Igaruana #2

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nesta edição Diálogo por baixo de um juazeiro.........................pag. 03 Segurança: Colete salva-vidas...............................pag. 04 Expedição Rio Caraú..................................................pag. 06 Receita: Arroz com frango e couve.....................pag. 12 Vestígios do Vale do Assu de outrora................pag. 14 Galeria fotográfica.....................................................pag. 18 Mudanças climáticas no sertão...........................pag. 20 Fauna local: Sinimbú..................................................pag. 22

Todos os textos e as imagens, salvo quando especificado diferentemente, são de autoria de Jack d’Emilia.


Diálogo por baixo de um juazeiro

“Quem tem dois, tem um, Quem tem um, não tem nenhum!” (ditado popular no mundo da náutica)

O pescador Canindé reconhece de longe a canoa de Jack, acampado por baixo de um juazeiro carregado de fruta, perto da entrada do braço de rio que vai até o porto de São Rafael. Quando Jack, despertado pela luz do dia, se levanta da rede e acende o fogo para preparar o café, Canindé guarda os apetrechos de pesca em sua canoinha e devagar vai até o rancho, carregando em mão um pouco de açúcar, sabendo bem que o outro não o usa nem tem. Tomando o café quente, sentados na sombra do juazeiro em baixos tamboretes, os dois amigos conversam disso e daquilo. De repente, Jack se levanta, colhe alguns frutos maduros da arvore e pergunta para o amigo pescador...

verdade, faz muito tempo que não como mais essa frutinha. Anos e anos... - E por que? Ela te dá dor de barriga? - Nada disso, compadre. Sei lá... sempre pensei que juá é fruta que quem come é passarinho e menino. - E daí, Canindé? - E daí, que menino é menino, hômi é hômi e véio é véio. Eu sou hômi já a caminho de ficar véio. Faz tempo, inclusive, que não me sentava por baixo de uma arvore para conversar com um amigo... só você mesmo para tirar-me de dentro da minha canoa e dos meus afazeres. - Mas dentro cada um de nos, Canindé, vive o menino que, aparentemente, não existe mais... - Ai, cabra insistente, que nem cantiga de grilo! Lá vem você com sua filosofia para me confundir as ideias. Tá bom, tá bom! Voçê ganhou, meu amigo. É hoje que eu vou comer juá de novo.

- Você gosta de juá, Canindé? - Gosto sim. Eu já comi muito juá quando era menino, meu amigo italiano. Mas, para dizer a -3-


O colete flutuador, ou salva-vidas, é o mais importante equipamento de segurança na canoagem turística e seu uso é imprescindível durante as expedições IGARUANA. Desde o começo, determinamos o uso obrigatório do colete durante nossas atividades aquáticas para garantir o maior grau de segurança a todos os participantes, sejam eles bons ou maus nadadores, canoeiros experientes ou novatos. Ter um colete na canoa e imaginar que você conseguirá vesti-lo na hora da emergência é um grande erro de avaliação, que, sem quiser ser dramático, pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Portanto, durante nossas aventuras em canoa, para maior segurança do grupo, estamos sempre todos usando o colete salva-vidas. Sem exceções. Os coletes flutuadores que utilizamos durante nossas aventuras foram projetados especificamente para a canoagem turística, com ampla abertura de braços, fáceis de vestir e com diversos ajustes que permitem um bom conforto. Tecnicamente, o principal objetivo de todos estes ajustes é impedir que, uma vez na água, o colete tenda a deslocar-se no tronco, subindo no corpo até chegar a obstruir a visão e/ou o movimento dos braços. Após escolher o tamanho certo, vista o colete e ajuste-o bem ao seu corpo. Depois de tê-lo bem ajustado, você precisará apenas utilizar o zíper frontal, que facilita o uso cotidiano de pôr e tirar este fundamental equipamento de segurança.

