que o termo estrutura mental se refere à capacidade de realização e não a meros conteúdos acumulados. O processo de assimilação é lento, gradual e progressivo. O educando necessita interagir com o meio, redescobrir a realidade ou reconstruir os conceitos que está querendo assimilar. Isso não se consegue com uma aula, sobre um tema. É necessário interação com o meio (com o outro, com o meio social, com os objetos e experiências, e como veremos mais tarde, com o meio espiritual), participação ativa e determinado tempo para ocorrer o processo de assimilação e consequente construção mental.


A TEORIA DE PIAGET Segundo Piaget, quando o indivíduo experimenta uma necessidade (desequilíbrio), ele age para restabelecer o equilíbrio, ou seja, readaptar-se.

Necessidade (Desequilíbrio)

Ação

Readaptação (Reequilíbrio)

Percebemos que a necessidade, ao causar o desequilíbrio, impulsiona o indivíduo à ação para restabelecer o equilíbrio. A necessidade está ativando a força interior da vontade. Quando o indivíduo age, dois aspectos se interagem: a inteligência e o sentimento. A necessidade varia ao infinito. Uma curiosidade é uma forma de necessidade que causa o interesse, que mobiliza a vontade de agir.

Vamos ver o que ocorre quando o indivíduo age: Em todo procedimento (ação), o indivíduo utiliza as estruturas mentais que já possui, que reagirá com o procedimento presente formando nova estrutura. Toda nova estrutura é construída pela interação da ação presente com as estruturas já existentes, ou seja, já construídas anteriormente. Piaget afirma que esse processo de modificação das estruturas interiores, que é um processo de adaptação, ocorre através da assimilação, que consiste na absorção de experiências novas às estruturas interiores e da acomodação que consiste na modificação interior, que acomoda seu funcionamento para adaptar-se às novas experiências.

Assimilação

Incorporação de experiências novas

Extrutura Anterior

Ação

Nova Estrutura

Acomodação Mudança interior

A TEORIA DE PIAGET e a Doutrina Espírita Futuro

Superconsciente

Presente Consciente

Passado

Subconsciente

O Espírito Calderaro, no livro No Mundo Maior, de André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, compara nosso cérebro com um castelo de três andares: O primeiro simboliza nosso passado. É nosso subconsciente. No segundo, está nosso presente, onde trabalhamos para a construção do futuro. É nosso consciente. No terceiro, está o ideal, a meta superior a ser alcançada, o nosso futuro, a herança Divina que nos cabe conquistar. Corresponde ao nosso superconsciente. Calderaro afirma que é indispensável valermo-nos das conquistas passadas para, através do esforço e do trabalho no presente, amparado no ideal superior elevado e nobre, construirmos gradativamente nosso futuro.

Passado

Bagagem anterior

Presente

Ação trabalho

Futuro

Conquistas Novas

Percebemos a grande semelhante entre as ideias de Calderaro, embora utilizando analogias e linguagem diferente, com as ideias de Piaget, culminando as duas na ideia da construção mental. Sugerimos a leitura do cap. 3 e 4 de No Mundo Maior, de André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier.

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Grupo de Estudos Multidisciplinar

sicologia e EDUCAÇÃO DO SPÍRITO

William James Nosso objetivo neste trabalho não é apenas estudar os psicólogos que contribuíram para os objetivos educacionais e formaram as bases das teorias da aprendizagem. Nosso intuito, como já vimos no artigo anterior, é realmente demonstrar a íntima ligação entre psicologia e educação, no sentido amplo de seus significados. Definindo psicologia como o estudo da alma ou o estudo das atividades mentais e dos comportamentos do indivíduo, e educação como o desenvolvimento das potências da alma, em todos os seus sentidos, podemos perceber a relação profunda entre as duas áreas do conhecimento humano. Ambas as áreas atuam no equilíbrio da mente, auxiliando a evolução do Espírito. Ao mesmo tempo, procuramos demonstrar que o pensamento científico que deu embasamento à psicologia moderna, se preocupava com o aspecto espiritual da vida, como veremos neste estudo sobre William James.

William James nasceu em Nova York, EUA, em 11 de janeiro de 1842, filho de Henry James e Mary James. Faleceu em sua casa de campo em Chocorua, New Hampshire, (ao norte de Boston) em 26 de agosto de 1910. James frequentou escolas nos Estados Unidos, Inglaterra, França, Suíça e Alemanha. Iniciou seus estudos de química, mudando depois para medicina em 1861, na Lawrence Scientif School, da Universidade Harvard,

tendo abandonado por problemas de saúde. Entre 1865 e 1866, aos 23 anos, participou de uma expedição ao Amazonas, no Brasil. Na Universidade de Berlim, estudou filosofia, entre 1867 e 1868 e, no ano seguinte, terminou seu curso de medicina em Harvard, tornando-se professor de fisiologia e anatomia a partir de 1873 e, em seguida, professor de filosofia e psicologia, na mesma universidade.

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PSICOLOGIA E FILOSOFIA É possível dividir a obra de William James em dois períodos: um, psicológico, que vai de 1870 a 1890, e outro filosófico, a partir de 1890. Na filosofia, é considerado um dos fundadores do Pragmatismo, que aborda o conceito de que o sentido de tudo está na utilidade ou no efeito prático. O Pragmatismo se espalhou com facilidade pela cultura dos Estados Unidos. Estudou também sobre religiões, tendo escrito um livro chamado Variedades da Experiência Religiosa, abordando experiências ditas místicas. Abordou também temas, na época chamados de paranormais, como telepatia, clarividência, premonição, etc. Seu interesse estava nos sentimentos que cada um experimentava nas experiências místicas, e que não poderiam ser traduzidos por palavras. Ele valorizava o sentimento religioso que fazia frente ao materialismo científico da época. O sentimento religioso seria mais uma dimensão da experiência humana e, sendo um fenômeno real que evoca sentimentos e ações concretas, não

deveria ser ignorado pela ciência. No entanto, os psicólogos que estudaram James simplesmente ignoraram esta parte. William James foi um dos fundadores da American Society for Psychical Research (Sociedade Americana de Pesquisas Psíquicas), em 1885, a organização de pesquisas psíquicas mais antiga dos Estados Unidos. A Sociedade pesquisa fenômenos ditos psíquicos ou paranormais como sonhos, hipnose, clarividência, telepatia, precognição, psicocinese, escrita automática, cura e a questão da sobrevivência da alma após a morte. James chegou a trabalhar com médiuns, especialmente Leonora Piper. A biblioteca da Sociedade possui um enorme acervo de livros, documentos, periódicos, folhetos, incluindo a primeira história da psicologia e psiquiatria nos Estados Unidos, os primeiros estudos da personalidade múltipla, a evolução da medicina mente-corpo, filosofia oriental, cura mental, além de manuscritos raros do próprio William James, de Henry James, de William Butler Yeats, Sir Arthur Conan Doyle, Harry Houdini, Frederic Myers para citar apenas alguns nomes.


Sabemos que Freud e Jung foram membros honorários. A Sociedade existe até hoje. Já em idade avançada, teria dito: “Quanto mais envelheço, mais acredito na imortalidade, porque quanto mais velho sou, mais preparado estou para viver.” O PRINCÍPIO DA PSICOLOGIA Na psicologia, destaca-se sua principal obra O Princípio da Psicologia, com mais de mil páginas, publicada em 1890, após 12 anos de elaboração. Nesta obra, o foco central está sobre a função e não prováveis propriedades de um organismo dotado de psiquismo. O que o organismo é ou deixa de ser, decorre das funções que exerce e das interações com o ambiente. Daí decorre uma teoria denominada funcionalismo. O funcionalismo, em psicologia, considera a vida psíquica como um instrumento de adaptação ao meio, o que lembra as ideias de Jean Piaget. Praticamente, a psicologia de James está ligada ao pragmatismo. John Dewey, aluno de James, adotou o seu ponto de vista e, ao desenvolver seu sistema de psicologia, passou a ser considerado um dos fundadores do funcionalismo como movimento na psicologia norte americana. James escreveu sobre vários aspectos da psicologia humana, desde o funcionamento do cérebro até as sutilezas da consciência e da personalidade. Personalidade: a personalidade emerge da interação entre o aspecto instintivo e habitual da consciência e os aspectos pessoais e volitivos. Ou seja, o conjunto de qualidades ou características que marcam uma pessoa foi formado tanto pelo instinto e hábitos enraizados na consciência quanto pelas experiências dirigidas pela

vontade. Fluxo do pensamento: o conceito de fluxo do pensamento foi criado por James para definir o pensamento em seu aspecto global, pois todo pensamento contém elementos da razão, da emoção, de sensações, lembranças, necessidades e desejos. O fluxo não pode ser decomposto, pois perderia suas propriedades. Podemos, contudo, analisar o fluxo em termos de “campos de consciência”. Pensamento contínuo: O pensamento é sensivelmente contínuo, nunca cessa. Cada onda de consciência momentânea, cada pensamento que passa, “sabe” de todos os que o precederam na consciência. Cada pensamento emergente toma parte de sua força, conteúdo e direção dos pensamentos precedentes, num proces-

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so contínuo (sem parar), mas com conteúdos diferentes e diferentes percepções da realidade, fluindo como um rio. A consciência, dessa forma, não aparece a si mesma como retalhada, nem possui sentimento de descontinuidade. Transformação do pensamento: Mas o pensamento está sempre se transformando. Podemos ver o mesmo quadro ou objeto, ouvir a mesma música, saborear o mesmo prato, mas a consciência dessas percepções mudam a cada vez. “Frequentemente, nós nos impressionamos com as estranhas diferenças em visões sucessivas de uma mesma coisa. Perguntamo-nos como pudemos ter opinado da forma que o fizemos no mês passado sobre um certo assunto. Superamos a possibilidade daquele estado de mente, embora não saibamos como. De

um ano para outro vemos as coisas sob uma nova luz. O que era irreal tornou-se real, o que era excitante é agora insípido.” James, assim como Freud, baseou muitas de suas ideias sobre o funcionamento da mente com um pensamento contínuo. Consciência seletiva: a consciência faz escolhas, recebe, rejeita ou escolhe durante todo o tempo em que pensa. O que determina uma opção sobre outra seria a atenção, que surge do interesse, e os hábitos. Interesse e atenção: a mente não é passiva, recebendo todas as experiências da mesma forma. James afirma que, para que uma experiência possa ser experienciada, “é preciso que eu concorde em prestar atenção”, para isso é preciso existir interesse. “Sem um interesse seletivo, a experiência seria um caos.” Somente o interesse fornece uma perspectiva inteligível à experiência. Embora a atenção possa ser predeterminada pelos hábitos mentais, é possível, pela vontade, fazer uma opção, mesmo contra a corrente de respostas habituais. Hábitos e instintos: são ações ou pensamentos que surgem como respostas automáticas de algo já vivenciado anteriormente. De certa forma, é diferente dos instintos, pois o hábito pode ser criado, modificado ou eliminado pela vontade e direção consciente. Os hábitos são valiosos, pois simplificam a ação para obter determinado resultado e o torna mais acurado. No entanto, o hábito, de um lado, pode diminuir a atenção consciente, tornando a ação mais fácil de ser executada, mas, por outro lado, torna a ação resistente à mudança. O grande problema, é que tanto temos hábitos de virtudes quanto de vícios. Tais hábitos, sejam de natureza prática, intelectual ou


