Revista Pedagógica Espírita XV

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Ano III • Nº XV • Novembro/Dezembro 2010 • www.rpespirita.com.br

Encarte Atlas de Neuroanatomia

NEUROPEDAGOGIA - A CONSTRUÇÃO DA MENTE À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA

R$ 9,00

Leis do Campo Mental

Nubor Facure • Mensagem - A Grande Transição • Biografia de Joanna de Ângelis • Psicologia e Educação do Espírito • O Desenvolvimento do Pensamento • Prática Pedagógica na Evangelização As Leis Morais - 7 a 12 anos

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EXPEDIENTE Direção geral Walter Oliveira Alves Ano III - Nº 15 - novembro/dezembro - 2010

Equipes Artísticas Música: Juliana Hypólito Silva Dança: Daniela Pereira Teatro: Gustavo Lussari Artes Plásticas: Enis Mariano Rissi Literatura: Luiz André Miguel da Silva Revisão Doutrinária Hércio Marcos Cintra Arantes

SUMÁRIO

Revisão Geral Doralice Scanavini Volk

Mensagem - A Grande Transição 02 Joanna de Ângelis - Biografia 03 O Desenvolvimento do Sentimento - Segundo Pestalozzi, Piaget e a Doutrina Espírita 06 Psicologia e Educação do Espírito

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Encarte - Atlas de Neuroanatomia

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Neuropedagogia - A Construção da Mente - Neuropedagogia e Doutrina Espírita 19 Artigo de Nubor Facure - Fluxo do Pensamento - Leis do Campo Mental 25 Prática Pedagógica na Educação - As Leis Morais - 7 a 12 anos 29

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Polos regionais Franca - São Paulo Campinas - São Paulo Santos - São Paulo São Paulo - São Paulo Matão - São Paulo Barbacena - Minas Gerais Uberlândia - Minas Gerais Rio de Janeiro - Rio de Janeiro Joinville - Santa Catarina Curitiba - Paraná Polos internacionais Nova York - Nova York - USA Boston - Massachusetts - USA Orlando - Flórida - USA Porto - Portugal Viena - Áustria Londres - Inglaterra Winterthur - Suíça Jornalista responsável Mario Joanoni - MTB 025546 Assinatura anual assinaturas@rpespirita.com.br www.rpespirita.com.br Brasil - R$ 45,00 Exterior - US$ 33,00 Número avulso: R$ 9,00 Atendimento ao leitor Informações, sugestões, elogios ou reclamações: atendimento@rpespirita.com.br

Editorial A mente humana revela aspectos que a ciência não consegue explicar. A neurofisiologia pode explicar a percepção visual, auditiva ou tátil, bem como as sensações de prazer ou desprazer que tais percepções podem causar em nós. Mas como explicar que redes de circuitos neurais podem produzir características que superam o nível fisiológico, adquirindo características eminentemente espirituais? Olhar uma paisagem e inebriar-se com sua beleza, ouvir uma música e extasiar-se com ela é muito mais do que sentir um determinado estímulo visual ou auditivo em determinada parte do cérebro que elabora tais sensações. Como redes neurais de natureza eletro-química explicam a composição de Bach, as poesias de Castro Alves e a intuição quase mística de Einstein? Como explicar o remorso por um mal cometido, o sentimento de amor ou ainda o dar a vida por um ideal? Ao contrário do que pensavam cientistas e teólogos do passado, “a Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana” (Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 1, item 8). A Doutrina Espírita, pois, em seus três aspectos, científico, filosófico e religioso, vem abrir espaço para o diálogo tão sonhado entre ciência e religião. A Revista Pedagógica Espírita não poderia trilhar outro caminho.

Walter Oliveira Alves Diretor Geral

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Diagramação e Impressão Instituto de Difusão Espírita Av. Otto Barreto, 1067 Araras | SP | Brasil Fone 55 19 3541-0077 www.ideeditora.com.br


A Grande Transição Mensagem recebida por Divaldo Franco no Rio de Janeiro, no dia 30 de julho de 2006. Opera-se na Terra, neste largo período, a grande transição anunciada pelas Escrituras e confirmada pelo Espiritismo. O planeta sofrido experimenta convulsões especiais, tanto na sua estrutura física e atmosférica, ajustando as suas diversas camadas tectônicas, quanto na sua constituição moral. Isto porque os espíritos que o habitam, ainda caminhando em faixas de inferioridade, estão sendo substituídos por outros mais elevados que o impulsionarão pelas trilhas do progesso moral, dando lugar a uma era nova de paz e de felicidade. Os espíritos renitentes na perversidade e nos desmandos, na sensualidade e na vileza, estão sendo recambiados lentamente para mundos inferiores onde enfrentarão as consequências dos seus atos ignóbeis, assim renovando-se e predispondo-se ao retorno planetário quando recuperados e decididos ao cumprimento das leis de amor. Por outro lado, aqueles que permaneceram nas regiões inferiores estão sendo trazidos à reencarnação de modo a desfrutarem da oportunidade de trabalho e de aprendizado, modificando os hábitos infelizes a que se têm submetido, podendo avançar sob a governança de Deus. Caso se oponham às exigências da evolução, também sofrerão um tipo de expurgo temporário para regiões primárias entre as raças atrasadas, tendo o ensejo de ser úteis e de sofrer os efeitos danosos da sua rebeldia. Concomitantemente, espíritos nobres, que conseguiram superar os impedimentos que os retinham na retaguarda, estarão chegando, a fim de promoverem o bem e alargarem os horizontes da felicidade humana, trabalhando infatigavelmente na reconstrução da sociedade, então fiel aos desígnios divinos.Da mesma forma, missionários do amor e da caridade, procedentes de outras Esferas,

estarão revestindo-se da indumentária carnal para tornar essa fase de luta iluminativa mais amena, proporcionando condições dignificantes que estimulem ao avanço e à felicidade. Não serão apenas os cataclismos físicos que sacudirão o planeta como resultado da lei de destruição, geradora desses fenômenos, como ocorre com o outono que derruba a folhagem das árvores a fim de que possam enfrentar a invernia rigorosa, renascendo exuberantes com a chegada da primavera, mas também os de natureza moral, social e humana que assinalarão os dias tormentosos, que já se vivem.Os combates apresentam-se individuais e coletivos, ameaçando de destruição a vida com hecatombes inimagináveis. A loucura, decorrente do materialismo dos indivíduos, atira-os nos abismos da violência e da insensatez, ampliando o campo do desepero que se alarga em todas as direções. Esfacelam-se os lares, desorganizam-se os relacionamentos afetivos, desestruturam-se as instituições, as oficinas de trabalho convertem-se em áreas de competição desleal, as ruas do mundo transformam-se em campos de lutas perversas, levando de roldão os sentimentos de solidariedade e de respeito, de amor e de caridade...A turbulência vence a paz, o conflito domina o amor, a luta desigual substitui a fraternidade.... Mas essas ocorrências são apenas o começo da grande transição. A fatalidade da existência humana é a conquista do amor que proporciona plenitude. Há, em toda parte, uma destinação inevitável, que expressa a ordem universal e a presença de uma Consciência Cósmica atuante. A rebeldia que predomina no comportamento humano elegeu a violência como instrumento para conseguir o prazer que lhe não chega da maneira

espontânea, gerando lamentáveis consequências, que se avolumam em desaires contínuos. É inevitável a colheita da sementeira por aquele que a fez, tornando-se rico de grãos abençoados ou de espículos venenosos. Como as leis da vida não podem ser derrogadas, toda objeção que se lhes faz converte-se em aflição, impedindo a conquista do bem-estar. Da mesma forma, como o progresso é inevitável, o que não seja conquistado através do dever, sê-lo-á pelos impositivos estruturais de que o mesmo se constitui. A melhor maneira, portanto, de compartilhar conscientemente da grande transição é através da consciência de responsabilidade pessoal, realizando mudanças íntimas que se tornem próprias para a harmonia do conjunto. Nenhuma conquista exterior será lograda se não proceder das paisagens íntimas, nas quais estão instalados os hábitos. Esses, de natureza perniciosa, devem ser substituídos por aqueles que são saudáveis, portanto, propiciatórios de bem-estar e de harmonia emocional. Na mente está a chave para que seja operada a grande mudança. Quando se tem o domínio sobre ela, os pensamentos podem ser canalisados em sentido edificante, dando lugar a palavras corretas e a atos dignos. O indivíduo que se renova moralmente contribui de forma segura para as alterações que se veem operando no planeta. Não é necessário que o turbilhão dos sofrimentos gerais o sensibilize, a fim de que possa contribuir eficazmente com os espíritos que operam em favor da grande transição. Dispondo das ferramentas morais do enobrecimento, torna-se cooperador eficiente em razão de trabalhar junto ao seu próximo pela mudança de convicção em torno de objetivos existenciais, ao tempo em que se transforma

num exemplo de alegria e de felicidade para todos. O bem fascina todos aqueles que o observam e atrai quantos se encontram distantes da sua ação, o mesmo ocorrendo com a alegria e a saúde. São eles que proporcionam o maior contágio de que se tem notícia e não as manifestações aberrantes e afligentes que parecem arrastar multidões. Como escasseiam os exemplos de júbilo, multiplicam-se os de desepero, logo ultrapassados pelos programas de sensibilização emocional para a plenitude. A grande transição prossegue e, porque se faz necessária, a única alternativa é examinar-lhe a maneira como se apresenta e cooperar para que as sombras que se adensam no mundo sejam diminuídas pelo Sol da imortalidade. Nenhum receio deve ser cultivado porque, mesmo que ocorra a morte, esse fenômeno natural é veículo da vida que se manifestará em outra dimensão. A vida sempre responde conforme as indagações morais que lhe são dirigidas. As aguardadas mudanças que se veem operando trazem uma ainda não valorizada contribuição, que é a erradicação do sofrimento das paisagens espirituais da Terra. Enquanto viceje o mal no mundo, o ser humano tornar-se-lhe-á a vítima preferida em face do egoísmo em que se estorcega, apenas por eleição especial. A dor momentânea que o fere convida-o, por outro lado, à observância das necessidades imperiosas de seguir a correnteza do amor no rumo do oceano da paz. Logo passado o período de aflição, chegará o da harmonia. Até lá, que todos os investimentos sejam de bondade e de ternura, de abnegação e de irrestrita confiança em Deus.

Joanna de Ângelis 4 | Revista Pedagógica Espírita | www.rpespirita.com.br


Joanna de Ângelis, através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco é a autora de dezenas de livros versando sobre diversos temas, destacando-se a série sobre Psicologia. Segundo a obra A Veneranda Joanna de Ângelis, de Celeste Santos e Divaldo Franco, ela teria sido Joana de Cusa, na época de Jesus, uma das discípulas de Francisco de Assis, no século XIII, Juana Inés de La Cruz, religiosa e poetisa mexicana durante o século XVII e Joanna Angélica de Jesus no início do século XIX. JOANA DE CUSA Humberto de Campos, no livro “Boa Nova”, narra que: “Entre a multidão que invariavelmente acompanhava Jesus nas pregações do lago, achava-se sempre uma mulher de rara dedicação e nobre caráter, das mais altamente colocadas na sociedade de Cafarnaum. Tratava-se de Joana, consorte de Cusa, intendente de Ântipas, na cidade onde se conjugavam interesses vitais de comerciantes e de pescadores”. O seu esposo, alto funcionário de Herodes, não lhe compartilhava os anseios de espiritualidade, não tolerando a doutrina daquele Mestre que Joana seguia com acendrado amor. Vergada ao peso das injunções domésticas, angustiada pela incompreensão e intolerância do esposo, buscou ouvir a palavra de conforto de Jesus que, ao invés de convidá-la a engrossar as fileiras dos que O seguiam pelas ruas e estradas da Galileia, aconselhou-a a segui-Lo à distância, servindo-O dentro do próprio lar, tornando-se um verdadeiro exemplo de pessoa cristã, no atendimento ao próximo mais próximo: seu esposo, a quem deveria servir com amorosa dedicação, sendo fiel a Deus, amando o companheiro do mundo como se fora seu

