Revista Práxis

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Nilo Peçanha – IFPB, campus João Pessoa

R 454

Revista Práxis : saberes da extensão.– Ano 1, n. 1 (set./2013). – João Pessoa : Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, 2013136 p. : il. , 20x26 cm. Semestral (setembro e março). ISSN 2318-2369

1.Ciência e conhecimento. 2. Educação. 3. Comunicação. 4. Cultura. 5. Meio ambiente. I. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB. II. Pró-Reitoria de Extensão. CDU 001

Catalogação na publicação: Lucrécia Camilo de Lima – CRB 15/132 Os textos publicados na Revista Práxis: Saberes da Extensão são de inteira responsabilidade de seus autores.


Saberes da Extensão

COMITÊ EDITORIAL

Portaria N° 1409/2013-Reitoria de 11 de junho de 2013

PRESIDENTE MEMBROS

REVISORA Ad hoc JORNALISTA RESPONSÁVEL

Marileuza Fernandes Correia de Lima Adriana Sales Barros Ana Carolina de Araújo Abiahy Arilde Franco Alves Deyse Morgana das Neves Correia Golbery de Oliveira Chagas Aguiar Rodrigues João Ricardo Freire de Melo José Robson do Nascimento Santiago Joserlan Nonato Moreira Kelly Samara do Nascimento Silva Márcia Maria Costa Gomes Maria Edelcides Gondim de Vasconcelos Rosemary Ramos Rodrigues Ruth Amanda Estupinan Tristancho Sandra Cristina Santos Alves Tânia Maria de Andrade Tarcísio Duarte da Costa Olga Sueli Bezerra Filipe Francilino de Sousa DRT - 1051

SECRETÁRIA

Jeudi Brito de Lemos

CAPA, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Luzivan José da Silva

CONTATO

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba Comitê Editorial - Pró-Reitoria de Extensão Rua das Trincheiras, 275 - Centro - 58.011-000 - João Pessoa-PB Fone: (83) 2107 - 4313 www.ifpb.edu.br/revistapraxis - revista.praxis@ifpb.edu.br


Saberes da Extensão - Edição Semestral. Ano I - Nº 1 Setembro/2013

Reitor do IFPB João Batista de Oliveira Silva Pró-Reitora de Extensão Maria Edelcides Gondim de Vasconcelos Diretor de Gestão das Guilherme Marconi Gomes de Brito Atividades de Extensão DIRETOR DE EXTENSÃO Alexandre Urquiza de Sá TECNOLÓGICA E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS Comitê de Extensão do IFPB Maria Edelcides Gondim de Vasconcelos – Presidente Guilherme Marconi Gomes de Brito – Representante da Pró-Reitoria de Extensão Olga Sueli Bezerra – Representante da Pró-Reitoria de Extensão Maria de Fátima Dantas Carneiro Souto – Secretária do Comitê de Extensão Keitiana de Souza Silva – Campus Cabedelo Wilza Carla Moreira Silva – Campus Cajazeiras Márcia Maria Costa Gomes – Campus Campina Grande Rivânia de Sousa Silva – CRPNM Ramon Cunha Montenegro – Guarabira Tânia Maria de Andrade – Campus João Pessoa Ebenézer Lourenço Ferreira Vaz – Campus Monteiro Hanne Alves Bakke – Campus Patos Jandeilson Alves de Arruda – Campus Picuí Carlos Alberto Nóbrega Sobrinho – Campus Princesa Isabel Joserlan Nonato Moreira – Campus Sousa Valdeci Ramos dos Santos – Superintendente da Fundação de Educação Tecnológica e Cultural da Paraíba

Ministério da Educação


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Sumário

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Apresentação

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Editorial

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Extensão em Debate: Entrevista com a Pró-Reitora de Extensão do IFPB Maria Edelcides Gondim de Vasconcelos Área Temática Educação

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Ampliando competências profissionais através de um projeto de extensão: relato de uma experiência do IFPB Maria de Fátima Silva Oliveira, Lídia Cunha Soares Experiências vivenciadas na comunidade da Vila Santa Maria em Monteiro-PB Jéssica Maria de Sousa, Michele Aparecida G. Libano, Eugênia Alves Leite, José Rodrigo Pinto Leite, Dimas Brasileiro Veras, Iracira José da Costa Ribeiro Área Temática COMUNICAÇÃO

36

A WebTV como ferramenta estratégica da assessoria de imprensa institucional Juliana Gouveia de Amorim Nunes Educação Digital: uma necessidade contemporânea Lourdes Sales de Macedo, Maria de Fátima Dantas Carneiro Souto, Edivania Elisa de Figueiredo, Luiz Januário Torres da Silva Filho


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Os aspectos da violência na mídia televisiva Heranir Fernandes de Oliveira Relato de experiência em monitoria no projeto de inclusão digital do IFPB-CG Kerilin Laine Andrade Chang, Márcia Gardênia Lustosa Pires SALA DE LEITURA: despertar virtual Lourdes Sales de Macedo, Maria de Fátima Dantas Carneiro Souto, Gicarla Maria Clemente Santos, Ridete Helena Cardoso Coutinho Área Temática CULTURA

85

A “arte de fazer” carne de sol em Picuí-PB: do patrimônio imaterial ao turismo gastronômico Paulo de Oliveira Nascimento Perfil socioeconômico do Programa Mulheres Mil IFPB - Campus Monteiro: expressão da questão social Ana Paula de Andrade Rocha Arnaud, Fabiana Pereira Sousa Área Temática meio ambiente

111

Eficiência Energética no IFPB – Campus Cajazeiras: um estudo do sistema luminotécnico Eritania Fernandes da Cruz, Leonardo de Lira Silveira, Nádia Camila de Sousa de Freitas, José Kleber Costa de oliveira Relato Sobre o Projeto de Apoio e Acompanhamento à Implantação da Coleta Seletiva no Bairro de Intermares, Cabedelo – PB Rogério Silva Bezerra, Valéria Camboim Góes, Cristine Helena Limeira Pimentel

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2° Encontro de Extensão do IFPB A Extensão para além dos Programas, Projetos, Cursos, Eventos Pró-Reitora de Extensão do IFPB Mª Edelcides Gondim de Vasconcelos

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Autores


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Apresentação A prática do Extensionismo é a socialização do que aprendemos ensinando e fazendo o que aprendemos numa relação dialógica da Instituição com os diver-

Com base na afirmativa acima, o IFPB apresenta mais um instrumento de informação. Refiro-me à Revista Práxis: “Saberes da Extensão”, que, orgulhosamente, apresentamos sob a forma de coletâneas de artigos os quais retratam a prática do nosso dia a dia, via saber sistematizado e posto em prática nos nossos câmpus, conforme elenco constituinte nesta publicação. Vivemos na era do conhecimento, e o nosso país tem pressa. Prova dessa urgência tem-se visto no grande investimento que o Governo Federal vem fazendo na Área de Educação, em todos os níveis e modalidades. Que o digam os Institutos Federais nessa fantástica e necessária expansão na Educação Profissional Científica e Tecnológica nos últimos dez anos. Nessa seara o IFPB faz a sua parte, crescendo capilarmente no nosso Estado e presente nas doze regiões geoadministrativas, consolidando ações de Ensino, Pesquisa e Extensão de forma indissociável. Nesta perspectiva, este editorial de periodicidade semestral retratará conhecimentos de natureza pública, tornando-se mais um instrumento dialético, cultural e tecnológico para a difusão da nossa práxis extensionista. Sua essência comprova a abertura de espaços para o acesso à profusão acadêmica de nossa eficiente comunidade - servidores (docentes e técnicos administrativos) e discentes em fase de conclusão de cursos que brilhantemente se integram a Projetos de Extensão Comunitária. Entendam-se nossas Atividades de Extensão como sendo a inserção da Instituição na comunidade, ou, muito além dos nossos muros fronteiriços, sua caminhada - prefiro dizer - rumo ao encontro dessa comunidade. Este periódico é, sem sombra de dúvidas, um fórum privilegiado de publicação, sensível à discussão de temas operacionais e de interesses sócio-políticos. Reconhecemos em seu cerne o mérito dos idealizadores, almejamos a perenidade desta feliz ideia e a crescente adesão de novos participantes, profetizando - se me permitem o termo - desde então, a valorização cultural e histórica deste veículo dialógico que tem, entre outros objetivos, publicizar os Saberes da Extensão do IFPB. A todos uma boa e proveitosa leitura.

Prof. João Batista de Oliveira Silva Reitor do IFPB

07 | Apresentação

sos segmentos sociais.


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Editorial A criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, no espaço da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, foi fundamental para a construção de políticas de extensão como proposta de articulação indissociável entre ensino e pesquisa no contexto das relações com a sociedade. A extensão se configura como um ato educativo para estabelecer a troca e a interação entre saberes formais e informais, permitindo a produção de conhecimentos interdisciplinares e transformadores nos aspectos sociais, econômicos ou culturais. A construção desse ambiente de relações dialógicas entre educação, ciência e tecnologia e a coletividade contribui para promover o desenvolvimento do bem-estar físico e social, garantindo a igualdade de direito de acesso ao conhecimento produzido coletivamente. Essa produção, assim como o seu modus operandi, se constitui em um patrimônio social cujo alcance extrapola a área de ação específica. É nesse sentido que emerge no cenário acadêmico a Revista PRÀXIS: SABERES DA EXTENSÃO, com o objetivo não só de divulgar atividades de extensão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, mas também de servir como um veículo de intercâmbio e disseminação de práticas extensionistas no campo acadêmico brasileiro. Resultado de discussões, análises e permutas de experiências interdisciplinares, a Revista PRÀXIS: SABERES DA EXTENSÃO surgiu de um esforço coletivo de professores e técnicos que atuam, direta ou indiretamente, em projetos oriundos de demandas sociais, os quais envolvem a formação e a qualificação do alunado para a vivência plena da cidadania. Aberta à comunidade acadêmica brasileira através de edital de submissão de artigos, a revista traz, neste primeiro número, onze artigos nas áreas de educação, comunicação, cultura e meio ambiente. Todavia, mais que trabalhos acadêmicos, traz a perspectiva de um novo espaço semestral de divulgação e disseminação de ações sintonizadas com um processo transformador, emancipatório e democrático da educação tecnológica.

08 | Editorial

Comitê Editorial


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Extensão em Debate

09 | Entrevista

Entrevista com a Pró-Reitora de Extensão do IFPB Maria Edelcides Gondim de Vasconcelos concedida à Jornalista Ana Carolina Abiahy


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Professora Edelcides Gondim É graduada em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Paraíba, mestre em Avaliação de Impacto Ambiental pela Universidade Pais de Gales /Aberystwyth e doutoranda pela UFRGS. Desde a transformação em Instituto, assumiu a Pró-Reitoria de Extensão. Tem experiência na área de recursos hídricos e resíduos sólidos.

PRÁXIS: Quando a atividade de extensão iniciou nas instituições de ensino? Como é a sua trajetória no Brasil? As primeiras experiências de extensão, no âmbito das instituições de ensino, surgiram na Inglaterra, na segunda metade do século XIX, vinculadas à ideia de educação continuada. Os cursos eram destinados não apenas às pessoas de baixa renda, mas a toda a população adulta que não se encontrava na universidade. Anos depois, surgiu o modelo de extensão norte-americano caracterizado pela prestação de serviços. No Brasil, a prática da extensão tem início entre 1911 e 1917 na Universidade Aberta de São Paulo, com atividades de extensão em cursos e conferências abertos ao público, baseados no modelo europeu. Atividades inspiradas no modelo norte-americano também foram desenvolvidas, como exemplo a Universidade de Viçosa, na forma de assistência técnica aos agricultores.

10 | Entrevista

Em 1931, o Estatuto da Universidade Brasileira, Decreto nº 19.851, coloca além dos cursos úteis à vida individual e coletiva, soluções para os compromissos sociais e a propagação de ideias de interesse nacional. Na década de 60, marcada pela mobilização popular, as atividades de extensão passam do enfoque da difusão do conhecimento para a inserção na realidade social, econômica e cultural do país. Entre 1960 e 1964, a União Nacional dos Estudantes (UNE) começa a difundir a ideia de que as universidades deveriam estar atentas aos problemas das comunidades. A Reforma Universitária de 1968, baseada na Lei de Segurança Nacional, rompe o espaço de diálogo das universidades com as comunidades. O debate sobre extensão é, portanto, prejudicado pela Ditadura Militar e somente na década de 1980 volta a ganhar força culminando, em 1987, com a criação do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas, ambiente de debate, de produção de documentos e de articulação da política de extensão brasileira. O artigo 207 da Constituição Brasileira de 1988 dispõe que “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Assim, definiu-se que as funções bases que sustentam o saber universitário devem ser equivalentes, merecedoras do mesmo tratamento por parte das instituições de ensino superior.


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Nos documentos que tratam da história das instituições de ensino, ficam evidentes três momentos bem definidos e expressivos da trajetória da extensão no Brasil: uma primeira fase em que o corpo discente, representado pela União Nacional dos Estudantes, assume essa prática no seu formato cultural, socializador e político; o segundo momento, tomado pela representação do governo como uma prática assistencialista; e um terceiro momento, em construção ainda, em que as próprias instituições de ensino têm buscado construir uma prática extensionista na perspectiva de um processo educativo e articulado com a sociedade. PRÁXIS: Particularmente, no IFPB, como foi vivenciada a extensão durante a sua trajetória centenária?

O Departamento de Apoio e Extensão, setor responsável pela extensão na ETFPB, oferecia mais apoio estudantil que extensão. Restaurante, serviço médico e odontológico, biblioteca e bolsa de trabalho para os alunos eram assuntos tratados no DAE. A instituição reconhecia como extensão cursos para a comunidade, de forma voluntária ou através de convênios. Outras ações de extensão pontuais aconteciam de forma esporádica. A transformação da ETFPB em Cefet-PB, com a criação de unidades descentralizadas, a oferta dos cursos superiores e a entrada de professores com pós-graduação, estimulou a pesquisa sem relação ou repercussão proporcional nas ações de extensão. No Cefet-PB, a extensão ficou sob a responsabilidade da Diretoria de Relações Empresariais e Comunitárias (Direc), que posteriormente tornou-se Diretoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Deac). Surgem, então, projetos de extensão como a Escola de Fábrica e a Casa Brasil; o financiamento para a criação da Incubadora Tecnológica de Empreendimentos Solidários (Incutes), é concedido pela Finep; e se iniciam os editais de bolsas para alunos no desenvolvimento de projetos de extensão. Em 2008, a Lei n° 11.892 cria a Rede Federal de EPCT (Educação Profissional, Científica e Tecnológica), que prevê aos Institutos Federais atividades de extensão em articulação com o mundo do trabalho e os

11 | Entrevista

Podemos relacionar que as atividades desenvolvidas inicialmente na então Escola de Aprendizes Artífices mantinha características de extensão ao “assistir aos desvalidos da sorte”, uma perspectiva, na época, de oportunidade de formação para a inclusão social. Enquanto Escola Técnica, a instituição foi reconhecida pela credibilidade na oferta de ensino técnico, uma formação na qual a teoria e a prática profissional andavam muito próximas. Nesse contexto, algumas atividades de extensão aconteciam, como as visitas técnicas e gerenciais, que oportunizaram aulas práticas e estágios; as semanas desportivas e culturais (Semadec), quando as salas de aula e os laboratórios cediam lugar à Av. Primeiro de Maio com desfiles dos estudantes sob o olhar de um jurado externo que elegia os cursos vencedores. Guardando as devidas proporções, o ambiente de desfile se assemelhava à Avenida Marquês de Sapucaí. Competições esportivas e culturais davam continuidade à Semadec e oportunidade de crescimento pessoal ao nosso alunado.


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segmentos sociais, com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos. A Lei dá uma nova dimensão à extensão para os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e uma missão muito mais integrada com o desenvolvimento e as necessidades da sociedade. PRÁXIS: Qual o panorama da extensão, hoje, no IFPB? Quantos projetos, programas, servidores (professores e técnico-administrativos) e estudantes estão envolvidos com a extensão? O que temos em registros não reflete exatamente o panorama da extensão no IFPB, uma vez que ainda não conseguimos compilar tudo que praticamos. Momentos como o Encontro de Extensão do IFPB (Enex) têm demonstrado que alguns projetos são apresentados e não registrados. Precisamos evoluir no registro, pois temos a perspectiva de que em 2014 ele seja o indicador da matriz orçamentária para a extensão em cada IF. Em 2012, tivemos, pelo Programa Institucional de Bolsas de Extensão (Probext), 127 projetos aprovados, entre servidores e discentes. Cada um desses projetos tem, pelo menos, um servidor envolvido como coordenador e a participação de discentes bolsistas e voluntários. O Programa Educação Digital (PED) tem a participação de alunos do IFPB como monitores e a oferta de cursos à comunidade em todos os câmpus; a Incutes tem apoiado grupos produtivos com base em economia solidária; e o Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Dependência Química (Netdeq) está com perspectiva de capacitação de seiscentos profissionais, através do Centro Regional de Referência para formação permanente dos profissionais que atuam junto aos usuários de crack e outras drogas e seus familiares, projeto aprovado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, do Ministério da Justiça.

12 | Entrevista

Temos ainda projetos que são realizados de forma voluntária, cursos de extensão, eventos, visitas técnicas e prestação de serviços como dimensões para atividades de extensão. Através de programas como o Pronatec e o Mulheres Mil, tem crescido a oferta, por todos os câmpus, de cursos na modalidade FIC. A perspectiva é que estes cursos sejam ofertados para 10.000 alunos em 2013, atendendo a uma população crescente entre mulheres em situação de vulnerabilidade, beneficiários de bolsa de transferência de renda e do seguro desemprego, jovens em medida socioeducativa e alunos da rede pública estadual. PRÁXIS: Quais são as principais linhas de atuação da extensão no IFPB? O IFPB, como os demais institutos, tem trabalhado a extensão nas áreas temáticas definidas pelo Fórum dos Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas: comunicação, cultura, direitos humanos e justiça, educação, meio ambiente, saúde, tecnologia


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e produção, e trabalho. O lançamento dos editais para chamada a programas e projetos de extensão do IFPB prevê a associação a uma das oito áreas temáticas e a uma linha de extensão prevista na área identificada. PRÁXIS: A extensão ainda precisa ser mais valorizada nas instituições de ensino? Vemos mais engajamento de professores em projetos de pesquisa. Quais as dificuldades para superar isso e tornar o tripé ensino, pesquisa e extensão mais equilibrado?

13 | Entrevista

A pós-graduação é um grande estímulo para o engajamento em projetos e em grupos de pesquisa. Ninguém termina uma pós-graduação, seja lato sensu ou stricto sensu, sem ter vivenciado uma pesquisa e a busca por titulação termina sendo uma política de indução à pesquisa. Numa instituição como a nossa, que nasce sob a égide da indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, precisamos ter, como política institucional, a pesquisa-ação em todos os níveis de ensino, na qual o pesquisador está envolvido no problema que detectou e participa de sua solução. De uma pesquisa pode nascer uma ação imediata, seja com tecnologias sociais ou para soluções do mundo produtivo, com uma ação de extensão decorrente do projeto de pesquisa proposto. Ações de extensão poderão retroalimentar o ensino e a pesquisa. Nessa perspectiva o ensino, a pesquisa e a extensão precisam estar sintonizados com os contextos e as necessidades das localidades e regiões onde a instituição estiver inserida.


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PRÁXIS: É possível dimensionar o crescimento, em termos de investimento, nas políticas de extensão do Governo Federal? Muitas das propostas de financiamento da extensão, como o Programa Nilo Peçanha da Rede Federal de EPCT, o Josué de Castro no âmbito da SESu ou o Projeto de Lei n° 7.394, para financiamento da Extensão Tecnológica, ainda não se efetivaram. O que de fato tem financiado a política de extensão é, além dos recursos institucionais, o Edital Proext, no âmbito do MEC/SESu, que a cada ano tem conseguido a adesão de mais ministérios e secretarias e ampliado não só os recursos, mas as áreas de extensão financiadas. PRÁXIS: Qual o diálogo que os projetos e programas de extensão do IFPB têm com outras esferas do poder público, como estado e municípios, ou até mesmo outros Ministérios, além do MEC? Vemos que muitas ações que iniciam em projetos de extensão poderiam lançar bases para programas permanentes de atendimento à população. Talvez o maior exemplo de diálogo de programas e projetos com outras esferas esteja naqueles aprovados pelo Edital Proext Apesar de se tratar de uma iniciativa do MEC, esse Edital envolve praticamente todos os ministérios e secretarias, que investem seus recursos nas propostas que contribuem com a sua política de atuação. No Edital Proext tem prioridade o financiamento de programas, pela característica de continuidade, com atuação em médio e longo prazo, o que poderá lançar bases para a permanência e atendimento à população. No IFPB, precisamos avançar no diálogo não só com outras esferas do poder público, mas com o setor privado, o mundo produtivo. Precisamos possibilitar a prestação de serviços, em consultorias e assessorias, que contribuam com o desenvolvimento econômico, local e regional, sintonizados com os arranjos produtivos. A oferta do mestrado profissional poderá aproximar o contato entre a academia e as empresas, com a concessão de bolsas aos estudantes para o desenvolvimento das demandas do setor produtivo.

14 | Entrevista

PRÁXIS: A crescente valorização do voluntariado e da atuação em ONGs é um primeiro passo para o despertar das atividades de extensão no Brasil? Muitas ONGs têm atuação em áreas em sintonia com as atividades de extensão ‒ direitos humanos, por exemplo. O voluntariado tem a perspectiva de atuação em demandas sociais. São, geralmente, ações que têm sintonia e objetivos semelhantes aos praticados pela extensão nas instituições de ensino. Parcerias com ONGs que têm suas atividades reconhecidas e consolidadas e a crescente valorização e participação do voluntariado poderão potencializar as atividades de extensão desenvolvidas pelas instituições de ensino no Brasil.


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PRÁXIS: Ainda faltam estudos e reflexões sobre a prática da extensão no Brasil? Que obras poderiam nortear aqueles que pretendem ingressar nessa área? Não se pode falar em extensão sem se referir às obras de Paulo Freire, sua visão do potencial libertador e transformador da educação para uma sociedade mais justa e solidária. Mas muitos outros contribuem e já contribuíram com estudos e reflexões sobre a prática da extensão, como André Morin, Michel Thiollent, Boaventura Sousa Santos. Não se pode deixar de falar nas mais de 200 teses e dissertações concluídas, constantes na base de dados da Capes, que tratam da extensão e contribuem para a sua prática. O Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas (Forproex), criado em 1987, desde então tem se reunido e elaborado documentos que servem de referência e norteiam as ações de quem está ou pretende ingressar na prática da extensão, disponibilizados no site da Rede Nacional de Extensão (www.renex.org.br). Nesse sentido, o Fórum de Extensão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica já elaborou um documento que trata das diretrizes da Política de Extensão da Rede. No entanto, tudo que se produz e que possa ser subsídio para a prática da extensão precisa ser constantemente atualizado, adequado às necessidades do momento político, econômico, social e cultural de uma comunidade onde se pretende implantar a prática da extensão. A perspectiva transformadora e dialógica da extensão sempre anseia por novos estudos e reflexões. PRÁXIS: Por fim, que papel a extensão pode desempenhar em um país como o Brasil, onde o alcance da cidadania ainda é um caminho tão difícil?

15 | Entrevista

Precisamos que as instituições de ensino se tornem instituições de educação que fazem ensino, pesquisa e extensão de forma indissociável e sem hierarquização. Instituições de educação comprometidas com a formação de profissionais cidadãos, humanizados, sintonizados e preparados para que, no desempenho de suas funções, contribuam com a construção de uma sociedade que promove a sustentabilidade, a solidariedade, a cidadania e a justiça social.


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AMPLIANDO COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS ATRAVÉS DE UM PROJETO DE EXTENSÃO: relato de uma experiência do IFPB EXPANDING PROFESSIONAL SKILLS THROUGH AN EXTENSION PROJECT: report of an experience of IFPB Maria de Fátima Silva Oliveira; Lídia Cunha Soares Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB/Campus João Pessoa mafasioliver@hotmail.com; lidiacsoares@gmail.com RESUMO: Este trabalho tem como objetivo relatar uma experiência de desenvolvimento de competências profissionais através da realização de um projeto de extensão desenvolvido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) para uma comunidade cristã localizada no bairro bancários de João Pessoa. O projeto, desenvolvido por um período de um ano, teve como objetivo geral aprimorar o perfil profissional da população atendida. Os objetivos específicos incluíram desde o levantamento das necessidades de capacitação específica, até a avaliação dos resultados dessa capacitação. O método incluiu pesquisas de interesse e necessidades, atividades de planejamento, divulgação e realização de atividades de capacitação, assim como avaliação sistemática e uma pesquisa aplicada aos participantes para levantamento dos resultados obtidos. Tais resultados comprovam que o uso da extensão pelo IFPB, como instrumento de desenvolvimento de competências e aprimoramento profissional, garante mais uma via de acesso a seu processo de educação para o trabalho, assegurando a inclusão de grupos antes jamais atendidos. Também comprovam que os indivíduos atendidos pelo projeto ampliaram suas percepções de mercado de trabalho, rede de relacionamentos, e autocritica dentre outros aspectos que comprovam o crescimento do perfil profissional destes indivíduos.

ABSTRACT: This article has the purpose of report an experience of development of professional skills through the execution of an extension project developed by the Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) to a Christian community located at Bancários district in the city of João Pessoa. The project developed for a period of one year, aimed to enhance the professional profile of the population served. Specific objectives included since the survey of training needs specific to the evaluation of the results of this training. The method included research interests and needs, planning activities, dissemination and implementation of training activities, as well as systematic evaluation and applied research participants to the survey results. These results prove that the use of extension at IFPB, as an instrument of development of skills and professional upgrade, guarantees one more way of access to the process of education to the work, assuring the inclusion of groups never attended before. They also prove that the used extension model is potent to assure

17 | Educação

PALAVRAS-CHAVE: competências, perfil profissional, extensão.


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to the individuals the extension of their market perceptions, relationship network and self-criticism, besides other aspects that prove the growth of the professional profile of these individuals. KEY-WORDS: skills, professional profile, extension.

1. Introdução É fato notório que o homem social necessita do trabalho não só por questões de subsistência, mas para desenvolver-se e crescer como ser humano. E para “ter” e “poder ter” esse trabalho o mercado laboral exige do individuo capacidades e competências que o qualificam ao desempenho de determinadas práticas laborais. Mais ainda, o fato de se possuir apenas habilidade e competências técnicas tornou-se insuficiente para o exercício de atividades laborais no mercado moderno. “Os modelos evoluem, desse modo, para posturas mais participativas, que buscam envolver o trabalhador nas decisões da empresa” (ALVIM, 2006, p. 124). As organizações não desejam

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apenas profissionais que saibam operar máquinas, manusear papéis, ou cumprir ordens expressas. Elas desejam pessoas que saibam tomar decisões, que conheçam as novas mudanças do mercado mundial, que se relacionem adequadamente, enfim uma série de competências que vão mais além das competências técnicas. Neste trabalho relatamos o desenvolvimento de uma experiência positiva demonstrando que a prática de atividades de extensão voltadas para a capacitação de indivíduos para o trabalho amplia significativamente o alcance das organizações de ensino profissional, como é o caso do Instituto Federal de Educação e Tecnologia da Paraíba (IFPB), atingindo determinados estratos sociais da população, que de outra forma não teria acesso a essa capacitação. O objetivo geral da atividade de extensão relatada nesse trabalho, foi aprimorar o perfil profissional de um grupo de frequentadores de uma comunidade cristão sediada no bairro do bancários em João Pessoa. Os objetivos específicos incluíram desde o levantamento das necessidades de capacitação específica, até a avaliação dos resultados dessa capacitação. Dentre alguns desses resultados identificamos que aqueles indivíduos que participaram efetivamente do programa conseguiram melhorar os conhecimentos sobre os temas, o desenvolvimento de habilidades humanas e a sua capacidade crítica. 2. Referencial teórico A competência é considera como uma palavra de senso comum, que é utilizada para reconhecer a qualificação de uma pessoa para a realização de algo determinado. Inclusive a ausência de determinadas competências por um individuo pode indicar a sua marginalização do mercado de trabalho e do reconhecimento social (FLEURY; FLEURY, 2001, p.184). Neste sentido o termo


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aspectos de caráter não tecnicista. Fleury e Fleury (2001, p.188), definem competência como “um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. Os verbos inseridos nesse conceito agregam entre outros conceitos: saber decidir, criar sinergia, transmitir informações, conhecimentos, saber desenvolver-se, saber empreender, ser responsável, e conhecer e entender o ambiente das organizações. Como se vê o conceito de competência profissional atual é mais amplo que a simples relação entre a execução e a tarefa descrita por manuais organizacionais. A evolução do conceito de competência cresceu na mesma proporção que as mudanças do mercado de trabalho, provocadas pelas mais distintas variáveis, como a revolução da informação, o avanço tecnológico, a globalização da economia, dentre tantos outros aspectos. Essas mudanças levam as Organizações a se reestruturarem, e consequentemente repercute em um perfil profissional mais compatível com a nova realidade (GONDIM, 2002, p. 300). Chahad (2003), atribui às mudanças no mercado de trabalho brasileiro a uma série de transições econômicas, sociais, demográficas e tecnológicas iniciadas desde a década de 90. Para citar algumas, a estabilidade econômica, a abertura da economia, o avanço tecnológico, e mudanças demográficas. Estas variáveis associadas às mudanças ocorridas no mundo em geral criaram um novo perfil do mercado de trabalho, exigindo dos trabalhadores competências anteriores não requeridas. Saber comunicar-se, trabalhar em equipe, iniciativa, entre outros aspectos são normalmente requeridos pelas organizações do mundo do trabalho. Gondim (2002, p.300) já havia identificado que o desenvolvimento científico e tecnológico, suporte da globalização, aumentou a complexidade do mundo e passou a exigir um profissional com competência lidar com um número expressivo de fatores, de ordem cognitiva, técnica, comportamental e atitudinal. Mas onde e como estas competências podem ser adquiridas? Em diversos lugares e de diversas formas, que variam desde a formação em bancos de escolas, na chamada educação tradicional, (FREIRE, 1997), até aquela adquirida nos treinamentos Empresariais ou nas chamadas empresas de consultoria ou capacitação para o Trabalho. Entretanto também na atividade de extensão desenvolvida pelas Instituições Acadêmicas, podemos dispor de mais uma maneira de ampliar o alcance das atividades de capacitação profissional desenvolvida “dentro dos muros da instituição de ensino pública”. É na extensão que as Instituições de Ensino públicas, principalmente as de ensino superior e profissional,

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competência guarda um significado de inclusão social, na medida em que possibilita ao individuo a qualificação necessária para o exercício de uma atividade laboral compatível com as exigências do mercado de trabalho em diversos contextos sociais. Atualmente a competência profissional carrega qualificações de ordem pessoal, como capacidade de relacionar-se, de tomar decisões, de ter iniciativas, de autogestionar-se entre outros


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encontram uma forma de alcançar uma parte da população possivelmente não atendida com suas atividades de ensino e pesquisa. Serrano (2012, p. 1) afirma que: O conceito de extensão universitária ao longo da história das universidades brasileiras, principalmente das públicas, passou por várias matizes e diretrizes conceituais. Da extensão cursos, à extensão serviço, à extensão assistencial, à extensão “redentora da função social da Universidade”, à extensão como mão dupla entre universidade e sociedade, à extensão cidadã, podemos identificar uma significação da extensão nas relações internas com os outros fazeres acadêmicos, e na sua relação com a comunidade em que esta inserida.

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O conceito de extensão, antes citado, assim como as diversas modalidades que a integram (programa, projeto, curso, evento e prestação de serviço) permite, portanto o desenvolvimento de ações de capacitação para a ampliação de competências profissionais de indivíduos. Se por um lado temos um mundo do trabalho exigindo profissionais com competências diversas, e as Instituições Educacionais buscando formar indivíduos com tais competências, por outro temos ainda uma determinada parcela da população que por alguma razão (de ordem estrutural, social, econômica, pessoal, dentre outras) não consegue ter acesso a esta capacitação, podemos através de projetos de extensão atender essas demandas sociais realizando por tanto um dos importantes objetivos das Instituições educacionais de ensino superior. 3. Metodologia Os procedimentos utilizados para a consecução dos objetivos do projeto de extensão Ampliando os Horizontes de competência incluíram: (1) Uma pesquisa de interesse e necessidade de capacitação aplicada a um grupo de indivíduos frequentadores da Igreja do Nazareno, (Instituição atendida pelo projeto); (2) Elaboração de planejamento das atividades de capacitação em base a análise dos resultados da pesquisa aplicada; (3) divulgação e inscrição dos participantes nas atividades de capacitação; (4) realização das atividades de capacitação (palestras, workshops e oficinas de trabalho); (5) Aplicação de pesquisa de avaliação de resultados. Também foi realizada uma entrevista em profundidade com o líder e um membro da Igreja atendida, e reuniões com a equipe do projeto para o planejamento e avaliação das atividades. Os instrumentos utilizados nas pesquisas de interesse e necessidade assim como na pesquisa de avaliação de resultados foram questionários, sendo o primeiro impresso e entregue aos participantes, e o segundo enviado por e-mail através de link ou de entrevistas por telefone. Os instrumentos de divulgação incluíram slides apresentados nos cultos do domingo na Igreja, faixas exposta no muro da


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4. O relato O projeto ampliando os horizontes de competência foi criado para atender a demanda social, referente ao desenvolvimento de competências para o trabalho, de um grupo de indivíduos frequentadores e membros de uma Igreja evangélica localizada em um bairro de classe média da cidade de João Pessoa. Em contato com o líder da Igreja, este nos comentou sobre tal necessidade. Após isto desenvolvemos o projeto que por sua ação social acabou sendo aprovado como extensão pela Pró-reitora de Extensão do IFPB e cuja realização abrangeu um período de um ano. Iniciamos, portanto em Dezembro de 2011 com as atividades de levantamento de necessidades e interesses de capacitação através de uma pesquisa de campo que foi aplicada a uma amostra de 29 pessoas. Sendo a maioria do sexo masculino, casados, membros da Igreja, com grau de instrução de ensino médio e com idade média de 28 anos. A pesquisa procurou identificar o nível de interesse dos participantes (variando entre nenhum a total interesse), e necessidade, (variando em não necessito até total necessidade) tendo sido apresentado os seguintes temas de capacitação: Meio ambiente, marketing e vendas, legislação trabalhista, gestão, economia doméstica, empregabilidade, empreendedorismo, tecnologia da informação, ética e cidadania, gestão de eventos, secretariado, higiene e segurança do trabalho. Os resultados indicaram interesse em todos os temas, destacando-se, entretanto, maiores níveis de interesse (muito e total interesse – acima de 40%) nos temas: Empreendedorismo, Tecnologia da Informação, Gestão, Empregabilidade, Economia Doméstica, Marketing e Vendas, Meio Ambiente, Ética e Cidadania, Gestão de Eventos, e Higiene e Segurança do Trabalho. E maiores níveis de necessidade de capacitação (necessito muito e necessidade total - acima de 40%) nas seguintes temáticas: Marketing e Vendas, Legislação Trabalhista, Gestão, Economia doméstica, Empregabilidade, Marketing pessoal e Higiene e Segurança no Trabalho. De posse destes resultados, e considerando o perfil exigido pelas organizações na atualidade, elaboramos uma proposta de programa de capacitação que foi discutida com o líder da comunidade atendida a qual foi ajustada a agenda da mesma. O programa incluiu uma série de eventos do tipo palestras, workshops e oficinas de trabalho que foram ministrados voluntariamente por professores

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Igreja, cartazes fixados no IFPB-Campus João Pessoa, panfletagem, e-mail e rede sociais da internet. Os recursos instrucionais incluíram projetor multimídia, slides, textos, estudo de caso, entre outros materiais didáticos. Na pesquisa de interesse foi utilizado um total de 29 pesquisados. Ao longo dos eventos foram beneficiados um total de 100 pessoas e para pesquisa de avaliação participaram 31 respondentes. Para a tabulação e análises dos dados levantados nas pesquisas de campo utilizamos uma base de dados e procedimentos de estatística descritiva com uso do MS Excel.


