Capítulo 1

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Predição de exigências e desempenho em bovinos de corte

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Exigências de energia para bovinos de corte

Exigências de energia para bovinos de corte 1.1

Eficiência de uso da energia metabolizável para as diferentes funções produtivas

A eficiência com que os animais utilizam a energia metabolizável da dieta para as diferentes funções produtivas é variável. As diferentes funções consideradas no caso de bovinos de corte são a mantença, o crescimento ou ganho, a lactação e a gestação ou crescimento fetal. O NRC (2000) considera que a energia metabolizável da dieta é usada com eficiência muito semelhante para a mantença e para lactação. Esta eficiência pode ser obtida a partir do valor de NDT (%) da dieta, estimando-se o valor de energia metabolizável da dieta (EM), e em seguida estimando-se os valores de energia líquida para mantença (ELm) e para ganho (ELg), todos em Mcal/kg de MS. Primeiro converte-se NDT para EM: EM (Mcal/kg de MS) = (NDT% x 3,62)/100 EM (Mcal/kg de MS) = (65 x 3,62)/100 = 2,353 Depois converte-se EM para ELm e ELg: ELm (Mcal/kg MS) = (1,37 x EM) – (0,138 x EM2) + (0,0105 x EM3) - 1,12 ELg (Mcal/kg MS) = (1,42 x EM) – (0,174 x EM2) + (0,0122 x EM3) - 1,65 No caso teremos: ELm (Mcal/kg MS) = 1,47 ELg (Mcal/kg MS) = 0,88 Assim, pode-se calcular qual é a eficiência de uso da energia metabolizável para as duas funções, mantença e ganho, respectivamente, para uma dieta com 65% de NDT. Para expressar estas eficiências é utilizada a letra k, sendo km para mantença e kg para ganho. km = (1,47 / 2,353) * 100 = 62,47% = 62,5% kg = (0,88 / 2,353) * 100 = 37,39% = 37,4% As Tabelas 1 e 2 trazem os valores de eficiência de utilização da EM para as funções de mantença e ganho, para dietas com % de NDT variando de 50 a 90%.

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Exigências de energia para bovinos de corte

Tabela 1 – Eficiência de Uso da EM para mantença (NRC, 2000).

Tabela 2 – Eficiência de Uso da EM para ganho (NRC, 2000).

Para a função de lactação são adotadas as mesmas eficiências adotadas para a mantença, e para a função gestação é adotada uma eficiência de 13% (kge = 13%). 1.2

Exigências de Energia para mantença

Inicialmente queremos destacar que as estimativas de exigências nutricionais descritas neste texto têm como base o NRC (2000) para gado de corte e Exigências Nutricionais de Zebuínos e Tabelas de Composição de Alimentos (2006). As exigências de energia para mantença têm sido definidas como a quantidade de energia ingerida que resultará em nenhuma perda ou ganho de peso pelo organismo animal. Os processos ou funções que compreendem as exigências de energia para mantença incluem: regulação da temperatura corporal, processos metabólicos essenciais e atividade física mínima. Quanto à determinação das exigências de energia, basicamente três métodos têm sido utilizados para medir as exigências de energia para mantença. Estes incluem:

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Experimentos de alimentação de longa duração para determinar a quantidade de alimento necessário para manter o peso corporal;

Métodos calorimétricos;

Método do abate comparativo.

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Exigências de energia para bovinos de corte