Uma conferência na Universidade Clark, em 1909, incluiu , na primeira fila , William James , o terceiro da esquerda , Sigmund Freud , o quarto da direita , e Carl G. Jung , o terceiro da direita.

emocional, são sistematicamente organizados em nossa mente, impelindo-nos à ação, forjando nosso destino. Daí a importância do interesse e da atenção que podem romper com um hábito nocivo, substituindo-o por uma virtude. Sentimento de Racionalidade: James destaca a importância do emocional nas decisões racionais. Para ele, aceitamos uma decisão porque entendemos os fatos de uma forma emocionalmente satisfatória, como um “intenso sentimento de tranquilidade, paz, descanso. Esta falta total de necessidade de explicar, de discutir, de justificar é o que chamamos de sentimento de racionalidade.” Antes de aceitar uma teoria, James afirma que dois conjuntos diferentes de necessidade devem ser satisfeitos. Primeiro, a teoria deve ser intelectualmente consistente, lógica, agradável. Segundo, ela deve ser “emocionalmente atraente, deve encorajar-nos a pensar ou agir de forma que nos pareça satisfatória e aceitável ao nível pessoal. Assim, nossas decisões não são puramente racionais, mas há sempre uma tendência emocional. Percebemos que, muitas vezes, o emocional “fala” mais alto. Desenvolvimento psicológico: Talvez esse seja o aspecto mais belo e importante de suas ideias. James destacava a evolução pessoal e a capacidade inerente que

todos possuem de modificar ou mudar pensamentos, comportamentos e atitudes. Para ele, existe um núcleo ou depósito de experiências latentes ou realizadas que está subjacente ou implícito ao impulso rumo ao crescimento. A maior expressão deste núcleo está nas experiências religiosas que pertencem a uma região mais profunda da psique do que aquela ocupada pelo intelecto. “Tornamo-nos conscientes da presença de uma esfera de vida maior e mais poderosa do que nossa consciência pessoal... As impressões, emoções e excitações que recebemos ajudam-nos a viver, encontram uma segurança invencível em um mundo além dos sentidos, fortalecem nossos corações e transmitem significado e valor a tudo, tornando-nos felizes. “ Formação de novos hábitos: James destacava a importância de se ensinar hábitos corretos, salientando a relevância de “solidificar” ou enraizar o novo hábito em nossa vida. Cada falha ou recaída seria como deixar cair um rolo de barbante que estava sendo enrolado. A continuidade das experiências ou do treinamento é importante para que o sistema nervoso se adapte ao novo hábito. Estímulo emocional: A emoção forte ou excitação pode ser um meio através do qual um hábito prejudicial pode ser rompido, libertando a pessoa para explorar novas áreas psíquicas. O próprio

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James passou por experiências de natureza mística, hipnose, curas espirituais, mediunidade e até crise pessoal. Mas o mais importante é como o indivíduo agia em relação à excitação. Vontade e aprendizagem: se a atenção é fundamental para que a experiência seja válida, é necessário também treinar a vontade, para atender às experiências que não são imediatamente agradáveis, difíceis ou mesmo desagradáveis, mas necessárias. Portanto, é preciso desenvolver a capacidade de aprender e fazer de nosso sistema nervoso um aliado ao invés de um inimigo. Assim, podemos tornar muitas ações úteis em ações habituais. Vontade livre: James utiliza com frequência sua experiência própria: “Meu primeiro ato de vontade livre será acreditar nela”. Salienta a existência de argumentos religiosos, científicos e filosóficos a favor e também contra a existência de uma vontade livre. A solução pragmática (efeito prático) ultrapassa a maioria dos argumentos, levando a acreditar que seria mais útil, benéfico e sadio acreditar na vontade livre. James acredita que todos nós temos uma capacidade inata para fazer escolhas reais, apesar das limitações, dos hábitos e outras circunstâncias externas. Vontade e fé ou vontade de acreditar: James apresenta dois casos em que seria benéfico que a fé determine a vontade, ou seja, acreditar em algo sem evidência bastante para justificá-lo. O primeiro seria quando suspender o julgamento traz uma oportunidade. Não agir, não ocupar nenhuma posição é um tipo de

decisão em si. O segundo caso inclui aqueles em que o efeito da convicção seria trazer à tona os próprios fatos que vão verificá-la. Acreditar é confiar e a confiança justifica a si mesma. Renúncia à vontade: Principalmente na vida religiosa, há ocasiões em que a vontade pessoal é desarmada e outras faces da consciência assumem o controle. Nesse caso, ao invés de fortalecer a vontade, deve-se estar preparado para renunciar a ela. União mística, transcendência, consciência cósmica são alguns termos utilizados para descrever esses casos. A consciência “poderá ir além dos confins da vontade e, em alguns casos, além das fronteiras da personalidade”. Fortalecimento da Vontade: James afirmava a necessidade do desenvolvimento de uma vontade forte. Um dos métodos seria realizar diariamente um exercício com alguma dificuldade. Self: Para Willian James, o Self é a continuidade pessoal que cada um reconhece em si mesmo. O Self possui, portanto, um aspecto material, social e espiritual. A camada material do Self inclui aquelas coisas com as quais nos identificamos. O Self material abrange não apenas nossos corpos, mas também nossas casas, posses, amigos e família. À medida que uma pessoa se identifica com outra pessoa ou objetos externos, estes constituem parte de sua identidade. Todas essas coisas lhe dão as mesmas emoções. Se elas crescem e prosperam, ele se sente triunfante; se elas mínguam e desaparecem, ele se sente deprimido. Self Social ou a camada social do


Self de um homem é o reconhecimento que ele tem por parte de seus companheiros. Constitui todos os papéis que nós, voluntária ou involuntariamente, aceitamos. O Self Espiritual é o ser interior e subjetivo de uma pessoa. É o elemento ativo de toda consciência. Ele é a morada do interesse, não o agradável ou o doloroso, nem mesmo o prazer ou a dor, como tais, mas aquilo dentro de nós para o qual falam o prazer e a dor, o agradável e o doloroso. É a fonte de esforço e atenção e o lugar do qual parecem emanar as ordens da vontade. James permaneceu indeciso sobre a questão da alma pessoal, entretanto, ele realmente sentia que havia algo além da identidade individual. Ele achava haver um continuum de consciência cósmica, contra o qual nossa consciência apenas constrói cercas acidentais e dentro do qual nossas várias mentes mergulham como se dentro de um mar-mãe... Pesquisa Paranormal Os interesses paranormais de James não foram retomados após sua morte. A Psicologia, até recentemente, tentou ignorar o trabalho nesta área. James, juntamente com a maioria dos pesquisadores em Parapsicologia, aceitava a existência dos seguintes fenômenos paranormais: 1. Telepatia: comunicação de uma mente a outra. 2. Clarividência: obtenção de informações não disponíveis aos sentidos físicos, tais como informações de um livro fechado em outra sala. 3. Premonição: obtenção de informações do que ainda não existe; por exemplo, sonhar com um evento que ocorre dias depois. 4. Psicocinese: influenciar objetos ou processos físicos sem

qualquer contato físico. Há outras capacidades paranormais sendo investigadas, mas essas quatro ilustram o alcance dessa atividade. Pesquisa Paranormal e a Teoria da Personalidade Vários aspectos da pesquisa paranormal influenciam a teoria da personalidade, segundo James. Por exemplo: em que medida há uma ligação telepática entre a mãe e a criança? 0 ponto de vista biológico supõe que a ligação entre a mãe e a criança é cortada no nascimento. James acreditava que este vínculo permanece ativo depois do nascimento. Outra questão seria determinar se nossas capacidades de empatia com outros são devidas a sugestões telepáticas sutis. As ligações entre parentes ou mesmo entre animais de estimação e seus donos são contínuas e não limitadas pela percepção consciente de cada um. James questionava que, se era possível obter informações da mente de outra pessoa, de um quarto trancado ou mesmo de um tempo futuro, como podemos definir os limites da personalidade? A identidade é restrita ao corpo, como costumamos assumir, ou existem possíveis extensões? Outro aspecto envolve os dados sobre reencarnação que levantam questões envolventes para todas as teorias da personalidade, que seriam alteradas de maneira profunda. Infelizmente, suas pesquisas não foram continuadas no meio científico. James ainda estudou o efeito de certas drogas na teoria da personalidade, bem como realizou

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experiências que foram além da consciência normal em vigília, ou sejam, experiências transpessoais. No estado de consciência “normal” ou usual, o indivíduo se experiencia como existindo dentro dos limites de seu corpo físico, e sua percepção do meio ambiente é restringida pela extensão, fisicamente determinada, de seus órgãos de recepção externa; tanto a percepção interna quanto a percepção do meio ambiente estão confinadas dentro dos limites do espaço e tempo. Em experiências transpessoais, uma ou várias dessas limitações parecem ser transcendidas. Em alguns casos, o sujeito experiencia um afrouxamento de seus limites usuais de ego e sua consciência e autopercepção parecem expandir-se para incluir e abranger outros indivíduos e elementos do mundo externo. Em outros casos, ele continua experienciando sua própria identidade, mas num tempo diferente, num lugar diferente, ou num diferente contexto. Ainda em outros casos, o sujeito experiencia uma completa perda de sua própria identidade egóica e uma total identificação com a consciência de uma outra identidade. Finalmente, numa categoria bastante ampla dessas experiências transpessoais (experiências arquetípicas, encontros com divindades jubilosas e coléricas,

união com Deus, etc.), a consciência do sujeito parece abranger elementos que não têm nenhuma continuidade com sua identidade de ego usual e que não podem ser considerados simples derivativos de suas experiências no mundo tridimensional. É possível que algumas das distinções que mantemos entre nós mesmos e o resto do mundo sejam arbitrárias? A identidade pode estar mais próxima da noção de James de um campo constantemente flutuante do que de um conjunto de limites estável e definível. Nossa percepção usual de nós próprios pode ser apenas um artifício da consciência normal. William James observou que experienciar aquela assim chamada “consciência mística” era um evento raro e imprevisível. O uso amplo dos psicodélicos configurou tais estados, ou ao menos a impressão subjetiva de se ter experienciado tais estados, de forma mais acessível. Vários pesquisadores de drogas psicodélicas relatam que seus sujeitos vivem o que chamam de experiências religiosas, espirituais e transpessoais. Tornou-se importante determinar o valor e a validade dessas experiências, agora que parecem ser mais comuns.