filho. Jesus traçou-lhe um roteiro de conduta que lhe facultou viver com resignação o resto de sua vida. Mais tarde, tornou-se mãe. Com o passar do tempo, as atribuições se foram avolumando. O esposo, após uma vida tumultuada e inditosa, faleceu, deixando Joana sem recursos e com o filho para criar. Corajosa, buscou trabalhar. Esquecendo “o conforto da nobreza material, dedicou-se aos filhos de outras mães, ocupou-se com os mais subalternos afazeres domésticos, para que seu filhinho tivesse pão”. Trabalhou até a velhice. Já idosa, com os cabelos embranquecidos, foi levada ao circo dos martírios, juntamente com o filho moço, para testemunhar o amor por Jesus, o Mestre que havia iluminado a sua vida acenando-lhe com esperanças de um amanhã feliz. Narra Humberto de Campos, no livro citado: “Ante o vozerio do povo, foram ordenadas as primeiras flagelações. - Abjura!... - exclama um executor das ordens imperiais, de olhar cruel e sombrio. A antiga discípula do Senhor contempla o céu, sem uma palavra de negação ou de queixa. Então o açoite vibra sobre o rapaz seminu, que exclama, entre lágrimas: - “Repudia a Jesus, minha mãe!... Não vês que nós perdemos?! Abjura!... por mim, que sou teu filho!...” Pela primeira vez, dos olhos da mártir corre a fonte abundante das lágrimas. As rogativas do filho são espadas de angústia que lhe retalham o coração. Após recordar sua existência inteira, responde: “- Cala-te, meu filho! Jesus era puro e não desdenhou o sacrifício. Saibamos sofrer na hora dolorosa, porque, acima de todas as felicidades transitórias do mundo, é preciso ser fiel a Deus!” Logo em seguida, as labaredas consomem o seu corpo envelhecido, libertando-a para a companhia do seu Mestre, a quem tão bem soube servir e com quem aprendeu a sublimar o amor.”

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Biografia

Joanna de Ângelis

DISCÍPULA DE FRANCISCO DE ASSIS Em 1182, renasce em Assis, província da Umbria, na Itália, um dos mais dedicados discípulos de Jesus, João Evangelista. Filho de Pietro Bernardone e Dona Pica Bernardone, ao nascer, recebe o nome de Giovanni (João). No entanto, o pai, que não estava presente no ato do nascimento, mudou-lhe o nome para Francisco. Existem informações de que Joanna teria vivido nesta época, sendo possível que tenha sido uma das seguidoras de Clara de Assis. Contudo, todas as informações referentes a esta encarnação em específico são muito vagas. JUANA INÉS DE LA CRUZ Em 1651, renasce na pequena cidade de San Miguel Nepantla, a oitenta quilômetros da cidade do México, com o nome de JUANA DE ASBAJE Y RAMIREZ DE SANTILLANA, filha de pai basco e mãe indígena. Após os 3 anos de idade, começa a aprender as primeiras letras. Começou a fazer versos aos 5 anos. Aos 6 anos, Juana dominava perfeitamente o idioma pátrio, além de possuir habilidades para costura e outros afazeres comuns às mulheres da época. Aos 12 anos, na capital Mexicana, Juana aprendeu


latim em 20 aulas, e português, sozinha. Além disso, falava nahuatl, uma língua indígena. Seu avô tinha uma biblioteca onde Juana aprendeu muito do que era conhecido na época, lendo os clássicos gregos e romanos e a teologia do momento. Certa vez, o Vice-rei resolveu testar os conhecimentos da menina e reuniu especialistas da Universidade do México para interrogá-la sobre os mais diversos assuntos. A plateia assistiu, pasmada, àquela jovem de 15 anos responder, durante horas, ao bombardeio das perguntas dos professores. E tanto a plateia como os próprios especialistas aplaudiram-na, ao final, ficando satisfeito o Vice-rei. Aos 16 anos, ingressou no Convento das Carmelitas Descalças, mas, desacostumada com a rigidez ascética, adoeceu e retornou à Corte. Seguindo orientação de seu confessor, foi para a ordem de São Jerônimo da Conceição, que tem menos obrigações religiosas, podendo dedicar-se às letras e à ciência. Tomou o nome de SÓROR JUANA INÉS DE LA CRUZ. Em sua cela, cercada de livros, instrumentos musicais e científicos, Juana estudava, escrevia seus poemas, ensaios, dramas, peças religiosas, cantos de Natal e música sacra. Era frequentemente visitada por intelectuais europeus e do Novo Mundo, intercambiando conhecimentos e experiências. Ficou conhecida como a “Monja da Biblioteca”. Imortalizou-se também por defender o direito da mulher de ser inteligente, capaz de lecionar e pregar livremente. Em 1695, houve uma epidemia de peste na região. Juana socorreu durante dias e noites as suas irmãs religiosas que, juntamente com a maioria da população, estavam enfermas. Foram morrendo, aos poucos, uma a uma das suas assistidas e, quando não restava mais religiosas, ela, abatida e doente, tombou vencida, aos 44 anos de idade. JOANA ANGÉLICA DE JESUS Em dezembro de 1761, renasce em Salvador, na Bahia, filha de José Tavares de Almeida e Catarina Maria da Silva. Aos vinte anos de idade, entrou para o noviciado no Convento de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, em Salvador. Foi irmã, escrivã, vigária e Abadessa, tendo adotado o nome de Sóror Joana Angélica de Jesus. Joana ocupava a direção do Convento, quando, em fevereiro de 1822, grande agitação se espalha pela cidade por revoltosos que lutavam contra a Independência do Brasil. A pretexto de perseguir eventuais “revoltosos”, soldados invadem casas particulares e se dirigem ao Convento da Lapa. Joana, pressentindo o perigo contra suas internas, ordena que as monjas fujam pelo quintal. Os soldados derrubam o portão de ferro quando, num gesto heroico, Joana Angélica abre a porta principal, postando-se de braços abertos na entrada, tentando impedir que os invasores passem. É, então, assassinada a golpes de baioneta. Os soldados entram, mas encontram apenas o velho capelão, Padre Daniel da Silva Lisboa, que é espancado

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a golpes de coronhadas. JOANNA NA ESPIRITUALIDADE Quando, na metade do século passado, “as potências do Céu” se abalaram, e um movimento de renovação se alastrou pela América e pela Europa, fazendo soar aos “quatro cantos” a canção da esperança com a revelação da vida imortal, Joanna de Ângelis integrou a equipe do Espírito de Verdade, para o trabalho de implantação do Cristianismo redivivo, do Consolador prometido por Jesus. E ela, no livro “Após a Tempestade”, em sua última mensagem, referindo-se aos componentes de sua equipe de trabalho, diz: “Quando se preparavam os dias da Codificação Espírita, quando se convocavam trabalhadores dispostos à luta, quando se anunciavam as horas preditas, quando se arregimentavam seareiros para a Terra, escutamos o convite celeste e nos apressamos a oferecer nossas parcas forças, quanto nós mesmos, a fim de servir, na ínfima condição de sulcadores do solo onde deveriam cair as sementes de luz do Evangelho do Reino.” Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” vamos encontrar duas mensagens assinadas por “Um Espírito amigo”. A primeira, no Cap. IX, item 7, com o título “A paciência”, escrita em Havre, 1862. A segunda, no Cap. XVIII, itens 13 e 15, intitulada “Dar-se-á àquele que tem”, psicografada no mesmo ano que a anterior, na cidade de Bordéus. Se observarmos bem, veremos a mesma Joanna que nos escreve hoje, ditando no passado uma bela página, como o modelo das nossas atitudes, em qualquer situação. No mundo Espiritual, Joanna estagia numa bonita região, próxima da Crosta terrestre. Quando vários Espíritos ligados a ela, antigos cristãos equivocados se preparavam para reencarnar, reuniu a todos e planejou construir na Terra, sob o céu da Bahia, no Brasil, uma cópia, embora imperfeita, da Comunidade onde estagiava no Plano Espiritual, com o objetivo de, redimindo os antigos cristãos, criar uma experiência educativa que demonstrasse a viabilidade de se viver numa comunidade, realmente cristã, nos dias atuais. Espíritos gravemente enfermos, não necessariamente vinculados aos seus orientadores encarnados, viriam na condição de órfãos, proporcionando oportunidade de burilamento, ao tempo em que, eles próprios, se iriam liberando das injunções cármicas mais dolorosas e avançando na direção de Jesus. Engenheiros capacitados foram convidados para traçarem os contornos gerais dos trabalhos e instruírem os pioneiros da futura Obra. Quando estava tudo esboçado, Joanna procurou entrar em contato com Francisco de Assis, solicitando que examinasse os seus planos e auxiliasse na concretização dos mesmos, no Plano Material. O “Pobrezinho de Deus” concordou com a Mentora e se prontificou a colaborar com a Obra, desde que “nessa Comunidade jamais fosse olvidado o amor aos infelizes do mundo, ou negada a Caridade aos ‘filhos do Calvário’, nem se estabelecesse a presunção, que é vérmina a destruir as melhores edificações do sentimento moral’. Quase um século foi passado, quando os obreiros do Senhor iniciaram na Terra, em 1947, a materialização dos planos de Joanna, que inspirava e orientava, secundada por Técnicos Espirituais dedicados que espalhavam ozônio especial pela psicosfera conturbada da região escolhida, onde seria construída a “Mansão do Caminho”, nome dado em alusão à “Casa do Caminho” dos primeiros cristãos. Nesse ínterim, os colaboradores foram reencarnando, em lugares diversos, em épocas diferentes, com instrução variada e experiências diversificadas para, aos poucos, e quando necessário, serem “chamados” para atender aos compromissos assumidos na espiritualidade. Nem todos, porém, residiriam na Comunidade, mas, de onde se encontrassem, enviariam a sua ajuda, estenderiam a mensagem evangélica, solidários e vigilantes, ligados ao trabalho comum. A Instituição crescendo, sempre comprometida a assistir os sofredores da Terra, os tombados nas provações, os que se encontram a um passo da loucura e do suicídio. Graças às atividades desenvolvidas, tanto no plano material como no plano espiritual, com a terapia de emergência a recém-desencarnados e atendimentos especiais, a “Mansão do Caminho” adquiriu uma vibração de espiritualidade que suplanta as humanas vibrações dos que ali residem e colaboram. Bibliografia: A Veneranda Joanna de Ângelis, Celeste Carneiro e Divaldo P.Franco, Leal. Boa Nova, Humberto de Campos, Chico Xavier, Ed.FEB http://www.cervantesvirtual.com/bib_autor/sorjuana/ http://www.dartmouth.edu/~sorjuana/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Joana_Angélica


INFORME

Com a colaboração de mais de uma centena de voluntários de oito Centros Espíritas da cidade, aconteceu, em Araras (SP), nos dias 20 e 21 de novembro, nas dependências da gráfica da IDE Editora, o 2º FEIRÃO DE LIVROS ESPÍRITAS, ESPIRITUALISTAS E DE AUTOAJUDA. Numa área coberta de 1.400 metros quadrados, em uma confortável e organizada estrutura, o Feirão ofereceu muitas comodidades aos que lá estiveram presentes, além de duas palestras e demonstração de pintura mediúnica. Muitas crianças também para lá se dirigi-

ram em busca de “Meu Livro Preferido”, um livro gratuito, especialmente desenvolvido para despertar a criatividade infantil. Conforme informações da comissão organizadora, a feira foi um sucesso, onde todos se sentiram num ambiente de muita fraternidade, tendo, inclusive, superado a do ano anterior em termos de visitantes e de vendas, atingindo cerca de 14.500 livros vendidos, dentre as mais de 40 editoras presentes. “Não realizamos o Feirão com o intuito financeiro e sim como uma proposta cultural, de incentivo à educação e à leitura, levando conhecimentos, principalmente, aos interessados na Doutrina dos Espíritos.” – informa o responsável pela sua organização – “E o que nos trouxe muita satisfação foi a grande procura por conta dos livros de R$1,99, como o ‘O Evangelho Segundo o Espiritismo’, onde muitos buscavam presentear a outros, demonstrando preocupação

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com o próximo, exaltando o sentimento Cristão” Também estiveram presentes vários autores autografando seus livros, dentre eles o consagrado jornalista Saulo Gomes, apresentador do programa “Pinga Fogo”, da extinta TV Tupi, com o livro “Pinga Fogo com Chico Xavier”, que traz a transcrição e comentários sobre a entrevista com o reconhecido médium. Uma grande feira para toda a população de Araras e região, e para 2011, o 3º Feirão já tem data prevista: 19 e 20 de novembro.