Os sistemas de energia do ARC (1965, 1980), CSIRO (1990), AFRC (1993) e NRC (1989) são baseados principalmente em métodos calorimétricos. A produção de calor do jejum (PCJ) medida por métodos calorimétricos mais as perdas de energia na urina, durante o mesmo período, estimam o metabolismo do jejum (MJe), o qual por definição é igual a exigência de energia líquida para mantença (ELm). Nos experimentos onde se utiliza métodos calorimétricos os animais são mantidos com ingestão de alimentos para mantença por três semanas, são treinados na câmara calorimétrica e, mantidos em zona termoneutra, sendo que as medidas geralmente são feitas por períodos de três a quatro dias após o início do jejum. O ARC (1980) ajusta o MJe pela adição de energia gasta com atividade (1 Kcal/Kg de peso vivo), enquanto nos métodos calorimétricos a energia metabolizável (EM) e o incremento calórico (IC) são medidos. No método do abate comparativo, a EM consumida e a energia retida (ER) são medidas diretamente e o IC é obtido por diferença. A ER é medida com a mudança no conteúdo de energia retida no corpo de animais alimentados com dois ou mais níveis de energia (um dos quais se aproxima da mantença) durante um período. A ER iguala-se por definição a energia líquida de ganho (ELg) em animais em crescimento ou engorda. A inclinação da reta da regressão linear da ER na ingestão de EM fornece uma estimativa da eficiência de utilização da EM para ER, e em animais em crescimento iguala-se ao kg (eficiência de utilização da energia líquida de ganho). A ingestão de EM na qual a ER = 0 nos dá uma estimativa da EM requerida para mantença. Por convenção, o intercepto da regressão do log do IC na ingestão de EM é usado para calcular uma estimativa da PCJ, que se iguala a ELm. A eficiência de utilização da EM para mantença (km) é calculada como a razão entre ELm e EMm. Este método tem vantagem sobre os métodos calorimétricos porque permite a condução de experimentos em condições mais semelhantes às que ocorrem na prática. De acordo com o NRC (2000) a exigência de ELm para gado de corte deve estimada como: ELm = 0,077 Mcal/PCJe0,75 , (Equação 1), onde: PCJe = média do peso corporal em jejum em kg, sendo este peso corporal em jejum calculado como: PCJe = PV x 0,96 , (Equação 2), onde: PV = peso vivo do animal em kg. Fatores que afetam a exigência de energia para mantença Os principais fatores que afetam as exigências para mantença dos animais são: peso corporal, raça ou genótipo, sexo, idade, estação do ano, temperatura, estado fisiológico, estado nutricional e o uso de aditivos. No transcorrer do texto vamos utilizar índices de correção (C) para estes diferentes efeitos.

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Raça: Vários resultados de pesquisa têm demonstrado que a exigência de energia para mantença de Bos indicus é aproximadamente 10% inferior a de Bos taurus para aquelas raças com aptidão para produção de carne. Em relação às raças britânicas cruzadas com os primeiros a exigência é 5% inferior às raças britânicas puras. Dessa forma, para corrigir o efeito do grupo genético aplica-se o índice de correção para grupo genético (CGG) conforme Equação 7 que será mostrada a seguir, da seguinte forma: animais de dupla aptidão e leiteiros multiplica-se o valor por 1,2; animais de corte taurinos multiplica-se por 1 e animais zebuínos multiplica-se por 0,90. Para os diferentes cruzamentos utiliza-se a média aritmética do grau de sangue. Sexo: A exigência de energia de mantença para touros é aproximadamente 15% superior à de novilhos e novilhas de mesmo grupo genético. Dessa forma, utilizamos o índice de correção para sexo (CS) de 1,15 para machos inteiros e 1,00 para as demais categorias. Assim, na Equação 7, se os animais foram machos inteiros multiplicamos por 1,15 e as demais categorias usamos o valor 1. Idade: O conceito de que as exigências de mantença por unidade de peso corporal diminuem com a idade, tanto em bovinos, como em ovinos, tem geralmente sido aceito. Resultados de pesquisa mostram que, para bovinos, a influência da idade é menos consistente do que em ovinos. No caso de bovinos a variável que está fortemente associada às exigências de mantença é o peso vivo do animal. Temperatura: As duas fontes de produção de calor nos animais são: metabolismo dos tecidos e a fermentação do trato digestório. Os animais dissipam calor através da evaporação, da radiação, da convecção e da condução. Tanto a produção, como a perda de calor, é regulada de forma a manter a temperatura do corpo constante. Dentro da zona de termo neutralidade, a produção de calor é essencialmente independente da temperatura ambiente, e é determinada pela ingestão de alimento e eficiência de uso do mesmo. Quando a temperatura ambiente efetiva aumenta acima da zona termo neutra, a produtividade diminui. Primeiro como resultado da queda na ingestão de alimento e, segundo, em função do aumento na taxa metabólica dos tecidos e do trabalho para dissipar calor (taxa respiratória e batimento cardíaco), conseqüentemente aumentando, as exigências de energia para mantença. As exigências de mantença para bovinos adaptados ao ambiente térmico estão relacionadas à previsão da temperatura ambiente. O NRC (2000) considera que para cada grau abaixo ou acima de 20o C temos um aumento ou uma queda de 0,91%, conforme mostrado pelos cálculos, [(0,0007/0,077) x 100], das exigências básicas (Equação 1), conforme mostrado na Equação 3. ELmt = (0,0007 x (20 - Tp)) Mcal/Kg PCJe0,75 , (Equação 3) onde : ELmt = exigência de energia líquida de mantença para ajuste em relação à temperatura ambiente; Tp = temperatura prévia (mês anterior).

