Igaruana #3

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03 2015


03/2015

foto: Marina Luna Oliveira d’Emilia

nesta edição Rancho secreto.........................................................pag. 03 A feira de São Rafael..............................................pag. 04 Receita: Ensopado de tucunaré com pirão....pag. 12 Brasil em canoa........................................................pag. 14 Dormir na rede é bom demais.............................pag. 17 Galeria fotográfica...................................................pag. 20 Flora local: Xiquexique............................................pag. 22

Todos os textos e as imagens, salvo quando especificado diferentemente, são de autoria de Jack d’Emilia.


Rancho secreto

“Quem tem dois, tem um, Quem tem um, não tem nenhum!” (ditado popular no mundo da náutica)

Como é que se diz? A aparência engana. Durante a ultima expedição "Terceira Margem", outro dia, à procura de um lugar para acampar, nem muito perto nem tão longe de São Rafael, descobri um amplo rancho de pescadores, perfeitamente camuflado no alto de um rochedo no meio das águas, quase na outra margem do rio, por onde já passei dezenas e dezenas de vezes sem parar. Olhando da canoa, sempre me pareceu ser um lugar selvagem e inóspito, com muita pedra e pouca vegetação. Já quando parei e desci da canoa para conhecer, me deparei com um local sombreado, amplo e mantido relativamente limpo pelos pescadores. O rancho é composto por três vãos, melhorados

com paredes de pedras para barrar o vento e armações para mais de oito redes; vista nãovista por todo lado e fogão à lenha de tijolos maciços. Uma ótima opção para acampar dormindo na rede. Impossível armar uma única barraca nesta ilha, toda de pedra e faltando completamente um local plano. Ancoradouro para duas ou mais canoas deve ser atentamente estudado, considerando os ventos da época. Nome: Rancho Secreto Local: (GPS inativo neste tipo de expedição) Ilhota logo ao N da Ilha do Morcego, parecendo um rochedo inóspito, distante aprox. 2,5km WSW do atual porto das canoas de São Rafael. -3-


A feira de

S達o Rafael


Equipamento fundamental de seguranรงa:


acordou e meio minuto depois já estava em pé, dobrando sua rede bocejando. O Campo Echo é perfeito para acampar: entre as outras vantagens, ali não precisa montar uma mesinha para o café da manhã. Duas largas pedras planas oferecem uma superfície de apoio ampla e na altura certa para pratos, canecas, bandejas, panelas etc... Quando o barco de Severino, que vai e vem do Sítio Mutamba, passou na nossa frente, acenando com o braço, pedi pra ele tocar a buzina... OOOOOOOONK!!! OOOOOOOONK!!! Menos de meio minuto depois, o zíper da primeira barraca anunciou sinais de vida vindo da Área VIP. Tomado o café da manhã, em dez minutos fomos remando até o local onde os carros carregam e descarregam pessoas e mercadorias. Amarramos as canoas no tronco de uma arvore à beira-rio e carregamos na mochila só o necessário para um passeio na cidade em dia de feira. Uma camioneta branca apareceu, carregada de sacos e sacos de ração para o gado, com três pessoas se segurando em cima dos sacos. Em menos de dez minutos, os três homens descarregaram toda a carga e nos fomos para São Rafael na caçamba da camioneta. A feira de São Rafael já não é mais como uma vez, mas mesmo assim continua característica e sugestiva. O plástico invadiu o planeta inteiro e fica difícil encontrar um lugar que esteja livre disso. Por baixo de uma grande cobertura, sustentada por pilares de ferro, ficam principalmente as bancas de frutas e verduras, dos grãos e dos outros alimentos: os queijos típicos, o frango recém-abatido, o peixe. Bem baixinha, encostada num poste de ferro, ao lado de um montão de aboboras de todo tamanho, está a banquinha do seu Fausto, que vende raízes e mel de quatro tipos de abelha diferentes, prepara garrafada para todo mal e só não tem remédio para a morte. Joana, que é adepta da alimentação e medicina natural, logo comprou dois litros de mel comum, mais uma garrafinha menor com mel de jandaíra. Ao ladinho, na banca de seu Paulo, que só vende temperos, tem pimenta do reino e cominho moídos na hora. No resto da praça, tem bancas vendendo qualquer coisa: redes de São Bento e Jardim de

