Informativo do Instituto Federal do Rio de Janeiro - IFRJ
Outubro - Dezembro de 2019
REVISTA INFORMAÇÃO Edição nº 16 Outubro - Dezembro de 2019 Reitor Rafael Barreto Almada COORDENAÇÃO-GERAL DE COMUNICAÇÃO
Volta Redonda 03 Campus Aluna do curso Técnico em Automação Industrial conquista vaga de estágio na CSN
Belford Roxo 04 Campus Sem barreiras de gênero ou de idade
Coordenadora de Comunicação Juliana C. A. S. Fernandes Jornalista Danyelle Woyames Jorge de Moraes Programadora visual Juliana C. A. S. Fernandes Revisora de Textos Claudia Lins ESTAGIÁRIOS DE COMUNICAÇÃO
Duque de Caxias Campus Niterói 06 Campus 08 Alunas de Petróleo e Gás Meninas conquistam buscando igualdade no mercado de trabalho
espaço na área da Tecnologia no IFRJ Campus Niterói
10 Capa A importância e a força
Reitoria 18 Campus Um desafio a cada
da mulher na ciência
Belford Roxo Luana Oliveira Duque de Caxias Pedro Henrique Pereira Nilópolis Camilla Fonseca
20 “Eu não quero que meu Campus Reitoria
gênero chegue antes do meu trabalho”
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22 Campus Pinheiral
A inserção das mulheres no Curso Técnico em Agropecuária
Niterói Suzana Carqueija Pinheiral Filipi Meireles Gonçalves Reitoria Juliana Lopes Rayane Nunes Rio de Janeiro Fernanda Monteiro São Gonçalo Filipe Pavão Volta Redonda Daniela Romanelli
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24 De volta às aulas
Campus Rio de Janeiro
São Gonçalo 26 Campus Cresce presença feminina na área de Segurança do Trabalho
Campus Volta Redonda
Aluna do curso Técnico em Automação Industrial conquista vaga de estágio na CSN
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m dos principais fatores das transformações no setor da Indústria é a automação industrial, que busca eficiência na solução para a operação das máquinas. Em Volta Redonda, no sul do estado do Rio de Janeiro, é grande a busca por emprego nessa área nas grandes empresas da região. Contudo, o público masculino acaba se sobressaindo, fazendo com que as mulheres não tenham tanta visibilidade no ramo. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por exemplo, foi a primeira companhia de aço no Brasil, fundada em 1941. Atualmente, a empresa está no ranking das maiores siderúrgicas do país e conta com mais de 20 mil empregados, mas busca aumentar a quantidade de mulheres em seu quadro de funcionários. Para isso, fechou parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a fim de oferecer formação para mulheres atuarem na Companhia. Atualmente elas representam apenas 10% do quadro de funcionários da CSN, mas a meta é chegar aos 40%. As informações foram divulgadas em matéria publicada no site da Firjan. A estudante do 7° período do curso Técnico em Automação Industrial do Campus Volta Redonda Juliana dos Santos Lino, que iniciou seu programa de estágio na CSN no início de 2019, é uma das trabalhadoras a integrar o quadro da empresa. Juliana atua no setor de aços longos, trabalhando na inspeção da laminação desse tipo de aço. A aluna acompanha toda a rotina elétrica, desde o
bom funcionamento dos equipamentos até a manutenção da produção. Segundo Juliana, no setor em que ela estagia há apenas duas mulheres, contando com ela. A estudante afirmou que esse primeiro contato com o mercado de trabalho está sendo desafiador: “Não vou falar que não existe machismo, porque essa é a primeira visão que eu tenho do mercado de trabalho, mas, desde que entrei na empresa, nunca sofri nenhuma discriminação do tipo ‘não vou ensinar isso para essa menina porque ela não vai entender’; nunca senti isso por parte dos engenheiros, que são a maioria. Tudo o que quero aprender eles me ensinam”, comentou. Dados publicados em um levantamento da rede de comunicação BBC de março de 2019 corroboram a percepção de Juliana sobre as dificuldades encontradas pela população feminina no ambiente educacional: o número de mulheres matriculadas em cursos da área de Exatas, considerada na sua maior parte “masculina”, não chega a 20%. E, no mercado de trabalho, as barreiras não são exclusividade do Brasil, pois apenas 7,3% das mulheres ocupam as cadeiras de diretoras nas 100 maiores empresas da América Latina. Os dados apresentados durante a reportagem mostram que, apesar das mudanças pelas quais o mercado de trabalho vem passando, o número da desigualdade entre homens e mulheres é bastante significativo. A preocupação de escolas, instituições e universidades em continuar abrindo as portas para o público feminino, por meio de ações de divulgação e desmitificação dos cursos com predominância masculina, pode ser um dos fatores contributivos para que essa desigualdade continue sendo combatida e que o número de mulheres se iguale ao dos homens inseridos no mercado de trabalho.
Fontes: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47490977 http://www.csn.com.br/conteudo_pti.asp?idioma=0&conta=45&tipo=60023 https://www.firjan.com.br/noticias-1/projeto-capacitar-firjan-senai-forma-90-mulheres-para-trabalhar-na-csn.htm?IdEditoriaPrincipal=4028 818B46DE6FAB0146DEB2D2623BE2
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Campus Belford Roxo
Sem barreiras de gênero ou de idade
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uando o assunto é moda no Brasil, o perfil de quem domina esse mercado é tendência há anos: empresários do sexo feminino são maioria – (73,8%) em comparação com o masculino (26,2%) –, e a faixa etária dominante em geral é de 31 a 40 anos (29,9%), sendo que 57,5% têm entre 31 e 50 anos de idade. Os dados são da DataSebrae, uma plataforma voltada para o ambiente dos pequenos negócios. Na contramão dessa corrente de mercado está Benevaldo Alves, de 61 anos, aluno do curso Técnico em Produção de Moda do Campus Belford Roxo, que descobriu de maneira gradual sua paixão pela moda, trabalhando antes no setor carnavalesco e também com maquiagem artística. Morador do bairro Coelho Neto, no Rio de Janeiro, Benevaldo trabalhava como caldeireiro na área de Construção Naval. Fazia chaminés e dutos de ventilação, até que, um dia, um rapaz que desfilava em escola de samba encomendou a ele a construção de um fogão. A partir desse pedido, surgiu a proposta de fazer um carro alegórico para a escola, e ele aceitou. A estrutura, que tinha formato de concha,
Benevaldo trabalhando em um desfile de moda
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abriu as portas para o convite de produzir mais três carros alegóricos, em Vitória (ES), onde Benevaldo morou por seis meses para realizar esses trabalhos. De volta ao Rio de Janeiro, as oportunidades no meio carnavalesco não pararam: a mãe de uma rainha de bateria solicitou um top de ferro, e ele aceitou o desafio, pois, em suas palavras, “para quem faz um carro, fazer um top é muito fácil”. O resultado ganhou tanta repercussão que a escola de samba Unidos da Ponte, em São João de Meriti, município do Rio, abriu uma vaga para Benevaldo em um curso de adereços. Com esses trabalhos no Carnaval, Benevaldo foi chamado para fazer uma roupa para a modelo Ângela Bismarchi. Com o intuito de se aprimorar na área carnavalesca, o ex-caldeireiro entrou em um curso de maquiagem artística ofertado pela Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) da Mangueira, tornando-se maquiador profissional em 2006. O foco era permanecer trabalhando com o Carnaval, mas seu primeiro estágio foi no evento Fashion Rio, que o aproximou do universo da moda. Começou maquiando modelos para o desfile do estilista Rogério Santini; depois disso, voltou a participar do maior evento de moda do Rio por três edições seguidas, maquiando para novos talentos.