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O estresse por calor ou frio ocorre quando a temperatura ambiente efetiva é maior do que a temperatura crítica superior (TCS) ou menor do que a temperatura crítica inferior (TCI). Essas duas temperaturas (TCS e TCI) são funções de quanto de calor o animal produz e quanto de calor é perdido para o ambiente. A produção de calor pelo animal pode ser calculada assim: IC = EM - RE, (Equação 4) ou IC = ELm/km + [RE x (1 - kg)], (Equação 5), onde: EM = energia metabolizável ingerida; ER = energia retida; ELm = energia líquida de mantença; Km = eficiência de uso da energia metabolizável para mantença; Kg = eficiência de uso da energia metabolizável para ganho, Estado Fisiológico: A produção total de calor aumenta durante a gestação. Dados de pesquisa mostram que as exigências de mantença de vacas de corte em lactação são aproximadamente 20% superior aos de vacas secas. Dessa forma, para vacas em lactação as exigências de ELm (Equação 7) tem que ser corrigida pelo índice de condição fisiológica (CCF) que é igual 1,2. Efeitos da Atividade Física: Obviamente que para animais confinados não consideramos as exigências de ELm para atender gastos com atividade física, mas para animais em condições de pastagem isto deve ser feito. Estado Nutricional: O ganho compensatório (GC) é descrito como o ganho que ocorre com maior intensidade em um período mais curto, ou ainda, a uma taxa de crescimento mais eficiente, após um período de estresse ambiental ou nutricional. A resposta de bovinos ao estado nutricional deprimido é altamente variável. Um dos mais importantes componentes do ganho compensatório em animais que recebem quantidade abundante de alimento após um período de restrição alimentar é o aumento na ingestão de matéria seca. Esta resposta aumentará o gut fill e o peso vivo, mas também há evidência de que ocorre melhor utilização da energia. Resultados de pesquisa mostram que a exigência de mantença é reduzida durante e, algum tempo após o período de restrição. Uma redução de 20% nas exigências de mantença para animais em ganho compensatório parece uma generalização razoável. A duração da redução nessas exigências está sujeita à intensidade e duração do período de restrição alimentar e, ao regime nutricional durante o período de realimentação, sendo comum a ocorrência de ganho compensatório por períodos que podem durar de 60 a 90 dias. A correção a ser feita para o estado nutricional prévio ou ganho compensatório (CGC) é feita conforme descrito pela equação abaixo. Correção GC = 0,8 + [(CC – 1) x 0,05], (Equação 6), onde: CC = condição corporal do animal, que pode variar de 1 a 9 e deve-se adotar os mesmos critérios usados para vacas (Tabela 3). Uso de Ionóforos na Dieta: O NRC (2000) considera que o uso de ionóforos na dieta produz um aumento na eficiência de uso da energia para mantença da ordem