Um colete flutuador bem vestido e ajustado resulta ser de grande conforto ao longo de uma jornada de remo, pois mantém a postura do tronco mais firme e reduz o cansaço. Não espere de estar a bordo para vestir o colete. Enquanto as canoas estão sendo aprontadas pra jornada, vista logo seu colete e tome um banho refrescante no rio: confira que o salva-vidas esteja bem vestido, acenando algumas braçadas de nado livre. Ajuste-o melhor se for necessário, mas sem exagerar. Todos os coletes IGARUANA estão equipados com um apito de segurança, que permite sinalizar a própria presença e pedir ajuda em caso de necessidade ou emergência, chamar a atenção de outra embarcação, que vem na nossa direção sem ver-nos, etc. Não use o apito de sinalização desnecessariamente. Durante as horas de descanso, não utilize o seu colete para outros fins que o próprio, por exemplo como travesseiro ou almofada, pois isso pode danificar a propriedade de flutuação do equipamento. Em caso de frio ou de chuva, lembre-se que o colete é a peça que fica por cima de todas as outras: agasalho ou capa de chuva, portanto, devem ser usados sempre por baixo do colete.

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Equipamento fundamental de seguranรงa:

Colete salva-vidas

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parei na hora. Foi nessa ocasião que reparei ter deixado em casa, em cima da geladeira, a penca de bananas destinadas à expedição... putz! Dando um rolé na ilha, descobrimos dois lugares diferentes, ótimos para tomar banho: numa enseada abrigada um e outro aos pés de um rochedo, ambos com fundo de areia grossa. Às 14h15, zarpamos da Ilha das Cabras e remando por uma hora em direção E, com um leve vento contrario, chegamos em um lugar bonito que, após breve exame, demonstrou-se apropriado para acampar, armar as redes e fazer fogueira. Batizado o local de Campo Alfa, desembarcamos a tralha toda, limpamos a área que iríamos ocupar com nosso acampamento e acendemos o fogo entre umas pedras perfeitas para abrigar uma cozinha de campo. Caminhando para conhecer melhor o local, não encontramos outro que umas cabras, e não avistamos nenhuma casa nas vizinhanças. O Campo Alfa é perfeito para o acampamento, pois dispõe de ampla área bem nivelada onde armar as barracas perto do rancho; existem também uns lugares à beira d’água onde tomar banho em total privacidade. Às 18h, jantamos fígado acebolado, com arroz e feijão verde; na caneca, um bom café. Depois deitamos nas redes e ficamos conversando um bocado antes de dormir. Ao longo da noite foi interessante ter a confirmação que, longe das vilas ribeirinhas, no sertão não tem mosquitos, pernilongos, etc... que beleza!

Quando finalmente, em junho de 2008, as primeiras duas canoas IGARUANA chegaram ao Sítio Araras de Londrina, a longínqua cidade paranaense onde foram construídas, nós não perdemos muito tempo. Passamos uma semana dando umas remadas nas redondezas, para conhecer bem as novas embarcações, e logo depois organizamos nossa primeira expedição. Faltando uma cartografia oficial, pesquisei a região no Google Earth e conversei com os pescadores mais experientes da vila. Decidimos, como primeiro desafio, conhecer o rio Caraú, um afluente do rio Assu, cuja foz dista do Sítio Araras pouco mais de uma légua. Meu parceiro de aventuras no Vale do Assu desde o começo, Marcelo, neto de Zé Preto, foi o proeiro escolhido. A seguir o diário de bordo. 1º dia Acordei bem cedinho e revisei todo o equipamento antes da chegada de Marcelo. Ainda fui pro mercadinho comprar um botijão de água mineral e uma sandália nova para substituir aquela que tinha acabado de quebrarse. Quando Marcelo finalmente chegou, guardamos uma canoa por baixo do imbuzeiro e carregamos a outra com toda nossa tralha. É muito importante nessa hora distribuir bem o peso da carga para garantir um bom equilíbrio da embarcação. Às 10h, zarpamos enfim do Sítio Araras em direção SE; estamos intencionados a subir o rio Caraú, afluente do rio Assu, até onde der. Às 11h15 chegamos aos pés da Itatinga, a "pedra branca" em tupi, um alto rochedo, que domina a região; subimos até o topo e fixamos o waypoint com o GPS no marco do DNOCS. De regresso à canoa, comemos uns biscoitos e às 12h voltamos a remar. Com o céu nublado, o calor não estava muito forte. Após um baixo e extenso rochedo, que demarca e fecha de um lado uma área alagada, entramos na foz do rio Caraú e cruzamos para a outra margem, com um pouco de vento contrario. Por volta das 13h, chegamos à Ilha das Cabras, assim batizada pela maciça presença do animal, criado solto na região. Na verdade se trata de um promontório, que durante a enchente ficou isolado, parecendo uma ilha. Acendemos uma pequena fogueira e preparamos um bom café quente, que tomamos comendo uns sanduíches com presunto de peru e tomate fatiado, que pre-