Campus Belford Roxo
O maquiador também foi convidado para trabalhar em outros desfiles, como o Caxias Fashion, e com estilistas consagrados, como Beto Gomes, Marcelo Moiano e Almir França, além do próprio Rogério Santini. Buscando sempre mais conhecimento, foi ainda professor em três escolas técnicas de maquiagem. “Mas fui impedido de continuar a lecionar por não ter diploma universitário e ganhar o mesmo valor que um graduado”, explicou.
DOS PINCÉIS À AGULHA
O desejo de costurar, por sua vez, manifestou-se após Benevaldo trabalhar como maquiador em peças de teatro. Ele começou a fazer as próprias roupas, e, da mesma maneira que buscou formação em outras áreas, realizou o curso Técnico em Produção de Moda, que lhe possibilitou se aperfeiçoar. “As aulas de Teoria da Cor têm aprofundado o meu conhecimento e estão associadas ao que já faço. Eu não tinha técnica. Aqui estou tendo também a oportunidade de conhecer a história e o conceito da moda com muita qualidade”, afirmou.
Ilustrações feitas nas aulas do curso Técnico em Produção de Moda
O estudante contou que, assim, terá mais liberdade para trabalhar. “No momento de maquiar, saberei compor melhor o look, de forma a valorizar a beleza da pessoa”, destacou. Para o futuro, Benevaldo disse que pretende seguir na área de Produção de Moda, produzindo as modelos em desfiles e também os cenários.
DIFICULDADES –
O discente afirma que o motivo de ter demorado tanto para chegar à posição de hoje foi a discriminação da família e dos amigos, por ser homem e ter interesse na área da moda. “Por muitas vezes pensei em desistir, até que o professor de maquiagem me levou aos desfiles de moda. Os homens não são voltados para esse tipo de informação, e o desinteresse é porque não chega até eles o que é o curso e a área da moda”, analisou.
Peças de roupas feitas por Benevaldo
Fonte: https://datasebrae.com.br/negocios-de-moda/
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Campus Duque de Caxias
Alunas de Petróleo e Gás buscando igualdade no mercado de trabalho
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igualdade de gênero no mercado de Petróleo e Gás ainda está longe de ser uma realidade. É o que apontam os dados da maior empregadora da área no Brasil, a Petrobras: dos 47 mil funcionários (aproximadamente) próprios no país, 83,8% são homens e apenas 16,2% são mulheres. No Campus Duque de Caxias do IFRJ, as mulheres podem encontrar uma oportunidade de tentar mudar esse cenário. O Curso Técnico em Petróleo e Gás é oferecido pelo campus nas modalidades integrado (com duração de três anos e meio) e concomitante e subsequente (com duração de um ano e meio). A professora Monique Kort-Kamp falou sobre os principais objetivos do curso. “Ele prepara seus alunos para atuarem tanto na produção quanto na análise de combustíveis, podendo atuar em refinarias, UPGN [Unidade de Processamento de Gás Natural] e laboratórios de produção e análise de qualidade dos derivados do petróleo”, explicou a docente, que leciona disciplinas específicas do curso. As estudantes Carolaine Barreto, Laura Botto, Letícia Costa e Jéssica Silva – todas do último período do Curso Técnico em Petróleo e Gás, na modalidade integrada ao Ensino Médio – contaram um pouco de suas histórias e expectativas no mercado de trabalho.
Laura Botto disse que a curiosidade pela área foi o que a motivou a escolher o curso. “Quando eu fiz as provas do chamado Pré-técnico, me interessei muito pelo curso. Por ser ligado à indústria, eu sempre tive curiosidade”, contou a aluna, que em breve começará um estágio no Centro de Biologia Experimental Oceanus. Laura disse o que espera do mercado de trabalho: “Minhas expectativas são muito boas, apesar de estarmos sofrendo por algum tempo com a crise no mundo do petróleo. Agora [que a área] está começando a se reerguer, espero que consigamos mais oportunidades”, aspirou a estudante, que deseja dar continuidade aos seus estudos na área de Engenharia Ambiental ligada ao Petróleo e Gás. A aluna Jéssica Silva, monitora do Laboratório de Analítica Quantitativa e Qualitativa no campus, espera algo parecido com o de sua colega, apesar de enxergar barreiras. “Eu acredito que ainda é um mercado de trabalho bem machista, mas estamos conseguindo aos poucos”, comentou. Para ela, o período de estudo no IFRJ conta como uma vantagem na hora de concorrer a alguma vaga. “É uma formação muito boa, que te prepara para o mercado de trabalho e também para concursos”, afirmou a discente, que sonha trabalhar na Cosan – grupo empresarial com negócios na área de Petróleo e Gás. Carolaine Barreto confessou que, a princípio, nem conhecia a instituição, mas escolheu o curso pelo incentivo do coordenador de seu curso preparatório. “O professor Bruno me apresentou a escola, me falou sobre o curso, e, aos poucos, fui gostando da ideia. Mas, enquanto você não está aqui dentro, é tudo muito vago”, relatou a estudante.
Jéssica Silva realizando um método de titulação no laboratório de Química Analítica
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Carolaine é estagiária de Processos Químicos na Universidade Federal do Rio de Janei-
Campus Duque de Caxias
pre estamos aprendendo. Aqui eu recebo uma base, que eu tenho que aplicar dia após dia e ir amadurecendo com o conteúdo”, comentou a discente.
ASCENSÃO DO MERCADO –
Monitora do laboratório de Química Orgânica Laura Botto, analisando um reagente
ro (UFRJ) e, atualmente, desenvolve no campus do IFRJ um projeto de iniciação científica sobre o “Estudo do Potencial Antimicrobiano de Produtos Naturais”, juntamente com a professora Larissa Tebaldi. A aluna acredita que a formação é um diferencial positivo para os alunos matriculados, que, além da formação profissional, cursam também o Ensino Médio regular na modalidade integrada. “Nós pensamos que seria difícil, mas sempre há pessoas que nos incentivam, dizendo que o Instituto é muito bom, inclusive os professores”, assegurou Carolaine. A estudante Letícia Costa disse que foi o curso que a escolheu. A oportunidade de frequentar uma instituição de renome foi um atrativo para a jovem, que chegou a iniciar o Ensino Médio regular em uma escola da rede estadual. “Brincamos que moramos aqui [no Instituto], mas recebo, sim, uma educação diferente de outras instituições”, enfatizou.