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de 12%. Esta informação é usada para estimar o consumo de matéria seca para atender a mantença, considerando-se que o valor de ELm da dieta deve ser aumentado em 12%, ou seja, multiplica-se este valor por 1,12. Dessa forma, as exigências de ELm para animais confinados são estimadas assim: ELm = PCJe0,75 x {(0,077 x CS x CGG x CCF x CGC) + [0,0007 x (20 – Tp)]}, (Equação 7), onde: CS = Correção para sexo; CGG = Correção para grupo genético; CCF = Correção para condição fisiológica. CGC = Correção para ganho compensatório; Para animais em pastagem determina-se a exigência em energia para atender a atividade do animal, usando-se a seguinte equação: ELm ativ (Mcal/dia) = [(0,006 x IMS x (0,9 – D)) + (0,05 x T / (FV + 3))] x PV / 4,184 Onde: IMS = ingestão de matéria seca (kg/dia); D = digestibilidade da forragem como índice; T = terreno (plano = 1; intermediário = 1,5 e montanhoso = 2); FV = forragem verde disponível (ton/ha) e PV = peso vivo (kg). No caso de não haver forragem verde disponível usar a quantidade de forragem disponível. Assim, para animais em pastagem, a exigência total para mantença (ELm total) será a soma de ELm + ELm ativ. O consumo de matéria seca para atender a exigência de mantença (IMSm) é obtido assim: IMSm (Kg/dia) = ELm total / ELm da dieta No caso de uso de ionóforos na dieta deve-se estimar assim: IMSm (Kg/dia) = ELm total / (ELm da dieta x 1,12) 1.3

Exigências para crescimento, ganho ou reservas corporais

A exigência de Energia Líquida para Ganho (ELg) é definida como o conteúdo de energia do tecido depositado pelo animal, que é uma função da proporção de gordura e proteína no ganho de tecido do corpo vazio. A gordura contém 9,367 Kcal/g e a matéria orgânica não gordurosa contém em média 5,686 Kcal/g. Considera-se que a maturidade química do corpo é atingida quando qualquer peso adicional produz pequeno aumento na quantidade de proteína.

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A equação desenvolvida para energia retida com raças britânicas (Equação 8) descreve a relação entre energia retida (ER) e ganho de peso corporal vazio (GPCVz) para um determinado peso corporal vazio (PCVz): ER = 0,0635 x PCVz0,75 x GPCVz1,097

(Equação 8)

Pelo fato de que a energia é retida no organismo como gordura ou proteína, a composição do ganho de animais com diferentes ganhos em peso pode ser estimada a partir da ER computada pela Equação 8 (Garrett, 1987), usando as equações abaixo: Proporção de Gordura = 0,122 x ER - 0,146 Proporção de Proteína = 0,248 - 0,0264 x ER

(Equação 9) (Equação 10)

Algumas considerações são importantes: 1. O conteúdo de energia do ganho em uma determinada taxa de ganho de peso em jejum aumenta com o peso vivo do animal em qualquer grupo genético (Tabela 3) e, dessa forma, aumentam as exigências; 2. O conteúdo de proteína e de gordura do ganho de peso e a gordura corporal em um determinado peso dependem da taxa de ganho (Tabela 3). BRUNGARDT (1973) introduziu na descrição dos tipos morfológicos o conceito de estrutura corporal (frame size), que se baseia principalmente nas dimensões de altura e comprimento do corpo. O autor observou que dentro de uma mesma raça, e na mesma idade, os animais portadores de maior estrutura corporal ganharam peso mais rapidamente e alcançaram pesos significativamente mais altos quando abatidos num grau semelhante de classificação de carcaça. Quando se estabeleceu o confronto entre raças, comprovou-se que as raças maiores exigem períodos de alimentação mais longos que as raças menores para atingir o mesmo ponto de abate, porém com pesos finais sempre mais elevados. O peso corporal vazio (PCVz) do animal é uma informação importante na determinação das exigências nutricionais e, só pode ser determinado, após o abate, deduzindo-se do PV o peso do conteúdo do trato gastrintestinal (CTGI) ou somandose os pesos de todos os componentes do corpo do animal. Para bovinos em crescimento, a relação CTGI/PCVz é maior em animais mais jovens, reduzindo-se à medida que o peso corporal aumenta. Esta relação é, ainda maior, para animais alimentados com rações ricas em fibras de baixa digestibilidade, e menor para animais mais gordos, em relação a animais mais magros. O NRC (1996) estima que: PCVz = PCJe x 0,891

(Equação 11)

GPCVz = GPCJe x 0,956

(Equação 12)

Onde:

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PCJe = Peso Corporal em Jejum GPCJe = Ganho de Peso Corporal em Jejum Quando o peso do animal e a energia retida são conhecidos, pode-se estimar o ganho em peso do animal, que pode ser obtido como ganho de peso vivo (GPV), ganho de peso vivo em jejum (GPVJe) ou ganho de peso corporal vazio (GPCVz). As equações abaixo são utilizadas para predizer o GPCVz e o GPVJe: GPCVz = 12,341 x PCVz -0,6837 x ER 0,9116, GPVJe = 13,91 x PCJe -0,6837 x ER 0,9116,

(Equação 13) (Equação 14)

O GPCVz pode ser transformado em GPVJe, assim: GPVJe = GPCVz / 0,956 E o GPVJe pode ser transformado em GPV, assim: GPV = GPVJe / 0,96 Tabela 3 – Relação entre estágio de crescimento e taxa de ganho de peso com a composição corporal, baseados no NRC (1984) para novilhos de tamanho corporal médio.

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Nessas equações ER = EL disponível para ganho ou ELg total diária (Mcal/dia). Assim, se a ingestão é conhecida, a energia disponível para ganho pode ser calculada como: [(IMS - MS para mantença) x ELg da dieta]. Neste caso, utilizando os valores de EL disponível para ganho, iremos estimar o ganho de peso dos animais. O peso no qual os bovinos atingem a mesma composição química do corpo ou organismo difere dependendo do peso à maturidade e do sexo. Pelo fato de que atualmente, a composição e o peso à maturidade para muitos grupos genéticos não são conhecidos, a composição do corpo e subseqüente exigência de EL devem ser preditas a partir do peso estimado da vaca à maturidade e do nível de alimentação dos animais. Considerando os valores obtidos na Tabela 4 vamos obter os pesos equivalentes aos originais, obtidos basicamente com raças britânicas. EQPCJe = PCJe x (PCP / PCJeF), (Equação 15), onde: EQPCJe = equivalente peso corporal em jejum; PCP = peso corporal padrão (referência para a gordura corporal final desejada); PCJeF = PC Jejum Final, ou peso a maturidade da raça em questão. Este peso é obtido na Tabela 4, a partir do peso da mãe, considerando-se o Grupo de Escore Corporal (frame do grupo genético) e o sexo do animal. O GEC refere-se ao tamanho ou peso do grupo genético à maturidade e quem define isto é o peso da mãe, levando-se em consideração matrizes com pleno desenvolvimento e condição corporal 5, conforme descrito na Tabela 5. Assim, na equação 8 utiliza-se o EQPCVz e não o PCVz. O EQPCVz é obtido a partir do valor da Equação 15. EQPCVz = EQPCJe x 0,891,

(Equação 16).

Assim, a Equação 8 fica conforme descrito abaixo. ER = 0,0635 x EQPCVz0,75 x GPCVz1,097 Tabela 4 – Pesos de abate de novilhos e novilhas, altura e peso de vacas 1 adultas em reprodução .

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Tabela 5 – Condição Corporal da Vaca (Escore).

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1.4

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Exigências para crescimento e ganho em novilhas de reposição

Para o peso de novilhas de reposição à primeira cobertura vamos adotar os mesmos percentuais do peso à maturidade em relação aos diferentes grupos genéticos conforme recomendação do NRC (2000). O NRC (2000) recomenda 55% do peso à maturidade (PM) para grupos genéticos de dupla aptidão, 60% para grupos genéticos taurinos especializados em produção de carne, e 65% para zebuínos. Assim, se um rebanho de vacas Nelore pesa em média 450 kg, as novilhas filhas destas vacas devem ser cobertas com peso de [(450x65)/100] = 293,5 kg, ou seja, aproximadamente 300 kg. O NRC (2000) estabelece pesos alvos (PAP) para estas novilhas no momento do primeiro, segundo, terceiro e quarto parto. Estes pesos devem, ser de: PAP1 = PM x 0,80 PAP2 = PM x 0,92 PAP3 = PM x 0,96 PAP4 = PM x 1 Para o mesmo exemplo já utilizado acima podemos ter: PAP1 = 450 x 0,80 = 360 kg PAP2 = 450 x 0,92 = 414 kg PAP3 = 450 x 0,96 = 432 kg PAP4 = 450 x 1 = 450 kg Este peso é o peso que a novilha deve apresentar logo após o parto. A novilha deve atingir o peso da matriz na quarta parição. Portanto, até o quarto parto a fêmea poderá estar em crescimento e, portanto, além das exigências de mantença, lactação e gestação, ainda há a exigência para ganho ou crescimento. Após a definição da idade média (em dias) à primeira cobertura (IMPC) que ocorre no rebanho podemos inclusive estimar quais devem os ganhos diários nas diferentes gestações. Para efeito de cálculo destas estimativas o NRC (2000) considera um período médio de gestação de 280 dias.