Léon Denis

O

E

Citamos aqui trechos da obra O Espiritismo na Arte, de Léon Denis, com o objetivo de incentivar nossos estudos sobre o tema, principalmente para nos conscientizar do profundo efeito da arte na educação do Espírito.

NA

O espiritismo vem abrir para a arte novas perspectivas, horizontes sem limites. A comunicação que ele estabelece entre os mundos visível e invisível, as informações fornecidas sobre as condições da vida no além, a revelação que ele nos traz das leis superiores de harmonia e de beleza que regem o Universo, vêm oferecer a nossos pensadores, a nossos artistas, inesgotáveis temas de inspiração. Oradores, escritores, poetas, encontrarão nesses fenômenos fonte de ideias e de sentimentos. O conhecimento das vidas sucessivas do ser, sua ascensão dolorosa através dos séculos, o ensinamento dos espíritos a respeito dessa grandiosa questão do destino, lançará, em toda a história, uma inesperada luz, e fornecerão ainda aos romancistas, aos poetas, temas de drama, móbeis de elevação, todo um conjunto de recursos intelectuais que ultrapassarão em riqueza tudo que o pensamento já pôde conhecer até o momento.

Arte

spiritismo

Quando refletimos a respeito de tudo o que o espiritismo traz à humanidade, quando meditamos nos tesouros de consolação e de esperança, na mina inesgotável de arte e de beleza que ele vem lhe oferecer, sentimo-nos cheios de piedade pelos homens ignorantes e pérfidos cujas malévolas críticas não têm outra finalidade senão tirar o crédito, ridicularizar e até mesmo sufocar a nascente ideia cujos benefícios já são tão sensíveis. O materialismo, com sua insensibilidade, havia esterilizado a arte. Esta se arrastava na estreiteza do realismo, sem poder elevar-se ao máximo da beleza ideal. O espiritismo vem dar-lhe novo curso, um impulso mais vivo em direção às alturas, onde ela encontra a fonte fecunda das inspirações e a sublimidade do talento. O objetivo essencial da arte, já o dissemos, é a busca e a realização da beleza, é, ao mesmo tempo, a busca de Deus, uma vez que Deus é a fonte primeira e a realização perfeita da beleza física e moral. Quanto mais a inteligência se purifica, se aperfeiçoa e se eleva, mais se impregna da ideia do belo. O objetivo essencial da evolução será, portanto, a busca e a conquista da beleza, a fim de realizá-la no ser e em suas obras. Tal é a regra da alma em sua ascensão infinita. A INSPIRAÇÃO A arte, sob suas diversas formas, é a expressão da beleza eterna, uma manifestação da poderosa harmonia que rege o Universo; é a irradiação

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do Alto que dissipa as brumas, as obscuridades da matéria, e faz-nos entrever os planos da vida superior. Ela é, por si mesma, rica em ensinamentos, em revelações, em luz. Ela encaminha a alma em direção às regiões da vida espiritual, que é sua verdadeira vida, e que ela aspira reencontrar um dia. A arte, bem compreendida, é poderoso meio de elevação e de renovação. É a fonte dos mais puros prazeres da alma; ela embeleza a vida, sustenta e consola nas provas, e traça com antecedência, para o espírito, os caminhos para o céu. Quando é sustentada e inspirada por uma fé sincera, por um ideal nobre, a arte é sempre uma fonte fecunda de instrução, um meio incomparável de civilização e de aperfeiçoamento. O pensamento de Deus é a fonte das altas e sãs inspirações. Se nossos artistas soubessem daí retirar alguma coisa, encontrariam o segredo das obras imperecíveis e as maiores felicidades. O espiritismo vem lhes oferecer os recursos “espirituais dos quais nossa época necessita para regenerar-se. Ele nos faz compreender que a vida, em sua plenitude, não é outra coisa senão a concepção e a realização da beleza eterna”. O espírita sabe que imenso auxílio a comunhão com o além, com os espíritos celestes, oferece ao artista, ao escritor, ao poeta. Quase todas as grandes obras tiveram colaboradores invisíveis. Essa associação fortifica-se e acentua-se através da fé e da prece. Elas permitem que as forças do Alto penetrem mais profundamente em nós e impregnem todo o nosso ser.


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A

TLAS DE

n

EUROANATOMIA - Encarte II

O SISTEMA NERVOSO HUMANO Quem pensa, sente e age é o Espírito, utilizando-se do corpo, através do Sistema Nervoso. O Sistema Nervoso é o responsável pelo ajustamento do organismo ao ambiente, controlando todos os mecanismos fisiológicos. Também é responsável pelos processos psíquicos superiores que determinam a inteligência, bem como pelo controle de funcionamento das emoções.

CORTES ANATÔMICOS Para compreendermos o funcionamento do Sistema Nervoso, vamos nos utilizar de cortes anatômicos Os cortes anatômicos são feitos conforme a posição anatômica adotada por convenção, onde o corpo deve ficar ereto, calcanhares unidos, olhos voltados para o horizonte, braços estendidos e mãos espalmadas, conforme figura ao lado. O plano sagital, medial ou sagital medial é o que divide o corpo em duas partes: direita e esquerda. O que estiver situado no meio é chamado medial, e o que está longe do meio é chamado lateral ou sagital lateral. Muitas vezes, denomina-se simplesmente de plano medial ao plano sagital. O plano coronal ou frontal passa também pelo eixo maior, mas é perpendicular ao plano medial, separando a frente do corpo, ou ventre, da parte de trás, ou dorso, ou seja, divide o corpo em uma parte anterior e outra posterior. O plano horizontal, transversal ou axial atravessa o eixo menor do corpo, do dorso até o ventre , isto é, divide o corpo em uma parte superior e outra inferior. Coron a

l

Assim, pois, estamos estudando sua função como ferramenta de evolução do Espírito, desde as primeiras manifestações do Princípio Espiritual até o desenvolvimento das funções psíquicas superiores. O Espírito é ativo e interativo e o desenvovimento das potências da alma ocorre através da ação e interação do indivíduo com o meio físico, social e espiritual.

O plano coronal ou frontal separa a frente do corpo (ventre) da parte de trás (dorso). Assim, pode ser chamado de anterior, se situado à frente do plano, ou posterior, se situado atrás.

tal

Sagi

O plano sagital divide o encéfalo em parte direta e esquerda. Pode ser sagital lateral quando a estrutura se afasta da linha mediana e medial quando se aproxima.

Horiz o

ntal

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Anter ior

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O plano horizontal, transversal ou axial vai da posição posterior para a anterior, ou seja, do dorso para a frente. Pode ser superior ou inferior, dependendo para onde se olha.

Encarte | Atlas de Neuroanatomia | 5


Quadro 3

O cérebro cresce a um ritmo impressionante durante o seu desenvolvimento, que se inicia durante a 3ª semana de gestação. Seu tamanho aumenta de forma rápida entre o segundo e quarto mês, quando milhares de novos neurônios são adicionados.

O Desenvolvimento do Cérebro Da concepção ao nascimento Ouvido

Ouvido

Olho Nervos cranianos

Tubo neural

Cerebelo

Olho Tronco

Cérebro

Olho Ouvido

Três semanas: o tubo neural forma-se ao longo da parte posterior do embrião. Notam-se vestígios dos olhos e dos ouvidos.

Quadro 4 O Desenvolvimento do Cérebro Do nascimento à juventude

Sete semanas: os nervos cranianos e sensoriais começam a se desenvolver. O cérebro, o cerebelo e o tronco encefálico vão se definindo.

Onze a doze semanas: o cérebro aumenta de tamanho e os olhos e os ouvidos formados ocupam as posições finais.

No nascimento, o cérebro já possui a maioria dos neurônios definitivos, estimados em 100 bilhões e continua a crescer por alguns anos. O cérebro humano tem uma notável plasticidade, a habilidade em ser modelado e modificado pelo crescimento de novas e mais complexas conexões entre células.

Cerebro

Cerebelo

Tronco encefálico

Nascimento: sulcos e giros aumentam em complexidade. As conexões das áreas sensoriais e motoras são as mais ativas.

6 | Atlas de Neuroanatomia | Encarte

Infância: entre dois e três anos, o hipocampo e a amígdala estão em atividade, atuando no funcionamento da memória. Período pré-operatório, função simbólica, linguagem. Após os sete anos, pensamento operatório concreto.

Adolescência: aos treze/quatorze anos, a pineal se abre para a vida emocional e sexual. Impulsos mais fortes de vidas anteriores, ocasionando, muitas vezes, situações conflitivas. Pensamento abstrato, operações formais.


Quadro 5

O Sistema Nervoso é um todo. Sua divisão tem apenas um significado didático. Pode ser dividido utilizando-se critérios anatômicos, funcionais, ou mesmo embriológicos.

Divisão do Sistema Nervoso Esquema

A divisão mais conhecida é a esquematizada abaixo:

SISTEMA NERVOSO CENTRAL - SNC

Encéfalo

Cerebelo Medula espinhal

SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO - SNP

Cérebro

SNP Somático

Tronco encefálico

Telencéfalo Diencéfalo Mesencéfalo Ponte Bulbo

Sensitivo (aferente) Motor (eferente)

SNP Visceral

SNP Autônomo

Simpático Parassimpático

Existem outras divisões de acordo com outros critérios, que não são considerados aqui.

SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO - SNP

SISTEMA NERVOSO CENTRAL - SNC

Encéfalo

Cérebro Cerebelo Tronco

NERVOS CRANIANOS 12 pares

Medula

Nervos espinhais 31 pares

Nervo ciático

Encarte | Atlas de Neuroanatomia | 7


Quadro 6 Divisão do Sistema Nervoso

Doze pares de nervos encefálicos (originados no encéfalo) e trinta e um pares de nervos medulares (originados na medula), ligam o SNC (encéfalo e medula espinhal) a todas as partes do corpo.