2º dia Acordei às 5h15, escutando o barulho da lenha sendo quebrada por Marcelo, mas fiquei mais um pouco deitado na rede. Quinze minutos depois, o café estava pronto e o aroma dele me acordou definitivamente. Comemos pão com queijo e fruta; depois, arrumamos toda a tralha e a carregamos para perto da canoa. Deixamos o Campo Alfa melhor de como o encontramos no dia anterior, pois aproveitamos para levar, junto com o nosso, um pouco de lixo que encontramos espalhado. Às 7h30, saímos do Campo Alfa bem devagarzinho, eu remando e Marcelo pescando. Numa hora, um pequeno tucunaré mordeu a isca, mas foi logo devolvido pro rio. Guardado o material de pesca, testamos nossa velocidade com o GPS e, dando uma acelerada, marcamos 7 km/h. no visor do aparelho. O dia amanheceu com o céu cinzento e o vento -6-


Rio Caraú Expedição



começou a soprar cedo. Tudo indicava que iria logo chover. Remamos com o vento contrario ou atravessado até a ponte da RN 118, aonde chegamos por volta das 9h30. Ao passar por baixo da ponte, conferi com o GPS a marcação feita com antecedência no Google Earth. Na margem esquerda do rio estão erguidas as casas do povoado que tem o mesmo nome do rio, Caraú, vila de pescadores e pequenos agricultores. Duzentos metros mais à frente, encontramos a velha ponte e, para continuar a viagem, tivemos que fazer uma portagem; à causa da enchente, o nível do rio está tão alto que a velha ponte fica quase completamente submersa. Impossível passar por baixo dela. Em casos como este, se deve retirar da canoa toda a carga pesada e literalmente passar o obstáculo, carregando a embarcação e todas as bagagens. Nos ajudaram dois pescadores locais, que nos acompanharam até o ponto melhor para fazer a portagem e nos auxiliaram durante a operação. Valeu! Por causa da enchente, o rio Caraú alagou boa parte das varzeas das redondezas; às vezes, fica até difícil entender por onde ande o rio. Após ter dado duas largas voltas, paramos numa enseada lamacenta e subimos até uma carvoaria clandestina no meio do mato. Ali tirei as ultimas fotografias desta expedição, porque a câmera defeituosa, que há alguns dias tinha voltado a funcionar bem, parou de novo. Na mesma hora, recomeçou também a chover, uma chuva fininha, que durou uma meia hora. Marcelo ficou pescando um pouco nas pedras e eu fui dar uma caminhada por ai. Quando a chuva parou por um pouco, fizemos um rápido lanche energético, com biscoitos, rapadura, castanha de caju e fruta, e voltamos a remar. Passaram dez minutos e a chuva recomeçou a cair: uma hora rala, outra mais grossa. Fomos remontando o rio devagar, reduzindo a velocidade perto de cada pedra para Marcelo tentar pescar um bom peixe para comer no jantar. De novo, ele pegou um peixe pequeno (outro tucunaré) e o soltou vivo na água. Às 11h, por baixo da chuva, paramos no meio do rio para conversar com um pescador, que estava jogando a tarrafa de cima de uma pequena jangada apoitada; ele disse que de ali em diante deveria ter mais uns três ou quatro quilômetros de rio navegável em nossa canoa, antes de se transformar num pântano. Assim continuamos subindo o rio... uma hora por baixo da chuva, outra não...