Matéria publicada pela Agência Brasil no dia 07/08/2019 aponta que os investimentos destinados às pesquisas de desenvolvimento e inovação do setor de Petróleo e Gás no país registraram aumento de 66% nos recursos aplicados de 2017 para 2018. Os dados constam da 4ª edição do Anuário da Indústria de Petróleo no Rio de Janeiro: Panorama 2019, divulgado pela Federação de Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e elaborado com base, principalmente, em dados nacionais divulgados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Essa ascensão do mercado pode ser um ponto positivo para os alunos do curso, que são, em grande maioria, aproveitados por empresas localizadas ao redor da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), ainda como estagiários. No entanto, as discentes destacam que a maior dificuldade ainda é a igualdade de gênero. “Acredito que há vagas, sim, mas há uma certa desvantagem. Precisamos lutar por essa igualdade”, concluiu Letícia. Fontes:http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2019-08/ investimentos-no-setor-de-petroleo-e-gas-crescem-66-em-um-ano h t t p s : / / o g l o b o . g l o b o . c o m / e c o n o m i a / p r o j e t o - p a r a -t r a ns portar-gas-natural-do-pre-sal-vai-gerar-75-mil-empregos-ate-2020-23917240 https://exame.abril.com.br/mundo/mulheres-comecam-a-ganhar-espaco-no-ainda-masculino-mundo-do-petroleo/ http://www.petrobras.com.br/pt/quem-somos/carreiras/
Letícia, que realiza estágio em Processos Químicos na UFRJ e se dedica ao projeto de iniciação científica coordenado pela professora Larissa Tebaldi, opinou que não basta estudar somente durante as aulas e que o esforço pessoal se faz necessário para conseguir uma vaga no mercado de trabalho. “Ainda não estou preparada, mas estou disposta a me preparar, porque a gente nunca entra sabendo de tudo; semLetícia Costa, monitora do laboratório de Química Analítica, preparando uma titulação volumétrica
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Campus Niterói
Meninas conquistam espaço na área da Tecnologia no IFRJ Campus Niterói
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e acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 20% das pessoas que atuam no mercado da Tecnologia no Brasil são mulheres. No IFRJ Campus Niterói, entretanto, as estudantes é que são maioria e ocupam 44% das turmas. Na Universidade Federal Fluminense (UFF), por exemplo, os números ainda corroboram o desequilíbrio entre homens e mulheres. Dos classificados na primeira chamada do curso de Graduação em Ciências da Computação, no primeiro semestre de 2019, apenas 11% são do sexo feminino. Em Sistema de Informação, a disparidade se repete: de 30 pessoas, somente seis são mulheres. A maioria dos dados mostra que o campo tecnológico é majoritariamente ocupado pelo sexo masculino, mas nem sempre foi assim. No início da história da computação, as máquinas eram usadas para cálculos e processamento de dados, atividades mais associadas às secretárias e, por isso, mais usadas por mulheres. De acordo com o site de notícias BBC, a primeira turma do curso de Ciências da Compu-
Melinda, Nathalia, Maria Clara e Kayllane
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tação na Universidade de São Paulo (USP), em 1974, tinha 80% de mulheres. A partir da década de 1980, os homens começaram a tomar cada vez mais espaço, até se tornarem maioria na área. No IFRJ Campus Niterói, Melinda Blak, Maria Clara de Paula, Nathalia Brito e Kayllane Eduarda, estudantes de Informática, são personagens da luta pela volta da representatividade feminina na Tecnologia. Com apenas 15 anos, elas se entusiasmam e falam sobre a oportunidade de fazer o curso e sobre o que estão aprendendo. “Eu nunca pensei que fosse aprender tudo que estou aprendendo hoje. Quando vi que ia conseguir desenvolver sites e jogos e fazer robótica, fiquei maravilhada porque acho essas coisas muito interessantes”, disse Maria Clara. O curso conta com seis semestres de duração e é oferecido de forma integrada ao Ensino Médio. O objetivo é formar profissionais técnicos aptos para o desenvolvimento criativo de projetos, sistemas web e websites, aplicativos móveis, jogos eletrônicos e sistemas embarcados para projetos de automação.
Campus Niterói Também é trabalhada a análise crítica e o desenvolvimento de soluções para atender às demandas da sociedade e do mercado de trabalho. As meninas comentam que, além da aptidão, elas escolheram o curso por causa da ampla quantidade de empregos oferecidos pelo setor, que se encontra em expansão e necessita de profissionais especializados. O professor Luiz Felipe Oliveira tem 16 anos de estudo na área da computação e três anos de docência. Assim como as meninas, começou sua formação em Informática em um curso técnico, no Instituto Federal do Sudeste de Minas. Depois, fez graduação e mestrado na UFF e, agora, doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Luiz contou que, nas turmas em que frequentou e em que deu aula, sempre reparou uma predominância masculina. No Campus Niterói, pela primeira vez, ele observa um número mais próximo do equilíbrio: em uma de suas turmas, 48% dos discentes são meninas. As alunas acreditam que a desigualdade ocorre porque os meninos são mais incentivados a seguirem nessa área. Elas contam que seus parentes homens sempre foram acostumados a mexer com computador, mas elas nunca tiveram muito acesso. Apesar do cenário não muito motivador, elas não se deixam abalar. “Eu posso ser meu próprio incentivo. Tantas pessoas estão nessa área, por que eu também não posso? Por muito tempo, eu não pude ter essa oportunidade. Agora eu tenho, então tento aproveitar ao máximo”, disse Kayllane. Elas também buscam inspiração em mulheres que fazem parte da história da Tecnologia. Melinda conta que se sentiu mais forte e confiante no curso quando descobriu que a primeira pessoa a programar foi uma mulher. Ada Lovelace (na imagem), considerada a mãe da programação, é reconhecida por criar o primeiro algoritmo para ser processado por uma máquina. Entretanto, nomes como Grace Hopper e Katherine Johnson, também reconhecidas por suas contribuições, não são nomes tão famosos como Bill Gates e Steve Jobs.