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mestres e doutores, a maioria do IFPB. Também contamos com um professor da Universidade Federal da Paraíba e de uma Instituição particular de ensino superior, e com a colaboração de dois profissionais especialistas servidores do IFPB. O programa agrupou os diferentes tipos de eventos segundo uma temática especifica para cada mês. Portanto em Fevereiro tivemos uma palestra de abertura cuja temática foi Empregabilidade. No mês de Março a temática foi Gestão de Pessoas, onde se realizou uma Palestra intitulada Relações Humanas no Trabalho, uma oficina de Como Elaborar um Currículo, e um Workshop de Como Lidar com a Ansiedade em um Processo de Seleção. Em Abril a temática abordada foi Gestão de Marketing, tendo sido realizada uma Palestra sobre Marketing pessoal, uma Oficina sobre Técnicas Comerciais de Vendas, e um Workshop sobre Pós-Venda e Marketing de Relacionamento. No seguinte mês de Maio trabalhamos a temática Meio Ambiente, tendo sido realizada uma Palestra sobre Gestão Ambiental e Sustentabilidade, uma oficina cujo tema foi Aprender a Reciclar para Evitar Desperdícios e um Workshop sobre Ética e Cidadania. O tema Empreendedorismo foi abordado em Junho, onde se realizou uma Palestra sobre A Personalidade Empreendedora, uma Oficina de Como elaborar um Plano de Negócios e um Workshop tratando Como abrir uma empresa (Aspectos legais). Em Julho e Agosto abordamos o tema Legislação trabalhista e Gestão de Pessoas, sendo realizadas as palestras: Direitos e Deveres dos Trabalhadores e Motivação e Liderança, respectivamente. E nos meses de Setembro e Outubro, abordamos os temas Gestão da Informação e Higiene e Segurança do Trabalho, com a realização e duas palestras respectivamente. Em todos os eventos aplicamos uma pesquisa de avaliação com todos os participantes, verificando o nível de satisfação (de ruim a ótimo) com a infraestrutura, organização, palestrante, conteúdo, cujos resultados sempre indicaram elevados níveis de satisfação em todos os aspectos. Neste mesmo instrumento de avaliação perguntamos se o evento acrescentou conhecimento, atingiu as expectativas e se o dia e horário eram acessíveis, cujos resultados sempre revelaram anuência em todos os aspectos. Nos quatro últimos meses reduzimos o número de eventos para uma palestra mensal, pois houve uma diminuição na frequência ainda que as pesquisas de avaliação indicassem elevados níveis de satisfação. Nesse relato abrangemos o período compreendido entre Fevereiro a Outubro de 2012, devido o período disponível para o desenvolvimento do mesmo, entretanto o projeto só encerrou suas atividades no mês de Novembro com a entrega de certificados aos participantes, em um evento de encerramento. Para fins de mensuração de resultados aplicamos uma pesquisa de campo, junto a todos os inscritos no programa. Dos 100 inscritos 31 responderam. Assim, na próxima seção apresentamos os resultados alcançados passados nove meses de execução do projeto.


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5. Resultados Quando iniciamos este trabalho de extensão tínhamos o claro objetivo de auxiliar os indivíduos atendidos a aprimorar o seu perfil profissional através do desenvolvimento de competências. Os resultados alcançados demonstram que este objetivo foi totalmente obtido. De um total de 100 pessoas atendidas pelo projeto, os 31% que responderam a pesquisa de avaliação final para medir os resultados do mesmo apontaram os seguintes resultados: ampliação dos seus conhecimentos sobre as temáticas assistidas (84%) os fez enxergar novas possibilidades (74%); a melhoria do seu desempenho no trabalho e seu desenvolvimento humano (68%); a ampliação de sua rede de relacionamento (48%); a melhoria de sua capacidade crítica e seu desenvolvimento humano (45%), e a ampliação de suas possibilidades de emprego (32%), conforme se observa no gráfico 1 apresentado a continuação: Gráfico 1: Resultados alcançados com a participação nos eventos.

Fonte: Dados da Pesquisa (2012).

Os resultados concernentes ao desenvolvimento de capacidades e habilidades demonstraram que em relação à empregabilidade a principal habilidade desenvolvida e/ ou melhorada foi a de planejar e organizar as atividades pessoais e profissionais (68%), seguida das capacidades de tomar decisões e de entender as mudanças do mercado de trabalho, ambas com o mesmo percentual (61%), entender seu papel no mercado de trabalho também foi uma habilidade bastante desenvolvida (58%), assim como o e de adquirir conhecimentos necessários (52%). Quanto ao tema gestão de pessoas, a principal habilidade melhorada e/ ou a desenvolvida foi de relacionamento interpessoal (68%). Os participantes também melhoraram suas capacidades de

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entender motivação e liderança (61%), de elaborar um currículo (52%), e finalmente a de controlar a ansiedade em uma entrevista de emprego (42%). No tema gestão de marketing, a principal habilidade melhorada e/ ou a desenvolvida foi o marketing pessoal (52%). Entretanto, as capacidades de entender o que é o marketing de relacionamento (48%), o que é pós-venda de uma empresa (45%), e de entender as técnicas comerciais de vendas (32%) foram desenvolvidas e/ou melhoradas, ainda que em um menor percentual. No que se refere ao tema gestão ambiental, a principal capacidade melhorada e/ ou a desenvolvida foi relacionada à ética e o exercício da cidadania (61%), seguida da capacidade de entender o que é gestão ambiental e sustentabilidade (45%) e também melhoraram sua capacidade de reciclar para evitar desperdícios (42%). Com respeito ao tema empreendedorismo a capacidade mais desenvolvida refere-se a como se tornar um empreendedor (55%), seguida de como elaborar um plano de negócios (42%). Finalmente, no tema legislação social, os respondentes afirmaram que desenvolveram a capacidade de entender os direitos e deveres dos trabalhadores (52%) e os passos necessários para abrir uma empresa (39%). 6. Conclusões e recomendações Considerando que a competência é a capacidade do individuo desenvolver ou realizar determinada tarefa ou conduta, os resultados demonstrados pelos indivíduos comprovam que a grande maioria destes ampliou consideravelmente a sua capacidade de desenvolver uma serie de ações ou condutas que efetivamente os auxiliarão no ambiente ou mercado de trabalho. A exemplo da melhoria indicada na capacidade de planejar e organizar as atividades pessoais e profissionais, relacionamento interpessoal, marketing pessoal, e como se tornar um empreendedor, ou ainda o simples fato de entender a importância da ética e o exercício da cidadania. O que parece tão simples resulta em um diferencial competitivo agregado ao currículo deste individuo o qual certamente foi o maior beneficiado pelo projeto. Os resultados deste relato de experiência comprovam a eficácia do uso da extensão como mais um método de ampliar o alcance das ações de capacitação profissional pelas Instituições públicas educacionais, como é o caso do IFPB. Neste caso a parceria com uma Instituição religiosa ajudou a inserir os indivíduos frequentadores desta instituição, em um novo contexto: o da inclusão social. O depoimento de uma senhora, com mais de 50 anos de idade, dona de um pequeno salão de beleza, localizado em um bairro de classe baixa, frequentadora assídua dos eventos do projeto, que nos informou que após sua participação no projeto, perdeu o medo de arriscar-se, e procurou financiamento para ampliar seu negócio, através de um programa do governo estadual de apoio ao micro empreendedor, com o objetivo de ampliá-lo, demonstra o alcance dos resultados desse projeto. Finalmente, recomendamos que projetos como esse sejam realizados durante um ano em duas comunidades distintas.


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7. Contribuições individuais Destacamos as contribuições individuais informando que os autores discutiram tema e problema. Em seguida o primeiro autor foi responsável pelo resumo, introdução, referencial teórico, metodologia e relato. Ao segundo autor coube a pesquisa, e a tabulação dos dados. Os resultados, conclusões e recomendações foram construídos em conjunto. 8. Referências ALVIM, M. B. Estudos e Pesquisas em Psicologia, UERJ, RJ, ANO 6, N. 2. 2006, (122-130). CHAHAD, J. P. Z. Tendências recentes no mercado de trabalho: Pesquisa de emprego e desemprego. São Paulo em Perspectiva, 17 (3-4), 205-2017. 2003. FLEURY, M. T. L., FLEURY A. Construindo o conceito de competência. RAC. Edição Especial, 183196. 2001. GONDIM, S. M. G. Perfil profissional e mercado de trabalho: relação com a formação acadêmica pela perspectiva de estudantes universitários. Estudos de Psicologia, 7(2), 299-309. 2002.

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SERRANO, R. M. S. M. Conceitos de extensão universitária: um diálogo com Paulo Freire. 2012. Disponível em: http://www.prac.ufpb.br/copac/extelar/atividades/discussao/artigos/conceitos_de_ extensao_universitaria.pdf. Acesso em 25 ago. 2012.


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EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS NA COMUNIDADE DA VILA SANTA MARIA EM MONTEIRO-PB LIVID EXPERIENCES IN THE COMMUNIT Y VILA SANTA MARIA MONTEIRO-PB Jéssica Maria de Sousa; Michele Aparecida G. Libano; Eugênia Alves Leite; José Rodrigo Pinto Leite; Dimas Brasileiro Veras; Iracira José da Costa Ribeiro Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB/Campus Monteiro jessyka-sousa@hotmail.com; dimasveras@hotmail.com; iracira@hotmail.com RESUMO: Este trabalho trata de um relato de experiências vivenciadas na comunidade da Vila Santa Maria na cidade de Monteiro/PB através da realização de oficinas vinculadas ao Programa de Extensão Transposição Sustentável do IFPB, campus Monteiro. As oficinas tiveram o objetivo de informar e sensibilizar a população sobre a importância de como fazer uma coleta de resíduos sólidos de forma segura e consciente. Com isso, foram repassadas noções sobre segurança, saúde e prevenção, através de metodologias participativas. Concluímos que esse trabalho foi um grande desafio devido à resistência das pessoas em assimilar novos conhecimentos, mas ao mesmo tempo foi gratificante pela troca de experiência adquirida na comunidade. PALAVRAS-CHAVE: experiências vivenciadas, sustentável, coleta de resíduos, segurança. ABSTRACT: This work is an account of experiences in the community of Villa Santa Maria in the city of Monteiro/PB by conducting workshops linked to the Extension Programme Sustainable Transposition IFPB, Monteiro campus. The workshops were intended to inform and sensitize the population about the importance of making to collect of solid residues in a safety way and conscious. With it, notions were passed about safety, health and prevention through participatory methodologies. We conclude this work was a big challenge due to the resistance of the people to assimilate new knowledge, but at the same time was gratifying for the exchange of experience acquired in the community.

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KEY-WORDS: lived experiences, sustainable, collect of residues, safety. 1. Introdução As construções sustentáveis vêm aumentando com o passar do tempo, pois geram certa economia e não prejudicam tanto o meio ambiente com os resíduos gerados nos canteiros das obras. Conforme afirma Addis (2010) os materiais reaproveitados em canteiros de obras permitem minimizar a quantidade de entulhos e aumentar o reuso deles na construção, desde a fundação até a fachada.


Para uma construção ser considerada sustentável, deve atender vários critérios em relação ao uso de água, energia e materiais. No entanto, nem sempre é possível atender todos os requisitos, que são planejamento sustentável da obra, aproveitamento passivo dos recursos naturais, eficiência energética, gestão e economia da água, gestão de resíduos na edificação, qualidade do ar e do ambiente interior, conforto termo - acústico, uso racional de materiais, uso de produtos e tecnologias ambientalmente amigáveis (FARIA, 2009). No entanto, nem sempre é possível atender esses requisitos, que são planejamento sustentável da obra, aproveitamento passivo dos recursos naturais, eficiência energética, gestão e economia da água, gestão de resíduos na edificação, qualidade do ar e do ambiente interior, conforto termo - acústico, uso racional de materiais, uso de produtos e tecnologias ambientalmente amigáveis (FARIA, 2009). O Programa Transposição Sustentável: educação socioambiental e cidadania (PROEXT 2011MEC/SESU, Edital 04/2011), desenvolve ações de extensão na cidade de Monteiro-PB através de atividades conjuntas de meio ambiente, trabalho e cidadania. Assim, pretendemos construir formas participativas de ajudar os moradores desta cidade, especificamente à comunidade Vila Santa Maria. Um dos propósitos do programa é exercitar a prática de ações sustentáveis no meio em que vivem com relação à coleta e separação dos resíduos. Um dos objetivos para que a Transposição do rio São Francisco passe na cidade é que se cumpram as exigências de gestão dos resíduos sólidos. E deve estar adequada aos requisitos necessários ao projeto da transposição. Porém, isto ainda não acontece, pois não dispomos de aterro sanitário, tampouco de saneamento básico adequado, que são requisitos exigidos para que possamos receber as águas provenientes da transposição. Então, diante desse descaso algumas oficinas do programa abordaram esse tema. Nesse trabalho iremos relatar as experiências vivenciadas nas oficinas de Coleta Seletiva de Resíduos na Construção e de Saúde, Prevenção e Segurança na Coleta de Resíduos. É importante destacar que no âmbito da construção civil, o uso de materiais nos canteiros de obras é imenso, do mesmo jeito ocorre com o desperdício. A falta de um gerenciamento de RCC (Resíduos da Construção Civil) nos canteiros é bastante frequente, apesar de algumas construtoras praticarem a coleta, objetivando a reciclagem e/ ou o reaproveitamento na própria construção civil. Os materiais reciclados dentro de um canteiro de obra são resíduos do concreto (britas, bloco de concreto, viga e pilar), resíduos cerâmicos (tijolo de barro, bloco cerâmico, telha cerâmica, ladrilho cerâmico, azulejo cerâmico, entre outros), resíduos de argamassa e rocha natural (areia, cal e cimento). De acordo com o CONAMA (2002) há canteiros que reutilizam esses materiais, que é o processo de reaplicação do resíduo, sem transformação do mesmo e outros reciclam que é o

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processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à transformação. Mas, sabe-se também que a segurança nos canteiros é de extrema importância, já que o trabalhador fica exposto a várias situações de riscos. De acordo com a Norma Regulamentadora (NR 9) - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (Portaria SSST n.º 25, 29 de dezembro de 1994), a utilização de EPI (Equipamento de Proteção Individual) é obrigatória. No âmbito do programa deverá considerar as Normas Legais e Administrativas em vigor e envolver no mínimo o EPI adequado tecnicamente ao risco a que o trabalhador está exposto e à atividade exercida, considerando-se a eficiência necessária para o controle da exposição ao risco e o conforto oferecido segundo avaliação do trabalhador usuário; o programa de treinamento dos trabalhadores quanto à sua correta utilização e orientação sobre as limitações de proteção que o EPI oferece; estabelecimento de normas ou procedimento para promover o fornecimento, o uso, a guarda, a higienização, a conservação, a manutenção e a reposição do EPI, visando garantir as condições de proteção originalmente estabelecidas e a caracterização das funções ou atividades dos trabalhadores, com a respectiva identificação dos EPI’s utilizados para os riscos ambientais. De acordo com o artigo 19 da lei 8.213, publicada em 24 de julho de 1991, a definição de acidente de trabalho é: “Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho do segurado especial, provocando lesão corporal ou perturbação funcional, de caráter temporário ou permanente” podendo causar a morte ou lesão parcial ou total. A organização que se dispõe em tratar da prevenção de acidentes do trabalho, das condições do ambiente do trabalho e de todos os aspectos que afetam sua saúde e segurança, é conhecida como CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), Regulamentada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) nos artigos 162 a 165 e pela Norma Regulamentadora 5 (NR-5). A organização é imprescindível nos locais de trabalho seja qual for sua característica. A importância da segurança no trabalho exige a integridade física do trabalhador, atuando na redução ou eliminação de riscos e a redução de acidentes no trabalho. Para evitar os acidentes de trabalho, os trabalhadores devem cumprir as normas de segurança, usar os EPIs (Equipamentos de proteção individual) e não realizar tarefas sem treinamentos adequados para tais fins. Há também o ato inseguro, que são comportamentos que desrespeitam as normas de segurança, como não utilizar equipamentos de proteção, mesmo estando ciente da importância do uso; há também situações onde os equipamentos estão inapropriados. Outro tipo seria a condição insegura que é deficiência ou defeitos que constituem riscos para integridade física dos trabalhadores, como local inapropriado para realização de tarefas, que no caso a empresa tem que usar os EPC - Equipamentos de Proteção Coletiva (NUNES, 2006). Dessa forma, justifica-se a importância de um projeto que busque sensibilizar a população acerca da importância da coleta seletiva e prevenção, saúde e segurança ao exercer qualquer tipo


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2. Metodologia No primeiro encontro foi elaborado um levantamento de informações na comunidade com o uso de técnicas de desenho, sendo uma forma de interação com a comunidade. A técnica consiste em acomodar as pessoas em cadeiras, dispostas em circulo para facilitar a comunicação e a participação de todos. Em seguida foi entregue aos participantes lápis e papel, onde todos tiveram a oportunidade de desenhar os problemas existentes na comunidade. Em seguida, foi feita a apresentação dos desenhos elaborados por cada grupo. A partir disso foi possível conhecer um pouco da comunidade e da vida de cada morador. Diante da realidade da comunidade, foram oferecidas oficinas aos domingos durante um período que se estendeu de abril a novembro de 2012. As mesmas foram realizadas no prédio onde funciona o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), localizada na comunidade da vila Santa Maria. Na oficina de Coleta Seletiva e Resíduos na Construção Civil foi passado aos participantes a importância sobre a prática da mesma e também técnicas e processos de reciclagem desses resíduos. Outra atividade realizada foi à dinâmica Teia da Vida que consiste em colocar as pessoas em um círculo e distribuir figuras de animais, paisagens e pessoas, onde cada participante ficava com uma respectiva figura. Logo em seguida, com um barbante, a ministrante pede que cada participante mostre sua figura para os outros e depois tente relacionar sua figura ao do colega e dar um pedaço de barbante. Depois disso, o barbante ficará entrelaçado entre os participantes e por fim pede- se que eles saiam daquele lugar sem soltar a ponta do barbante e os mesmos não conseguem sair, pois o barbante está entrelaçado entre eles. O objetivo da dinâmica foi valorizar o trabalho coletivo e mostrar que cada um está ligado ao próximo e se o individuo interferir na vida do outro, consequentemente, irá influenciar na vida de muitos. Na oficina de Segurança, Saúde e Prevenção na Coleta de Resíduos foi utilizado o método do DRP. Os participantes foram convidados a desenhar uma árvore cujas folhas representavam as soluções e o caule os problemas causados na coleta de resíduos devido à ausência de equipamentos adequados (Figura 1). Os problemas apontados foram as doenças adquiridas no lixão e os ferimentos por falta de equipamentos. Concluímos que a possível solução seria o uso devido dos equipamentos de proteção.

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de trabalho. Tendo em vista, que o desafio que se coloca é levar e colher informações à população carente da Vila Santa Maria sobre os temas das oficinas, coletados através do DRP (Diagnóstico Rural Participativo), sendo uma peça fundamental para elaboração desse trabalho. O DRP é um conjunto de técnicas e ferramentas para que as comunidades façam seu próprio diagnóstico e a partir daí começam a auto gerenciar seu planejamento e desenvolvimento ( VERDEJO, 2006).


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Figura 1. Cartaz com método de DRP (Diagnóstico Rural Participativo)

Fonte: IFPB, 2012

Logo após, foi realizada uma discussão com os dados coletados onde os participantes adquiriram conhecimento da importância dos equipamentos para a coleta dos resíduos sólidos.

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3. Experiências das oficinas Foi realizada a Oficina Coleta Seletiva e Resíduos na Construção, ministrada pelos bolsistas do Programa Transposição Sustentável, na Vila Santa Maria no município de Monteiro/PB. O evento foi realizado no prédio onde funciona o PETI e contou com o apoio da Pastoral da Criança. O objetivo da mesma era sensibilizar e informar a comunidade sobre a importância da prática da coleta seletiva e os benefícios que podem proporcionar as pessoas e ao meio em que vivem. Inicialmente foram explanadas as questões: o que é LIXO?; por que geramos lixo?; os malefícios causados pela má destinação dos resíduos sólidos e os possíveis impactos que o lixo pode acarretar ao meio ambiente; vantagens e desvantagens do lixo; lixo pode virar luxo; a importância da Coleta Seletiva; materiais recicláveis e não recicláveis (Figura 2).


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Figura 2. Exposição de cartazes abordando os temas da Oficina Coleta Seletiva de Resíduos

Dando continuidade a discussão, foi abordada a problemática do lixo na cidade de Monteiro, a questão do lixão e a obra do aterro sanitário. O debate se justifica porque boa parte dos moradores da comunidade Vila Santa Maria trabalha como coletores e fazem do lixo sua fonte de renda. Assim, ressaltamos a ausência de equipamentos adequados para a coleta; as condições precárias do lixão para os trabalhadores e o possível andamento do projeto da prefeitura que trata da implantação da coleta seletiva no município. Em seguida, foi feito um questionamento sobre a prática da separação do lixo domiciliar por parte desses moradores. E assim, foi sugerido que cada cidadão fizesse a coleta do lixo seco e úmido de maneira prática e eficaz, onde se considerava o primeiro como papel, plástico, metal e vidro e o segundo os restos orgânicos. Após a palestra, ocorreu um debate onde os participantes expuseram suas opiniões e experiências vivenciadas. Dando ênfase à precariedade do lixão, as doenças adquiridas na coleta devido à ausência de EPI, e a necessidade de trabalhar no lixão, que segundo alguns moradores tornaram-se praticamente uma obrigação por ser a única alternativa de emprego. Emprego este que, além de exigir muito da integridade física do trabalhador, pois são submetidos a uma jornada de trabalho com carga horária de oito horas expostos a um local inadequado e sem o uso de equipamentos apropriados. Os materiais são coletados separadamente de acordo com a sua classificação (papel, plástico, vidro e metal), e os resíduos mais vendidos são o metal (latinhas de alumínio) e o plástico (garrafas PET). São recolhidos nas terças-feiras pelo caminhão da Prefeitura Municipal, onde ocorre à pesagem desses resíduos e a partir disso é calculado o lucro e repassado para os trabalhadores,

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Fonte: IFPB, 2012


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em seguida os materiais são transportados para a fábrica de reciclagem. A maioria das pessoas que residem na Vila Santa Maria trabalha no lixão em condições precárias e sem nenhuma perspectiva de vida, necessitando desse emprego para manter sua renda fixa. A oficina em si foi bastante significativa, teve a participação e interação do grupo, os mesmos mostraram-se bastante interessados já que o assunto era algo do cotidiano da comunidade. Na oficina sobre Saúde, Prevenção e Segurança na Coleta de Resíduos, também foi realizada no prédio onde funciona o PETI, localizado na Vila Santa Maria na cidade de Monteiro/PB. A finalidade desta foi passar informações sobre doenças que poderiam ser adquiridas por falta de orientações e de equipamentos inapropriados, como mostrados n a F i g u r a 3 . A coleta de materiais recicláveis torna-se uma alternativa comum para estas pessoas, uma possibilidade de sobrevivência. O trabalho de catação de lixo quando não é a principal, torna-se uma forma complementar de geração de renda e reprodução destes grupos familiares. Por isso, deveriam receber, com redobrada atenção, informações necessárias relativas à saúde, proteção e segurança no trabalho, além de supervisão constante, sendo observados quanto à utilização adequada de equipamentos de proteção (NUNES, 2005). Figura 3. Oficina de Saúde, Prevenção e Segurança na Coleta de Resíduos, amostragem os EPIs

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Fonte: IFPB, 20132

No decorrer da oficina, fizemos uma amostragem dos EPIs, e um dos participantes serviu como modelo (Figura 4) para mostrarmos como são colocados os equipamentos de forma correta e explicando a finalidade de cada um.


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Figura 4. Participante servindo de modelo com o uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual)

Fonte: IFPB, 2012

Em seguida fizemos um DRP, método este que consiste em procedimentos simples como, desenhos, questionários, gincanas, entre outros. Assim, aplicando essa metodologia foi possível verificarmos se esses trabalhadores já teriam se machucado de alguma forma, por falta de equipamento e se já tiveram algum tipo de doença relativa à coleta de resíduos. À medida que foi sendo realizado o DRP, verificamos que, a maioria desses trabalhadores não usa os equipamentos de proteção, pois alegaram que os órgãos municipais, só cederam uma única vez e como teria sido bastante tempo atrás, esses materiais haviam sido desgastados, por esse motivo eles não usavam. O mesmo serviu como instrumento para conhecer um pouco da vida de cada pessoa que foi submetida ao diagnóstico rural participativo. Na continuação das atividades, foram observadas algumas doenças comuns que alguns trabalhadores adquiriram no lixão. Entre algumas está a leptospirose, transmitida através da urina dos ratos. Um dos trabalhadores adquiriu a doença no local onde trabalhava, pois o mesmo não estava com o equipamento apropriado. Em seguida, passamos algumas informações de como se prevenir de algumas doenças através de vídeos que mostravam como poderiam evitar doenças como leptospirose, hepatite A, diarréia, cólera, dengue, febre amarela e doença de chagas. Portanto, a oficina teve seu fim com sorteios de brindes para os participantes, pois havíamos feito uma pesquisa, e as pessoas da comunidade nos informou que gostariam que esses brindes fossem objetos de cozinha. E, também, fizemos algumas doações de roupas, calçados e até mesmo brinquedos para as crianças da comunidade.

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4. Conclusão Conforme podemos observar, é de extrema necessidade um gerenciamento de resíduos sólidos de modo geral. Isto se aplica também ao contexto da cidade de Monteiro, haja vista o número crescente da população, juntamente com o crescimento significativo de construções. Sendo assim, a partir da realidade da comunidade eleita por conta de muitos moradores trabalharem no lixão e terem necessidade de informações pertinentes a coleta. Viu-se, então, a necessidade de intervir por meio de oficinas voltadas a sustentabilidade, que mostram ações futuras, possíveis soluções sustentáveis e socialmente adequadas para o público-alvo para que assim possam investir no reaproveitamento dos resíduos, diminuindo os impactos ambientais e gerando renda para os moradores, visando o desenvolvimento ecologicamente sustentável. O estudo também aponta a importância da prevenção de acidentes no trabalho, a questão da conscientização dos trabalhadores ao uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual), a saúde e a integridade física do trabalhador. É notório que a coleta e o depósito final dos resíduos devem estar sempre entre os mais importantes serviços de saúde pública e bem estar social. Pois, caso não sejam depositados em locais adequados ocasionarão diversos impactos ambientais. Portanto, é de suma importância que as construtoras estejam de acordo com as normas, executando um gerenciamento de resíduos e se adaptando as práticas sustentáveis, ecologicamente corretas e econômicas. Diante dessa experiência realizada como bolsistas do Projeto Transposição Sustentável, vimos que lidar com o público não é algo muito simples, por mais que haja esforços para passar conhecimentos à comunidade, sempre será um grande desafio. Infelizmente algumas pessoas não aceitam conhecimentos, pois em favor do mesmo, sempre querem algo em troca. Com isso, realizamos vários sorteios durante as oficinas, com o intuito de transmitir o aprendizado, uma vez que não houvesse esses sorteios, a maioria das pessoas não comparecia. Assim, esse foi o grande desafio encontrado por nós que fizemos parte desse projeto. 5. Bibliografia

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A WEBTV COMO FERRAMENTA ESTRATÉGICA DA ASSESSORIA DE IMPRENSA INSTITUCIONAL THE WEBTV AS A TOOL OF STRATEGIC CORPORATE PRESS Juliana Gouveia de Amorim Nunes Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB/Campus Sousa juliana.nunes@ifpb.edu.br RESUMO: Após a popularização da internet no final dos anos 90, a comunicação das organizações nunca mais foi a mesma. Hoje, o jornalista assessor de imprensa tem a seu favor novas ferramentas que facilitam e dinamizam o fluxo de informações entre os públicos externo e interno. Esta pesquisa se desenvolve principalmente para analisar se a Webtv, ferramenta interativa e com perfil segmentado, pode ser eficaz no trabalho da assessoria de imprensa institucional. O trabalho traz uma revisão teórica sobre comunicação organizacional, destacando o novo modelo de assessoria de imprensa após a consolidação da internet como ferramenta de interação social. A pesquisa em reflexão atinge as produções de autores como Margarida Kunsch, Jorge Duarte, Manuel Castells e Beatriz Becker. PALAVRAS-CHAVE: assessoria de imprensa, novas tecnologias da comunicação, WebTV. ABSTRACT: After the popularization of the Internet in the late 90s, the organizations communication has never been the same. Today, the journalist publicist has going for new tools that facilitate and streamline the flow of information between the external and internal publics. This research develops mainly to examine whether Webtv, interactive tool and segmented profile, can be effective in the work of the institutional press office. The paper presents a theoretical review on organizational communication, highlighting the new model press office after the consolidation of the internet as a tool for social interaction. The research further reflection reaches the productions of authors such as Margaret Kunsch, Jorge Duarte, Manuel Castells and Beatriz Becker.

1. Introdução Utilizar os processos comunicacionais de forma eficaz, a fim de fortalecer os laços entre a instituição e seus públicos é essencial para o sucesso de uma organização. No entanto, a comunicação nem sempre foi usada como estratégia de negócios. A comunicação organizacional aparece no período Pós-Revolução Industrial marcado pela disputa de novos mercados, despontando no Brasil apenas na década de 50, com a consolidação do Parque Industrial Nacional.

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KEY-WORDS: press office, new communication technologies, WebTV.