Répteis 300 milhões de anos

SISTEMA NERVOSO CENTRAL - SNC

Encéfalo

Cérebro

Cerebelo Tronco Medula espinhal

Nervos cervicais 8 pares

SNA PARASSIMPÁTICO

Nervo craniano X (Vago) para as vísceras Os nervos cranianos são 12

SNA SIMPÁTICO

SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO - SNP

Gânglios toráxicos T1 a T12

Nervos torácicos 12 pares

Nervos lombares 5 pares

Nervos sacros 6 pares

Cauda equina Nervo ciático

8 | Atlas de Neuroanatomia | Encarte


n

por Walter Oliveira Alves

EUROPEDAGOGIA

As neurociências reúnem disciplinas de diferentes áreas tais como anatomia, fisiologia, psicologia, além de áreas como biologia, física, química e farmacologia. Até pouco tempo, se dividia em neuroanatomia, neurofisiologia e neuropsicologia, além de outras áreas menos conhecidas como neuropsiquiatria, neuroendocrinologia, neuroepidemiologia. A neuroanatomia é o estudo da estrutura do sistema nervoso, em nível macroscópico e microscópico. A neurofisiologia é o estudo das funções do sistema nervoso, ou seja, como o sistema nervoso funciona. A neuropsicologia é o estudo da relação entre as funções neurais e psicológicas. A neuropsiquiatria é um ramo da medicina que integra os domínios das neurociencias e da psiquiatria, e suas relações. Considerando a educação como sendo a ciência da própria evolução e considerando a evolução em seu aspecto espiritual, surge a necessidade de uma nova ciência, que denominamos neuropedagogia, considerando seu aspecto espiritual, baseado nos postulados da Doutrina Espírita, que comprova a existência do Espírito, como ser que pensa, sente e age, utilizando-de do cérebro como instrumento. A Neuropedagogia, em seu aspecto espiritu-

al, inclui o estudo da anatomia, da fisiologia e da psicologia, mas amplia os estudos até o aspecto espiritual da vida. De forma coerente e lógica, a Doutrina Espírita nos oferece uma síntese entre ciência, filosofia e religiosidade, ampliando de forma surpreendente o universo de estudos da mente humana, considerando que é o Espírito quem pensa, sente e age, utilizando o cérebro como instrumento. Essa visão, aparentemente dualista, pode e deve ser vista de uma perspectiva unitária, pois mente e cérebro atuam totalmente integrados durante o período reencarnatório. As neurociências estudam diversos aspectos do funcionamento da mente humana, em especial a neuropsicologia e a neuropedagogia, como a definimos; estudam também, e principalmente, a inteligência, o sentimento e a vontade, o que inclui um universo de variáveis que envolve a construção das estruturas mentais, a capacidade do raciocínio, de tomar decisões e agir, bem como o universo fabuloso do sentir e do amar. No aspecto terapeutico, enquanto o neurocientista materialista acredita que a mente é produto do cérebro e se preocupa com a capacidade do cérebro de comandar o corpo em seu funcionamento e movimento, considerando que as doenças físicas provocam alterações mentais, a Doutrina Espírita nos

A CONSTRUÇÃO DA MENTE demostra o outro lado da moeda, em que as doenças mentais têm origem nos desequilíbrios do Espírito e provocam consequências físicas, área em que vários seguimentos da psicologia e da medicina psicossomática vêm comprovando. No entanto, mesmo considerando, com a Doutrina Espírita, que é o Espírito quem pensa, sente e age, utilizando o cérebro como instrumento, o estudo das Neurociências é de enorme valor, tanto na área da saúde, quando da educação em seu significado mais profundo, a educação do Espírito. Nossos estudos analisam o desenvolvimento mental em todos os seus aspectos: - cognitivo, ou seja, a inteligência, o raciocínio, a capacidade de aprender; - afetivo, ou seja, as emoções e os sentimentos; - bem como o aspecto volitivo, ou seja, a vontade, a capacidade de tomar decisões, a confiança, a persistência, a fé. Analizando também a capacidade da mente de comandar o corpo físico, sem a intenção de entrar na área médica, passaremos pelos umbrais das psicopatologia, analisando a interferência das patologias mentais na evolução e no desenvolvimento do Espírito. Vamos entrar, então, no mundo das transmissões dos circuitos neurais, tentando compreender a ligação entre Espírito e cérebro.

Basicamente, existem três tipos de neurônios: Sensitivos ou aferentes: recebem e reagem a estímulos exteriores. Conduzem as informações ou impulsos ao Sistema Nervoso Central. Motores ou eferentes (ou ainda efetuadores): transmitem os estímulos do Sistema Nervoso Central aos órgãos efetores (músculos e glândulas) para que se realize a ação ordenada pelo encéfalo ou pela medula espinal. Associativos ou conectores ou ainda interneurônios: transmitem os impulsos dos neurônios sensitivos ao Sistema Nervoso Central e ligam os neurônios entre si. Muitos neurônios têm seus axônios envolvidos por um tipo celular denominado célula de Schwann, que determinam a formação da bainha de mielina - invólucro lipídico que atua como isolante térmico e facilita a transmissão do impulso nervoso. Entre uma célula de Schwann e outra, existe uma região de descontinuidade da bainha de mielina, denominada nódulo de Ranvie. 21 | Revista Pedagógica Espírita | www.rpespirita.com.br


Neurônio

O neurônio é a principal unidade funcional do Sistema Nervoso. Célula altamente especializada, tem a função de receber, integrar, processar e transmitir informações.

É constituído pelas seguintes partes: corpo celular, dendritos e axônio.

Terminais do axônio

%

Dendritos

Bainha de mielina Axônio

%

Corpo celular

% O impulso nervoso é sempre no sentido do corpo para o axônio. Os dendritos (do grego dendron ou árvore) recebem e liberam os sinais neurais. O corpo do neurônio (do grego soma, corpo) recebe e processa as informações, e o axônio (do grego axoon ou eixo) conduz as informações.

TRANSMISSÃO DO IMPULSO NERVOSO Um impulso nervoso, ou potencial de ação, é a transmissão de uma alteração elétrica ao longo da membrana do neurônio a partir do ponto em que ele foi estimulado. A direção normal do impulso no organismo é do corpo celular para o axônio. Quando um estímulo atinge a membrana do neurônio, ocorre uma pequena despolarização local que faz com que canais de Na+ e K+ dependentes de voltagem se abram e permitam um fluxo de correntes iônicas de um lado para o outro da célula. Simultaneamente, ocorre um fluxo de fora para dentro de Na+ (pois existe uma maior concentração de sódio fora), o que tende a despolarizar ainda mais a membrana; e um fluxo de dentro para fora de K+, que tende a repolarizá-la. O neurônio emite ou não um impulso elétrico, dependendo apenas do impulso elétrico total que ele recebe de outros neurônios ligados às suas sinapses. Uma vez atingido o limiar, o potencial de ação ocorre com uma amplitude e duração fixas. Se o limiar não for atingido, ou seja, a despolarização ou o influxo de sódio não forem suficientemente fortes, não ocorre o potencial de ação. Por isso, os cientistas o denominam de fenômeno “tudo ou nada”.

Período refratário

Ação potencial Na+

Na+ região despolarizada

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Limiar


A propagação rápida dos impulsos nervosos é garantida pela presença da bainha de mielina que recobre as fibras nervosas. A bainha de mielina é constituída por camadas concêntricas de membranas plasmáticas de células da glia, principalmente células de Schwann. Entre as células gliais que envolvem o axônio existem pequenos espaços, os nódulos de Ranvier, onde a membrana do neurônio fica exposta.

Sinapses

Sinapse (do grego synapsis, ação de juntar) é uma região muito próxima entre a extremidade do axônio de um neurônio e a superfície de outras células, que podem ser outros neurônios, células sensoriais, musculares ou glandulares.

Nas fibras nervosas mielinizadas, o impulso nervoso, em vez de se propagar continuamente pela membrana do neurônio, pula diretamente de um nódulo de Ranvier para o outro, aumentando a velocidade de propagação.

SINAPSES Sinapse (do grego synapsis, ação de juntar) é uma região muito próxima entre a extremidade do axônio de um neurônio e a superfície de outras células, que podem ser outros neurônios, células sensoriais, musculares ou glandulares. Neurônio transmissor

As terminações de um axônio podem estabelecer muitas sinapses simultaneamente. As partes que fazem sinapses estão muito próximas, mas não se tocam. Existe um pequeno espaço entre elas chamado espaço sináptico ou fenda sináptica. Quando os impulsos nervosos atingem as extremidades do axônio da célula pré-sináptica, ocorre liberação, nos espaços sinápticos, de substâncias químicas denominadas neurotransmissores ou mediadores químicos, que têm a capacidade de se combinar com receptores presentes na membrana das células pós-sinápticas, desencadeando o impulso nervoso. Esse tipo de sinapse, por envolver a participação de mediadores químicos, é chamado sinapse química. Os cientistas já identificaram mais de dez substâncias que atuam como neurotransmissores, como a acetilcolina, a adrenalina, a noradrenalina, a dopamina e a serotonina.

Terminal do axônio

Mitocondrias Vesículas pré-sinápticas

Neurotransmissores

Fenda sináptica

Receptor

Existe também um outro tipo de sinapse, a sinapse elétrica, onde íons e pequenas moléculas passam por eles, conectando então canais de uma célula à próxima, de forma que alterações elétricas em uma célula são transmitidas quase instantaneamente à próxima.

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O

m

PERAÇÕES ENTAIS

Nubor Orlando Facure

Neurocirurgião, ex-professor da Unicamp, autor de várias obras sobre neurociências e espiritismo.

Não gostaríamos de apresentar uma visão mecanicista do cérebro, principalmente por acreditar no paradigma dualista pelo qual a mente instrumentaliza o cérebro para se inserir na realidade física onde transitamos. É necessário compreendermos, porém, que o cérebro, pelos seus antecedentes evolucionistas, exibe no seu funcionamento uma determinada operacionalidade, típica de um instrumental físico. Com isto queremos dizer que há regras ou, pelo menos, podemos reconhecer certos programas básicos pelos quais a mente põe o cérebro em funcionamento. Podemos até reconhecer, adotando um paradigma espiritualista, que uma mente fora do contexto físico do cérebro pode dispor de recursos ou usar de estratégias que sobrepujam toda fisiologia cerebral, mas, enquanto contida

nesta “máquina” de neurônios, ela é limitada pelos recursos que estes neurônios podem oferecer. Estes “limites” é que vão ficar claros quando descobrirmos o texto do “manual” de operacionalidade do cérebro. Como qualquer outro ser vivo, nós somos resultado de um processo evolutivo que privilegiou para todos a sobrevivência e a adaptação. O cérebro humano, apesar de dispor de uma potencialidade extraordinária para atuar no meio ambiente que nos cerca, está “engatilhado” para priorizar a sobrevivência e a adaptação da nossa espécie. Isto exige decisões, às vezes apressadas, para atuações rápidas, frequentemente tidas como insensatas. Basta nos determos no estudo do comportamento animal para percebermos que a disputa pela vida exige que um predador esteja em constante preparo para, com astúcia, abocanhar sua presa. A vítima, quase sempre mais frágil, precisa, por outro lado, se predispor a uma vigilância permanente para não se surpreender com as surpresas de um ataque fatal. Dentro desta estratégia de ataque e defesa que se perpetua em todos níveis da escala evolutiva, do peixe que abocanha a libélula, da cobra que envenena o coelho ou do tigre que dilacera um bezerro, é imperioso que o cérebro predisponha toda sua estratégia para fuga, defesa ou ataque o mais rápido possível. Quando se trata de sobrevivência, não se pode perder tempo com detalhes nem nos distrairmos com a rotina, para não se