Ada Lovelace, primeira programadora da história
Para o futuro, o desejo de Melinda, Maria Clara, Nathalia e Kayllane é continuar fazendo o que gostam. Sobre cursos de graduação, as repostas variam entre Biotecnologia, Ciências da Computação e Robótica. Mas, mesmo que ainda mudem de ideia, elas garantem: vão levar a Informática para qualquer área que escolherem. “Se a gente escolher ser bióloga marinha, vamos poder criar um programa para estudar os animais de certa região, por exemplo. A Informática sempre vai estar presente nas nossas vidas”, destacou Maria Clara. Fazer parte de um curso de Informática que desafia as estatísticas é o primeiro passo dessas meninas na luta pelo reconhecimento das mulheres na Tecnologia. Elas acreditam em uma retomada de posição na direção da redução das desigualdades e dos preconceitos. Já criaram seus primeiros jogos e em breve criarão sites, aplicativos, sistemas, robôs... e é só o começo! Fontes: http://www.coseac.uff.br/20191/arquivos/UFF-SISU2019-1Edicao-Chamada1.pdf https://www.bbc.com/portuguese/geral-43592581 https://exame.abril.com.br/negocios/dino/mulheres-tem-so-20-dos-empregos-na-tecnologia-e-ganham-30-a-menos-por-que-e-como-mudar/
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CAPA
A IMPORTÂNCIA E A FORÇA DA MULHER NA CIÊNCIA
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o longo da história, o papel da mulher na ciência foi expressivo, e as suas contribuições científicas se manifestaram em diversas áreas do conhecimento: Agronomia, Astrologia, Geologia, Física, Química e Tecnologia são algumas das áreas em que suas contribuições foram fundamentais. Contudo, dentre as 904 pessoas laureadas desde 1901 com o Prêmio Nobel, apenas 51 são mulheres, conforme matéria publicada pelo site G1. O fato mostra que, apesar de suas importantes contribuições, o reconhecimento do trabalho científico das mulheres ainda é pequeno. Isso, porém, não impede que cada vez mais mulheres busquem seu lugar no mundo científico: de acordo com a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), em matéria publicada pela Agência Brasil, atualmente o país ibero-americano com a maior porcentagem de artigos científicos assinados por mu-
lheres é o Brasil. Entre 2014 e 2017, segundo a matéria, o Brasil publicou cerca de 53,3 mil artigos, dos quais 72% são assinados por pesquisadoras mulheres. No país, elas representam 49% dos autores, de acordo com os dados de 2017. Elas são também maioria total de beneficiários na pós-graduação e nos programas de formação de professores, representam 60%. Luísa Luz Marçal, nascida em Miguel Pereira, interior do Estado do Rio de Janeiro, é uma das mulheres que veio ao mundo para fazer a diferença na área da Química e da Ciência. Atualmente doutora e professora de Química Orgânica no IFRJ Campus Nilópolis, Luísa percorreu um longo caminho até chegar à posição em que está. De família humilde, estudou a vida inteira em colégio público na cidade e, ao longo de sua vida escolar, não teve muito contato com a Química. Na fase do Vestibular, só pôde realizar as provas para as quais havia
Luísa Marçal, professora de Química Orgânica no IFRJ Campus Nilópolis
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Campus Nilópolis
conseguido isenção da taxa: a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Com a pontuação atingida no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ela conseguiu nota para tentar vaga em algumas instituições, inclusive para o então Centro Federal de Educação Tecnológica de Química (Cefeteq) – hoje Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) Campus Nilópolis. A pesquisadora contou que o foco, na época, era estar preparada para o mercado de trabalho e ganhar dinheiro para ajudar a família. “Eu escolhi a Química meio que sem saber o que era de fato, qual a dificuldade, o que era ser um químico ou qual era o meu mercado de trabalho. Mas uma coisa que me chamou a atenção aqui era que, na época, o curso era tecnólogo e com duração de três anos; então eu conseguiria atingir meus objetivos de forma mais rápida”, explicou. Meses após suas aulas terem começado, Luísa foi aprovada na UFRRJ e abriu mão de ir para lá por ter se encantado com o IFRJ e com o curso, na época intitulado “Química com Ênfase em Produtos Naturais”. No segundo período do curso, os professores já a indicavam para dar aulas aos alunos do primeiro; assim, ela conseguiu pagar sua parte do aluguel com aulas particulares que ministrava. “Lembro-me de que nessa época eu estudava 24 horas, não tinha vida social. Comentavam que um livro era bom, e eu o devorava”, disse. Ainda no IFRJ, ela prestou monitoria para Química Geral durante um ano. Depois, permaneceu mais um ano como monitora de Química Orgânica. Mas a pesquisadora contou que, nesse meio-tempo, ainda visava ao mercado de trabalho e não se via como professora. Em seguida, foi estagiar na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em um laboratório na área de Pesquisa em Química de Produtos Naturais, mas, com o tempo, viu que não era isso que queria. Conseguiu nesse período uma iniciação
científica em um laboratório da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em uma área diferente da sua formação, que era toda em produtos naturais. Lá atuaria na área de Síntese Orgânica, até que a então estudante, cursando o final do último semestre no IFRJ, teve a oportunidade de fazer a prova de mestrado na UFRJ, para o qual foi aprovada.
O JULGAMENTO PELA IDADE
Quando se formou no IFRJ, Luísa já havia começado o mestrado na UFRJ. Ela contou que foi tudo muito rápido; nessa época ela só tinha 19 anos. “A minha dificuldade só aumentou no mestrado, pois não é comum ter pessoas tão novas assim. Eu estudei com gente muito boa: químicos da Petrobras, químicos já professores, gente ‘cabeçuda’ mesmo, que já estava no mercado por muito tempo. Então eu ouvia bastante: ‘Você ainda tem muito tempo pela frente, não se preocupa, não’. Já fui barrada em muitas coisas que eu tinha capacidade para fazer; não me davam muito crédito. Passei por muito perrengue em relação à idade, mas mostrei o outro lado e fui a única da turma que tirei conceito A em todas as matérias”, enfatizou.
O MOMENTO MAIS CRÍTICO
Na fase do mestrado, Luísa teve um problema de saúde que a fez ficar internada, mas nem isso a impediu de terminar sua dissertação. “Eu estava internada e terminei de escrever minha dissertação de mestrado no hospital. A minha preocupação era terminar em dois anos para não perder a seleção de doutorado; só depois, eu ia dar uma acalmada, mas até lá eu não podia. Terminei o mestrado, fiz a defesa na segunda-feira e, na quinta-feira, fiz a prova de doutorado”, disse. A pesquisadora relembrou, também, o momento em que apareceu a oportunidade de fazer o concurso do IFRJ para Síntese Orgânica, sua área, e no Campus Nilópolis, onde tinha
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CAPA
estudado. “Eu olhei a ementa, e era tudo o que eu mais gostava e tinha estudado na minha vida. A ementa era para mim. Pensei: ‘A instituição é uma de que eu gosto. Quem garante que daqui a quatro anos vai abrir um concurso com exatamente esse perfil de vaga?’”.
O LADO EM QUE SER UMA JOVEM MULHER PESOU, MAS INCENTIVOU
Mesmo com o perfil de vaga sendo o ideal para ela, Luísa hesitou. A cientista contou que deixou de se inscrever no concurso para o IFRJ porque pensava estar tudo certo para realizar parte do seu doutorado fora do Brasil. “Na época eu queria muito fazer metade do meu doutorado aqui e metade fora do país, o que chamamos de doutorado-sanduíche. Mas no meu laboratório também havia outras pessoas que queriam, e, naquela época, surgiu a possibilidade de eu ir. Então na minha cabeça estava tudo muito certo, mas me enganei. Algumas coisas foram ‘decididas’ por mim sem eu poder fazer nada. O argumento que ouvi mais uma vez foi que ‘eu era muito nova e teria bastante tempo pela frente, enquanto outros já estavam se formando’. Eu hoje vejo que foi um argumento legal, mas seria isso mesmo? Seria mesmo justo?”, questionou. Foi aí que a motivação para se inscrever no concurso do Instituto surgiu, por acreditar que podia ser mais. “Eu me lembro de que faltavam dois dias para o fim do período das inscrições quando percebi que eu não realizaria esse desejo da viagem. Me inscrevi no concurso e não falei nada para ninguém. Algumas amigas até sabiam, mas pedi que não comentassem com ninguém, pois não queria sofrer pressões”, explicou. Ela contou que fez a prova sem expectativas. Não queria passar em primeiro, pois desejava terminar o doutorado com calma para depois estar empregada. “Fiz a primeira fase e, de todos os candidatos, só passaram três, contando comigo. Fomos para a segunda fase, que era a prova
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de aula. Eu nunca tinha dado uma aula na vida, não tinha experiência de nada, e o meu currículo constava que eu tinha mestrado, porque o doutorado eu não havia acabado ainda. Então falei para mim mesma que na prova de aula eu tinha que ir muito bem. Nós tivemos menos de 24 horas para preparar essa aula, e eu ficava falando com a parede para treinar. Eu tive muito apoio da minha família e do meu namorado, que hoje é meu marido. Foi um período de muita dedicação”, contou Luísa, que fez a prova de aula e acabou ficando com a maior nota dos três candidatos.
