HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
CE N T R O U N I V E R SI TÁR I O N O S SA S EN HO RA D O PAT R O C Í NI O CU R S O D E AR Q U IT E T URA E U R BA N I SM O T RA BAL H O FI N A L D E G RAD UAÇ ÃO I GO R PI N H E I R O FE R NA N D ES R G M 10 4 5 4 4 0 O R I EN TA D O PO R P R OF. AR Q. MAT E US LU CCA A R R U DA D EZ E M B R O D E 2 0 19
É preciso ter outras políticas, inclusive políticas que entendam a dimensão social da moradia e a moradia como um direito humano. Você não pode submeter a totalidade da política habitacional e urbana dos países às necessidades de remuneração do capital. Essa deve ser uma das questões, e não "a" questão. Raquel Rolnik
À Deus.
AGRADECIMENTOS
À minha família, que sempre me apoiou em todos os momentos e adversidades. Aos meus colegas de grupo e verdadeiros amigos, Bruna, Debora, Daniel, Laiza, Paulo e Pamela, que durante o curso viveram todos os percalços juntos obtendo êxito sempre. Aos professores do CEUNSP, e especialmente, a Mariana Bertani, Renata Segalla e Mateus Arruda, que me orientaram em diversos aspectos projetuais e intelectuais durante todo o processo projetual. Ao Sr. Paulo Tebaldi Castellano, que durante todo meu estágio enriqueceu fortemente meu conhecimento acerca da vivência em arquitetura e obras e na vida profissional. À todos que direta e indiretamente participaram da minha formação acadêmica e contribuíram para chegar até aqui.
SUMÁRIO RESUMO Índice de Ilustrações.............8 resumo...................................10 habitato.................................11
1 O TEMA
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1.1 introdução......................14 1.2 objetivos gerais.............16 1.3 objetivos específicos....16
2 CONTEXTO
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2.1 justificativa........................................................................20 2.2 problemática da habitação paulistana..........................23 2.3 IAP'S E A IMPLANTAÇÃO HABITACIONAL MODERNA ................23 2.4 periferização das habitações .........................................25 2.5 programa minha casa minha vida......................................26 2.6 caracterização da área central e potencialidades.....26 2.7 vantagens do adensamento..............................................28 2.8 sustentabilidade e mobilidade.........................................29 2.9 cidade de modelo inteligente e humanização dos espaços....................................................................................34
3DIAGNÓSTICO DO TERRITÓRIO 37
3.1 localização macro..............38 3.2 localização meso................39 3.3 situação...............................40 3.4 análises de entorno...........41 3.5 legislação correlata.........44 3.6 função social......................45 3.7 vulnerabilidade social......47 3.8 público.................................48
4 estudos de caso 51
4.1 co njun to habitacional zezinho magalhães prado........54 4.2 edifício pedregulho............56 4.3 residencial ágata...............60 4.4 análise final sobre os estudos de caso........................63
5 referências projetuais
6 o projeto
5.1 edifício louveira.................66 5.2 edifício mirador..................68 5.3 80 vivendas en salou..........70 5.4 HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK LAGO NORTE.................................72
justificativas projetuais....76
65
75
7 bibliografia
93
livros, teses e sites........94 trabalhos finais de graduação...............................96 planos..................................97 normas................................97 revistas................................97
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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES FIGURAS
Figura 1: Calçadão em São Paulo.......................................................................13 Figura 2: Fotografia do Centro de São paulo.................................................18 Figura 3: Prédio Wilton Paes de Almeida.........................................................21 Figura 4: Autoconstrução no Jaraguá............................................................21 Figura 5: Edifício Anchieta................................................................................24 Figura 6: Conjunto Habitacional em Cidade Tiradentes...............................25 Figura 7: Casas do Programa Minha Casa Minha Vida...................................25 Figura 8: Ciclovia da Av. Duque de Caxias........................................................31 Figura 9: Morador de rua e seu cão.................................................................37 Figura 10: Diagrama de Localização Macro....................................................38 Figura 11: Localização Meso.........................................................................39 Figura 12: Vista aérea de Situação do terreno..........................................40 Figura 13: Mapeamento de uso real do solo................................................41 Figura 14: Mapeamento de Equipamentos do entorno................................41 Figura 15: Mobilidade.....................................................................................42
Figura 16: Mapeamento de Arborização local............................................42 Figura 17: Rosa dos Ventos............................................................................43 Figura 18: Ventilação e Insolação................................................................43 Figura 19-A: Gabarito do entorno................................................................43 Figura 19-B: Diagrama de Limites do distrito da República......................45 Figura 20: Densidade Demográfica da República......................................,.46 Figura 21: Média de Moradores por domicílio ocupado da República......46 Figura 22: Índice de Vulnerabilidade Social da cidade de São Paulo.......47 Figura 23: Percentual de Favelas nos distritos........................................49 Figura 24: Infográfico de ocupações em São Paulo....................................49 Figura 23: Fachada do Edifício Copan...........................................................50 Figura 24: Fachada de um dos blocos do Condomínio São Paulo...............52 Figura 25: Projeto de implantação...............................................................53 Figura 26: Esplanada central entre dois blocos......................................53 Figura 27: Vão livre convertido em estacionamento.................................53 Figura 28: Planta baixa do apartamento tipo (64m²)................................54 Figura 29: Perspectiva do sistema pré-fabricado utilizado....................54 Figura 30: Playground...................................................................................55 Figura 31: Fachada e janelas........................................................................55 Figura 32: Entrada do condomínio...............................................................55 Figura 33: Escada de acesso.........................................................................55 Figura 34: Vista da encosta do projeto.......................................................56 Figura 35: Passarela de acesso ao bloco principal..................................56 Figura 36: Corredor e cobogós.....................................................................56 Figura 37: Diagrama de Quitinete e Duplex................................................57 Figura 38: Detalhe Brise........................................................................58 Figura 39: Estacionamento........................................................................58 Figura 40: Perspectiva de Implantação.....................................................58 Figura 41: Vista do Complexo.....................................................................59 Figura 42: Vão livre..................................................................................59 Figura 43: Fachada do residencial...............................................................60 Figura 44: Diagrama de implantação...........................................................61 Figura 45: Planta baixa.................................................................................61
Figura 46: Fase de construção...........................................................................61
Figura 47: Estacionamento do Residencial....................................................................62 F i g u r a 4 8 : m o s a i c o d e f o t o s d a á r e a d e p l ay g r o u n d , q u a d r a e bicicletário ......................................................................................................................62
Figura 49: Pátio Central do Prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU).......................................................................................................................64 Figura 50: Fachada do Edifício.............................................................................66 Figura 51: Painel de Francisco Rebolo...............................................................66 Figura 52: Passarelas e Jardim...........................................................................66 Figura 53: Campos Visuais....................................................................................67 Figura 54: Malha Estrutural..............................................................................67 Figura 55: Desníveis de 0,80m na fachada..........................................................67 Figura 56: Abertura em guilhotina.....................................................................67 Figura 57: Setorização.........................................................................................67 Figura 58: Fachada do Edifício.............................................................................68 Figura 59: Praça elevada.....................................................................................68 Figura 60: Escadas de acesso..............................................................................68 Figura 61: Diagramas parte-todo.......................................................................69 Figura 62: Campos Visuais....................................................................................69 Figura 63: Setorização........................................................................................69 Figura 64: Fachadas do edifício......................................................................70 Figura 65: Malha estrutural e campos visuais............................................71 Figura 66: Setorização....................................................................................71 Figura 67: Fechamento em ferro galvanizado..............................................71 Figura 68: Brises..............................................................................................71 Figura 69: Varandas.........................................................................................71 Figura 70: Vista do Hospital Sarah.................................................................72 Figura 71: Escolinha........................................................................................72 Figura 72: Pátio e painéis de Athos Bulcão.....................................................72 Figura 73: Setorização....................................................................................73 Figura 74: Concepção estrutural..................................................................73 Figura 75: Cortes esquemáticos.....................................................................73 figura 76: arquiteto paulo mendes da rocha................................................74 Figura 77: diagrama de volumetria...............................................................77
figura 78: diagrama estrutural....................................................................78 figura 79:pátio central: familistério de godin..........................................82 figura 80: corte e planta do familistério de godin.....................................82 figura 81: diagrama de setorização.........................................................83 Figura 82: renderização................................................................................86 figura 83: renderização................................................................................86 figura 84:renderização................................................................... 87 figura 85:renderização................................................................... 87 figura 86:renderização................................................................... 88 figura 87:renderização................................................................... 88 figura 88:renderização................................................................... 89 figura 89:renderização................................................................... 89 figura 90:renderização................................................................... 90 figura 91:renderização................................................................... 91 figura 92: ocupação do largo paissandu antes do incêndio.......................92 . .
GRÁFICOS
Gráfico 1: Participação da Sub. Sé no total de apartamentos lançados no Município de São Paulo...............................................................................28 Gráfico 2: Área útil dos apartamentos lançados - Município de SP e Sub. Sé, 2007 - 2017.................................................................................................28 Gráfico 3: Número de vagas por unidade - MSP e Sub. Sé, 2007 2017...................................................................................................................28
TABELAS Tabela 1: Comparativo entre os selos BREEAM, LEED e AQUA.........................31 Tabela 2: Índices Urbanísticos.......................................................................44 tabela3: áreas construídas............................................................83
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O
RESUMO
tema objeto deste trabalho está relacionado a Habitação, e as problemáticas que as envolvem no cenário atual da cidade de São Paulo. Conhecida como a maior metrópole do país e que passa por problemas sérios de habitação, imóveis não utilizados, subutilizados e encortiçados, deixando de exercer sua função social fundamental num território vasto de empregos e oportunidades econômicas, culturais e sociais. Sua contribuição para entender o fator de relevância urbano que possui a habitação é tema fundamental no projeto a ser abordado. Serão abordados ainda, a problemática da habitação paulistana, seus desdobramentos na década de 1970 onde a cidade de são Paulo Passa por sérias questões de evasão e degradação e o caso da Cidade Tiradentes, um dos maiores modelos habitacionais da América Latina e o Programa Minha casa minha vida, que trouxe ao país milhões de unidades habitacionais e que também revelou um novo panorama aos que iriam investir no mercado imobiliário pois os valores de terra foram fortemente afetados pela iniciativa governamental. Ainda discutidos aspectos relevantes em relação a sustentabilidade na construção, mobilidade na cidade de São Paulo unidas à habitação, sua caracterização na Zona Central da cidade e potencialidades físico-espaciais e de zoneamento urbano e também o exemplo a seguir do modelo de cidade inteligente, que possui aspectos de tratamento e planejamento eficiente aliados ao uso da tecnologia na eficiência energética, por exemplo. Aliados a isto, a humanização na arquitetura, que se comporta de forma a pensar no indivíduo e suas relações com a edificação e a sociedade que o envolve.
*Dados do Infopédia e Dicionário Etimológico.
o HABITATO
nome conceito adotado provém da união de outras duas palavras que trazem sentido ao caso em estudo, habitação e tato. A referência às as duas etimologias* se faz pelo anseio à constituir uma habitação que preencha os quesitos de satisfação individual de uma parcela da população que é vista, nos programas de molde atual, como marginalizada e à ela destinada objetos finais construídos sem parâmetros de preocupação formal e desprovidos da sensação do contato, fator considerado como primordial na concepção deste trabalho. Etimologia latina: ‘’habitatĭo,ōnis’’ ação de habitar; morada. Etimologia latina: ‘’tāctus,us’' toque, tato, ação de tocar', do verbo latim tangĕre 'tocar (sentido físico e moral, transitivo e absoluto).
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Tem que bater, tem que matar Engrossa a gritaria Filha do medo, a raiva é mãe da covardia Ou doido sou eu que escuto vozes Não há gente tão insana Nem caravana do Arará As Caravanas de Chico Buarque
Figura 1: Calçadão em São Paulo. Autor desconhecido.
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
1.1 INTRODUÇÃO
A
palavra “habitação” deriva dos termos do latim “habitatio” e” onis” que significam ação de habitar; morada. Ou seja, o local onde o ser humano, desde os primórdios decide deixar de ser nômade e escolhe para fincar sua sobrevivência e ali produzir os atributos necessários a vida em coletivo, não somente essa é a função da habitação, a diferenciação clara de classes econômicas que ela exibe e posiciona a sociedade também é um fator claro de sua existência. A questão social, ou seja, a Habitação Social se refere ao fato da produção de elementos de moradia partindo de iniciativa do Estado. Tal fato se deve a implementação de projetos para aquela parcela da sociedade de baixa renda que não possui meios financeiros de ser detentora de imóveis, geralmente cidadãos que possuem até 3 salários mínimos. Além de se posicionar para equalizar tal questão, deve-se, também, atentar a situações de risco e preservação ambiental. Sendo assim, o Estado entra como intermédio de produzir imóveis, podendo a sua construção ser assumida por empresas, e disponibilizar por meio de financiamentos, por exemplo, a população que carece de moradia, garantindo dignidade e melhoria na qualidade de vida já que nos moldes atuais existe um funcionamento deficiente do mercado com as camadas financeiramente baixas da população. O panorama do Brasil mudou há pouco mais de 60 anos, em 1950 quando de país rural se transporta à país urbano, onde sua população passa a ser de 81% habitando cidades, estimando pelos dados do IBGE
(Censo IBGE, 2000) em 170 milhões de pessoas. Alguns fatores globais contribuíram para que tal efeito viesse a tornar realidade tais como a diminuição da taxa de mortalidade nos países desenvolvidos e a manutenção da taxa de natalidade, também conhecida como Revolução Demográfica. Em 1850, é instituída a lei de terras, fator fundamental para se entender a problemática habitacional e também o processo de urbanização brasileiro, que perduraria até os dias atuais, os desdobramentos giram em torno da elite colonial também se tornar detentora de bens fundiários, a privação do trabalhador de vender seus frutos, tendo então que vender sua força de trabalho, a criação de cartórios (onde se executavam diversas fraudes, a exemplo da “grilagem” e a terra passando a ter valor imobiliário, onde antes o que tinha valor era a posse de escravos. Em uma escala maior, entender o urbanismo também é de grande interesse para avaliar o futuro da cidade em escalas locais. O planejamento urbano no país acontece no final do século XIX, quando o Brasil se encontra num momento de grandes vontades de se adentrar numa era “higienista”, onde a preocupação com a saúde da cidade se faz por conta da nova classe dominante (exigindo mudanças e transformações de embelezamento) e o claro rompimento com o passado colonial e a adesão ao “moderno”. Para entender o processo, Deak (1999, apud VILLAÇA, 2004) o classifica em três períodos: o Primeiro compreendido de 1875 até 1930, o Segundo de 1930 até por volta de 1992 e o Terceiro de 1992 até o final do Século XX. Após os três períodos, pode-se dizer que
CAPÍTULO
1
um novo momento é marcado pela criação do Estatuto da Cidade e suas diretrizes urbanísticas que introduzem a visão da função social da cidade.
que move o capital. Tal momento ainda pode ser divido em três sub-períodos, conforme classifica Villaça (2004):
O primeiro período, compreendido da segunda metade do século XIX, por volta de 1875 à 1930 é marcado, majoritariamente pelas práticas urbanas de “higienismo” e embelezamento onde são citados pela primeira vez pela “Comissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro” termos como “plano” e o de” conjunto geral ou global”, associados ao “espaço urbano” (VILLAÇA, 1999). Tais propostas também estão em auge nos novos planos da época como o plano de Barcelona por Cerdà e o de Paris por Haussmann.
1º Sub-período: O urbanismo e o Plano Diretor (19301965), pautados pelos ideais iluministas das novas formas de se conceber o espaço. Onde o Plano Agache entra em prática no Rio de Janeiro passando a substituir o plano de embelezamento e é onde surge pela primeira vez o termo “plano diretor”.