O Desenvolvimento do Sentimento

Segundo Pestalozzi, Piaget e a Doutrina Espírita

Walter Oliveira Alves

Embora nosso estudo se inicie com Pestalozzi e Piaget, esclarecemos que Piaget não estudou o desenvolvimento do sentimento, mas o desenvolvimento moral da criança, ou o Juizo Moral da criança, título de um de seus livros que trata do assunto. Entretanto, esse estudo, como veremos, é a base que precisamos para entender o desenvolvimento do sentimento, ou seja, o estudo do aspecto afetivo do desenvolvimento do Espírito.

O Desenvolvimento Moral

Segundo Pestalozzi

Não é nosso objetivo nos estendermos para a biografia de Pestalozzi, o que poderá ser feito em outro artigo. Apenas lembramos que Johann Heinrich Pestalozzi nasceu em Zurique, na Suíça em 1746, e desencarnou em 1827.Foi um dos pioneiros da moderna Pedagogia, influenciando diversas correntes educacionais. TEORIA DOS TRÊS ESTADOS Para Pestalozzi, a moral é o fim supremo da educação, pois o homem é um ser essencialmente moral, pois possui dentro de si mesmo a essência Divina. Define três estados ou etapas do desenvolvimento moral do homem: ESTADO NATURAL: ou primitivo, corresponde à natureza animal, aos impulsos instintivos de sobrevivência e dominação, procurando satisfazer suas necessidades básicas. O homem é egoísta por natureza. Corresponde ao estado primitivo do homem. ESTADO SOCIAL: corresponde à moral social,

à lei social, ao que se aprende na sociedade. Por necessidade, criou-se a sociedade, o governo, as leis, para coibir a manifestação dessa animalidade e garantir ao homem (ainda na animalidade) a satisfação de seus próprios prazeres. Apenas coíbe, impede a manifestação - não transforma os instintos básicos do homem. ESTADO MORAL: ao atingir o estado moral, o homem é capaz de trabalhar seus instintos animais, transformá-los, canalizar essa força num sentido positivo e é capaz de construir sua própria moral. A moral não vem de fora - é interior. O homem não é apenas um ser animal, ou um ser social. Antes, acima e além de tudo, ele é um ser espiritual, é um ser moral por excelência, pois traz a essência Divina em si mesmo. Pestalozzi exalta o amor, que é a base sobre a qual assenta toda a sua pedagogia, entrando no campo deslumbrante do sentimento. Afirma que, através da vibração, do impulso de alguém que se descobriu como ser Divino,

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que é um ser moral, que já trabalhou ou trabalha suas camadas íntimas, seus instintos elevando-os ao nível do amor, esse é capaz de despertar no educando o amor que ele já possui em si mesmo. O educador contagia, desperta essa essência que se encontra em estado latente. O papel do educador é despertar essa essência Divina no educando para que ele, uma vez consciente de si mesmo, possa se modificar, trabalhar consigo mesmo e não ser governado ou dirigido por igrejas, instituições ou pelo estado. O educador acende a centelha ou desencadeia um processo através do qual o educando vai atingir a sua autonomia moral, o estado moral, despertando a consciência moral, a essência Divina que existe em si mesmo, como filho de Deus. O homem que atingiu o estado moral não é aquele que se adaptou a uma sociedade, mas é aquele que constrói sociedades dignas, que sintonizam com as Leis Divinas, com o Criador.


ESTADO SOCIAL corresponde à moral social, à lei social, ao que se aprende na sociedade. Por necessidade, criou-se a sociedade, o governo, as leis, para coibir a manifestação dessa animalidade.

ESTADO NATURAL ou primitivo, corresponde à natureza animal, aos impulsos instintivos de sobrevivência e dominação, procurando a satisfação das necessidades básicas. O homem é egoísta por natureza. Corresponde ao estado primitivo do homem.

ESTADO MORAL ao atingir o estado moral, o homem é capaz de trabalhar seus instintos animais, transformá-los, canalizar essa força num sentido positivo e é capaz de construir sua própria moral. A moral não vem de fora - é interior.

O Desenvolvimento Moral

Segundo Piaget

Segundo Piaget, a criança passa por uma fase pré-moral, caracterizada pela anomia, coincidindo com o "egocentrismo" infantil e que vai até aproximadamente 4 ou 5 anos. Gradualmente, a criança vai entrando na fase da moral heterônoma e caminha gradualmente para a fase autônoma. Piaget afima que essas fases se sucedem sem constituir estágios propriamente ditos. Vamos encontrar adultos em plena fase de anomia e muitos ainda na fase de heteronomia. Poucos conseguem pensar e agir pela sua própria cabeça, seguindo sua consciência interior. Na fase de anomia, natural na criança pequena, ainda no egocentrismo, não existem regras e normas. O bebê, por exemplo, quando está com fome, chora e quer ser alimentado na hora. As necessidades básicas determinam as normas de conduta. No indivíduo adulto, caracteriza-se por aquele que não respeita as leis, pessoas, normas. À medida que a criança cresce, ela vai percebendo que o "mundo" tem suas regras. Ela descobre isso também nas brincadeiras

com as crianças maiores, que são úteis para ajudá-la a entrar na fase de heteronomia. Na moralidade heterônoma, os deveres são vistos como externos, impostos coercitivamente e não como obrigações elaboradas pela consciência. O Bem é visto como o cumprimento da ordem, o certo é a observância da regra que não pode ser transgredida nem relativizada por interpretações flexíveis. De certa forma, a intolerância da Igreja, por qualquer interpretação diferente da sua, referente ao Evangelho, manteve a humanidade na heteronomia moral. O bem e o certo estavam na Igreja, no Estado e não na consciência interior do indivíduo. A responsabilidade pelos atos é avaliada de acordo com as consequências objetivas das ações e não pelas intenções. O indivíduo obedece às normas por medo da punição. Na ausência da autoridade, ocorre a desordem, a indisciplina. Na moralidade autônoma, o indivíduo adquire a consciência moral. Os deveres são cumpridos com consciência de sua necessidade e significação. Possui princípios éticos e

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morais. Na ausência da autoridade, continua o mesmo. É responsável, autodisciplinado e justo. A responsabilidade pelos atos é proporcional à intenção e não apenas pelas consequências do ato. O processo educativo deve conduzir a criança a sair de seu egocentrismo, natural nos primeiros anos, caracterizado pela anomia, e entrar gradualmente na heteronomia, encaminhando-se naturalmente para a sua própria autonomia moral e intelectual, que é o objetivo final da educação moral. Esse processo de descentração conduz do egocentrismo (natural na criança pequena) caracterizado pela anomia, à autonomia moral e intelectual. As atividades de cooperação, num ambiente de respeito mútuo, embasado na afetividade, preservam do egoísmo e do orgulho, auxiliando a criança no longo processo de descentração, conduzindo-a gradativamente da heteronomia para a autonomia moral. Um ambiente de medo, autoritarismo, respeito unilateral, tende a perpetuar a heteronomia.


ANOMIA a: negação; nomia: regra, lei A criança nessa fase não segue regras ou leis.

HETERONOMIA A lei, a regra vem do exterior, do outro. O indivíduo está sujeito à vontade ou regra de outrem.

AUTONOMIA Capacidade de governar a si mesmo. Autossuficiência.

Do egocentrismo inicial, a criança, gradualmente, vai "saindo" de si mesma, ampliando sua visão de mundo e percebendo que faz parte de um todo maior. Gradualmente, aprende a cooperar, a respeitar e a amar o próximo.

Egocentrismo descentração egoísmo - orgulho cooperação - respeito - afeto

ANOMIA >

HETERONOMIA

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AUTONOMIA

O Desenvolvimento Moral segundo a doutrina A Doutrina Espírita, indo mais longe que Pestalozzi e Piaget, demonstra a importância do desenvolvimento do sentimento, em especial, do amor. Nos próximos ítens, vamos aprofundar o assunto do ponto de vista vibratório. Sugerimos a leitura do Cap. 3 de No Mundo Maior, de André Luiz, psicografia de Francisco C.Xavier, item 5 - O Poder do Amor. SENTIMENTO E VIBRAÇÃO Em seu livro “O Julgamento Moral da Criança”, Piaget deixou claro que apenas se propôs a estudar o julgamento ou juízo moral e não os comportamentos ou os sentimentos morais. Assim, o estudo de Piaget ainda se liga ao aspecto intelectual, à compreensão da regra, às ideias das crianças a respeito da mentira, à ideia de justiça, etc. Nosso estudo, no entanto, se amplia ao sentimento, não somente como energia que mobiliza e mantém nossas ações, mas como campo vibratório, capaz de emitir e receber vibrações. Entramos, pois, em campo novo para a ciência pedagógica, que a Doutrina Espírita nos apresenta de modo fértil e profundo, dando margem a amplo estudo. Estamos no campo do sentimento, da emoção, da sensibilidade, da vibração. A Doutrina Espírita nos demonstra que o homem evolui do instinto às sensações e das sensações para os sentimentos, sendo que o ponto delicado do sentimento é o amor. “O amor resume inteiramente a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu início, o homem não tem senão instintos; 10 | Revista Pedagógica Espírita | www.rpespirita.com.br

mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas este sol interior que condensa e reúne em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas.”(O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI, item A Lei de Amor) O sentimento, pois, corresponde a estado vibratório que se amplia e se desenvolve. À medida que emite sentimentos, sintoniza com vibrações de teor semelhante, e mais se desenvolve. “É dando que se recebe” é princípio científico, que pode ser racionalmente explicado: Ao praticar um ato nobre, o Espírito entra, mesmo por pequena fração de tempo, em faixa vibratória superior. Ao emitir “amor”, fica receptivo ao amor universal

espírita

que emana do mais Alto, onde milhões de inteligências superiores vibram na mesma sintonia. Naturalmente que a capacidade receptiva depende de cada Espírito. Mas ao vibrar na mesma sintonia, percebe, com maior ou menor intensidade, vibrações de teor semelhante. O Espírito que vibrou, recebe a vibração superior que lhe encanta o coração. Quer repetir a experiência, sentir de novo a mesma emoção, e assim, gradativamente, dando e recebendo, vai ampliando as suas possibilidades vibratórias, aumentando seu campo receptivo. “Fora da caridade não há salvação” pode ser compreendido que, somente a caridade, como exercício do amor, pode conduzir o Espírito ao grau superior de vibração, libertando-o dos instintos e das sensações inferiores. Contudo, não se ensina a amar através de ensinamentos teóri-


cos. O egoísta, o que não dá de si mesmo, não sabe o que é amor, por melhores sejam as definições a respeito. No campo do sentimento, é preciso sentir. No entanto, o “germe” do sentimento existe em todas as criaturas de Deus, como o princípio do perfume está no germe da flor antes de ela desabrochar. “O amor é de essência divina, e, desde o primeiro até o último, possuís no fundo do coração a chama desse fogo sagrado.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. XI, item 9). Somente o sentimento superior pode servir de estímulo ao desenvolvimento do potencial superior que trazemos em latência dentro de nós mesmos. Ao vibrarmos amor, nosso sentimento atinge as criaturas que nos cercam, envolvendo-as em energia superior, que lhes aquece o “germe” divino, propiciando condições para

o seu desabrochar. Eis a função principal do educador: acordar na criança o germe que ela já possui, auxiliando o seu desenvolvimento. Para isso, o próprio educador precisa vibrar em níveis cada vez mais elevados, criando condições para que o educando também aprenda a vibrar de forma superior, ou seja, a amar. O amor é o sentimento exaltado por Jesus e por todos os Espíritos superiores que viveram em nosso Planeta. Viveram e sentiram o amor em seus corações. Suas luzes aqueciam o coração de quantos lhes seguiam as pegadas, desenvolvendo o mesmo sentimento que aprendiam a vibrar em sintonia com eles. Quando tais figuras retornavam aos seus mundos de origem, os que lhes compartilhavam o campo vibratório sentiam a ausência do polo emulador que lhes aquecia o coração e buscavam a