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Vários estudiosos criaram teorias para explicar esse tipo de comunicação. Um dos conceitos mais influentes é o desenvolvido por Margarida Kunsch (2006), que estuda a comunicação organizacional numa perspectiva integrada. Na ótica da autora, a comunicação desempenha um papel decisivo no cumprimento da missão e dos objetivos de uma organização, quando trabalha harmoniosamente a Comunicação Institucional, a Comunicação Interna e a Comunicação Mercadológica. A assessoria de imprensa (AI), uma das ferramentas mais importantes da comunicação institucional, aparece como interlocutora entre a organização e a mídia. Criada efetivamente no início do século XX, pelo norte americano Yve Lee, a prática da AI no Brasil e no Mundo foi marcada pelo surgimento da internet. O avanço tecnológico trouxe para as organizações novas oportunidades de negócio e, por isso, o assessor de imprensa teve que repensar as estratégias comunicacionais e utilizar ferramentas modernas de interação com os públicos (clientes, funcionários, mídia). Nesse contexto, a Webtv surge como uma plataforma online que, “diferentemente da televisão massiva, ela é dirigida a públicos segmentados, estabelecendo processos de comunicação mais diretos e personalizados”. (BECKER & MATEUS, 2011, p. 158). Além disso, os espectadores da Webtv não são passivos aos conteúdos transmitidos como na TV tradicional. “Uma das vantagens de se utilizar a TV na web é que os utilizadores, para além de assistirem ao conteúdo transmitido, podem interagir, dando sua opinião, participando de votações e inquéritos online [...]” (COUTINHO & BOTTENTUIT JUNIOR, 2008, p. 104). A Webtv democratiza o acesso aos conteúdos quando é disponibilizada de forma gratuita e acessível aos usuários em qualquer lugar do mundo. Numa época em que a interação com os públicos acontece de forma mais acelerada, será que essa nova mídia pode ser eficaz se utilizada pela AI de uma organização? Tal inquietação impulsiona a pesquisa em tela, que parte de levantamentos bibliográficos, obedecendo, assim, ao estilo exploratório e de natureza qualitativa. Espera-se que o resultado contribua para o fortalecimento dos estudos na área de Assessoria de Imprensa e Novas Tecnologias da Comunicação. 2. Discussão Os impactos da pós-Revolução Industrial no cenário sócio econômico mundial influenciaram as estruturas das organizações, antes impulsionadas exclusivamente pela produção. A partir de então, elas passaram a prestar mais atenção no público e perceberam a importância da comunicação para sua sobrevivência. De acordo com Kunsch (2006), as primeiras manifestações da comunicação nas organizações apareceram com formato administrativo, voltado para o público interno. Quando estendida ao público externo, preocupava-se somente com a divulgação dos produtos, sem atentar para o retorno do usuário. No Brasil, a comunicação organizacional surgiu em virtude do desenvolvimento econômico. Na ótica de Rêgo (2004, apud, SANTOS, 2006), ela teve sua origem em 1967, com a criação da


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Associação Brasileira de Editores de Revistas e Jornais de Empresa (ABERJE). De acordo com o autor, a fundação da Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP), em 1954, também contribuiu para o desenvolvimento dessa prática no país. Conhecida a partir de várias denominações (comunicação empresarial, comunicação corporativa, etc.), a comunicação organizacional possui diversas correntes de pensamento. Kunsch (2006) lembra que, nos Estados Unidos, os pesquisadores relacionavam a comunicação organizacional com os processos informativos da gestão. Atualmente, os estudos estão mais amplos e avaliam aspectos diferenciados como tecnologia, análise de discurso e liderança. No Canadá, ainda de acordo com a autora, a Escola de Montreal tem trabalhado a comunicação como uma verdadeira organização. Os estudiosos brasileiros tratam a comunicação organizacional de forma mais abrangente, a exemplo de Kunsch (2006), que aposta na integração de outros segmentos da comunicação (administrativa, interna, institucional, mercadológica) para o sucesso dos negócios. Gaudêncio Torquato do Rêgo também trabalha a comunicação organizacional de forma ampla e integrada. Para o autor, ela desempenha um papel estratégico dentro e fora da organização:

No mundo globalizado em que a comunicação se posiciona como grande interlocutora das relações que envolvem as organizações, a comunicação institucional aparece como responsável pela construção da imagem desta. Para explicar a comunicação institucional, Lídia Fraga (2007) lembra o conceito dado por José Benedito Pinho (1990). Segundo o autor, “o trabalho institucional visa desenvolver uma verdadeira personalidade para a organização, possibilitando a sua divulgação como um todo, em si mesma”. (PINHO, 1990, apud, FRAGA, 2007, p. 7). Nessa perspectiva, a assessoria de imprensa (AI) desempenha um papel importante dentro da comunicação institucional. Cabe ao assessor de imprensa “facilitar a relação entre o seu cliente – empresa, pessoa física, entidades e instituições - e os formadores de opinião”, (FENAJ, 2007, p. 08), orientando o seu assessorado quanto ao que pode ser notícia. O conceito contemporâneo da AI se originou no início do século XX, nos Estados Unidos, quando o jornalista Yve Lee aceitou o desafio de assessorar John D. Rockfeller, um poderoso empresário, criticado por sua postura autoritária. Lee, adotando estratégias de comunicação, passou a enviar notícias à imprensa e influenciar uma imagem positiva de Rockfeller. Alguns pesquisadores como Jorge Duarte (2011) defendem que os primeiros indícios da prática da AI no Brasil podem ser encontrados no governo do Presidente Campos Sales (1898 –

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A comunicação empresarial sistêmica dá unidade a um conceito de empresa, harmonizando interesses, evitando a fragmentação do sistema promovendo, internamente, sinergia negocial e, externamente, comportamentos e atividades favoráveis à organização. (RÊGO, 1986, apud, DUARTE, 2011, p. 68)


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1902), que utilizou os serviços do jornalista Tobias Monteiro, do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, para divulgar sua viagem à Europa. Outro fato marcante reportado pelo autor é a criação do Serviço de Informação e Divulgação do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, em 1909. No setor privado, Kopplin e Ferraretto (2009) citam que a Light foi a primeira empresa a criar um espaço para o repasse de informações ao público e a pioneira em house organs no Brasil. No entanto, foi somente com o fim da Ditadura Militar, em 1985, que profissão da assessoria de imprensa se popularizou. Em 1993, cerca da metade dos 25 mil jornalistas brasileiros atuavam em comunicação institucional, segundo o sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal (DUARTE, 2011). Como uma das principais responsabilidades da AI é o envio de informações sobre o seu cliente à imprensa, o assessor tem a seu favor diversas ferramentas: as tradicionais, como release, press-kits, sugestões de pautas, etc., e as chamadas novas mídias, nascidas a partir da popularização da internet. Para Castells, o impacto trazido pelo surgimento da internet pode ser comparado à criação de Gutemberg. De acordo com ele, a internet é:

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um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global. Assim como a difusão da máquina impressora no Ocidente criou o que McLuhan chamou de a “Galáxia de Gutemberg”, ingressamos agora num novo mundo de comunicação: a Galáxia da Internet. (CASTELLS, 2003, p. 08).

E essa sociedade em rede tem aumentando a cada ano. De acordo com uma pesquisa Ibope Nielsen Online, publicada em outubro do ano passado, o número de pessoas com acesso à internet chegou a 83,4 milhões no primeiro trimestre de 2012, ou seja, aproximadamente 43% da população brasileira acessam a web. As estatísticas representam um crescimento de 5%, em relação ao mesmo período de 2011. Outros dados divulgados pelo mesmo instituto, ainda no mês de outubro, apontam o crescimento da procura por vídeos na internet. De acordo com a pesquisa, o acesso a sites de vídeos cresceu 13,8% em setembro. A revolução tecnológica trouxe mudanças também para a comunicação das organizações. Wilson Bueno (2011) observa que com a interatividade, as empresas ficaram mais vulneráveis a interpretações equivocadas sobre elas. Além disso, as novas formas de comunicação surgidas a partir da internet despertaram nos usuários a necessidade de respostas instantâneas sobre os seus questionamentos. Para os assessores de imprensa, “tornam-se necessários o uso de novos instrumentos e o aprimoramento de competências que permitam acessar as redes de informação e, desta forma, estabelecer novos laços de relacionamento com seus públicos”. (RUFINO, 2009, p. 02). A Webtv, uma dessas novas ferramentas interativas, surge para revolucionar a produção e difusão de informações especializadas. Com uma proposta inovadora de fazer televisão para a


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internet, ela possibilita a participação instantânea do usuário. Mesmo sem ter como foco a exploração econômica, pesquisadores já identificaram o grande potencial político e social da ferramenta:

Na Webtv, a programação é transmitida em tempo real por streaming, que é visualizado através de programas como Real Player ou Windows Media Player. Existe também a forma de transmissão ondemand, quando os vídeos ficam disponíveis na internet para acesso do usuário. Ribeiro (2009, p. 09) lembra que a tecnologia Joost desponta no cenário atual como uma opção gratuita de exibição da programação da TV pela internet, “sustentado por um modelo comercial de anunciantes, fácil de usar e que oferece uma boa qualidade para exibição de vídeos”. A Livestream também oferece suporte para que seja criado um canal, com direito a programação fixa e exibições ao vivo. O Youtube, portal que reúne um acervo de vídeos com acesso e postagem gratuitos, é mais uma ferramenta aliada a essa nova forma de fazer TV. Souza (2005) lembra que, de acordo com Bretas (1998), a primeira Webtv entendida sob a perspectiva de um equipamento de TV e computador integrados surgiu nos Estados Unidos, em setembro de 1997. No Brasil, ele destaca que o canal precursor na transmissão exclusiva pela internet foi a “ALL TV”, criada 2002. Essa nova forma de transmissão televisiva vem modificando também o perfil dos sites de notícias. O Portal Terra, por exemplo, montou uma programação fixa com direito a telejornal, programas esportivos, de entretenimento e transmissão ao vivo (RIBEIRO, 2009). Os sites da Folha de São Paulo e do Jornal Estadão também entraram na era da convergência, criando TV Folha e TV Estadão. Ligadas na nova tendência, algumas emissoras públicas adaptaram suas transmissões para a web, a exemplo da TV Brasil. No entanto, Souza (2005) defende que esse tipo de difusão não pode ser considerado Webtv e sim, TV On-line, porque não possui uma programação diferenciada para a internet e não explora outros recursos da rede, como a interatividade. No âmbito institucional, a Webtv ganhou destaque, principalmente, a partir das universidades. A Universidade de Brasília (UNB), por exemplo, iniciou com a TVUNB em 2003, apostando na geração de conteúdo acadêmico, utilizando a qualidade de transmissão como forma de atrair novos visitantes

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A vocação das webTVs é basicamente a informação, e os conteúdos e os formatos são produzidos com características narrativas ainda bastante próximas das enunciações do telejornalismo. No entanto, a transmissão em tempo real não é o seu atrativo maior, como nos noticiários televisivos, e sim sua capacidade de armazenamento de informações, constituindo-se em bancos de dados específicos em contínua expansão. (BECKER & MATEUS, 2011, p. 158).


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e fidelizar espectadores. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Webtv faz parte do projeto da Coordenadoria de Comunicação e tem como objetivo difundir informações da comunidade acadêmica tanto para os públicos internos e quanto para os externos. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) implantou a Webtv com perfil de jornalismo colaborativo, utilizando no formato on-demand, quando os vídeos são produzidos e disponibilizados no portal. A febre da Webtv chegou ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) em 2009, com uma proposta institucional de divulgação de eventos e dos trabalhos das Agências e Unidades de Pesquisas. Em 2010, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) também passou a utilizar essa nova ferramenta para comunicação com instituições acadêmico-científicas. Entre os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, a Webtv é utilizada como ferramenta de divulgação institucional em Santa Catarina e na Paraíba. 3. Conclusão Através da pesquisa literária conclui-se que a Webtv, que nasceu da união de dois poderosos meios do campo da comunicação, pode ser uma ferramenta barata, viável e multifuncional nas estratégias de uma organização. A partir de vídeos divulgados na internet, o assessor de imprensa não apenas estará fortalecendo as relações com o público interno, como possibilitando visibilidade ao seu trabalho, estudo e ou/atividade a qual está inserido. Ele também tem a oportunidade de mostrar para a sociedade e para a mídia os valores da organização. Além disso, disponibilizar produções institucionais numa Webtv tem diversas vantagens, como o contato direto e instantâneo com o usuário, a divulgação a nível mundial e a variedade da programação, visto que, na internet, os programas tendem a ser mais curtos e sucintos. Conclui-se também que os conteúdos podem ser disponibilizados através de ferramentas gratuitas, encontradas na própria web ou que acompanham os sistemas dos computadores. Diante dessa facilidade, o gasto para a implantação de uma Webtv se resume a investimentos em equipamentos audiovisuais de captação e edição de imagens. O custo benefício fica ainda mais viável quando, diferente da TV tradicional, ela não necessita de concessão pública para funcionamento. Outrossim, utilizando vídeos com textos objetivos, ricos em informação e imagens, as produções audiovisuais institucionais, sobretudo aquelas que merecem mais destaque, podem se transformar numa espécie de vídeos releases. Um dos objetivos do assessor de imprensa é disponibilizar material institucional atraente ao repórter, ou seja, com valores notícia. Se esse conteúdo for transformado em vídeo, o repórter, principalmente que trabalha em TV, terá uma visão mais ampla do que pode realmente ser divulgado e se é rico em termos de imagem. Quando se tratar de acontecimento factual, o vídeo pode ser disponibilizado posteriormente para as emissoras.


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Não se pode afirmar que a Webtv é a ferramenta mais eficiente, quando comparada às formas tradicionais de envio e troca de informações numa organização, mas é, certamente, um meio inovador e viável, diante de uma sociedade conectada pela rede mundial de computadores e seduzida pelas novas tecnologias da comunicação. 4. Referências BECKER, Beatriz. MATEUS, Lara. TV 1.9: a experiência das webTVs universitárias. In Significação – Revista de Cultural Audiovisual - USP. São Paulo, nº 36, 2011, pág.158. BUENO, Wilson da Costa. Assessoria de imprensa e inteligência empresarial. Disponível em: http://portalimprensa.uol.com.br/noticias/wilson+da+costa+bueno/44826/opiniao+assessoria+ de+imprensa+e+inteligencia+empresarial/. Acesso em 23 jul. 2012. Capes Webtv. Disponível em: www.capeswebtv.com.br. Acesso em: 11 nov. 2012. CASTELLS, Manoel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. Pag. 08. ­­­ CAVALCANTE, Shirley Maria. Gestão da Comunicação Organizacional: conhecendo as ferramentas e suas aplicabilidades. 2008. Monografia, Universidade Potiguar, Natal-RN, 2008. COUTINHO, Clara Pereira. BOTTENTUIT JÚNIOR, João Batista. Rádio e TV na Web: vantagens pedagógicas e dinâmicas na utilização em contexto educativo. Teias, Rio de Janeiro, ano 9, nº 17, p. 101-109, jan/jun. 2008. Pág. 104. DUARTE, Jorge. Assessoria de Imprensa no Brasil. In: DUARTE, Jorge (org.) Assessoria de Imprensa e relacionamento com a mídia: teoria e prática. 4ª ed. Rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2011. Pág. 68.

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EDUCAÇÃO DIGITAL: uma necessidade contemporânea DIGITAL EDUCATION: a contemporary necessity Lourdes Sales de Macedo; Maria de Fátima Dantas Carneiro Souto; Edivania Elisa de Figueiredo; Luiz Januário Torres da Silva Filho Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB lourdes@ifpb.edu.br; mfsouto12@hotmail.com; elisa.ifpb@gmail.com; luizfilho@gmail.com

RESUMO: O texto trata do Projeto Educação Digital: uma necessidade contemporânea, realizado pela Pró-

Reitoria de Extensão (PROEXT) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), na cidade de João Pessoa, Paraíba. O objetivo é apresentar a experiência deste projeto que oferece os cursos de Informática Básica e de Montagem e Manutenção de Microcomputadores para comunidades em situação de vulnerabilidade econômica e social. Texto elaborado a partir da experiência vivida no desenvolvimento destes cursos, fundamentado no referencial teórico e no discurso dos alunos. Resultados: participação de cento e sessenta e cinco alunos nos cursos de extensão oferecidos e a rica experiência de monitoria para nove discentes do IFPB. Finalmente, considera que o projeto foi uma valiosa oportunidade educativa que contribuiu na formação e no desenvolvimento humano e social dos participantes, atingindo plenamente o objetivo proposto de promover a educação digital para comunidades excluídas do universo das Tecnologias da Informação e da Comunicação.

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PALAVRAS-CHAVE: Educação. Tecnologia Digital. Inclusão Social. ABSTRACT: The text comes on the Project Digital Education: a contemporary necessity, held by the Dean of Extension (PROEXT) of the Federal Institute of Education, Science and Technology of Paraíba (IFPB), in the city of João Pessoa, Paraíba. The goal is to present the experience of this project that offers courses in basic Information Technology and installation and maintenance of computers for communities in economic and social vulnerability situation. The text was produced from the experience in the development of these courses, based on the theoretical referential and in the speech of the students. Results: participation of one hundred and sixty-five students in extension courses offered and the rich experience of monitoring for nine students from the IFPB. Finally considers that the project was a valuable educational opportunity that contributed in the formation and in the human and social development of the participants, fully reaching the proposed objective to promote digital education for excluded communities from the universe of Information and Communication Technology. KEY WORDS: Education. Digital Technology. Social Inclusion.


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1. Introdução “Evitai (disse o lavrador) vender a herança, Que de nossos pais nos veio Esconde um tesouro em seu seio.” “Mas ao morrer o sábio pai Fez-lhes esta confissão: - O tesouro está na educação.” (LA FONTAINE apud DELORS, 2003, p. 31-32).

A plena compreensão da exclusão digital não é algo simples, posto que é sujeita a inúmeras gradações e afetada por diversos fatores. É um sintoma de divisões mais profundas e importantes: de renda, de desenvolvimento e de letramento. [...] Quatro categorias de recursos concorrem para que as TICs ajudem na redução da exclusão social: Recursos físicos: acesso a computadores e a redes de telecomunicações. Recursos digitais: disponibilidade on line de materiais digitais (conteúdo e língua). Recursos humanos: educação e alfabetização (inclusive digital). Recursos sociais: suporte institucional, da comunidade e das estruturas sociais.

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A educação é um tesouro que prepara para a convivência na sociedade por meio do processo contínuo de aprendizagem que se realiza ao longo da existência humana. Segundo Macedo (2006, p. 19), “a educação é o processo de formação do ser humano para a vida, é a base essencial para o desenvolvimento humano e social”. E a educação digital constitui a chave de acesso aos avanços do universo da tecnologia digital, conhecimento indispensável na atualidade. O advento do microcomputador e da internet, a rede mundial de computadores, possibilitou à humanidade uma transformação nos hábitos, na cultura. No cenário social, a disseminação da informática está cada vez mais presente; é um universo de possibilidades que se apresenta facilitando tarefas rotineiras. Não se pode mais pensar a vida cotidiana sem as ferramentas digitais. O fato é que vamos automatizando e acelerando a realização de atividades através dessa máquina moderna e poderosa. Se por um lado isso traz benefícios, por outro pode aumentar a já existente diferença entre classes sociais. Conhecer as novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) com todos os aparatos disponíveis e saber usar as ferramentas digitais são requisitos básicos em chamadas de emprego. Assim, a ausência deste conhecimento dificulta a entrada dos “excluídos digitalmente” no mundo do trabalho. Programas e projetos de “inclusão digital” são realizados para ampliar as chances de aprendizagem e de evolução profissional de um número maior de pessoas e expandir experiências educacionais para os segmentos da população excluída do universo das tecnologias digitais. O objetivo principal dessas iniciativas é “incluir os excluídos”.


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A combinação desses recursos permite a composição de diversas iniciativas voltadas à inclusão digital. (BRASIL, 2006, p. 9).

Na perspectiva de iniciativas voltadas à inclusão digital, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), por meio da Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT), implementou, em 2012, o Projeto Educação Digital, que integra o Programa Educação Digital (PED) e foi executado pela equipe da PROEXT. Esta equipe analisou o contexto social dos grupos que seriam beneficiados pelo projeto, diagnosticou a necessidade de atender ao apelo comunitário por cursos na área de informática e definiu o eixo norteador desses cursos. 2. Educação Digital: uma necessidade contemporânea O Projeto Educação Digital promoveu os cursos Informática Básica e Montagem e Manutenção de Microcomputadores para alunos da Rede Municipal de Ensino de João Pessoa e da Rede Estadual de Ensino e para a população em situação de vulnerabilidade econômica e social residente em João Pessoa e em cidades circunvizinhas. A educação digital é uma necessidade básica contemporânea, pois é o processo de transmissão do conhecimento em informática que forma o cidadão para enfrentar os desafios da realidade do mundo das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) em profusão. Segundo Álvaro Vieira Pinto:

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A educação é o processo pelo qual a sociedade forma seus membros à sua imagem e em função de seus interesses. Por conseqüência, educação é formação (Bildung) do homem pela sociedade, ou seja, o processo pelo qual a sociedade atua constantemente sobre o desenvolvimento do ser humano no intento de integrá-lo no modo de ser social vigente e de conduzi-lo a aceitar e buscar os fins coletivos. (PINTO, 1993, p. 29-30).

Promover a educação digital enquanto projeto de extensão é pensar na formação da população excluída do avanço veloz da tecnologia que vive nos arredores da cidade em difíceis condições econômicas e sociais, sendo estas apresentadas como barreiras que limitam o acesso às tecnologias digitais. Pensar nessa necessidade dos digital e socialmente excluídos é pensar que mesmo no auge do advento da informática ainda existem milhares de pessoas sem nenhuma base desses conhecimentos; cidadãos ávidos por inclusão social com déficit de conhecimento básico de computação, conhecimento


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necessário no momento de buscar novas oportunidades. Não é redundante afirmar que a informática é uma ferramenta de extrema eficiência na atualidade. A utilização de recursos computacionais se tornou um fator decisivo para a inclusão acadêmica, profissional e social.

Na atualidade, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) possibilitam a difusão de informação e conhecimento; a tecnologia digital é usada em empresas, instituições de ensino, órgãos governamentais e não governamentais, comércio, mercado financeiro, telefonia, além de bancos de dados, sistemas internos, programas aplicativos e todos os recursos imagináveis para eficiência nos serviços e satisfação do usuário. A grande maioria das empresas usa como principal ferramenta de trabalho o computador, portanto no mundo do trabalho é imprescindível saber utilizá-lo. A informática, juntamente com a internet, permite aos seus usuários realizar muitas atividades em casa, como transações bancárias, comércio de produtos, contato com pessoas distantes, acesso à informação e até trabalhar. No âmbito educacional, a informática propicia uma ferramenta de pesquisa poderosa. Atualmente é comum o aluno utilizar essa tecnologia em sua vida acadêmica. No mundo moderno e globalizado, torna-se indispensável o uso dos computadores e da internet no cotidiano pessoal e social. Sendo assim, aqueles que não têm acesso a essa tecnologia passam a ser excluídos. A internet é um sistema de comunicação mundial que difunde o conhecimento e a informação rapidamente, permite a troca imediata de dados, áudios, vídeos e mensagens eletrônicas, e, por isso, é considerada uma tecnologia que, com seus recursos inesgotáveis, dinamiza e facilita a convivência social. Portanto, ela é visivelmente necessária, e quem não comunga de conhecimentos para participar dessa nova realidade vai ficando à margem: são os digitalmente excluídos. Há [...] uma grande lacuna no Brasil entre aqueles que já desfrutam, de diversas formas, dos benefícios decorrentes do acesso às TICs e um segundo grupo, largamente majoritário, que não tem tido a mesma facilidade de acesso a esses

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No mundo contemporâneo, um dos fatores vitais para o desenvolvimento econômico, social e cultural tem sido o aproveitamento das oportunidades oferecidas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Hoje, a sociedade compartilha a crença de que o crescimento econômico e social depende, em larga medida, da amplitude e efetividade dos processos de adaptação, mudança e inovação tecnológicas, bem como da capacidade de promover, por meio das tecnologias, a geração e difusão de informação e conhecimento, a criação de emprego e renda, o fomento à equidade social e cultural e a promoção do bem-estar dos cidadãos. (BRASIL, 2011, p. 2).


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recursos e às inumeráveis oportunidades que eles proporcionam nos campos da informação, do conhecimento, da educação formal e não-formal e da qualificação profissional, entre outros. (BRASIL, 2011, p. 2 ).

No sentido de atender à comunidade que não desfruta dos benefícios decorrentes do acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e das oportunidades que elas proporcionam, o PED promoveu a educação digital a partir da difusão do conhecimento científico e tecnológico. O aluno aprendeu a utilizar o computador e as informações disponíveis na rede mundial de computadores e a aproveitar esse conhecimento para uso pessoal, profissional, acadêmico e social. É um pequeno foco de conhecimento semeado pela PROEXT destinado a espargir pela comunidade os frutos colhidos pelos alunos do Projeto Educação Digital. O PED atendeu à necessidade de educação digital apresentada pela comunidade, capacitou, ensinou e orientou a utilização da informática como instrumento que promove o desenvolvimento humano e social, despertou no aprendiz a curiosidade e a motivação, a vontade de fazer descobertas e ampliou a interação social, em consonância com os quatro pilares da educação apresentados por Jacques Delors (2003): aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser ‒ estes são os princípios para se educar o ser humano. São objetivos do PED, estabelecidos pela PROEXT (IFPB, PROEXT, 2012, p.4): • Promover a educação digital; • Democratizar o acesso às tecnologias digital e da informação; • Promover cursos de qualificação profissional na área de Informática. O Projeto Educação Digital capacitou os alunos para a utilização de ferramentas tecnológicas. A intenção foi ensinar o uso da informática no contexto social, mostrando-lhes como acessar terminais de consulta, manusear sistemas operacionais e seus aplicativos ( Windows, Word, Excel, PowerPoint), dispor dos serviços de comunicação providos pela internet ‒ e-mail, redes sociais e sites ‒, além de

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como realizar a montagem e manutenção de microcomputadores. 3. Trajetória metodológica Este projeto de extensão surgiu a partir da missão precípua da PROEXT de promover a educação e atender às demandas da comunidade por cursos na área de Informática. Inicialmente foi realizado o planejamento e a elaboração do Projeto Educação Digital, com os seguintes cursos: Informática Básica e Montagem e Manutenção de Microcomputadores. Os laboratórios foram organizados: sala climatizada, de fácil acesso ‒ localizada na PróReitoria de Extensão, em João Pessoa ‒ e equipada com bancadas, microcomputadores conectados à


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internet, datashow e quadro branco. A seleção dos monitores foi feita através de edital do processo seletivo de bolsistas para monitoria do Programa Educação Digital (PED). Preenchidas as vagas para coordenação administrativa e para monitoria de Informática Básica, a equipe da PROEXT orientou os monitores sobre as atividades do projeto e iniciou o curso de Informática Básica, que passou a acontecer nos turnos da manhã e da tarde. Posteriormente, foi divulgado novo edital e com a chegada de novos monitores foi oferecido à comunidade o curso de Montagem e Manutenção de Microcomputadores. No início das atividades das nove turmas dos cursos de Informática e Manutenção, a coordenação proporcionou a socialização dos alunos iniciantes, com o objetivo de conhecê-los e integrá-los, mostrando o funcionamento do projeto e as normas da Instituição, e promovendo uma reflexão sobre a aquisição e a utilização do conhecimento e sobre o universo de possibilidades que ele pode lhes proporcionar. Os cursos foram assim desenvolvidos (IFPB, PROEXT, 2012, p. 6):

• Aulas teóricas expositivas com utilização de datashow e outros recursos disponíveis na instituição; • Exercícios práticos no Laboratório de Informática após a apresentação dos conteúdos; • Utilização de quadro branco para complementar a exposição dos slides.

Depoimento da aluna do curso de Informática Básica:

O projeto está sendo ótimo. Quando cheguei aqui no curso de Informática Básica não tinha noção de como usar a internet. Hoje já sei utilizar o computador, criar e-mail, pesquisar sites de emprego, de informações recreativas e de concursos, o que possibilitou fazer inscrição no meu primeiro concurso público. (R. C., 39 anos).

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As aulas teóricas e práticas e o acesso às tecnologias digitais são a base de aquisição do conhecimento que orienta o aluno sobre como manusear ou consertar o computador, onde obter a informação de que necessita e como utilizá-la ‒ elementos reais para o cotidiano social; e de aplicação do conhecimento adquirido, que o orienta sobre como usar o computador para elaborar um currículo, como navegar na internet para pesquisar sites de emprego ou concursos, como imprimir uma conta de água, energia ou telefone, como instalar um computador, fazer sua manutenção ou instalar um programa.


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Neste depoimento, a aluna destaca que o conhecimento adquirido no curso possibilitou a abertura de caminhos promissores em sua vida e demonstra claramente o seu aproveitamento. A intenção do Programa é que o aluno usufrua desse alicerce de conhecimento e do veloz avanço tecnológico para melhorar suas condições de vida, de trabalho, suas relações sociais e para facilitar sua vida cotidiana. No encerramento de cada turma houve uma confraternização entre a coordenação do Programa, professores e alunos. O reitor do IFPB, representantes da Pró-Reitoria de Extensão e a coordenadora da Campanha Educacional do Menor participaram da solenidade de encerramento das primeiras turmas do Curso de Informática Básica. O projeto é continuamente avaliado através de reuniões periódicas e observação do cotidiano dos cursos para as adequações indispensáveis à educação digital destinada às comunidades carentes desse conhecimento, necessário e atual. 4. Resultados O Projeto Educação Digital promoveu cursos na área de Informática. Foram nove turmas perfazendo um total de cento e sessenta e cinco alunos que participaram dos cursos de Informática Básica e Montagem e Manutenção, em 2012. Além de promover a educação digital, o PED 2012 também proporcionou experiência de monitoria a nove discentes do IFPB, que, pelos seus próprios méritos, participaram da realização do projeto. Os monitores são alunos do Curso Superior de Tecnologia em Sistemas para Internet e do bacharelado em Engenharia Elétrica, que, sob a coordenação de profissionais da PROEXT, ministraram os cursos de extensão na área de Informática para as comunidades. Segundo a monitora de Informática Básica, Elisa de Figueiredo, o curso “foi uma agradável experiência que fez desabrochar habilidades e competências necessárias a minha vida profissional”. Este depoimento da monitora revela que o aprendizado e a experiência no PED representam um passo na construção da sua vida profissional. Assim, o discente vai construindo e alicerçando a vida por meio de pequenos, mas expressivos, aprendizados; investindo na formação e desenvolvendo habilidades e competências indispensáveis na sociedade contemporânea. Para Luiz Torres, monitor do curso de Montagem e Manutenção de Microcomputadores, o PED 2012 foi uma experiência de relevo na sua formação profissional: “Além de desenvolver habilidades e adquirir experiência como professor, tive oportunidade de oferecer novas perspectivas profissionais para pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade”. Nesse sentido, os discentes do IFPB tiveram oportunidade de participar ativamente, socializando o conhecimento e contribuindo para o desenvolvimento da educação digital de comunidades carentes.


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5. Considerações Finais O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, através da Pró-Reitoria de Extensão ‒ ao planejar as ações de extensão para o ano de 2012, refletindo sobre a aquisição e utilização do conhecimento de informática como veículo de promoção da inclusão digital, e analisando a crescente procura da comunidade por cursos na área de informática ‒, identificou na cena de exclusão digital, que marca a existência dos que possuem menor poder aquisitivo, a necessidade de promover o Projeto Educação Digital. O PED 2012 foi uma iniciativa relevante que proporcionou à comunidade o conhecimento das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) indispensáveis à vida cotidiana. Esse projeto se caracteriza como um componente essencial do potencial educativo extensionista e representa uma alternativa necessária para atenuar as dificuldades, mas não suficiente para atender à demanda de educação digital da comunidade. Portanto, o projeto foi uma valiosa oportunidade educativa que contribuiu para a formação e o desenvolvimento humano e social, e alcançou o objetivo de promover a educação digital para comunidades excluídas do universo das tecnologias. O eixo norteador foi a execução dos cursos de informática que eliminou as fronteiras entre os alunos que participaram do projeto e o conhecimento digital e, consequentemente, democratizou o acesso às TICs, gerando oportunidades educativas abertas à participação dos excluídos do cenário digital. A competência para usar os equipamentos digitais com desenvoltura, ou seja, a educação digital, pressupõe assumir mudanças no modo de se relacionar com o mundo e permite ao aprendiz a possibilidade de reinventar seu cotidiano. Por isso, não é um exagero afirmar que a educação digital se configura como uma necessidade básica contemporânea. Observação: Atendendo às normas de publicação da Revista Práxis: Saberes da Extensão, expostas no Edital 41/2012, os autores comunicam que este artigo foi elaborado conjuntamente.

BRASIL. Ministério das Comunicações. Ações Governamentais em Inclusão Digital: análise de utilização do FUST. Secretaria de Telecomunicações. Departamento de Serviços e de Universalização de Telecomunicações. Brasília, 2006. p. 9. _______. Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Programa de Fomento à Elaboração e à Implantação de Projetos de Inclusão Digital: implantação de telecentros. Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social. Brasília, 2011. p. 2. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 8. ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2003. p. 31-32.

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6. Referências


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IFPB. Pró-Reitoria de Extensão - PROEXT. Projeto Educação Digital. João Pessoa, 2012. p. 4 e 6. MACEDO, Lourdes Sales de. Educação e Segurança no Trabalho: contribuições da educação profissional e do saber dos trabalhadores da construção civil. Dissertação (Mestrado em Educação) ‒ PPGE/CE/UFPB, João Pessoa, 2006. p. 19.

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PINTO, Álvaro Vieira. Sete Lições sobre Educação de Adultos. Introdução e entrevista de Dermeval Saviani e Betty Antunes de Oliveira: versão final revista pelo autor. 8. ed. São Paulo: Cortez, 1993. p. 29-30.


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OS ASPECTOS DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA TELEVISIVA ASPECTS OF VIOLENCE IN THE MEDIA TELEVISION Heranir Fernandes de Oliveira Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB/Campus João Pessoa heranir.oliveira@ifpb.edu.br

RESUMO: Este artigo pretende discutir a forma como as emissoras de televisão da cidade de João Pessoa, na Paraíba, vêm mostrando aspectos ligados à violência urbana e rural dentro da programação jornalística. O presente trabalho mostra uma análise dos telejornais levados ao ar por cinco emissoras de televisão que operam em canais abertos na cidade. O comportamento em cena de alguns apresentadores, tidos como fenômenos televisivos, também foi avaliado. Na guerra pela audiência, alguns programas investem no sensacionalismo e em estratégias que vão de encontro à ética profissional. Tal comportamento já chamou a atenção do Ministério Público que demonstra interesse em combater os excessos. PALAVRAS-CHAVE: Violência, Televisão, Ética, Jornalismo. ABSTRACT: This article discusses how television stations in the city of João Pessoa, Paraíba, have shown aspects related to urban and rural violence within the journalistic programming. This paper presents an analysis of TV news programs which presents this kind of programs in five television station channels that operate in open channels in the city. In their search for getting the attention of the television viewers, some television broadcasts have made use of sensationalism and strategies that go against professional ethic. The behavior of some presenters on stage, who are taken as a television phenomenon, was also evaluated. In war for the audience, some television broadcasts have invested in sensationalism and strategies that go against professional ethics. Such behavior has drawn attention of Public Attorney Office that has shown interest in combating the excesses that have been displayed by the broadcasters.

1. Int,rodução A televisão ocupa o centro das atenções em milhares de lares, escritórios e empresas. Está presente em ambientes onde não há distinção de raça, credo, segmento econômico e ideológico. Ricos e pobres compartilham dessa espécie de janela aberta para o mundo, onde se pode acompanhar ao vivo, em tempo real, acontecimentos do outro lado da terra. A capacidade de integrar e articular

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KEY-WORDS: Violence, Television, Ethic, Journalism.