As proposições mostram como a nova classe dominante desejava exibir a nova cara que pretendia às cidades, é neste momento em que surgem as grandes ave n i da s e b ul eva re s . I n c re m ento s q u e n ã o caracterizavam os interesses podiam facilmente sair de cena em tal período, a exemplo do Rio de Janeiro, onde Pereira Passos dissemina reformas e a população de baixa renda é removida do centro e obrigada a ocupar os morros, onde ocorre os processos de favelização pautados pela ganancia e descaso público, já que os terrenos passam a ser supervalorizados. O segundo período, datado de 1930 a 1992 é marcado pela organiza ção e fundamental aumento da consciência de classes operárias, o que culmina na Revolução de 30, posteriormente. Onde acontece um “enfraquecimento” das classes dominantes e a busca pela cidade cresce conforme as metrópoles, a exemplo de São Paulo, deixam de transpassar o “ideal belo” para agora, serem o modelo de cidade eficiente e produtiva
2º Sub-período: Planejamento Integrado e os S u pe r pla n o s (1 9 65-1 97 1 ), ma rc a d os p el a complexidade e o distanciamento da esfera pública, extremamente grandes e fora dos interesses dos governantes e classes dominantes, ou seja, fora da realidade de execução em esfera pública. Alguns exemplos são o Plano Doxialis (1965) para o Rio de Janeiro e o PUB-SP (1969) para a cidade de São Paulo. 3º Sub-período: Os Planos sem Mapa (1971-1992): Ao contrário dos Superplanos, os Planos sem Mapa são marcados pela superficialidade de informações, feitos por técnicos municipais que desprezavam os diagnósticos técnicos e utilização de mapas. O terceiro período, compreendido de 1992 a 2001 é onde se tenta extrapolar planos tecnocráticos para os planos políticos, colocar em discussão e em prática os verdadeiros anseios que a cidade possui. O que viria a acontecer em 2001, na criação do Estatuto da Cidade, ferramenta que embora desenvolva o direito à moradia por lei, as cidades, responsáveis pela fiscalização e implementação não fazem tais proposições saírem do papel.
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
O processo de urbanização Paulistana é destacado, também, pelo período de 1980 a 2000, conhecido como período das “décadas perdidas”, no contexto brasileiro é marcado pelo fim do ciclo militar e redemocratização do Brasil e ainda esgotamento do modelo desenvolvimentista e do intervencionismo estatal. Alguns fatores negativos ilustram a época em São Paulo e ajudam a entender o problema da falta de eficácia da máquina pública, tais como: redução do emprego formal de 64% para 58% e trabalho informal sobre de 5% para 20% (MARICATO, 1996), aumento da população pobre nas regiões metropolitanas, aumento da concentração de renda pelas classes altas, do desemprego, do trabalho informal, da cidade informal e da violência urbana.
1.2 OBJETIVOS GERAIS
E
laboração de um projeto de edifício vertical destinado à Habitação de Interesse Social e que una em seu programa a tríade Habitação, Mobilidade e Sustentabilidade, trazendo aos usuários a experiência de viver no centro, com todos seus atributos de infraestrutura, cultura, comercio e economia onde se faça parte da identidade e pertencimento do prédio o próprio público. Localizado no centro de São Paulo, no distrito da República.
1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
·Oferecer um edifício habitacional com foco no desempenho ambiental; · Atender à mobilidade do usuário com um sistema de bikes; · Contribuir para o acesso da população de baixa renda ao uso e inclusão num cenário de edifício bem localizado e sustentável; · Relação Harmônica do edifício com o meio inserido.
CAPÍTULO
1
O domínio está em mão de poderosos, mentirosos. Que não querem saber. Porcos, nos querem todos mortos. Pessoas trabalham o mês inteiro. Se cansam, se esgotam, por pouco dinheiro. Enquanto tantos outros nada trabalham. Só atrapalham e ainda falam. Que as coisas melhoraram. Ao invés de fazerem algo necessário. Ao contrário, iludem, enganam otários. Prometem 100%, prometem mentindo, fingindo, traindo. E na verdade, de nós estão rindo. trecho da música tempos difíceis de Racionais MC’s
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Agora já não é normal o que dá de malandro regular, profissional Malandro com aparato de malandro oficial Malandro candidato a malandro federal Malandro com retrato na coluna social Malandro com contrato, com gravata e capital Que nunca se dá mal Homenagem ao Malandro de Chico Buarque
Figura 2: Fotografia do Centro de São Paulo. Autor: Adriano Queiroz Dias.
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
2.1 JUSTIFICATIVA
A
tualmente, segundo dados da Fundação João Pinheiro (2019) e Plano Municipal de habitação, o déficit habitacional da cidade de São Paulo circula por volta de 474 mil domicílios. Diversos são os fatores que levam as famílias a se mudaram para capital paulistana, entretanto continuar em São Paulo se torna um verdadeiro desafio. O poder público, detentor das estatísticas e dos instrumentos urbanos legais existentes para sanar, remediar ou retratar tais fatores age com devagar progresso nos planos habitacionais, e programas de incentivo público. O privado se sobrepõe e programas como o “Minha Casa, Minha Vida” ainda não foram capazes de pulverizar as mazelas da habitação de baixa qualidade que se torna um problema crônico, marginalizando boa parte da população à bairros longínquos, sem qualquer tipo de infraestrutura e suporte à cultura, lazer, saneamento e a economia que o centro oferece. O foco desta pesquisa está muito além da Habitação Social, os moradores das áreas centrais que não dispõem de recursos financeiros não possuem a identidade de pertencimento com a área, visto que no Brasil, o processo das formas de moradias oferecidas vai em desencontro com a realidade vivida. A carência, na área Central de São Paulo, de moradias sociais, é de fato um problema duradouro e que se expõe às diversas formas de ocupação a edifícios tombados subutilizados (figura 3), não utilizados ou em desuso e em diversos casos de imóveis encortiçados nas áreas que, em teoria, estão plenas a cumprir sua função social.
Em virtude disso são claras as adversidades provocadas pela retirada da população das áreas centrais reconduzindo-as em locais distantes e desprovidos de infraestrutura básica, lazer, transp orte, mo bi l idad e, acesso à cu l tura e patrimônios históricos. Vão se formando assim, as diversas franjas urbanas que se caracterizam por aumentar o preço da terra conforme sua expansão, dificultando assim, o acesso aos mais carentes a imóveis que detém boa infraestrutura e condições mínimas de habitação de qualidade. Simultaneamente, ocorrem ainda o surgimento de favelas em regiões metropolitanas, pelo fácil acesso a mobilidade de determinadas áreas, que ainda que se encontrem sem infraestrutura básica oferecem uma melhor localização. Uma cidade como São Paulo, metrópole que atrai populações diversas de todos os Estados do País em busca de uma vida mais digna e oportunidades de em prego deveri a se r, no m í ni m o, u m p ol o habitacional de qualidade, pois concentra o maior Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Entretanto, é onde estão escassas áreas disponíveis para construção e suas franjas urbanas longes de serem ideais para habitação. Para Grostein (2001), a cidade possui caráter de dualidade e se expõe de forma a segregar duas categorias primordiais, a cidade formal, aquela que possui as características de desenvolvimento e ações públicas pertinentes de uma cidade com o status quo de São Paulo, avançada, detentora dos mecanismos físico-espaciais e econômicos que a façam dela um polo no país de investimentos urbanos; e também, a
CAPÍTULO
cidade informal, aquela que se apresenta no âmbito social de exclusão, onde não há parâmetros técnicos na sua construção e expansão e onde habitam aqueles que não possuem condições socioeconômicas de estar na cidade formal, assim sendo, o Estado adquire, ou melhor, não exerce, seu papel de controlar de forma adequada e igualitária o uso e ocupação do solo, mesmo sendo, este, o provedor e fiscalizador do meio urbano. Pode-se dizer, ainda, no que tange os processos evolutivos que buscaram reavaliar e reestruturar a cidade informal, Grostein (2005) destaca as evoluções de gestão e políticas públicas como ações sem grandes alcances, planos ou projetos urbanos que não obtiveram investimentos do poder público ou privado. A existência de ações que modernizaram a cidade versus a falta de iniciativas públicas reforça o panorama de como a cidade iria se constituir com seus diversos problemas habitaci onais ocorrendo de forma concomitante a existência de cortiços, favelas, autoconstruções e loteamentos de habitação social nas franjas urbanas.
2 Figura 3: Prédio Wilton Paes de Almeida. Desabou após incêndio no Centro de São Paulo, Na época, ocupado por movimentos populares | Fotografia por Reprodução Google Street View. Figura 4: Autoconstrução no Jaraguá. A beira da Marginal Pinheiros em São Paulo | Fotografia por Alexandre Battibugli.
Sendo assim, o tema em destaque é fruto da consciência da necessidade de se produzir habitação de interesse social na cidade em que mais se caracteriza deficitária (Fundação João Pinheiro, 2019) quanto a habitação que oferece e seus desdobramentos negativos ao longo dos anos. O público alvo são as pessoas que estão inseridas nas camadas baixas economicamente, ou seja, parcela da população que ganha de zero a três salários mínimos e residentes de ocupações e prédios em estados de calamidade da capital paulista.
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C O N T E X T U A L I Z A Ç Ã O D A C R I S E D E H A B I TA Ç Ã O
LEI DO INQUILINATO eSTABILIZAÇÃO DOS VALORES LOCATIVOS (1942)
ESCASSEZ DE IMÓVEIS
CRISE DE HABITAÇÃO DESPEJO FOI O GRANDE PROBLEMA DOS BAIRROS OPERÁRIOS DAS PRIN CI PAIS CIDADES BRASILEIRAS
PROCESSO DE EXPULSÃO DAS POPULAÇÕES DAS MORADIAS DE ALUGUEL
FAVELA E CASA PRÓPRIA AUTOCONSTRUÍDA OU AUTO-EMPREENDIA EM LOTEAMENTOS PERIFÉRICOS CARENTES DE INFRAESTRUTURA URBANA
CAPÍTULO
2.2 PROBLEMÁTICA DA HABITAÇÃO PAULISTANA
A
expansão urbana que ocorreu entre 1940 e 1980 em São Paulo viria a trazer a cidade diversos tipos de condicionantes negativos e que podem ser observados problemas até os dias atuais. Algumas das características desta expansão estariam ligadas a ocupação de forma dispersa no território, clara separação de classes e hegemonia da casa própria nas demandas de moradia. Cenário onde, também, ocorre em 1942 a Lei do Inquilinato que levaria os proprietários a tomar medidas que afetaram boa parte da população. A Lei do Inquilinato (1942), surge num momento onde se era grande o número de imóveis em questão alugados, e congela os preços fazendo com que o mercado do inquilinato se desestabilizasse, pois, para os proprietários já não era a saída mais vantajosa e assim afeta simultaneamente o mercado que produzia tais imóveis para aluguel. É nesta época então, de falta de alternativas habitacionais, que também surgem as diversas favelas em São Paulo. Para Maricato (1982), as condições são desfavoráveis ao proletariado a ponto de o forçar a partir para a autoconstrução (figura 4), pois não é concedido nem pelo Estado formas justas e igualitárias de se conceber suas necessidades de habitação por políticas públicas e muito menos pelo mercado imobiliário privado que estava longe de prover imóveis ao alcance salarial disponível. Nos anos que sucedem o Regime de Ditadura Militar no país, o Banco Nacional de Habitação – BNH, extinto em
2
1986, financia 4,8 milhões de habitações, entretanto, não passam de 20% as oferecidas a interesse social, ou seja, o contingente das camadas pobres da população sempre é deixado de lado e visto de forma simplória pelo Estado e suas ações. (CHAFFUN,1997). As preocupações e anseios imobiliários a serem atendidos sempre foram de encontro com as elites econômicas do momento como ocorre na época e é neste período onde sucedem as intensificações das favelas e da baixa qualidade habitacional, explicita nos claros meios de iniciativa do Estado carentes de ação efetiva com a população que realmente necessitava ser atendida.
2.3 IAP'S E A IMPLANTAÇÃO HABITACIONAL MODERNA
A
habitação passa a ter destaque para os arquitetos no Brasil quando emerge a Arquitetura Moderna, o fato de Lucio Costa assumir o curso de Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro é importante para avaliar que sua gestão apontaria os problemas da habitação popular no país. Os arquitetos do período moderno seriam os responsáveis pelos projetos e obras que viriam acontecer no período. O empreendimento só foi possível pela implantação, no governo de Vargas, em 1930, dos IAP's (Institutos de Aposentadorias e Pensões) por reforma geral no sistema previdenciário. Tais autarquias afiliavam servidores por categorias profissionais (Industriários, Comerciários, Bancários, dentre outros). Em 1964, o órgão seria dissolvido para o INPS (Instituto Nacional de Previdência Social).
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A característica dos institutos foi sua atuação com grandiosidade e diversidade nos projetos. Seus arquitetos pensavam, não somente em construir em grande quantidade, mas também, em extrema qualidade técnico-arquitetônica e empreendimentos que fossem econômicos. A relevância era tanta, que só o IAPI (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários), em 1940, elaborou projeto para 36 conjuntos habitacionais, com escala alta para época em destaque (BONDUKI, 2011). A exemplo, a implantação do Projeto do Conjunto Pedregulho, por Afonso Reidy, tinha como parâmetros a suprir as necessidades da comunidade em questões de e du c a ç ã o , e s po r tes , s a ú d e , l a ze r e a i n d a o abastecimento de alimentos, contando com um mercado. É visto um processo de formação de homem moderno e a relação do homem moderno com a vizinhança. Ideais estes, preconizados no período da década de 50, onde o país buscava sua afirmação de caráter industrial. Observando o texto a seguir, é possível observar o estilo de vida que os idealizadores desta proposta pretendiam com o projeto: Escola Primária: Não há dúvida que a escola é u m d o s f a t o re s m a i s i m p o r t a n t e s d a comunidade. É um centro de influência, e age na formação do caráter e personalidade da futura geração. Na escola primária, a criança aprende a viver e comportar-se enquanto que a influência da escola, por meio da criança, penetra o lar, trazendo aos pais novas noções e con h e c i m en tos a ci m a d e s u a próp ri a educação. (...) A transformação nos métodos de ensino trouxe consigo profundas mudanças no planejamento de edifícios escolares. A sala de aulas é o elemento básico num plano moderno de escola. Diverge do tipo tradicional em vista
de constituir uma unidade individual, que permite uma relação mais íntima entre p ro fe s so re s e a l u n o s , e u m a m a i or flexibilidade no arranjo dos móveis, e um contato maior com o exterior, utilizando-se de espaço ao ar livre com o qual está imediatamente ligado contra esta idéia por parte dos habitantes (que não queriam mandar a roupa para a lavanderia, muitos com vergonha do mau estado das roupas) a instituição da lavanderia para a comunidade em Pedregulho é um sucesso absoluto. A lavanderia tem um lugar para o recebimento das ro upas, marcação, desinfecçã o, lavagem, secagem, passagem a ferro, armazenagem e despacho das roupas. Todo o trabalho é mecanizado e desenvolvimento por pessoal especializado. (Revista Habitat, abril de 1956, nº29: 54, 55)
Figura 5: Edifício Anchieta. Produzido por IAPI, 1941. | Fotografia por Pedro Kok.
CAPÍTULO
2.4 PERIFERIZAÇÃO DAS HABITAÇÕES
A
parcela da sociedade que carece de habitações é limitada a ocupar e habitar por meio invasões de terras ou adquirir lotes clandestinos em áreas completamente desfavoráveis ao loteamento por se localizarem sobretudo em locais onde o impacto ambiental é fatídico. A exemplo, os assentamentos irregulares como o da região do Parque Cocaia às margens da represa Billings, ou seja, um processo de urbanização que descaracteriza rios meandricos e deixa a população à mercê dos impactos futuros que a natureza irá devolver.
em modo similar.