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mesma vibração superior através do amor ao próximo, desenvolvendo assim, em si mesmos, pelo esforço próprio, o sentimento superior e nobre do amor doação. Exemplo fantástico dessa ascensão é o de Maria de Magdala, narrado no livro Boa Nova, de Humberto de Campos, psicografado por Francisco Cândido Xavier. Depois do encontro com Jesus, Maria passou a segui-lo, bebendo-lhe os ensinamentos e as vibrações. Com a partida de Jesus, e a sua não aceitação pelos companheiros do Mestre, Maria sentiu-se imensamente só. Passeia pelas praias do grande lago, chorando vezes sem conta a saudade do Mestre, até encontrar um grupo de leprosos que também buscavam Jesus. Maria torna-se-lhes a amiga compassiva e dedicada, ensinando-lhes o Evangelho, transformando-se depois em verdadeira mãe, amando-os como filhos do coração. Sua dedicação foi tão profunda, que Maria atingiu padrões elevados de vibração, pois na sua desencarnação, o próprio Jesus veio buscá-la, dizendo: - Maria, já passaste a porta estreita!... Amaste muito! Vem! Eu te espero aqui! Bibliografia: Educação do Espírito - Introdução à Pedagogia Espírita - Walter Oliveira Alves, IDE Minhas indagações sobre a marcha da natureza no desenvolvimento da espécie humana - Pestalozzi - tradução em espanhol por Lorenzo Luzurriaga. O Juízo Moral da Criança - Jean Piaget - Summus O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec - IDE


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Psicologia & Educação do Espírito

Grupo de Estudos Multidisciplinar

A psicologia é a ciência que maior número de ligações faz com outras ciências como Filosofia, Sociologia, Psiquiatria, Psicofisiologia, Neurociências e Neurologia, Epistemologia, Aconselhamento Vocacional, Recursos Humanos, Delinquência e Criminalidade, além de inúmeras áreas da saúde física e mental. Pode-se afirmar também, com convicção, que a Educação deve suas bases à psicologia que trata

de: percepção, aprendizagem, cognição, inteligência, emoção, motivação, linguagem, além de estudar os diferentes estágios do desenvolvimento do ser humano, Conforme vimos no artigo anterior, a psicologia sempre esteve atrelada à filosofia, somente conseguindo sua autonomia como ciência independente em fins do século XIX. No entanto, a psicologia se apoia em inúmeras teorias que, algumas vezes, se completam e, outras vezes, se colidem. Temos, assim, a Psicologia Comportamentista baseada no Behaviorismo, a Psicologia Humanista, a Psicologia Cognitiva, a Teoria Psicanalítica, a Psicologia Transpessoal e outras. Nosso objetivo é estudar as diferentes teorias e suas influências no vasto campo da psicologia e, ao mesmo tempo, perceber suas ligações com o

aspecto espiritual da vida. No último artigo, estudamos William James (1842-1910), que abriu espaço para o estudo das emoções, dos valores, da vontade e das experiências religiosas ou espiritualistas. Neste artigo, convidamos o leitor a nos acompanhar no estudo do Behaviorismo, base da Psicologia Comportamentista.

psicologia comportamental e behaviorismo

Teorias comportamentistas Têm suas raízes no empirismo inglês de Francis Bacon e David Hume. Criticando o racionalismo de Descartes, partem do pressuposto de que todo o conhecimento provém da experiência, base das teorias comportamentistas. Caracterizam-se como ambientalistas, revelando-se também como associoacionistas, ao considerar que os dados da vida mental se organizam por associação de impressões sensoriais. Dentro desta mesma linha de pensamento, podemos citar: Pavlov e condicionamento Ivan Petrovich Pavlov (1849 — 1936) foi um fisiólogo russo, Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1904. Na década de 1920, Pavlov passou a estudar a produção de saliva em cães expostos a certos tipos de estímulos. 13 | Revista Pedagógica Espírita | www.rpespirita.com.br

Segurava um pedaço de pão ou carne e mostrava ao cachorro antes de dá-lo para comer. Com o tempo, o cachorro passou a salivar assim que via o pedaço de carne. A salivação era uma resposta quando a comida era colocada em sua boca, uma reação natural de reflexo do sistema digestivo do animal e não envolvia aprendizagem. Pavlov designou esse reflexo de reflexo inato ou não condicionado. Depois passou a alimentar os cães ao som de uma campainha ou determinada música. Depois de um tempo, ao ouvirem o som, os cães reagiam com secreção de saliva e sucos gástricos. Pavlov demonstrou que os cães desenvolveram comportamentos em resposta a estímulos ambien tais, podendo tais comportamentos ser explicados sem que se precise entender o que se passa no plano mental ou psicológico. A ideia básica do condicionamento clássico consiste em que algumas


John Broadus Watson (1878-1958), psicólogo norte-americado, considerado o pai do behaviorismo metodológico. Frequentou o curso de Filosofia na Universidade de Chicago, mas mudou para Psicologia,

respostas comportamentais são reflexos incondicionados, ou seja, são inatas em vez de aprendidas, enquanto que outras são reflexos condicionados, aprendidos através de situações agradáveis ou aversivas que, através da repetição consistente é possível criar ou remover respostas fisiológicas e psicológicas em seres humanos e animais. Essa descoberta abriu caminho para o desenvolvimento da psicologia comportamental e mostrou ter ampla aplicação prática, no tratamento de alguns disturbios como fobias e nos anúncios publicitários. A partir das descobertas de Pavlov, houve um fortalecimento da investigação empírica da relação entre o organismo e o meio. Behaviorismo Os estudos de Pavlov serviram de base para as experiências de John Broadus Watson (1878-1958), considerado o pai do behaviorismo metodológico, ao publicar, em 1913, o artigo “Psicologia vista por um Behaviorista”. A palavra inglesa behaviour ou behavior significa comportamento, conduta. Behaviorismo se pronuncia “birrêiviorismo”. Os beha-

doutorando-se depois em Neuropsicologia, defendendo uma tese sobre a relação entre o comportamento dos ratos de laboratório e o sistema nervoso central. Como professor de psicologia animal, desenvolveu investigações, fundamentalmente sobre o comportamento de ratos e macacos. São as suas experiências com animais, controladas de forma rigorosa e objetiva, que lhe vão inspirar o modelo de psicologia. Os mesmos procedimentos poderão ser aplicados pelos psicólogos se eles se debruçarem sobre o estudo do comportamento humano. Com 29 anos, foi lecionar na Universidade de Baltimore, onde desenvolveu, durante 13 anos, o fundamental da sua pesquisa, instalando um laboratório de psicologia animal. Em 1913, publicou o artigo “A Psicologia como um comportamentista a vê”, onde apresenta os fundamentos da sua teoria. Trecho da obra “A Psicologia como um comportamentista a vê”

“A Psicologia, tal como a vê um comportamentalista, é um ramo puramente objetivo e experimental da ciência natural. Seu objetivo teórico é prever e controlar o comportamento. A introspecção não é parte essencial de seus métodos, e o valor científico dos seus dados não depende da facilidade com que se prestam a uma interpretação em termos de consciência. O comportamentalismo, em seu empenho para alcançar um esquema unitário da resposta animal, não reconhece linha divisória entre homem e os animais irracionais. O Comportamento Humano, com todo o seu refinamento e complexidade, não é senão parte do esquema total de pesquisa de um comportamentalista”

vioristas de orientação positivista trabalham com o princípio de que a conduta dos indivíduos é observável, mensurável e controlável similarmente aos fatos e eventos nas ciências naturais e nas exatas.

sequência de algum estímulo ambiental anterior, especialmente alterações nos sistemas glandular e motor. Em outras palavras, um comportamento é sempre uma resposta a um estímulo específico. É importante destacar que Watson não nega a existência de processos mentais. Ele acredita na inviabilidade de, à época, poder analisar os processos mentais de maneira objetiva. Embora não negando os processos mentais, propõe que seu estudo fosse abandonado, mesmo que provisoriamente, em favor do estudo do comportamento observável. Watson era um defensor da importância do meio na construção e no desenvolvimento do indivíduo. Ele acreditava que todo comportamento era consequência da influência do meio, a ponto de afirmar que seria possível determinar qual a profissão e o caráter de crianças recém-nascidas em um ambiente totalmente controlado. Watson executou o clássico e controvertido experimento do Pequeno Albert, demonstrando o condicionamento dos sentimentos humanos através do condicionamento responsivo.

Behaviorismo Clássico O Behaviorismo Clássico, também conhecido como Behaviorismo Watsoniano, ou ainda, Psicologia S-R (Stimulus-Response ou estímulo - resposta) apresenta a Psicologia como um ramo puramente objetivo e experimental das ciências naturais. A finalidade da Psicologia seria, então, prever e controlar o comportamento de todo e qualquer indivíduo. A proposta de Watson era abandonar o estudo dos processos mentais, como pensamento, sentimento e vontade, mudando o foco da Psicologia, até então mentalista, para o comportamento observável. Para ele, a pesquisa dos processos mentais era pouco produtiva e, portanto, seria conveniente concentrar-se no que é observável, ou seja, o comportamento. Comportamento seria qualquer mudança observada, em um organismo, que fosse con-

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O Experimento do Pequeno Albert foi uma controversa experiência conduzida por Watson e sua aluna de doutorado, Rosalie Rayner, em 1920, na Universidade John Hopkins. Seu objetivo era demonstrar o funcionamento do condicionamento clássico em seres humanos. Inicialmente, confronta um bebê de 9 meses com animais peludos (coelho, rato branco, cachorro, etc.) sem que Albert revelasse qualquer receio. Depois, associa um som alto à presença dos animais. A apresentação simultânea dos dois estímulos, por diversas vezes, fez com que o bebê desenvolvesse o medo de animais peludos. O experimento sofreu diversas críticas, sendo considerado antiético. Além disso, não foi aplicada nenhuma técnica comportamental para remover o condicionamento.

BEHAVIORISMO RADICAL Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), psicólogo estadunidense, é considerado o criador do chamado Behaviorismo radical, considerado o campo filosófico da análise do comportamento. Para Skinner, o behaviorismo radical “não é a ciência do comportamento humano, mas a filosofia desta ciência”. O comportamento, para o behaviorismo radical, corresponde a uma relação entre o organismo e o ambiente, ou melhor, descreve a relação entre as atividades do organismo chamadas de respostas e eventos do ambiente, chamadas de estímulos. Comportamento, pois, corresponde à relação entre estímulo e resposta. O behaviorismo não nega as expressões da mente como emoção e sentimento, que devem ser entendidos como comportamentos que podem ser parcialmente observáveis. Da mesma forma, pensamento, conhecimento e memória também são comportamentos, embora não observáveis diretamente, mas que podem ser analisados quando expressados. Também estão sujeitos aos esquemas de condicionamento, assim como os comportamentos observáveis. CONDICIONAMENTO OPERANTE O condicionamento operante ocorre da seguinte forma: após um determinado estímulo, segue-se uma resposta. Após a res15 | Revista Pedagógica Espírita | www.rpespirita.com.br

Burrhus Frederic Skinner (1904-1990)


posta, segue-se um reforço que estimule o comportamento (aumenta a probabilidade de ocorrência) ou uma punição que inibe o comportamento em situações semelhantes. Segue, pois, o modelo Sd - R - Sr Sd é um estímulo inicial ou discriminativo que provoca a resposta R. Sr é um estímulo reforçador que estimula o comportamento ou uma punição que iniba o comportamento. O condicionamento operante difere do condicionamento respondente de Pavlov e Watson porque, no comportamento operante, o comportamento é condicionado, não por associação reflexa entre estímulo e resposta, mas, sim, pela probabilidade de um estímulo se seguir à resposta condicionada. Quando um comportamento é seguido da apresentação de um reforço positivo ou negativo, aquela resposta tem maior probabilidade de se repetir com a mesma função; do mesmo modo, quando o comportamento é seguido por uma punição (positiva ou negativa), a resposta tem menor probabilidade de ocorrer posteriormente. O Behaviorismo Radical se propõe a explicar o comportamento animal através do modelo de seleção por consequências. Desse modo, o Behaviorismo Radical propõe um modelo de condicionamento não linear e probabilístico, em oposição ao modelo linear e reflexo das teorias precedentes do Comportamentalismo. Para Skinner, a maior parte dos comportamentos humanos são condicionados dessa maneira operante. Para Skinner, os comportamentos são selecionados através da tríplice contingência. Os componentes da mesma são: 1 - Nível