A DESCOBERTA DA PROFISSÃO
Apesar de ter passado, Luísa ainda tinha três anos pela frente para terminar o doutorado e não havia feito a qualificação. A professora afirmou que aprendeu muito nesses seis anos de pós-graduação na UFRJ (incluindo mestrado e doutorado), mas que, nos quatro anos em que estava no IFRJ e ainda fazendo o doutorado, ela se descobriu como profissional na área de Educação. “Me descobri professora fazendo na prática, aqui no IFRJ. Comecei a dar aula, a orientar no laboratório, a escrever projetos por mim mesma. Os alunos falavam que queriam fazer iniciação científica comigo; então eu comecei a focar”, contou. Hoje em dia, Luísa é professora-doutora de Química Orgânica, supervisiona o laboratório I do IFRJ Campus Nilópolis e está cursando sua Pós-Graduação em Pedagogia, por conta da normativa de que, para dar aula para o Ensino Médio, é preciso ter licenciatura ou pós-graduação latu senso. Em agosto de 2019, ela participou de um projeto e concorreu com 250 mulheres do Brasil. Ganhou com sua pesquisa a respeito do bioplástico de biomassa descartada por indústrias brasileiras e, em janeiro de 2020, realizará um estágio de dez dias no Reino Unido.
Campus Nilópolis
Você sabe quem foram as mulheres ganhadoras do Prêmio Nobel? Confira algumas das vencedoras, com destaque para as áreas das Ciências Naturais
NOBEL EM QUÍMICA
• Marie Curie (vencedora em 1911) – a primeira mulher a ser laureada com um Prêmio Nobel e a primeira pessoa e única mulher a ganhar o prêmio duas vezes (também foi vencedora da categoria Física em 1903). Foi premiada por suas pesquisas com o rádio, elemento descoberto pelo casal em 1903.
• Frances Arnold (vencedora em 2018) – a engenheira química estadunidense recebeu o prêmio por seu trabalho pioneiro em métodos de evolução dirigida para criar sistemas biológicos úteis, incluindo enzimas, vias metabólicas, circuitos reguladores genéticos e organismos.
• Irène Joliot-Curie (vencedora em 1935) – filha de Marie Curie e Pierre Curie e esposa de Frédéric Joliot-Curie. Irène e Frédéric ganharam o Nobel de Química pela descoberta da radioatividade artificial. Isso tornou a família Curie a maior ganhadora de prêmios Nobel até hoje.
• Dorothy Crowfoot Hodgkin (vencedora em 1964) – conhecida profissionalmente como Dorothy Hodgkin, foi uma bioquímica britânica que desenvolveu a cristalografia de raios X.
Imagens: Google
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CAPA
• Ada Yonath (vencedora em 2009) – cientista israelense conhecida por seus trabalhos pioneiros sobre a estrutura do ribossomo. Ganhou o prêmio juntamente com Venkatraman Ramakrishnan e Thomas Steitz.
NOBEL EM FÍSICA
• Marie Curie (vencedora em 1903) - As pesquisas realizadas por ela com a ajuda de seu marido, Pierre, levaram à descoberta de dois novos elementos químicos: o polônio, que ganhou esse nome em homenagem ao país natal de Marie, e o rádio. Eles receberam o prêmio Nobel de Física pela descoberta.
• Maria Goeppert Mayer (vencedora em 1963) – Com Eugene Paul Wigner e J. Hans D. Jensen, recebeu o Nobel de Física por propor um novo modelo do envoltório do núcleo atômico.
• Donna Strickland (vencedora em 2018) – a física canadense, junto com o cientista francês Gérard Mourou (laser ultrarrápido) e o estadunidense Arthur Ashkin (pinças ópticas), recebeu o prêmio por invenções inovadoras no campo da física do laser.
Imagens: Google
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Campus Nilópolis
NOBEL EM MEDICINA
• Gerty Theresa Cori (vencedora em 1947) – Foi agraciada com o Nobel por melhorar a compreensão do diabetes.
• Rosalyn Yalow (vencedora em 1977) – Junto de Roger Guillemin e Andrew Schally, recebeu o prêmio pelo desenvolvimento da técnica de radioimunoensaio.
• Barbara McClintock (vencedora em 1983) – Premiada pela descoberta dos elementos genéticos móveis, que causam o fenômeno conhecido como transposição genética.
• Rita Levi-Montalcini (vencedora em 1986) – Recebeu o Nobel pela descoberta de uma substância do corpo que estimula e influencia o crescimento de células nervosas, possibilitando ampliar os conhecimentos sobre o mal de Alzheimer e a doença de Huntington.
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CAPA
• Gertrude B. Elion (vencedora em 1988) – Juntamente com James Black, foi premiada por desenvolver drogas para o tratamento de leucemia e gota, descobrindo novos e importantes princípios de quimioterapia, incluindo o dos betabloqueadores.
• Christiane Nüsslein-Volhard (vencedora em 1995) – Com Edward Lewis e Eric Wieschaus, recebeu o prêmio por suas pesquisas sobre controle genético do desenvolvimento embrionário.
• Linda B. Buck (vencedora em 2004) – Laureada, em conjunto com Richard Axel, por seu trabalho em receptores olfativos.
• Françoise Barré-Sinoussi (vencedora em 2008) – Laureada, em conjunto com seu mentor, Luc Montagnier, pela descoberta do HIV.
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Campus Nilópolis
• Carol Greider e Elizabeth Blackburn (vencedoras em 2009) – Premiadas por suas pesquisas relacionadas à proteção dos cromossomos através do telômero, juntamente com Jack Szostak.
• May-Britt Moser (vencedora em 2014) – Laureada por suas descobertas de células que constituem um sistema de posicionamento no cérebro.
• Tu Youyou (vencedora em 2015) – Premiada por suas descobertas sobre uma nova terapia contra a malária.
FONTES: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2018/10/18/nobel-premia-tres-mulheres-em-2018-mas-elas-somam-apenas-5-dos-vencedores-desde-1901.ghtml http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-03/mulheres-assinam-72-dos-artigos-cientificos-publicados-pelo-brasil https://pt.wikipedia.org https://www.nobelprize.org
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Reitoria
Um desafio a cada byte
O
mercado de Tecnologia da Informação (TI) há anos tem o público masculino como predominante. De acordo com pesquisas da Workana, plataforma de trabalho freelance, a presença feminina na área é de apenas 8%. Esse valor mínimo de participação reflete um fator muito importante: a remuneração. Um estudo feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontou que a média salarial das mulheres nesse setor é 30,4% menor que a dos homens. Eles ganham mais até mesmo no trabalho por conta própria. Tanto o curso quanto o mercado de trabalho são etapas difíceis para as mulheres dessa área. Perla da Cunha Maciel, ex-aluna do curso Técnico em Manutenção e Suporte de Informática (MSI) no Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e atual servidora da área de TI na Reitoria do Instituto, compartilhou um pouco da sua experiência.