Sábado tem feira na praça do Assu e domingo em Jucurutu. Segunda é dia de feira em São Rafael. Salvo raras exceções, sempre incluímos nas nossas expedições a segunda-feira como terceiro ou quarto dia de aventuras, pois nesse dia visitamos a feira livre de São Rafael/RN, abastecemos os viveres e experimentamos pro almoço a comida típica regional. Na década de 1980, quando foi construída a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves e inundado o Vale do Assú, a cidade de São Rafael foi reconstruída inteirinha cinco quilômetros mais pra lá de sua sede original. Até o fim de 2010, a antiga torre da igreja surgia do nada no meio do rio, símbolo e cartão postal da cidade; tiramos muitas fotos passando com nossas canoas perto da torre durante as expedições. De repente, na madrugada de 17 de dezembro, a torre ruiu e desapareceu na água. Quando o rio está realmente muito seco, como foi ficando nos últimos anos, precisamos remar com cuidado entre as ruínas da antiga São Rafael, que ficaram à tona, sendo que da torre da igreja ficou em pé apenas um toquinho. Do Campo Echo dá para ver o atual porto das canoas de São Rafael, aonde no dia de feira o vaivém de barcos motorizados, trazendo e levando de volta os moradores das casas e vilas ribeirinhas da região, é grande. Como todo mundo ainda estava dormindo, eu viajei em filmar os barcos indo e voltando; assim peguei o tripé, a câmera, um banquinho e fiquei acompanhando a movimentação: de um lado canoas e barcos, do outro: carros, motos e também um caminhão, no vai e vem, carregando todo mundo na caçamba por dois reais à cabeça. De manhã cedo e à tarde são os momentos melhores para tirar fotos e filmar neste ecossistema único ao mundo, típico do sertão nordestino e brasileiríssimo: a Caatinga. Com um bom binóculo, o birdwatching não tem limites. E com uma lente zoom na câmera fotográfica, o amante da natureza pode levar pra casa boas lembranças da fauna local. Deixei a câmera filmando sozinha no tripé e fui acender o fogo para colocar a água do café a esquentar. Com o almoço regional na feira por volta das dez e meia, não precisa preparar um café da manhã reforçado na segunda; pode ser normal: café, leite, pão, queijo, ovos mexidos e fruta. Quando eu quebrei o primeiro graveto, Moreno -6-



Piranhas, roupas novas e usadas, panelas de alumínio de todos os tamanhos, peças de bicicleta e ferramentas. O pessoal ficou encantado na banca do Nhô Eduardo com todos os característicos produtos utilitários sertanejos, todos feitos de couro: chapéus, bainhas para faca e facão, vários modelos de alpercatas, todo o vestuário para o sertanejo “encourado”, arreios e outros acessórios do fazendeiro, sem esquecer os característicos banquinhos: de couro de vaca, no estilo de Caicó, ou de cabra, se for do artesanato assuense. Bem no meio, por baixo da cobertura, fica a área de alimentação, onde a comida é preparada em grandes panelas sobre fogões feitos com latas cheias de carvão em brasa. É comida popular feita ao gosto do povo. Tem carneiro, bode, galinha, peixe, carne na panela e assada. Tem buchada para quem gosta, feito eu. Tem feijão verde e preto: pode escolher ou comer os dois. E tem também: batata doce, jerimum, arroz, vinagrete, farofa e, para beber, suco de fruta. Sentamos para almoçar um ao lado do outro, numa das pernas de uma grande “U” feita de mesas compridas, cobertas por toalhas de plástico estampadas. Na feira, comprei fruta e verdura frescas. No prédio do mercado das carnes, a única constru-