Nas margens do rio, os moradores da região aproveitam da terra fértil para plantar um pouco de tudo, mas principalmente batata doce e também algum tipo de capim, para alimentar o gado. Por causa da enchente, as cercas dos terrenos ficam parcialmente submersas, merecendo isto atenção dobrada para evitar colisões indesejadas. Por causa da chuva, não encontramos quase ninguém neste dia: além dos poucos pescadores, só avistamos uma mulher lavando roupa, ajoelhada numa pedra lisa à beira do rio. Pelo contrario, apesar da chuva, avistamos muitas aves e pássarinhos: socós, garças, mergulhões, carcarás, entre outros. Às 12h30, sendo impossível continuar remando, descemos da canoa e avançamos os últimos cento e cinquenta metros com a água até as canelas, rebocando nossa embarcação, para conferir que realmente não tivesse como continuar adiante do largo pântano. Com o GPS marquei a localização exata até onde conseguimos chegar, atentamente observado por umas dez ou mais garças-açu, que estavam estoicamente esperando o dia de chuva passar, cada uma empoleirada por cima de uma estaca de uma velha cerca. Voltando ao remo, começamos nossa viagem de retorno, sem nenhuma pressa, saboreando um panorama inesperado, mas não menos belo: uma paisagem bonita em dia de chuva! Após uma meia hora, a chuva engrossou de novo e assim, já com fome, paramos por baixo de uma mangueira. Tentamos até acender um fogo para fazer o café, mas sem muita sorte, assim comemos nossos sanduíches bebendo água mesmo. Pouco depois, deu nova estiada e voltamos a remar. Um pedacinho do céu nublado rasgou, mostrando um pouco de azul. Otimista, troquei a camiseta molhada por uma seca. Dez minutos depois, começou a descer uma garoa que nos acompanhou até a ponte velha, onde repetimos a portagem no sentido contrario, dessa vez sem a ajuda de ninguém. Passamos por baixo da grande ponte e fomos dar a volta de um rochedo solitário perto dali, para marcar a posição no GPS. Rumamos pro Campo Alfa preguiçosamente. Mais uma vez, de repente a chuva engrossou, o vento cresceu e formou umas marolas irregulares. Caiu um verdadeiro toró e, não tendo nada melhor para fazer, nós continuamos a remar por baixo da chuva. -9-


Instigados, mantivemos um ritmo de remada legal, pegamos uma boa velocidade e chegamos ao Campo Alfa perto das quatro da tarde. Descarregamos rapidamente toda a tralha e viramos a canoa na margem de fino cascalho. Aí eu vi que, de manhã, Marcelo tinha lavado e deixado a grelha na beira do rio; ali onde a esquecemos, a reencontramos. Com a lona laranja e uns cabos compridos, armamos uma cobertura entre as arvores para criar uma área protegida da chuva. Depois, demoramos um tempão para conseguir acender o fogo, porque a lenha estava toda molhada e acabamos usando só o carvão, que também estava meio úmido. Logo colocamos no fogo a água para o café e aquela para os legumes também; Marcelo ficou vigiando de perto para evitar que o fogo apagasse. Sentado num banquinho em frente a uma pedra esquadrada, perfeita como plano de trabalho, descasquei e cortei em cubinhos umas batatas e cenouras para cozê-las e servilas como acompanhamento da carne-de-sol acebolada, e com farofa, que preparei com todo carinho pro nosso jantar. Depois da janta, fomos observar a Lua e as estrelas manifestarem no céu uma tendência à melhora climática. Conversamos um pouco e depois fomos deitar nas redes. Marcelo dormiu logo; eu fiquei ainda um tempo lendo e escrevendo à luz da lanterna de cabeça. 3º dia Sem pressa, acordamos por volta das 7:00h e tomamos café com pão, ovos mexidos, fruta e biscoitos. Arrumamos todo o equipamento e carregamos a canoa. Às 9h30, com toda calma zarpamos do Campo Alfa e ficamos por um tempo na área procurando um atracadouro alternativo ao usado nesses dias, onde tem algumas pedras perigosas. Marcelo aproveitou para fazer mais umas tentativas de pesca e finalmente conseguiu capturar, um atrás do outro, um tucunaré e uma tilápia, que matou, tratou e guardou logo na caixa térmica. Após uma meia hora de remo, chegamos à Ilha das Cabras e encostamos nela, mas sem parar. A chuva do dia anterior já era só uma lembrança e o céu estava bem azul. Pensei em explorar uma grande área alagada, conhecida pelos pescadores como “Três Postes”, do lado direito da foz do rio Caraú, mas acabei aceitando a proposta de Marcelo e fomos até a Ilha 3E, que