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pagar com a própria vida o preço de uma distração. É preciso estarmos de sobreaviso a qualquer sinal novo e reagirmos da maneira mais acessível e rápida possível para uma fuga imediata se este sinal indicar o perigo de um ataque ameaçador. No conjunto de informações que nosso cérebro detecta no mundo a nossa volta, a escala de prioridades estabelece que nos interessa a informação mais útil, a mais acessível, não, necessariamente, a melhor ou a mais lógica. O cérebro opta por simplificar para se adaptar e para isto nos põe diante de um esboço rápido da realidade. O processo de sobrevivência exige que cada presa esteja sempre de prontidão para se prevenir dos ataques dos seus


Como o cérebro

aprende?

predadores e, de certa forma, na luta entre o mais forte e o mais fraco, somos todos presas e predadores uns dos outros. Neste sentido, o cérebro posicionou o foco da consciência na atenção imediata para todos os fatos novos que se projetam no meio ambiente. Ninguém pode ser pego de surpresa, nem se deter para análise pormenorizada de um objeto que pode ou não ser hostil, que pode ser ou não sombras da vegetação ou uma fera traiçoeira que nos ataca e mata. O cérebro humano continua privilegiando todo esse mecanismo de defesa, adaptando-se a rotinas e menosprezando o que é corriqueiro para estar atento ao que é novo, ficando predisposto a agir

rapidamente a um perigo ou ameaça eminente. Estamos mais preparados para reagirmos às mudanças que ocorrem a nossa volta e não necessariamente ao desenrolar dos acontecimentos. Mudanças no ambiente carregam um potencial de hostilidade maior que a própria agressividade deste ambiente. Por isto, nos habituamos aos ruídos das cidades e à monotonia do trânsito mesmo que nos sejam, de início, muito desagradáveis. Por isso também, não nos abalamos com mais uma notícia de engarrafamento nas ruas ou de um empregado que se acidentou na fábrica. Mas, nos surpreenderíamos com a notícia de um terremoto na avenida Paulista ou de um jacaré no rio Tietê. Os fatos novos, ao lado do perigo que podem ou não representar, têm o poder de desencadear, pelo inusitado da sua ocorrência, uma sensação agradável ou hostil, uma emoção forte que se irradia por todo o nosso organismo, liberando a adrenalina para uma reação em cadeia que nos põe em estado de alerta. Por isso, no desenvolvimento do cérebro, seguindo a escala animal, percebemos que o cérebro emocional, representado pelo sistema límbico, precedeu o desenvolvimento do cérebro intelectual, expresso pelas circunvoluções cerebrais do neocortex. É sempre mais vantajosa uma resposta emocional rápida e eficiente do que uma reação meticulosa e bem elaborada. A primeira facilita uma estratégia de fuga mais eficaz, mais ligada a sobrevivência do que a segunda, que exige tempo muito precioso quando o que está em jogo é viver ou morrer. Qualquer um de nós percebe que as emoções permeiam nossos comportamentos tanto nos gestos motores como nas interjeições do nosso psiquismo. Qualquer acontecimento que presenciamos ou qualquer objeto que contemplamos serão as emoções que redigirão o texto da nossa redação sobre o que testemunhamos ou percebemos. O conteúdo e a linguagem que escreve este texto tem muito pouco de pensamentos lógicos, de decisões racionais ou de interpretações verossímeis. O livro da experiência de vida de cada um de nós está escrito com a aparente desordem do caos e só

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tem ideias emocionais. É frequente percebermos quantas vezes nossas atitudes foram tomadas “sem pensarmos”, quantas vezes agimos levados pelo “calor das emoções” e, ao “pensarmos melhor”, muitas vezes, mudamos nossos julgamentos e até nossas decisões. É comum também, conhecermos pessoas racionais ou corajosas diante de problemas da vida, que se emocionam ou se apavoram ao verem um ferimento sangrando, ou ao subirem no elevador ou se verem nas alturas de um edifício. O pavor que a emoção provoca é muito mais forte que a interpretação racional do possível perigo que estejam enfrentando. Frequentemente aparentamos muita segurança ao tomarmos decisões importantes, acreditando estarmos fazendo o melhor, estarmos agindo criteriosamente, com lógica, com juízo e sensatez. Na verdade, escolhas de significado decisivo para nossas vidas, como a opção para determinada profissão, a casa onde vamos morar, a pessoa com quem vamos nos casar, o carro que vamos comprar ou o negócio que vamos realizar são sempre direcionados por decisões francamente emocionais.


Nossas reações emocionais nos dão uma chance melhor de sobrevivência e adaptação ao ambiente do que os processos mentais que usam a lógica, o cálculo ou as meticulosas decisões tomadas depois de raciocínios demorados e que nem sempre são agradáveis. É por isto que nos acostumamos a fazer mudanças freqüentes de julgamentos. As emoções nos antecipam conclusões apressadas mas, de pouca precisão, por isto, freqüentemente efêmeras e sujeitas a revisões. Num jogo de futebol, numa partida de tênis ou numa corrida de cavalos podemos ir mudando, até aos instantes finais do jogo, as nossas previsões de quem será o vencedor. Por isto também, em qualquer escolha afetiva que fizermos, haverá sempre a possibilidade de se questionar o acerto da decisão. Nossa consciência flui continuamente num fluxo incessante de múltiplas idéias. Nosso mundo interno, do ponto de vista mental não é estático, e as idéias não estão rigidamente estabelecidas. A mente tem a dinâmica de um mosaico de luzes que se projetam pela consciência que se contrai ou expande diante do que nos emociona. Na luta pela vida, a necessidade de agirmos rápido faz com que a mente tenha uma atuação “on line”, que põe a nossa atenção e a nossa consciência sobreposta aos fatos para não ser pega de surpresa. Neste sentido, a mente tem que fazer escolha rápida de prioridades, dirigindo suas informações sensoriais no sentido de tomar decisões mais úteis e mais acessíveis e não necessariamente a melhor. Uma alternativa que está mais à mão pode nos dar uma chance de fuga ou defesa mais rápida.

Não convém perdermos tempo para analisarmos a gravidade ou a extensão do perigo. As estatísticas podem estar a nosso favor, mesmo assim é melhor salvarmos a nossa pele primeiro. Os processos racionais de tomada de decisões são seguramente mais convenientes. Eles nos permitiriam fazer escolhas dentro de um leque de alternativas e nos poriam à frente de detalhes minuciosos que nos dariam mais competência para a escolha mais acertada. Porém, não nos garante que seria a decisão mais agradável nem a mais eficaz. Demorar para decidir, esperando detalhes das informações disponíveis poderia custar um pedaço da perna do surfista que confundiu sua prancha com um tubarão. É melhor uma interpretação mais rápida mesmo que, ao invés de fugirmos de um tubarão, tenhamos apenas nos assustado com a casca de uma árvore. A mente ao iniciar sua tomada de decisões não pode se prender aos detalhes, não pode fazer análise seqüenciada, precisa fazer um julgamento rápido da realidade usando para isto uma idéia interpretativa dos acontecimentos e dos objetos. Nossa consciência está adequada para fazer apreensões representativas das coisas e dos objetos. Para isto usamos nossa capacidade cerebral de fazer interpretações e reconhecimento com base em pistas sensoriais de informações. Todos sabemos de antemão que é fácil, mesmo estando de olhos fechados, reconhecermos, pelo simples tato, um objeto como uma carteira, um lápis ou um molho de chaves que é colocado em nossa mão. Um simples toque no objeto nos permite um reconhecimento imediato do objeto por inteiro. Também sabe-

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mos que nenhum de nós precisa ver todos os lados de uma xícara para reconhecê-la, nem ver um amigo em todos os seus ângulos e perfis para identificarmos quem é. Os pequenos fragmentos de informação já são suficientes para nos permitir ajuizar os objetos ou as pessoas em todas suas dimensões. A realidade que vemos ou o mundo que percebemos com nossos sentidos é, na verdade, interpretado na nossa mente. Cada objeto que nos atinge nos impressiona não só pelo que nos imprime nos sentidos mas, também, pelo que nos provoca na mente ao desencadear imagens e idéias. O mundo por nós vivido é essencialmente um mundo “sonhado” e “imaginado” em nossa mente. A experiência de cada um de nós é medida pelo referencial de imagens mentais que criamos e armazenamos sobre o mundo onde vivemos. Cada objeto, cada palavra, cada sensação é carregada de um potencial simbólico que desencadeia em nós

a capacidade de criar imagens vivas da realidade. Daí a conveniência de se estudar as palavras pela sua transmissão de idéias e compreender os objetos pelos seus significados. Dar consciência ao aprendizado é apreender as qualidades de cada coisa e de cada objeto. A motivação, os fatos novos e o clima de emoção enriquecem o aprendizado. O cérebro aprende quando vivenciamos experiências, quando aprendemos o significado de cada coisa ou identificamos as qualidades dos objetos. Nossa maneira de vivenciar a realidade se processa pela construção rápida de conceitos . Aprendemos a distinguir o que é certo do que é errado, o que é bom do que é mau, o que agrada do que agride e, principalmente, o que é comestível do que é indigesto. É melhor saber logo quais as conseqüências antes de identificar pormenorizadamente as causas. É uma questão de sobrevivência.