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A equação adotada para estimar o ganho médio diário relacionado ao crescimento do feto e anexos é a seguinte: GMDg = PBN x (18,28 x (0,02 – 0,0000286 x T) x e(0,02 x T – 0,0000143 x T x T)), onde: GMDg = ganho médio diário da novilha gestante (g/dia); PBN = peso médio do bezerro ao nascer (kg); T = tempo de gestação (dias). Para novilhas gestantes, o peso do feto e dos tecidos uterinos associados é deduzido do equivalente peso corporal vazio (EPCVz) para computar as exigências de crescimento. O peso do concepto (PCo) pode se estimado assim: PCo = (PBN x 0,01828) x e(0,02 x T – 0,0000143 x T x T), onde: PCo = peso do concepto (kg). 1.5

Exigências para lactação

As exigências de energia para atender a lactação são estimadas usando a idade da vaca, a semana do pico de lactação, a produção de leite no pico de lactação, a semana de lactação no momento da estimativa, a duração da lactação, e as porcentagens de gordura e sólidos não graxos do leite. As equações adotadas são mostradas a seguir: k = 1 / T, sendo: k = taxa intermediária constante e T = semana onde ocorre o pico de produção. a = 1 / (PLP x k x 2,72), sendo: a = taxa intermediária constante e PLP = produção de leite no pico de produção (kg/dia). PLA = S / (a x e(k x s)), sendo: PLA = produção de leite atual (kg/dia), ou seja, na semana considerada, e S = semana de lactação, que normalmente varia de 1 a 30, porque em geral bezerros de corte são desmamados 30 semanas. PLT = -7 / ((a x k) x ((D x e(-k x D)) + ((1 / k) x e(-k x D)) – (1 / k))), sendo: PLT = produção de leite total na lactação (kg) e D = duração total da lactação em semanas. Para fêmeas de 2 anos o NRC (2000) considera um desconto de 26% na produção diária em relação às vacas adultas.

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Assim, vamos estimar usando: PLA = [S / (a x e(k x a))] x 0,74 Para fêmeas de 3 anos o NRC (2000) considera um desconto de 12% na produção diária em relação às vacas adultas. Assim, vamos estimar usando: PLA = [S / (a x e(k x a))] x 0,88 A exigência de energia para atender a produção diária de leite é calculada usando o valor energético do leite multiplicado pela produção diária. O valor energético do leite é obtido com a seguinte equação: VEL = 0,092 x GL + 0,049 x SNG – 0,0569, onde: VEL = valor energético do leite (Mcal/kg), GL = gordura do leite (%) e SNG = sólidos não graxos do leite (%). Para gordura pode-se adotar um valor próximo de 4% e para sólidos não graxos um valor entre 7 e 8%. A secreção de energia através do leite no momento da estimativa é a exigência de energia para produção de leite e é obtida assim: ETL = PL x VEL, sendo: ETL = exigência diária total de energia para lactação (Mcal/dia) e PL = produção de leite (kg/dia). Em função do fato de que a eficiência de uso da energia metabolizável da dieta é praticamente a mesma para mantença e lactação, o valor estimado é considerado ELm. 1.6

Exigências para gestação

As exigências de energia para atender a gestação são estimadas usando o dia de gestação e o peso médio do bezerro ao nascer. ELG = [PBN x 4,431 x (0,05855 – 0,0000996 x T) x e((0,03233 – 0,0000275 x T) x T)] / 1000, sendo: ELG = energia líquida para ganho, estimada na forma de ELm (Mcal/dia) e T = tempo de gestação (dias).