ção de alvenaria no meio da praça, comprei carne-de-sol e um frango caipira. Procurei pelo vendedor de chapéus de palha de carnaúba, mas não o encontrei. A palha de carnaúba é muito resistente e aguenta firme quando molhada: o chapéu oficial IGARUANA, usado durante nossas expedições, é de palha de carnaúba. Na loja de seu Reginaldo, comprei dez mechas novas para as lamparinas à óleo que usamos nas noites escuras. Ali vende também chapéus de palha, mas não de carnaúba. Na banca de queijos ao lado do armazém na esquina, experimentei três tipos diferentes de queijo coalho, antes de decidir-me. Gostei muito também, só de ver, de um queijo manteiga artesanal, produto local, e comprei só um pedaço para a galerinha experimentar. Delicioso, ele derrete na boca, mas é gorduroso pra caramba. Para quem gosta de refrescar-se e hidratar o corpo tomando uma cerveja gelada, em dia de feira o local apropriado é o Bar do Calçadão. Ali você pode levar seu tira-gosto e assá-lo numa churrasqueira feita de aro de pneu de carro; tem varias no quintal do bar, na sombra de uns imbuzeiros. O povo compra sua carne, seu peixe, frango, linguiça e assa nas churrasqueiras; mas -8-



se quiser arroz e feijão, para bater um rango mesmo, também tem. Em dias abençoados, a gente pode ter a sorte de assistir à exibição de algum violeiro local. Em época de vaquejadas, tem muitos músicos acompanhando as carovanas dos eventos de uma cidade para outra. Agora que falei em vaquejada, me lembrei de uma vez que, almoçando na feira, conhecemos uma dupla sertaneja vinda de Goiás, formada pelo pai e o filho, respectivamente, violeiro e sanfoneiro. Gente finíssima, eles trajavam as roupas típicas de vaqueiro e viajavam pelo país

em duas motocicletas customizadas, verdadeiros “cavalos de ferro”. Eles estavam rodando o Nordeste há mais de seis meses, exibindo-se ao vivo, e também participando dos rodeios, nas vaquejadas que fossem pintando: livres como passarinhos. Não chegamos a escutá-los tocar e cantar, pois naquela hora, os únicos instrumentos a ser usados foram garfos, facas e colheres. No Bar do Calçadão, já somos os queridinhos. Desde 2008, levamos pessoas de varias nacionalidades, quase de todos os continentes, para conhecer o Vale do Assu e a feira de São Rafael;


a curiosidade do sertanejo ao encontra-los, é tão grandes quanto a maravilha dos turistas que descobrem o Brasil autentico, afastando-se das badaladas cidades do litoral. Lá dos fundos, logo vem um prato com carne assada, toda picadinha: cortesia da galera do Sitio Mutamba, aboletada por baixo do imbuzeiro maior. Assim fui lá para agradecer e cumprimentar: muitos deles não conheço pelo nome, mas só por um sorriso ou um aceno de braços trocado de uma canoa para outra. A curiosidade do povo não foi tanta dessa vez, quando souberam que estava viajando com

quatro brasileiros, mas a cortesia e a simpatia foram as mesmas de sempre. Enfim, por volta da uma da tarde, fomos embora, passando pela fabrica de gelo, antes de voltar às canoas: meia barra de gelo é suficiente para os últimos dois dias de expedição. Barriga cheia, pé no mundo; haja vontade de remar depois desse almoço regional! Na sombra de uma oiticica, preparamos um café forte e gostoso e enfim zarpamos do porto de São Rafael, seguindo nossa aventura.


foto: Jonathan Green

Ensopado de tucunaré com pirão

Ingredientes para 6 pessoas Lavar o peixe em postas, salgá-lo de leve e deixálo guardado na sombra, coberto com um pano de prato limpo. Refogar no fundo de um caldeirão o azeite de oliva com o alho, as cebolas, o pimentão e o cheiro verde, tudo bem picadinho. Após cerca cinco minutos, acrescentar o peixe e deixar cozinhar por uns dez minutos, virando com cuidado as postas com uma espátula, depois de cinco minutos. Acrescentar os tomates maduros cortados em cubinhos, o açafrão da terra e uma colher de sopa [rasa] de sal. Diluir com os dois litros de água, precedentemente fervida, tampar o caldeirão e deixar cozinhar por quinze minutos. Peneirar a farinha de mandioca. Retirar com todo o cuidado as postas de peixe do caldo e reservá-las perto do calor do fogo.