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vários gêneros discursivos espalhados pelos diversos tipos de programas oferecidos faz da TV o principal veículo de comunicação de massa do país. Além de entretenimento, esse meio de comunicação tem mostrado uma realidade bastante questionada por pesquisadores e sociólogos: a violência. Até que ponto a banalização de atos violentos, exibidos diariamente, contribui para a formação de uma sociedade ainda mais desigual e desumana? Essa questão com certeza é mais antiga do que se imagina. O ser humano sempre teve necessidade de se comunicar, de expressar suas emoções e transmitir suas ideologias. Das pinturas nas cavernas ao desenvolvimento das variantes da linguagem (oral e escrita), passando pelo aperfeiçoamento da prensa, foram muitas as conquistas das civilizações até se chegar à invenção da Televisão. A origem da palavra Televisão vem do grego tele - distante e do latim visione- visão. Este conceito de “visão” à “distância” se popularizou no mundo a partir do início do século XX em Paris, durante o Primeiro Congresso Internacional de Eletricidade trazido pelo russo Constantin Perskyi. Dessa relação simbiótica nasceu um dos mais importantes meios de comunicação de massa. Quando o canadense Marshall MacLuhan, sociólogo e pesquisador da Teoria da Comunicação, morto em 1980, criou o conceito de aldeia global, profetizou o poder que a Televisão iria representar. Uma tecnologia capaz de varrer o planeta em segundos de som e imagem em tempo real, e transformálo numa pequena aldeia, na qual todos compartilham da mesma informação. “[...] A televisão é um meio de comunicação que transforma a vida das pessoas: muda conceitos, forma opiniões, cria hábitos, inspira comportamentos [...]” (PATERNOSTRO, 2006, p. 20). A televisão tem mesmo estes poderes, acompanha a evolução do mundo em minutos e segundos, jogando-o diariamente para dentro dos lares. Quando em 20 de julho de 1969 a população pela primeira vez pôde assistir pela TV a descida de um homem na Lua, o mundo nunca mais seria o mesmo. As distâncias seriam sepultadas de vez pela tecnologia. Vinte e dois anos depois, em 1991 na Guerra do Golfo Pérsico, o ataque americano a Bagdá foi visto em casa ao vivo e em cores por pessoas do mundo todo. Foi a primeira transmissão de uma guerra via satélite. Como esquecer também o fatídico 11 de setembro de 2001, que fez mexer os sentimentos e arrancar um grito de dor e revolta no ataque as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York onde morreram cerca de três mil pessoas. Cenas de uma vida moderna que mais pareciam saídas de um filme hollywoodiano. E tudo ali, ao alcance de um simples clique do controle remoto. “A TV está em nossos lares e é uma faceta do nosso dia-a-dia que podemos desfrutar sozinhos ou em grupo. Sua presença pode ser uma fonte de contato humano e, devido ao seu entretenimento, ela é a principal fonte de informação para muitas pessoas” (KELLISON, 2007, p. 26). Segundo Russell Baker (apud KELLISON, 2007, p.31) “a Televisão foi o evento mais revolucionário do século. Em


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termos de importância, equipara-se à invenção da pólvora e da imprensa, que mudaram a condição humana nos séculos que se seguiram”. 2. Decodificação das imagens Um ditado popular diz que uma imagem vale mais que mil palavras. Quem não se lembra de Charles Chaplin? O eterno vagabundo imortalizou um dos personagens mais famosos da história do cinema: Carlitos que virou ídolo de crianças e adultos contracenava com vários personagens sem dizer uma única palavra. A imagem possui um poder manipulador, uma força que a linguagem verbal não tem. Este artifício encontrou na Televisão um aliado importante. Nesse contexto os pixels (é o menor elemento num dispositivo de exibição, como por exemplo, um monitor, ao qual é possível atribuir-se uma cor. De uma forma mais simples, um pixel é o menor ponto que forma uma imagem digital, sendo que o conjunto de milhares de pixels forma a imagem inteira) nunca foram tão valorizados como agora na atualidade. A cada minuto somos bombardeados por uma grande quantidade de estímulos visuais. Um dos grandes problemas está na decodificação das mensagens que constituem este veículo por parte do receptor. A assimilação desse repertório televisivo, no entanto, depende da vivência e da cultura de cada um de nós. A mensagem de um determinado filme ou programa pode parecer inocente, despretensiosa, mas em toda produção humana há o caráter ideológico. São espécies de mensagens subliminares, que passam despercebidas aos olhos menos aguçados e que formam o entendimento. Mas por trás da indústria da informação, há um universo determinado em chamar a atenção do público e mantê-la por tempo suficiente para garantir a sobrevida das empresas.

É aí que entram em cena os produtores, diretores, editores e demais profissionais capacitados para tornar esse feedback quase imperceptível. Alguns estímulos, no entanto são mais rapidamente assimilados pela mente humana que outros. A violência é um deles. Na vida real é comum as pessoas pararem as margens das rodovias para ver um acidente. Aguçados pela curiosidade, muitos se aglomeram em busca de respostas que às vezes nem a polícia tem. O que mais interessa para eles é ver as imagens, ser uma espécie de coadjuvante na cena. A violência está realmente cada vez mais presente na vida de todos nós e se mostra de várias formas. Recentemente o site de notícias G1 da Rede Globo noticiou que uma professora de uma escola no interior do Paraná levou um susto em sala de aula. Numa inspeção de rotina no material dos

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Não é tão fácil, entretanto, captar a atenção de alguém e mantê-la. É particularmente desafiador quando o público-alvo torna-se dessensibilizado devido à exposição repetida à programação da televisão. A forma mais eficaz de prender a atenção de alguém é estimular uma resposta (CASTELLS, 1999, p. 34).


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estudantes, ela encontrou um revólver calibre 38 carregado com munição na mochila de um menino de um ano e meio de idade. Este fato chamou a atenção de pais e educadores no país e no mundo, e reascendeu a preocupação com a banalização da violência. Com o inchaço das metrópoles, a crise econômica, o elevado índice de desemprego e a retirada do Estado das políticas sociais, encontraram nas metrópoles brasileiras hoje, um verdadeiro quadro de guerra entre incluídos e excluídos sociais. 3. A Influência sobre as crianças Em 2008 a UNESCO divulgou uma pesquisa sobre a violência na mídia realizada em 23 países, incluindo o Brasil, com cinco mil estudantes de 12 anos. Segundo Calado Neto (2011) o Estudo Global da UNESCO revelou dados preocupantes:

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 A população infanto-juvenil de países considerados de “alta tecnologia”, que dispõe de maior acesso a meios eletrônicos de diversão (como TV e computador), tende a apreciar mais a violência, viva ela ou não em ambiente violento;  Há uma relação entre a preferência por violência na mídia e a necessidade pessoal de estar envolvido em atos violentos;  A mídia exerce um importante papel no desenvolvimento de orientações culturais, visões de mundo, crenças, valores e imagens (geralmente estereotipadas). O fato é que a TV domina a vida das crianças e adolescentes: 97 por cento delas assistem televisão regularmente (a média mundial é de 3 horas por dia, enquanto o Brasil apresenta uma das maiores taxas: 4,5 horas por criança e adolescente). Em consequência, elas tendem a confundir realidade e ficção. Vários estudos mostram evidências de que o entretenimento violento é um fator causal na promoção de atitudes e comportamentos agressivos. Nesse universo as crianças são as maiores vítimas. A Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, adotada em 1989, fornece um conjunto de princípios em seu artigo 17, que trata da mídia. Esse artigo estabelece o direito da criança à informação e acesso às fontes, além de tratar da necessidade de encorajar o desenvolvimento de orientações apropriadas para proteger a criança de informações e materiais prejudiciais ao seu bemestar. Dessa forma, os cuidados dos pais para com a influência da mídia sobre os adolescentes devem ser redobrados. A violência é um retrato do nosso cotidiano, ela tem o poder de mostrar o quanto o Estado ou município estão estruturados, qual o grau de desenvolvimento e o nível sócio-cultural de determinada sociedade. Em muitos casos ela se manifesta em pequenos gestos e ações, e por parecer tão corriqueira acaba se tornando uma coisa banal. No entanto, é fácil observar o grau de espetacularização do noticiário na mídia televisiva e a relação com os fatos policiais. Na análise de


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4. O telejornalismo no país No Brasil, os telejornais nos anos 50 seguiam o modelo do rádio e adotavam um estilo clássico, com texto “rebuscado”. Os apresentadores muitas vezes interpretavam os textos em voz alta (ou impostada). Segundo Rezende (2000) os jornais eram feitos basicamente direto do estúdio, devido às dificuldades em se fazer coberturas externas. Em termos visuais, todos eram semelhantes: cortina de fundo, uma mesa e uma cartela com o nome do patrocinador. A imagem, em preto e branco tinha qualidade inferior à do cinema. Na década de 60 com a chegada do videotape, a TV dá um salto qualitativo e o telejornalismo inicia uma nova fase no Brasil. Mas o Golpe Militar de 1964 põe fim a este período de expansão, e os telejornais no país devido às interferências políticas passam a adotar o modelo norte-americano: os noticiários voltam a ser conduzidos exclusivamente pelos locutores, dispensando-se a participação de jornalistas como apresentadores. No entanto entre os anos de 1969 e 1970, dois fatos vão dar início a uma nova fase no telejornalismo brasileiro: a criação do Jornal Nacional da Rede Globo, e o fim do Repórter Esso. Nessa mesma época, surge a Embratel – Empresa Brasileira de Telecomunicações que adere ao consórcio internacional para utilização de satélites de telecomunicações, abrindo caminho para as redes nacionais de televisão. A partir dos anos 70 foi implantado também no país o sistema de cores híbrido Pal-M. Na década de 80, com o lançamento de satélites de comunicação brasileiros foi ampliada a possibilidade de transmissão e recepção de sinais de televisão no país. Finalmente na década de 90 o aparelho de televisão passou a ser o eletrodoméstico mais popular nos lares brasileiros, seguido pelo rádio e pela geladeira, alcançando todas as regiões do país. (IBGE, 1991) Estava criada oficialmente a briga pela audiência. A partir daí começaram a proliferar programas considerados pelos formadores de opinião, como apelativos e de cunho popularesco. A Constituição do Brasil no Capítulo V que trata da Comunicação Social, artigo 221,

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qualquer telejornal, é possível perceber a presença cada vez mais frequente de reportagens com forte caráter apelativo, que chamam a atenção do telespectador. Diante da Televisão os sentimentos são múltiplos. Há quem veja nas cenas de violência uma forma de aprender a se prevenir no dia a dia da bandidagem, outros encaram os fatos com medo e se retraem ainda mais, tornando-se uma espécie de refém da vida moderna. Mas há aqueles que encaram os crimes e assaltos vistos pela telinha, como uma possibilidade de extravasar a violência contida no interior de cada um de nós. Para estes, o fato de um morador fazer justiça com as próprias mãos diante de um crime, por exemplo, revela o lado instintivo da reação, muitas vezes comemorado pelo cidadão, mas condenado pelas autoridades policiais.


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determina entre outras coisas que as emissoras de televisão no país mantenham respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família. Princípios que nem sempre são respeitados, haja vista que a grande maioria das emissoras e redes de televisão tem no lucro seu principal objetivo. Nessa guerra, vale quase tudo, inclusive programações de apelo pela banalização da violência, o que compromete a qualidade dos programas. 5. O papel do showman na notícia Na Universidade, o estudante aprendeu que sempre que o jornalista escrever para a TV deve lembrar que está contando uma história. É a chamada busca pela linguagem coloquial, do cotidiano, sem proselitismos, sem palavras de difícil compreensão. E quem atua como fio condutor destas mensagens é o apresentador. Se no passado esta figura era tida como um mero leitor das noticias diante das câmeras, hoje em dia, este profissional participa cada vez mais da elaboração e da forma como é veiculado o conteúdo jornalístico. Há uma maior interferência dele no telejornal.

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A credibilidade do telejornal é influenciada diretamente pela confiança que os espectadores depositam nos seus apresentadores. Embora possam ser considerados, como em qualquer outro formato televisual, a “cara” do programa que comandam, os apresentadores do telejornal constroem sua imagem numa constante tensão entre a propalada exigência de “objetividade” e discrição da prática jornalístico e a autopromoção e glamorização inerentes à televisão. (BRITO, 2008, p.127)

O estilo opinativo de comentar as notícias, introduzido no país no começo dos anos 90 por Boris Casoy ganhou atualmente uma dimensão maior, com pitadas de humor e muito sensacionalismo. O fato é que na busca por uma maior desenvoltura na frente das câmeras, excessos são cometidos. Na cidade de João Pessoa alguns apresentadores de programas em sua maioria de cunho violento, e levados ao ar no horário do almoço, transformaram os estúdios em ambientes onde não faltam a dramaticidade e a teatralidade. Outro fato observado é que como alguns destes profissionais migraram do rádio direto para a TV sem nenhum preparo anterior, trouxeram vícios de linguagem e condutas cada vez mais questionados. Por outro lado há aqueles que foram contratados pelos agentes televisivos e orientados diretamente a fazerem da notícia um show a parte. Tudo isso para alavancarem a audiência nos respectivos horários. Nesse contexto, são comuns os erros gramaticais, e por que não dizer, conteúdos com pobreza de vocabulário, e às vezes de baixo calão. O que mais chama a atenção é a espetacularização desses profissionais. Alguns não se limitam apenas a mostrar nas reportagens, determinadas cenas mais impactantes, pelo contrário, fazem questão de repeti-las e comentá-las exaustivamente Para atrair a atenção do telespectador eles


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6. Análise dos telejornais Em João Pessoa há cinco emissoras de televisão que operam em canais abertos: a TV Cabo Branco, afiliada da Rede Globo; TV Correio que transmite o sinal da Record; TV Tambaú que opera com o sinal do SBT; TV Arapuan afiliada da RedeTV e a TV Clube retransmissora da Rede Bandeirantes. A briga por uma maior audiência é nos programas jornalísticos da hora do almoço, período de maior pulverização entre os telespectadores. Entre as emissoras, quatro têm programas cujo conteúdo de notícias sobre a violência, seja urbana ou rural, supera em mais de 60% o restante das informações veiculadas no horário vespertino: A TV Tambaú com o Caso de polícia apresentado por Fábio Araújo, a TV Correio com o programa Correio Verdade apresentado por Samuka Duarte, a TV Clube através do Aqui na Clube comandado por Victor Freitas e o Cidade em Ação da TV Arapuan com apresentação de Jota Ferreira. A outra emissora é a TV Cabo Branco que exibe o programa JPB 1ª edição apresentado por Carla Visani e Bruno Sakaue. Esta última tem noticiário de conteúdo mais equilibrado, ou seja, as notícias policiais não são o carro-chefe do jornalismo.

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apostam em outros recursos: dançam em cena, se jogam no chão, usam elementos como bastão ou cajado – objetos que reforçam a ideia de comando e repressão a violência. Aliado a isso estão recursos técnicos introduzidos nos programas. Áudios com frases de efeito pedindo justiça ou mostrando indignação, sempre no tom jocoso, são intercalados nas matérias ou veiculados enquanto o apresentador comanda o programa. A narrativa das notícias não obedece a regras. Quanto mais apelativa a noticia, ou tida como exclusiva, mais esta dominará o tempo televisivo. Nessa espécie de jogo de papéis, o apresentador se coloca no lugar do público e toma para si as dores da vítima. Estes profissionais tidos como fenômenos televisivos representam uma espécie de ´advogado do povo´ ou ´defensor dos fracos e oprimidos´. Segundo pesquisas de opinião pública este tele populismo encontra mais adeptos entre as camadas C,D e E. O que se mostra na TV de violento, dizem estes apresentadores, é a realidade que bate a porta, que pode estar na casa do vizinho ou de um parente. Há uma espécie de identificação de valores. Para Brito (2008) “se o apresentador é, assim, alguém que lhe parece até disposto a fazer certas confidências, deve ser também um indivíduo que, na sua aparente franqueza, é merecedor também da sua confiança”. É aí nessa relação de empatia que há uma simbiose do papel social (o âncora do telejornal) com a imagem pessoal (a imagem do comunicador). E o mercado sabe bem como explorar isso. Palavras como credibilidade e verdade passaram a ser associadas ao linguajar cotidiano dos apresentadores no ar, e se transformam em carros-chefe do marketing das empresas jornalísticas.


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Atualmente a linguagem jornalística nestas emissoras passa por um momento de transformação, mas a linha editorial de cada uma delas é bem visível. Para uma melhor avaliação do conteúdo jornalístico destas emissoras eu analisei os programas veiculados no período de 2 a 13 de julho de 2012 no horário das 11h45 às 13h10 de segunda a sexta-feira. Para cada dia um programa foi analisado, obedecendo à mesma sequência na última semana. Neste estudo, foi observado que a TV Cabo Branco mantém um jornalístico que se aproxima dos princípios editoriais do padrão Globo de Televisão. O JPB 1ª edição levado ao ar a partir de 12h05, apresenta matérias diversificadas, ou seja, além de mostrar os fatos policiais mais importantes do dia, exibe também conteúdos ligados a economia, cultura e esporte. Porém ao exibir reportagens sobre a violência, tem o cuidado de não mostrar cenas de pessoas mortas, manchas de sangue, nem tão pouco entrevistas que atentem contra a moral e a dignidade humana. A conduta no ar dos apresentadores Bruno Sakaue e Carla Visani é respeitosa para com o telespectador. A dupla consegue uma boa interação sem apelar para recursos grotescos em cena. O programa Caso de Polícia comandado por Fábio Araújo a partir das 11h45 na TV Tambaú, prioriza pela essência do nome do jornalístico, fatos ligados a violência na cidade e nas redondezas. Apesar do foco centrado no gênero policialesco, as matérias exibidas têm boa edição, ou seja, resguardam imagens e sonoras mais impactantes que possam chocar o telespectador. O apresentador Fábio Araújo tem boa desenvoltura no ar e dependendo do momento, consegue ser enfático e brincalhão com o público que o assiste. Suas intervenções vêm atreladas a outros sistemas semióticos (tom da voz, expressão facial, gestos, etc.), porém são observados os princípios da moral e da ética. O Cidade em Ação é levado ao ar a partir das 11h50 pela TV Arapuan. A realidade violenta da grande João Pessoa é mostrada num formato de programa dividido entre reportagens, sonoras, links ao vivo e stand ups (recurso usado quando o repórter aparece em cena relatando fatos sem ilustrar o texto com imagens). Na edição das matérias percebe-se o cuidado em desfocar imagens de corpos e a valorização de takes que mostrem policiais de arma em punho durante operações rotineiras. O apresentador Jota Ferreira, que também atua como repórter no telejornal, conduz o programa sem grandes destaques: uma apresentação linear com uma narrativa que remete ao estilo do rádio. O programa Aqui na Clube de responsabilidade da TV Clube levado ao ar a partir das 12h30 aposta na descontração de Victor Freitas. Mas em alguns momentos do programa esta irreverência parece descambar para a inconsequência. Em um trecho do programa exibido no dia 3 de julho, o apresentador fala um palavrão ao se referir a um preso integrante de uma quadrilha mostrado na reportagem. Em outro programa, durante uma entrevista gravada de um bandido preso, o acusado promete vingança a um comparsa. A banalidade da violência também é ressaltada por Victor Freitas depois de exibir uma matéria sobre a morte de um morador de rua. Apesar da polícia não ter pistas de quem cometeu o crime, o apresentador faz chacota da vítima, e diz que o fato tem ligação com


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7. Campanha contra a baixaria na mídia Em outubro de 2009 os Ministérios Públicos da Paraíba e Federal emitiram uma recomendação conjunta aos órgãos da imprensa local para que se abstenham de veicular programas que apresentem conteúdo de violência em horário vespertino ou matutino. Outra recomendação foi quanto a não exibição de imagens de pessoas detidas pela polícia, ou encarcerados sem a autorização deles ou de

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traição por causa de uma mulher. Nas reportagens, imagens de corpos estendidos no chão e presos suspeitos não são preservadas. O Correio Verdade exibido a partir das 12h10 pela TV Correio é o telejornal onde mais se observa na capital o modelo centralizado, ou seja, no qual o apresentador se coloca numa posição de hierarquia superior ao da notícia, dando a ideia de que o programa lhe pertence. Na condução do telejornal Samuka Duarte usa vários elementos para manter a atenção do telespectador: fala alto, gesticula, cai no chão e dirige o olhar diretamente para a câmera enquanto fala (close fechado), utilizando vocativos ou pronomes pessoais (“Você viu...”, “você sabe...”) para dar ideia de maior intimidade com o público. O apresentador também utiliza às vezes objetos em cena para reforçar a imagem de comando (faz uso de bastão, cajado ou cipó para animais). As matérias que mostram fatos ligados a violência costumam explorar imagens chocantes. O bizarro ou aquilo que não é comum na sociedade, ganha status de notícia e é bastante comentado pelo apresentador. Em um dos programas analisados, ele mostra o rosto de um homem acusado de estuprar uma adolescente e o chama de “tarado safado”. Vale ressaltar que a conduta profissional dos jornalistas e dos veículos de comunicação é regida por um Código de Ética que existe há mais de 20 anos no país. Um instrumento importante no compromisso com a busca da verdade dos fatos e da isenção, que devem nortear os trabalhos desses profissionais. O novo Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, atualizado no ano de 2007, ressalta que é de direito fundamental do cidadão o acesso à informação, sendo de dever constitucional do jornalista informá-lo sem nenhuma restrição. Porém seu artigo 11 diz que estes profissionais não podem divulgar informações de caráter mórbido, sensacionalistas ou contrários aos valores humanos especialmente em coberturas de crimes e acidentes. Mas, lamentavelmente, excessos e abusos permeados pela falta de ética têm comprometido a atuação da maior parte das emissoras de televisão em João Pessoa. O que se percebe é que a notícia hoje em dia é tratada como uma mercadoria. Alguns meios de comunicação estão mais preocupados com a audiência do que com a realização de um trabalho profissional e ético. Isso abre caminho para o sensacionalismo, que talvez seja a mais antiga ferramenta para aumentar as vendas de produtos de comunicação, implicando dessa forma, numa opção editorial.


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advogado, defensor público, juiz ou membro do MP. O documento também pede que a imprensa se abstenha de mencionar o nome ou exibir imagens de crianças e adolescentes em conflito com a lei sem autorização dos pais ou responsáveis. O documento foi assinado pela promotora da Infância e Juventude de João Pessoa, Soraya Escorel e pelo procurador da República na Paraíba Duciran Farena. Segundo as autoridades, a medida foi tomada porque as emissoras locais vinham exibindo programas inteiramente inadequados para o horário, em especial programas policiais que mostravam cenas e relatavam casos de violência, mortes violentas, agressões físicas, prisões e outras situações degradantes. Preocupados com o baixo nível dos programas jornalísticos na Paraíba, surgiu em 2010 o Fórum de Ética e Mídia. O movimento encabeçado pela Ordem dos Advogados do Brasil secção Paraíba, tem apoio do Sindicato dos Jornalistas, da Associação Paraibana de Imprensa, CUT, do Conselho Regional de Psicologia, Conselho Regional de Serviço Social, Conselho Regional de Medicina e Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações. Segundo o advogado Alexandre Guedes, membro da comissão do Fórum de Ética e Mídia na Paraíba, as maiores violações das emissoras de Televisão de João Pessoa dizem respeito ao princípio da dignidade humana, que fere o direito da imagem do cidadão. Para ele, alguns programas televisivos fazem apologia ao crime onde a notícia avilta a dignidade humana é e colocada como um produto de ascensão barata da audiência. Alexandre lembra que o Fórum está sendo recomposto, e há pretensão de criar ainda neste segundo semestre de 2012 o Comitê de Monitoramento do Programa Nacional de Direitos Humanos. De acordo com o advogado, depois que o Fórum de Ética e Mídia foi criado, o Ministério Público já advertiu duas empresas jornalísticas no estado: o Sistema Correio de Comunicação foi autuado e houve uma representação contra a TV Arapuan. No Brasil a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados em parceria com entidades da sociedade civil lançaram em 2002 a campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”. No site <http://www.eticanatv.org.br> é disponibilizado um ranking de denúncias contra programas que desrespeitam os direitos humanos na televisão. De acordo com o último balanço divulgado, no período de 06/05/2010 a 15/12/2010 foram 892 denúncias fundamentadas no país. O programa Pânico na TV (Rede TV ) apresentou o maior número de queixas. Segundo o site que promove a campanha, o referido programa contabilizou 113 denúncias por exposição de pessoas ao ridículo, humor grotesco, excesso de nudez e palavras de baixo calão. A pretensão do Fórum de Ética e Mídia na Paraíba é elaborar em breve um ranking com as denúncias de telespectadores insatisfeitos com a qualidade e a falta de ética da programação televisiva no estado. 8. Conclusão A televisão é um dos instrumentos de comunicação mais poderosos e de grande capacidade de mobilização social na atualidade, pela capilaridade do seu alcance e pelo fascínio que exerce sobre


as pessoas. Daí a importância de serem questionados a forma é o conteúdo veiculado por este veículo dos vários tipos de violência. A exposição do público às frequentes cenas de violência, reais ou fictícias, pela mídia, pode interferir na postura comportamental e nas relações sociais? O fato é que os reflexos e as consequencias dessa ação na vida das pessoas ainda não foram totalmente mensurados. Mas há um consenso entre especialistas, de que há muito está caracterizada a relação de causa e efeito entre a violência exibida pelos meios de comunicação de massa e a futura prática de atos violentos pelos espectadores. A mídia que deveria ser uma espécie de espelho das contradições e conflitos na sociedade costuma banalizar a informação em detrimento de uma maior audiência. A violência na mídia televisiva, objeto de análise desse trabalho, se caracteriza como um fator constante na disputa pela audiência nos canais abertos dos programas vespertinos de João Pessoa. As cinco emissoras observadas - TV Cabo Branco, TV Correio, TV Tambaú, TV Arapuan e TV Clube - têm travado uma guerra televisiva pela preferência do telespectador. Entre elas, apenas a TV Cabo Branco, mantém um jornalístico na hora do almoço onde as notícias relativas à violência não dominam o noticiário. As cenas de violência mostradas nas reportagens apresentam tratamentos diferenciados. Enquanto a emissora afiliada da Rede Globo apresenta uma conduta ética, não exibindo takes de pessoas mortas e imagens sensacionalistas, as outras quatro emissoras costumam abusar de tais recursos. Para encontrar um diferencial no mercado as empresas também têm apostado numa linguagem jornalística cada vez mais coloquial. Nessa tarefa, um dos responsáveis é o apresentador de televisão. Em quatro emissoras- TV Correio, TV Tambaú, TV Arapuan e TV Clube - os apresentadores usam recursos em cena para atrair ainda mais a atenção do telespectador: voz alta e gesticulação. No entanto o mais grave é a forma despojada e, às vezes, antiética como alguns destes profissionais comentam as notícias ligadas à violência. Os casos mais preocupantes foram constados nos programas da TV Correio e TV Cube. O resultado disso são imagens impactantes e até palavrões protagonizados no ar. Preocupado com a baixaria na mídia televisiva em João Pessoa, o Ministério Público intercedeu e notificou duas emissoras. Mas é preciso uma vigilância maior diante da realidade que é observada na prática. Algumas empresas jornalísticas têm desrespeitado as normas, e aos poucos, acrescentado elementos que tornam os programas cada vez mais sensacionalistas. Nessa luta é preciso o envolvimento de todos: Governo, emissoras e a sociedade civil. Para finalizar, fica a ideia de que as famílias precisam estar mais atentas ao programas aos quais são expostos nossos filhos. Aqui não vai nenhuma apologia a censura, mas a sociedade tem o direito de exigir das autoridades uma forma de controle do conteúdo destas emissoras e dessa forma

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evitar inadequações nas transmissões. Afinal de contas está em jogo a formação de gerações. Por enquanto o que se pode fazer é bloquear alguns canais e programas pelo controle remoto e dessa forma garantir uma programação de qualidade nos nossos lares. 9. REFERÊNCIAS BRITO, Yvana Fechine. O papel dos apresentadores de TV: uma abordagem semiótica a partir do telejornal. Animus – Revista Interamericana de Comunicação Midiática, Santa Maria, v. 7, n. 13, p. 127-142, jan./jun., 2008. CALADO NETO, Aloísio Barbosa. Violência na mídia: prevenção e redução. Âmbito Jurídico, v. 14, n.93, out. 2011. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_ link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10413>. Acesso em: 17 jul. 2012. CARLSSON, Ulla; FEILITZEN, Cecilia Von. A criança e a violência na mídia. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001308/130873por.pdf.> Acesso em: 17 jul. 2012. CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 698 p. CARVALHO, F. F.A mídia telejornalística Jornal Nacional: gênero noticioso informativo ou espetacularizado?. 2006. 61 f. Monografia (Graduação em Comunicação Social – Jornalismo) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa/MG, 2006. FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS. Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Disponível em: <http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_ brasileiros.pdf>. Acesso em: 14 jul. 2012. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Séries Históricas e Estatísticas. Disponível em: <http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/default.aspx>. Acesso em: 12 jul.2012.

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KELLISON, Cathrine. Produção e direção para TV e vídeo: uma abordagem prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 26. PATERNOSTRO, Vera Íris. O texto na TV: Manual de telejornalismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. p. 20. PIGNATARI, Décio. Signagem da Televisão. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1984. 191 p. REZENDE, G. J. Telejornalismo no Brasil: um perfil editorial. São Paulo: Summus, 2000. 298 p. WIKIPÉDIA. Pixel. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pixel>. Acesso em: 2 jul. 2012. WIKIPÉDIA. Televisão. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Televis%C3%A3o>. Acesso em: 2 jul. 2012.


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RELATO DE EXPERIÊNCIA EM MONITORIA NO PROJETO DE INCLUSÃO DIGITAL DO IFPB-CG EXPERIENCE REPORT ON MONITORING THE DESIGN OF DIGITAL INCLUSION OF IFPB-CG Kerilin Laine Andrade Chang; Márcia Gardênia Lustosa Pires Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB/Campus Campina Grande kerilinchang@gmail.com; gardenialustona@yahoo.com.br

RESUMO: Este artigo relata a experiência vivenciada no projeto Inclusão Digital do IFPB-CG da monitora e de seus alunos, revelando aspectos positivos dessa experiência na vida dos alunos e também relatando as novas experiências e conhecimentos adquiridos com a participação no curso oferecido neste projeto. Neste escrito, apresentamos nossas impressões sobre a oportunidade favorecida aos alunos pertencentes ao segmento majoritário da população de Campina Grande - PB, que sofre com a chamada exclusão digital, realizada por meio de um tipo de qualificação profissional que favorece o contato destes alunos com as novas tecnologias. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, que se utilizou dos estudos de autores como Alves (2012), Duarte (2003), e da incursão no campo de investigação. O curso trouxe novas experiências para a monitora, além disso, nos mostrou a importância e necessidade de um trabalho dessa natureza para o desenvolvimento pessoal e profissional dos alunos.

ABSTRACT: This article a experience lived at a Digital Inclusion project that took place at IFPB in Campina Grande by the monitors and their students, showing positives aspects of this experience in students life and too reporting the new experiences and knowledge acquired with the participation in the course offered in this project. Here, we present our impressions about the opportunity offered to the greatest part of the population of Campina Grande which suffers from digital-divide, performed by professional qualification, that makes them keep in touch with the new technologies. This is a qualitative research based on studies realized by Alves (2012) and Duarte (2003) and in a incursion in the research field. The teaching experience brought important knowledge to the monitor, and also showed the importance and need of a work like this to help the personal and professional development of the students. KEY-WORDS: education, monitoring, professional qualification, digital inclusion.

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PALAVRAS-CHAVE: educação, monitoria, qualificação profissional, inclusão digital.


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1. Introdução O presente escrito relata a experiência em monitoria no Projeto de Inclusão Digital, na modalidade Curso de Extensão em Informática Básica, aberto a comunidade do entorno do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), Campus Campina Grande, buscando evidenciar as impressões dessa experiência na vida acadêmica da monitora, bem como desvelar aspectos percebidos da vivência dos alunos participantes do referido curso. Dessa forma, esse estudo relata as implicações dessa participação, tanto com relação à experiência acadêmica da aluna, quanto ao que foi percebido pelos alunos durante as aulas. O interesse por desenvolver este registro decorre inicialmente do desejo em socializar nossas impressões acerca da vivência da monitoria, experiência esta que conduziu a uma reflexão mais aprofundada sobre os aspectos percebidos com relação ao acesso das camadas menos favorecidas à qualificação profissional. Nessa incursão destacamos aspectos concernentes a capacitação profissional e o contato com as tecnologias, frente às demandas percebidas na sociedade contemporânea em decorrência dos avanços da ciência e da necessidade dos sujeitos responderem aos ditames de uma sociedade informatizada. O referencial teórico que fundamenta as reflexões desse estudo se ancora no pensamento de Marx (1983) sobre o usufruto da produção espiritual em um contexto societário marcado por constantes mudanças e crescentes avanços na produção de bens materiais e riquezas espirituais. Dessa forma, questionamos a socialização desses recursos, quando se verifica que no caso destes alunos, se apresenta uma realidade marcada pela falta de oportunidade, em virtude da escassez de recursos financeiros, fato este implicador de uma maior dificuldade no acesso ao conhecimento tecnológico e consequentemente de um contato mais aproximado com as novas tecnologias. No cenário atual a vida em sociedade é permeada pelo uso constante das tecnologias, gerando mudanças importantes na organização do cotidiano. Na era digital, em meio às inúmeras transformações de ordem tecnológica ora em curso, muitas são as implicações para a vida em sociedade. As consequências da considerada “revolução” tecnológica, se expressam das mais variadas formas, implicando na vida dos indivíduos tanto de forma positiva, quanto, por vezes, com repercussão negativa, dependendo do modo com se faz uso da tecnologia no modelo de organização social vigente. Paradoxalmente, no modelo societário vigente, a crescente produção de riquezas não ocasiona uma divisão igualitária dos bens elaborados. Assim, o caráter das desigualdades socialmente construídas vincula-se diretamente a não socialização de grande parte do que é produzido, por um lado, e por outro, da não viabilidade de acesso de uma parcela da população aos avanços sociais e tecnológicos.