Filogenético: que corresponde aos aspectos biológicos da espécie e da hereditariedade do indivíduo; 2 - Nível Ontogenético: que corresponde a toda a história de vida do indivíduo; 3 - Nível Cultural: os aspectos culturais que influenciam a conduta humana. CRÍTICAS AO BEHAVIORISMO Carl Ransom Rogers (1902, 1987), Psicólogo estadunidense, foi precursor da psicologia humanista e criador da linha teórica conhecida como Abordagem Centrada na Pessoa. Foi contemporâneo de Skinner, tendo vivenciado a discussão entre psicanálise e comportamentalismo, mas, ao que tudo indica, não gostou de nenhum dos dois. Rogers se opôs à teoria de B.F.Skinner de que a personalidade do homem seria moldada pelo meio por meio de condicionamentos operantes. A teoria de Skinner tirava do homem a liberdade de escolha e ele acaba por ser “moldado” de acordo com o que é ensinado pela comunidade. Para Rogers, todos os homens são bons na sua essência, e que todo o aprendizado deveria ser organizado no sentido do indivíduo para o meio, e não o contrário. A educação deve libertar e não controlar. Os indivíduos devem ser estimulados para que desenvolvam suas próprias potencialidades, num clima de liberdade, autorrealização e consciência social. Avram Noam Chomsky (1928) é um linguista, filósofo e professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

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Chomsky foi um grande crítico do Behaviorismo, procurando demonstrar uma limitação do Comportamentalismo para modelar a linguagem, especialmente a aprendizagem. O Behaviorismo não pode, segundo Chomsky, explicar bem fenômenos linguísticos como a rápida apreensão da linguagem por crianças pequenas. Chomsky afirmava que, para um indivíduo responder a uma questão com uma frase, ele teria de escolher, dentre um número virtualmente infinito de frases, qual usar, e essa habilidade não era alcançada perante o constante reforçamento do uso de cada uma das frases. O poder de comunicação do ser humano, segundo Chomsky, seria resultado de ferramentas cognitivas gramaticais inatas. Tal argumento surgiu de uma crítica de Chomsky a um livro de Skinner sobre o comportamento verbal. BIBLIOGRAFIA Dicionário de Filosofia, Nicola Abbagnano, Martins Fontes, São Paulo . (Verbete Behaviorismo). História da Psicologia Moderna, D.P.Schultz, Ed. Thomson, S.Paulo Compreender o Behaviorismo, William Baum. Ed. Artes Médicas. Sobre o Behaviorismo, B. F. Skinner. Ed. Cultrix, São Paulo Ensino e Aprendizagem Segundo Carl R.Rogers, Henrique Justo, Centro Editorial La Salle, Canoas. Liberdade para Aprender, Carl R. Rogers, Interlivros- Belo Horizonte.


A

TLAS DE

n

EUROANATOMIA - Encarte III Pineal ou epífise Córtex

Quadro 7 Sistema Nervoso Central O Sistema Nervoso Central é dividido em encéfalo e medula.

Giro do cíngulo Corpo caloso Tálamo

ENCÉFALO

Tronco Encefálico

Mesencéfalo Ponte Bulbo

otá

lam

o

Telencéfalo Diencéfalo

Hip

Cérebro

Hipófise

Cerebelo Vista em corte sagital MEDULA

Quadro 8 Encéfalo O ENCÉFALO É DIVIDIDO EM: CÉREBRO, CEREBELO E TRONCO ENCEFÁLICO

CÉREBRO

CEREBELO

TRONCO ENCEFÁLICO

Encarte | Atlas de Neuroanatomia | 9


Quadro 9 Hemisférios Cerebrais

Vista superior do cérebro

Hemisfério esquerdo

Hemisfério direito

Quadro 10 O cérebro possui dois hemisférios, direito e esquerdo, ligados pelo corpo caloso.

Hemisférios Cerebrais

Hemisfério direito

Corpo caloso

Hemisfério esquerdo

10 | Atlas de Neuroanatomia | Encarte


Quadro 1 A Superfície do Cérebro

A superfície do cérebro possui circunvoluções ou giros, delimitados por sulcos, o que permitiu um grande aumento da superfície, sem um aumento do volume do cérebro.

Giro pré-central Sulco frontal superior

Sulco pré-central Sulco central Giro pós-central

Giro frontal superior

Sulco intraparietal Giro frontal médio Giro angular Sulco frontal inferior

Giro frontal inferior Sulco lateral Sulco temporal superior

r

l superio

pora Giro tem

dio

poral mé

Giro tem

poral Giro tem

inferior Cerebelo

Sulco temporal inferior

Encarte | Atlas de Neuroanatomia | 11


Quadro 12 Divisão do Sistema Nervoso

Os sulcos cerebrais ajudam a delimitar os lobos cerebrais, que recebem sua denominação de acordo com os ossos do crânio, com os quais se relacionam.

LOBO PARIETAL LOBO FRONTAL

LOBO TEMPORAL LOBO OCCIPITAL

12 | Atlas de Neuroanatomia | Encarte


n

por Walter Oliveira Alves

EUROPEDAGOGIA

Os neurônios ainda são um grande enigma para a ciência. Mesmo entendendo que é o Espírito quem pensa, sente e age, o cérebro é o instrumento do seu pensamento e aprendizagem. Não é fácil compreender como as células cerebrais executam funções como armazenar informações, memórias, conceitos, processar essas informações e executar raciocínios. Toda informação que entra pelos órgãos dos sentidos, todo raciocínio, sentimento, vontade ou recordação, ativa um sem número de neurônios através de sinapses que recebem, integram, processam, arquivam e transmitem informações. Cada neurônio corresponde a uma célula especialíssima, com capacidade de receber informações em forma de impulsos de energia eletro-química, através, principalmente, dos seus dendritos. No corpo celular, as informações são recebidas, processadas e transmitidas através do seu axônio. O sinal transmitido será enviado e captado por dezenas ou centenas de outros neurônios, mantendo o processo do raciocínio. A gravação e o arquivamento da memória ainda é um grande mistério. Mistério maior é a forma e a rapidez com que os neurônios localizam as informações necessárias. Milhares de células nervosas podem trabalhar ao mesmo tempo na solução de um problema. A visão, por exemplo, corresponde a um mecanismo sofisticadíssimo, existindo áreas que interpretam cores, áreas que interpretam formas e outras, movimentos, associando-os sem cometer nenhum erro.

Embora as particularidades de um rosto humano, por exemplo, conseguimos identificar um amigo de infância que não vemos há longos anos, embora tenha deixado a barba crescer. Existe muito mais do que sinais elétricos e químicos, bem como simples associação de imagens. Vamos perceber, no transcorrer de nossos estudos, que cada célula vibra em determinado padrão ou frequência, facilitando o caminho dos impulsos nervosos e as conexões. Uma imagem, captada pela retina, passa pelo tálamo, antes de se dirigir ao lobo occipital. O tálamo, considerado erroneamente como uma estação retransmissora de impulsos nervosos para o córtex cerebral, mantém conexão com o corpo espiritual, conectando com estruturas mentais construídas em outras vidas. A conexão se faz através da sintonia mental, onde “semelhante atrai semelhante”. As imagens, bem como todo tipo de sensação e mesmo pensamento abstrato, farão conexão com estruturas mentais semelhantes, arquivadas no corpo espiritual, em especial no corpo mental, de forma magnética e indestrutível, embora maleável. O tálamo, portanto, parte essencial do centro coronário, é o ponto de ligação entre o corpo físico e o corpo espiritual, onde possuímos um arquivo de experiências milenares. Desta forma, compreendemos que nossa mente, patrimônio indelével do Espírito, é construção milenar de cada um, através de múltiplas e variadas experiências, onde as estruturas criadas através das conexões neuronais são arquivadas, de forma magnética

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A CONSTRUÇÃO DA MENTE

no chamado corpo mental, na linguagem de André Luiz. Desta forma, compreendemos com André Luiz que, através das multiplas encarnações, estamos transformando “toda a atividade nervosa em vida psíquica.“ “... para compreendermos a inexequibilidade de qualquer separação entre a Fisiologia e a Psicologia, porquanto ao longo da atração no mineral, da sensação no vegetal e do instinto no animal, vemos a crisálida de consciência construindo as suas faculdades de organização, sensibilidade e inteligência, transformando, gradativamente, toda a atividade nervosa em vida psíquica.” (Evolução em Dois Mundos, André Luiz, F.C.Xavier, FEB) Isso significa que, embora o Espírito necessite do corpo para a construção das estruturas mentais, inicialmente através das conexões neurais, essas estruturas permanecem arquivadas no corpo mental de forma magnética. Em fraca analogia, podemos comparar com o computador, que necessita de duas partes distintas, mas integradas: Hardware é a parte física do computador, ou seja, o conjunto de aparatos eletrônicos, peças e equipamentos que fazem o computador funcionar. O software é a parte não física, que inclui o sistema operacional, os programas e todas as informações armazenadas. Um programa necessita do computador para ser programado, mas pode ser “salvo” e gravado em um CD ou pendriver, sobrevivendo à destruição do computador. No entanto, um computador não toma decisões e depende sempre de um programador.


Microanatomia do neurônio Neste ítem, faremos um estudo da microanatomia do neurônio e seu funcionamento. O corpo celular ou pericário contém o núcleo e as organelas, com grande quantidade de “Corpúsculo de Nissl” e escassa cromatina. Corpúsculos ou grânulos de Nissl (tigróide) são retículos endoplasmáticos rugosos (com ribossomas) e são locais de síntese de proteínas. São também chamados de substância cromófila (que é granulosa e retêm os corantes básicos) A cromatina é um filamento de DNA muito longo e muito fino, locali-

Mitocondria

zado no núcleo da célula interfásica (não em divisão). Quando a célula inicia seu processo de divisão, esses filamentos enrolam-se sobre si mesmos e se condensam, transformando-se nos famosos cromossomos. Ou seja, eles são praticamente a mesma coisa, porém com estruturas diferentes. O cromossomo é a cromatina enroladinha, pronto a ser duplicado no período da interfase para a divisão celular. O citoplasma, de natureza aquosa mais ou menos viscosa, contém macromoléculas solúveis como enzimas, carboidratos, sais, proteínas e uma grande proporção de RNA. Contém também as organelas tais como: mitocôndrias, lisossomas, ribossomas, vacúolos, citoesqueleto, aparelho de Golgi e retículo endoplasmático liso e rugoso.

Vacúolo Núcleo

Lisossomo

Cromossomo Retículo endoplasmático ruboso

Nucléolo

Centríolo

Ribossomos Dendritos

Retículo endoplasmático liso

Aparelho de Golgi

Microfilamentos Axônio

Segundo André Luiz, na obra Evolução em Dois Mundos, cap. IX, o neurônio é uma usina microscópica, de formação especialíssima, reproduzindo a tessitura das células psicossomáticas (do perispírito). André Luiz nos chama a atenção para “um pigmento ocre, estreitamen22 | Revista Pedagógica Espírita | www.rpespirita.com.br

te relacionado com o corpo espiritual, de função muito importante na vida do pensamento, aumentando consideravelmente na madureza e na velhice das criaturas”. A ciência conhece esse pigmento como lipofuscina ou pigmento lipoEsquema representativo


fuscínico (do latim fuscus = marrom). É um complexo contendo lipídio* (gordura, não solúvel em água) e proteínas. Apresenta uma estrutura amorfa (sem forma), complexa e variável. Alguns autores acreditam que, por serem insolúveis e não metabolizados, seriam resíduos não eliminados que foram acumulados em alguma região do citoplasma celular, ou seja, “lixo celular”. Quanto mais lipofuscina presente, mais velha é a célula. No entanto, André Luiz nos revela que “o pigmento ocre que a ciência humana observa, sem maiores definições, é conhecido no Mundo Espiritual como fator de fixação, como que a encerrar a mente em si mesma, quando esta se distancia do movimento renovador em que a vida se exprime e avança, adensando-se ou rarefazendo-se ele, nos círculos humanos, conforme a atitude mental do Espírito na quota de tempo em que se lhe perdure a existência carnal”. (idem, idem)

Pigmento ocre ou lipofuscina.

máticas que, por sua vez, transfere ao corpo mental, que corresponde ao envoltório sutil da mente. Podemos entender que seria no pigmento ocre ou lipofuscina, como “fator de fixação a encerrar a mente em si mesma”, onde são registrados magneticamente as experiências vividas. Isso explica por que a lipofuscina aumenta com a idade.