6 postas de tucunaré (250gr cada uma) 3 cebolas brancas 5 dentes de alho 1 pimentão verde 3 tomates maduros 1 molho de cheiro verde 1 colher de sopa de açafrão da terra 2 litros de água quente 1,5dl de azeite de oliva 2 colheres de sopa (rasas) de sal 300 gr de farinha de mandioca Acrescentar a farinha aos poucos, para evitar que faça bolotas, sem parar de mexer com a colher de pau. Após uns cinco ou seis minutos, o pirão estará pronto, com uma consistência grossa, mas não dura. Servir o tucunaré ensopado com o pirão, arroz branco e batata doce cozida.

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Brasil em canoa A ideia central do projeto "Brasil em Canoa" é o empreendimento de umas longas viagens em canoa canadense pelas muitas hidrovias brasileiras e seus afluentes. A canoagem turística, realizada com toda segurança, é uma opção original e totalmente em harmonia com a natureza de conhecer o Brasil; um pais tão rico em águas interiores navegáveis, que nos permite, em muitos casos, de chegar em canoa a alcançar lugares impossíveis de conhecer viajando de outra forma. Ao longo dos próximos anos, o aventureiro Jack d’Emilia pretende navegar em sua canoa as águas de um bom numero de rios do Brasil, mas por enquanto, para dar inicio a esta nova grande aventura, está planejando uma primeira expedição nas bacias hidrográficas do rio São Francisco e do rio Parnaíba, abrangendo os estados de Minas Gerais, Bahia, Piauí e Maranhão. A expedição “Rio das Velhas - Delta do Parnaíba” será realizada em uma canoa canadense de fibra de vidro e madeira, com 4,60m de comprimento, construída expressamente para este fim na fabrica artesanal Canoa&Cia, em Londrina/PR.

A duração desta primeira viagem em canoa de Jack d’Emilia pelos rios do Brasil será de aproximadamente um ano. A duração estimativa da viagem foi calculada deixando uma ampla margem de tempo para não dever nunca ter pressa. O roteiro geral ficou dividido em duas grandes etapas. O itinerário previsto para a primeira etapa da viagem é vasto e são quatro os rios que serão navegados, a saber: - Rio das Velhas/MG Maior afluente do rio São Francisco em Minas Gerais. A região banhada pelo rio das Velhas foi teatro de muitos dos acontecimentos narrados pelo escritor mineiro João Guimarães Rosa em seus contos e romances. A viagem em canoa pelo rio das Velhas começará no município de Sabará/MG e continuará até o entroncamento no rio São Francisco; em 1867, Sir Richard Francis Burton, explorador, orientalista e cônsul da Inglaterra no Brasil, realizou uma viagem memorável em canoa de Sabará até a foz do rio São Francisco, no Oceano Atlântico.