Perla contou que, logo no curso, via a diferença da realidade do sexo feminino: de 30 estudantes, apenas oito eram mulheres. Mas elas se mostraram persistentes e, ao fim do curso, todas concluíram, enquanto o número de homens foi de 22 estudantes para sete formandos. A turma em que Perla estudou foi a primeira do curso de MSI no Instituto, ofertada no Campus Nilópolis, e ela disse que isso ocasionou algumas dificuldades. “Tivemos falta de alguns recursos que eram necessários para nosso aprendizado em relação às aulas práticas. Enfrentamos diversos desafios para tentar absorver o máximo de conteúdo possível”, enfatizou. Além de estudar uma área na qual a presença de mulheres ainda é vista com surpresa por outras pessoas, Perla também cursou em uma turma de Educação de Jovens e Adultos
Perla Maciel, de ex-aluna a servidora do IFRJ
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Reitoria
“Encontrei um cenário diferente do visto em sala de aula, mas, ao mesmo tempo, tive a segurança e certeza de que fiz a escolha certa. Entendi que a área de Tecnologia da Informação é muito maior do que eu havia imaginado” (EJA), o que, segundo ela, fez com que sentisse um preconceito ainda maior por parte de muitos dentro do campus. “Enfrentamos diversas dificuldades. No início nos tratavam de forma diferente, como se fôssemos inferiores aos alunos dos outros cursos”, contou. Mesmo passando por essas situações, Perla e as outras estudantes se mantiveram firmes. “Sempre buscamos dar nosso melhor nas matérias, apesar das dificuldades. Afinal, o curso tinha estrutura de um curso técnico que competia de igual para igual com os demais oferecidos pelo campus”. Segundo Perla, com a força de vontade e o desempenho delas, durante as aulas, conseguiram mostrar que eram merecedoras de respeito. “Com o tempo, tivemos o reconhecimento de que éramos tão capazes quantos os demais. Tivemos muitas alegrias e conquistas com o curso”, disse.
Fonte da pesquisa da Workana: Site TiinSide https://tiinside.com.br/tiinside/home/topnews/19/03/2019/ mulheres-sao-apenas-8-em-tecnologia/ Fonte da pesquisa do Dieese: Site ComputerWorld https://computerworld.com.br/2018/06/15/mulheres-ganham-30-menos-do-que-homens-no-setor-de-ti/
MERCADO DE TRABALHO Para competir em condições de igualdade no mercado de trabalho, Perla contou que procurou entender da melhor forma possível o funcionamento da parte prática. Assim teria certeza de que conseguiria, por conta própria, identificar e solucionar os problemas e enfrentar os desafios. A profissional explicou que já trabalhou com redes de computadores e, atualmente, trabalha com suporte, na área de Tecnologia da Informação do próprio IFRJ. Para Perla, ter a oportunidade de trabalhar no local em que realizou toda a sua formação é uma experiência muito feliz. “Para mim, é uma satisfação muito grande poder atuar dentro da área que escolhi e ter retorno positivo de grande parte das pessoas que conhecem meu trabalho. Acredito que essa seja uma maneira de retribuir a confiança que conquistei com o fruto do trabalho e somar dentro da equipe. Fico realizada em fazer parte da história do Instituto e ter participado e vivenciado vários lados nesse trajeto, seja como aluna, monitora, estagiária ou servidora”, falou. Para finalizar, ela contou que sua experiência com o curso e a atuação no mercado de trabalho foram incentivos para confirmar sua escolha e aprimorar seus conhecimentos. Segundo Perla, apesar das dificuldades, suas expectativas foram superadas. “Encontrei um cenário diferente do visto em sala de aula, mas, ao mesmo tempo, tive segurança e certeza de que fiz a escolha certa. Entendi que o ramo de Tecnologia da Informação é muito maior do que eu havia imaginado. À medida que a experiência me trouxe base de conhecimento, busquei me especializar na área em que sinto prazer em trabalhar”, concluiu.
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“Não quero que meu gênero chegue antes do meu trabalho” Lívia Cristina Almeida, ex-aluna do curso Técnico em Química do IFRJ, conta os desafios de ser mulher e trabalhar em uma das maiores empresas do Brasil
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s mulheres na área das Ciências Exatas possuem uma participação que não vai além de 33% do total de profissionais em atividade no país, de acordo com o site G1. Diante desse cenário nacional, Lívia Cristina Almeida, ex-aluna do Campus Rio de Janeiro do IFRJ, é um exemplo de determinação em fazer parte da mudança desse panorama.
Para quem pensa que o fato de trabalhar em uma grande empresa torna a vida mais fácil, Lívia revelou que essa não é bem a verdade. Se há compensações e motivos para comemorar, também há momentos difíceis. “A minha maior dificuldade é a distância de casa e o confinamento. Eu sinto muitas saudades da família, e lidar com tudo isso é extremamente complicado”, explicou.
Formada no curso Técnico em Química em 2008, Lívia trabalha hoje em dia em uma das maiores empresas brasileiras, a Petrobras, como técnica de exploração de postos de pré-sal – especificamente na área de tratamento, compressão e rendição de gás no reservatório, onde ela realiza a separação do gás, desidratação, ajuste do ponto de orvalho, compressão e injeção. “A maior parte do meu trabalho é com compressão, e a melhor coisa é superar desafios todos os dias e poder ver o meu trabalho fazer a diferença naquele ambiente. Eu amo o que faço”, afirmou.
ASSÉDIO –
A questão do assédio também foi destacada por Lívia. A funcionária da Petrobras acredita que a maioria das mulheres passa por situações constrangedoras e que a sociedade ainda precisa evoluir bastante. “A luta feminina não é uma luta por privilégios, é uma luta por igualdade. Eu não quero ser vista como uma mulher que opera em meio a homens; eu quero ser vista como igual a qualquer outro trabalhador, sem limitações por eu ser mulher. Não quero que meu gênero chegue antes do meu trabalho”, ressaltou.
Reitoria
A profissional contou que, infelizmente, o sexo feminino é minoria em seu local de trabalho e que as funcionárias sofrem alguns problemas com vagas e disponibilidade de alocação. “Como mulher, eu vejo que a empresa tem segmentos e acredito que, por ser segmentada, as áreas são bem diferentes em relação à mulher. A minha aérea é muito recente na conquista feminina. Ainda há diversos problemas com relação a ter que provar no dia a dia que você, como mulher, tem capacidade, pode fazer parte do time e é necessária”, frisou Lívia. Segundo a técnica, a empresa em que trabalha se preocupa em conscientizar seus funcionários: “A Petrobras tem um curso online obrigatório para todos os funcionários, incluindo os que são de cargos superiores, sobre assédio moral e sexual. É uma empresa que vem demostrando essa preocupação, e eu, como funcionária, fico muito feliz e satisfeita”, elogiou Lívia, a qual enfatizou, ainda, que trabalhar em um ambiente onde a predominância é masculina dá a chance de provar que, independentemente do gênero, ambos são igualmente capazes. “Fico motivada em poder ser um ‘tijolinho’ nessa mudança de pensamento no ambiente offshore”, afirmou.
A escolha pela área não gerou preconceito por parte de seus familiares: a egressa contou que teve o apoio do seu pai na decisão. “Em casa eu nunca tive nenhum tipo de padronização de curso. Meu pai me criou para pensar e fazer diferente, e, por ser uma casa em que todo mundo acabou indo para a área tecnológica, eles adoraram”, comemorou. Para Lívia, o ambiente de estudo no IFRJ era extremamente acolhedor, e sua relação com os alunos foi essencial para seu crescimento pessoal e profissional. Ela também falou sobre sua admiração pelos docentes: “Eu tenho até hoje professores que continuam sendo a minha referência de amor pela profissão”. E completou: “Quando eu falo do IFRJ, antigo Cefeteq, eu me emociono, pois ele me fez sair da minha zona de conforto. Posso dizer que foi a melhor escolha que eu já fiz na vida”.