batizamos assim, naquele dia, depois ter descoberto que o dono da casa se chamava Edivaldo, o caseiro Ernande e o cachorro Exú. Com o vento a favor, chegamos à ilha em menos de trinta minutos. Aportamos numa praia de areia fina e, após ter cumprimentado o caseiro, que logo veio ver quem fossemos, fomos dar uma caminhadinha à toa, só para esticar as pernas. Registrei as coordenadas da Ilha 3E no GPS e fizemos um rápido lanche com biscoitos e fruta antes de partir. De novo na canoa, ficamos dando a volta inteira dessa ilha toda sinuosa, demorando ora aqui ora ali, para umas últimas tentativas de pescar algum peixe de bom tamanho. Com um puxão mais forte, Marcelo estourou a linha e ficou roxo de raiva quando sua bonita isca artificial ficou perdida para sempre, enganchada em alguma pedra! Apontamos a proa para a Itatinga e, quando chegamos a quatrocentos metros de distancia, dobramos para esquerda e entramos em outra grande enseada, que a gente ainda não conhecia; muitas carnaubeiras e só três casas, uma bem distante da outra. Sem rumo certo, ficamos encostando aqui e ali, conversando sobre segurança e técnicas de remada, admirando umas aves voarem bem baixinhas sobre o espelho d’água, à caça de algum peixe para comer. Quase sem reparar, já estávamos beirando a Pedra do Elefante, perto do Sítio Araras. Mais umas poucas remadas e chegamos ao porto das canoas. Meia hora para descarregar e levar até a varanda de casa toda a tralha. Armei logo a rede por baixo do imbuzeiro. Marcelo me deu a tilápia que tinha pescado de manhã e eu a preparei ensopada para o jantar.

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Arroz com frango e couve

Lavar e limpar de pele e gordura as sobrecoxas de frango. Cortar cada sobrecoxa em dois pedaços e temperá-los com a metade do sal, o cominho em pó, os dentes de alho espremidos; reservá-los num prato coberto por outro. Lavar as folhas de couve e deixá-las secar bem antes de cortá-las em tirinhas finas. Descascar as cebolas e fatiá-las sutilmente. Esquentar o azeite de oliva dentro uma capaz panela de ferro, tipo wok, munida de tampa. Colocar o frango no azeite quente e assar bem os pedaços de um lado e do outro, sempre mexendo com a colher de pau para não deixá-los grudar no fundo da panela. Acrescentar as cebolas e o couve cortadinho, mexer bem todos os ingredientes e cobrir a panela com a tampa; deixar cozinhar assim, por uns oito a dez minutos. Retirada a tampa, acrescentar o arroz, o sal restante e aproximadamente um litro e meio de água quente, .fervida em antecedência.

Ingredientes para 6 pessoas 6 sobrecoxas de frango 500gr. de arroz integral 1 maço de couve manteiga 2 cebolas brancas 5 dentes de alho 1 colher de chá de cominho em pó 2 litros de água quente 1dl de azeite de oliva 2 colheres de sopa (rasas) de sal Misturar bem, cobrir de novo com a tampa e deixar cozinhar por uma meia hora; mexer um pouco, de vez em quando, com a colher de pau e acrescentar, só se for necessário, uma concha de água quente para terminar a preparação. Quando o arroz estiver bem cozido, retirar a panela do fogo e deixar abafar a comida por cinco minutos antes de servi-la.

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VestĂ­gios do

Vale do Assu de outrora


Apesar de alguma boa chuva no inverno de 2014, o nível da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves está ainda muito baixo e o Vale do Assu está seco como ninguém o viu nos últimos vinte e cinco anos. Desde meados de 2012, muitas ruínas da antiga cidade de São Rafael e de algumas vilas ribeirinhas de outrora vieram à tona, no meio da barragem. Quem já morou na cidade antiga, abandonada e reconstruída uns quilômetros mais pra lá, reconheceu uma porção de piso do velho ginásio e os alicerces de algumas casas e um comércio, que estavam na parte mais alta da cidade original. Do cartão postal e símbolo da cidade, a antiga torre da igreja, o topo da qual ficou à vista por anos no meio do rio, não sobrou nada. Repentinamente, ela ruiu aos 17 de dezembro de 2010, na madrugada. Dois pescadores numa canoinha, que estavam pondo uma rede entre as pedras, escutaram o barulho e foram os primeiros a não ver mais a torre da antiga igreja. Uma ruína de construção, que se vê agora surgindo das águas, fazia parte de uma parede da igreja, mas não da torre, me explicou outro pescador, seu Ireneu. Na outra margem do rio, aos pés da Serra das Pinturas, encontramos durante nossas excursões muitos vestígios da presença humana, antes que