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- Rio São Francisco/MG-BA No itinerário desta viagem, o Velho Chico será navegado no trecho que vai da foz do rio das Velhas até a cidade de Xique-Xique/BA. De Xique-Xique, voltando para a cidade de Barra/BA, a viagem seguirá pelo rio Grande acima, abandonando o roteiro da expedição do Capitão Burton. Aproximadamente, uma terceira parte deste trecho pertence a Minas Gerais, enquanto o restante fica nos territórios da Bahia. - Rio Grande/BA O rio Grande é o maior afluente do rio São Francisco na Bahia. Este rio será percorrido de sua foz, em Barra, até o entroncamento do rio Preto, seu maior afluente, sem chegar até Barreiras, a mais conhecida cidade nas margens do rio, sede de um porto fluvial muito ativo no passado. - Rio Preto/BA O rio Preto será remontado de sua foz até a cidade de Formosa do Rio Preto/BA. Formosa do Rio Preto é o município da Bahia mais distante de sua capital, sendo também o município do estado com o maior território. Da cidade de Formosa do Rio Preto, a canoa será transportada por vias terrestres pelos 350km que a separam da ponte sobre o rio Parnaíba, na cidade de Alto Parnaíba/MA, onde começará a segunda etapa desta viagem aventurosa. Na segunda etapa da expedição, o rio Parnaíba/PI-MA será navegado até sua foz, percorrendo todo o Médio e Baixo Parnaíba, passando pela Represa da Boa Esperança, beirando a capital do Piauí, Teresina, e continuando até o Delta do Parnaíba, encerrando a expedição na cidade de Tutoia/MA. O rio Parnaíba, popularmente conhecido como O Velho Monge, é divisa natural entre os estados de Maranhão e Piauí. Durante esta segunda etapa da viagem, poderá surgir a ocasião de navegar um ou outro afluente do rio Parnaíba, ainda não identificados; por enquanto, apenas o rio das Balsas/MA, maior afluente do rio Parnaíba, entrou na lista, com 250km, dos 510 em total, navegáveis.

A natureza desta viagem será principalmente de cunho naturalista e cultural. Sempre que puder, Jack d’Emilia acampará no meio da natureza, visitará vilas ribeirinhas longínquas e monumentos naturais, mas também destacará as cidades históricas e interessantes que encontrará em seu caminho, com seus museus e outros atrativos, valorizando todo exemplo de cultura popular das regiões que atravessará. Também, ele aproveitará de sua viagem, para manter viva a campanha pessoal de incentivo à leitura e ao jogo de xadrez. Desde 2010, Jack d’Emilia está praticando a canoagem solitária. Ao longo dos anos, ele ficou aperfeiçoando sua técnica de remada solo e, com a segurança redobrada fundamental nestas situações, foi ciganeando pelo Vale do Assu em numerosas expedições solitárias. A partir de 2014, ele vem praticando também a Open Canoe Stand Up Paddle, técnica de remada em pé na canoa canadense. Agora Jack está com planos de ampliar o território de suas aventuras em canoa e partir em 2015 para esta grande viagem, primeira de uma serie de expedições em canoa canadense pelas hidrovias do Brasil e America do Sul. Siga os preparativos e a evolução desta grande aventura no blog brasil-em-canoa.blogspot.com

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Interessado em patrocinar ou apoiar o projeto #BrasilEmCanoa ? Contato direto pelo e-mail jack.demilia@gmail.com


Dormir na rede ĂŠ bom demais

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Dormir em rede garante maior qualidade de sono. Isso é o que afirma uma equipe de cientistas suíços e franceses que publicou recentemente um estudo onde afirma-se que o movimento de vai e vem de uma rede melhora a qualidade do sono e ajuda as pessoas a dormirem mais rapidamente. A rede, também destaca o estudo, tem um efeito prolongado na atividade cerebral, aumentando as oscilações mentais e a irrupção da atividade conhecida como eixos de sono: estes efeitos são consistentes com uma atividade neuronal mais sincronizada, característica do sono mais profundo. Os pesquisadores pretendem averiguar se a rede de dormir pode ser utilizada para ajudar pessoas que sofrem de insônia. Eu não sofro muito de insônia, mas, podendo escolher, seja para dormir que ficar a noite inteira lendo um livro que não se deixa fechar, eu prefiro sempre deitar numa boa rede que na cama. Boa rede pra mim não tem muita frescura: deve estar bem armada e não pode estar muito deformada pela idade ou usos diferentes do deitar pra dormir. Se estiver limpinha e cheirosa, então, ai sim que não saio dela mais nunca. De acordo com os registros recolhidos até hoje, a rede de dormir possui o copyright sulamericano. A primeira citação nominal em português da rede de dormir foi feita em 27 de abril de 1500 pelo escrivão da frota portuguesa, Pedro Vaz de Caminha, na ocasião em que o Brasil foi descoberto. Segundo consta em seus relatos, os índios dormiam sobre redes altas, atadas pelas extremidades. As redes feitas pelas mulheres indígenas eram resistentes, de fiação simples e malhas grandes, por este motivo faziam lembrar a rede de pescar. O nome “rede”, assim, foi dado pelos portugueses. Os índios a chamavam de “ini”. O folclorista potiguar Luís da Câmara Cascudo no seu ensaio "Rede-de-Dormir" faz uma apologia a esta peça domésticas integrante da vida cotidiana das gentes do Norte e Nordeste brasileiros, comparando-a com a cama, e enaltecendo as vantagens da rede: "O leito obriga-nos a tomar seu costume, ajeitando-se nele procurando o repouso numa sucessão de posições. A rede toma o nosso feito, contaminase com os nossos hábitos, repete, dócil e macia a forma do nosso corpo. A cama é hirta, parada, definitiva. A rede é acolhedora, compreensiva,