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2. Transformações tecnológicas e capacitação profissional no século XXI: exclusão digital e implicações para os trabalhadores Com o decorrer das transformações sociais evidenciadas no contexto recente, muitas são as exigências impostas de adequação dos indivíduos aos novos ditames da era tecnológica. As diferenças socioeconômicas, todavia, faz com que exista uma clivagem na população, colocando de um lado os indivíduos que usufruem plenamente das novas tecnologias e de outro, os que possuem um acesso mínimo aos bens e riquezas produzidas. No Brasil, grande parte da população pertencente ao segmento dos menos favorecidos socialmente, acaba vivenciando uma realidade de negação do acesso a determinados bens e serviços, retratada em formas diversas de exclusão social. Nesse cenário, dentre as tantas formas de não participação dos indivíduos na divisão das riquezas produzidas, se expressa um tipo característico de exclusão, a chamada “exclusão digital”. No campo tecnológico, esse fenômeno se caracteriza por ser resultado de uma constante inovação de meios tecnológicos não acessíveis a todas as pessoas, seja por questões gráficas ou por falta de recursos financeiros, em virtude de uma má distribuição de renda, como ocorre no Brasil. Estudo realizado por Neri (et al 2003, p.77), sobre a exclusão digital em nosso país, traça um quadro nacional da pobreza e afirma que “29,3% da população brasileira de 169.6 milhões têm renda mensal inferior a 80 reais per capita”. Dentre as informações da citada pesquisa, destaca-se a análise

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Segundo Neri (et al, 2003) a profunda desigualdade brasileira constitui nossa principal chaga, implicando em uma realidade de muita miséria convivendo com a existência de uma gama de recursos suficientes para eliminá-la. De acordo com o referido autor as pessoas menos favorecidas socialmente, são as que mais sofrem com o não acesso aos bens e riquezas produzidas, haja vista que em nosso país 98.5% dos miseráveis não tem computador. É digno de registro o papel que a educação e a escola assumem frente à realidade de pouco acesso ao tipo de conhecimento específico da informática, na chamada sociedade da informação e do conhecimento (DUARTE, 2003). Destacamos, portanto, a relevância acadêmica e social de nosso estudo quando percebemos a necessidade do acesso ao saber elaborado e do contato dos indivíduos com as novas tecnologias, na sociedade do século XXI, quando são evidenciadas exigências de adequação e capacitação/qualificação para “um mundo do trabalho” cada vez mais exigente. Feitas às considerações iniciais apresentamos na sequência um debate sobre as transformações tecnológicas mais recentes e as exigências de capacitação profissional demandadas aos trabalhadores no contexto recente, abordando aspectos da chamada exclusão digital em nossa sociedade. Em seguida trazemos as impressões da monitora com base nos relatos dos alunos, e por fim apresentamos as considerações finais.


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realizada que considera o tempo de vida acadêmica dos indivíduos e sua relação com o acesso ao computador, ou conforme aborda o estudo, a Inclusão Digital em Domicílio (IDD). O que se observa, a partir desses dados é que, Em relação ao atributo anos de estudo, indivíduos que possuem até 4 anos de estudo têm uma menor participação na população IDD do que na população total. Por exemplo, a participação dos analfabetos população total, 21,75%, cai para 7,1% na população dos que possuem computador e 9,02% naquela que dispõe de internet. Já no caso de indivíduos que possuem mais de 12 anos de estudo observamos o inverso. A participação deste grupo na população total, 6,25%, sobe para 29,55% naqueles com computador e 35,19% naqueles com internet. O grupo de alta escolaridade está hiper-representado entre os IDDs. (NERI et al, 2003, p. 36).

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Observamos que as exigências da era digital submetem as pessoas a se adequarem as imposições demandadas pela necessidade de aquisição de novos conhecimentos no campo da produção, bem como em outros âmbitos da vida em sociedade. Hoje, parece ser indispensável se obter o saber específico utilizado na operação de máquinas cada vez mais modernas, posto ser esse novo conhecimento necessário ao novo mundo do trabalho na era da globalização. Atualmente a tecnologia parece estar cada vez mais acessível a todas as classes sociais. No entanto, mesmo diante das aparentes facilidades apresentadas por uma sociedade de modelo consumista, o que se observa é que nem todos participam de maneira igualitária de suas benesses. Em nossa realidade uma diversidade de ações são evidenciadas na busca de incluir as pessoas na seara do mundo digital, fazendo com que, de certa forma, os indivíduos que não tem acesso ou participam minimamente desse processo, aprendam novos conhecimentos, desenvolvendo competências e habilidades para aplicarem em sua vida pessoal e profissional. Assim, a chamada “inclusão digital” se expressa como um movimento necessário, no quadro das contradições sociais presentes no mundo contemporâneo, quando este exige conhecimentos específicos essenciais à qualificação para o mercado de trabalho da era da globalização. A seguir apresentamos nossas impressões em relação ao curso, bem como os relatos dos alunos sobre a experiência de inclusão digital aqui enfocada. 3. Impressões da experiência em Monitoria no IFPB-CG a partir dos relatos dos alunos Com base na experiência de monitoria no curso promovido pelo IFPB, apresentamos as impressões sobre o projeto de Inclusão Digital anteriormente mencionado, bem como as análises sobre as implicações desses conhecimentos na vida dos alunos, a partir das observações realizadas ao longo do curso.


As informações aqui disponibilizadas foram coletadas seguindo a metodologia da pesquisa bibliográfica (referencial teórico do estudo), aliada ao momento de incursão no campo, quando da realização de entrevista estruturada com os alunos egressos do curso de Informática básica, seguindo os critérios de: concordarem em participar do estudo, ser ex-aluno do curso, fazerem parte da comunidade do Instituto Federal de Campina Grande (servidores e/ou alunos de outros cursos), bem como pela facilidade de acesso e/ou contato com os alunos entrevistados. A coleta de informações realizou-se no mês de novembro de 2012, com um número de 07 alunos que faziam parte das atividades acadêmicas e/ou profissionais do IFPB-CG (ex-alunos do curso), que prontamente concordaram com a entrevista. O recorte do número de sujeitos, dentro de um universo de dezessete estudantes da turma na qual fui monitora, em virtude da maior possibilidade de acesso a estes, haja vista a pesquisa de campo ter sido realizada após o término do curso de informática básica. A motivação para a realização dessa pesquisa surgiu durante as aulas de Metodologia da Pesquisa Científica (Disciplina da Grade Curricular do IFPB), com inquietações que emergiram durante as aulas, a partir da atividade solicitada pela professora de realização de uma pesquisa, como forma de Avaliação Final da Disciplina. Durante a realização da atividade de pesquisa solicitada, na nossa pesquisa tivemos a oportunidade de verificar a forma como os alunos estavam aprendendo, suas dificuldades durante as aulas, expectativas e anseios. Cumpre registrar que os relatos aqui explicitados obtiveram o consentimento dos alunos colaboradores do Projeto. Todavia, salientamos a preservação da identidade dos sujeitos quando na disponibilização das falas dos estudantes. Destacamos, assim, aspectos importantes percebidos nessa experiência, quando verificamos, por exemplo, a vontade destes alunos em aprender e a felicidade em poder ter contato com esse tipo específico de saber, só possibilitado em ambientes de caráter educativo, sejam eles de natureza pública ou privada. Cumpre esclarecer a relevância social da realização deste curso em informática básica, com foco na ampliação do acesso ao mundo da tecnologia, em virtude da forte influência que a informática exerce nas atuais condições da vida em sociedade. É fato que os avanços tecnológicos ocorrem de forma cada vez mais rápida, exigindo que tenhamos ciência e domínio de suas inovações. Assim, impõe-se como uma obrigação social, na atualidade, acompanharmos esse tipo de conhecimento para não sermos, de certa forma, excluídos em alguns momentos da vida em sociedade. Dessa forma, é oportuno salientar que embora seja a tecnologia uma área de grande abrangência e acessível a uma diversidade de pessoas de diferentes classes sociais, muitos indivíduos vivem, ainda hoje, com oportunidades limitadas no que concerne ao acesso a uma educação de qualidade e/ou no que tange a algum tipo de contato com o mundo

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da tecnologia (computadores e/ou internet), o que vem sendo considerado como um processo de “exclusão digital” presente em nossa realidade, em pleno século XXI. Tal fato parece, por vezes, pouco perceptível, haja vista a constante presença das tecnologias em nosso cotidiano, tanto em âmbito pessoal quanto profissional. Este aspecto parece naturalizar a presença dos avanços da técnica e da ciência no atual estágio da vida em sociedade, necessitando uma análise mais cautelosa sobre como isso se reflete na vida dos indivíduos, no modelo social vigente. Muitas são as contradições presentes na ordem societária pautada nos moldes capitalistas, notadamente quando observamos que grande parte dos indivíduos tem que lutar para se inserir em espaços sociais aparentemente democráticos, mas em condições desiguais, haja vista participarem de uma realidade de vida sem grandes oportunidades sejam elas sociais, acadêmicas e/ou financeiras. Nessa forma social dominante, àqueles que não se “adéquam”, por algum motivo, passam a ser excluídos de determinadas benesses da vida em sociedade, ou incluídos de forma subalterna (ARRAIS NETO, 2006). Assim, verificamos que o acesso a um curso de informática básica, por exemplo, constitui elemento essencial à vida em sociedade no contexto atual, posto que o homem torna-se cada vez mais dependente das tecnologias, em virtude da forte influência dos avanços da técnica e da ciência no âmbito produtivo, social e econômico. Como forma de exemplificar esse fato destacamos a importância que a experiência de participar de um curso de informática básica assume na vida dos alunos que compartilharam da experiência. Nas falas os alunos sinalizam os benefícios do curso em suas vidas: A importância que esse curso teve na minha vida foi muito grande, pois, o mercado está cada vez mais seletivo e sempre está na frente quem se qualifica. (P. 01).

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Para aprender no computador, para acessar as redes sociais como Facebook, Hotmail e imprimir textos, escrever... (P. 05).

Diversos aspectos retratam a relevância desta experiência na vida desses alunos quando os mesmos situam os inúmeros benefícios favorecidos a partir do aprendizado das noções de informática básica favorecido nesta experiência. Podemos perceber que, esses alunos, além de aprender novos conhecimentos e desenvolver outras habilidades, sentem-se mais seguros para aturarem no mercado de trabalho da era da tecnologia e da informação, com o aprendizado ali possibilitado, resultando em um novo entrosamento com a sociedade. De fato esse tipo de conhecimento se tornou essencial para o desenvolvimento de muitas atividades laborais no mundo do trabalho atual. Outros fatores remetem a realidade de “exclusão digital” atualmente vivenciada por muitos membros de nossa sociedade, podendo ser constatados ao verificarmos que esses alunos, quando


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mais jovens, não tiveram oportunidades educacionais que lhes favorecesse esse tipo específico de aprendizado. Tal fato foi percebido pela monitora durante o acompanhamento das aulas, sendo perceptível a falta de conhecimentos do campo da informática. Fazendo uma análise dos níveis de instrução e das idades dos alunos, percebemos que a faixa etária destes situava-se entre 20 e 40 anos e que os mesmos possuíam níveis diferenciados de escolaridade, compreendidos entre o ensino fundamental e o curso superior. Observamos que os alunos com nível escolar mais avançado eram os que apresentavam maior facilidade de aprender os conhecimentos ali possibilitados. Podemos inferir que, mesmo diante de condições de vida diferenciadas para os membros de uma mesma sociedade, esta passa a exigir de todos, pelo menos em tese, o uso dos recursos tecnológicos. Assim, observamos que a grande maioria dos alunos que frequentam esses cursos são pessoas pertencentes ao segmento majoritário da população, que tem suas vidas marcadas por uma difícil realidade que demanda se engajarem cedo em trabalhos para garantir sua sobrevivência, não sobrando tempo suficiente para se dedicarem aos estudos. Constatamos ainda a satisfação dessas pessoas quando no retorno aos bancos escolares, posto que os mesmos não experimentaram grandes oportunidades em seu processo de escolarização. No que concerne a inclusão digital, percebe-se a crença de que esta experiência favoreça novas possibilidades por meio do acesso ao conhecimento. Como relata outra aluna:

Assim vimos que o curso de informática básica em foco favorece aos alunos aprenderem novos conhecimentos no campo tecnológico, essenciais na interação do ser humano coma a máquina. Com isso espera-se que esses indivíduos tenham novas oportunidades na vida, a partir desse aprendizado. Reconhecemos a importância desse curso para a vida desses alunos, pois percebemos que a rapidez dos avanços tecnológicos implica em alterações na organização do mundo da produção e da vida em sociedade sob vários aspectos, a saber: interação social, questões econômicas e de ordem produtiva, exigidos pela atual sociedade na era informação. Como identificam dois alunos pesquisados a relevância dessa experiência, consistiu em: [...] Senti que abriu uma porta para um conhecimento a mais que eu não tinha. (P. 04)

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Posso dizer com muita segurança que estou preparada para o mercado de trabalho devido ao curso de informática que colaborou muito tanto na parte teórica quanto na pratica, sendo assim hoje os conhecimentos que tenho são de suma importância para desenvolver qualquer atividade liga a informática. ( P. 01).


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[...] Com a globalização, hoje em dia é necessário se qualificar, pois todo emprego hoje é necessário saber informática [...]. (P. 07)

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Assim, observamos que as implicações das mudanças oriundas dos avanços tecnológicos refletem diretamente no cotidiano da vida em sociedade, fazendo com que cada indivíduo busque se adequar as demandas impostas. Durante o curso foi percebido que o intuito dos alunos, era, a partir da aquisição desses novos conhecimentos, utilizá-los para o mercado de trabalho, visto que estes buscam se aperfeiçoar para terem mais chances de concorrer em um mercado de trabalho que privilegia profissionais cada vez mais bem preparados. 4. Considerações finais No projeto de inclusão Digital, verificou-se a transmissão de saberes essenciais à vida em sociedade e necessários àqueles que não tiveram melhores oportunidades na vida, quando em idade escolar. Vimos que a inclusão digital tem como papel principal oferecer acesso às pessoas de classes sociais menos favorecidas, possibilitando a estas aprenderem novos conhecimentos ligados à informática. O que se verifica é que hoje a tecnologia está presente em todos os ramos, sendo assim exigido que os indivíduos se apropriem desse saber para aplicá-los em seu cotidiano, seja na vida pessoal, acadêmica ou profissional. Assim, concordamos com as propostas de socialização deste tipo de saber, por considerarmos ser o curso de informática básica imprescindível à vida em sociedade do século XXI, frente às atuais exigências do mercado de trabalho, bem como na vida pessoal desses alunos. Cabe destacar, no entanto, a compreensão de que esse conhecimento deva ser direcionado a possibilitar a autonomia dos indivíduos para a vida em sociedade e não como mera adequação às exigências postas. Em suma, consideramos que a participação nesse curso além de tirar os indivíduos da chamada “exclusão digital”, na qual se encontravam, também oportuniza aos alunos enfrentar as dificuldades de um mundo informatizado. Desse modo, por meio deste tipo de oportunidade educacional, com aulas teóricas e práticas, os alunos desenvolveram novas habilidades com base nos conhecimentos ali adquiridos, podendo aplicá-los na realização de atividades demandadas por uma sociedade informatizada, possibilitando, assim, maior chance de competir em um mercado de trabalho cada vez mais exigente. 5. Referências ALVES, Giovanni. Trabalho e Nova Precariedade Salarial no Brasil. A Morfologia Social do Trabalho na Década de 2000. Disponível em: <http://www.ces.uc.pt/publicacoes/oficina/


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ficheiros/6024_Oficina_do_CES_381.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2013. ARRAIS NETO, Enéas. Crise do Fordismo ou Crise do Capital – a relação essência – fenômeno – e as transformações no mundo do trabalho. In: ARRAIS NETO, Enéas (Org.) et al. Educação e Modernização Conservadora. Fortaleza, Edições UFC, 2006. DUARTE, Newton. Sociedade do conhecimento ou sociedade das ilusões?: quatro ensaios crítico-dialéticos em filosofia da educação, Campinas, SP: Autores Associados, 2003.

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MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. Livro 1 – O Processo de Produção do Capital. Volume I, 12ª edição. Tradução Reginaldo Sant’Ana. 1983. NERI, Marcelo. Mapa da exclusão Digital. Disponível em: < http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/ export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/bf_bancos/e0002091.pdf >. Acesso em: 29 nov. 2012.


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SALA DE LEITURA: despertar virtual READING ROOM: virtual awakening Lourdes Sales de Macedo; Maria de Fátima Dantas Carneiro Souto; Gicarla Maria Clemente Santos; Ridete Helena Cardoso Coutinho Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB lourdes@ifpb.edu.br; mfsouto12@hotmail.com; gicarlamaria@bol.com.br; helennacardoso@yahoo.com.br

Resumo: Este artigo trata do Projeto Sala de Leitura: despertar virtual, que integra o Programa Educação Digital (PED) da Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). O objetivo é relatar a experiência deste projeto que amplia as oportunidades de leitura e de acesso à internet. Texto construído a partir da vivência do cotidiano da Sala de Leitura, do estudo do referencial teórico e de entrevistas com usuários. Apresenta o Sala de Leitura: despertar virtual ‒ uma experiência de educação digital, um espaço aberto ao conhecimento que estimula o contato com o mundo virtual e com novos horizontes culturais ‒, como um projeto destinado às comunidades em situação de vulnerabilidade econômica e social. Resultados: no período de funcionamento, em 2012, 2.398 (dois mil trezentos e noventa e oito) atendimentos foram registrados. Além disso, foi criado um perfil no Facebook e as crianças tiveram a oportunidade de desenhar, pintar e conhecer o acervo de histórias infantis. Finalmente, conclui que o Projeto Sala de Leitura: despertar virtual é uma iniciativa de relevo que subsidia o usuário com informações e conhecimentos que contribuem para a educação e valorização da cidadania.

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Palavras-chave: Sala de Leitura. Despertar Virtual. Educação. Tecnologia Digital. Projeto de Extensão. Abstract: This article deals with the Project Reading Room: virtual awakening that integrates the Digital Education Program (PED), from the Dean of Extension (PROEXT) of the Federal Institute of Education, Science and Technology of Paraíba (IFPB). The goal is to report the experience of this project that expands opportunities for reading and internet access. Text built from the everyday experience of Reading Room, from the theoretical referential study and interviews with users. Presents the Reading Room: virtual awakening ‒ a digital education experience, an open space to knowledge that stimulates the contact with the virtual world and with new cultural horizons ‒, destined to the communities in economic and social vulnerability situation. Results: in the period of operation, in 2012, 2.398 (two thousand, three hundred and ninety-eight) attendances were recorded. Besides, it was created a profile on Facebook and the children had the opportunity to draw, paint and get to know the collection of children’s stories. Finally, concludes that the Project Reading Room: virtual awakening is an important initiative that subsidizes the user with information and knowledge that contribute to the education and development of citizenship. Keywords: Reading Room. Virtual Awakening. Education. Digital Technology. Extension Project.


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1. Introdução Ler é viajar pelo fascinante mundo da imaginação, do conhecimento, do novo. É descobrir novos horizontes encantadores. É poder descobrir o mundo encantado e o mundo real da informação e do conhecimento. (MACEDO, 2010, p. 23). Falar da experiência do Projeto de Extensão Sala de Leitura: despertar virtual é pensar nas

necessidades dos socialmente excluídos, nas demandas de inclusão digital e na importância da leitura no cenário contemporâneo. É pensar no vasto e fascinante mundo da tecnologia digital que permeia a sociedade e está presente na vida do cidadão, nas instituições públicas e privadas, nas atividades da vida acadêmica, no trabalho, no contexto social em geral; a utilidade, a facilidade e os benefícios desta tecnologia fazem do computador um recurso imprescindível na atualidade. Para acompanhar o avanço veloz da informática e descobrir os novos horizontes da tecnologia, o caminho é a inclusão digital. Este caminho é precedido pela leitura. Segundo Freire: A leitura da palavra é sempre precedida de leitura do mundo. E aprender a ler, [...] é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender os seus contextos, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade. (FREIRE, 1989, p. 7).

2. Sala de Leitura: despertar virtual ‒ uma experiência de educação digital O Projeto Sala de Leitura: despertar virtual integra o Programa Educação Digital (PED), que é promovido pela Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB). É um projeto de extensão socialmente comprometido, que promove ações educativas e o acesso ao universo da tecnologia digital e da informação. É destinado

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A leitura do mundo passa pela compreensão da realidade, da conjuntura, do cenário social. A leitura é um elemento essencial no processo educativo; é uma porta de entrada para o fascinante mundo do conhecimento. Atualmente, vive-se um despertar para a inclusão digital, para o mundo virtual, e este despertar favorece o desenvolvimento educacional, profissional e social. Nesse contexto, o Projeto Sala de Leitura: despertar virtual é um espaço que atende à demanda da comunidade, proporciona à criança, ao jovem e ao adulto a leitura da palavra, com livre acesso às diversas fontes de pesquisa ‒ como livros e revistas ‒ e à tecnologia digital: internet, e-mail, redes sociais ‒ como Facebook e Twitter ‒ e sites de instituições educacionais públicas e privadas, que servem como ambientes de suporte à educação.


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às comunidades em situação de vulnerabilidade econômica e social do município de João Pessoa e cidades circunvizinhas. Neste cenário, o Sala de Leitura disponibiliza o acervo bibliográfico, além do acesso à internet. Segundo Moran (1998 apud NASCIMENTO, 2007, p. 73), “a internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos pela novidade e pelas possibilidades inesgotáveis de pesquisa que oferece”. É um recurso que dinamiza e facilita o processo educativo, pois é uma fonte de informação em profusão: A Internet é uma fonte informacional que reúne conhecimento, reportagens, revistas, jornais, opiniões, fotografias, músicas, filmes, vídeos, textos, livros, legislação, projetos, acesso a e-mail e às redes sociais como facebook, twitter, além de acesso a sites de universidades federais, estaduais, particulares e internacionais, e de institutos de educação tecnológica, dentre outros, é um ambiente virtual de aprendizagem. (IFPB, PROEXT, 2012, p. 4).

A internet oferece fartas possibilidades de pesquisa e por isso a Sala de Leitura utiliza esta tecnologia digital a serviço da educação e do desenvolvimento social. Nesse sentido, o Sala de Leitura aproveita a tecnologia como instrumento necessário e atual para a inclusão digital. Trata-se de um processo desafiador, que envolve a participação direta dos profissionais da PROEXT e dos monitores interessados em estimular o contato com o mundo virtual e revelar novos horizontes culturais para a comunidade que busca cotidianamente ter acesso a este espaço. São objetivos do Sala de Leitura (IFPB, PROEXT, 2012, p. 4):

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• Ampliar as oportunidades de leitura e de acesso à internet; • Subsidiar a comunidade com informações e conhecimentos, contribuindo para educação e valorização da cidadania; • Estimular o contato com o mundo virtual e com novos horizontes culturais. No âmbito da comunidade, o Sala de Leitura amplia as oportunidades de leitura facilitando o acesso ao livro e à navegação na internet, que atualmente é um recurso indispensável na formação acadêmica e profissional. As redes sociais são fontes de informação, de divulgação de ações educacionais, empresariais, organizacionais, dentre outras; se a utilização deste recurso for bem direcionada, o usuário pode conquistar amizades e ampliar sua rede de contatos profissionais e educacionais. Esta é uma realidade que estimula a leitura e gera a necessidade de manusear o computador de maneira prática e hábil.


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O Sala de Leitura subsidia a comunidade excluída do universo da tecnologia digital com recursos materiais, acesso à rede mundial de computadores, acervo bibliográfico, além de informações e conhecimentos que contribuem para a educação e a valorização da cidadania: A construção da cidadania ou de práticas de cidadania passa, necessariamente, pela questão do acesso/uso de informação, pois tanto a conquista dos direitos políticos como dos direitos civis e sociais depende fundamentalmente do livre acesso à informação. (ARAÚJO, 2001, p. 32).

O exercício da cidadania passa pelo acesso à informação, à internet, às redes sociais e às novas tecnologias digitais, que proporcionam maior agilidade nas comunicações e abrem as portas do conhecimento e da leitura. A prática da cidadania passa pela leitura das letras e pela leitura do mundo, segundo Pimentel: Quando escutamos a melodia de uma música estamos fazendo leitura. Quando admiramos uma pintura de um quadro, quando sentimos o sabor de um chocolate, quando sentimos o cheiro da terra molhada pela chuva, quando sentimos o frio de uma pedra de gelo na mão, enfim, tudo o que sentimos, vemos e ouvimos passa pela leitura. E essa leitura de vida que fazemos a todo instante nos ajuda a fazer a leitura das letras, dos sinais gráficos espalhados ao nosso redor. Partimos da constatação que a leitura do mundo precede a leitura gráfica, como já dizia Paulo Freire. Se não pudermos acrescentar ao ato de ler as nossas vivências e as leituras do mundo, pouco nos servirá o esforço e o tempo despendido nessa tarefa. (PIMENTEL, 2007, p. 81).

Ao discorrer sobre leitura, Macedo diz que: A leitura abre novos caminhos, mostra novos desafios e incentiva a busca constante por novos conhecimentos, ler é uma atividade prazerosa e proporciona mudanças na vida pessoal e profissional, influencia as ações cotidianas, enriquece as experiências e abre o caminho para uma vida melhor, pois a leitura estimula o

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A leitura da vida cotidiana conduz ao mundo letrado, ao universo digital que imprime sua marca na atualidade. O Sala de Leitura é um espaço aberto à comunidade, no qual o usuário realiza atividades da escola; joga; consulta sites de instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais; pesquisa sobre música, filmes, atividades culturais, esportivas, reportagens, concursos; ou seja, faz a leitura do que acontece no mundo, e por isso mesmo, a leitura da vida.


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raciocínio, e conduz ao conhecimento e à sabedoria. A leitura é o eixo no processo de formação do aluno para a vida, para a convivência social e é condição necessária para participação ativa na sociedade contemporânea. (MACEDO, 2010, p. 23).

O ato de ler é prática necessária para a participação na sociedade e para a busca por novos conhecimentos. Por isso, o Sala de Leitura é um caminho propício para estimular a interação com o mundo virtual e com o mundo das letras. Segundo o depoimento de jovens que utilizam os benefícios deste projeto: “O Sala de Leitura tem contribuído para o aprimoramento dos meus conhecimentos nos mais variados campos de estudo, possibilitando o acesso à internet e proporcionando uma maior margem de conhecimento.” (R. M., 28 anos). “A oportunidade de frequentar a Sala de Leitura foi muito importante não só para mim como para todos os jovens da minha comunidade. Alguns que não gostavam de ler pegaram gosto pela leitura e nós não temos computador em casa e aqui nós temos condições de acessar a internet.” (M. C., 16 anos). “Participar deste projeto foi surpreendente, pois passamos a ansiar pela leitura e descobrimos que a leitura é tudo na vida de uma pessoa. E o livro virou o nosso melhor amigo. Dou um exemplo do livro O Conde de Monte Cristo. Obrigado por essa oportunidade!” (L. V., 13 anos). “Na Sala de Leitura eu, além de ler e conhecer alguns livros que não conhecia, também pesquisei na internet alguns assuntos para meus trabalhos escolares e fiz muitos amigos no Facebook.” (R. C., 17 anos).

O Sala de Leitura contribui para ampliar e aperfeiçoar os conhecimentos dos que participam deste espaço. Vale salientar que durante o funcionamento das atividades do projeto foi observado que alguns participantes apresentavam dificuldades na utilização do computador e principalmente na leitura, o que reflete o contexto social em que vivem. Segundo Macedo (2010, p. 22), “o aluno que apresenta dificuldade em ler e interpretar textos, geralmente vive em um contexto social onde a leitura não é uma prática cotidiana, [...] o que influencia diretamente na ausência do hábito de leitura”. Por isso, esse espaço se configura relevante, pois possibilita ações capazes de estimular o hábito da leitura. O Sala de Leitura é um espaço de aprendizagem, de acesso aos livros e às tecnologias digitais que subsidia crianças e jovens da comunidade local e revela novos horizontes educacionais. É um espaço aberto ao conhecimento, à leitura do mundo virtual e do mundo real.

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3. Caminho metodológico O processo de implantação do Sala de Leitura: despertar virtual iniciou em fevereiro de 2012 através de reuniões da equipe da PROEXT para o planejamento, estudo e elaboração do projeto, instalação dos equipamentos, seleção do coordenador administrativo e de monitores bolsistas, divulgação e execução das atividades. Instalado na Pró-Reitoria de Extensão do IFPB, em João Pessoa, foi aberto ao público no mês de maio. O projeto oferece as condições concretas para incentivar a leitura e o acesso ao acervo bibliográfico, instruir sobre o uso correto do computador, além de disponibilizar monitores para orientar o público em geral. Os monitores são alunos dos cursos superiores do IFPB que são escolhidos através do processo seletivo para bolsistas do Programa Educação Digital (PED). O trabalho dos monitores efetua-se através da orientação sistematizada sobre o acesso ao acervo bibliográfico e a utilização adequada da rede de computadores. Em relação à organização da sala, esta funciona em espaço climatizado, dispondo de dez computadores, uma TV, estantes com diversos livros, mesa de estudo com cadeiras e mesinha com cadeira adequada à criança. O acervo é composto por periódicos; dicionários de Língua Portuguesa e Inglesa; livros de Informática, Literatura, História e Geografia; apostilas de cursos pré-vestibular; enciclopédia; coleção infanto-juvenil; e revistas diversas. A intenção é incentivar e viabilizar o desenvolvimento do hábito da leitura. A leitura amplia o vocabulário, é um elemento fundamental para a aquisição do conhecimento e também requisito para a vida na sociedade letrada. O Decreto nº 519 de 13 de maio de 1992, que instituiu o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER), preceitua os seguintes objetivos: “I - promover o interesse nacional pelo hábito da leitura; II - estruturar uma rede de projetos capaz de consolidar, em caráter permanente, práticas leitoras; III - criar condições de acesso ao livro.” (BRASIL, 1992) Promover o interesse pelo hábito da leitura é prática saudável, pois viver em um ambiente social onde a leitura é estimulada, com espaço adequado e acesso fácil e imediato ao livro e às fontes de conhecimento, instiga e desperta o interesse pelo estudo e pela pesquisa, e torna a leitura um hábito prazeroso. A Sala de Leitura é um espaço que agrega leitura, convívio, participação, estudo e pesquisa. O usuário participa desse processo, usufruindo de maneira saudável e atuando como parceiro na construção do hábito da leitura, sugerindo novas ideias para melhorar a realização do projeto e para conquistar outros participantes. A avaliação do projeto é realizada através de observações do cotidiano da Sala de Leitura e de reuniões periódicas para as análises, reflexões, adequações e os encaminhamentos necessários.

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4. Resultados No período de funcionamento do Sala de Leitura: despertar virtual, iniciado em maio e concluído em dezembro de 2012, foram registrados 2.398 atendimentos, sendo o público formado por crianças, adultos e jovens, em sua maioria de escolas públicas dos bairros e do centro da cidade. As crianças tiveram a oportunidade de desenhar, pintar personagens infantis e conhecer o acervo de histórias como Rei Arthur, Dom Quixote, As Mil e Uma Noites, A Ilha do Tesouro, Os Três Mosqueteiros, Romeu e Julieta, As Fábulas de Esopo, dentre outras. Os adultos utilizaram a sala para fazer pesquisa profissional, digitar trabalhos e currículos, além de acessar sites de pesquisa sobre concursos ‒ como PCI Concursos ‒ e de órgãos públicos ‒ como DETRAN, Governo do Estado e SEBRAE. Os jovens acessaram sites de pesquisa, de educação ‒ como o do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) e o da Comissão Permanente do Concurso Vestibular (COPERVE - UFPB) ‒, e utilizaram e-mails, jogos e redes sociais. Para acompanhar o ritmo das redes sociais vivenciado pelos jovens, foi criado um perfil no Facebook onde são disponibilizados testes de português, dicas de leitura, informações sobre datas comemorativas e a importância do hábito da leitura. Através de dicas simples e educativas, jogos e informativos presentes no Facebook, os jovens se mantêm atualizados. 5. Considerações Finais O Sala de Leitura: despertar virtual é um projeto cujo ambiente educativo atende às comunidades em situação de vulnerabilidade econômica e social, favorecendo aqueles com menor acesso aos livros e ao computador; colabora para que se exercitem os pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser (DELORS, 2003, p. 90); e revela ao usuário novas portas e novos caminhos para aprender e fazer da leitura uma motivação em sua vida, conforme mostram depoimentos de usuários do Sala de Leitura nas entrevistas realizadas no período de novembro a dezembro de 2012:

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- S. R. S., 47 anos, ex-aluno do Curso de Informática Básica, informou que utiliza a Sala de Leitura para realizar atividades profissionais e praticar o que aprendeu no curso. Quando fazia o curso não teve oportunidade de frequentar a Sala de Leitura e agora tem mais disponibilidade de tempo. - A. M., 17 anos, aluna do Curso de Auxiliar de Pessoal, aproveita os momentos do intervalo da aula para usar a Sala de Leitura. Ela está tentando aprender o Excel por conta própria e usa a internet para o aprendizado. - J. G. P., 11 anos, disse que gosta de frequentar a Sala de Leitura para ver vídeos de filmes como A Era do Gelo e O Auto da Compadecida, e também para acessar o Facebook.