2 Figura 6: Conjunto Habitacional em Cidade Tiradentes | Fotografia por André Bueno. Figura 7: Casas do Programa Minha Casa Minha Vida. Implantação em Uberaba/MG | Fotografia por André Santos.
Outro exemplo de descaracterização ambiental é a implantação da Cidade Tiradentes (figura 6), conhecida como o maior complexo de conjuntos habitacionais da América Latina, possuindo cerca de 40 mil unidades habitacionais, segundo dados da Prefeitura Municipal de São Paulo (2019) e constituída nos anos 80, pela COHAB (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo), CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) e um dos últimos empreendimentos concedidos pelo BNH (Banco Nacional da Habitação). A operação que visava transpor a população a sonhada casa própria na Fazenda Santa Etelvina trouxe além disso, a expansão da franja urbana num local a 35km de distância da capital, sem infraestrutura e que custou ao país um manejo de aterro equiparável a construções de hidrelétricas. A cidade informal crescia nos moldes longínquos de habitação assim como, posteriormente, o modelo Minha Casa Minha Vida (figura 7) iria reproduzir
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2.5 PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA
O
Programa Minha Casa Minha vida (PMCMV) surge em 2009 num cenário de crise da Bolsa de Valores americana agindo substancialmente mais em formato político-econômico do que em estratégia de política urbana. A proposta tem envolvimento do Estado em parceria com os municípios, empresas e entidades sem fins lucrativos e propôs construir 2 milhões de casas em sua segunda versão em 2014. Apesar de ser um facilitador no meio urbano habitacional o programa trouxe à tona diversas controversas e impactos ao país. É composto por duas modalidades, a primeira conhecida como Habitação de Interesse Social, voltada a população da faixa de até 3 salários mínimos e a segunda, a de Segmento Econômico, para população de até 10 salários mínimos. A habitação de Interesse Social possui alguns condicionantes interessantes a se saber como, por exemplo, isenção do seguro, valor da unidade de acordo com região onde se encontra o empreendimento (regiões metropolitanas possuem maiores subsídios), demandas cadastradas por prefeituras governos estaduais, e a máquina pública fica a cargo das contrapartidas financeiras, incentivos fiscais e agilidade com projetos nas prefeituras, doação dos terrenos, promoção da infraestrutura, licenças e alvarás dentre outros. Embora o Programa Minha Casa Minha Vida tenha dado a chance de muitas pessoas que antes não possuíam a casa própria e tanto almejavam conseguir realizar tal feito, também trouxe um panorama desagradável a
quem ainda viria por adentrar no mercado imobiliário. Alguns dos problemas da proposta estão em torno do enfoque quantitativo e não qualitativo dos imóveis, repetição, sem linguagem arquitetônica, e também problemas antes vistos nas COHAB's, como a distância considerável dos empreendimentos que alocam para a franja urbana a população, longe da infraestrutura necessária dos centros urbanos. Esses fatores reunidos, também nos levam a recorrente especulação imobiliária, que produzindo imóveis afastados solidifica e aumenta o valor das terras e imóveis bem localizados, afastando a população ainda mais de conseguir o acesso à terra. Ora pela especulação, ou pela falta de ação por meio do Estado por políticas urbanas de habitação, é cada vez mais difícil sanar os problemas de habitação. Nesse cenário, a produção do Minha Casa Minha Vida tem beneficiado em maior expressividade os proprietários fundiários que são favorecidos pois a prerrogativa cobre o aumento especulativo da terra.
2.6 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA CENTRAL E POTENCIALIDADES
A
área de escolha para edificação deste projeto de habitação social é a área da Zona central da cidad e, ou centro de Sã o P aul o é compreendida pelos distritos Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, República, Sé e Santa Cecília são administrados pela Subprefeitura da Sé. Local onde também é compreendida a Operação Urbana Centro, administrada pela Secretaria de Urbanismo e
CAPÍTULO
2
com aprovação pela Lei 12.349/97 (1997) possuindo alguns terrenos caracterizados conforme uso e ocupação do solo como ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) e outros subutilizados que deixam de cumprir sua função social.
parte do Governo (Municipal e Estadual) visando a melhoria na economia, turismo, e cultura da região. São exemplos as restaurações em edifícios como: Pinacoteca, Teatro Municipal, Estação da Luz e Júlio Prestes, Sala São Paulo, dentre outros.
A fatia compreendida, de fato, pelo que é o centro físico, são apenas dois distritos (que compreendem também a Operação Urbana Centro) a Sé e República que segundo dados da Prefeitura de São Paulo e Infocidade (2019) possuem apenas 80,7 mil habitantes contra os 14,71 milhões de pessoas que vivem em toda cidade, ou seja, os dois bairros representam apenas 0,05% da população paulistana. Outra característica fundamental, é que segundo dados do IBGE (2010) a população total da Subprefeitura da Sé é 431 mil habitantes, a menos populosa da cidade e a que mais oferece empregos e equipamentos públicos.
Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, em 2017, 18% dos lançamentos imobiliários da cidade ocorreram no Centro, contra, apenas 3% em 2009. Para avaliar tal fator de valorização da área da Sé (gráfico 1), deve-se levar em conta os interesses majoritários de uma elite socioeconômica que vem ganhando palco na atualidade.
Por muitos anos, mais precisamente até a metade do século XX a localidade foi o principal reduto de importância financeira de São Paulo, entretanto, a partir de 1970, por falhas em gestões e mudança para novos locais de centro financeiro a área se converge a uma degradação causando um esvaziamento e assim as empresas se mudam a outras localidades da cidade. Tais mudanças também levam a elite que habitava no local a procurar novos espaços de moradia e assim a realidade se converte em uma infeliz degradação aliada a fatores como alto índice de usuários de drogas, imóveis abandonados, violência, economia informal, vandalismo e depredações ao patrimônio histórico. Surgem, entretanto, um ideal nas décadas seguintes, a partir de 1990, de revitalização desse centro velho por
A região central, hoje, é espaço de grande valor e têm mostrado um panorama de retorno desta população ao território, pois, já não é vantajoso morar em distritos como Barueri (no bairro Alphaville) levando quase 3 horas de trânsito às regiões centrais da Capital. Algumas características importantes dos novos empreendimentos são, a área útil, que era maior há dez anos. Entre 2007 e 2013 era de 61,33 m² em média e, a partir de então, a área foi ficando mais reduzida. Entre 2014 e 2017, período de maior incremento de lançamentos na Sub Sé, a área útil média da unidade passou a ser de 41 m², conforme dados da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamentos (SMUL, 2018) e gráfico 2. E ainda, as vagas de estacionamento, também tendem a cair na região, pelo fácil acesso ao metro e o incentivo, ainda que baixo, a meios alternativos de transporte (gráfico 3). Outro fator importante é a Operação Urbana Centro, caracterizada uma operação consorciada que possui diretrizes de parcerias público-privadas com o
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objetivo de melhorias em grande escala. Alguns exemplos dos objetivos desta operação em específico giram em torno de atrair investimentos imobiliários, turísticos e culturais e reverter o processo de deterioração do Centro por meio de atratividade no incentivo a localização de órgãos da administração pública; Mobilidade na melhoria de acessibilidade à área central; Áreas verdes e drenagem em sua articulação no espaço público; Patrimônio Histórico e incentivo a vitalidade cultural; Uso e ocupação do solo inclusive no Incentivo à construção de habitações e de garagens e no ambiente urbano garantindo a melhoria aos seus atuais e futuros moradores. O benefício da medida veio após o Plano Diretor Estratégico de 2014, implementado pelo prefeito Fernando Haddad.
%
GRÁFICO 2 - ÁREA ÚTIL DOS APARTAMENTOS LANÇADOS MÚNICIPIO DE SP E SUB. SÉ, 2007 - 2017
msp área útil/unid.
m²
100
Gráfico 2: Área útil dos apartamentos lançados Município de SP e Sub. Sé, 2007 - 2017.
80 60 40
Gráfico 3: Número de vagas por unidade - MSP e Sub. Sé, 2007 - 2017.
20 0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
GRÁFICO 1 - PARTICIPAÇÃO DA SUB SÉ NO TOTAL DE APARTAMENTOS LANÇADOS, MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
GRÁFICO 3 - NÚMERO DE VAGAS POR UNIDADE MSP E SUB SÉ, 2007 - 2017 VAGAS/UNID
20
2,0
18 16 14
sub. sé área útil/unid.
120
msp
sub. sé
1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6
12 10 8 6 4 2 0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Gráfico 1: Participação da Sub. Sé no total de apartamentos lançados no Município de São Paulo.
0,4 0,2 0 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte dos gráficos: EM BR AES P, S MU L e GEOInfo. Adaptação por autoria própria.
CAPÍTULO
2.7 VANTAGENS DO ADENSAMENTO URBANO
S
abe-se que, segundo dados do Departamento das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais (UN DESA, 2011), nos países mais desenvolvidos a população urbana chega 75% de seu total, com taxa de crescimento de 0,7% de 2005 a 2010 e nos países menos desenvolvidos 29% com taxa de crescimento de 4,0% de 2005 a 2010, tais projeções mostram que o crescimento urbano só tende a aumentar. Nesse cenário, é imprescindível a percepção das vantagens geradas pela aglomeração urbana, visto que para entender esse fator, deve-se atentar para o que se conhece como “economia de escala”, conceito que diz respeito a que: mais volumes geram a redução de custos. Ou seja, numa cidade, incrementar um alto número de pessoas, mercadorias, ideias, produtores se torna muito mais lucrativo a todos e as aglomerações mais densas suavizam a demanda prevenindo desperdício. Tais aglomerações também geram economias com os custos de transporte, pois, além de locar os materiais de consumo em uma determinada área, diminuem viagens a outras regiões. E não somente se diz respeito ao processo de transporte do produto final, mas, também da matéria prima e insumos intermediários. Além disso, outro fator positivo são as externalidades, que advindas da aç ão de u m te rcei ro g era m b en ef í ci os inadvertidamente, ou seja, as aglomerações geográficas de industrias, empresas e serviços geram troca de conhecimento e tecnologias, sendo as grandes cidades
2
polos geradores de criatividade e aprendizado. (BODE; GONÇALVES 2015).
Assim como os benefícios citados anteriormente, Bode e Gonçalves (2015), também destacam que aglomerar em cidades desenvolvidas pode gerar a facilidade em propiciar bens públicos a custos mais baixos em decorrência de sua base que incide o custo do bem público (corpo de bombeiros, avenidas, escolas). E ainda há vantagens como a minimização do impacto da ação humana sobre o meio ambiente causada pelo adensamento, pois, o percentual de espaço físico o qual o homem atua se torna limitado.
2.8 SUSTENTABILIDADE E MOBILIDADE
P
odemos chamar de tripé fundamental para a cidade, o fator constituído por habitação, sustentabilidade e mobilidade. A habitação, que traz a problemática atual do déficit habitacional junto ao caótico panorama de trânsito de São Paulo que tem viés de intervir e locomover pessoas a regiões cada vez mais distantes se mostra ineficaz nos moldes atuais. Entender a integração de tais meios é uma forma de evitar que o problema seja repetido e propagado posteriormente. A mobilidade urbana se tornou, de fato, um problema crônico aos paulistanos, ela depende da melhoria dos serviços de transporte públicos oferecidos, mas, também, de uma prática de disseminação de informação a respeito do uso e impacto dos
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automóveis nas ruas. Alguns dos problemas estão associados ao fenômeno do trânsito caótico e congestionamentos, acidentes, e a poluição causada pela emissão de gases poluentes, como por exemplo o monóxido de carbono, sendo cada vez maior, visto que a frota de carros sobe cada vez mais e não são implantadas políticas urbanas que desfavoreçam tal modal. Em uma cidade com dimensões de São Paulo pode se parecer duvidosa, mas a mobilidade ativa – não motorizada, como, por exemplo, transporte a pé e por bicicletas (figura 8), é de benefício ímpar. Como destacam Natalini e Morgado (2017), os benefícios a quem delas utiliza são a redução na incidência de doenças c ardía ca s isquêmi ca s, problemas cerebrovasculares, depressão, demência e diabetes, além da também baixa na emissão de poluentes de micropartículas. Sendo assim, viver no centro de uma metrópole é ter a chance de percorrer os ambientes e desfrutar da infraestrutura oferecida, não descartando, é claro, a melhoria nas vias e passeios públicos adaptados aos pedestres e as ciclovias oferecidas. A sustentabilidade nos edifícios é cada vez mais citada e explorada, reconhecer sua importância e respeito ao meio ambiente é um valor fundamental ao processo de planejamento de um empreendimento, do começo ao fim. Métodos que melhorem a qualidade de vida da p o p u l a ç ã o s ã o d e e x t re m a i m p o r t â n c i a n a carac terização de um edi fí cio comprom etido ambientalmente. São inúmeras as formas de se tocar nos métodos de sustentabilidade garantindo harmonia e bem estar
local, algumas delas conhecidas, como o uso de materiais que respeite a disponibilidade local e regional; ventilação natural; Uso de árvores decíduas para sombreamento e uso intensivo de vegetação; Pavimentação permeável; Reutilização de resíduos inertes na construção (pneus, entulho, pedras); Digestores de biomassa para produção de biogás e fertilizantes; Reutilização de água da chuva para de descarga de vasos e irrigação de jardins e hortas; Paisagismo permacultural do entorno; desempenho lumínico eficiente e ainda proposta de “traffic calming” no traçado dos passeios. (SATTLER, 2007). Atu almente, a medi ção d os parâmetros de sustentabilidade na arquitetura mundial pode ser observada pelos cuidadosos métodos de verificação obtidos através dos grandes Selos de Certificação Ambiental de edifícios, que garantem sua eficiência a médio e longo prazo, já que os empreendimentos destacados pelo certificado devem contar com uma manutenção contínua para que possam continuar munidos de tal atributo. Os sistemas de mais uso no Brasil, além dos próprios nacionais PBE Edifica e Selo Casa Azul, os do exterior são: LEED (Leadership in Energy and Environmental Design); Aqua (Alta Qualidade Ambiental e BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method). A seguir, um quadro comparativo dos 3 selos em destaque com interessantes métodos para edifícios com caráter ambiental a serem adotados.
CAPÍTULO
2 Figura 8: Ciclovia da Av. Duque de Caxias. Inauguração durante a gestão de Fernando Haddad, próxima da área em destaque do projeto no Bairro Santa Efigênia | Fotograf ia Equipe UPSA. Tabela 1: Comparativo entre os selos BREEAM, LEED e AQUA | Fonte: adaptado de Nelson, Rakau e Dorrenberg (2010).
*acv: avaliação do ciclo de vida.
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LINHA DO TEMPO
Foto: SPTurismo d is po n í ve l e m : <https://s2.glbimg.com/iXAd v6JFRWcRkoykFEiU_wlvjKU= /940x523/e.glbimg.com/og/e d/f/original/2019/03/30/edi ficio-martinelli.jpg> Acesso em 25 mai. 2018.
EVOLUÇÃO DAS LEIS E TIPOLOGIA DE EDIFÍCIOS ALTOS NA CIDADE DE SÃO PAULO Lei nº 2.332 determina um padrão para a altura máx. do edifício: não mais do que três vezes a largura da rua. Os edifícios tendem a ser alinhados com a rua, sem recuos, ocupando todo o lote e construindo empenas cegas em seus limites laterais. Essa relação definiu a paisagem da cidade nas quatro décadas seguintes (silva, 1977). na imagem, edifício sampaio moreira, projetado em 1924 por christiano das Neves.