ÍSICA

Grupo de Estudos Multidisciplinar

F Q

UÂNTICA

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO

Em nosso estudo anterior (Revista Pedagógica Espírita julho/agosto/2010), entramos no delicado e polêmico assunto relacionando Física Quântica, Psicologia e Educação, dando início a algumas hipóteses a serem analizadas à luz da Doutrina Espírita. Embora o título, nossa análise não se prende apenas à Física Quântica, mas a toda Física moderna ou teórica. Destacamos no artigo anterior a teoria do eletromagnetismo e o conceito de campo eletromagnético. Percebemos que as forças eletromagnéticas interferem nas relações intermoleculares nos fenômenos químicos e biológicos. Na verdade, tem a ver com quase todos os fenômenos físicos que encontramos no cotidiano. (13) André Luiz nos ensina que o pensamento se irradia como energia eletromagnética com qualidade de indução transportando consigo as qualidades de quem irradia. (4 e 5) Ouvindo as instruções de Aulus, na obra Nos Domínios da Mediunidade, cap.5, André Luiz nos esclarece: “... e nossa alma, em cuja intimidade se processa a ideia irradiante, lança fora de si os princípios espirituais, condensados na força ponderável e múltipla do pensamento, princípios esses com que influímos no “espaço mental”. (...)Então, o pensamento não escapava às realidades do mundo corpuscular, ponderei de mim para comigo. Assim como possuímos na Terra valiosas ob-

servações alusivas à química da matéria densa, relacionando-lhe as unidades atômicas, o campo da mente oferecia largas ensanchas ao estudo de suas combinações... Pensamentos de crueldade, revolta, tristeza, amor, compreensão, esperança ou alegria teriam natureza diferenciada, com característicos e pesos próprios, adensando a alma ou sutilizando-a, além de lhe definirem as qualidades magnéticas... A onda mental possuiria determinados coeficientes de força na concentração silenciosa, no verbo exteriorizado ou na palavra escrita...” (6) Embora apenas tateando no assunto, já podemos perceber que “o pensamento não escapa às realidades do mundo corpuscular”, o que nos leva a crer que, segundo André Luiz, está dentro do universo estudado pela Física Quântica. Pelo estudo dos Fluidos, realizado no artigo anterior, percebemos também a influência do pensamento nas propriedades dos fluidos. Não é difícil imaginar que exista uma ligação dos fenômenos físicos, com o pensamento e, portanto, com a psicologia e a educação. Embora irradiando em forma de ondas eletromagnéticas, André Luiz, de forma impressionante, nos esclarece que o pensamento ainda é matéria: “Como alicerce vivo de todas as realizações nos planos físico e extrafísico, encontramos o pensamento por agente essencial. Entretanto, ele ainda é matéria: — a

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matéria mental, em que as leis de formação das cargas magnéticas ou dos sistemas atômicos prevalecem sob novo sentido, compondo o maravilhoso mar de energia sutil em que todos nos achamos submersos e no qual surpreendemos elementos que transcendem o sistema periódico dos elementos químicos conhecidos no mundo.” (5 - grifo nosso) De maneira ainda mais estranha, André Luiz nos fala da partícula do pensamento.: “- A partícula de pensamento, pois, como corpúsculo fluídico, tanto quanto o átomo, é uma unidade na essência, a subdividir-se, porém, em diversos tipos, conforme a quantidade, qualidade, comportamento e trajetórias dos componentes que a integram. E assim como o átomo é uma força viva e poderosa na própria contextura, passiva, entretanto, diante da inteligência que a mobiliza para o bem ou para o mal, a partícula de pensamento, embora viva e poderosa na composição em que se derrama do espírito que a produz, é igualmente passiva perante o sentimento que lhe dá forma e natureza para o bem ou para o mal, convertendo-se, por acumulação, em fluido gravitante ou libertador, ácido ou balsâmico, doce ou amargo, alimentício ou esgotante, vivificador ou mortífero, segundo a força do sentimento que o tipifica e configura, nomeável, à falta de terminologia equivalente, como “raio da emoção” ou “raio do desejo”, força essa que lhe opera a diferenciação de massa e trajeto,


impacto e estrutura.” (5) Mas, afinal, se o mesmo André Luiz nos fala que o pensamento se irradia como energia eletromagnética em forma de ondas, como pode falar em “partícula do pensamento”? Afinal, o pensamento é onda ou partícula? Matéria mental, ondas eletromagnéticas, partícula do pensamento... - e caímos nas mesmas dúvidas da Física Quântica. Aprendemos com nossos professores de física que “matéria é tudo o que tem massa e ocupa lugar no espaço” e que “energia é a capacidade de realizar trabalho, modificar a matéria, causar movimento, etc.” (Lamento não citar a fonte, mas já perdi meus antigos livros de física). O pensamento é energia mental ou matéria mental? É onda ou partícula? André Luiz, contudo, afirma: “Cabe-nos assinalar, desse modo, que, na essência, toda a matéria é energia tornada visível e que toda a energia, originariamente, é força divina de que nos apropriamos para interpor os nossos propósitos aos propósitos da Criação...” (4) E na obra Mecanismos da Mediunidade, afirma que tudo é fruto do pensamento, chegando ao extremo de afirmar que interpreta “o Universo como um todo de forças dinâmicas, expressando o Pensamento do Criador.” “Nos fundamentos da Criação vibra o pensamento imensurável do Criador e sobre esse plasma divino vibra o pensamento mensurável da criatura, a constituir-se no vasto oceano de força mental em que os poderes do Espírito se manifestam.” (5) Diz ainda que “podemos compreender, sem dificuldade, no pensamento ou radiação mental, a substância de todos os fenômenos do espírito, a expressar-se por ondas de múltiplas frequências. Valendo-nos de ideia imperfeita, podemos compará-lo, de início, à onda hertziana, tomando o cérebro como sendo um aparelho emissor e receptor ao mesmo tempo.” Como já vimos, O Livro dos Espíritos, na questão 27, afirma que existem dois elementos gerais no Universo: matéria e espírito e, acima de tudo, Deus, o Criador.

Então, o que não é espírito (princípio espiritual) é matéria, em suas mais diferentes manifestações. O Fluido Cósmico seria a matéria primordial, semelhante ao que antigamente se denominava “éter”. Einstein propôs substituir o conceito de “éter” pelo conceito de “campo”, mas, segundo André Luiz “a proposição de Einstein, no entanto, não resolve o problema, porque a indagação quanto à matéria de base para o campo continua desafiando o raciocínio, motivo pelo qual, escrevendo da esfera extrafísica, na tentativa de analisar, mais acuradamente, o fenômeno da transmissão mediúnica, definiremos o meio sutil em que o Universo se equilibra como sendo o Fluido Cósmico ou Hálito Divino, a força para nós inabordável que sustenta a Criação.” (4) Sem dúvida, o fluido cósmico ou universal é o princípio elementar de todas as coisas, como nos diz o Espírito São Luiz em O Livro dos Médiuns: “O fluido universal será ao mesmo tempo o elemento universal? - Sim, é o princípio elementar de todas as coisas.” (3) Em A Gênese, podemos ler: “Fluido Cósmico Universal - a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza. Assume dois estados distintos: o de eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de materialização ou de ponderabilidade. No estado de eterização, o fluido cósmico não é uniforme; sem deixar de ser etéreo, sofre modificações tão variadas em gênero e mais numerosas talvez do que no estado de matéria tangível. Essas modificações constituem fluidos distintos que, embora procedentes do mesmo princípio, são dotados de propriedades especiais e dão lugar aos fenômenos peculiares ao mundo invisível.” (2) Se considerarmos, por exemplo, um elétron (ou outra partícula subatômica) em sua estranha natureza de partícula-onda, podemos perceber que se aproxima da extrema modificação a que os fluidos sutis estão sujeitos. Poderíamos então, sugerir que, se a Física

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Quântica é aquela que estuda fenômenos que ocorrem em escala atômica como elétrons, prótons, nêutrons e outras partículas subatômicas, então ela estuda os fenômenos ligados aos fluidos sutis, citados em inúmeras obras Espíritas. A ideia nos parece lógica. Poderíamos ainda afirmar que a ideia de que o pensamento altera as propriedades dos fluidos, corresponde à afirmativa dos físicos de que o observador interfere no fenômeno. Proposta audaciosa? Talvez. Afinal, quase tudo na Física Quântica são hipóteses audaciosas. De qualquer forma, a influência do observador ou, diríamos nós, do pensador, interfere nos fenômenos ligados aos fluidos no estado sutil. A afirmativa nos parece lógica, pelo menos como hipótese. Mas várias são as hipóteses existentes, como veremos. O PRINCÍPIO DA INCERTEZA A interpretação de Copenhague apresenta o Princípio da Incerteza, afirmando não ser possível precisar onde se encontra uma partícula em determinado instante, mas, sim, calcular a probabilidade de encontrá-la. A teoria de Broglie e Bohm afirma que o Princípio da Incerteza apenas informa probabilidades, por isso é incompleta. Deve existir algum mecanismo desconhecido ou uma “realidade mais profunda” ainda desconhecida. Einstein discorda da interpretação de Copenhague, buscando uma explicação não probabilística. Em uma carta a Max Born, afirma: “A mecânica quântica está a impor-se. Mas uma voz interior diz-me que ainda não é a teoria certa. A teoria diz muito, mas não nos aproxima do segredo do Velho (the Old One). Eu estou convencido que Ele não joga dados.” (Trecho da carta de Einstein a Max Born, de 12 de dezembro de 1926) Tudo leva a crer que, realmente, outras variáveis existem no fenômeno. Deixamos aqui a hipótese de que essas variáveis correspondem ao pensamento do observador, carregado com o sentimento que interfere nas propriedades dos fluidos, como vimos em diversas obras espíritas.


A TEORIA DAS CORDAS

UNIVERSOS PARALELOS

A teoria das cordas afirma que as partículas primordiais vibram em diferentes tons, formando diferentes partículas. De acordo com a teoria, as partículas que considerávamos como elementares, como os quarks e os elétrons, são como filamentos unidimensionais vibrantes, a que os físicos deram o nome de cordas. Ao vibrarem, as cordas originam as partículas subatômicas juntamente com as suas propriedades. Para cada partícula subatômica do Universo, existe um padrão de vibração particular das cordas. Na teoria das cordas, os físicos costumam afirmar que “estão lendo a mente de Deus”. O Universo seria uma sinfonia de minúsculas cordas vibrando. A mente de Deus seria a música cósmica. De certa forma, comparando com as cordas de um violino, os físicos chegaram à conclusão de que tudo no Universo é vibração. Chegou-se a conceber que a teoria das cordas poderia ser a Teoria de Tudo, sonhada por Einstein, uma teoria bela, elegante e simples, que englobasse a Física Quântica e a Teoria da Relatividade. Percebemos, na Doutrina Espírita, que as propriedades dos fluidos dependem da vibração da mente que irradia as ondas mentais. André Luiz nos ensina que “o fluido cósmico é o plasma divino, hausto do Criador ou força nervosa do Todo-Sábio. Nesse elemento primordial, vibram e vivem constelações e sóis, mundos e seres, como peixes no oceano.” (4) Percebemos, pois, que a Teoria das Cordas chegou muito perto das afirmativas da Doutrina Espírita no que se refere ao estado vibratório de tudo o que existe no Universo. Como já vimos em André Luiz, “podemos compreender, sem dificuldade, no pensamento ou radiação mental, a substância de todos os fenômenos do espírito, a expressar-se por ondas de múltiplas frequências.”