essa porção do Vale do Assu, a maior bacia hidrográfica natural da região, ficasse alagada em consequência da edificação da barragem. Restos de diferentes tipos de construção testemunham usos e costumes locais, típicos do sertão nordestino. Muros de pedras para demarcar terras e recintos de animais, muros de tijolos maciços para as casas. Em toda esta região, tem muitos tocos de mourões e estacas de velhas cercas, que ficam submersos: isso é o maior perigo para as nossas canoas. É preciso aproximar-se à margem com todo o cuidado, uma canoa por vez, identificando os obstáculos com cautela. Nos escombros de uma velha casa de campo, sobre a qual voltou a bater o sol depois de muitos anos, encontramos dezenas e dezenas de telhas, de formato e tamanho bem diferente do atual, além de muitos tijolos e cacos de louças de barro. Escolhi umas telhas dessas em boas condições para levalas pro Sitio Araras. Vou tentar descobrir a origem e a idade delas. Pendurei uma delas na parede lá em casa, pois é uma telha incomum e bonita de ver-se. Nas ruínas de uma dessas construções nas quais esbarramos durante uma caminhada, um espanhol, que participou de uma nossa expedição

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em canoa no inverno de 2013, encontrou uma velha colher enegrecida pelo tempo, talvez de prata, quem sabe, que ele levou consigo como lembrança da aventura no sertão potiguar. Procuramos nos rochedos, que emergiram de novo ultimamente, por pinturas ou gravuras rupestres, inéditas pelo menos aos nossos olhos, mas nada encontramos, por enquanto.

É muito comum que uma “itacoatiara”, pedra lavrada da pré-história, fique perto de antigos cursos de água. Amigos do Sítio Mutamba, no município de Jucurutú, nos sinalizaram algumas “coisas de índio”, como eles dizem, num serrote perto da ilha Timbaúba, mas, durante uma primeira visita ao local, não encontramos nada. Voltaremos com mais calma.

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A região do semiárido corresponde ao bioma Caatinga, o único genuinamente brasileiro, composto por oito ecorregiões, com cerca de 1 milhão de km² e biodiversidade típica de climas secos. A maior parte dos rios é intermitente, com fluxos somente na estação das chuvas. O seu clima seco resulta, principalmente, da influencia de fatores atmosféricos do Atlântico. As medias anuais de temperatura são altas e as chuvas são poucas e muito irregulares de ano para ano; as chuvas variam de 400 a 800 mm ao ano. Em anos de chuva excessiva, ocorrem inundações. A ocupação humana da região passa dos 30 milhões de habitantes. A Caatinga já teve mais de 70% de sua vegetação alterada pelo homem e o menor percentual de áreas protegidas com cerca de 1%. Já existem grandes núcleos em processo de desertificação: Gilbués (PI), Seridó (RN-PB), Cabrobó (PE), Iraucema (CE) e outros, num total de 181mil km². Os principais fatores de degradação da Caatinga são: 1. Desmatamento para atividade agropecuária, pastagens e agricultura; 2. Extração da madeira para a construção de cercas, bem como para alimentar o fogo para a cozinha, restaurantes, industria da cerâmica, cal e siderurgia, que realizam desmatamento ilegais; 3. Garimpos que desmatam, degradam e contaminam o solo, e levam a desertificação; 4. Empreendimentos de infra-estrutura, como açudes e hidroelétricas, mal planejados. A região Nordeste sempre foi a mais vulnerável à instabilidade climática, pois é a mais castigada por altas temperaturas e secas prolongadas. A população depende da escassa água armazenada em açudes e, durante as secas drásticas, ocorre a sede, a fome e o êxodo rural. No futuro, com um aumento moderado da temperatura entre 2°C e 3°C, o semiárido poderá ser a região mais afetada pelo aquecimento global com as seguintes consequências: a) Os estudos indicam que teríamos as chuvas ainda mais reduzidas e expostas aos altos índices de evaporação potencial. b) O lençol freático simplesmente desapareceria e seria o fim da irrigação. c) Os rios e açudes sumiriam para sempre. d) Se o clima passasse de semiárido para árido, haveria desertificaçao e teríamos o primeiro deserto no Brasil.