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O depoimento dos usuários e o livro de registro do Sala de Leitura revelam que este projeto é uma iniciativa de relevo e que atingiu o objetivo de ampliar as oportunidades de leitura e de acesso à internet; de subsidiar a comunidade com informações e conhecimentos, contribuindo para educação e valorização da cidadania; e de estimular o contato com o mundo virtual e com novos horizontes culturais. O Sala de Leitura: despertar virtual representa para a comunidade um espaço de desenvolvimento de habilidades para a vida, de leitura, de inclusão social e digital. Por essa razão, a coordenação do projeto tem planos de, em 2013, ampliar e desenvolver novas estratégias como realizar mostras de filmes, tardes de poesia, dias temáticos, exposições de textos e rodas de conversa sobre atualidade, literatura e talentos, além de sessões de contação de histórias. A finalidade é tornar o Sala de Leitura: despertar virtual um projeto mais dinâmico; um espaço de convivência, de incentivo à leitura, de conhecimento e vida, pois ler é descortinar novos horizontes educacionais, culturais, profissionais e sociais; é navegar pelo mundo do conhecimento e despertar para a fascinante realidade do mundo virtual. Observação: Em atendimento às normas de publicação do Edital 41/2012 da Revista Práxis: Saberes da Extensão, os autores informam que este artigo é fruto de trabalho conjunto. 6. Referências ARAÚJO, Eliany Alvarenga de. Informação, sociedade e cidadania: práticas informacionais de organizações não governamentais – ONGs brasileiras. Inf.Inf., Londrina, v. 6, n. 1, p. 31-54, jan./ jun. 2001. p. 32. BRASIL. Decreto Federal nº 519, de 13 de maio de 1992. Institui o Programa Nacional de Incentivo à Leitura PROLER e dá outras providências. Brasília, DF, 1992.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três textos que se completam. 23. ed. São Paulo: Autores Associados: Cortez, 1989. p. 7. IFPB. Pró-Reitoria de Extensão - PROEXT. Programa Educação Digital - PED. Elaboração: Lourdes Sales de Macedo. João Pessoa, 2012. p. 4. IFPB. Pró-Reitoria de Extensão - PROEXT. Programa Educação Digital - PED. Projeto Sala de Leitura: Despertar Virtual. João Pessoa, 2012. p. 4. MACEDO, Luciana Alves de. Biblioteca escolar como espaço de incentivo à leitura. Monografia -

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DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. 8. ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2003. p. 90.


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Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010. 62 f. NASCIMENTO, João Kerginaldo Firmino do. Informática aplicada à educação. (Profuncionário – Técnico em Multimeios Didáticos). Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brasília: Universidade de Brasília, 2007. p. 73.

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PIMENTEL, Graça; BERNARDES, Liliane; SANTANA, Marcelo; Biblioteca Escolar. (Profuncionário – Técnico em Multimeios Didáticos). Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brasília: Universidade de Brasília, 2007. p. 81.


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A “ARTE DE FAZER” CARNE DE SOL EM PICUÍ – PB: do patrimônio imaterial ao turismo gastronômico THE “ART OF MAKING” SUN- DRIED MEAT IN PICUÍ – PB: from the intangible heritage to the gastronomic tourism Paulo de Oliveira Nascimento Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB/Campus Picuí mad.mada@hotmail.com

RESUMO: Pensar a extensão universitária, hoje, é ir ao encontro daquilo que preconiza o artigo 207 da Constituição Federal de 1988, quando propõe uma universidade referenciada em princípios e demandas sociais e que expresse um projeto social democrático. Motivados pela busca de um entendimento desta relação entre Ensino, Pesquisa e Extensão, objetivamos, neste texto, apresentar parte dos resultados de nosso Trabalho de Conclusão de Curso – Licenciatura em História/UEPB – a respeito da “arte de fazer” carne de sol na cidade paraibana de Picuí enquanto patrimônio imaterial gastronômico, relacionando a pesquisa universitária empreendida com as possibilidades de inferência social, seja na busca pela preservação desta “arte de fazer”, seja pela possibilidade de aproveitamento turístico – numa perspectiva de turismo gastronômico – deste costume. Os resultados desta pesquisa, ora apresentados, foram obtidos a partir da metodologia de História Oral, assim como do uso de revistas e periódicos e da bibliografia sobre o tema. Disto, pudemos concluir o quanto o Ensino, a Pesquisa e a Extensão precisam estar intimamente ligadas, de modo a apontarem alternativas viáveis para a preservação do patrimônio cultural (material e imaterial) e para o aproveitamento/ desenvolvimento regional – neste caso, praticando o Turismo Gastronômico - das localidades onde empreendem-se tais pesquisas.

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PALAVRAS-CHAVE: carne de sol, “arte de fazer”, cultura, patrimônio imaterial, turismo gastronômico. ABSTRACT: Nowadays, thinking about the University Extension is to meet what advocates Art. 207 of Federal Constitution of 1988 that proposes a university based on principles and social demands, expressing a social democratic project. Motivated by the search for an understanding of this relationship between Teaching, Research and Extension, we aim to present some results of our Conclusion Course WorkDegree in History/ UEPB- about the “art of making” sun- dried meet in Picuí- PB as an intangible and gastronomic heritage, relating this Academic research as a social inference possibility in the preservation of this ‘Art” or through the cultivation of tourism – culinary tourism perspective. The results of research bring some reflections related to the use of Oral History and study of magazines, periodicals and bibliography about the thematic. In conclusion, we can affirm that the Teaching, Research and Extension need to be closely linked to indicate effective alternatives for preservation of


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the cultural heritage (the material or non-material) and for the regional optimization/developmentIn this case, Practicing Gastronomic Tourism- of the studied communities. KEY-WORDS: sun-dried meat, “art of making”, culture, intangible heritage, gastronomic tourism.

2. Ensino, Pesquisa e Extensão: um tripé necessário A Extensão assenta-se no princípio de que “para a formação do Profissional Cidadão é imprescindível sua efetiva interação com a Sociedade, seja para se situar historicamente, para se identificar culturalmente ou para referenciar sua formação com os problemas que um dia terá de enfrentar” (BRASIL, 2001, s/d). Entendida como uma prática acadêmica que interliga a Universidade

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1. Introdução Pensar a relação entre Ensino, Pesquisa e Extensão, na atualidade, mostra-se um tema relevante, na medida em que esta indissociabilidade é um princípio fundamental das Instituições de Ensino Superior. Assegurado pelo artigo 207 da Constituição Federal, este princípio revela uma preocupação em se construir uma Universidade que volte o seu olhar para as questões sociais que atravessam a vida da população brasileira. Um outra questão que se coloca tanto para a Universidade quanto para a sociedade de um modo geral é a percepção do Patrimônio Cultural enquanto algo passível de ser resgatado e preservado, resguardando os interesses de determinados grupos sociais. Deste Patrimônio Cultural, vamos ter os bens de natureza imaterial que vão servir para identificar um grupo, dando-lhes novas perspectivas de inserção sócio-cultural. Neste trabalho, pretendemos apresentar alguns dos resultados obtidos com a realização de nosso Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado ao Curso de História da Universidade Estadual da Paraíba, cujo objeto de análise foi a “arte de fazer carne de sol”, percebida enquanto patrimônio imaterial gastronômico da cidade de Picuí – PB, passível de ter explorado economicamente a partir da ideia de turismo gastronômico. Este texto, portanto, vai tratar, num primeiro momento, da relação entre Ensino, Pesquisa e Extensão, percebendo-os como um tripé necessário para a Universidade brasileira nos dias atuais. Feito isto, discorremos acerca daquilo que vem a ser o Patrimônio (material e imaterial) de um determinado grupo social para, em seguida, atentarmos para a “arte de fazer” carne de sol em Picuí – PB como Patrimônio Imaterial Gastronômico, integrante do turismo gastronômico – especialmente com o Festival da Carne de Sol – , sendo este turismo uma alternativa viável e que se torna cada vez mais importante, em nossos dias, para o desenvolvimento regional.


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nas suas atividades de ensino e de pesquisa como as demandas sociais, a Extensão deve possibilitar a formação profissional de cidadãos comprometidos como a as demandas sociais, na medida em que a sociedade é entendida como um “espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a superação das desigualdades sociais existentes”, num contexto em que faz-se necessário “consolidar a prática da EXTENSÃO, possibilitando a constante busca do equilíbrio entre as demandas socialmente exigidas e as inovações que surgem do trabalho acadêmico” (Idem). Sendo a indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão “é um princípio orientador da qualidade da produção universitária, por que afirma como necessária a tridimensionalidade do fazer universitário autônomo, competente e ético” (MOITA & ANDRADE, 2009, p. 269). Trata-se, pois, de uma perspectiva que atenta para uma dimensão formativa cidadã, na medida em que atenta para uma formação profissional que traga um componente “ético-político-social”, e que sirva para o bem comum de toda a sociedade. Objetivando, entre outras coisas, a “geração de emprego e ampliação da renda (...) a produção e preservação cultural e artística como relevantes para o desenvolvimento nacional e regional” (BRASIL, 2001, s/d), a Extensão universitária possibilita a promoção de políticas, além de promover processos de produção, inovação e transferência de conhecimentos para toda a sociedade, a fim de “promover o desenvolvimento cultural, estimulando as atividades voltadas para o incentivo à leitura, turismo regional, folclore e cultura popular” (Idem). Trata-se, neste sentido, da busca pelo desenvolvimento regional pautado em pesquisas que atentem para as regiões em suas especificidades, de modo a desenvolvê-las em seu potencial. Apesar de preconizada pelo artigo 207 da Constituição Federal – que dispõe sobre a indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão -, tem havido uma tendência ao não cumprimento deste princípio (MOITA & ANDRADE, 2009; MACIEL & MAZZILLI, s/d). Construída sobre os pilares da democracia e da cidadania, a Constituição Federal de 1988 trouxe à luz os anseios da sociedade brasileira. Saídos de um período de duas décadas de ditatura militar, fazia-se necessário que esta Carta Magna garantisse todos os direitos fundamentais do povo brasileiro. Disto, assistimos à proposta de uma Universidade que viesse a atender às necessidades e propor soluções para os vários problemas enfrentados. Daí a importância de atentarmos, cada vez mais, para este princípio constitucional de indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão, fazendo-o, de fato, um tripé no qual se assentem as nossas instituições educacionais de ensino superior, a fim de desenvolvermos propostas efetivas e significativas para a resolução dos vários problemas em nossa sociedade.


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3. Patrimônio: do material ao imaterial O vocábulo “Patrimônio” nos remente “à herança paterna, ou seja, aos bens materiais transmitidos de pai para filho” (MORAIS, s/d, p. 4). Fato é que ainda hoje o termo é empregado na ceara jurídica quando há referencias à herança familiar. Entretanto, foram os franceses os responsáveis – após sua Revolução – por estender o termo para os bens sociais a serem preservados, sob auspícios do Estado, que “decide tutelar e proteger as antiguidades nacionais às quais era atribuído significado para a história da nação” (MORAIS, s/d, p. 4). Disto, passou-se a considerar toda uma gama de bens, entendidos como herança de um povo ou de uma nação, entregando-os – inicialmente, não apenas aqueles bens imóveis, mas também bens móveis, tais como acervos de museus e documentos textuais que servissem à preservação de uma dada história – à proteção como Patrimônio Histórico. Com a consolidação dos Estados Nacionais durante o século XIX, houve uma sistemática imposição da necessidade de se fortalecer a história e a tradição de cada povo, como força motriz de uma identidade que precisava ser afirmada como própria. “Esta ação assentada na sobreposição dos referenciais nacionais sobre os regionais e particulares e, enquanto escolha oficial, pressupôs exclusões, num processo vigorosamente homogeneizante” (MORAIS, s/d, p. 4). Consequentemente, escolha e classificação de bens que deviam servir de referencial para toda a nação estariam a serviço da afirmação e reafirmação do Estado. Note-se, como abordaremos adiante, o crescente papel de instituições governamentais brasileiras de proteção e preservação patrimonial, a partir da década de 1930. Entretanto, as definições para o Patrimônio Cultural tendem a se tornar mais abrangentes, sobretudo a partir dos anos 80, assumindo definitivamente uma visão mais holística de cultura, como afirma a autora acima citada. Segundo ela,

Contemporaneamente, temos assistido a uma nova ideia – auspiciada por uma série de discussões - acerca do que é o patrimônio. Trata-se, pois, da emergência dos chamados Patrimônios Imateriais e Intangíveis, que trazem consigo uma série de elementos ligados à transformação da concepção do espaço e da experiência humana. A monumentalidade ganha aspectos categóricos ligados a novos campos de exploração reflexiva. À “pedra e cal” juntam-se a imaterialidade, a “forma

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esta nova perspectiva ganha um aliado de peso na direção do IPHAN: Aloísio Magalhães, que produz um profundo redimensionamento do debate em relação às políticas culturais de preservação. Durante sua administração se consolida um novo olhar a respeito do Patrimônio Cultural. É baseado nesse olhar que se pretende pautar as ações deste trabalho, valorizando a cultura regional e estando abertos para incorporar novos tipos de Patrimônio que possam ser reconhecidos (MORAIS, s/d, p. 4).


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de lidar”, o “como fazer”, o “como agir”. Vale salientar que estas mudanças imprimiram novas marcas nas concepções de patrimônio. Deste modo, o que era apenas “patrimônio” transforma-se, deixando de ser mantenedor de um discurso nacional e passando a servir a formas mais intensas e específicas das manifestações culturais diversas, sendo chamado, a partir deste novo contexto, de “patrimônio cultural”. Mas o que viria a ser patrimônio cultural? Segundo Carlos A. C. Lemos, o patrimônio cultural, mas engloba “todo o elenco de bens ‘culturais’” (2004, p. 8) produzido pelos grupos humanos ao longo de sua existência. São três as categorias de elementos que constituem o patrimônio cultural: a) Natureza/Meio Ambiente; b) conhecimento/técnicas/saber/saber-fazer; e c) Artefatos. Na primeira categoria destes elementos estão inseridos todos os recursos naturais, aqueles “que tornam o sítio habitável” (LEMOS, 2004, p. 8). São elementos tangíveis que permitem que o homem “habite o rústico”, condicionando a sua vida, o seu trabalho, a sua produção, a sua subjetividade (idem, p. 9). Já os conhecimentos, as técnicas, o saber-fazer do homem sobre esta primeira categoria é que vai constituir a segunda categoria daquilo que viria a ser o patrimônio cultural. Trata-se, pois, da capacidade de sobrevivência do homem no meio ambiente. Esta categoria de patrimônio é intangível e, como afirma Lemos, “vai deste a perícia no rastreamento de uma caça esquiva na floresta escura até as mais altas elocubrações matemáticas apoiadas nos computadores de última geração, que dirigem no espaço cósmico as naves interplanetárias que estão a ampliar o espaço vital do homem” (2004, p. 9). A terceira categoria do patrimônio vai dizer respeito àquilo que resulta da combinação das duas últimas. Trata-se dos “bens culturais que englobam toda a sorte de coisas, objetos, artefatos e construções obtidas a partir do meio ambiente e do saber fazer” humanos (LEMOS, 2004, p. 10). Partindo para as concepções que embasam a ideia de patrimônio, afirma-se que estas passam pela ideia da memória, pela ideia do “resgate”, pela afirmação de uma identidade (ORIÁ, 2010, p. 129). No passado, especialmente a partir da Revolução Francesa, as concepções de patrimônio diziam respeito à existência de monumentos que fornecessem memórias sobre um passado histórico homogêneo, um passado nacional marcado pela atuação de grandes personagens - políticos e heróis nacionais - aos quais eram erguidos monumentos em sua homenagem, para não deixar esquecer. Os “bens culturais” – toda a produção humana que compõe o patrimônio cultural - são entendidos como “toda produção humana, de ordem emocional, intelectual e material, independente de sua origem, época ou aspecto formal, bem como a natureza, que propiciem o conhecimento e a consciência do homem sobre si mesmo e sobre o mundo que o rodeia” (GODOY apud ORIÁ, 2010, p. 132). Trata-se de uma nova concepção sobre a produção cultural humana, entendida, agora, como algo em processo de constante e permanente transformação, processo este que é atravessado por várias formas e manifestações, que é diverso.


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Disto, vamos conceber o patrimônio histórico não apenas como o patrimônio edificado (a pedra e a cal), mas também o patrimônio cultural, que passa a ser “patrimônio histórico-cultural” (ORIÁ, 2010, p. 134). Nestes termos, os bens culturais, materiais e imateriais, passam a um patamar de valorização e conhecimento que marcam e testemunham a História de uma determinada nação, região ou cidade. Um conjunto de bens culturais “pode ajudar-nos a compreender quem somos, para onde vamos, o que fazemos” (Idem). Os bens culturais, neste novo contexto, (...) não são apenas aqueles tradicionalmente considerados dignos de preservação, produzidos e definidos pelos vencedores de cada época. Ao contrário, são os frutos de todos os saberes, todas as memórias de experiências humanas. Não apenas monumentos, bens isolados e descontextualizados, mas testemunhos materiais portadores de significação, passíveis de muitas leituras (FENELON apud ORIÁ, 2010, p. 134).

4. A “arte de fazer” carne de sol em Picuí – PB Localizada na Microrregião do Seridó Oriental da Paraíba, a cidade de Picuí tem a sua história ligada à criação de gado. No século XVIII, tem-se a instalação das primeiras fazendas de gado, em torno de um riacho denominado Pucuhy. Segundo Freire (2008, p. 12 – 13), as primeiras incursões aconteceram entre os anos de 1704 e 1706, quando um grupo de pessoas solicitou e obtive terras, sob o regime de sesmaria1 - tomando como referência o riacho supracitado - e iniciando a prática da criação de gado. A partir do século XIX, juntaram-se aos primeiros fazendeiros outros grupos de fazendeiros vindos dos estados vizinhos, que “requereram e obtiveram sesmarias nesta região, onde implantaram propriedades e algumas fazendas de gado, como a fazenda Umburana (...), a fazenda

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Trata-se não apenas de uma preocupação em definir o que é ou não é patrimônio históricocultural, mas de buscar formas de preservar os acervos tidos como tal. Assim, assistimos a um movimento crescente, a uma preocupação significativa em relação à preservação deste patrimônio. Mas por que preservá-lo? A resposta à pergunta acima elencada passa pela necessidade que as sociedades possuem de construir, revelar, preservar certa identidade, como atesta a legislação brasileira sobre o tema. Esta diz que “Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referencia à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira (...)” (BRASIL apud ORIÁ, 2004, p. 134). Seja o patrimônio material, seja o patrimônio imaterial, ambos, com base na memória, servem de referência à identidade.


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Gravatá (...), a fazenda Letreiro (...), a fazenda Águas Belas (...) e outras mais, as quais geravam renda e ampliavam seus domínios” (FREIRE, 2008, p. 13), tendo como base de sua economia a criação extensiva do gado e a produção e comercialização dos produtos derivados dos bovinos. Segundo o autor acima citado, é esta criação de gado que vai constituir bases materiais para o desenvolvimento de uma “tradição” da culinária da cidade. Sobre isto, Freire atesta para a ocupação dos Sertões da Parahyba a partir da criação bovina ocorrida na parte Norte da colônia. “O ciclo do gado começou a ter maior significância a partir da segunda metade do século XVII, e vai até a segunda metade do século XIX. Durante este longo período, desenvolveu-se (...) a ‘civilização do couro’, como definiu Capistrano de Abreu” (FREIRE, 2008, p. 26). Atribui-se o impulso da criação de gado na região da hoje Picuí, ao advento da Companhia das Índias Ocidentais e sua instalação, em 1624, no Brasil. Segundo Freire (2008), alguns holandeses que trabalhavam para a Companhia “pediram demissão de seu trabalho (...) e se instalaram nos sertão adentro (neste caso, em Pucuhy), para criarem bovinos (...)” (p. 28). Teria sido Joaquim José da Costa e seus irmãos que - após terem mudado seus nomes originais para nomes portugueses, em virtude da perseguição empreendida por Portugal aos holandeses a partir de 1654 – inauguraram “uma espécie de atividade tropeira” que, diz Freire, “engatinhou o comércio da carne de sol de Picuí” (2008, p. 29), culminando com a marca gastronômica atribuída à cidade, a partir de 1981, por Marilene Henriques e Rosimério Anacleto. Sabe-se que é o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN responsável por inventariar e diagnosticar os bens a serem considerados como patrimônio nacional, sejam os bens materiais móveis e imóveis, sejam os bens imateriais. Estes ficam à cargo do Programa Nacional de Patrimônio Imaterial – PNPI, que no seio do IPHAN, “tem como objetivo viabilizar projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensão imaterial do patrimônio cultural” (GIMENES, 2006, p. 7). A atuação deste órgão dar-se no sentido de “estabelecer parcerias com instituições dos governos federal, estadual e municipal, universidades, organizações nãogovernamentais, agências de desenvolvimento e organizações privadas ligadas à cultura, à pesquisa e ao financiamento” (Idem). Conhecida também como “carne-de-sertão, carne serenada, carne de viagem, carne mole, carne-do-vento, cacina ou carne acacinada” (FREIRE, 2008, p. 31), a carne de sol é um produto de teor calórico e proteico elevados, presente em muitas mesas dos nordestinos. Esta carne de sol passou a ser percebida como um “patrimônio gastronômico” – em âmbito local - na medida em que foram sendo estabelecidos restaurantes que serviam um prato à base da carne de sol, como afirma Sabrina – a rainha da primeira edição do festival da carne de sol de Picuí, realizado em 1998. Quanto perguntada sobre a carne de sol e sua ligação com a história da cidade, a entrevistada – cujo depoimento foi devidamente autorizado - vai buscar em suas memórias as informações que deveriam


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ser dadas por ela quando interpelada em festas e eventos os quais deveria participar durante o seu “reinado”. Eis a sua fala:

A fala da “ex-rainha” Sabrina é significativa quando traz à luz a importância que é dada ao aspecto econômico e turístico do prato típico atribuído à Marilene. Sua fala vai ser corroborada por reportagem da “Picuí em Revista”, uma publicação comemorativa da Prefeitura, que objetiva dar publicidade às “conquistas e avanços” da cidade. A reportagem, intitulada “Uma mulher pioneira no cardápio regional”, conta a “saga” de Marilene de Fátima Macedo, quando deixou a sua cidade e foi morar em João Pessoa em 1981 e montou um restaurante, onde servia a carne de sol preparada com a receita de sua avó. Na reportagem, assistimos à rememoração da trajetória do restaurante e da receita de Marilene, que teria alcançado o sucesso ao longo dos anos e despertado em outros “picuienses” - muitos deles ex-funcionários da própria Marilene - a iniciativa de montar outros restaurantes similares ao seu em outras partes do país. O prato é composto pela “carne de sol assada e servida com feijão verde, arroz, vinagrete, paçoca, pirão de queijo e a famosa farofa d’água, cujo modo de fazer aprendeu com a avó (...)” (GERMANO, 2011, p. 34). Era este o prato que Marilene servia a seus conterrâneos que trabalhavam e viviam em João Pessoa e, por reuni-los em torno de sua receita, teria feito surgir o “Recanto do Picuí”, não apenas em João Pessoa, mas em outras capitais brasileiras. Em pesquisa empreendida a respeito da invenção do Festival da Carne de Sol, Freire (2008) destaca o papel de Rosimério Anacleto na disseminação da carne de sol como produto gastronômico picuiense de exportação. Segundo este autor, teria sido Rosimério Anacleto que, a partir de Maceió, teria impulsionado a fama da carne de sol picuiense. “Com a ideia de expandir e diversificar os negócios, Rosimério abril (...) um barzinho onde venderia caldinhos. Mas os clientes começaram a

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(…) a festa da carne de sol e o título de carne de sol ... veio dos restaurantes que foram surgindo no Nordeste, todo né? Produtores de... donos de restaurantes, eles saíram daqui levando o nome de Picuí, pras cidades como... é... outros estados como Rio Grande do Norte, Pernambuco, aqui na nossa Paraíba mesmo, em João Pessoa, tendo como pioneiro o restaurante “recanto do Picuí”, da senhora Marilene e do senhor Paulo Henriques... é... eles levaram... saíram levando o nome de Picuí, como donos de restaurantes e como... levando a tradição do preparo da carne de sol que é preparado na nossa cidade, né? O estilo do preparo da carne de sol... então foi levando, o nome foi crescendo, os restaurantes foram tendo filiais, e outras pessoas, outros picuienses também foram se interessando pelo comércio e levando outros restaurantes para nossa região, o Nordeste, hoje que já abrange Sudeste, Sul e outras... (Depoimento de Sabrina).


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pedir que ali fosse servida a tradicional carne de sol de Picuí. E foi o que ele fez. A partir daí, o sucesso foi cada vez maior” (ANACLETO apud FREIRE, 2008, p. 29). Buscando relacionar a carne de sol com a história da cidade de Picuí, perguntamos à Sabrina: “E em relação à ligação da carne com a história da cidade, essa coisa do preparo, da ‘origem’, tem a ver com a questão da criação de gado, ligada à origem da cidade? Como é que surgiu essa coisa do preparo da carne aqui na cidade, essa coisa da origem?”. Nisto, Sabrina declarou: É. O preparo da carne, a origem do nome carne de sol como... Picuí, “a terra da carne de sol” veio justamente do preparo. A gente sabe que a nossa história, na história do nosso município existiam os produtores, né? As pessoas que faziam agropecuária e o uso, a criação de gado, né? A própria família, a família Henriques que foi pioneira na criação de gado nessa região, foi justamente eles que expandiram o nome de Picuí como “terra da carne de sol”, né? Veio tradição dos avós deles, do senhor Henriques, a criação de gado e surgiu, o preparo surgiu justamente daí. Então, é comum da nossa cidade preparar a carne de sol, é... levar a carne... ela fica... vem a carne fresca, essa carne é salgada e com isso a carne fica... é... é... em repouso nesse sal durante vários dias, pra poder consumi-la, né? Não é um consume que é imediato. Tem toda uma preparação, existem alguns restaurantes que... que deixam... e ela vai até o sol, né? Por isso que... pra depois ser consumida, depois de salgada... vai até o sol pra depois ser consumida, por isso “carne de sol” (Depoimento de Sabrina).

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Sabe-se que, no contexto do século XVII, as técnicas de conservação da carne nesta região eram à base de sal e de sol (FREIRE, 2008, p. 30). Depois do abate e do corte da carne, salgavam-na e a colocavam para secar/desidratar ao sol. Após este processo, o produto ficava armazenado por até quatro semanas, podendo ser transportado por longas distâncias. E é este preparo ao qual se referi a nossa entrevistada que vai se constituir enquanto a “arte de fazer” carne de sol, a partir de um saber e um saber fazer herdados dos antigos criadores de gado que teriam colonizado a região e fundado a cidade de Picuí. O costume de secar a carne bovina ao sol pelos nordestinos, de modo geral, e pelos picuienses, em particular, teria sido herdado, segundo Freire, dos portugueses. (...) o português possuía a tradição de secar carnes e/ou frutas a partir do auxílio solar, notadamente peixes e sequeiros de bacalhau. Do peixe, passou-se às carnes, utilizando a mesma técnica. Nasceria este na orla do mar, entre os pescadores, que conservavam o pescado para revendê-lo no interior (FREIRE, 2008, p. 31).

Pensar nas artes de fazer é ir ao encontro do monumental trabalho de Michel de Certeau acerca do cotidiano, sendo estas artes de fazer componentes de uma gama de elementos cotidianos


- atualmente elencados pelos historiadores dos estudos culturais que se interessam pelas questões rotineiras, que atravessam a vida das pessoas diariamente -, a partir da perspectiva certeauniana. Para Certeau, “o cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão no presente (...) O cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior” (CERTEAU, 1996, p. 31). O cotidiano, continua, “é uma história a caminho de nós mesmos, quase em retirada, às vezes velada (...) O que interessa ao historiador do cotidiano é o invisível” (Idem). Interessa-nos, do aporte teórico oferecido por Certeau, as “artes de fazer” dos indivíduos, enquanto um fazer pessoal, particular, gestado no seio de seu lar, de seu cotidiano. Trata-se, pois de uma invenção cotidiana que “se dar graças às ‘artes de fazer’, ‘astúcias sutis’ (...) que vão alterando os objetos e os códigos, e estabelecendo uma (re)apropriação do espaço e do uso ao jeito de cada um” (DURAM, 2007, p. 119). Encontrar um sentido nas “artes de fazer”, a partir de Certeau, é considerar a legitimidade dos saberes e valores que permeiam tais práticas. São estes saberes e valores cotidianos - transmitidos de geração para geração - as manifestações genuínas do patrimônio cultural de um povo, na medida em que constituem o segundo grupo de elementos do acervo patrimonial deste referido povo. Percebemos que há a busca por um “resgate” da memória das antigas fazendas de gado onde se preparava as receitas da carne de sol “à moda antiga”, valendo-se de elementos típicos regionais, tais como os derivados do leite. Trata-se, pois, de um movimento – de resgate e/ou construção de lugares de memórias - que vai congregar tanto a questão do preparo da carne de sol quanto à existência de um turismo gastronômico regional fomentado tanto pelos donos dos vários restaurantes que comercializam a carne de sol, quanto pelo poder público municipal. Um dos mais conhecidos chefes da chamada “nova cozinha nordestina” é Wanderson Medeiros que, em entrevista para a coluna da jornalista Alessandra Blanco – do Portal IG -, atesta para um resgate das antigas tradições inerentes à antiga cozinha nordestina. Este chefe, que assina a cozinha do Restaurante “Carne de Sol do Picuí” em Maceió - AL, “nasceu em Picuí, no interior da Paraíba. Seu avô já era uma espécie de açougueiro, vendia carnes no mercado local e ensinou tudo sobre isso a seu pai. Sua mãe era famosa no bairro porque era a encarregada de fazer os doces nas festas típicas para as crianças” (BLANCO, 2011, s/d). Nesta, e noutras genealogias dos vários restaurantes que servem a carne de sol picuiense, as referências às “receitas tradicionais” são recorrentes, embasadas num processo de rememoração que pretende buscar no passado as suas origens. Quando opõe história e memória, a partir do trabalho de Pierre Nora, Loiva Otero Félix nos chama atenção para o fato de que a memória está para uma ideia de afetividade, de pertencimento, onde se busca uma sacralização, repetição e tradição de um passado vivido (FÉLIX, 2004, p. 40). Já

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a história seria a dessacralização das lembranças, num movimento que viria a representar o passado. Segundo Nora, a memória é, por natureza, múltipla e desacelerada, coletiva, plural e individualizada. A história, ao contrário, pertence a todos e a ninguém, o que lhe dá uma vocação para o universal. A memória se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto. A história só se liga às continuidades temporais, às evoluções e às relações das coisas. A memória é um absoluto e a história só conhece o relativo (NORA, 1993, p. 14).

“Os lugares de memória”, afirma Pierre Nora, “nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas por que estas operações não são naturais” (NORA, 1993, p. 13). Estes lugares de memórias vão surgir em função de uma preservação das memórias que são esfaceladas pela história. À medida em que desaparece a memória tradicional, nós nos sentimos obrigados a acumular religiosamente vestígios, testemunhos, documentos, imagens, discursos, sinais visíveis do que foi, como se esse dossiê cada vez mais prolífero devesse se tornar prova em não se sabe que tribunal da história (NORA, 1993, p. 15).

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Faz-se necessário não apenas resgatar e manter resquícios de memórias, onde tudo deve ser registrado para não ser esquecido, mas também “produzir arquivos” (Idem, p. 16) se coloca como imperativo. Para tanto, entram em cena aqueles que se detém em produzir os lugares de memória. 5. O Festival da Carne de Sol e o turismo gastronômico Pensar em lugares de memórias que pretendam resgatar e manter viva uma certa memória, de uma certa cidade que cria e “exporta” um prato típico, nos faz olhar para o “Festival da Carne de Sol”, atentando para uma certa percepção de tradição, naquilo que expõe Freire (2008), relacionando-a com a ideia de turismo gastronômico. Entendemos o “Festival da Carne de Sol” como um desses lugares de memória, feito para “resgatar” a memória de uma arte de fazer um “produto típico” regional, aquele que vai dar visibilidade à cidade de Picuí como a “capital mundial da carne de sol”. Trata-se, pois de um festival que acontece geralmente em novembro. “(...) é no Festival da Carne de Sol que toda a excelência e capricho da culinária picuiense se aguça para preparar um banquete de atrações relacionadas ao produto que se tornou patrimônio genuíno do município” (GERMANO, 2009, p. 10). O autor continua


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sua fala afirmando que “a programação inclue desde o arraial gastronômico, com todas as iguarias provenientes da carne de sol, a expofeira, que congrega os grandes valores da terra, com exposições de animais e do artesanato praticado no Seridó”, sendo que a matéria-prima do artesanato destacada no Festival é o couro bovino, tido também como um “tradicional símbolo” da cidade. Ao lado disto, tem-se os espaços, logomarcas, praças e monumentos que testemunhem tais atributos. Destaque é dado, por Freire, para a “praça temática”, percebida como “portal de entrada da cidade (...) é uma construção moderna e exuberante que apresenta as principais características do município (...) e a escultura de um churrasqueiro – ‘Seu Quenca’ [um misto de churrasqueiro e cangaceiro] – servindo a carne de sol (...)” (FREIRE, 2008, p. 40). Discorrendo acerca do patrimônio imaterial gastronômico e sua relação com o turismo, Gimenes (2006, p. 6) nos chama a atenção para o fato de que a gastronomia também foi reconhecida como bem imaterial. A autora atenta para o fato de que

Nesta perspectiva, a autora vai abordar a gastronomia como expressão da cultura de um povo, país, região ou cidade, destacando o caráter turístico que esta manifestação tem recebido ao longo dos últimos anos, percebida como fonte de experiências turísticas. A alimentação, como fenômeno cultural neste contexto, vai caracterizar determinadas regiões, desenhar territorialidades gastronômicas e ser concebida enquanto patrimônio turístico (GIMENES, 2006, p. 1). É neste sentido que Picuí vai ser posta enquanto “capital mundial da Carne de Sol”. “Boa noite a todos! É um prazer estar esta noite aqui em Picuí, terra da carne de sol”. Estas foram as palavras de abertura do show do humorista paraibano Cristovam Tadeu, realizado em 24 de novembro de 2011 em Picuí. Mas chamou a minha atenção aquele “tema recorrente” na fala de muitas pessoas, não apenas dos picuienses, mas principalmente daqueles que “conhecem” Picuí como “a terra da carne de sol”. Diz-se que remontam à primeira metade do século XVIII as primeiras incursões rumo aos entornos de um riacho que era conhecido pelos indígenas que habitavam tais terras como Pucuhy.

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A UNESCO concebe como sendo manifestações de Patrimônio Cultural Imaterial as tradições, o folclore, os saberes, as técnicas, as línguas, as festas e diversos outros aspectos e manifestações, transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao longo do tempo. O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação como a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana (GIMENES, 2006, p. 6).