1910
os pr imeir os exem plos de a rquit et u ra m o de r n a sã o experimentados, inovando a relação com o tecido urbano e criando qualidades que praticamente desaparecem após os anos 1960. plano prestes maia estrutura a expansão da cidade para fora do trian gu lo ce nt ra l , nov os corredores viários com edificios altos.
1929 1920
Regulamentações LEGISLAM SOBRE ALGUNS DOS PRIMEIROS EDIFÍCIOS DA CIDADE, COM 3 OU 4 PAVIMENTOS, COM O OBJETIVO DE PROMOVER O ADENSAMENTO POPULACIONAL (Anitelli, 2010) O modelo de produção dos primeiros edíficios de apartamentos em São Paulo (1910) seguiram uma lógica de produção para o lucro pelo aluguel, dominante até a década de 1940 (Anitelli, 2010).
decreto-lei nº 41 determina uma altura mínima de 39m e máxima de 80m para edifícios na av. ipiranga. 1 9 4 0 - 1 9 5 0 o s r e c u os permitem prédios mais altos e limites diferentes dentro do lote, prevendo o arranha céu.
1934 1930
Código de obras arthur saboya. Lei nº 3.427. o cógido abriga as ruas em 3 categorias de acordo com sua largura: até 9m, 9m-12m. mais largas de 12m; com limites de altura de 2, 2,5 e 3 vezes sua largura, respectivamente (souza, 1994). na imagem, edifício martinelli, por giuseppe martinelli.
1957 1940
ato municipal nº663 revisa o código saboya. r e c u o s l at e r a i s e f r o n ta i s p e r m i t e m edifícios mais altos 1935 ed. esther como ícone da arquitetura moderna.
Foto: desconhecido d is po n í ve l e m : <https://www.estilosarquitetoni c o s . c o m . b r / w p content/uploads/2017/07/Edif% C3%ADcio-Sampaio-MoreiraFachada-4.jpg> Acesso em 25 mai. 2018.
1960-1970 modelo torre: tipologia de edificio alto isolado no lote com recuos definidos. 1964 - 1970 : bnh (banco nacional de habitação): um dos mais importantes instrumentos de do processo de verticalização das cidades brasileiras, que normatiza e sugere regras para a atuação de códigos de obras municipais. sfh (sistema Financeiro Habitacional): organizado pelo governo federal para responder à crescente demanda por habitação urbana (resultado do exodo rual). Cidade tiradentes abriga mais de 40 mil unidades habitacionais, sendo a maioria construida pela cohab ( co mpa n h i a M e t r o p o li ta n a d e habitação de são paulo.
1968 1960-70
lei nº 5.261: a restrição de altura muda as premissas. Agora passa a depender do índice máximo de ocupação do lote. o coeficiente de aproveitamento do lote, que era de 8 - 10 vezes o lote na altura, foi reduzido para 4 vezes edifícios residenciais e 6 v e z e s pa r a e s c r i t ó r i o s (anitelli, 2010).
pub (plano urbanístico básico) propôs uma estrutura urbana baseada no mercado norte-americano, com altas densidades concentradas no centro, 4% da área do município e 96% restante da cidade, distribuídos em bolsões residenciais de baixa e média densidade, servidos por uma malha viária de 815km de vias expressas (Nobre, 2004).
Fonte: Plano urbanístico Básico (PUB), Município de São Paulo (1968).
CAPÍTULO
Plano urbanístico basico (pub) e plano diretor de desenvolvimento Integrado (pddi) lei nº 7.688/71 resultam na lei de ocupação do solo, instituindo o zoneamento e estabelecendo 8 zonas de uso.
outorga onerosa do direito de construir foi possível dentro da o p e r aç ão ur b an a va le d o anhangabaú (lei nº 11.090/91). discutia a reforma urbana pelo eio do instrumento do solo criado.
1972-2004 1972
estatuto da cidade de 2001. Lei nº 10.257 Regulamenta oS ARTIGOS Nº 182 E 183 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. eXECUTA A RELAÇÃO ENTRE COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO, D I R E TA M E N T E L I G A D O À VERTICALIZAÇÃO E À FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. LEGITIMOU INSTRUMENTOS EXISTENTES E INSTITUIU NOVOS PARA A APLICAÇÃO DESSA FUNÇÃO (NOBRE, 2004).
2000-14 1991
lei nº 7.805, de zoneamento, e s ta b e le c e u s o e í n d ic e s d e aproveito permitidos e controla o uso do solo. define ainda coeficientes de aproveitamento, taxas de ocupação, reucos frontais, laterais e de fundo, tamanho mínimos do lote, largura mínima da testada. Os coeficientes de aproveitamento variam de 1 a 4, de acordo com o tipo de zona determinada nessa lei (nobre, 2004).
2 Linha do Tempo adaptada e dados complementares | Fonte: Bode, K; Gonçalves, J, 2015.
Fonte: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU), 2018.
novo plano diretor estratégico e revisão do zoneamento (lei nº 16.050/14) define adensamento nos eixos de transporte público (corredores de ônibus, estações de trem e metrô) e estabelece alturas máximas menores nos miolos de bairros, limita vagas de garagem
2002 2001
Aquecimento da produção imobiliária destinada às classes médias. Decisões governamentais específicas que colocaram no mercado, somente em 2000, cerca de r$ 8 bilhões para crédito imobiliário oriundos da poupança (ferreira, 2011) automóvel versus transporte coletivo: de forma crescente optouse pelo modelo do automóvel em detrimento de sistemas de transportes coletivos. o impacto é visto nas unidades habitacionais com vagas de garagem no subsolo, ta l c ons t ru ç ão l eva a impermeabilização total do solo, afetando a drenagem urbana e o escoamento de águas (Ferreira, 2011).
2014
NOVO PLANO DIRETOR ESTRATÉGICO ESTIPULA COEFICIENTES DE APROVEITAMENTO MÍNIMOS, BÁSICOS E MÁXIMOS PARA AS DIVERSAS ZONAS DA CIDADE; DEFINE PARAMETROS DE CÁCULO PARA OUTORGA ONEROSA DO DIREITO DE CONSTRUIR; E ESTABELECE PARAMETROS DE CUMPRIMENTO DE FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE (NOBRE, 2014). 2008: O EMPREENDIMENTO DO SHOPPPPING CIDADE JARDIM, COM TORRES RESIDENCIAIS SOBREPOSTAS E ISOLADAS REPRESENTAM UMA MÁXIMA DESSE RACIOCÍNIO. TRANSFORMASE EM UM ÍCONE DA CIDADELA FORTIFICADA DE LUXO.
Fotografia por Marco Ambrosio (2016)
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2.9 CIDADE DE MODELO INTELIGENTE E HUMANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS
U
ma cidade de Modelo inteligente, termo novo no vocabulário urbanístico, mas que já se tem visto dialéticas parecidas, a exemplo dos métodos de acupuntura urbana do Arquiteto e ex prefeito de Curitiba, o precursor Jaime Lerner, difusor dos ideais de subsequentes ações e planejamentos que levariam a um tratamento eficiente na comunidade, a cidade de modelo inteligente pode abordar também, técnicas e métodos que contribuem para um desenvolvimento ativo de uma cidade com qualidade de vida e harmonia aliadas ao uso de tecnologias. São diversos os fatores que contribuem para a qualidade da cidade, atualmente, na era digital os recursos podem e devem ser usados a favor do progresso urbano. A tecnologia pode ajudar inclusive nos aspectos de meio ambiente (sistemas de economia de energia, consumo eficiente de água, incentivo a uso de veículos elétricos, privados ou públicos. Tais aspectos contrastados à geometria espacial fazem parte de um contexto maior, onde a influência advinda do modo construtivo e de quem produz pode afetar nitidamente o usuário por um longo espaço de tempo, repensar esses modelos pode ajudar a construir de forma inteligente um edifício. As favelas no Brasil e no mundo são conhecidas por apresentar uma irregularidade de disposição física nos espaços implantados, como se apresentam como autoconstruções, onde seus usuários produzem todo o espaço e infraestrutura para dela desfrutarem dispõem de uma geométrica orgânica, oposta a arquitetura linear
das grandes cidades. A geometria ordenada não só facilita uma organização físico-espacial, mas também representa a ordem. Tal ordem advinda de quem governa, o Estado, que tem por necessidade transpassar seja de modo intencional, sua forma de autoridade ou de forma subconsciente a sua racionalidade por forma da arquitetura e traçado, sendo estes locais um quadro pintado a exibir as respostas de procedimentos cuidadosamente burocráticos. Prova disto, é que muitas famílias na África tendem a ser deslocadas de suas construções, que são destruídas pelo governo os levando a viver em locais desprovidos de i nfraest rut ura ou construções. (DUANY, 2006). A arquitetura biofílica vem ao encontro com ideias que possibilitem acabar com tais rupturas urbanas, sejam em âmbito macro nas cidades ou micro nas edificações estabelecer o bem estar aliado a geometria dos espaços é fundamental, aliando configurações particulares, superfícies, materiais, acessibilidade, luz, detalhes, plantas e outras formas de vida. (KELLERT, 2005). Tais espaços, configurados, como sugere Duany (2006) são conhecidos como “estruturas sagradas”, pois, por serem atribuídos valores acima e além de sua estrutura material, para os religiosos, as igrejas, para os não conectados com essa espiritualidade espaços que agreguem sentido social na vivencia de um coletivo, onde conectam emocionalmente o público e comunidade, ao passo que ao mesmo tempo são conectados ao edifício e sua própria rede de pessoas inseridas, ou seja, um simples sentido de comunidade estabelecido capaz de sobreviver às dificuldades cotidianas.
CAPÍTULO
A praças centrais ou praças abertas trazem tais conceitos de arquitetura biofílica ao passo que sugerem a coesão social aplicada a comunidade onde os costumes latinos de caminhar ao fim da tarde ou se dispor durante o dia numa descompressão da vida são a prova de que o uso sugerido é de fato, da ordem social, fato este que não ocorre nos grandes bairros e condomínios fechados, que por mais que ofereçam seus clubes de ginásticas e piscinas comum a todos não os fazem como “estruturas sagradas” pois acabam por não atender as interações sociais e graus de conectividade e pluralidade pertinentes, deixando de lado o sentido de acolhimento e humanização que um espaço semi público em um edifício pode absorver. Segundo Duany (2006):
2
Os conceitos afirmam, ainda, que a construção de habitações deve estar diretamente relacionada com a construção e desenvolvimento de comunidades locais (COELHO, 2009). A importância, desde a década de 1980, é vista através de estudos que demonstram a importância do senso de comunidade junto ao desenho urbano na conservação e manutenção de áreas residenciais por estarem intrinsecamente ligados à satisfação de seus usuários no ambiente constituído, levando em conta os fatores de escala local, como questões dimensionais de fluxos e vias, além da própria inclusão de usos mistos em tais locais (SHIGEHARU; KANASHIRO, 2014).
[...] um assentamento deve, acima de qualquer coisa, estabelecer algum tipo de estrutura sagrada que, de alguma maneira, possa conectar emocionalmente os residentes. A estrutura sagrada também auxilia as pessoas a se conectarem a uma ordem mais alta. Esta ordem mais alta engloba três determinações funcionais: (a) é usada como um meio coletivo para formar a comunidade; (b) é construída a partir da cooperação dos discursos de um grupo de pessoas e não é a decisão unilateral de um indivíduo; (c) é carregado com um significado poderoso para a comunidade. Se a maioria, ou todos, os residentes se conectam com a estrutura física sagrada, então, indiretamente, eles se conectam, uns aos outros. Este simples princípio estabelece um sentido de comunidade, que sobrevive as difíceis condições de vida. E isso mantém as forças orientadas a manter a estrutura física da comunidade, ao invés de se virarem contra a ela, como acontece nos casos em que a estrutura física não é valorizada.
34|35
Mas mesmo assim Ainda guardo o direito De algum antepassado da cor Brigar sutilmente por respeito Brigar bravamente por respeito Brigar por justiça e por respeito De algum antepassado da cor Brigar, brigar, brigar A carne mais barata do mercado Ê a carne negra A carne de Elza Soares
Figura 9: Morador de rua e seu cĂŁo. Fotografia por Edu Leporo.
37
HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
3.1 LOCALIZAÇÃO MACRO
CAPÍTULO
3
3.2 LOCALIZAÇÃO MESO
Figura 10: Diagrama de Localização Macro | Fonte: Autoria Própria.
estação da luz
jardim da luz
museu da língua portuguesa
Figura 11: Localização Meso. Na imagem: equipamentos culturais e de mobilidade do entorno do terreno. | Fonte: Imagens aéreas do Google EARTH e Softwa re QG IS co m dados do IBGE.
estação pinacoteca largo gen. osório estação júlio prestes
sala são paulo
centro paula souza
praça júlio prestes
praça princesa isabel
terreno 25 0
50
75
m
38|39
HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
3.3 SITUAÇÃO
Figura 12: Vista aérea de Situação do terreno. | Fonte: Imagens aéreas do Google EARTH e Softwa re QG IS co m dados do IBGE.
rua dos gusmões
20m
CAPÍTULO
3
3.4 ANÁLISES DE ENTORNO
O
terreno, localizado na esquina da Rua Gusmões com a Avenida Rio Branco, bairro de Santa Efigênia, no Distrito da República, São Paulo/SP (figura 1). Possui área útil de 4176,04 m² e um leve declive, quase imperceptível de 1 m e t ro e m s e n t i d o t r a n s v e r s a l e m s e u s aproximadamente 93m de comprimento. Por se tratar de um terreno com uso para estacionamento não possui características de permeabilidade, sendo completamente pavimentado e sem vegetações. A re g i ã o , c o n h e c i d a p e l o c o m é r c i o d e eletroelotrônicos, videogames, equipamentos de iluminação e automotivos conta, também, com outros usos. O terreno, com uso original de Estacionamento será convertido para uso residencial de habitação social. O uso real do solo ( F i g ur a 1 3 ) i l u st ra be m a q ua n ti da de d e estacionamentos presentes na região, comportando bem o bairro e arredores que também contam com um número expressivo desse aporte à automóveis. Est ão presentes simul taneamente, o uso residencial, comercial, de estacionamentos e institucional no local.
Figura 13 (acima): Mapeamento de uso real do solo | Figura 14 (abaixo): Mapeamento de Equipamentos do entorno | Fonte: Autoria Própria
40|41
HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
O
entorno do distrito da República possui, como o centro de São Paulo no geral, uma gama de estabelecimentos e pontos de atração no local, como mostra a figura 14, são diversos os restaurantes, bancos, supermercados, farmácias e ensino, tudo a poucas quadras da área a ser projetada. No tangente à mobilidade a Avenida Rio Branco conta com corredores de ônibus e seus respectivos pontos de ônibus, além do próximo acesso a uma ciclovia localizada na Av. Duque de Caxias (figura 15). Outro contraponto importante ao acesso ao bairro se faz pela proximidade de Linhas de Metrô como Estação da Luz e República, além de marcos da Cultura e Educação Paulistana, como Sala São Paulo, Pinacoteca, Museu da Língua Portuguesa e Centro Paula Souza (Figura 11). A área em destaque, é privilegiada em razão de sua localidade apresentar, próximo ao entorno, o Jardim da Luz, Largo General Osório, Praça Princesa Isabel e Praça Julio Prestes (Figura 1), pontos de árborização e verdadeiros espaços que promovem o microclima desejado ao público e moradores da região. Pode-se dizer que Avenida Rio Branco conta com uma alta gama de vegetações arbóreas (Figura 16) e nas adjacências, também, percebe-se a diluição de árvores.