O citoplasma

Bióforos

O citoplasma é mais viscoso, de natureza gel, nas regiões marginais, onde é chamado de citogel ou ectoplasma. No interior é menos viscoso, de natureza sol, denominado citosol. O citoplasma, segundo André Luiz, “é, no fundo, o elemento intersticial de vinculação das forças fisiopsicossomáticas...” Entendemos, assim, que o corpo físico se liga ao corpo espiritual célula a célula. Sendo o citoplasma de natureza aquosa, mais ou menos viscosa, como vimos, não é dificil entender que o citoplasma se liga tanto ao aspecto físico como psicossomático. Isso implica em que as células do corpo físico vibram na mais perfeita sintonia com as células do corpo espiritual, ou seja, a célula física é cópia perfeita da celula psicossomática (do perispírito). Considerando que o conteúdo da mente, em nível celular, é registrado no citoplasma, de forma magnética ou vibratória, este conteúdo se transfere para as células psicosso-

André Luiz ainda nos revela a existência dos bióforos, que possuem importante função ligada aos cromossomos e genes. Os bióforos representam “unidades de força” psicossômica atuando no citoplasma e através das quais são projetadas sobre as células os estados da mente. mais viscoso na periferia citogel ou ectoplasma

O NÚCLEO CELULAR

menos viscoso perto do núcleo - citosol

* Esse lipídio, na verdade são fosfolípidos e possuem um lado que tem afinidade por água e outro lado que repele a água. São os principais constituintes das membranas celulares. A parte hidrofílica, que tem afinidade com a água, é virada para o lado exterior da membrana e o outro lado (insolúvel) é voltado para o interior. Isso torna a membrana seletiva, o que é extraordinário. Percebemos, nos mínimos detalhes do corpo humano, um mecanismo sofisticadíssimo, atestando a presença de uma Inteligência infinitamente superior à do homem.

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O termo bióforo foi criado por Augusto Weismann (1834-1914), biólogo alemão, que o considerava como elemento constitutivo básico das estruturas vivas. Weismann afirmou a existência de um “plasma germinativo”com estrutura bastante complexa e em vários níveis. O nível mais básico seria o dos “bióforos” ou “portadores da vida”, que seriam os menores conjuntos de moléculas capazes de assimilar novas moléculas, crescer e se replicar. Seriam as menores unidades que exibem as forças vitais primárias, ou seja, “assimilação e metabolismo, crescimento e multiplicação por fissão”. Além dos bióforos, Weismann cita o “determinante”, que seria uma unidade vital de ordem mais elevada do que o bióforo, possuindo qualidades especiais. Os determinantes, por sua vez, seriam estruturados em unidades maiores chamadas “ids”, termo criado a partir da palavra idioplasma. Esses ids se agrupariam em unidades ainda maiores, os “idantes”, que Weismann associou aos cromossomos. De certa forma, além da seleção natural, Weismann propôs uma seleção “germinal”, que poderemos estudar em outra oportunidade. Vale ressaltar que Weismann se manteve à frente das pesquisas sobre o papel do núcleo e dos cromossomos na hereditariedade. Vale ressaltar ainda que, somente em 1953, Watson e Crick descobriram a estrutura do DNA, como base física da informação genética. Continuaremos esse estudo na próxima edição da revista.

O núcleo celular é delimitado pelo envoltório nuclear e se comunica com o citoplasma através dos poros nucleares. É composto por um líquido gelatinoso, similar ao citoplasma, denominado de nucleoplasma, onde existem enzimas, proteínas e fatores de transcrição. Existe ainda uma rede de fibras denominada matriz nuclear, cuja função ainda não é bem conhecida. O núcleo tem a função de armazenar as informações genéticas e regular as reações químicas que ocorrem dentro da célula. O núcleo


possui também proteínas com função de regular a expressão gênica, envolvendo processos complexos de transcrição, pré-processamento do RNA mensageiro e o seu transporte para o citoplasma. Dentro do núcleo, ainda existe uma estrutura chamada nucléolo, responsável pela produção de subunidades de ribossomos. O ADN presente no núcleo encontra-se geralmente organizado na forma de cromatina (que pode ser eucromatina ou heterocromatina), durante o período de interfase. Durante a divisão celular, porém, o material genético é organizado na forma de cromossomos. É bom lembrar que no neurônio não ocorre a divisão celular. Grande parte da cromatina é localizada na periferia do núcleo.

Segundo André luiz, os cromossomos são de natureza fisiopsicossomática. “Os cromossomos, estruturados em grânulos infinitesimais de natureza fisiopsicossomática, partilham do corpo físico pelo núcleo da célula em que se mantêm e do corpo espiritual pelo citoplasma em que se implantam.” (Evolução em Dois Mundos, André Luiz, F.C.xavier)

O NÚCLEO CELULAR Corpo de Cajal Membrana Corpo PML Nucleoplasma

mRNP

Área de transcrição

Nucléolo

Paraspeckles

Speckles

Cromatina

Poros

A mitocondria é responsável pela respiração celular. É abastecida com oxigênio e glicose, que converte em energia química que pode ser usada em reações bioquímicas. Está presente em maior quantidade na extremidade dos axônios, onde existe maior necessidade de energia. Segundo André Luiz, as mitocrondrias podem ser consideradas “acumulações de energia espiritual, em forma de grânulos, assegurando a atividade celular, por intermédio do qual a mente transmite ao carro físico a que se ajusta, durante a encarnação, todos os seus estados felizes ou infelizes...”

O retículo endoplasmático serve de canal entre o núcleo e o citoplasma, levando material de que a célula necessita, de um ponto qualquer até seu ponto de utilização. Existem dois tipos: o rugoso e o liso. No neurônio, o retículo endoplasmático rugoso é chamado de Corpúsculo de Nissl.

O complexo de Golgi é formado por sacos achatados e vesículas, cuja função é o processamento de proteínas e a sua distribuição por entre as vesículas. Atua como centro de armazenamento, transformação e distribuição de substâncias na célula. É responsável também pela formação dos lisossomos.

Normalmente, as células possuem um par de centríolos posicionados perpendicularmente. São constituídos por nove microtúbulos triplos ligados entre si, formando um tipo de cilindro. Exercem função vital na divisão celular, agindo como organizadores das estruturas celulares durante sua reprodução.

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Os vacúolos são estruturas ovaladas, com conteúdo fluido onde são armazenados produtos de nutrição ou excreção.


Os ribossomos podem ser encontrados espalhados no citoplasma, presos uns aos outros por uma fita de RNAm formando polissomas ou retículo endoplasmático rugoso. Sua função é produzir proteínas que, geralmente, permanecem dentro da célula para uso interno. As enzimas que serão expelidas são produzidas pelos ribossomas aderidos à parede do retículo endoplasmático. As enzimas são inseridas dentro dele, armazenadas em vesículas que são transportadas para o complexo de golgi, onde são "empacotadas" e enviadas para fora da célula. São produzidas no complexo de Golgi.

Os lisossomos têm como função a degradação de partículas advindas do meio extracelular, assim como a reciclagem de outras organelas e componentes celulares envelhecidos, através da digestão intracelular, onde os produtos serão excretados ou reutilizados.

O ribossomo é funcional apenas quando suas subunidades estão unidas. Após a construção de cada proteína, as subunidades se desprendem do RNAm e se separam.

Microtúbulos

%

%

Lisossomo

Núcleo

Filamentos intermediários são compostos por diferentes proteínas, formando uma rede que dá resistência mecânica e estrutural às células. Juntos, eles são responsáveis por manter a forma das células.

Vacúolo residual Aparelho de Golgi

Vacúolo digestivo

Microfilamentos

são duas fitas helicoidais da proteína actina, formando feixes lineares. Sustentam a membrana plasmática e, junto com proteínas motoras, fazem a locomoção celular.

%

%

%

são longos cilindros ocos formados pela proteína tubulina. Estão ligados aos centrossomos e formam os cílios e flagelos e orientam a migração de vesículas no citoplasma. Essas moléculas podem se desassociar desfazendo o microtúbulo e, em seguida, se reorganizar para formá-lo novamente.

%

Alimento

Retículo endoplasmático rugoso

O cérebro humano possui mais de 10 bilhões de neurônios, (alguns estudiosos afirmam que pode chegar a 100 bilhões) que consomem energia bioquímica para funcionar. O cérebro consome cerca de 20% da energia total do corpo (em repouso). O citoplasma desempenha um papel estrutural, mantendo a consistência e a forma da célula. É também o local de armazenamento de substâncias químicas indispensáveis à vida. As reações metabólicas vitais têm lugar neste compartimento celular, especialmente a síntese de proteínas. As enzimas lisossômicas são produzidas no retículo endoplasmático rugoso, passam para o complexo de golgi, onde são empacotadas e liberadas na forma de vesículas (lisossomos primários). Quando uma partícula de alimentos é englobada por endocitose, forma-se um vacúolo alimentar, um ou mais lisossomos fundem-se no fagossomo despejando enzimas digestivas nele. Assim forma-se o vacúolo digestivo, e as moléculas provenientes da digestão se fundem no citoplasma. O vacúolo cheio de resíduos é chamado de vacúolo residual.

A Construção da Mente Sendo o corpo físico uma réplica do corpo espiritual e este, por sua vez, retrata “o corpo mental que lhe preside a formação”, compreendemos que existe íntima relação entre as células do corpo físico e do psicossoma, com organização e fisiologia semelhantes, mediante interação energética ou vibratória cuja natureza ainda permanece quase desconhecida. Compreendemos, pois, que a mente é construção do próprio Espírito, através dos milênios de experiências desde os organismos monocelulares aos organismos complexos, através da evolução biológica que ocorre conjuntamente à evolução

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do psicossoma e das estruturas mentais arquivadas no corpo mental. É importante compreender que toda conquista da fisiologia se transforma gradualmente em vida psíquica, arquivada no corpo mental, que, segundo André Luiz, é o envoltório sutil da mente. Todo nosso estudo nos revela, de maneira inequívoca, a existência do Espírito que jamais morre, bem como o processo da reencarnação, sem a qual não seria possível compreender todo o mecanismo da vida que evolui sem cessar, desenvolvendo a consciência humana rumo aos degraus superiores da Consciência Cósmica.


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Nubor Orlando Facure - Neurocirurgião, ex-professor da Unicamp, autor de várias obras sobre neurociências e espiritismo.

Fluxo do Pensamento

Leis do Campo Mental

Baseado na obra de André Luiz, “Mecanismos da Mediunidade”, psicografada por F.C.Xavier e Valdo Vieira, o Dr. Nubor nos oferece, em perfeita síntese, o mecanismo de nossa mente. Embora o tema central seja mediunidade, todo esse mecanismo da mente é de especial interesse para o educador, compreendendo educação como o desenvolvimento integral de todo o potencial interior do Espírito. O pensamento tem início de forma embrionária em seres vivos, que foram aprendendo a se concentrar com determinado teor de persistência rumo a um certo objetivo, como o de se apropriarem de um alimento. Nessa longa caminhada, o pensamento passou a ser o instrumento sutil da vontade do Espírito, que exterioriza a matéria mental para atuar nas formações da matéria física, obtendo por esse caminho as satisfações que deseja. A matéria mental é criação da energia que se exterioriza do Espírito e se difunde por um fluxo de partículas e ondas, como qualquer outra forma de propagação de energia do Universo. Elaborando pensamentos, cada um de nós cria, em torno de si, um campo de vibrações impulsionado pela vontade, que estabelece uma onda mental própria, capaz de nos caracterizar individualmente.