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Naquele lugar teria florescido a cidade de Picuí e, hoje, “tem seu nome associado a um dos maiores patrimônios da gastronomia nordestina: a Carne de Sol” (GERMANO et al, 2009, p. 4). Segundo este autor, foi por conta deste “patrimônio que a fama de Picuí repercutiu muito além das fronteiras deste pequeno município do Seridó paraibano”. Nesta relação entre a gastronomia e o turismo, o IPHAN atua no sentido de fiscalizar “pratos feitos sob encomenda”, “produtos estes destituídos de significado e de conteúdo cultural que são empurrados para os turistas como uma experiência genuína” (GIMENES, 2006, p. 12 – 13). Ora, a ideia da gastronomia como patrimônio imaterial de uma comunidade vai ao encontro da transmissão da herança cultural da mesma, num contexto de reatualização e recriação de uma dada identidade, de uma dada continuidade. O turismo gastronômico está associado ao fato dos turistas buscarem o “diferente”, aquilo que não diz respeito à sua cultura. Daí percebe-se a importância de uma culinária genuinamente típica, que proporcione ao turista um contato com a realidade vivida pela comunidade. Na degustação da comida típica, o turista entra em contato não apenas com os sabores, mas com os ritos, os valores e as tradições locais (GIMENES, 2006, p. 11). O “Festival da Carne de Sol” é, para Freire (2008), o espaço onde se manifesta a natureza turística deste componente da gastronomia nordestina. Segundo o autor, “no setor informal da festa, diversas são as atividades e ofertas de produtos, notadamente os churrasquinhos de carne de sol, assados e vendidos em espetinhos” (p. 52). Além disto, há uma atuação significativa dos restaurantes “que montam suas barracas e vendem a carne de sol e sua ‘tradição’ nos diversos pratos” (Idem) à base da matéria-prima que estrela o Festival. Nesta época, o consumo da carne de sol proporcionado pela significativa quantidade de turistas, toma grandes proporções. A título de exemplo, na quinta edição do Festival da Carne de Sol, “foram abatidos 200 bois, algo igual a um consumo de 66 toneladas de carne de sol, a razão de 16,5 toneladas/dia” (GOVÊA apud FREIRE, 2008, p. 48), servidos especialmente no “corredor gastronômico”, montado para a Festa. Apesar de ter surgido em 1998, o ano de 2001 é elencado, pelo autor supracitado, como o ano-chave para o Festival, dada um certa visibilidade midiática e a veiculação da ideia de uma “festa harmoniosa”, gestada a partir de um desejo comum de todos os picuienses. De 1998 até o ano de 2000, o Festival foi promovido por donos de restaurantes, onde prevaleceu uma desestruturação e desorganização (FREIRE, 2008, p. 38). Entretanto, em 2001, com a parceria firmada entre a Prefeitura Municipal e os donos de restaurantes, o Festival assistira a uma organização e estruturação que o fizera reconhecido mundialmente, dando à cidade o título de “capital da carne de sol” (Idem).


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6. Considerações finais Tema recorrente nas “histórias” contadas sobre a fundação da cidade de Picuí - PB, a criação de gado na região é acompanhada com uma gama de costumes inerentes àquilo que se chamou de “civilização do couro”. Dentre estes costumes, destaca-se, em Picuí, o modo como é preparada - a arte de fazer – a “carne de sol” (para ser conservada) e sua utilização com matéria-prima para pratos típicos regionais. Disto, atentamos para a “arte de fazer” carne de sol, percebida por mim enquanto patrimônio imaterial da cidade de Picuí e que serve para a prática do turismo gastronômico regional. No cerne deste movimento de (re)criação gastronômica, estão os restaurantes – os vários “recantos do Picuí” – que se especializaram em servir a carne de sol preparada à moda dos antigos picuienses e inspirados nas receitas de Marilene Henriques. Dada a visibilidade e a dizibilidade ao prato, buscou-se nas várias memórias a ligação deste com a “origem” da cidade. Ou seja, fazendo uso de uma receita local, (re)criou-se uma tradição gastronômica em torno de um “prato típico”, à base da “carne de sol de Picuí”, que tem investido bastante na exploração turística daquilo que viria a ser um bem imaterial – a arte de preparar a carne de sol - de um dado grupo de pessoas, notadamente os antigos criadores de gado da cidade e imediações. As tradições estão diretamente ligadas à memória, tanto coletiva quanto individual e se constituem num elo entre identidade e sentimento de pertença. Neste sentido, o que era um “costume” passa a ser uma “tradição”, a partir das várias memórias que são acionadas pelos agentes – a administração municipal em parceria com os donos dos vários “recantos do Picuí” - que pretende arrolar a “arte de fazer” a carne de sol como patrimônio imaterial, gastronômico e turístico, típico e regional da cidade de Picuí. Nisto, percebemos, através de nossa pesquisa, que “a arte de fazer” carne de sol de Picuí – PB é um patrimônio cultural imaterial que abre possibilidades de exploração comercial, através do turismo gastronômico, e pode contribuir significativamente para o desenvolvimento de nossa região. Trata-se, pois, da busca pelo “significado social do trabalho acadêmico” (MACIEL & MAZZILLI, s/d, p. 4), de uma Universidade socialmente referenciada, comprometida com as demandas e os anseios sociais.


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7. Referências BLANCO, Alessandra. A nova cozinha do Nordeste. Disponível em:<http://colunistas.ig.com.br/ comidinhas/2008/06/14/a-nova-culinaria-do-nordeste/>. Acesso em: 4 dez. 2011. BRASIL. Secretaria de Educação Superior. Plano Nacional de Extensão 1999 – 2001. Princípios da Extensão, segundo o MEC. Disponível em:<http://www.emaj.ufsc.br/principiosExtensao.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2012. CERTEAU, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano: 2, morar, cozinhar. Petrópolis: Vozes, 1996, p. 31. DURAN, Marília Claret Geraes. Maneiras de pensar o cotidiano com Michel de Certeau. Diálogo Educ., Curitiba, v. 7, set./dez. 2007, p. 115 – 128. Disponível em:<http://www2.pucpr.br/reol/ index.php/DIALOGO?dd1=1577&dd99 >. Acesso em: 4 dez. 2011. FÉLIX, Loiva Otero. História e memória: a problemática da pesquisa. 2 ed. Passo Fundo: UPF, 2004, p. 40. FREIRE, Eric dos Reis. Veredas da cri(ação) da Festa da Carne de Sol no município de Picuí – PB (1998 – 2007). 2008. 63 f. Monografia (Licenciatura Plena em História), Universidade Estadual da Paraíba – UEPB, Campina Grande – PB, 2008. GERMANO, Tiago. Conheça Picui: capital mundial da Carne de Sol. João Pessoa: Gráfica Marcone, 2006, p. 34. ______. Picuí em Revista/Aqui se vive melhor: 107 anos de história! Seis anos de Desenvolvimento. Edição Comemorativa. Picuí: 2011, p. 4 - 10. GIMENES, Maria Henriqueta Sperandio Garcia. Patrimônio Gastronômico, Patrimônio Turístico: uma reflexão introdutória sobre a valorização das comidas tradicionais pelo IPHAN e a atividade turística no Brasil. In: IV SEMINÁRIOS DE PESQUISA EM TURISMO DO MERCOSUL, 2006, Caxias do Sul. Anais do IV SEMINÁRIOS DE PESQUISA EM TURISMO DO MERCOSUL. Caxias do Sul, 2006, p. 1 – 15. Disponível em:<www.ucs.br/ucs/tplSemMenus/.../turismo/seminarios/.../GT03-. pdf>. Acesso em: 28 nov. 2011. LEMOS, Carlos A. C. O que é Patrimônio Histórico. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 8 - 10.

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MORAIS, Allana Pessanha de. Educação Patrimonial nas escolas: aprendendo a resgatar o Patrimônio Cultural. Disponível em:< http://www.cereja.org.br/arquivos_upload/allana_p_ moraes_educ_patrimonial.pdf >. Acesso em: 4 dez. 2011. NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. In: PROJETO HISTÓRIA: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do Departamento de História da PUC – SP. São Paulo: 1981, p. 14 - 16.

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Perfil Socioeconômico do Programa Mulheres Mil IFPB - Campus Monteiro: expressão da questão social Socio-economic profile of the Program Women Thousand IFPB Campus Monteiro: expression of the social question Ana Paula de Andrade Rocha Arnaud; Fabiana Pereira Sousa Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB/Campus Monteiro rocha_anapaula@hotmail.com; fpsousapb@yahoo.com.br

RESUMO: Este artigo resulta da experiência desenvolvida no IFPB campus Monteiro durante a execução do Programa Mulheres Mil no primeiro semestre de 2012. Programa este que tem como objetivo promover até 2012 a qualificação profissional de 100 mulheres residentes na Vila Santa Maria, bairro do município de Monteiro, na Paraíba, de acordo com as necessidades educacionais da comunidade e a vocação econômica da região, estruturando-se, para tanto, em três eixos: educação, cidadania e desenvolvimento. Para registro de dados, foi desenvolvido um formulário específico com vistas a registrar informações relativas às condições objetivas de vida das mulheres e seus familiares. O objetivo deste artigo é apresentar o perfil socioeconômico dessas famílias, como vivem e se organizam no bairro. Os dados apresentados decorrem da análise do levantamento realizado com as mulheres regularmente matriculadas ao término do processo seletivo. Optou-se por apresentar os resultados em forma de tabelas, o que possibilita uma melhor compreensão dos dados. Após análises, identificou-se que uma parcela significativa das famílias sobrevive do emprego informal; vivem em condição de vulnerabilidade social e recorrem aos programas de transferência de renda como forma de subsistir e manter suas necessidades básicas.

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PALAVRAS-CHAVE: mulheres, família, vulnerabilidade, social, programas. ABSTRACT: This article is the result of the experience developed in IFPB Monteiro campus during the execution of the Thousand Women Program in the first half of 2012. This program that aims to promote the qualification by 2012 of 100 women living in Vila Santa Maria neighborhood in the city of Monteiro, Paraiba, according to the educational needs of the community and economic vocation of the region, and is structured for both in three areas: education, citizenship and development. To record data, we developed a specific form in order to record information relating to objective conditions of life for women and their families. The objective of this paper is to present the socioeconomic profile of these families, how they live and organize themselves in the neighborhood. Data presented from an analysis of the survey conducted with women regularly enrolled at the end of the selection process. We chose to present the results in tables, which allows a better understanding of the data. After analysis, it was identified that a significant portion of households survives in informal employment,


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living in conditions of social vulnerability and resort to income transfer programs as a way to survive and maintain their basic needs. KEY-WORDS: women, family, vulnerability, social, programs.

implantação do programa foram: i) diagnosticar o perfil da Comunidade Vila Santa Maria; ii) perceber as dificuldades vivenciadas no acesso às políticas e serviços, bem como as possíveis violações sofridas; e iii) ainda delinear o público alvo do Programa para atender as expectativas e possibilidades de Acesso, Permanência e Êxito na comunidade atendida, indicando subsídios para um acompanhamento às famílias com conhecimento de suas realidades por elas expressadas. Haja vista que são muitos os arranjos familiares onde está presentes o idoso, a criança, a mulher, os jovens, os desempregados, os dependentes químicos, dentre outros sujeitos de direitos (GUIMARÃES & ALMEIDA, 2005), e que ao se discutir processo social de inclusão e exclusão social, permite-se também retomar indiretamente a família como condição de inclusão. Para tanto, é importante conhecer os vínculos sócio-familiares e as vulnerabilidades possíveis a que estas famílias estão expostas. O trabalho aqui exposto tem como objetivos centrais não só divulgar a toda comunidade acadêmica do IFPB parte da realidade vivenciada pelas alunas do Programa Mulheres Mil regularmente

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1. Introdução O Programa Mulheres Mil está inserido no conjunto de prioridades das políticas públicas do Governo brasileiro e foi implementado pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (SETEC/MEC). A partir de setembro de 2011 o IFPB campus Monteiro firmou uma parceria com a referida Secretaria para a execução da proposta de qualificação profissional. Dessa parceria surgiu a oportunidade de desenvolvimento de uma experiência inovadora de inclusão social, envolvendo 100 mulheres na faixa etária de 18 a 70 anos, residentes no bairro Vila Santa Maria, localizado no entorno do campus. Partindo do pressuposto de que a família está no centro das políticas sociais, com demandas cada vez mais diversificadas e crescentes, apresentam-se aí novas peculiaridades em uma sociedade complexa e multifacetada, onde temos cidadãos totalmente vulneráveis em seus vínculos e direitos. Nessa direção, a pesquisa teve como motivo gerador o conhecimento, por parte da equipe técnica Multidisciplinar, não só das principais interfaces das famílias com suas principais necessidades e anseios; como também dos aspectos econômicos, sociais e profissionais das mulheres atendidas pelo Programa Mulheres Mil, considerando, ainda, que o núcleo familiar é a expressão máxima da vida privada, da construção de sentidos de seus limites e êxitos. Outros pontos que impulsionaram o levantamento dessas informações durante o processo de


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matriculadas no campus Monteiro, mas também possibilitar o interesse de novos atores participantes em outros projetos e programas de inclusão social nas Instituições Federais de Educação. Além disso, pretende-se alimentar o banco de dados do Programa para a construção de novas produções científicas e articular com os poderes administrativos locais a garantia de políticas sociais identificadas como ausentes na comunidade atendida. 2. Material e métodos 2.1. Aspectos Técnicos e Éticos A metodologia da pesquisa para diagnosticar o perfil socioeconômico da Comunidade Vila Santa Maria no Programa Mulheres Mil teve início com a elaboração do formulário, submetido à aprovação dos dirigentes da instituição. Na realização do processo seletivo, após a validação das inscrições, as alunas foram informadas sobre a aplicação do questionário para delineação do referido perfil. A pesquisa abrangeu todo o universo de alunas efetivamente matriculadas no Curso de Qualificação Profissional em Corte e Costura. A aplicação do questionário foi realizada pela equipe multidisciplinar (Assistente Social, Pedagoga e Psicóloga) do Programa. Na sala de atendimento individual, foram explicados os objetivos da pesquisa, e ainda foi esclarecido que os dados individuais seriam mantidos em sigilo, servindo para estudo e acompanhamento. Dessa forma, a pesquisa foi realizada entre os meses de novembro e dezembro de 2011. 3. Resultados e discussão

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“No Brasil, como no mundo da economia globalizada e pobreza regionalizada, são perceptíveis entre as famílias pobres maiores ameaças, dentre estas o desemprego, que atualmente atingem as famílias mais pobres”. (GUIMARÃES & ALMEIDA, 2005, p.25).

Nessa perspectiva está a Comunidade Vila Santa Maria com suas especificidades locais, baixa escolaridade e falta de mão de obra qualificada. As atividades informais passam a ser a única forma de geração de renda com baixos salários. No presente estudo, percebe-se que alguns problemas prevalecem dentre aqueles vivenciados pelas famílias, sendo estes: o desemprego e a violência doméstica. Para tanto, se faz necessária à sensibilização dos poderes públicos para a garantia e o acesso as políticas sociais e serviços, em favor dos segmentos mais vulneráveis da comunidade onde vivem; proporcionando uma educação de qualidade para seus filhos. Observa-se que mais da metade tem companheiro e param de estudar pra cuidar da família.


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Identificou-se que dentre as mulheres atendidas pelo Programa, 24% declaram-se casadas e 31% amasiadas. Um contingente significativo declarou-se solteira, representando 30%. É comum identificar no bairro mulheres que assumem sozinhas a guarda e a educação dos filhos, sem ter constituído com o genitor de seus filhos uma união estável. Assim, é nesse cenário que muitas mulheres são responsáveis pelo provimento das necessidades básicas do lar, mesmo vivendo em sua maioria com os filhos e companheiro/cônjuge.


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Apesar da democratização na educação, o acesso e permanência das mulheres na escola são interrompidos pela necessidade de geração de renda. Como um grande desafio inicial identificase que 29% das mulheres não são alfabetizadas, mas que apresentam vontade de aprender. Desse modo, 60% destas participaram do Brasil Alfabetizado (Programa do Governo Federal para erradicar o analfabetismo). Também se observa que 54% das entrevistadas apresentam como escolaridade o ensino fundamental incompleto, o que segundo a legislação brasileira representa um grau de escolaridade considerado baixo. Ao relacionar este dado com a condição de trabalho, percebeu-se que este grupo é composto por mulheres desempregadas ou que desenvolvem atividades informais. As que registram o grau de escolaridade ensino médio completo são somente 6%. Quanto às mulheres que registram como escolaridade o ensino superior incompleto, o percentual foi de apenas 1%.

Um dado fundamental é que a maioria delas não exerce nenhuma atividade econômica, declarando-se “do lar”. Essas mulheres afirmam que sobrevivem basicamente dos programas de transferência de renda. Os dados mostram, portanto, que predominam as profissões voltadas às atividades domésticas, onde 18% trabalham como empregada doméstica. Logo, percebe-se que as profissões exercidas voltam-se àquelas de baixa remuneração, que requerem grande esforço físico, fornecendo pouco reconhecimento e baixos salários sem registro trabalhista. Essas profissões ficam na base da pirâmide do mercado do trabalho.


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Quanto aos programas sociais, 74% das mulheres declaram receber o Bolsa Família. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social, o Programa Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades (manutenção das crianças e adolescentes na escola; etc.), que beneficia famílias em situação de pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$ 70,00). O programa está baseado na garantia de renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos. O critério fundamental para a inclusão das famílias no Programa é a renda per capita da família, ou seja, são incluídas, preferencialmente, as famílias com a menor renda.


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Quanto ao total da renda familiar, 21% registram receber até R$ 400,00; e 20% das entrevistadas recebem até R$ 200,00, ou seja, ao correlacionar com as ocupações declaradas se identifica que essa parcela está ligada aos programas de transferência de renda e também as que desenvolvem atividades informais. Outro fator de composição da renda familiar é a participação da família nos programas sociais de complementação de renda, recebimento de cesta básica por parte do poder público municipal, entre outros. Nessa faixa de renda, as famílias vivem em condição de vulnerabilidade social, não havendo âncoras em políticas consistentes, pois os benefícios ofertados reproduzem os velhos programas compensatórios, e não possibilitam de forma efetiva e eficaz a autonomia econômica e social dessas famílias. 4. Conclusões Após a análise dos dados coletados, percebe-se que as famílias participantes do Programa Mulheres Mil no campus Monteiro vivem em condição de vulnerabilidade social, recorrendo à rede socioassistencial, principalmente aos serviços destinados à complementação de renda como forma de manter suas necessidades básicas. A maioria das mulheres reside com cônjuge/companheiros e filhos.


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Com relação à inclusão no mercado de trabalho, majoritariamente, as mulheres se declaram “do lar”, ou seja, não têm nenhuma atividade econômica. Na sequência, algumas mulheres desenvolvem atividades relativas ao trabalho informal, com baixa remuneração. Desse modo, o acesso ao trabalho representa a oportunidade que esse grupo de mulheres tem para utilizar suas capacidades e conhecimentos e contribuir no sustento da família, para isso consolida-se nessas experiências a necessidade de intervenção nas contradições sociais, econômicas e culturais de comunidades pobres do país, por meio da ampliação dos investimentos em políticas sociais que respondam a questões como geração de trabalho, erradicação da miséria, dentre outras expressões da questão social tão presentes. È igualmente relevante que as propostas de trabalhos com famílias devam priorizar metodologias que lhes permitam o enfrentamento de suas condições econômicas, sociais e políticas, onde as mulheres sejam sujeitos protagonistas de suas famílias e de suas histórias na sociedade. Entende-se que este estudo possibilitará reflexões no que concerne ao potencial do grupo familiar. É importante considerar nesse processo o reconhecimento de que qualquer ação de caráter interventivo, ou mesmo investigativo, dentro de qualquer instituição requer a participação de vários atores: gestores, educadores, pesquisadores, alunos, famílias, e da própria comunidade, desde a fase de elaboração até a execução da proposta. Dentro dos processos de planejamento de programas e projetos de inclusão social, pensados e gestados pelas instituições de educação superior, deve-se correlacionar sempre os eixos: ensino, pesquisa e extensão. 5. Contribuições dos autores

Fabiana Pereira Sousa: Graduada em Serviço Social e Especialista em Políticas Públicas e Assistência Social, contribuiu na formulação e aplicação do questionário socioeconômico, na investigação das políticas públicas que atendem a comunidade, realizou visitas domiciliares, como também participou da tabulação dos dados e elaboração do artigo científico.

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Ana Paula de Andrade Rocha Arnaud: Graduada em Pedagogia e Especialista em Psicopedagogia, contribuiu na formulação e aplicação do questionário socioeconômico com as Mulheres do Programa Mulheres Mil da turma pioneira, no processo de investigação e visitação da comunidade, como também na tabulação dos dados e elaboração do artigo científico.


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6. Referências BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social. Programa Bolsa Família. Disponível em: <http:// www.mds.gov.br/bolsa família. Acesso em: 10 nov. 2012. GUIMARÃES, Rosamélia Ferreira; ALMEIDA, Silvana Cavichioli Gomes. Reflexões sobre o trabalho social com famílias. In : ACOSTA, Ana Rojas; VITALE, Maria Amália Faller (organizadoras). Família: redes, laços e políticas públicas. São Paulo: Cortez: Instituto de Estudos Especiais – PUC/SP, 2005.

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LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA O SERVIÇO SOCIAL: coletânea de leis, decretos e regulamentos para instrumentação da (o) assistente social/ organização Conselho Regional de Serviço Social do Estado de São Paulo, 9ª região – Diretoria Provisória – 2. ed. São Paulo: O Conselho, 2006


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EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO IFPB – CAMPUS CAJAZEIRAS: um estudo do sistema luminotécnico ENERGY EFFICIENCY IN IFPB – CAMPUS CAJAZEIRAS: of the system study luminotécnico Eritania Fernandes da Cruz; Leonardo de Lira Silveira; Nádia Camila de Sousa de Freitas; José Kleber Costa de Oliveira Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB/Campus Cajazeiras eritaniacruz@gmail.com; leonardolm_@hotmail.com; camila_ip@hotmail.com; jose.oliveira@ ifpb.edu.br RESUMO: As grandes preocupações no mundo atual estão relacionadas principalmente com a questão da sustentabilidade, com o meio ambiente e com a busca por utilização de fontes renováveis de energia. Essa preocupação existe porque é fundamental para a qualidade de vida no presente e para as gerações futuras que sejam desenvolvidas alternativas capazes de otimizar o uso dos nossos recursos. Com o intuito de diminuir o consumo com energia elétrica no IFPB - Campus Cajazeiras, e tornar as instalações mais eficientes, foram realizados estudos luminotécnico, com base nos Programas de Eficiência Energética – PEE’s e seguindo critérios estabelecidos por Normas Técnicas Brasileiras – NBR’s, onde foi analisado o nível de iluminação médio, natural e artificial nos ambiente e redimensionado fazendo uso de uma iluminação adequada para cada ambiente, entre eles salas de aula e laboratórios, apresentando resultados satisfatórios. Esse estudo foi realizado objetivando a eficiência energética focada na redução de gastos, com a troca de equipamentos como as lâmpadas e luminárias, divisão do circuito de iluminação dos ambientes em dois circuitos, eliminação de desperdício de energia elétrica, mantendo o bem estar e segurança dos ocupantes.

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PALAVRAS-CHAVE: sustentabilidade, economia, racionalização, qualidade de vida. ABSTRACT: It the major concerns in the world today are mainly related to the issue of sustainability, the environment and the search for the use of renewable energy. This concern exists because it is fundamental to the quality of life for present and future generations are developed alternatives that optimize the use of our resources. In order to reduce the consumption of electric power in IFPB Campus Cajazeiras, and make the most efficient plant, studies were performed luminotécnico based on Energy Efficiency Programs - EEP’s and following the criteria established by Brazilian Technical Standards - NBR’s, which was analyzed the average level of illumination, the natural and artificial environment and resized by making use of adequate lighting for every environment, including classrooms and laboratories with satisfactory results. This study was aimed at energy efficiency focused on reducing costs, with the exchange of equipment such as lamps and light fixtures, room lighting circuit environments in two circuits, eliminating wasted electricity while keeping the welfare and safety of occupants. KEY-WORDS: sustainability, economics, rationalization, quality of life.


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2. Luminotécnica Os conceitos luminotécnico são primordiais para um projeto de instalações elétricas bem dimensionadas, evitando-se desperdícios de energia, além de influenciar diretamente no bem estar dos ocupantes dos ambientes. Em regiões como o Nordeste, que tem boa disponibilidade de iluminação natural durante todo o ano, pode-se utilizar essa iluminação de forma a que possa reduzir a necessidade de uma potência de iluminação artificial mais elevada, justificando assim a economia de energia. Existem vários métodos para o dimensionamento luminoso, o método dos lúmens (bastante empregado em casos que não exigem um alto grau de precisão) e o método das cavidades zonais

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1. Introdução As grandes preocupações no mundo atual estão relacionadas principalmente com a questão da sustentabilidade, com o meio ambiente e com a busca por fontes renováveis de energia. Essa preocupação existe porque é fundamental para a qualidade de vida no presente e para as gerações futuras que sejam desenvolvidas alternativas capazes de otimizar o uso dos nossos recursos. O desenvolvimento dessas alternativas pode garantir o futuro e refletem principalmente no conforto e qualidade de vida no presente. Com isso o tema eficiência energética vem se difundindo cada vez mais, e nada mais natural considerando-se a importância e os benefícios do uso racional da energia. Sabe-se que para o desenvolvimento econômico dos países é preciso que estes tenham boa disponibilidade de energia. Segundo Jannuzzi ([2011?]), a eficiência energética está relacionada com objetivos bem abrangentes de interesse da sociedade em geral como: contribuir para aumentar a confiabilidade do sistema elétrico; reduzir ou postergar as necessidades de investimentos em geração de energia elétrica, transmissão e distribuição; reduzir impactos ambientais (locais e globais) especialmente relacionados com a produção de eletricidade e reduzir custos de energia para o consumidor final. No Brasil a demanda de consumo de energia elétrica vem crescendo rapidamente e para suprir essa demanda é provável que sejam construídas novas usinas hidrelétricas, termoelétricas além de usinas nucleares. A construção destas matrizes causa impactos ambientais de grandes proporções que certamente poderiam ser evitados com o uso inteligente e eficiente de energia elétrica. Daí a importância dos PEE – Programas de Eficiência Energética. Diante dessa problemática e com base nos PEE, foi realizado um estudo para verificar a eficiência das instalações elétricas do IFPB – Campus Cajazeiras com o objetivo de reduzir o desperdício de energia elétrica e adequar o sistema luminotécnico da instituição às suas respectivas atividades.


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(utilizado em casos que exigem qualidade técnica mais apurada) são alguns deles. Um sistema luminotécnico mal dimensionado influi em diversos fatores, podendo ocasionar problemas como, por exemplo, o ofuscamento (excesso de luz) ou a fadiga visual (falta de luz). Por outro lado, a iluminação subdimensionada ou insuficiente pode afetar a qualidade das atividades desenvolvidas nos ambiente. (QUEIROZ NETO. 2011) Outro ponto importante na luminotécnica é a escolha do tipo de lâmpada e luminária, uma vez que o rendimento das lâmpadas varia para cada tipo e potência, como por exemplo, as lâmpadas de descarga possuem melhor rendimento que as lâmpadas incandescentes. Para a avaliação da situação do sistema elétrico do Instituto foram utilizados vários conceitos e técnicas luminotécnicas, iniciando-se o processo com a verificação da eficiência luminosa dos ambientes. 3. Conceitos e definições Para um melhor entendimento do assunto abordado a diante, se faz necessário a compreensão de alguns símbolos e definições. Luz - é o espectro da energia radiante que um observador humano constata pela sensação visual, determinado pelo estímulo da retina ocular. (CREDER, 2000, p.192)

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Figura 1. Gráfico da curva óptica

Fonte: CIE apud NBR 15215-4, p.3, agosto, 2003


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A figura (1) mostra a curva óptica padrão do olho humano proposta pela CIE (Commission Internacionale d’Eclairage) onde temos um eixo que corresponde ao comprimento de onda e suas cores, medida em nm (nanômetro), e o outro eixo corresponde à resposta espectral. O olho humano não responde igualmente a todos os comprimentos de onda do espectro luminoso. Assim algumas cores tornam-se imperceptíveis aos olhos humanos.

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4. Metodologia Com o intuito de tornar as instalações do IFPB - campus de Cajazeiras mais eficiente foi desenvolvido o estudo luminotécnico para reduzir os desperdícios com energia elétrica, através do aproveitamento da iluminação natural. Segundo Queiroz Neto (2008), estudos já realizados comprovam que uma iluminação adequada traz benefícios que refletem no bem estar, na autoconfiança e melhora a produção no desenvolvimento de tarefas. A pesquisa foi desenvolvida seguindo critérios estabelecidos por Normas Técnicas Brasileiras - NBR’s; teve inicio numa revisão bibliográfica sobre o assunto, em seguida passou para a coleta de dados, ou seja, os valores de iluminância médios de cada ambiente, os quais foram obtidos de acordo com critérios da NBR 15215-4 (novembro de 2004), para iluminação natural e NBR 5382 (abril 1985), para iluminação artificial. O estudo foi realizado nas salas de aula e laboratórios. A coleta de dados foi realizada de duas em duas horas, iniciando às 7 horas e terminando às 17 horas para a iluminação natural. Para a iluminação artificial foi realizada apenas uma coleta à noite, às 20 horas. Durante a coleta de dados foi utilizado um instrumento denominado luxímetro, modelo LX–101, fabricado pela empresa Light Meter. Este aparelho coleta os valores de iluminância dos ambientes através de um foto censor. Durante a coleta de dados foram obtidos valores de iluminância média nos ambientes que não utilizavam películas nas janelas e posteriormente foram colocadas películas nas janelas e feita nova leituras nos mesmos locais. Isto porque no mês de dezembro de 2010, a Instituição iniciou o processo de colocação de películas nas janelas para diminuir a incidência direta dos raios solares que provoca aquecimento nos ambientes e desconforto aos usuários.


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A Tabela (1) mostra os valores médios de iluminação natural em algumas salas.

Fica evidente que a utilização de película diminuiu significativamente a iluminação natural nos ambientes, por isso há necessidade de iluminação artificial, fato que faz aumentar o valor da conta de energia elétrica do IFPB. Sem a utilização de películas, de acordo com a Tabela (1), no período da manhã não precisaria utilizar a iluminação artificial e no período da tarde a iluminação artificial utilizada para complementar a iluminação natural, deveria ser apenas a metade da capacidade instalada, devendo a carga total de lâmpadas de cada ambiente ser utilizada apenas a noite. Já com a inserção de películas nas janelas a carga total de lâmpadas permanece ligada durante os três expedientes aproximadamente por um período diário de 12 horas. Após a coleta e a análise dos dados obtidos foi efetuado o dimensionamento do nível de iluminação dos ambientes já mencionados, utilizando valores de iluminância médios estabelecidos pela NBR 5413 (abril de 1992), que limita valores de iluminância mínimos para diversos ambientes. Adotou-se os valores de iluminância de acordo com o recomendado pela própria NBR, que para sala de aula é de 300 lux, para laboratórios em geral é de 200 lux e para salas de desenhos é de 500 lux. O primeiro método utilizado para dimensionamento foi o método dos lúmens. Como os valos de iluminância obtidos por esse método mostraram-se imprecisos e com qualidade técnica abaixo da perspectiva, procurou-se um método mais eficaz que utilizasse em seus cálculos, fatores capazes de influenciar no resultado final, como por exemplo, a altura da luminária em relação à área


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Foi verificado que alguns ambientes estavam com uma iluminação artificial acima do estipulado (superdimensionados) em relação aos valores encontrados na NBR 5413 (abril de 1992). As lâmpadas excedentes nesses ambientes devem ser retiradas de maneira sistemática (simetricamente), procurando manter uma uniformidade na distribuição do fluxo luminoso.

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de trabalho. Assim, o dimensionamento do nível de iluminamento foi feito através do método das cavidades zonais. Utilizando-se esse método verificou-se que alguns ambientes apresentaram níveis de iluminação artificial abaixo do recomendado (subdimensionados). Para suprir essa carência do nível de iluminação deve ser inserido um número de lâmpadas em cada ambiente de acordo com a Tabela (2).