ESCOLHA DA ÁREA – Sobre a escolha pela Quí-
mica, a ex-aluna do IFRJ revelou que a decisão foi tomada há muito tempo: “Quando estava na oitava série, fiz um curso preparatório e lá um professor de Química me marcou e acabou influenciando minha escolha. No cursinho, eu tive um primeiro contato com a Química e me apaixonei. Na época, prestei dois concursos, um para Edificações e outro para Química. No final, fiz minha opção”, disse.
Lívia Almeida, técnica de exploração de postos de pré-sal da Petrobras Fonte: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2011/03/mulheres-cientistas-ainda-sofrem-com-estereotipos-no-meio-academico.html
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Pinheiral
A inserção das mulheres no Curso Técnico em Agropecuária
O
ensino agrícola no Brasil foi criado para atender a um público estritamente masculino. No entanto, com o passar dos anos, as primeiras mulheres estudantes do Curso Técnico em Agropecuária se inseriram nesse campo de atuação, mudando o cenário gradativamente¹. A exclusão de mulheres na área agrária ocorreu a partir de uma visão sexista da sociedade, que separava homens e mulheres por supostas tendências naturais em relação a suas capacidades. Mas, no decorrer do desenvolvimento da área Agrícola, as mulheres passaram a fazer parte das mesmas estruturas sociais dos homens, assumindo funções que antes eram dominadas por eles². No ano de 1971, foi implantado o curso Técnico em Agropecuária no então Colégio Agrícola Nilo Peçanha (Canp), atual Campus Pinheiral do IFRJ, cujas primeiras turmas eram formadas, em sua grande parte, por homens. A primeira turma do curso tinha a presença
de apenas uma mulher. Dayse Oliveira Souza, docente e ex-aluna do curso, vivenciou essa disparidade: “Estudei no Campus Pinheiral entre 1990 e 1992, e na minha turma, dos 50 alunos, apenas cinco eram mulheres”, contou a professora, que ainda complementou: “No passado, o público era majoritariamente masculino. Hoje, as mulheres estão mais participativas e inseridas, se comparadas às de décadas passadas”. Ao longo dos anos, o Campus Pinheiral se reformulou, e as mulheres foram se inserindo aos poucos no curso Técnico em Agropecuária. Questões históricas e as mudanças sociais vieram com o tempo. Hoje, é possível notar mudanças significativas no fortalecimento da atuação da mulher no curso. A professora Dayse apontou que houve uma inversão significativa dessa realidade: “Hoje elas são a maioria em relação aos estudantes matriculados”. Em 2019, o Curso Técnico em Agropecuária do Campus Pinheiral tem 119 estudantes do sexo feminino e 76 do sexo masculino.
Da esquerda para a direita, a estudante Nathalia Guedes, a aluna Sarah Agnes, a professora Dayse Oliveira e a discente Ana Alice do Nascimento
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Pinheiral Contribuindo para o aumento da presença feminina no curso está a discente Nathalia Guedes da Cruz Custódio, do terceiro ano. Ela ressaltou que o interesse pelo curso surgiu a partir de conversas realizadas com seu irmão. “Eu não tinha noção nenhuma do que fazer. Um dia, meu irmão sentou para conversar comigo e me mostrou a ampla área de atuação que o curso proporciona, visto que o setor predomina no Brasil. Fiz o processo, passei e gosto do que faço”, comentou. A aluna Ana Alice do Nascimento Basílio, do primeiro ano do Curso Técnico em Agropecuária, também foi estimulada pelos familiares na hora de escolher a área. “O incentivo foi grande, visto que minha família já tem uma ligação com a área devido ao fato do meu pai criar cavalos”, explicou. Ana comentou ainda sobre sua visão em relação ao mercado de trabalho: “Eu acho que a figura masculina ainda é dominante nesta área, mas estamos aí para mudar esta história. Somos capazes de exercer qualquer função”, salientou. Ao contrário do que aconteceu com as suas colegas, a estudante Sarah Agnes de Souza Oliveira, do terceiro ano, destacou que não teve apoio dos familiares ao optar pelo Curso Técnico em Agropecuária. “Fiz o processo seletivo por teimosia; ninguém queria que eu fizesse. Ouvia de muitas pessoas que área agrícola era coisa de homem e que o curso era bruto e pesado, mas não é bem assim”, afirmou.
MERCADO DE TRABALHO –
Embora no curso elas já sejam maioria, os dados do mercado de trabalho rural ainda mostram que há um longo caminho a ser percorrido para se chegar à igualdade. Um estudo realizado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostra que, em média, contando todos os segmentos – primário, insumos, indústria e serviços –, as mulheres ocupam apenas 31,7% dos empregos. Para se ter uma ideia, no Brasil inteiro em todas as profissões a média é de 42,9%.
Ex-aluna do Antigo Colégio Agrícola Nilo Peçanha, formanda do curso em 2002, Maria Inês Souza Corrêa
Quando separados os segmentos, é possível constatar que o primário é o que apresenta maiores diferenças: somente 21,9% dos empregos são ocupados pelo sexo feminino. A participação das mulheres sobe para 29,6% quando se trata da área de insumos. No segmento de serviços, o índice sobe ainda mais, para 31,7%. Por fim, na indústria, a participação é de 38,2%³. Na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural no Estado do Rio de Janeiro (Emater-RIO), a presença de mulheres na área faz parte do cotidiano. Maria Inês Souza Corrêa é ex-aluna do antigo Colégio Agrícola Nilo Peçanha, tendo se formado no curso em 2002, e hoje trabalha no polo da Emater-RIO situado na cidade de Barra Mansa. Apesar de atuar na área e ter outras colegas de trabalho do sexo feminino, Maria Inês – que entrou na empresa por meio de um concurso público e hoje atende diretamente o produtor – afirmou que já sofreu diversos preconceitos. “Algumas pessoas acreditam que seja uma profissão masculina”, ressaltou.
Fontes: 1 e 2 – http://publicacoes.ifc.edu.br/index.php/RevExt/article/download/95/61/ 3 – https://canalrural.uol.com.br/noticias/campo-cada-trabalhadores-sao-mulheres-66282/
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DE VOLTA ÀS AULAS A
chance de um recomeço: é assim que alunos da modalidade de ensino denominada Educação de Jovens e Adultos (EJA) encaram a oportunidade de retomar os estudos. Por meio da EJA, pessoas adultas que, por alguma razão, não concluíram seus estudos no tempo certo podem voltar às salas de aula e conseguir o tão sonhado diploma. E não são poucos os brasileiros que não chegaram a concluir o Ensino Médio: segundo dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 22 milhões de brasileiros com idade acima dos 18 anos declararam ter entre o Ensino Fundamental completo e o Ensino Médio incompleto. O Censo Escolar 2018, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostra uma maior procura pela modalidade
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EJA no Ensino Médio: o número de estudantes aumentou de 1.425.812, em 2017, para 1.437.833 em 2018. A fim de atender a essa demanda, o IFRJ é uma das instituições de ensino que oferta cursos técnicos nessa modalidade. Atualmente, o Campus Rio de Janeiro oferece curso Técnico Integrado ao Nível Médio em Manutenção e Suporte de Informática (MSI) nessa categoria de ensino. Os pré-requisitos são a pessoa ter idade mínima de 18 anos e não ter finalizado o Ensino Médio. Vale notar que, mais do que a idade em si, outros fatores pesam nas dificuldades enfrentadas pelos alunos na retomada dos estudos: o tempo em que estão longe da escola, o fato de trabalharem ou não na área e a escola na qual cursaram o Ensino Fundamental.