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Obedecendo às mesmas leis da energia e das partículas do mundo físico, as ondas e partículas da matéria mental, em graus de excitações variados, se expressam em frequência e cores particulares, dependendo da intensidade e qualidade do pensamento emitido, ou seja, da vibração mental emitida. Considerando o terreno das manifestações da física dos átomos, sabemos que o calor, a luz e os raios gama são expressões vibratórias de uma mesma energia. A excitação, por exemplo, dos átomos de uma barra de ferro por uma fonte de energia permite produzirmos calor de uma extremidade à outra da barra de ferro. A excitação dos elétrons de um filamento metálico permitirá a transmissão da luz, e a agitação dos núcleos atômicos de determinados materiais produzirá emissão de raios gama. Tanto quanto na matéria física, o pensamento, em graus variados de excitação, gera ondas de comprimento e frequência correspondentes ao teor do impulso criador da vontade ou do objetivo desejado. Como a matéria é expressão da energia em diferentes condições de vibração e velocidade, a energia mental também se manifesta conforme as variações da corrente ondulatória, em corpúsculos da matéria mental. Aqui também se identificam as mesmas leis que regulam a mecânica quântica na transmissão de energia entre as partículas sub-atômicas. Quando vibram os átomos da matéria mental, correspondendo à formação de calor na matéria física, geram-se ondas de comprimento longo que se estabelecem com o propósito de manutenção de nossa individualidade ou de simples noção do Eu. Essas ondas longas prestam-se, também, para sustentar a integração da nossa unidade corporal, mantendo interligado o universo de células que compõem o nosso corpo físico. Quando ocorrem as vibrações dos elétrons da matéria mental, irradiam-se luzes de tonalidades diferentes conforme a energia atinja os elétrons da superfície ou das proximidades do núcleo do átomo mental. Esse tipo de agitação ondulatória corresponde à emissão de pensamentos de intensidades variadas que vão, desde uma atenção momentânea voltada rapidamente a um certo objetivo, até a uma reflexão ou a uma concentração profunda tentando resolver questões complexas. Por fim, já vimos que a excitação dos núcleos atômicos gera os raios gama e, no campo da mente, a correspondente vibração dos núcleos dos átomos mentais gera ondas ultracurtas emitidas com imenso poder de penetração de suas energias. Essas vibrações resultam de expressões de sentimentos profundos, de cores cruciantes ou de atitudes de concentração muito intensas. A Indução Mental Indução, em termos eletrônicos, consiste na transmissão de uma energia eletromagnética entre dois corpos sem que haja contato entre eles. Esse fenômeno ocorre por conjugação de ondas através de um fluxo de energia que é transmitido de um corpo a outro. No campo


mental o processo é idêntico. Existe uma corrente de ondas suscetíveis de reproduzir suas próprias características sobre uma outra corrente mental que passa a sintonizar com ela. Expressando qualquer pensamento em que acreditamos, estamos induzindo os outros a pensarem como nós. A aceitação que os outros fazem de nossas ideias passa a ser questão de sintonia. Por outro lado, ao sentirmos uma ideia, absorvemos e passamos a refletir todas as correntes mentais que se assemelham a essa ideia, comungando os mesmos propósitos. Portanto, nossas ideias e convicções nos ligam compulsoriamente a todas as mentes que pensam como nós e, quanto maior nossa insistência em sustentar uma ideia ou uma opinião, mais nos fixamos às correntes mentais das pessoas que sentem como nós e que esposam as mesmas opiniões. Imagens Mentais O espírito é a fonte geradora de todas as expressões da vida, e toda espécie de vida se orienta ou se modifica pelo impulso mental. Sempre que pensamos, estamos expressando uma vontade correspondente ao campo íntimo das ideias, e as ideias, representando a expressão de energia mental, se corporificam pelo pensamento em ondas e corpúsculos, que se organizam conforme o teor e a intensidade da vibração mental e o propósito do pensamento emitido. Portanto, na expressão de qualquer pensamento, o comprimento da onda emitida varia com a intensidade da concentração nos objetivos desejados e a natureza das ideias emitidas. Com as ideias, criamos em torno de nós um campo de vibrações mentais que identificam, pelo seu próprio conteúdo, as nossas mais íntimas condições psíquicas. Nessa atmosfera ideatória que nos cerca, os corpúsculos da matéria mental que compõem nossos pensamentos modelam “imagens” correspondentes às idéias que mentalmente projetamos. Psiquicamente, à medida que expressamos mentalmente uma vontade, um desejo, uma ideia, uma opinião, um objetivo qualquer, passamos a ser carregadores ambulantes de vontades com formas, de desejos com moldes, de ideias vivas que as representam, de objetivos e opiniões que se exteriorizam com cenas que materializam em torno de nós os nossos pensamentos. Nossa mente projeta fora de nós as formas, as

figuras e os personagens de todos os nossos desejos, inclusive com todo o conteúdo dinâmico do cenário elaborado. Com essa constelação de adornos mentais, atraímos ou repelimos as mentes que conosco assimilam ou desaprovam nosso modo de pensar. Perturbações do Fluxo Mental A criação da matéria mental se origina do estímulo ideatório do Espírito, que é a fonte da energia vital para o cérebro. O Fluido Cósmico fornece o elemento para essas construções. Os corpúsculos mentais, sob o impulso do Espírito, são exteriorizados em movimentos de agitação constante, produzindo correntes de formas ideatórias que se expressam na aura da personalidade que os cria. Nesses vórtices de energia em que cada individualidade se exprime em correntes de matéria mental, também se cria, pela corrente de átomos excitados, um fluxo energético com consequente resíduo eletromagnético, que se expressa na aura de cada um de nós. A capacidade criativa da mente alimenta de forma permanente essa corrente em constante agitação. O fluxo resultante do processo ideatório pode apresentar perturbações semelhantes a defeitos da circulação da corrente elétrica comum a qualquer aparelho doméstico. Assim, a ausência de uma corrente eletromagnética residual pode ser identificada no cérebro de pessoas profunda mente ociosas. Os circuitos mentais podem permanecer bloqueados, impedindo a circulação do fluxo mental, em razão de ideias fixas ou obsessivas. As lesões orgânicas cerebrais perturbam, naturalmente, as expressões do pensamento, já que o cérebro é o veículo para a manifestação física da mente. As Leis do Campo Mental Nossa atividade mental, através do discernimento e do raciocínio, nos dá a prerrogativa de nós mesmos escolhermos nossos objetivos. Projetando nossas ideias, produzimos os pensamentos, exteriorizando em torno de nós irradiações eletromagnéticas com poder mais ou menos intenso, conforme o comprimento das ondas mentalmente emitidas. Essa corrente de partículas mentais nascidas de emoções, desejos, opiniões e vontades, constrói, em torno de nós, cenas em forma de quadros vivos, que são percebidos em flashes ou imagens seriadas, ou cenas contínuas que nos colocam em sintonia com todas as mentes que harmo-

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nizam com os pensamentos que exteriorizamos. Já vimos, também, que somos suscetíveis de induzir pensamentos-imagens nos outros, assim como recebemos sugestões que se corporificam em formas vivificadas dentro de nossa psicosfera. A simples leitura de uma página de jornal, uma conversação rotineira, a contemplação de um quadro, uma visita a familiares, o interesse por um espetáculo artístico ou programa de televisão, um simples conselho, são todos agentes de indução que nos comprometem psiquicamente com as mentes sintonizadas nos mesmos assuntos. Pensar ou conversar constantemente significa projetar nos outros e atrair para nós as mesmas imagens que criamos, suportando em nós mesmos as consequências dessa influência recíproca. Persistir em ideias fixas, em comportamentos obsessivos ou tensões emocionais deliberadamente violentas, nos escraviza a um ambiente psiquicamente infeliz, com imagens que nós forjamos e que nos mantêm num circuito de reflexos condicionais viciosos. Construindo, com o conteúdo dos nossos pensamentos, o campo mental que nos cerca, vivemos psiquicamente dentro dele, obedecendo a leis fundamentais relacionadas com a estruturação desse campo. Por princípio, temos que entender que o campo mental é resultado de emissão de ideias que nós criamos, com nossa participação exclusiva e, portanto, com nossa total responsabilidade. Esta é a primeira lei do Campo Mental. A segunda lei é a da assimilação, que estabelece que nós estamos ligados às mentes com quem nós nos afeiçoamos. Portanto, além da sintonia, é necessário haver aceitação das ideias para que assimilemos as interferências boas ou más que recebemos. A lei da assimilação significa também que uma ideia que nos incomoda, que nos martiriza ou nos revolta, só persiste em nós pela aceitação que fazemos de seu conteúdo e pelas ligações que mantemos com o seu emissor. A terceira lei do campo mental está relacionada com o estudo e o aprendizado que desenvolvem em nós o discernimento e o raciocínio. Ela estabelece que cada de um de nós só assimilará ideias, sugestões ou informações inéditas ou inovadoras, se já desenvolvemos a compreensão necessária ao avanço desses pontos de vista.


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P

RÁTICA

P

EDAGÓGICA NA

e

VANGELIZAÇÃO

Trabalhando com o tema: AS LEIS MORAIS

Lei Divina ou Natural - 7 a 12 anos DESPERTAR O INTERESSE Sugerimos iniciar com uma atividade que desperte o interesse, sensibilizando a criança para o assunto a ser tratado. Pode ser um acontecimento da semana, um fato ocorrido, um passeio planejado, uma visita, um filme, uma história contada e/ou dramatizada. QUESTIONAR Questione, procurando engajar a criança, lançando desafios ao seu “pensar”. Procure “tirar” delas a conclusão, iniciando conversações, diálogos e debates, buscando soluções e iluminando com os conhecimentos superiores da Doutrina Espírita. ATIVIDADES DINÂMICAS | VIVÊNCIAS Incluir atividades dinâmicas que levem a criança a vivenciar, dentro de sua realidade, os conteúdos em estudo. Incluir atividades artísticas como músicas, pinturas, modelagens, danças, dramatizações, histórias, etc. No aspecto cognitivo, ainda está na fase do concreto e necessita de atividades dinâmicas e com material concreto, caminhando gradualmente para a abstração. AMBIENTE EVANGELIZADOR Procure criar um ambiente evangelizador na própria sala e em toda a casa Espírita, procurando envolver a todos em um clima vivificante e estimulante. O afeto sincero, a amizade,

o respeito mútuo, a cooperação, o exemplo, são ingredientes indispensáveis em todas as atividades. PREPARANDO PARA A AUTONOMIA É bom lembrar também, que a criança desta idade (a partir dos 7 anos) ainda está na fase da heteronomia, caminhando gradualmente para a sua autonomia moral e intelectual. Ela necessita ainda da figura do educador e de disciplina, mas com amor e amizade. Gradualmente ela atingirá o que Pestalozi denomina de “estado moral”, como ser que pensa, sente e age no bem, não por imposição da sociedade, mas com plena consciência moral de quem aprendeu a vibrar em sintonia com as Leis Divinas. ATIVIDADE 1 DESPERTANDO O INTERESSE Conhecendo as leis de trânsito. Levar as crianças a um passeio para conhecer as leis de trânsito. Destacar que existem ruas em que os veículos só podem trafegar num sentido e cruzamentos em que eles devem parar e dar a preferência para quem trafega pela outra rua. Mostrar os sinais de trânsito e como funcionam. Levar as crianças a compreenderem a necessidade das regras de trânsito, que ajudam a evitar acidentes. O passeio poderá ser programado juntamente com outras turmas.