A teoria de Universos Paralelos, procurando explicar a sobreposição quântica, chegou perto da explicação da Doutrina Espírita das diferentes esferas espirituais, em diferentes faixas vibratórias. Embora existam diferentes concepções e diferentes hipóteses, e deixando de lado a ideia de que tais Universos evoluem independentemente uns dos outros e um não interfere no outro (o que a Doutrina Espírita nega), a ideia geral de vários Universos muito se assemelha à ideia do mundo espiritual, dividido em esferas, ou seja, segundo a Doutrina Espírita, existem realmente diversos universos em diferentes frequências vibratórias, conforme o estado evolutivo dos seres que os habitam, mas que interagem continuamente uns sobre os outros. Percebemos claramente que a Teoria das Cordas e a Teoria dos Universos Paralelos se completam, se as ligarmos aos conceitos que a Doutrina Espírita nos apresenta. Alguns físicos, como Michio Kaku, nos falam de um tipo especial de “matéria invisível” ou materia escura, que não se pode ver ou fotografar. Mas sabe-se que essa matéria está lá, devido a sua presença gravitacional. O telescópio espacial Huble está fornecendo mapas dessa matéria escura, como se estivessem surgindo os contornos de mundos invisíveis, galáxias invisíveis, recobrindo nosso universo visível. (11) Muitas teorias surgem de forma espantosa e causando polêmicas incríveis, como os “buracos negros”. Sabe-se que toda matéria que cai num buraco negro desaparece, mas para onde vai? Existiria o outro lado do burado negro que expele a matéria que foi sugada? Seria um mundo paralelo? Michio Kaku chega a admitir um Universo mãe, ligando-se ao nosso Universo visível através de uma espécie de cordão umbilical. Chega a sugerir “espelhos” passagens para esses outros mundos e, talvez, encontrar outras civilizações milhões de vezes mais avançadas

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ou atingir um universo mais jovem e quente. Michio chega a catalogar civilizações mais avançadas do tipo I, II e III. A tipo I seria uma civilização planetária que controla os oceanos, vulcões, clima. A tipo II controla os astros, como as estrelas. A tipo III seria galáctica. Controlaria as galáxias no espaço. (11) As ideias de Michio Kaku estão de acordo com as informações de André Luiz, na obra Evolução em Dois Mundos, em que ele nos fala da co-criação em plano maior, onde Espíritos superiores, tomando o fluido cósmico ou plasma divino, “convertem-no em habitações cósmicas de múltiplas expressões”. Afirma ainda que “toda essa riqueza de plasmagem, nas linhas da Criação, ergue-se à base de corpúsculos sob irradiações da mente...”. O mundo espiritual está a um pequeno passo de ser descoberto pela ciência dita materialista. Einstein chegou a afirmar que existe um deus que os homens criaram, um deus pessoal. O outro é o Deus da harmonia universal, do equilíbrio, pois o Universo não é caótico nem é aleatório. A harmonia que ele via no Universo não poderia ser um acidente. Percebemos que Deus, como a Inteligência Suprema, Causa Primeira do Universo, já está sendo objeto de estudo da ciência. FISICA QUÂNTICA E EDUCAÇÃO Porém, o maravilhoso em tudo isso é o aspecto da Educação. Se o pensamento corresponde à energia criadora que se irradia em forma de energia eletromagnética, conduzindo as qualidades de quem pensa, influenciando assim o fluido cósmico que está em toda parte, percebemos a importância da educação do Espírito, bem como da psicologia, ciência que estuda a psiqué. Sendo o perispírito produto do fluido cósmico, pensamentos inferiores contaminam, inicialmente, o próprio perispírito de quem os emite, irradiando depois as ondas eletromagnéticas com as qualidades da mente do emissor, alterando as qualidades do fluido à sua volta.


O estudo do pensamento nos revela seus três aspectos principais: o cognitivo, que corresponde a quanto o indivíduo sabe e a quantidade de seus conhecimentos; o aspecto afetivo, que corresponde à qualidade do pensamento; e o aspecto volitivo, que corresponde à intensidade do pensamento. Assim sendo, os Espíritos superiores que, segundo André Luiz “esculpem os planetas”, “congregando os átomos sob a pressão, espiritualmente dirigida, de ondas eletromagnéticas(...)”, irradiam energia mental com qualidades altamente elevadas e com grande intensidade. Da mesma forma, “as Inteligências humanas que ombreiam conosco utilizam o mesmo fluido cósmico, em permanente circulação no Universo, para a Co-criação em plano menor, assimilando os corpúsculos da matéria com a energia espiritual que lhes é própria, formando assim o veículo fisiopsicossomático em que se exprimem ou cunhando as civilizações que abrangem no mundo a Humanidade Encarnada e a Humanidade Desencarnada. Dentro das mesmas bases, plasmam também os lugares entenebrecidos pela purgação infernal, gerados pelas mentes desequilibradas ou criminosas nos círculos inferiores e abismais, e que valem por aglutinações de duração breve, no microcosmo em que estagiam, sob o mesmo princípio de comando mental com que as Inteligências Maiores modelam as edificações macrocósmicas, que desafiam a passagem dos milênios.” Percebemos claramente a importância do pensamento no processo de evolução do Espírito. A educação do Espírito, como a entendemos, corresponde à educação do pensamento em todos os seus aspectos. Considerando ainda que o pensamento possui propriedades de indução, percebemos a responsabilidade do ato de pensar e a importância da educação do Espírito e da psicologia, como ciência da alma. André Luiz ainda nos ensina: “e compreendendo-se que os semelhantes se atraem, o bruxo

que se vale da mandrágora para endereçar vibrações deprimentes a certa pessoa, a esta procura induzir à emissão de energias do mesmo naipe com que, à base de terror, assimila correntes mentais inferiores, prejudicando a si mesma, sempre que não possua a integridade da consciência tranquila; o sacerdote de classe elevada, toda vez que aproveita os elementos de sua fé para consolar um espírito desesperado, está impelindo-o à produção de raios mentais enobrecidos, com os quais forma o clima adequado à recepção do auxílio da Esfera Superior; o médico que encoraja o paciente, usando de autoridade e doçura, inclina-o a gerar, em favor de si mesmo, oscilações mentais restaurativas, pelas quais se relaciona com os poderes curativos estuantes em todos os escaninhos da Natureza; o professor, estimulando o discípulo a dominar o aprendizado dessa ou daquela expressão, impulsiona-o a condicionar os elementos do próprio espírito, ajustando-lhe a onda mental para incorporar a carga de conhecimento de que necessita.”(4) As hipóteses aqui aventadas, bem como todas as ideias da Doutrina Espírita, estão a clamar aos estudiosos em geral que saiam de seus observatórios mentais, para contemplar as diferentes realidades de todos os fenômenos que ocorrem por toda parte. Não existem fenômenos puramente físicos, mas todos os aspectos da realidade à nossa volta e dentro de nós mesmos estão interligados. Física, Química, Biologia, e mesmo as ciências ditas humanas como a Sociologia, a Filosofia, a Pedagogia, a Psicologia e, em especial, as Neurociências que, em si já correspondem a uma área de estudos multidisciplinar, estão interligadas. A natureza é semelhante a uma rede onde tudo está ligado a tudo. Em íntima ligação com o Universo físico observável, está o Universo espiritual ou, melhor dizendo, estão Universos em diferentes padrões vibratórios, mas em íntima interação. Embora as teorias da Física não correspondam exatamente a essas ideias, sabemos que tantas ideias partem de hipóteses, às vezes, aparentemente absurdas, mas acabam abrindo

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caminho para outras tantas ideias, até chegarem à realidade ou à verdade de caracter Universal. A Doutrina Espírita abre o véu de um mundo “quase” desconhecido pela ciência, mas bastante conhecido pelos espiritualistas de todos os tempos. Em linguagem simples e acessível, mas também plenamente coerente com a própria razão, nos leva a compreendar a grandeza dos ensinamentos de Jesus, educador do Espírito. Suas lições têm poderoso efeito indutivo, na expectativa de melhorarmos gradualmente nosso padrão vibratório, entrando em sintonia com a Mente Cósmica. Naturalmente que o assunto não se esgota nesse pequeno espaço gráfico, mas esperamos que sirva de estímulo aos leitores para novos estudos dentro de áreas tão amplas, mas que nos levam cada vez mais parte da Verdade sobre nós mesmos e do mundo em que vivemos, bem como do mundo onde viveremos em um futuro próximo.

BIBLIOGRAFIA: 1 - O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, Ed. IDE 2 - A Gênese, Allan Kardec, Ed.IDE 3 - O Livro dos Médiuns - Allan Kardec, Ed.IDE 4 - Evolução em Dois Mundos - André Luiz, F.C.Xavier - Ed. FEB 5 - Mecanismos da Mediunidade, André Luiz, F.C.Xavier - Ed. FEB 6 - Nos domínios da Mediunidade, André Luiz, F.C.Xavier - Ed. FEB 7 - Missionários da Luz, André Luiz, F.C.Xavier, Ed. FEB 8 - Educação do Espírito, Walter O.Alves - Ed. IDE 9 - Física Quântica, R.Eisberg e R.Resnick, Ed. Campus 10 - O que é Vida? Erwin Schrödinger, Ed. UNESP 11 - Mundos Paralelos, Michio Kaku, Ed. Rocco 12 - Hiperespaço: uma odisseia científica..., Michio Kaku, Ed. Rocco 13 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Electromagnetismo


E

VANGELIZAÇÃO NA

h

OLANDA

Nieuw- Vennep, Holanda, sediou no dia 20 de junho de 2010, o II Encontro Fraterno Holandês. Nieuw- Vennep é uma pequena e agradável cidade na província da Holanda do Norte e fica a cerca de 30 km de Amesterdã. Tem cerca de 40.000 habitantes.