Figura 15 (acima): Mobilidade | Figura 16 (abaixo): Mapeamento de Ar borizaç ão local | Fonte: Autoria Própria
CAPÍTULO
3
A
respeito de insolação e ventilação (Figura 18), a analise deve-se ater ao estudo em conjunto com o gabarito da área, seus ventos predominantes distam do sudeste como mostra a Rosa dos Ventos da cidade de São Paulo (Figura 17). O bairro apresenta, ainda, um grande número de edifícios altos formando massas de bloqueio ao caminho da ventilação (Figura 19).
Figura 17 (esquerda): Rosa dos Ventos. | Figura 18 (direita acima): Ventilação e Insolação | Figura 19-A (direita abaixo): Gabarito do entorno | Fonte: Software SOL-AR, Projetee UFSC, INMET 2016 e Autoria Própria
42|43
HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
3.5 LEGISLAÇÃO CORRELATA
O
projeto em questão, recebe decreto específico para seu uso, , de 11 de Outubro De 2016- Estabelece disciplina específica de parcelamento, uso e ocupação do solo, bem como normas edilícias para Habitação de Interesse Social, Habitação de Mercado Popular, além de Empreendimento de Habitação de Interesse Social, Empreendimento de Habitação de Mercado Popular e Empreendimento em Zona Especial de Interesse Social, nos termos das Leis nº 16.050, de 31 de julho de 2014 – PDE, e nº 16.402, de 22 de março de 2016 – LPUOS. Alguns dispostos importantes do texto, destacam:: A unidade de HIS deve atender aos seguintes parâmetros: I - área útil máxima de 70m² (setenta metros quadrados) e mínima de 24m² (vinte e quatro metros quadrados); II - máximo de 1 (um) sanitário; III - pé-direito mínimo de: a) 2,30m (dois metros e trinta centímetros) para sanitário e área de serviço; b) 2,50m (dois metros e cinquenta centímetros) para os demais compartimentos; IV - máximo de 1 (uma) vaga de estacionamento. A unidade de HMP deve atender aos seguintes parâmetros: I - área útil máxima de 70m² (setenta metros quadrados) e mínima de 24m² (vinte e quatro metros quadrados); II - máximo de 2 (dois) sanitários; III - pé-direito mínimo de:
a) 2,30m (dois metros e trinta centímetros) para sanitário e área de serviço; b) 2,50m (dois metros e cinquenta centímetros) para os demais compartimentos; IV - máximo de 1 (uma) vaga de estacionamento. - Faculta vagas de estacionamento e estabelece a obrigatoriedade apenas a previsão de espaço para carga e descarga, o qual pode ser compartilhado com a vaga para pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida, caso não previstas outras vagas no empreendimento.
índices urbanísticos previstos T.O C.A (MAX)* T.P. GABARITO MAX.
0,7 3 0,05 NÃO SE APLICA H MAX.
*Segundo decreto 57.377/16. Art 8º § 3º No caso de EHMP, na concessão do direito de c o ns t r ui r a ci m a d o coeficiente de aproveitamento básico até o limite do coeficiente de aproveitamento máximo, aplicam-se, para cada categoria de uso integrante do empreendimento dentro d os p er í m et r o s d e Operações Urbanas e Operações Urbanas Consorciadas, as disposições das leis específicas, ficando, nesse caso, a área correspondente a HIS isenta de contrapartida. Ou seja, o perímetro escolhido no Bairro da República se encontra dentro do Perímetro de uma OU, a Operação Urbana Centro. Tabela 2: Índices Urbanísticos. | Fonte: Decreto 57.377/16 e Sec. de Des env olviment o Urbano de São Paulo
CAPÍTULO
3.6 FUNÇÃO SOCIAL
O
Plano diretor Estratégico da Cidade de São Paulo, predispõe que apenas serão notificados os imóveis não edificados, subutilizados e não utilizados situados nos seguintes locais: ZEIS 2, 3 e 5; Perímetros das Operações Urbanas Consorciadas; Áreas de influência dos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana. Subprefeituras da Sé e da Mooca. Macroáreas de Urbanização Consolidada e de Qualificação da Urbanização. Macroárea de Redução de Vulnerabilidade Urbana (exclusivamente em glebas ou lotes com área superior a 20.000 m²). Macroárea de Estruturação Metropolitana (mediante lei específica) área de projeto se encontra na Subprefeitura da Sé, no bairro da República (Figura 10), ou seja, em posição de áreas centrais com infraestrutura consolidada, dinamismo econômico e oferta de empregos, onde se objetiva ampliar a densidade populacional e incentivar usos diversificados (cultura, trabalho, residência e outros).
Localizado na ZEM (Zona Eixo de Estruturação Metropolitana) o local possui uma baixa densidade demográfica (Figura 20) e sendo verticalizado, o edifício tende a oferecer atributos importantes de infraestrutura aos usuários. Além, também, da localização do bairro Santa Efigênia concentrar mais moradores por domicílio ocupado do que as outras localizades da República, justificando seu uso residencial. (Figura 21).
*Dados da Secretaria de Desenvolvimento Urbano de São Paulo (2019).
Figura 19-B: Diagrama de Limites do distrito da República | Dados da Subprefeitura da Sé.
bom retiro
santa cecília
A
O terreno está enquadrado na Lista de imóveis notificados em virtude do descumprimento da Função Social da Propriedade (cadastro em 14/09/2015) e também na Lista de imóveis cadastrados para aplicação dos instrumentos da Função Social da Propriedade (cadastro em 31/08/2015). Compõem seus dados: número do contribuinte IPTU (também conhecido como “SQL”) sendo 0080730127 e categorizado com imóvel “não edificado”.*
3
república brás sé
consolação
bela vista
liberdade 44|45
CAPÍTULO
3.7 VULNERABILIDADE SOCIAL
U
ma das formas de ilustrar as condições de vida da população é o instrumento conhecido como índice de vulnerabilidade, sua composição deriva da combinação entre a condição socioeconômica e a demográfica, definidas a partir de algumas variáveis (refletindo renda, escolaridade e ciclo de vida familiar). No caso do Estado de São Paulo foi desenvolvido o IVPS (Índice Paulista de vulnerabilidade Social). Através da leitura do mapa (figura 22) é possível perceber onde estão localizadas as áreas mais vulneráveis da cidade, marginalizadas exatamente nas extremidades mais distantes do centro e nas regiões mais carentes. Bairros como Pinheiros e Vila Mariana, localizados próximo a centralidade aglomeram 20% da população sem nenhum risco social de todo o Estado*.
3 Figura 22: Índice de Vulnerabilidade Social da Cidade de São Paulo | Fonte: Fundação Seade. Índice Paulista de Vulnerabilidade Social – IPVS, 2007. *Dados do IPVS (Índice P au l i s t a d e Vulnerabilidade Social) e Prefeitura Municipal de São Paulo, 2007.
A distribuição do indicador mostra um contraste entre o setor sudoeste da cidade (áreas mais ricas) e as regiões periféricas (onde predominam os setores censitários com população sujeita a situações de vulnerabilidade social). É possível perceber, ainda, um espaço urbano fragmentado, com pouco convívio de segmentos sociais diversificados. Entre as poucas exceções, podese apontar a região central da cidade, ainda que baixa diversidade. De fato, são relativamente raras no município as localidades com maior heterogeneidade social, princípi o que seri a necessári o, pois é potencialmente vantajoso para a consolidação de uma cidade mais plural.
46|47
HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
Figura 20: Densidade Demográfica da República | Fonte: IBGE, Sinopse por Setores, Censo 2010. Figura 21: Média de Moradores por domicílio ocupado da República | Fonte: IBGE, Sinopse por Setores, Censo 2010.
terreno
S/ ESCALA
terreno
S/ ESCALA
HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
3.8 PÚBLICO
Seguindo a legislação correlata, no Plano Municipal de Habitação de São Paulo Projeto de Lei nº 619/16, descreve, no . que a Política Habitacional deve ser orientada para o enfrentamento das necessidades habitacionais, que devem ser identificadas considerando os seguintes fatores:
I - Provisão de Moradia para Aquisição; englobando a aquisição de imóveis em empreendimentos novos ou imóveis reabilitados em caráter definitivo a famílias de baixa renda por meio da transferência da posse ou da propriedade imobiliária.
I - as diversas dimensões implicadas no direito à moradia digna, entre as quais a segurança da posse, a disponibilidade de infraestrutura, equipamentos e serviços públicos, o custo acessível, a habitabilidade e a localização adequada;
II - Locação Social; abrangendo a oferta de unidades habitacionais em imóveis públicos, em áreas bem localizadas, dotados de infraestrutura pertinente.
II - as tipologias de precariedades habitacional e urbana presentes no território, tais como favelas, loteamentos e conjuntos habitacionais irregulares 16 Plano Municipal de Habitação de São Paulo | Projeto de Lei nº 619/16 | Dezembro de 2016 e cortiços;
III - Locação Social de Mercado; abrangendo a oferta de unidades habitacionais em imóveis privados, em áreas bem localizadas, dotados de infraestrutura pertinente.
III - a população em situação de rua como parte da demanda da política habitacional; IV - as demandas relacionadas às dinâmicas econômicas, que comprometem o acesso à moradia digna ao exigir que famílias de baixa renda sejam obrigadas a compartilhar uma mesma moradia, muitas vezes em condição de adensamento excessivo, ou que essas comprometam grande parte de sua renda com o pagamento do aluguel; V - o crescimento demográfico da população de baixa renda durante o prazo de validade desse Plano
A provisão de moradia segundo o Plano Municipal de Habitação, tem como objetivo oferecer atendimento habitacional definitivo a famílias de baixa renda em áreas dotadas de infraestrutura, equipamentos e serviços públicos e articuladas ao sistema de transporte público coletivo, por meio da oferta de unidades habitacionais, i ii iii
s ejam el as novas o u do es to que exi ste nte. Está divida em três seguimentos:
Tais ofertas garantem uma moradia digna e permitem a lei aplicar recursos eficazes conforme a alta demanda da Cidade de São Paulo, que carece de unidades habitacionais eficientes a população de baixa renda, muitas vezes marginalizada nos bairros longínquos da cidade ou até mesmo no próprio centro, mas, isoladas em cortiços ou em diversas ocupações em prédios que oferecem risco a vida, a exemplo do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou em maio de 2018 em São Paulo. A oferta escolhida para este projeto se baseia no item I (provisão de moradia para aquisição). Embora estabelecer diretrizes seja o primeiro passo a oferecer uma cidade democrática, de acesso fundamental as diversas camadas socioeconômicas e em especial, as mais baixas, a abrangência é o fator determinante. A Secretaria de habitação, por meio de tais ferramentas oferece acesso aos imóveis a famílias
CAPÍTULO
3
infográfico de ocupações
de baixa renda cadastradas no Serviço de Moradia Social composto por famílias retiradas de áreas de risco (figuras 23 e 24), atin gidas por incêndios, e nchentes, deslizamentos; os moradores forçados a sair de suas casas em razão de frentes de obras de infraestrutura conduzidas pela prefeitura; a população em situação de rua em extrema fragilidade; as famílias em situação de vulnerabilidade, como idosos, deficientes, doentes crônicos; as mulheres vítimas de violência doméstica.
norte
38 ocupações
leste
11.427 famílias
45 ocupações 13.849 famílias
centro
percentual de favelas nos distritos
Figura 23: Percentual de Favelas nos distritos| Fo nt e: SE HA B (Secretaria de Habitação)/Habisp SEHAB (Secretaria de Habitação)/HABITA Sampa, dados 2017. Figura 24: Infográfico de ocupações em São Paulo, dados 2018. | Fonte: Secretaria Municipal de Habitação e G1.
53 ocupações 3.300 famílias
sudeste
sul
27 ocupações 5.914 famílias
31 ocupações 8.716 famílias
número de ocupações 11 - 20 21 - 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 sem informação
extremo sul
S/ ESCALA
12 ocupações 2.666 famílias
45.872 206 OCUPAÇÕES FAMÍLIAS
TOTAL
%
48|49
Me contem, me contem aonde eles se escondem Atrás de leis que não favorecem vocês Então por que não resolvem de uma vez Ponham as cartas na mesa e discutam essas leis Planet Hemp, meu irmão, os criminosos? Porque eu luto pelos direitos dos nossos? Não! Pessoas inocentes morrem e vão pruma gelada Eu ouço “ bang bang “ e não vou fazer nada? Tem que parar com isso acabar com essa matança Enquanto tem gente morrendo tem outros enchendo a pança Mantenha o respeito de Planet Hemp
Figura 23: Fachada do Edifício Copan. Fotografia por José Manuel Ballester.
51
HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
4.1 CONJUNTO HABITACIONAL ZEZINHO MAGALHÃES PRADO
Figura 24: Fachada de um dos blocos do Condomínio São Paulo. O residencial faz parte do conjunto Zezinho Ma ga lh ães Pr ado. | Fotografia por Igor Pinheiro.
ficha técnica
CONJUNTO HABITACIONAL CECAP-CUMBICA Arquitetos: João Batista Vilanova Artigas; Fábio Penteado; Paulo Mendes Rocha Localização: guarulhos, são paulo, brasil. Área: 130 hectáres (1.780.000m²) Ano do projeto: 1967 População: 11.244 (censo 2010) Densidade demográfica: 7.383 hab. por km²
implantação
O
Zezinho Magalhães Prado (figura 1), conjunto projetado em 1967, previa 24 condomínios, mas por fim acabou se realizando apenas 10, que possuem nomes de Estados brasileiros: São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Sergipe e Alagoas. Foram produzidos, em cada condomínio, um total de 480 apartamentos dispostos em edifícios em lâminas pensados a resolver a situação de topografia, uma orientação adequada à insolação e ventilação, transporte e instalação de peças pré-fabricas. Cinco escadas conectam os 12 apartamentos por andar agrupados a cada duas lâminas de edificação. As obras foram realizadas em 3 etapas, a primeira: de 1968 à 1972, foram construídos 30 blocos, usando sistema convencional de estrutura, porém, todo o projeto foi concebido para ser feito em estrutura préfabricada, alterando neste as escadas para “escada em U”; A segunda etapa, de 1972 à 1976, feitos 16 blocos, em estrutura pré-fabrica e “escada linear”; E, por fim, a terceira etapa, datada de 1978 a 1981, também em estrutura pré-fabrica de “escada linear”, contando com 32 blocos.
CAPÍTULO
A implantação também previa o conceito de “freguesia”, não isolando os edifícios e os privando de toda a infraestrutura organizacional que possui uma cidade, mas, trazendo consigo também equipamentos urbanos, comércio, centro educacional, centros comunitários e de saúde, estádio e áreas verdes, ou seja, o pensar urbano à classe trabalhadora também aliado ao arquitetônico no projeto de habitação de interesse social. Entretanto, só foram produzidos centros comerciais, anos depois, e em menor escala do que os projetados.
O
objetivo foi, através das novas possiblidades dadas pela pré-frabricação, atingir um nível de exce lência que demonstrasse que a qualidade de uma habitação não deveria corresponder ao padrão econômico de uma determinada classe social, mas aos conhecimentos técnicos do seu momento histórico, que permitissem uma construção racionalizada, honesta e acessível a todos Paulo Mendes da Rocha
implantação prevista em projeto, 1967
4
apartamentos
C
ada unidade lâmina possui o térreo (vão livre) pensado para servir de espaço de convivência e acolhimento, mas, que nos dias atuais serve, em todos os condomínios de estacionamento de automóveis (figura 27) e mais 3 pavimentos. As unidades habitacionais possuem 64m² (figura 28) cada e foram pensadas para obter o máximo de flexibilidade possível, abrigando 1, 2 ou até 3 dormitórios por possuírem um sistema de fechamento leve, equiparado na época ao atual sistema “drywall”, a mudança ou demolição das divisórias foi pensada para que não acarretasse grande gasto ou grande mão de obra aos usuários. Em duas extremidades estão as aberturas das janelas em fita (Figura 31), garantindo uma ventilação cruzada e abaixo delas estão localizados armários projetados para fora do edifício, ou seja, não ocupando lugar na circulação interna dos ambientes.