Fontes: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=7545 http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/censo-escolar-2018-revela-crescimento-de-18-nas-matriculas-em-tempo-integral-no-ensino-medio/21206 Edital nº 01/2019 - CONSUP/IFRJ - inscrições de egressos ao Conselho Superior do IFRJ – 2019/2021
Rio de Janeiro A REALIDADE DO MERCADO DE TRABALHO Denise da Silva Martins, de 44 anos, está buscando esse recomeço. Hoje, no terceiro período do curso de Manutenção e Suporte de Informática no Campus Rio de Janeiro, conheceu o IFRJ por meio de um projeto integrador de alunos que estão no sexto período e, desde então, encantou-se com a área. Mas nem tudo são flores. Ocupar uma posição no mercado de trabalho após certa idade não é nada fácil. “É muito difícil conseguir um emprego, pois muitas empresas não contratam mulheres acima de 40 anos para trabalhar na área de Informática”, afirmou Denise. Para ela, buscar essa oportunidade sendo uma mulher negra torna-se um desafio ainda maior. “Nós, mulheres, fomos criadas em uma cultura machista e egoísta demais. Existe preconceito com classe social, cor da pele e sexo”, disse. A estudante apontou, também, o constante desenvolvimento tecnológico como um fator complicador: “Existe uma dificuldade de compreensão de conteúdo, pois a tecnologia se renova a cada dia, e pessoas com mais idade tendem a ter esse obstáculo”, ponderou.
e a segunda, às habilidades referentes à sua forma de se relacionar e interagir com as pessoas”, explicou Moisés. Quando o assunto são as mulheres no ramo tecnológico, ele ressalta que há várias referências femininas e que elas já são a maioria na liderança de empresas de Tecnologia e na área de Pesquisa. “Nos cargos de engenheiros e técnicos, sim, temos ainda a predominância de homens”, concluiu o coordenador. Valnei de Souza Santos, de 45 anos, é aluno do quarto período do curso Técnico em Manutenção e Suporte de Informática e já está inserido no mercado de trabalho. Ele entrou na empresa para trabalhar no setor de Logística, mas foi aproveitado no de Informática. “Existe computador em qualquer empresa, e ela precisará de suporte. A tendência é a área crescer, e, com isso, o mercado precisará de mais técnicos. O mercado é promissor”, finalizou.
Para Moisés Nisenbaum, coordenador do curso no campus, o mercado está difícil para todos, especialmente no Rio de Janeiro. “O mercado para a Informática está em São Paulo. Entretanto, o técnico de suporte, perfil profissional de conclusão do nosso curso, ainda tem espaço”, afirmou. O coordenador disse ainda que, na área de Informática, não há diferenciação de idade; o empregador quer saber se o candidato tem hard e soft skills. “A primeira diz respeito às habilidades que podem ser aprendidas e facilmente contadas;
Denise da Silva Martins, 44 anos, está no terceiro período do curso de Manutenção e Suporte de Informática
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São Gonçalo
Cresce presença feminina na área de Segurança do Trabalho
A
luta por igualdade e a busca por maior qualificação tem levado as mulheres a conquistarem cada vez mais o mercado de Segurança do Trabalho. A área, que era predominantemente masculina no passado, está mais equilibrada, como aponta a profissional Mariana Arêas, de 29 anos, que ingressou em uma das primeiras turmas do curso Técnico em Segurança do Trabalho no Campus São Gonçalo. Formada em 2011, ela enxerga uma evolução no mercado de trabalho desde então. “As mulheres foram se qualificando e provando que também são capazes de assumir cargos antes não ocupados por nós”, afirmou Mariana. Apesar dessa perspectiva positiva, a profissional de Segurança do Trabalho ressalta que o preconceito ainda persiste na área e que é visível em diversas situações, como colocar mulheres em atividades secundárias e direcionar vagas somente ao sexo masculino, por exemplo. Os números divulgados pela Revista Proteção – que traçou um perfil dos profissionais da área no Anuário Brasileiro de Proteção (2015) a partir dos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) – mostraram que as mulheres já ocupavam cerca de 30% das vagas com carteira assinada. E a tendência é que essa porcentagem continue a crescer devido ao número de mulheres em sala de aula.
“As mulheres foram se qualificando e provando que também são capazes de assumir cargos antes não ocupados por nós”
Mariana Arêas enquanto aluna no Campus São Gonçalo
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São Gonçalo No primeiro semestre de 2019, o curso de Segurança do Trabalho no Campus São Gonçalo, segundo a Coordenação de Assistência Estudantil, teve 179 discentes, sendo 80 do sexo feminino, o que representa 45% dos matriculados. Já os números divulgados pela Secretaria de Ensino, a partir de dados da plataforma Sigam-EDU, mostram que, de 2012 ao primeiro semestre deste ano, o número de mulheres foi superior ao dos homens: 52% contra 48%.
Mariana já trabalhou em empresa grande, prestou consultorias e deu aula em curso técnico, até ser chamada novamente para o IFRJ, dessa vez como concursada. Atualmente, trabalha no departamento de Engenharia Civil do IFSP. “Hoje, minha rotina é cuidar da saúde e segurança dos servidores públicos federais do Campus São Paulo”, concluiu.
MAIOR QUALIFICAÇÃO COMO APOSTA
Ainda durante o curso técnico, Mariana estudava para concursos com o próprio material utilizado em sala de aula. Ao sair do campus, ela apostou em mais qualificação para se destacar no mercado, cursando a graduação de Engenharia Civil e se especializando em Engenharia de Segurança do Trabalho.
Mariana Arêas durante treinamento enquanto era aluna no Campus São Gonçalo
ENTENDENDO A ÁREA E O CURSO TÉCNICO EM SEGURANÇA DO TRABALHO Com o intuito de promover a proteção do trabalhador em seu local de trabalho, o técnico em Segurança do Trabalho está presente em estabelecimentos comerciais e industriais, além de atuar na execução e no acompanhamento de projetos relacionados ao meio ambiente e à saúde no trabalho. O curso ofertado pelo IFRJ existe desde a implantação do Campus São Gonçalo, em 2008, tem duração de quatro semestres e estágio curricular de 480 horas, visando preparar o aluno para o mercado de trabalho. “O processo de estágio foi no próprio campus para monitoria da disciplina Higiene Ocupacional. O professor André Leal nos levava a uma empresa de metalurgia para fazermos as aferições e continuava com o trabalho no campus”, recorda Mariana, que se interessou pela área devido à qualidade das aulas e qualificação dos professores.
Fontes: REVISTA PROTEÇÃO. Anuário Brasileiro de Proteção 2015: Perfil. Disponível em: < http://www.protecao.com.br/materias/anuario_ brasileiro_de_p_r_o_t_e_c_a_o_2015/perfil/AJyAA5>. Acesso em 22/08. IFRJ. Segurança do Trabalho. Disponível em: <https://portal.ifrj.edu.br/node/509>. Acesso em 22/08.
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portal.ifrj.edu.br