e) A biodiversidade ficaria restrita a uma paisagem com poucas especies de clima árido, como as cactáceas. f) A atividade agrícola seria inviabilizada pela degradação do solo e grandes hordas populacionais rurais e urbanas emigrariam para a periferia dos grandes centros do Nordeste e Sudeste. Após a crise global, as economias, assim como as emissões, seguem a trajetória crescente vista na ultima década. Parece que até agora nenhuma solução está a altura do desafio. As negociações sobre um acordo climático justo, ambicioso e vinculante, assim como as medidas internas contra as mudanças climáticas antrópicas, mostram de maneira muito clara as fraquezas das organizações internacionais. Quando os caminhos de novos problemas, dos estilos de vida e dos padrões de produção se cruzam, gera-se um engarrafamento, pois ninguém se arrisca a desviar sua rota primeiro. Acreditamos que o atual sistema econômico capitalista não se encaixa no futuro da humanidade e reivindicamos um novo sistema global, baseado mais em outros valores, como: igualdade, justiça social e ambiental, ecologia e democracia de verdade.

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Mudanรงas climรกticas no sertรฃo


O sinimbú (Iguana iguana) é um dos mais populares e maiores lagartos das Américas, ocorrendo desde o México até o norte da América do Sul. Também conhecido popularmente como iguana-verde ou camaleão, esse lagarto, no Brasil, pode ser encontrado tanto na Caatinga como em florestas úmidas da Amazônia. Pode alcançar cerca de 1,75m, sendo que dois terços correspondem a cauda, e peso entre 4,5 e 6,8kg. Sua coloração varia conforme a região que habita, podendo existir exemplares acinzentados, esverdeados ou alaranjados. Dependendo do clima ou da época do ano ele pode mudar de cor, justificando o nome popular camaleão, sendo que na época reprodutiva os machos ficam com cores bem vivas para atrair as fêmeas. É um animal arborícola, passando a maior parte do tempo encima das árvores próximas de rios, mas isso não o impede de ser um bom nadador. Ao sinal de perigo ele se joga na água da altura que estiver e sai nadando para poder se afastar do inimigo. Tem hábitos diurnos e sua alimentação consiste basicamente de vegetais, embora eventualmente possa se alimentar de insetos. O sinimbú é um lagarto ovíparo e realiza apenas uma desova por ano, com uma média de 30 ovos. O início da estação reprodutiva é caracterizada pela hierarquia imposta pelo macho dominante. Nesse período, os machos costumam designar amplos territórios com um harém de várias fêmeas. A invasão de outros machos resulta em brigas ferozes sendo que o perdedor pode sair muito machucado ou até mesmo morrer. Essa espécie apresenta dimorfismo sexual, ou seja, o macho é diferente da fêmea. Os machos são maiores, possuem cristas nucais e dorsais mais desenvolvidas, suas escamas abaixo do tímpano são maiores, a papada é muito mais desenvolvida, além dos poros localizados na parte inferior da coxa, que produzem secreções parecidas com escamas para marcar território e atrair fêmeas. Ordem: Squamata Família: Iguanidae Nome popular: Sinimbú Nome em inglês: Common iguana ou green iguana Nome científico: Iguana iguana Distribuição geográfica: Do México ao Brasil Central e Paraguai Habitat: Florestas úmidas e áreas de caatinga Hábitos alimentares: Herbívoro Reprodução: Desova entre 30 e 40 ovos por postura, que eclodem após 60 a 75 dias de incubação Período de vida: Aproximadamente 15 anos

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fauna local

SinimbĂş


constrói todas as canoas das expedições IGARUANA e muitas outras... www.canoaecia.com.br


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