Figura 25: Projeto de implantação. Planta or iginal, em negrito, edifícios que foram executados | Fonte: Instituto Lina Bo bardi. Figura 26: Esplanada c e n t r a l e nt r e d o i s blocos. | Fotografia por Igor Pinheiro. Figura 27: Vão livre convertido em estacionamento. | Fotografia por Igor Pinheiro.
A questão hidráulica também foi estabelecida de forma clara e precisa, pois, a mesma prumada hidráulica foi resolvida com cozinha, banheiro e área de serviço agrupados.
1. freguesia 2. comércio 3. escola 4. área de convivência 200
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
dormitório 1
banho
lavanderia
cozinha
dormitório 2
estar
dormitório 3
fechamento nas duas laterais da unidade. Apenas na primeira fase ocorre a utilização de sistema convencional de construção. A implantação dos edifícios e seus espaçamentos foram pensados prevendo a entrada de uma linha férrea no conjunto, facilitando o transporte e instalação das peças pré-fabricadas. 6/6
CONSIDERAÇÕES DO ESTUDO DE CASO
técnica
T
odo o sistema estrutural (Figura 29) foi pensado, inicialmente, para ser concebido em estruturas pré-fabricadas, sendo vigas, pilares, paredes mesas, escadas e até os armários que serviram de
O
residencial visitado foi o “Condomínio São Paulo”, o primeiro de todo o conjunto a ser construído, muito bem cuidado e arborizado, foi observado um número grande de zeladores cuidando, limpando e cortando grama, os pátios e escadas todos limpos e um local calmo e sem ruiídos, mesmo na área de “playground” (figura 30) e quadra. O zelador afirmou que os valores dos apartamentos variam hoje, de 180 mil a 230 mil reais.
Figura 28: Planta baixa do apartamento tipo (64m²) | Fonte: Fabiana Cerávolo. Figura 29: Perspectiva do sistema pré-fabricado utilizado. | Fonte: Fabiana Cerávolo.
CAPÍTULO
O projeto é a mais pura síntese da racionalidade técnica, funcionalidade e ideais sociais democráticos da arquitetura moderna no momento de sua concepção. Os arquitetos realizam uma das primeiras obras voltadas a habitação de interesse social, ou seja, um público que não possuía (e até hoje não possui) a possibilidade de obter uma moradia digna oferecida pelo Estado, e que adota tal flexibilidade num projeto onde, hoje, pode se alcançar o público de qualquer poder aquisitivo. Há ainda uma preocupação com a economia de custo quando projetado, visto que seriam otimizados os processos construtivos pela utilização dos préfabricados, diminuindo também o tempo de execução. A execução da construção em partes do conjunto e a falta de boa parte dos equipamentos públicos previstos marcam a obra. Os moradores e zeladores afirmam que com o passar dos anos as mudanças positivas do bairro acontecem de forma lenta e são baseadas numa cooperação entre os próprios moradores.
4 Figura 30: Playground | Fotografia por Igor Pinheiro. Figura 31: Fachada e janelas | Fotografia por Igor Pinheiro. Figura 32: Entrada do condomínio | Fotografia por Igor Pinheiro. Figura 33: Escada de acesso | Fotografia por Igor Pinheiro.
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
4.2 EDIFÍCIO PEDREGULHO
Figura 34: Vista da encosta do projeto | Fotografia por Igor Pinheiro.
ficha técnica
Arquitetos:Affonso Eduardo Reidy Ano: 1947 Endereço: Bairro benfica, Rio de Janeiro, Brasil. Edifício Principal: 260 metros de comprimento (272 unidades) Área do terreno: 52.140,00m² Taxa de ocupação: 17,3% Apartamentos quitinete: 1° e 2° pavimentos. Apartamentos duplex: 4° e 6° pavimentos. Painéis na escola e igreja por Burle Marx e azulejos por cândido portinari
implantação
O
complexo Pedregulho abriga 3 blocos de edifícios residenciais, sendo o mais famoso o bloco “A” em formato serpenteado (figura 34) pelo terreno, além de um posto de saúde desativado, a lavanderia comunitária/mercado desativados e a Escola Municipal Edmundo Bittencourt (figura 40). A implantação se aproveita dos atributos topográficos de um terreno em declive e coloca um edifício de 260m de extensão de forma orgânica serpenteando sua extensão e atraindo os olhos de quem passa pelo bairro Benfica, no Rio de Janeiro. O projeto original ainda conta com paisagismo de Roberto Burle Marx.
soluções arquitetônicas
S
ão dois tipos de apartamentos propostos, a Quitinete de 30m²: com dormitório, sala e cozinha; e o apartamento Duplex, de 64m²:(figura 37) com sala, cozinha e sala no térreo, e acima, os dois quartos e banheiro. Todos os apartamentos pensados a aproveitar a melhor vista e uma ventilação cruzada permitida pelo uso de cobogós em uma extremidade do corredor de acesso e janelas de alumínio em fita na outra. O acesso ao bloco "A" se dá pelo andar intermediário, aproveitando o desnível do terreno e tornando o
Figura 35: Passarela de acesso ao bloco principal | Fotografia por Igor Pinheiro. Figura 36: Corredor e cobogós | Fotografia por Igor Pinheiro.
CAPÍTULO
percurso mais agradável, por estar em nível médio tanto para os pavimentos superiores quando os pavimentos inferiores, evitando, na época, o uso de elevadores. O pavimento intermediário (figura 42) possui uma vista agradável ao bairro e entorno, uma ventilação e iluminação generosas e seu vão livre proporciona um acolhimento e espaço de convívio aos moradores e impressiona visitantes. O programa se utiliza e inspira nas práticas racionais de Le Corbusier e das formas orgânicas de Niemeyer, como, por exemplo, o Conjunto Pampulha, em Belo Horizonte.
N
ão é porque você faz uma arquitetura para p obre que vo cê tem que faze r uma arquitetura pobre. Você faz uma arquitetura exatamente para elevar a estima e cidadania dessas pessoas Alfredo Britto – Arquiteto
4
pranchas de brise de madeira recuperadas (figura 38). Além dos cobogós (figura 36), os elementos vazados que foram, originalmente, projetados exclusivamente para obra por Reidy e não havia como encontrar no mercado, muito deteriorados pois já estavam há mais de 50 anos expostos a intempéries e por serem muito delgados estavam se corroendo. Para o restauro, foram constituídos novos cobogós, sua argila foi trazida da argentina e feitos em Santa Catarina e transportados, posteriormente, ao Rio de Janeiro.
cobogós para ventilação permanente
Figura 37: Diagrama de Quitinete e Duplex | Adaptação por Igor Pinheiro.
cozinha
corredor de acesso wc
quitinete sala/quarto
restauro
E
m novembro de 2010 se dá o inicio de um restauro, que até o momento de finalização da primeira fase ficou orçado em 46 milhões de reais. Foram dividas em três etapas de obra, sendo elas, a 1ª Etapa: recuperação estrutural e instalações hidráulicas; 2ª Etapa: restauração dos outros 2 blocos residenciais (bloco I e bloco II); 3ª Etapa: reforma dos outros prédios do conjunto, como posto de saúde, mercado e lavanderia, além da recuperação do paisagismo original projetado por Roberto Burle Marx. Apenas a primeira fase foi concluída até o momento, o bloco A foi completamente restaurado, todas as antigas esquadrias foram substituídas por esquadrias de alumínio e pintadas de azul, pisos trocados, 360
quarto
wc
duplex
corredor de acesso cozinha
sala
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
perspectiva de implantação vista lateral passarela (ALTURA DA RUA) pavimento intermediário galerias de acesso bloco I bloco Ii Posto de saúde (desativado) LAVANDERIA/MERcado (desativados)
1ª e 2ª fase da obra: recuperação estrutural e da fachada do bloco a
escola municipal edmundo bittencourt
Figura 38: Detalhe Brise. | Figura 39: Estacionamento | Figura 40: Perspectiva de Implantação. | Adaptação e fotografias por Igor Pinheiro.
3ª fase da obra: recuperação da fachada dos blocos i e II, posto de saúde e lavanderia
CAPÍTULO
considerações do estudo de caso
A
obra de Reidy é marcada, explicitamente, pela democracia e o conceito de cidadania e pode se dizer, também, um dos projetos de habitação popular brasileiro mais repercutidos no exterior. A concepção se faz inovadora até hoje. Diferentemente de modelos atuais, se faz algo realmente pensado arquitetonicamente, com técnicas, para suprir as necessidades básicas e dignas de um cidadão de baixa renda.
4
ruas um nível grande sacos de lixo e até no próprio terreno, que se encontrava completamente tomado por uma alta vegetação. O prédio ainda possui um estacionamento (figura 39) improvisado na entrada e não possui um portão de acesso fechado ao pavimento intermediário, podendo, qualquer pessoa fazer o acesso, apenas possui portões fechando cada corredor de acesso aos apartamentos.
Figura 41: Vista do Complexo | Fotografia por Igor Pinheiro. Figura 42: Vão livre | Fotografia por Igor Pinheiro.
Entretanto, com a chegada do BNH, perde-se esse ideal de qualidade o trocando pela quantidade, ou seja, com o passar do tempo, o BNH começou a entregar casas simples apenas com esquadrias externas e porta do banheiro, piso de cimento, sem azulejos, sem forro, por exempl o. ent rega nd o proje to nas mãos d as empreiteiras reduzindo a qualidade e aumentando a lucratividade. Em conversa com o presidente da Associação dos Moradores, Hamilton Marinho, foi esclarecido alguns fatos, ele contou que o que eles ouviam das pessoas falando do pedregulho é que eles provavelmente perderiam o imóvel devido a degradação que estava o prédio antes do processo de restauro do Bloco A. Falou ainda da importância que o prédio possui, chegando ter recebido por volta de 12.800 arquitetos e desses, quase 4.000 estrangeiros. É fato ciente que os moradores do complexo não possuem o título de propriedade do imóvel, apenas uma concessão do Estado. O Sr. Hamilton relatou que em 2015 os moradores fizeram cadastro no ITERJ (Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro) e esperam resposta sobre o título de propriedade até hoje. Conhecer a realidade de quem passa por tal situação de moradia com incertezas ajuda a explicar alguns fatores de convívio e cuidado com o imóvel, que possuía nas
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
4.3 RESIDENCIAL ÁGATA
Figura 43: Fachada do residencial | Fotografia por Igor Pinheiro.
ficha técnica
Arquiteto: desconhecido engenheiro: alison matos Localização: Rua Eviner Gonzaga, 30 - Jardim das Contelações, Salto - SP. Ano do projeto: 2015 total de torres: 13 total de apartamentos: 208 Subsídio: Programa Minha casa, Minha vida
implantação
O
projeto conta com 13 torres de apartamentos, sua implantação se conforma no terreno, dispondo ortogonalmente e enfileirados dois eixos de blocos, seguindo 4 linhas de torres em declive até o final do terreno, e nesse eixo central é onde se encontra o pátio de manobras e as vagas de estacionamento do condomínio ocupando uma boa parcela de área. Para adentrar nas torres o acesso aos blocos confrontantes com as vagas se dá nesse próprio eixo, já nos blocos de trás é necessário fazer o contorno pelas laterais até o portão de acesso de cada torre. Existem ainda mais duas áreas de estacionamento à esquerda e direita do eixo principal quando se entra no condomínio (Figura 44). Aos fundos do lote (figura 48) se encontram: uma área de lazer com churrasqueira fechada numa espécie de salão de festas, uma academia ao ar livre, um bicicletário aos fundos, um playground e aos fundos de um dos últimos blocos de terreno se encontra a quadra poliesportiva.
CAPÍTULO
apartamento
dormitório 1
O
apartamento (figura 45) conta com área útil de 51m², sendo eles dividos em 2 dormitórios idênticos, sala de estar e uma pequena varanda, cozinha e lavanderia juntas e um banheiro. As unidades possuem ainda gás encanado individual e são entregues no contrapiso com todas as esquadrias e azulejos nas áreas molhadas.
diagrama de implantacão
dormitório 2
sacada
lavanderia wc
cozinha
4
estar
Figura 44: Diagrama de implantação | Autoria por Igor Pinheiro. Figura 45: Planta baixa | Fonte: Construtora Rio branco. Figura 46: Fase de construção | Fonte: Construtora Rio Branco.
acesso ao condomínio pátio de manobra e estacionamento
quadra
aceso ao bloco lazer/salão de festas
área verde e playground
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
considerações do estudo de caso
R
ealizando um percurso sobre as instalações do Residencial foi possível elucidar fatos de importante incidência do programa minha casa minha vida presentes na maioria de suas implantações e inclusive neste empreendimento. Não há no condomínio áreas de real convívio, moradores explicaram na visita, principalmente os dos blocos superiores que apenas crianças utilizam as áreas de comum uso que são mais afastadas desses blocos, ou seja, áreas de lazer que por si só segregam, tanto o uso, quanto o público, não sendo um convívio coletivo. Há ainda, poucas áreas verdes, sendo estas restritas a canteiros ao fundo do terreno e adjacências as torres, como pequenas áreas que sobram se tornando pouco arborizado e árido para quem acessa o caminho a pé até seu respectivo apartamento. Em relação aos apartamentos não há hall de entrada, nem elevadores, quando se entra no bloco, já está em frente às portas dos apartamentos. A questão da privacidade ainda é um problema maior, pois os blocos colocam as janelas de quartos e varandas face a face umas às outras gerando certo incomodo e exigindo vedações como cortinas em qualquer ocasião. É nítida a preocupação com a massiva multiplicação das unidades por lote, visto que são desconsiderados aspectos fundamentais como ventilação e iluminação, posições relativas ao sol e clima local, tais aspectos, ficam em segundo plano quando a intenção é lotear e vender o mais rápido possível oferecendo unidades com baixa qualidade desprovidas de conceitos e linguagem arquitetônica coerente.
F i g u r a 4 7 : Estacionamento do Residencial | Fotografia por Igor Pinheiro. Figura 48: mosaico de fotos da área de p l a y g r o u n d , quadra e bicicletário | Fotografia por Igor Pinheiro.
CAPÍTULO
4.4 ANÁLISE FINAL SOBRE OS ESTUDOS DE CASO
É
possível obter a percepção de como a habitação social no brasil foi, ao longo dos anos, se modificando e se adaptando aos novos moldes do mercado. O Conjunto Zezinho Magalhães, com projeto datado na década de 60 preconiza os preceitos de moradia digna, racionalidade exemplar ao oferecer apartamentos funcionais de qualidade e flexibilidade ao usuário, de forma simples e com baixo custo o olhar claro para o morador de baixa renda é explicitado em suas características de ventilação e iluminação, por exemplo. O bloco serpentinado do Edifício Pedregulho mostra a estratégia de implantação preocupada com a topografia, sua lâmina explora o terreno de forma exemplar, não descaracterizando os conceitos de iluminação e ve ntilação, pre se ntes nos apartamentos e potencializados com brises e cobogós. São oferecidos apartamentos quitinete e duplex (figura 35) para uma parcela da população, na época servidores públicos, que até hoje sentem orgulho de morar de em um apartamento de qualidade visto por muitos no Brasil e exterior como uma nova forma de habitação social de qualidade e exemplo a ser seguido, como foi percebido ao percorrer pelo edifício. O Residencial Ágata, empreendimento financiado pelo Programa Minha Casa Minha Vida é obtido um outro panorama. Tal programa, lançado em 2009, apresentase como sendo um gerador de habitação eficiente no quesito de quantidade no país, em 2018 a caixa informou que 14,7 milhões de pessoas compraram um imóvel
4
com o programa, ou seja, 7% da população brasileira. Apesar dos números relativos a quantidade de unidades oferecidas serem positivos, os benefícios não se estendem a qualidade do empreendimento, que procura maximizar a quantidade de torres de apartamento ou unidades de casa nos lotes a fim de aumentar o número oferecido, e ao contrário dos projetos do passado, não possui qualidade ou identidade arquitetônica, são projetos massificados e reproduzidos em grande escala, sem estudos das posições no lote, de iluminação e ventilação, espaços de convívio, dentre outros, fato claro, no exemplo do Residencial Ágata. A problemática desse método de habitação vai muito além de uma linguagem arquitetônica pobre, escancara à cidade males como o aumento da especulação imobiliária da terra, a incidência de vazios urbanos, as grandes distâncias de áreas centrais, o encarecimento da infraestrutura urbana, o favorecimento do mercado imobiliário, dentre outros. O conforto é fundamental e pode obtido com estratégias simples e eficazes no planejamento inicial do estudo arquitetônico, a dúvida é, onde estão os arquitetos dos projetos do Programa Minha casa Minha Vida? Será que quem determina hoje, os moldes deste panorama são eles? Planejar se torna fundamental para oferecer empreendimentos que alterem e beneficiem realmente a população pobre evitando espraiamentos descontrolados, exclusão sócio-espacial e dificuldades de acesso ao emprego e não negando todos os benefícios de infraestrutura que as grandes centralidades possuem, ou seja, a localização dos empreendimentos também é o fator fundamental na prospecção dos projetos de moradia nos dias atuais e nas demandas futuras.