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ATIVIDADE 2 QUESTIONAMENTO E DIÁLOGO Após o passeio, propor questões do tipo: – Vocês acham importantes as “leis de trânsito”? – O que poderia acontecer se não existissem essas leis? – Vocês conhecem outros tipos de leis ou regras? Continuar o diálogo, envolvendo as regras que existem na própria casa, na família, na escola, no bairro, na cidade, no estado. ATIVIDADE 3 VIVÊNCIA: VISITA AO FÓRUM OU À O.A.B. Visitar o Fórum da cidade e, se possível, entrevistar o Juiz de Menores, que saberá conversar com as crianças, destacando a necessidade das leis numa sociedade, ou visitar a O.A.B. – Ordem dos Advogados do Brasil (toda cidade tem uma sede) e entrevistar um advogado, com o mesmo objetivo. ATIVIDADE 4 | PASSEIO NO PARQUE A LEI DIVINA OU NATURAL Fazer um passeio no parque ou numa praça pública, observando o comportamento das pessoas e conversar com as crianças. Ensinar a não jogar lixo no chão, respeitar as leis da natureza, os animais, seus amigos e todas as pessoas. Realizar algumas experiências simples como


soltar uma pedrinha no ar e observar que ela sempre cai. (Lei da Gravidade) Destacar que tudo no mundo segue as Leis de Deus.Existem leis para as coisas materiais e existem Leis para a nossa vida: são as Leis Morais. ATIVIDADE 5 PESQUISA: LEI CIVIL E LEI DIVINA Dividir em dois grupos para pesquisar a Lei Civil e a Lei Divina. A pesquisa seria feita em sala, a partir de trechos já definidos de material levado pelo evangelizador: O Livro dos Espíritos, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Bíblia, jornais, revistas, dicionário e o próprio Código Civil (apenas para recordar a entrevista no Fórum). Através da conversação, destacar que a lei de Deus está “escrita” na consciência. Construir quadro comparativo. Fazer frases a respeito da Lei Divina e da lei dos homens para as crianças classificarem. ATIVIDADE 6 | ATIVIDADES ARTÍSTICAS Inicie oficinas de artes do tipo: Artes Plásticas: desenho, pintura, colagem, dobraduras, modelagens Músicas: bandinha rítmica, grupo musical instrumental, coral, etc. Teatro: dramatizações, teatros de fantoche ou vara, etc. Literatura: histórias, contos e poesias. Danças: coreografias e danças folclóricas. Em todas as atividades, procure criar um clima de cooperação, afeto, amizade, sinceridade, respeito mútuo – ao mesmo tempo, um clima alegre, vivificante e estimulante. ATIVIDADE 7 | AS TRÊS REVELAÇÕES MOISÉS, CRISTO, O ESPIRITISMO Cap. I – O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. I itens 1 à 7. Proponha montar um painel com o resultado da pesquisa e do estudo ou trabalhar o conteúdo para a Expoespi. Segue anexo o texto, no entanto, as próprias crianças poderão fazer suas pesquisas. O conteúdo todo poderá levar várias semanas, mas caminhe no ritmo das próprias crianças. Tudo dependerá do próprio evangelizador. Demonstre entusiasmo.

Lei Divina ou Natural 13 anos em diante. A partir dos 13/14 anos, teoricamente, o jovem já desenvolveu o pensamento formal ou abstrato. É capaz, pois, de abstrair, criar hipóteses e conclusões através do pensamento abstrato. Ele necessita de estudos em grupos, pesquisas, debates mais profundos e uma vivência mais ampla. Do ponto de vista moral, teoricamente deve estar na fase de autonomia ou próximo desta. A figura do “evangelizador” ou “educador” deve ser substituída pela do coordenador das atividades, com maior abertura e visão de grupo. Se com as crianças pequenas (3/4 anos...) predomina a autoridade com amor, sendo o sentimento o ingrediente mais importante, nas crianças de 7/8 em diante predomina o exemplo, o modelo, tendo a autoridade ainda um aspecto externo (heteronoma), nesta idade (13/14 em diante), o jovem está em busca, de um ideal elevado, e a figura do coordenador deve refletir esse ideal em suas ideias e atitudes, mas principalmente no seu relacionamento com o grupo. O coordenador tem que “ganhar” a confiança e o respeito de forma natural, não por amizade e nem por uma autoridade externa, mas pelas suas qualidades interiores. Gradualmente, ele atingirá o que Pestalozzi denomina de “estado moral”, como ser que pensa, sente e age no bem, não por imposição da sociedade, mas com plena consciência moral de quem aprendeu a vibrar em sintonia com as Leis Divinas. ATIVIDADE 1 DESPERTANDO O INTERESSE QUESTIONANDO Notícias de jornais e revistas falando da violência, corrupção, tráfico de drogas no Brasil e no mundo. Pode-se também preparar um clipe com notícias dos principais jornais e documentários de nossas TVs. Após a exposição, lançar questões sobre as possíveis causas de tantos conflitos e desavenças em nosso país. ATIVIDADE 2 | ESTUDO EM GRUPO E DEBATES Estudo em grupos e debate das questões 614 a 624. Abrir um debate focalizando o estudo realiza-

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do sobre os caracteres e o conhecimento da lei Natural, comparando com as leis da sociedade, ou leis dos homens. Destacar que a lei de Deus está “escrita”na consciência. ATIVIDADE 3 VIVÊNCIA: VISITA AO FÓRUM OU À O.A.B. Visitar o Fórum da cidade e, se possível, entrevistar o Juiz de Menores, que saberá conversar com as crianças, destacando a necessidade das leis numa sociedade, ou visitar a O.A.B. – Ordem dos Advogados do Brasil (toda cidade tem uma sede) e entrevistar um advogado, com o mesmo objetivo. ATIVIDADE 4 | ESTUDO EM GRUPOS E DEBATE Estudo em grupos das questões: 625 – Qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de modelo? 626 – As leis divinas e naturais não foram reveladas aos homens senão por Jesus? Antes dele, delas não tinham conhecimento senão por intuição? 627 – Visto que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual é a utilidade do ensinamento dado pelos Espíritos? Terão a nos ensinar alguma coisa a mais? 628 – Por que a verdade não foi sempre colocada ao alcance de todo mundo? ATIVIDADE 5 | ESTUDO EM GRUPO TEXTO DE APOIO O Evang.Segundo o Espiritismo Capítulo I 1. Não penseis que eu tenha vindo destruir a lei ou os profetas: não os vim destruir, mas cumpri-los: - porquanto, em verdade vos digo que o céu e a Terra não passarão, sem que tudo o que se acha na lei esteja perfeitamente cumprido, enquanto reste um único iota e um único ponto. (S. Mateus, cap. V, vv. 17 e 18.) Moisés 2. Na lei moisaica, há duas partes distintas: a lei de Deus, promulgada no monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, decretada por Moisés. Uma é invariável; a outra, apropriada aos costumes e ao caráter do povo, se modifica com o tempo. A lei de Deus está formulada nos dez mandamentos seguintes:


I. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei do Egito, da casa da servidão. Não tereis, diante de mim, outros deuses estrangeiros. - Não fareis imagem esculpida, nem figura alguma do que está em cima do céu, nem embaixo na Terra, nem do que quer que esteja nas águas sob a terra. Não os adorareis e não lhes prestareis culto soberano. (¹) II. Não pronunciareis em vão o nome do Senhor, vosso Deus. III. Lembrai-vos de santificar o dia do sábado. IV. Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará. V. Não mateis. VI. Não cometais adultério. VII. Não roubeis. VIII. Não presteis testemunho falso contra o vosso próximo. IX. Não desejeis a mulher do vosso próximo. X. Não cobiceis a casa do vosso próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu asno, nem qualquer das coisas que lhe pertençam. É de todos os tempos e de todos os países essa lei e tem, por isso mesmo, caráter divino. Todas as outras são leis que Moisés decretou, obrigado que se via a conter, pelo temor, um povo de seu natural turbulento e indisciplinado, no qual tinha ele de combater arraigados abusos e preconceitos, adquiridos durante a escravidão do Egito. Para imprimir autoridade às suas leis, houve de lhes atribuir origem divina, conforme o fizeram todos os legisladores dos povos primitivos. A autoridade do homem precisava apoiar-se na autoridade de Deus; mas, só a ideia de um Deus terrível poderia impressionar criaturas ignorantes, nas quais ainda pouco desenvolvidos se encontravam o senso moral e o sentimento de uma justiça reta. E evidente que aquele que incluíra, entre os seus mandamentos, este: “Não matareis; não causareis dano ao vosso próximo”, não poderia contradizer-se, fazendo da exterminação um dever. As leis moisaicas, propriamente ditas, se revestiam, pois, de um caráter essencialmente transitório. O Cristo 3. Jesus não veio destruir a lei, isto é, a lei de Deus; veio cumpri-la, isto é, desenvolvê-la,

dar-lhe o verdadeiro sentido e adaptá-la ao grau de adiantamento dos homens. Por isso, é que se nos depara, nessa lei, o princípio dos deveres para com Deus e para com o próximo, base da sua doutrina. Quanto às leis de Moisés, propriamente ditas, ele, ao contrário, as modificou profundamente, quer na substância, quer na forma. Combatendo constantemente o abuso das práticas exteriores e as falsas interpretações, por mais radical reforma não podia fazê-las passar, do que as reduzindo a esta única prescrição: “Amar a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a si mesmo”, e acrescentando: aí estão a lei toda e os profetas. Por estas palavras: “O céu e a Terra não passarão sem que tudo esteja cumprido até o último iota”, quis dizer Jesus ser necessário que a lei de Deus tivesse cumprimento integral, isto é, fosse praticada na Terra inteira, em toda a sua pureza, com todas as suas ampliações e consequências. Efetivamente, de que serviria haver sido promulgada aquela lei, se ela devesse constituir privilégio de alguns homens, ou, sequer, de um único povo? Sendo filhos de Deus todos os homens, todos, sem distinção nenhuma, são objeto da mesma solicitude. 4. Mas, o papel de Jesus não foi o de um simples legislador moralista, tendo por exclusiva autoridade a sua palavra. Cabia-lhe dar cumprimento às profecias que lhe anunciaram o advento; a autoridade lhe vinha da natureza excepcional do seu Espírito e da sua missão divina. Ele viera ensinar aos homens que a verdadeira vida não é a que transcorre na Terra e, sim, a que é vivida no reino dos céus; viera ensinar-lhes o caminho que a esse reino conduz, os meios de eles se reconciliarem com Deus e de pressentirem esses meios na marcha das coisas por vir, para a realização dos destinos humanos. Entretanto, não disse tudo, limitando-se, com respeito a muitos pontos, a lançar o gérmen de verdades que, segundo ele próprio o declarou, ainda não podiam ser compreendidas. Falou de tudo, mas em termos mais ou menos implícitos. Para ser apreendido o sentido oculto de algumas palavras suas, mister se fazia que novas ideias e novos conhecimentos lhes trouxessem a chave indispensável, ideias que, po-

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rém, não podiam surgir antes que o espírito humano houvesse alcançado um certo grau de madureza. A Ciência tinha de contribuir poderosamente para a eclosão e o desenvolvimento de tais ideias. Importava, pois, dar à Ciência tempo para progredir. O Espiritismo 5. O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele no-lo mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém, ao contrário, como uma das forças vivas e sem cessar atuantes da Natureza, como a fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e, por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. E a essas revelações que o Cristo alude em muitas circunstâncias, e daí vem que muito do que ele disse permaneceu ininteligível ou falsamente interpretado. O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil. 6. A lei do Antigo Testamento teve em Moisés a sua personificação; a do Novo Testamento tem-na no Cristo. O Espiritismo é a terceira revelação da lei de Deus, mas não tem a personificá-la nenhuma individualidade, porque é fruto do ensino dado, não por um homem, sim pelos Espíritos, que são as vozes do Céu, em todos os pontos da Terra, com o concurso de uma multidão inumerável de intermediários. É, de certa maneira, um ser coletivo, formado pelo conjunto dos seres do mundo espiritual, cada um dos quais traz o tributo de suas luzes aos homens, para lhes tornar conhecido esse mundo e a sorte que os espera. 7. Assim como o Cristo disse: “Não vim destruir a lei, porém cumpri-la”, também o Espiritismo diz: “Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução.” Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas, desenvolve, completa e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica. Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou e preparar a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra.


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