Após observarmos a grande necessidade de fazermos um trabalho intenso, imediato, visando ampliar a divulgação da importância da Evangelização Infanto-Juvenil, atividade prioritária da diretoria do Conselho Espírita Holandês, decidimos então, promover alguns Encontros Fraternos onde crianças, jovens e adultos teriam a oportunidade de estudarem juntos, através de atividades práticas e divertidas, como se estivessem nas classes de Evangelização. O I Encontro Fraterno ocorreu em janeiro deste ano e, devido aos excelentes resultados, decidimos realizar, num curto espaço de tempo, um outro evento. Desta vez, o tema abordado foi “Construindo a Paz”, tema este que foi trabalhado através de dinâmicas divertidas, discussões em grupos, painel integrado... A base de todo trabalho foi a seguinte frase de Chico Xavier: ... Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode iniciar agora e fazer um novo fim.” Maria Moraes, presidente do Conselho Espírita

Holandês, proferiu as palavras iniciais e, em seguida, Marina Steagall, a prece de abertura. Nossa programação: a) Dinâmica de Apresentação: Esta atividade foi muito divertida e contou com a participação de todos. Seu objetivo principal foi estreitar as relações dentro do grupo, visando promover a confraternização e a desinibição dos participantes. b) Discussões em grupos: Para esta atividade, foram formados 3 grupos: crianças, jovens e adultos. Cada grupo estudou: Crianças: Vivendo em Sociedade – A Maledicência Jovens: Minha Responsabilidade – Manifesto UNESCO 2000, Década da Cultura de Paz para as Crianças e Jovens do Mundo. Adultos: O que é ser espírita? Suas responsabilidades perante a construção da Paz: vivenciar em todos os momentos os ensinamentos da Doutrina Espírita. c) Painel Integrado: Apresentação das conclusões dos grupos. Nesta atividade, todos os participantes se reuniram novamente e foi apresentado um vídeo visando sensibilizar os

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Claudia Werdine Correspondente na Holanda

presentes para a importância do nosso exemplo na construção da paz. Dinâmica de Encerramento: Nesta atividade, todos receberam mãozinhas confeccionadas em papel cartão colorido, onde cada um escreveu uma mensagem de amor, paz, encorajamento ... Após a apresentação vídeo da música “A Paz”, do conjunto Roupa Nova, com que todos nos emocionamos muito, as mãozinhas foram distribuídas e todos receberam uma linda mensagem, assim como chocolates e abraços apertados. O Ontmoetings Centrum foi o local escolhido para o evento e consiste num confortável complexo de salas, café, teatro ... onde funciona a Associação de Moradores. O atendimento no local é excelente e a atmosfera exalava paz e harmonia. As atividades foram traduzidas ao holandês por Marina Steagall e vale ressaltar a presença


Participantes do II Encontro Fraterno Holandês. do holandês Obed Broersma que, apesar de estar num evento espírita pela primeira vez, contagiou a todos com sua entusiasmada e alegre participação. O encerramento das atividades foi um momento de grande emoção, já que ainda estávamos sensibilizados pela beleza e profundidade da mensagem transmitida pela música e pelo vídeo do conjunto Roupa Nova. Maria Moraes agradeceu imensamente a presença de todos, encarnados e desencarnados, que, com entusiasmo e amor, contribuíram para que nosso II Encontro Fraterno atingisse todos os nossos objetivos. Dalva Marçal da Cruz proferiu a prece de encerramento agradecendo as bênçãos recebidas neste dia tão especial, assim como nos convocando ao trabalho edificador visando construirmos bases sólidas para um Novo Mundo, mundo este onde reinará a paz e o amor.

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P

RÁTICA

P

EDAGÓGICA NA

e

VANGELIZAÇÃO

Trabalhando com o tema: AS LEIS MORAIS

Lei Divina ou Natural - 3 a 6 anos Procure iniciar com atividades que despertem o interesse, sensibilizando a criança para o assunto. Pode ser um acontecimento da semana, um fato ocorrido, um passeio planejado, uma visita, um filme, uma história contada e/ou dramatizada. Questione, procurando engajar a criança, lançando desafios ao seu “pensar”. Procure “tirar” delas a conclusão, iniciando conversações e diálogos, buscando soluções com os conhecimentos da Doutrina Espírita. Incluir atividades dinâmicas que levem a criança a vivenciar, dentro de sua realidade, os conteúdos em estudo. Incluir atividades artísticas como músicas, dramatizações e teatro, artes plásticas, dança, histórias, poesias, etc. Procure criar um ambiente evangelizador na própria sala e em toda a casa Espírita, procurando envolver a todos em um clima vivificante e estimulante. O afeto sincero, a amizade, o respeito mútuo, a cooperação, o exemplo, são ingredientes indispensáveis em todas as atividades. Nesta idade, muito importante é a postura do evangelizador e a maneira como a criança é tratada. O sentimento de Justiça nascerá em seu íntimo através da vivência do dia-a-dia. É bom lembrar também que a criança desta idade (a partir dos 3 anos) está dando os primeiros passos para entrar na fase da hetero-

nomia. A forma com que ela “constrói” as regras do grupo, compreendendo sua necessidade e aprende a viver na pequena sociedade, é um caminho que a levará, mais tarde, à própria autonomia moral ou à fase descrita por Pestalozzi como “estado moral”, como ser que pensa, sente e age no bem, não por imposição, mas com plena consciência de quem aprendeu a vibrar em sintonia com as Leis Divinas. ATIVIDADE 1 - HISTÓRIA A NECESSIDADE DAS LEIS A história poderá ser utilizada para despertar o interesse e como ponto de partida para questionamentos e diálogos. Pedrinho estava triste. Sua mãe não permitiu que ele fosse à casa do Marquinhos sozinho. Ele tinha que atravessar muitas ruas e a mamãe disse que era perigoso. Ah! Ele reclamou bastante. Disse que não tinha liberdade, que a mamãe estava sempre dizendo o que ele tinha que fazer: – lave as mãos antes de almoçar... escove os dentes... vá tomar banho... cuidado... Arre!! Mas depois do almoço, a mamãe o levou até a casa do Marquinhos. Foram caminhando pelas ruas e a mãe segurava sua mão. De repen-

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te, Pedrinho soltou a mão e correu, tentando atravessar a rua. Nossa!! Um carro quase o atropelou. O motorista brecou na hora, parou o carro e desceu preocupado. A mamãe correu e o pegou nos braços. Marquinhos levou um susto enorme. E no resto do caminho, a mamãe foi lhe explicando que existem algumas regras nas ruas, tanto para os carros como para quem anda de bicicleta ou a pé. – Essa rua tem “sinal” – disse a mamãe mostrando as luzes que se acendiam e apagavam, em cima de um poste. Você só pode atravessar quando essa luz estiver verde. Isso significa que a luz que o motorista está vendo é vermelha. Ele vai parar o carro e esperar. E a mamãe foi lhe explicando como funcionam as “leis de trânsito”, os sinais, as placas... e Pedrinho entendeu por que ainda não podia sair sozinho pelas ruas. Tinha que aprender tudo isso. Nossa! Quase foi atropelado! ATIVIDADE 2 QUESTIONAMENTO E DIÁLOGO Após a história, propor questões do tipo: – Vocês acham importantes as “leis de trânsito”? – O que poderia acontecer se não existissem essas leis? – Vocês conhecem outros tipos de leis ou regras?


Continuar o diálogo envolvendo as regras que existem na própria casa, na família, na escola, no bairro. ATIVIDADE 3 - PASSEIO AS LEIS DE TRÂNSITO Levar as crianças a um passeio para conhecer as leis de trânsito. Destacar que existem ruas em que os veículos só podem trafegar num sentido e cruzamentos em que eles devem parar e dar a preferência para quem trafega pela outra rua. Mostrar os sinais de trânsito e como funcionam. Levar as crianças a compreenderem a necessidade das regras de trânsito, senão haveria muitos acidentes. ATIVIDADE 4 - PASSEIO A LEI DIVINA OU NATURAL Fazer um passeio no parque ou numa praça pública com as crianças, observando o comportamento das pessoas e conversar com elas. Ensinar a não jogar lixo no chão, respeitar as leis da natureza, os animais, seus amigos e todas as pessoas. Realizar algumas experiências simples como soltar uma pedrinha no ar e observar que ela sempre cai. (Lei da Gravidade) Destacar que tudo no mundo segue as Leis de Deus. Existem leis para as coisas materiais e existem Leis para a nossa vida: são as Leis Morais. Aproveite o momento para contar histórias e cantar. ATIVIDADE 5 - HISTÓRIA A LEI DE DEUS – Mamãe, onde está escrita a Lei de Deus? Alberto olhava nos livros de seu irmão... Ah! Ele tinha feito algo... que achava que não era muito certo. Mas como saber? Seu pai era advogado e vivia olhando nos livros sobre

leis. Quem sabe encontrava alguma coisa nos livros do seu irmão, afinal, ele já estava na sexta série. – Manheeê!!! – Oi, querido. O que você está procurando? – Mamãe, onde está escrita a Lei de Deus? – Ah! As Leis de Deus não estão escritas neste livro, não – disse sua mãe. – Ah, mamãe... eu preciso saber. – E por que precisa tanto saber? perguntou a mamãe. – Não é nada, não... só curiosidade – Alberto gaguejou e seu rosto ficou vermelho e a mamãe percebeu. – Acho que tem alguma coisa que você não quer me dizer. – Bem... eu fiz uma coisa e queria saber se é certo ou errado – Alberto falou com os olhos baixos, como quem estava envergonhado. – Tem certeza de que já não sabe se é certo ou errado? – Como assim? Eu não sei, não. – Tem certeza? – a mamãe o olhou com um sorriso estranho e Alberto ficou vermelho de novo. – Então, por que está tentando esconder de mim? E por que ficou envergonhado? Sabe, filho, nosso coraçãozinho sempre nos avisa se estamos certos ou errados. Quando fazemos algo errado, isso nos entristece, ficamos envergonhados e tentamos esconder. Deus colocou um “aviso” dentro de nós mesmos. É a nossa consciência. Mais cedo ou mais tarde, de um jeito ou de outro ela nos avisa e a gente bem sabe que fez algo errado. Senão, por que esconder, não é mesmo? E Alberto entendeu que as Leis de Deus estão escritas na consciência. ATIVIDADE 6 - VIVÊNCIA CONSTRUINDO AS REGRAS Pedir às crianças para que ajudem a construir as “regras da sala”: – como e quando po-

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dem ir ao banheiro ou sair para beber água, quantos podem sair ao mesmo tempo, onde e como guardar o material, quem pode tomar conta do lápis de cor, do giz de cera, das tesourinhas, etc. Anotar as “coisas” que não devem ser feitas, como riscar a parede, jogar lixo no chão, etc. Anotar todas as regras numa cartolina e deixá-la exposta na sala. Destacar que as regras existem para ajudar a viver melhor e evitar confusões. Ao construir as regras da sala, a criança estará abrindo caminho para chegar até a sua própria autonomia moral, mais tarde. Anotar também o que acontecerá com aqueles que desrespeitarem as regras. Não se deve prever “castigos”, mas levar a criança a “consertar” o que fez de errado. Se riscou a parede, deve limpar, se jogou material no chão, deve pegar e jogar no lixo, se usou um material e deixou fora de lugar, deve colocar de novo no local adequado, etc. Lembre-se de que o objetivo é levar a criança a entender a necessidade das regras de uma sociedade e aprender a respeitá-las como necessárias, chegando até as Leis Divinas ou Naturais. ATIVIDADE 7 ATIVIDADES ARTÍSTICAS Inicie oficinas de artes do tipo: Artes Plásticas: desenho, pintura, dobraduras, modelagens. Músicas: bandinha rítmica, grupo musical instrumental, coral. Teatro: dramatizações, teatros de fantoche ou vara. Literatura: histórias e poesias. Danças: coreografias e danças folclóricas. Em todas as atividades, procure criar um clima de cooperação, afeto, amizade, sinceridade, respeito mútuo – ao mesmo tempo, um clima alegre, vivificante e estimulante.


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