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1.7

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Determinação de exigência para diferentes categorias

Bovinos em crescimento Usando as equações para estimar as exigências de energia, estime o desempenho de novilhos Angus confinados, com 300 kg de peso vivo, consumindo uma dieta com 1,66 Mcal de ELm/kg de MS e 1,05 Mcal de ELg/kg de MS, e ingerindo 2,3% do seu peso vivo em matéria seca. Calcula-se inicialmente a ingestão de matéria seca que será destinada para a sua mantença: ELm (Mcal/dia) = PCJe0,75 x 0,077 ELm (Mcal/dia) = 71,73 x 0,077 ELm (Mcal/dia) = 5,52 Mcal/dia Para obtermos a ingestão de MS para a mantença do novilho, dividimos a exigência pela concentração de ELm da dieta: IMSmantença (kg/dia) = 5,52 / 1,66 IMSmantença (kg/dia) = 3,33 kg/dia Calcula-se quanto de MS restará para ganho de peso: Se a ingestão total de MS foi de 2,3% do peso vivo do animal, então foram 6,9 kg/dia. MS para ganho = MStotal – MSmantença MS para ganho = 6,9 – 3,33 MS para ganho = 3,57 kg/dia Calcula-se a retenção de energia (RE) que o novilho terá: RE = MS para ganho x ELg da dieta RE = 3,57 kg/dia x 1,05 Mcal/kg RE = 3,75 Mcal/dia Escolher o peso padrão referência (PPR) e o peso corporal em jejum final (PCJeF; no grau de acabamento escolhido anteriormente): PPR = 478 kg (28% de gordura na carcaça) PPR =462 kg (26,8% de gordura na carcaça)

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Exigências de energia para bovinos de corte

PPR =435 kg (25,2% de gordura na carcaça) Vamos escolher 478 kg (28% de gordura na carcaça). Supondo que o novilho em questão pertence a um grupo de GEC 5 (Angus), podemos considerar que seu PCJeF será de 478 kg (Tabela 4). Calcular o PCVz, EQPCJ e o EQPCVz: PCJ = PV x 0,96 = 300 x 0,96 = 288 kg PCVz = 0,891 x PCJ = 0,891 x 288 = 256,6 kg EQPCJ = PCJ x (PPR / PCJF) = 288 x (478 / 478) = 288 x 1 = 288 kg EQPCVz = 0,891 x EQPCJ = 0,891 x 288 kg = 256,61kg Estimar o ganho de peso corporal vazio RE = 0,0635 x PCVz0,75 x GPCVz1,097 3,75 = 0,0635 x (256,6)0,75 x GPCVz1,097 3,75 = 0,0635 x 64,1 x GPCVz1,097 3,75 = 4,07 x GPCVz1,097 3,75 / 4,07 = GPCVz1,097 0,921 = GPCVz1,097 0,928 kg/dia = GPCVz Estimar o ganho de peso vivo em jejum GPCVz = 0,956 x GPVJe GPVJe = GPCVz / 0,956 GPVJe = 0,928 / 0,956 GPVJe = 0,971 kg/dia Estimar o ganho de peso vivo GPV = GPVJe / 0,96 GPV = 0,971 / 0,96 GPV = 1,01 kg/dia

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Podemos estimar a composição do ganho deste novilho Proporção de gordura (%) = [0,122 x RE – 0,146] x 100 Proporção de gordura (%) = [0,122 x 3,75 – 0,146] x 100 = 31,2% Proporção de proteína (%) = [0,248 – (RE x 0,0264)] x 100 Proporção de proteína (%) = [0,248 – (3,75 x 0,0264)] x 100 Proporção de proteína (%) = [0,248 – 0,099] x 100 = 14,9% Conclusões Concluímos que um novilho de 300 kg de peso vivo, consumindo uma dieta com 1,66 Mcal de ELm /kg de MS e 1,05 Mcal de ELg /kg de MS, e ingerindo 2,3% do seu peso vivo em matéria seca terá um ganho estimado de 1,01 kg/dia, e a composição do ganho será de 31,2% de gordura e 14,9% de proteína. Vacas em lactação em pastagem Considere um lote de vacas com 450 kg de peso vivo, em pastagem, com capacidade para produzir 6 kg de leite/ dia no pico de produção, o qual ocorre na 8ª semana de lactação. As vacas estão paridas há 6 semanas. Estas vacas estão em uma pastagem com 2,5 toneladas de massa verde de forragem disponível e digestibilidade de 54% (0,54), em um terreno plano, e o provável consumo de MS será de aproximadamente 9,9kg/dia. Estimar a exigência total de energia para atender a mantença e a produção. Determinar as exigências de mantença: PCJe (kg) = PV x 0,96 = 450 x 0,96 = 432 ELm (Mcal/dia) = [(0,077 Mcal/PCJe0,75) x CCF] ELm (Mcal/dia) = [(0,077 x PCJe0,75) x CCF] ELm (Mcal/dia) = [(0,077 x 4320,75) x 1,2] ELm (Mcal/dia) = [(0,077 x 94,76) x 1,2] ELm (Mcal/dia) = 8,76 ELm ativ (Mcal/dia) = [(0,006 x IMS x (0,9 – D)) + (0,05 x T / (FV + 3))] x PV / 4,184 ELm ativ (Mcal/dia) = [(0,006 x 9,9 x (0,9 – 0,54)) + (0,05 x 1 / (2,5 + 3))] x 450 / 4,184