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As tabelas (2) e (3) referem-se às lâmpadas fluorescentes T8 de 32 W, mas as lâmpadas utilizadas no IFPB atualmente são lâmpadas T12 de 40 W. Como as lâmpadas fluorescentes T8 de 32 W consomem menos energia e têm um fluxo luminoso maior se comparadas às lâmpadas T12 de 40 W. As lâmpadas T8 de 32 W possuem fluxo luminoso de 2950 lux enquanto que as lâmpadas T12 40 W possuem fluxo luminoso de 2900 lux. Foi recomendada a utilização de lâmpadas T8 de 32 W nos ambientes, por serem mais eficientes. Para esse tipo de lâmpada é recomendado à substituição de reatores magnéticos por reatores eletrônicos que possuem menores perdas elétricas. Quando comparados com os reatores magnéticos, os eletrônicos são mais compactos, mais leves, operam a alto fator de potência, por volta de 0,99, em consequência disto consomem menos energia e eliminam efeitos Estroboscópios, ou seja, efeito que ocorre quando uma fonte de luz pulsante ilumina um objeto em movimento. Para a progressão dos trabalhos foi utilizado o laboratório de Comandos e Máquinas como protótipo para a execução física das alternativas encontradas pelo estudo. Através do dimensionamento verificou-se que seria possível dividir o circuito de iluminação em dois circuitos e, além disso, seria possível reduzir de 48 para 24 o número de lâmpadas. Após a execução das modificações, foi feita uma nova medição dos valores de iluminância e encontrado resultados satisfatórios. Foi medida ainda a potência, tensão e corrente antes e depois da execução do protótipo. Os valores encontrados antes do protótipo foram de 2.099 Watts de potência, uma corrente de 9,5 Ampères e uma tensão de 221 Volts. Após a execução foram obtidos os valores de 1.139 Watts de potência, 5,3 Ampères de corrente, e 215 Volts de tensão. Pode-se notar uma queda significativa na potência e conseqüentemente na corrente, demonstrando a redução de consumo de energia elétrica. Além do laboratório de comandos e máquinas, foi utilizada a sala de aula 11 como protótipo de pesquisa para que se fossem verificadas a adequação e eficiência das alternativas propostas. A sala de aula 11 encontrava-se com um sistema de iluminação superdimensionado, dispondo de 466 lux de iluminância média. E este valor está um pouco acima do que de fato é necessário. Após a execução das alternativas propostas essa média passou a ser de 395 lux. Pelo redimensionamento feito, foi visto que seria necessário o uso de apenas 20 das 24 lâmpadas em uso. Com este protótipo, estima-se que a economia gerada seja algo em torno de 230,4 kWh por mês, e de 2764,8 kWh por ano, o que equivale a aproximadamente R$ 30,00 por mês e R$ 370,00 por ano. Adotando-se esta medida às demais salas de aula que possuem as mesmas dimensões deste protótipo, esta economia passaria a ser de 2.764,8 kWh por mês e de 33.177,6 kWh por ano, o que reduziria R$ 370 por mês, e R$ 4.444,50 por ano da conta de energia elétrica. Com base nos dados acima, nota-se que foi possível a obtenção de uma economia significativa

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de energia elétrica, e melhor, sem perder a qualidade da iluminação, justificando assim a adoção das alternativas propostas aos demais ambientes do Instituto. Verificou-se ainda a disposição de uma iluminância mínima de 195 lux pela iluminação natural até as 15h, vale salientar que estes dados foram obtidos na sala de aula 11 ainda sem a presença de películas nas janelas. Subtraindo-se este valor encontrado do valor mínimo preestabelecido pela NBR5413 (300 lux), será obtida a diferença de iluminância, que neste caso é de aproximadamente 105 lux, e deve ser suprida pela iluminação artificial durante este período. Sendo esta diferença adicionada aos cálculos do redimensionamento, no fator iluminamento desejado (E), será obtido o número de lâmpadas necessárias para suprir as necessidades do recinto. É importante lembrar que para se manter a iluminância mínima desejada até o fim do período de manutenção é necessário que no início da vida útil das lâmpadas se tenha um pequeno acréscimo de iluminância, que segundo os estudos do protótipo de pesquisa deve ser algo por volta de 90 lux. Sendo assim, executada a montagem do protótipo, a média de iluminância encontrada não deverá ser muito diferente de 390 lux. Após a verificação das observações acima, foi feito o dimensionamento para se obter o número de lâmpadas acesas necessárias até as 15 horas. Verificou-se que sete lâmpadas acesas seriam suficientes para complementar a iluminação, e após as 15 horas deve-se acionar toda a carga luminosa (20 lâmpadas). Com a execução deste protótipo estima-se uma economia de 135,04 kW/h por mês e 1620,48 kW/h por ano, algo em torno de R$ 18 por mês e de R$ 217 por ano. Caso esta medida seja aplicada às demais salas de aula, esta economia será de aproximadamente 1620,48 kW/h por mês e de 19445,76 kW/h por ano, aumentando esta economia para R$ 217 por mês e R$ 2605 por ano. Como todos os ambientes do Instituto possuem película em suas janelas, não foi possível a montagem deste ultimo protótipo. Em consequência disto, os valores acima são estimativas que não devem diferir significativamente do valor real. Foi observado no período da noite que as lâmpadas dos banheiros permanecem acesas sem a presença de pessoas no ambiente, tendo um gasto desnecessário. Uma das formas de solucionar esse problema é a automatização do acendimento das lâmpadas dos banheiros que tende a diminuir o consumo de energia elétrica Lâmpadas fluorescentes têm a vida útil reduzida de acordo com seu ciclo de acendimento. Os dados contidos neste artigo são inerentes a um estudo desenvolvido no IFPB – Campus Cajazeiras, podendo ser utilizado como modelo para dimensionamento de qualquer ambiente. Os métodos utilizados são descritos em livros de instalações elétricas que podem ser consultados.


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5. Conclusão Através do método das cavidades zonais pode-se verificar que alguns ambientes apresentavam o sistema de iluminação superdimensionada e outros subdimencionados, cabendo adequar o número de lâmpadas e luminárias necessárias para cada ambiente, atendendo os critérios da norma NBR 5413 - 1992. Fica evidente que a utilização de película diminuiu significativamente a iluminação natural nos ambientes, havendo necessidade de iluminação artificial aumentando o consumo de energia elétrica. Como solução deste problema foi sugerida a retirada das películas e a colocação de um anteparo que impedisse a incidência direta do sol, mas que não impedisse o aproveitamento da iluminação natural. Para o desenvolvimento desse anteparo se fazem necessários novos estudos que possibilitem a criação de um dispositivo que desempenhe bem essa função de acordo com as condições de cada ambiente. A utilização de lâmpadas não eficientes e lâmpadas instaladas nos ambientes são fatos que fazem aumentar o consumo de energia elétrica do IFPB. A troca das lâmpadas de 40 W por de 32 W, diminuição do número de lâmpadas por luminárias, divisão do circuito de iluminação em pelo menos dois, entre outras, pode-se gerar uma economia significativa mensal nas despesas com energia elétrica, sem prejudicar o conforto dos ambientes e o desempenho das atividades para alunos, professores e funcionários em geral. 6. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15215-4: Iluminação Natural – Parte 4: Verificação experimental das Condições de iluminação interna de edificações – Método de Medição. Rio de Janeiro RJ, novembro de 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5382: Verificação de iluminância de interiores. Rio de Janeiro RJ, abril de 1985.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto 02: 135.02 – 002: Iluminação natural – Parte 2: Procedimento de cálculo para a estimativa da disponibilidade de luz natural. Rio de Janeiro RJ, junho de 1999. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto 02: 135.02-001: Iluminação natural – Parte 1: Conceitos Básicos e Definições. Rio de Janeiro RJ, agosto de 2003. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto 02: 135.02-003: Iluminação natural –

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413: Iluminância de Interiores. Rio de Janeiro-JR, abril 1992.


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Parte 3: Procedimento de Cálculo para determinação da iluminação natural em ambientes internos. Rio de Janeiro RJ, agosto de 2003. CREDER, Hélio. Instalações Elétricas. 14° ed. Rio de Janeiro: AS,2000. ELETROBRÁS. Disponível em: <www.inmetro.gov.br/impresa/.../eletrobras_ jul2009>. Acesso em 22 de janeiro de 2011. INDELPA. Disponível em: <http://www.indelpa.com.br/informacoes/eficiencia.htm>. Acesso em: 06 de março de 2011. Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), O que é eficiência energética? Disponível em: <http://www.inee.org.br/eficiencia_o_que_eh.asp?> Acesso em 20 de março de 2011. JANNUZZI, Gilberto de M. Aumentando a eficiência nos usos finais de energia no Brasil. Disponível em: <http://www.moretti.agrarias.ufpr.br/eletrificação_rural/tc_06.pdf> Acesso em 20. março de 2011. Lei n°9.991, de 24 de julho de 2000. LIGHT METER. Disponível em: <http://www.elexp.com/tst_lx01.htm>. Acesso em: 11de março de 2011. MAMEDE FILHO, João. Instalações Elétricas Industriais. 6° ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. Programa Procel Edifica, 2008. Acesa do em. Disponível em: <http:www//pdfesmanual.com/ books/4994/regulamentam>. Acesso em: 19 de março de 2011.

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QUEIROZ NETO, Leônio de Souza. Luz na medida certa e a oftalmologia. Disponível em: <www.portaldaretina.com.br/home/artigos>. Acesso em: 23 de janeiro de 2011.


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RELATO SOBRE O PROJETO DE APOIO E ACOMPANHAMENTO À IMPLANTAÇÃO DA COLETA SELETIVA NO BAIRRO DE INTERMARES, CABEDELO – PB REPORT ON PROJECT TO SUPPORT AND MONITORING THE IMPLEMENTATION OF SEPARATE COLLECTION OF WASTE IN INTERMARES DISTRICT, CABEDELO – PB Rogério Silva Bezerra; Valéria Camboim Góes; Cristine Helena Limeira Pimentel Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB/Campus Cabedelo rogerio.bezerra@ifpb.edu.br; valeria.goes@ifpb.edu.br; cristinehelena@hotmail.com

RESUMO: O artigo realiza um relato crítico sobre o desenvolvimento do projeto de extensão “Apoio e Acompanhamento à Implantação da Coleta Seletiva no Bairro de Intermares”, no município de Cabedelo, Paraíba, efetivado a partir de julho de 2011. O projeto, ainda em execução, está sendo desenvolvido por professores e estudantes do Curso de Meio Ambiente do IFPB - Campus Cabedelo em parceria com a Associação de Catadores de Reciclagem de Cabedelo (ACARE), o Centro de Auto Conhecimento e Meio Ambiente (AMA), a Prefeitura Municipal de Cabedelo (PMCB) e a São Braz Indústria e Comércio de Alimentos. Possui como objetivo geral desenvolver atividades de apoio e acompanhamento à implantação da coleta seletiva no referido bairro. Sua execução foi dividida em: realização de atividades de informação e mobilização junto à comunidade do bairro; visitas residenciais para o cadastramento dos moradores (etapas já executadas) e; quantificação das informações e elaboração do banco de dados da coleta seletiva local (em fase de execução). O artigo apresenta de forma crítica as informações e resultados até aqui obtidos na execução do projeto, as dificuldades da implantação, a participação das entidades da sociedade civil e dos gestores públicos na implantação da coleta.

ABSTRACT: This paper provides a critical report about the development of the extension project “Support and Monitoring the Implementation of Separate Collection of Waste in Intermares District”, in Cabedelo City, Paraíba, effected since July 2011. The project, still being executed, is being developed by teachers and students of Environment’s Technical Course of IFPB - Campus Cabedelo join with the Association of Collectors Recycling of Cabedelo (ACARE), the Center of Self Knowledge and Environment (AMA), the Cabedelo City Hall (PMCB), and São Braz Food Industry and Trade. The main objective is developing activities of support and monitoring the implementation of separate collection of waste in that area. The execution of the project was organized into: activities of information and mobilization into District, home visits for the registration of the residents (steps already done) and quantification of the information and realization of a database of separate collection of waste in

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PALAVRAS-CHAVE: meio ambiente, coleta seletiva, catadores, Cabedelo.


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that place (in execution). This article presents in a critical way the information and results of the implementing the project until now, and the difficulties to the implementation of the project, and the participation of civil society organizations and public managers in the collection implementation.

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KEY-WORDS: environment, separate collection of waste, collectors, Cabedelo.

1. Introdução O presente artigo busca relatar de forma crítica a experiência da execução do projeto de extensão “Apoio e Acompanhamento à Implantação da Coleta Seletiva no Bairro de Intermares, Cabedelo – PB”, desenvolvido a partir de julho de 2011 no âmbito do Curso Técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) Campus Cabedelo, em parceria com a Associação de Catadores de Recicláveis de Cabedelo (ACARE). Na implantação do programa de coleta seletiva em Intermares, a ACARE conta com o apoio da organização não governamental Centro de Autoconhecimento e Meio Ambiente (AMA), da Prefeitura Municipal de Cabedelo (PMCB) e da São Braz Indústria e Comércio de Alimentos S.A. O projeto foi aprovado no Edital 05/2011 PROBEXT - Servidor com período de execução de setembro de 2011 a agosto de 2012, tendo como coordenadores os professores Ms. Rogério Silva Bezerra, Dra.Valéria Camboim Góes e Ms. Cristine Helena Limeira Pimentel. Por meio deste projeto que conta com 20 bolsistas, o IFPB colabora com a implantação da coleta seletiva, realizando atividades de mobilização, educação ambiental e cadastrando, através de visitas domiciliares a população residente da área em questão. O projeto de extensão surgiu devido à iniciativa da ACARE que, apoiada pelo Centro AMA, protocolou junto ao Campus Cabedelo do IFPB solicitação para desenvolvimento de parceria tendo como fim a implantação da coleta seletiva no bairro de Intermares em Cabedelo. A solicitação foi remetida à coordenação do Curso de Meio Ambiente que respondeu positivamente e decidiu pela abertura dos diálogos para efetivação da parceria. Cabedelo (Figura 1) é uma cidade portuária que está localizada na mesorregião do Litoral Paraibano e faz parte da Região Metropolitana de João Pessoa, limitando-se com o Oceano Atlântico e com os municípios de Lucena, João Pessoa e Santa Rita. Possui uma área aproximada de 31,92 Km² (IBGE, 2010).


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Figura 1. Localização da área em estudo

O município de Cabedelo está inserido na região geoambiental dos tabuleiros costeiros e tem uma altitude média de 3m em relação ao nível do mar. Sua área municipal possui uma forma bastante singular, possuindo aproximadamente 18 Km de extensão por 3 Km de largura, formando o que podemos classificar de península estuarina. O acúmulo de sedimentos (depósito flúviomarinho) ali realizado pelos rios em conjunto com o oceano, deu origem a uma formação sedimentar inconsolidada areno-quartizoza, com uma hidrografia bastante rica e com predominância de vegetação subperenifólia, subcaducifólia e forte presença de manguezais e restingas. Sua população é estimada pelo IBGE (2010) em 57.944 habitantes, com uma densidade habitacional de 1.815,57 hab/Km². O Produto Interno Bruto (PIB) municipal possui um valor de R$2.184.283,943, e o PIB per capita possui um valor de R$42.775,42, o maior da Paraíba (IBGE, 2010). Tal condição é alcançada graças à existência do Porto de Cabedelo, única via náutica de circulação comercial nos limites do Estado e que tem ligação direta com o interior do território através da BR230, funcionando como alavanca das atividades comerciais no espaço municipal.

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Fonte: Silva (2007).


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Esconde-se sob os números do PIB municipal a extrema desigualdade facilmente verificável na paisagem local. Contrapõem-se na paisagem, edifícios e mansões das classes médias e altas, ocupando principalmente a faixa litorânea oceânica, e grandes manchas de habitações das classes trabalhadoras, sendo grande parte delas subnormal, dispostas em geral na área central da península e nas margens voltadas para o Rio Paraíba. Localizado à beira mar (Oceano Atlântico ao leste) e limitando-se com os bairros do Bessa (Município de João Pessoa) ao sul, com o bairro do Poço ao norte, e com a Comunidade do Jacaré a oeste, o bairro de Intermares caracteriza-se em sua paisagem pela predominância das construções verticalizadas e uma população composta predominantemente por dois grupos: população fixa – Intermares cumpre a função de subúrbio praiano de trabalhadores de renda média ligados às atividades econômicas da região metropolitana de João Pessoa e; população flutuante – Imtermares cumpre nesse caso a função de residências para veraneio de empresários e das classes médias interioranas. 2. Delimitação do problema A ACARE possui cerca de 30 famílias cadastradas/associadas como catadores de material reciclável atuando no município de Cabedelo. Esse grupo de trabalhadores, residente em comunidades de baixa renda no próprio município, sobrevive por meio da coleta de materiais recicláveis, encontrados e separados nos resíduos descartados pela população do bairro de Intermares e adjacências. A atividade de coleta dos resíduos era realizada de maneira informal pelo trabalho autônomo e não organizado dos catadores. Esse grupo de trabalhadores realizava a coleta sem receber qualquer treinamento prévio, sem utilização de equipamento de proteção individual (EPI´s), utilizando ‘ferramentas’ improvisadas reduzidas quase sempre apenas as carroças puxadas pelos próprios catadores ou animais de tração (burro, cavalo). Derivado da condição informal de seu trabalho, os catadores não possuíam qualquer direito trabalhista, previdenciário ou de seguridade assegurado e sobrevivem, junto com suas respectivas famílias, em condições bastante precárias. O bairro de Intermares tornou-se foco principal do desenvolvimento do trabalho dos catadores graças ao perfil do resíduo sólido aí gerado. Por ser um bairro de trabalhadores de renda média, o perfil do resíduo sólido, possui maior valor comercial por conter maiores quantidades de papelão, vidro, metais, etc. Segundo Lima (2001) os programas brasileiros de coleta seletiva têm como alvo básico materiais como plásticos, vidros e metais, juntos eles compõem cerca de 38% do peso do lixo. O autor ainda afirma que esse material tem uma maior representatividade em termos de volume. O perfil dos resíduos sólidos do Bairro atraiu a atenção dos catadores em busca de maior


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rendimento para o seu trabalho. Os catadores realizavam sua atividade a partir de passagem não regular, de porta em porta, nos depósitos colocados a frente das residências. A política de resíduo sólido municipal de Cabedelo resume-se a coleta simples dos resíduos (sem separação), realizada rua-a-rua, com a utilização de caminhões coletores que compactam o resíduo. A atividade de coleta simples é realizada por trabalhadores contratados por uma empresa possuidora de contrato de terceirização (Marquise) junto a PMCB. A prefeitura municipal paga a empresa por tonelada de resíduo recolhido. O material tem como destino final o aterro sanitário metropolitano que funciona na zona rural do município de João Pessoa, desenvolvido através do Consórcio de Desenvolvimento Intermunicipal da Área Metropolitana de João Pessoa (CONDIAM). A ACARE com o apoio do Centro AMA ao buscar organizar os catadores de material reciclável e implantar a coleta seletiva no bairro de Intermares se defronta dessa forma com duas questões de grande relevância: 1 – ajudar na melhoria das condições de trabalho e vida dos catadores, elaborando, junto com eles, um outro sistema de exercício do seu trabalho e; 2 – fazer avançar o sistema de gestão dos resíduos sólidos do município de Cabedelo, complementando e ampliando a eficiência do sistema de coleta de resíduos, tornando-o ambientalmente mais sustentável.

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3. Metodologia e objetivos Conforme ilustra o organograma (Figura 2), o projeto de implantação da coleta seletiva no Bairro de Intermares foi uma iniciativa da ACARE com apoio do Centro AMA. Constitui-se dessa forma como uma ‘terceirização’ da PMCB à Associação dos Catadores, visto que a Prefeitura é a responsável legal pela gestão dos resíduos sólidos locais (Lei Federal nº 12.305/2010). Para a implantação da coleta a ACARE estabeleceu ainda parceria com a empresa São Braz, cabendo a esta última o financiamento de parte dos custos da implantação da coleta. À PMCB coube ainda disponibilizar materiais de divulgação e infraestrutura de suporte à implantação da coleta (transporte, tendas e outros quando necessário).


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Figura 2. Organograma do Projeto

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Fonte: IFPB, 2011. Aos membros do IFPB, por meio do projeto de extensão, coube essencialmente a informação e mobilização da sociedade para a participação no sistema de coleta seletiva e a participação da organização da pré-coleta, sintetizados nos objetivos: geral - desenvolver atividades de apoio e acompanhamento à implantação da coleta seletiva no bairro de Intermares, no município de Cabedelo, PB e; específicos - sensibilizar e organizar os moradores do bairro para participarem do processo de coleta seletiva e; identificar e cadastrar as residências e/ou pontos de coleta do bairro de Intermares. Na consecução dos objetivos do projeto, os estudantes participantes, sob orientação dos professores coordenadores, desenvolveram as seguintes atividades: visitas domiciliares, com os objetivos de a) aplicar questionário para formação do cadastro de coleta seletiva do bairro e obtenções de informações para elaboração dos perfis de coleta, b) repasse de materiais – panfletos, folders e outros – e troca de informações/técnicas necessárias a participação no sistema de coleta e, c) fomento e sensibilização à organização para participação no sistema de coleta. Na mesma linha das visitas domiciliares, quando necessário, nos casos de condomínios horizontais ou verticais e/ou outros aparelhos de vivência coletiva, foram ainda realizadas atividades


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4. Resultados Os trabalhos foram desenvolvidos nas seguintes ações: reuniões; atividades de planejamento; mapeamento das ruas; visitas domiciliares; ações de mobilização. Nas reuniões foram discutidos e destacados alguns fatos referentes às abordagens, nas ruas, casas e condomínios, aceitação da população, sugestões e propostas, como por exemplo, a divulgação sonora no bairro, para facilitar os trabalhos em campo, tendo em vista o conhecimento da população local referente ao projeto. Todos os problemas encontrados eram discutidos, grupalmente, e em consenso resolvidos. Para que houvesse uma melhor abordagem da área de implantação do projeto, as equipes foram divididas em duplas, determinadas e divididas pela coordenação do projeto de extensão junto com os estagiários, que ficaram responsáveis por determinadas áreas. Sendo depois essa divisão modificada para grupos de cinco pessoas, por motivo de melhor desempenho do trabalho em campo. Nas reuniões eram discutidos e abordados os pontos onde não foi possível a realização da pesquisa, devido à ausência dos proprietários. Deste modo, nos domicílios em que as equipes não conseguiam realizar a abordagem, era feito um mapeamento de retorno, visando cobrir a grande demanda. Estes mapeamentos eram feitos por ruas, onde eram verificados quantos domicílios foram abordados, logo em seguida, eram analisados a quantidades de domicílios e fichas cadastrais preenchidas. As dificuldades encontradas eram reunir todos os estagiários, porque sempre alguns não estavam com todas suas fichas em mãos, o que dificultava na elaboração do mapeamento de retorno. O questionário continha perguntas relacionadas à coleta seletiva, visando colher dos moradores informações acerca da importância que os mesmos davam a separação dos resíduos sólidos reaproveitáveis, cujo principal motivo é obter uma redução, destes materiais, em ruas, lixões e aterros sanitários. Uma das principais dificuldades encontradas pelos pesquisadores foi a liberação da entrada, dos mesmos, em condomínio onde os porteiros só permitiam as abordagens com os condôminos caso houvesse uma liberação dada pelo síndico do prédio, e também, a ausência dos proprietários. Com a baixa aceitação dos residentes, foram discutidas formas de reinverter este caso, e algumas propostas

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como participação em reuniões, conversas com síndicos, gerentes, etc. ou outras atividades necessárias à efetivação da coleta seletiva. A segunda linha de atividades correspondeu às atividades de sensibilização/educação ambiental com palestras, debates, distribuição de cartazes e panfletos sobre o tema reciclagem em escolas, igrejas e demais espaços públicos e/ou coletivos de vivência e organização. Complementarmente, foram realizadas panfletagens em lugares públicos e de maior passagem e concentração de pessoas no bairro.


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discutidas foram mais relevantes como a divulgação sonora dentro do bairro e apresentação de um ofício, elaborado pela coordenação do IFPB, para que se obtivesse uma apresentação mais formal entre estagiários, porteiros e síndicos. Após a consolidação das visitas os dados foram compilados e trabalhados em planilhas do Microsoft Excel. A partir delas foram gerados e analisados os dados estatísticos que seguem nas Figuras 3 e 4. Observa-se no gráfico da Figura 3, que cerca de 60% dos residentes se encontravam ausentes, por motivo de trabalho, ou até mesmo algumas residências serviam somente como temporárias, ou seja, para a temporada de verão; 25% aceitaram separar os resíduos e doá-los aos catadores da associação; 15% se recusaram a participar do projeto pelos seguintes motivos: por já fazerem a doação de seus resíduos para algum catador, ou até mesmo por não se comprometerem em separar seus resíduos.

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Fonte: Pesquisa de Campo, 2011.

Fonte: Pesquisa de Campo, 2011.

Aos que aceitaram participar do projeto foi perguntado a preferência do turno para a realização da coleta dos resíduos sólidos pelos catadores da associação, visualizada no gráfico da Figura 4, que mostra que a preferência é de 65% pelo turno da manhã e 35% pelo turno da tarde. Também foi levantado o perfil dos moradores do bairro, quanto ao grau de escolaridade, como se pode observar no gráfico da Figura 5, onde a maioria possui ensino superior completo.


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Figura 5. Gráfico do Nível de Escolaridade dos Moradores de Intermares.

5. Conclusões Pelos limites impostos ao presente artigo, não é possível apresentar aqui todos os resultados obtidos durante a execução do projeto. Durante o desenvolvimento das atividades, os estudantes efetivaram de forma prática os conhecimentos adquiridos no decorrer do curso, aperfeiçoando, desse modo, sua formação profissional. Poderia ainda se evocar a responsabilidade sócio-ambiental de uma instituição pública de educação como o IFPB e do Curso Técnico em Meio Ambiente, especificamente, em apoiar e promover ações de cunho sustentável/ambiental. Mas pelo exposto, fica claro que o cumprimento dos objetivos explícitos no projeto, é de grande relevância sócio-ambiental e científicoeducacional, possuindo nestes, seus pilares de sustentação e legitimidade. Quanto à efetivação e sucesso da implantação da coleta seletiva no Bairro de Intermares, ressalta-se que dependem da participação efetiva da população, se comprometendo em separar seu resíduo, da responsabilidade dos catadores em cumprir com seus horários de coleta e da prefeitura em disponibilizar os materiais necessários ao trabalho dos catadores e criar mecanismos de regularização desses trabalhadores, que com a coleta tem oportunidade de renda e inclusão social.

131 | Meio Ambiente

Fonte: Pesquisa de Campo, 2011.


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A Educação Ambiental também se mostrou relevante no tocante à disseminação dos conceitos de separação de resíduos e coleta seletiva, mostrando aos moradores que mudanças simples de hábito podem contribuir para o bem-estar de toda a comunidade. 6. Referências IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010 - Cidades. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?codmun=250320. Acesso em: 24 de janeiro de 2012. LIMA, José Dantas de. Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil. ABES-PB, Seção Paraíba, 2001.

132 | Meio Ambiente

SILVA, Artur Feliciano Medeiros da. Utilização de Sig no Cadastro Multifinalitário para Municípios de Pequeno Porte. 32 f. Monografia (Conclusão) - Curso de Superior de Tecnologia em Geoprocessamento, CEFET-PB, João Pessoa – PB. 2007.


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Para direcionar as ações de extensão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, o Fórum dos Dirigentes de Extensão definiu diretrizes para a Política de Extensão. Uma Rede Federal com ações de extensão homogêneas foi o objetivo do FORPROEXT na elaboração do documento. As diretrizes norteiam ações que possibilitem a integração com o mundo do trabalho, espaço que vai além do mercado de trabalho, contemplando as instituições e as relações; ações que tenham compromisso com o desenvolvimento local e regional, em sintonia com os arranjos produtivos, sociais e culturais; e ações que valorizem e potencializem a transversalidade da cultura, da arte e do esporte, para a inclusão social e o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária. Programas, projetos, cursos, eventos e prestação de serviços são oportunidades para a participação e o envolvimento de servidores, discentes e da comunidade, consideradas e utilizadas para o cumprimento de diretrizes e para a efetivação da Política de Extensão da Rede Federal de EPCT. O Instituto Federal da Paraíba, como os demais institutos, tem procurado nortear suas ações pelas diretrizes da Política, através de chamadas aos editais de programas, projetos, cursos, além da organização de encontros e da troca de experiências.

133 | 2º ENEX

A EXTENSÃO PARA ALÉM DOS PROGRAMAS, PROJETOS, CURSOS, EVENTOS...


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A extensão, por concepção, atua na sociedade com uma relação transformadora, de compromisso e responsabilidade social, interagindo e participando de uma mesma construção. Nessa perspectiva, a extensão impõe-se como uma das dimensões acadêmicas na formação de pessoas que, mais do que profissionais competentes, possam ser cidadãos comprometidos com a realidade social, política, tecnológica e cultural do país. De acordo com os nossos documentos referenciais, o IFPB é uma instituição de educação superior, básica e profissional com a missão de “preparar profissionais cidadãos, com sólida formação humanística e tecnológica, para atuarem no mundo do trabalho e na construção de uma sociedade sustentável, justa e solidária, integrando o ensino, a pesquisa e a extensão”. Temos, portanto, a missão de fazer uma educação coletiva, integrando o ensino, que possibilita a transmissão e a apropriação do saber historicamente sistematizado; a pesquisa, que constrói novos saberes; e a extensão, que se caracteriza pela práxis e pela objetivação ou materialização dos conhecimentos adquiridos no ensino e na pesquisa, aplicados na construção de uma sociedade sustentável, justa e solidária. A extensão não se consolida, não cumpre sua missão se, isolada, não se faz presente em todo o processo do fazer acadêmico, como prática indissociável da pesquisa e do ensino. O ensino contextualizado e comprometido com a realidade social, econômica, política e tecnológica motiva a pesquisa de soluções, de adequações e de transformações que, aplicadas, participam, contribuem para a construção dessa sociedade mais justa, solidária e sustentável. O 2° Encontro de Extensão do IFPB ‒ 2° ENEX, evento bienal proposto como espaço de discussão de concepções, metodologias e troca de experiências, neste ano pretende discutir o nosso fazer acadêmico e avançar, senão na indissociabilidade, na integração do ensino, da pesquisa e da extensão ‒ o fazer coletivo da educação.

134 | 2º ENEX

Maria Edelcides Gondim de Vasconcelos Pró-Reitora de Extensão do IFPB


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AUTORES Ana Paula de Andrade Rocha Arnaud. Graduada em Pedagogia/UFCG e Especialista em Psicopedagogia/Faculdades Integradas de Patos. Pedagoga do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Monteiro; Cristine Helena Limeira Pimentel. Mestre em Engenharia Urbana pela Universidade Federal da Paraíba. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Centro de Referência em Pesca e Navegação Marítima/CRPNM/Cabedelo; Dimas Brasileiro Veras. Professor, Orientador e Coordenador do Programa de Extensão Transposição Sustentável do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Monteiro; Edivania Elisa de Figueiredo. Aluna do Curso Superior de Tecnologia em Sistemas para Internet - IFPB/Campus João Pessoa. Monitora de Informática Básica no Programa Educação Digital - PED/IFPB/Pró-Reitoria de Extensão/ PROEXT/IFPB/João Pessoa; Eritania Fernandes da Cruz. Aluna do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/ Campus Cajazeiras; Eugênia Alves Leite. Aluna do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB. Bolsista do Programa de Extensão Transposição Sustentável/Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba IFPB/Campus Monteiro; Fabiana Pereira Sousa. Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual da Paraíba e Especialista em Políticas Públicas e Assistência Social/UNIPÊ/FURNE. Assistente Social do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Monteiro; Gicarla Maria Clemente Santos. Aluna do Curso de Bacharelado em Administração - IFPB/Campus João Pessoa. Monitora da Sala de Leitura: despertar virtual no Programa Educação Digital - PED/Pró-Reitoria de Extensão/ PROEXT/IFPB/João Pessoa; Heranir Fernandes de Oliveira. Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba. Trabalho de Pós-Graduação em Língua Portuguesa pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Diagramador do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/João Pessoa; Iracira José da Costa Ribeiro. Professora, Orientadora e Vice- Coordenadora do Programa de Extensão Transposição Sustentável do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Monteiro; Jéssica Maria de Sousa. Aluna do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB. Bolsista do Programa de Extensão Transposição Sustentável/Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Monteiro;

José Rodrigo Pinto Leite. Aluno do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB. Bolsista do Programa de Extensão Transposição Sustentável/ Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Monteiro; Juliana Gouveia de Amorim Nunes. Aluna da Especialização em Assessoria de Imprensa da Faculdade Santo Augusto - João Pessoa. Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal da Paraíba. Jornalista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB/Campus Sousa;

135 | Autores

José Kleber Costa de Oliveira. Tecnólogo em Automação Industrial pelo IFRN. Mestre em Engenharia Elétrica pela UFRN. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Cajazeiras;


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Kerilin Laine Andrade Chang. Estudante do Curso Técnico Integrado em Manutenção e Suporte em Informática no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Campina Grande. Monitora do Projeto de Inclusão Digital e Pesquisadora vinculada ao Laboratório Marxista de Pesquisas e Estudos Sobre Juventude e Trabalho - LAMPEJU; Leonardo de Lira Silveira. Aluno do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Cajazeiras; Lídia Cunha Soares. Bacharel em Administração pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus João Pessoa. Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba; Lourdes Sales de Macedo. Mestre em Educação - UFPB. Pedagoga da Pró-Reitoria de Extensão/IFPB. Coordenadora do Programa Educação Digital – PED/IFPB/Pró-Reitoria de Extensão/PROEXT/João Pessoa; Luiz Januário Torres da Silva Filho. Aluno do Curso Superior de Engenharia Elétrica - IFPB/Campus João Pessoa. Monitor de Montagem e Manutenção de Microcomputadores no Programa Educação Digital - PED/IFPB/Pró-Reitoria de Extensão/ PROEXT/João Pessoa; Márcia Gardênia Lustosa Pires. Doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará/UFC. Mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará – UECE. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba/IFPB/ Campus Campina Grande. Coordenadora do Laboratório Marxista de Pesquisas e Estudos Sobre Juventude e Trabalho - LAMPEJU; Maria de Fátima Dantas Carneiro Souto. Psicóloga. Especialista em Psicologia Comunitária/UFPB. Especialista em Educação Ambiental/UFPB. Assistente da Pró-Reitoria de Extensão - IFPB/PROEXT/João Pessoa; Maria de Fátima Silva Oliveira. Doutora em Psicologia Social e Antropologia das Organizações pela Universidade de Salamanca, Espanha. Coordenadora do Projeto de Extensão Ampliando Horizontes de Competências/Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus João Pessoa; Michele Aparecida G. Libano. Bolsista do Programa de Extensão Transposição Sustentável/Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Monteiro; Nádia Camila de Sousa de Freitas. Aluna do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/ Campus Cajazeiras; Paulo de Oliveira Nascimento. Mestrando em História – PPGH/UFCG. Tecnolando em Agroecologia/Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Picuí; Ridete Helena C,ardoso Coutinho. Aluna do Curso de Bacharelado em Administração - IFPB/Campus João Pessoa. Monitora da Sala de Leitura: despertar virtual no Programa Educação Digital - PED/Pró-Reitoria de Extensão/ PROEXT/ João Pessoa; Rogério Silva Bezerra. Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba. Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/ Campus Cabedelo;

136 | Autores

Valéria Camboim Góes. Doutora em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Pernambuco/UFPE. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba - IFPB/Campus Cabedelo.

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