62|63
Na terra dos sem-terra A barra vai pesar Quem ignora erra Quem quer ignorar Sofrer o baque todos eles já sofreram No Paraná, no Pará, no Espírito Santo Bate imigrante nego véi de guerra Quebratabaque o atraso, o quebranto Na terra dos sem-terra A barra já pesou Quem ignora erra Quem ignora errou Sem terra de Skank
Figura 49: Pátio Central do Prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). São Paulo. Fonte: R e p r o d u ç ã o 44Arquitetura.
65
HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
5.1 EDIFÍCIO LOUVEIRA
ficha técnica
Arquitetos: João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi Localização: Rua Piauí, 1081, São Paulo/SP, Brasil. Painel: Francisco Rebolo (figura 51) Área: 5400.0 m2 Ano do projeto: 1946
entendendo o projeto
Obra idealizada aos moldes modernistas em 1946, tem como conceito a racionalidade técnicoconstrutiva do período e é referência como implantação. Seu partido é exposto, no conjunto que apresenta duas torres idênticas através das linhas retas, dos rasgos horizontais das janelas tipo guilhotina que apresentam As duas faixas retangulares centrais que são preenchidas com vidro em todos os módulos da fachada do edifício (figura 50). O sistema de abertura (figura 56) é tal que através de contrapesos ambos os painéis retangulares deslizem simultaneamente para cima e para baixo, resultando numa abertura horizontal central simétrica; Os pilotis que criam uma área permeável livre no térreo e sua estrutura se faz em concreto; Conta com duas fachadas cegas que dão para uma praça, que é prolongada pela implantação ortogonal, criando um agradável jardim com a passarela sinuosa ao centro (figura 52). O Prédio possui 8 pavimentos e apartamentos de 3 dormitórios, amplas aberturas e desnível de 0,80m no acesso de serviço, acentuando dinamismo na fachada (figura 55).
Figura 50: Fachada do Edifício | Fotografia por Igor Pinheiro. Figura 51: Painel de Francisco Rebolo | Fotografia por Igor Pinheiro. Figura 52: Passarelas e Jardim | Fotografia por Ailton Ribeiro.
CAPÍTULO
5
malha estrutural
Figura 53: Campos Visuais | Adaptação por Igor Pinheiro. Figura 54: Malha Estrutural. | Adaptação por Igor Pinheiro. Figura 55: Desníveis de 0,80m na fachada. | Fotografia por Igor Pinheiro.
setorização
Figura 56: Abertura em gu ilh otina. | Fo nte: reprodução google imagens.
campos visuais
Figura 57: Setorização. | Adaptação por Igor Pinheiro.
legenda circ. vertical
cozinha
passarela
banheiro
circ. horizontal
dormitório
jardim
acessos
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
5.2 EDIFÍCIO MIRADOR
Figura 58: Fachada do Edifício | Fotografia por escritório MVRDV. Figura 59: Praça elevada | Fotografia por escritório MVRDV.
entendendo o projeto ficha técnica
Arquitetos: Escritório mvrdv + Blanca Lléo Fernández Localização: 28050 Sanchinarro, Madri, Espanha. área: 21.000 m² custo: 10.000.00 £ Ano do projeto: 2005
O
edifício é composto por 9 blocos, cada um diferenciado por suas tipologias de acordo com a modulação, aberturas, cores e revestimentos (figura 58). As fendas entre os blocos atuam como zonas de acesso e são concebidas como becos verticais (figura 60), Sua transformação ao longo de cada itinerário aglomera tipologias que se estruturam como pequenos subúrbios. Isso leva a uma seqüência vertical de escadas, corredores, plataformas e ruas criando uma vizinhança verticalizada e sua circulação se torna um passeio. Ele enquadra a paisagem distante das montanhas de Guadarrama, valorizada através de um grande 'look out' localizado a 40 metros acima do solo. A semi-pública sky-praça (figura 59) é facilmente acessível com uma conexão direta de elevador da praça em torno do edifício. O sistema construtivo misto conta com o concreto armado, estrutura metálica na gaiola central acima da sky-praça e escadas. O subsídio para a realização deste edifício pode ser visto como uma manifestação da autocrítica
Figura 60: Escadas de acesso | Fotografia por escritório MVRDV.
CAPÍTULO
espanhola, especialmente para uma cultura que quer ser aberta, vívida e cosmopolita.
setorização
Figura 61: Diagramas parte-todo | Adaptação por Igor Pinheiro.
Relações parte-todo
conexão urbana
acesso e circulação
5
Figura 62: Campos Visuais | Adaptação por Igor Pinheiro. Figura 63: Setorização | Adaptação por Igor Pinheiro.
blocos + circulação
campos visuais e transparência
planta baixa apartamento tipo duplex (pav. 21 e 22) sem escala
circulação vertical
cozinha
estar
circulação horizontal
dormitório
banheiro acessos
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
5.3 80 VIVENDAS EN SALOU
entendendo o projeto
O
Projeto de Habitação Social, apresenta e questiona os espaços intermediários, as transições e o limiar. Fazendo parte do seu programa estabelecer a continuidade, e não, a habitual estagnação nos limites de relacionamento e proximidade do usuário com o prédio e seus moradores.
ficha técnica Arquiteto: Toni Girones Localização: Salou, Tarragona/ Espanha Categoria: Apartamentos Área: 8672,00 m2 Ano do projeto: 2009
Composto por 2 blocos iguais de quatro andares (figura 64) contêm dez apartamentos em cada andar, de modo que três deles giram em direção ao traseiro e os outros sete estão alinhados com a rua. Como resultado, o bloco é dividido em duas partes e projeta os cantos e as relações entre os lados interno e externo do conjunto habitacional Entradas e espaços comunitários são percebidos como espaços de relacionamento, zonas intermediárias entre as residências e o espaço externo, a passarela como um elemento de transição, onde uma malha de aço corrugado responde às necessidades do programa (grades, treliças, varandas, irrigação gota-a-gota) com m ai o r o u m e n o r d e n s i d ad e , p e r mi t i n d o colonizações de vegetais acopladas a choupos refrescar alguns espaços que serão mais apreciados pela sua orientação nas estações quentes. O apartamento aproveita duas orientações opostas fazendo uso ventilação cruzada e delineia uma sequência transversal de espaços: passadiço, casa e terraço que conferem versatilidade e adaptação atreladas ao uso e às circunstâncias climáticas. A transição entre esses espaços contempla sua própria condição de espaço, luz e temperatura. Consiste em
Figura 64: Fachadas do edifício | Reprodução Archdaily.
CAPÍTULO
pequenos buracos na passagem que canalizam o ar, a luz e controlam as vistas; uma abertura mais ampla para o terraço (que amplia o tamanho do apartamento), composta por três partes: um degrau, um banco e um parapeito que permitem o apoio de duas posições possíveis da mesa. A proposta é construída com materiais simples, econômicos e de baixa manutenção e uma cuidadosa disposição e execução (figuras 67, 68 e 69). Conta com brises em madeira, e os materiais são mostrados como são e respondem a quaisquer funções específicas, podendo evoluir sincronicamente conforme o tempo passa, de acordo com as condições arquitetônicas e aceitando mudanças.
malha estrutural e campos visuais
setorização
5 Figura 65: Malha estrutural e campos visuais | Adaptação por Igor Pinheiro. Figura 66: Setorização | Adaptação por Igor Pinheiro.
circ. vertical
cozinha
banheiro
circ. horizontal
dormitório
VARANDA
LIVING/ESTAR
jardim
acessos
Figura 67: Fechamento em ferro galvanizado | Fonte: Reprodução Archdaily. Figura 68: Brises | Fonte: Reprodução Archdaily.
Figura 69: Varandas | Fonte: Reprodução Archdaily.
s/ escala
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
5.4 HOSPITAL SARAH KUBITSCHEK LAGO NORTE
Figura 70: Vista do Hospital Sarah | Fonte: Reprodução Archdaily.
entendendo o projeto
A
ficha técnica
Arquitetos: João Filgueiras Lima (Lelé) Localização: S/N, St. de Habitações Individuais Norte EQL 11/13 - Lago Norte, Brasília - DF, brasil. Ano do projeto: 2003 Materialidade: Metal Estrutura: Aço
obra se localiza as margens do lago, numa áre a a mpl a e a p razí ve l , o hos pi tal demandava a possibilidade de exploração de terapias ao ar livre e, principalmente, a adoção de uma significativa adoção de apoio à pesquisa e treinamento. Um único elemento dá forma ao projeto: um shed metálico curvo (figura 70), de grandes e diferentes extensões, e repetidos em dezenas de linhas paralelas. Suas varições, além do formato padrão, são uma gerada por um maior vão da estrutura de aço que o sustenta, repercutindo na maior d i me n s ã o d o s he d ; e o u t ra cri ad a p e l o fechamento do shed a partir da continuidade da sua curva, quando não há a necessidade de ventilação. As vigas da cobertura, a cada 3,75 metros, vencem o vão de 25 metros e seu desenho forma uma grande abertura central ao longo de todo o edifício. As aberturas dos sheds são acrescentadas a cada certa distância testeiras verticais pintadas de laranja, que prolongam a coberta curva, e entre elas são dispostas fileiras paralelas de brises horizontais. Assim, os ambientes internos ficam resguardados dos raios diretos do sol (figura 71).
Figura 71: Escolinha | Fonte: Reprodução Archdaily. Figura 72: Pátio e painéis de Athos Bulcão | Fonte: Reprodução Archdaily.
CAPÍTULO
O fechamento interno da abertura é feito por módulos verticais de esquadrias: veneziana metálica permitindo a completa interrupção da ventilação, mas sem privar o espaço de iluminação.
5
concepção estrutural
Figura 73: Setorização | Adaptação por Igor Pinheiro. Figura 74: Concepção estrutural | Adaptação por Igor Pinheiro.
Possui ainda o setor náutico com piscina para pacientes; Centro de Apoio à Paralisia Cerebral em formato circular com 54m de diâmetro e clarabóia além de painéis com pintura geométrica vazados internos e externos desenvolvidos pelo artista plástico Athos Bulcão (figura 72).
setorização
pilares
viga
fundação
treliça
laje
cobertura
Figura 75: Cortes esquemáticos | Adaptação por Igor Pinheiro.
cortes esquemáticos luz solar ventilação
4
s/ escala 1
legenda res. médica centro de pesquisa centro de estudos escolinha
ginásio esportes aquáticos internação serviço
pátio serviço corpos d’água playground anfiteatro/ palco flutuante
2
3
1. galpão para esportes náuticos; 2. internação e outros; 3. Centro de Apoio à Paralisia Cerebral; 4. auditório 72|73
Com a roupa encharcada e a alma Repleta de chão Todo artista tem de ir aonde o povo está Se foi assim, assim será Cantando me disfarço e não me canso De viver nem de cantar Nos Bailes da vida, de Milton Nascimento.
Figura 76: Arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Homenagem do autor aos 90 anos do arquiteto. Fotografia: Ana Ottoni.
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
6.1 JUSTIFICATIVAS PROJETUAIS CONCEITO A Habitação Social no País deve ter um olhar mais cuidadoso em seus aspectos fundamentais de concepção. Nos últimos anos, o programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida proporcionou à aproximadamente 3 milhões de famílias a oportunidade de obter a casa própria, fato de importante destaque, entretanto com investimentos em projetos de pouco valor arquitetônico. A individualidade e singularidade dos usuários nem sempre são respeitadas na contínua repetição de tipologias e espaços cada vez mais longínquos dos centros urbanos e nas construções massificadas. Se faz necessária a constituição de espaços de pertencimento e identidade aos quais os moradores possam se apropriar de seu lugar e perceber seu significado criando valores de cidadania e inclusão social intrínsecos ao projeto aliados aos ideais de verdade material, onde a materialidade se faz de forma pura e real.
PARTIDO A materialidade vista de forma clara, na estrutura em concreto e estrutura metálica aparentes e até as caixas d’água em inox a vista são alguns dos eixos de visão, além, também, da exposição de praças abertas dando continuidade ao passeio da Av. Rio Branco e da Rua dos Gusmões que convida quem passa e recebe os moradores e usuários da ala comercial e institucional, o bloco residencial com o vazio central garantindo a ventilação cruzada e as circulações às unidades
habitacionais expostas garantindo diversos pontos de visão, o conceito de “walkability” ou caminhabilidade, onde a percepção dos espaços é vista através dos trajetos percorridos e interação social, assim como os terraços abertos com canteiros para hortas e vazios que promovem a vista à cidade e integração das vizinhanças verticais, espaços de contemplação e ociosidade imprescindíveis numa metrópole como São Paulo.
ENTORNO Localizado entre a Av. Rio Branco e a Rua dos Gusmões, no bairro da Santa Efigênia em São Paulo, o entorno orienta as premissas projetuais de forma a abranger as características de densidade demográfica habitacional e os parâmetros de recuos, visto que o Decreto 57.377/2016, para Habitações de Interesse Social, estabelece que recuos frontais não são exigidos caso 50% da via não os possua, o que é o caso em ambas as vias de acesso, ou seja, a extensão da edificação com os limites frontais estabelece o a unidade formal. A região também oferece grande demanda de comércio e serviços, e com isso, para se obter uma fachada ativa é exposto no programa unidades para aluguel comercial no térreo. E ainda é exposto um sistema de bicicletário a incentivar o uso de meios de transporte ativo no local que se encontra próximo à uma ciclofaixa, na Av. Duque de Caxias.
CAPÍTULO
PROGRAMA Habitação: função do edifício de habitação social é, além de tudo, garantir um direito de moradia digna e de qualidade, mas também, articular-se com o entorno de forma plena através do valor arquitetônico que o conjunto possui e seu entorno na cidade de São Paulo. O programa conta com 5 tipologias, sendo duas delas com 3 dormitórios, duas com 2 dormitórios e uma com 1 dormitório. Os apartamentos são pensados de forma a otimizar os espaços e concentrar blocos hidráulicos com a própria unidade ou unidade vizinha mantendo padrões de economicidade e padronização de materiais. São oferecidas em algumas tipologias bancadas e bancos em concreto a fim de compor de forma simples e eficiente o layout com os materiais e sistemas do projeto. As áreas de lazer são compostas nos vazios do edifício principal, nos terraços da esquina onde encontram-se áreas de convívio com horta coletiva e a área de lazer com miniquadra de basquete e playground. Comercial: A área é constituída de 12 box's para lojas para aluguel que contam com sobreloja com o intuito de garantir a integração de fachada ativa da edificação com
TERRENO
MÁXIMO APROVEITAMENTO
CIRCULAÇÕES VERTICAIS
6
a característica comercial da área implantada e ainda assegurando a manutenção de elevadores e jardins e serviços do prédio com o valor de tais aluguéis.