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ELm ativ (Mcal/dia) = [0,0214 +0,009] x 107,55 ELm ativ (Mcal/dia) = 3,27 Estimar a produção de leite na 6ª semana k=1/T k = 1 / 8 = 0,125 a = 1 / (PLP x k x 2,72) a = 1 / (6 x 0,125 x 2,72) a = 0,49 PLA = S / (a x e(k x s)) PLA = 6 / (0,49 x e(0,125 x 6)) PLA = 6 / (0,49 x e(0,75)) PLA = 6 / (0,49 x 2,117) PLA = 5,78 kg/dia A produção de leite estimada será de 5,78 kg/dia na 6ª semana. Estimar a exigência de energia para atender a lactação A exigência de energia para atender a produção diária de leite é calculada usando o valor energético do leite multiplicado pela produção diária. O valor energético do leite é obtido com a seguinte equação: VEL = 0,092 x GL + 0,049 x SNG – 0,0569 Para gordura pode-se adotar um valor próximo de 4% e para sólidos não graxos um valor entre 7 e 8%. Então: VEL = 0,092 x 4 + 0,049 x 7 – 0,0569 VEL = 0,368 + 0,343 – 0,0569 VEL = 0,654 Mcal/kg ETL = PL x VEL ETL = 5,78 x 0,654 ETL = 3,78 Mcal/dia

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Determinar a exigência total Fazendo a soma: ELm + ELm ativ + ETL obtemos a EL total que a vaca precisa, EL que será na forma de ELm. ELm total = 8,76 + 3,27 + 3,78 ELm total = 15,81 Mcal/dia Conclusões A pastagem contém 54% de NDT o que corresponde a uma ELm de 1,11 Mcal/kg de MS. Considerando o consumo de 9,9 kg de MS/dia, as vacas consumirão 11 Mcal de ELm/dia, portanto, terão um déficit energético e perderão condição corporal. Mas é importante não esquecer que este período é o de maior demanda energética pela vaca. 1.8

Literatura consultada

AFRC. Energy and Protein Requirements of Ruminants. An Advisory Manual Prepared by the AFRC Technical Committee on Responses to Nutrients. CAB International, Wallingford, U.K, 1993. ARC. The nutrient requirements of Farm Livestock. N.2. Ruminants. HMSO, London, 1965. ARC. The Nutrient Requirements of Ruminant Livestock. Commonwealth Agricultural Bureaux, Farnham Royal, U.K, 1980. CSIRO. Feeding Standards for Australian Livestock. Ruminants. (G. E. Robards and J. C. Radcliffe, Ed.). CSIRO Publications, East Melbourne, Australia, 1990. Exigências Nutricionais de Zebuínos e Tabelas de Composição de Alimentos. Ed. Valadares Filho, S.C., Paulino, P.V.R., Magalhães, K.A. 1 ed. Viçosa: UFV, 2006. 142p. NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of dairy cattle. 6.ed. rev. Washington, DC: National Academy of Sciences, 1989. 157p. NRC. Nutrient Requirement of Beef Cattle. Seventh Revised Edition. National Academy Press, Washington, DC, 2000. 248 p.

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