Figura 77: Diagrama de Volumetria | Autoria por Igor Pinheiro.
Escola de Música: a composição no programa de espaços que garantam a integração do usuário, seja o morador do edifício ou moradores vizinhos se faz presente com a arte. No trecho da música “Nos Bailes da Vida” de Milton Nascimento, é expresso “[...] todo artista tem de ir aonde o povo está”, e com tal premissa é de grande interesse levar a arte, através da música, onde, de fato, a população está, em sua própria moradia, facilitando e democratizando o acesso e inclusão aos usuários a uma vida de qualidade cultural e social. Ao trazer a música para perto do convívio dos moradores também se obtém os benefícios que ela traz a sociedade num aspecto geral, tais como a indução ao movimento e exercícios físicos; melhoria na comunicação, por apresentar forma alternativa de organizar ideias e tempos diferentes e cadência de fala; a criação do vínculo mãe e filho, obtido ainda com a gestante e seu bebê; diminuição do estresse por pois ajuda a acalmar a mente; fortalecimento da
PRAÇA INTERNA
SUBTRAÇÃO PARARESPIROS
ADIÇÃO DE ELEMENTOS DO PROGRAMA
VOLUMETRIA FINAL
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
memória pois estimula novos caminhos e conexões cerebrais e ainda promove o autoconhecimento através da descoberta de sensações, emoções e sentimentos próprios. Sua escolha para o programa e sua localização em implantação também partiram da premissa de ocupar uma área de possível ociosidade, falta de segurança e perigo aos fundos do terreno, eliminando pontos ociosos trazendo a aglomeração cultural ao espaço. Seu acesso pode ser feito através da praça principal ou da Rua dos Gusmões pelo pórtico de apartamentos projetado sobre sua praça que em seu vazio se faz como articulador social para a música com viés de democracia, pluralidade e integração (figura 77). Conta com salas para aulas teóricas, aulas de teclado, guitarra, violão, flauta e canto coral para todas as idades.
utilizado o sistema metálico com contraventamentos afastados das esquadrias com a finalidade de se constituir os vãos livres mais esbeltos aos terraços em paralelo com a leveza dos pontos de mirada propostos e sustentando também o sistema de estruturação da fachada ventilada que propõe o uso da membrana têxtil semi translúcida. Os apartamentos contam com uma rígida malha estrutural e se modulam conforme tal necessidade, permitindo a utilização de elementos pré-fabricados.
SISTEMA ESTRUTURAL Pela premissa de economicidade foi adotado no projeto, no bloco habitacional e comercial, de 13 pavimentos, 64,8% do sistema estrutural em concreto com vedações em alvenaria pintada e concreto aparente. A escola de Música também conta com tal estrutura em 100% de sua composição por ser um prédio de 2 pavimentos de simples execução, conta ainda com fechamentos em alvenaria, vidros insulados nas salas de aula garantindo a passagem de ruídos e luz plena. Em 35,20% do bloco habitacional e comercial, ou seja, na fachada que corresponde a esquina das vias foi
Lajes em painel treliçado Pilares e Vigamento em concreto Pilares e Vigamento metálicos
Figura 78: Diagrama estrutural | Autoria por Igor Pinheiro.
CAPÍTULO
A função do edifício de habitação social em questão, vai além da moradia, se propõe também, criar um elo de valor arquitetônico entre o usuário e a cidade de São Paulo que se põe como um dos articuladores econômicos, sociais e culturais mais plurais do país. Os apartamentos contam com uma rígida malha estrutural e se modulam conforme tal necessidade, permitindo a utilização de elementos pré-fabricados. No último pavimento se localiza área técnica, que conta com as caixas d'água, distribuídas por toda a extensão da laje para um melhor aproveitamento em distribuição vertical, eliminando, ao máximo, os trajetos horizontais de perca de vazão da água. E ainda os painéis fotovoltaicos e geradores eólicos. (verificar firura 78).
MATERIAIS PREDOMINANTES E COMPOSIÇÃO VISUAL O uso da verdade material se faz presente no concreto aparente em diversos elementos como vigas, pilares, lajes, mobiliário e bancos. Também compõe os materiais as venezianas metálicas pintadas garantindo a quebra do sol e trazendo identidade a composição tanto em unidades habitacionais como na fachada principal da escola de música, a estrutura metálica exposta nas unidades habitacionais e uso da membrana têxtil semi-translúcia, que funciona como brise e fachada ventilada, garantindo conforto térmico e unidade a fachada de esquina. Esquadrias PVC de janelas em fita livres de pilares garantindo uma linearidade visual e ampliando a linha do horizonte, pontos de visão e luminosidade aos apartamentos e as esquadrias PVC “piso a teto” que criam grandes aberturas trazendo o conceito de varanda às unidades.
6
Para as fachadas em empena dos edifícios adjacentes que fazem fundo ao térreo foram estabelecidos como murais de obras arte de rua, como grafitti, trazendo a característica urbana ímpar que a cidade possui.
CONVÍVIO Foram analisados diversos pontos de convívio ao edifício, que por si só trás a mensagem de vizinhanças verticais, nas suas praças térreas onde se integram o ponto comercial, cultural e habitacional através de lugares para descanso, leitura e socialização, nos terraços que contam com bancos e floreiras para horta comunitária e ainda a área de lazer com mini quadra de basquete, arquibancada e playground para socialização de crianças e adultos. Além de toda a circulação horizontal dos apartamentos que se abre ao átrio central da praça, que não possui cobertura para uma troca agradável de ventilação e iluminação.
ACESSIBILIDADE O edifício, implantado em terreno plano conta com passeios de praça em nível e o acesso aos demais pavimentos por elevadores no bloco comercial/habitacional e na escola de música com plataforma elevatória. NBR 9050/15 – Todos os vestiários e banheiros comuns possuem área independente para o PNE para facilitar a sua mobilidade e acesso universal. Das 5 tipologias de apartamento, 3 delas possuem adaptação PNE, garantindo, na somatória total de unidades 3% destinadas a unidades acessíveis.
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ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS Direcionado aos conceitos de responsabilidade ambiental, o projeto leva em base premissas fundamentais aproveitamento de recursos naturais, conforto ambiental e e eficiência energética com base em parâmetros de certificações ambientais como o LEED, AQUA e Selo Azul da Caixa. 1. Construção e materiais: Lajes tipo painel treliçado, dispensam revestimento inferior otimizando processos, elementos modulares, materiais não poluentes ou recicláveis, economia na mão de obra e tempo de montagem. 2. Energia: Iluminação natural no átrio central, diminuindo o uso de iluminação nas unidades e circulação de iluminação artificial. Uso de painéis fotovoltaicos para aquecimento de água, iluminação de áreas comuns em led com temporizador, sensores de presença. Uso de geradores eólicos residenciais, potencializando a produção energética quando não há sol e na presença de ventos de chuva. 3. Água: Redução do consumo de água através da captação de águas pelo piso drenante elevado do terraço superior e sua reutilização em manutenção predial e irrigação de jardins. 4. Conforto Ambiental: Fachada ventilada fixada através de armação de alumínio ancorada na estrutura metálica por placas revestidas de membrana têxtil semi translúcida, material que inibe a poluição atmosférica e a incidência solar direta tornando-a mais difusa gerando maior conforto. O uso da ventilação cruzada e o efeito chaminé pelo átrio central. Janelas piso a teto no aproveitamento de iluminação natural. Lajes projetadas a 60cm e venezianas metálicas para proteção solar e de chuvas.
eficiência energética recursos hídricos
668 .0 37 l d e á g u a p l u v i a l c a p ta d o s p o r a n o
geração de energia limpa
29.537 kwh gerados anualmente
impacto anual
422.692 kg
de co
2
reduzidos na pegada de carbono
equivalente a
3.019
á r v o r e s
p l a n t a d a s
*REDUÇÃO DE CONSUMO ENERGÉTICO COMPARADO A TIPOLOGIA ISENTA DE SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS/BIOCLIMÁTICAS
CAPÍTULO
NBR 9077/01 – SAÍDAS DE EMERGÊNCIA EM EDIFICIOS E INSTRUÇÃO TÉCNICA 11 – CORPO DE BOMBEIROS
6
adensamento
Atentando às normas vigentes em relação as saídas de emergência, foram adotadas, como pede-se, para a categoria em questão, Habitação, em Habitações multifamiliares (A-2), duas escadas de emergência do tipo “Escadas enclausuradas protegidas (EP)”, que dispensam antecâmara e dutos de saída de ar, e que se faz necessária a adoção de ventilação permanente por janelas de, no mínimo, 0,80m², admitindo-se, no máximo 0,40cm do teto no piso de patamar. Como é visto na NBR 9077/01: Em edificações de ocupação do grupo A - divisão A-2, área de pavimento “N” (menor ou igual a 750 m²), altura acima de 30 m, contudo não superior a 50 m, a escada poderá ser do tipo EP (Escada Enclausurada Protegida), sendo que acima desta altura (50 m) permanece a escada do tipo PF (Escada Enclausurada à Prova de fumaça).
No caso das portas de acesso, segundo o cálculo, no pavimento com o maior número de população, no cálculo N=P/C, onde “N” é o número de unidade de passagem, sempre arredondada para o maior valor inteiro acima, “P” a população, e “C” a capacidade da u ni da d e d e pa s s a g em , co nfor me ta b el a , foi estabelecido N= 92/100 = 0,92, ou seja, a unidade de passagem igual a 1,00m. Os corredores de circulação horizontal do edifício residencial possuem 1,50 de largura, pois, também, conforme norma N=92/60 = 1,48 ou seja, unidade de passagem igual a 1,50m.
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o familistério de godin A proximidade do projeto com a obra de Godin é vista, de fato, em suas linhas mais claras no ponto de vista arquitetônico. O Familistério (figura 79) foi uma tentativa de aplicação dos ideais socialistas na cidade de Guise, no norte da França, inspirado nos falanstérios, locais onde viviam e trabalhavam a população assalariada, concebida como uma organização em comunidade. Jean-Baptiste Godin, cria então, o Familistério de Guise, na intenção de aplicar tais ideais socialistas, em 1859, num terreno de 18 hectares construindo um verdadeiro complexo arquitetônico de habitação para os operários, que viria o chamar anos a frente de Palacio Social. O Familistério dura até 1968 e se torna um exemplo de sucesso, com apoio até de Friedrich Engels, que considerava a empreendimento o que único em questão que obtivera sucesso. Godin era, de fato, um higienista convicto, então a s s e g u ra a o Fa m i l i s t é r i o o q u e c h a m a d e “equivalentes à riqueza”, fazendo referência aos aspectos que a burguesia obtinha pelo trabalho do proletariado em questão, que eram luminosidade, circulação de ar nos apartamentos, acesso a agua potável em cada piso, criação de lavanderia para lavar e secar roupa, chuveiros e piscina com prancha móvel para o lazer das crianças. Assim como o projeto esclarecido do Familistério, a proximidade com a habitação social deste trabalho também se dá, além da conformação de salubridade e qualidade de vida ao usuário, que por muitas vezes é
Figura 79: Pátio Central: Familistério de Godin | Fotografia por: Longanime. Figura 80: Corte e Planta do Familistério de Godin | Reprodução: Enlace Arquitectura.
CAPÍTULO
deixada de lado por questões de quantidade e massificação, a própria vida em comunidade também deve ter sua importância colocada em pauta, assim, nos dois projetos, expostos com uma circulação dentro de um átrio central (figura 80) coloca a vizinhança vertical em contato, uma vida em comunidade que se baseia na socialização dos públicos e no lazer que lhes é oferecido de forma simples e eficaz, como exemplifica, Guerrand, 1991:
6 Figura 81: Diagrama de Setorização | Autoria por Igor Pinheiro.
Tabela 3: Áreas construídas | Autoria por Igor Pinheiro.
[...] colocar a família do pobre em uma moradia cômoda; cercá-la de todos os recursos e de todas as vantagens da residência do rico; fazer com que a habitação seja um lugar de tranqüilidade, diversão e repouso; substituir, por instituições comunitárias, os serviços que o rico extrai da criadagem.
ÁREAS CONSTRUÍDAS TÉRREO (M²) 1º PAV. (M²) TOTAL (M²)
TOTAL (%)
ESCOLA DE MÚSICA
529,18
282,68
811,86
7,22
COMERCIAL
566,19
538,26
1104,45
9,38
HABITAÇÃO
9328,88
82,95
11.245,19
100
TERRENO: 3852,47M² (APÓS REDUÇÃO PARA BOLSÃO DE VAGAS) C.A.: 3,0 T.O.: 0,7 T.P.: 0,05
habitação escola de música convívio/lazer comercial circ. vertical
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UNIDADES HABITACIONAIS
ESCALA 1:100
ESCALA 1:100
ESCALA 1:100
CAPÍTULO
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ESCALA 1:100
ESCALA 1:100
UNIDADES HABITACIONAIS VERSÃO PNE
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MODELAGEM 3D 80 |81
Visão da praça do átrio central. Um espaço de convívio e relação harmônica com o entorno e o programa.
Visão do terraço intermediário. Convívio aos moradores do prédio com bancos e hortas e visão para a cidade.
CAPÍTULO
6 Figura 82: Renderização | Autoria por Igor Pinheiro. Figura 83: Renderização | Autoria por Igor Pinheiro. Figura 84: Renderização | Autoria por Igor Pinheiro.
Visão do vão livre e praça do átrio central. Frescor a sombra e vazio que p ro m ove a i nt era ç ã o social e urbana.
Figura 85: Renderização | Autoria por Igor Pinheiro.
Visão da praça da escola de música. Amplo espaço em harmonia com o conjunto e recepção aos alunos, conta ainda com bicicletário.
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HABITAÇÃO SOCIAL NO CENTRO DE SÃO PAULO COM FOCO EM DESEMPENHO AMBIENTAL
Visão da circulação das unidades residenciais. Espaço com vista em 360º para o átrio central, ventil ação cruzada e iluminação natural.
Visão posterior do edifício e área de lazer. Espaço para recreação em nível intermediário ao edifício, promovendo maior interação, comodidade e segurança ao usuário.
CAPÍTULO
6 Figura 86: Renderização | Autoria por Igor Pinheiro. Figura 87: Renderização | Autoria por Igor Pinheiro. Figura 88: Renderização | Autoria por Igor Pinheiro.
Visão da área de lazer. Espaço com miniquadra d e b a s q u e t e e arquibancada.
Figura 89: Renderização | Autoria por Igor Pinheiro.
Visão do pátio da escola de música. Integração e convívio de alunos.
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pórtico da praça da escola de música visto da rua dos gusmões
CAPÍTULO
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visão do edifício da esquina da Rua dos Gusmões com Av. Rio Branco
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Na muralha, em pé, mais um cidadão José. Servindo o Estado, um PM bom. Passa fome, metido a Charles Bronson. Ele sabe o que eu desejo. Sabe o que eu penso. O dia tá chuvoso. O clima tá tenso. Vários tentaram fugir, eu também quero. Mas de um a cem, a minha chance é zero. Será que Deus ouviu minha oração? Será que o juiz aceitou a apelação? Diário de Um Detento de Racionais MC’s
Figura 92: Ocupação do Largo Paissandu antes do Incêncio. Fotografia por Lidiane Maciel.
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CAPÍTULO
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