coleante, acompanha, tépida e brandamente, todos os caprichos da nossa fadiga e as novidades imprevistas do nosso sossego. Desloca-se, incessantemente renovada, à solicitação física do cansaço. Entre ela e a cama, há a distância da solidariedade à resignação". Autenticas e eficazes também as palavras de Sérgio Buarque de Holanda (Caminhos e Fronteiras): "Em contraste com a cama e mesmo com o simples catre de madeira, trastes sedentários por natureza, e que simbolizam o repouso e a reclusão doméstica, ela pertence tanto ao recesso do lar quanto ao tumulto da praça pública, à morada da vila como ao sertão remoto e rude. (...) O fato é que as redes - redes de dormir ou de transportar - são peças obrigatórias em todos os antigos inventários feitos no sertão". Ainda hoje, no Vale do Assu, teatro das nossas aventuras IGARUANA, assim como em toda a área rural e silvestre do Norte, Meio-Norte e Nordeste do Brasil, a rede continua sendo mais popular que a cama. Aos amigos que vem conhecer meu "bom retiro" sertanejo à beira-rio, no Sitio Araras de Itajá RN, assim como aos participantes das expedições em canoa, para eles entrarem logo no estilo local, sempre ofereço como opção de pernoite uma boa rede armada por baixo do imbuzeiro ou na varanda da casa. Mas a maioria deles, entre os quais uns tantos brasileiros do Sul também, diz que gosta muito da rede para descansar, mas não sabe dormir uma noite inteira. Alguns dizem que ficam com dor nas costas. Mas vamos ver como, com poucos cuidados, a rede se transforma num berço ancestral onde dormirmos sonos e sonhos profundos. A rede deve ser frouxamente atada, para nela podermos deitar como se estivéssemos em uma suave bacia com a forma e tamanho do corpo. As linhas longitudinais da rede têm o mesmo comprimento de punho a punho. Quando atamos a rede de maneira frouxa, determinamos uma elipse e uma elipsoide Quando sentamos no meio da faixa mediana, fixaremos com o nosso peso, aquela faixa que terá a largura de nosso traseiro. Em seguida, devemos deslizar as pernas para um lado e o tórax para o outro, até alcançarmos com todo o corpo a superfície da elipsoide A direção de repouso entre a crista central e a parede lateral da elipsoide forma um ângulo de aproximadamente 30 graus com relação ao

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plano vertical dos punhos. Entendeu? Ao invés de dormir no mesmo sentido da rede, que é a primeira posição que pode vir à mente, com os pés em direção a um punho e a cabeça ao outro, deite na diagonal, um ângulo de aproximadamente 30 graus, ajeitando a posição até que não fique do seu próprio gosto, pois a elasticidade do tecido da rede ainda absorve as diferenças do seu corpo (traseiro, cintura, costas), tornando-a ainda mais confortável. Durante as expedições IGARUANA, eu não tenho duvidas: melhor jeito de dormir é na rede, de preferência armada por baixo de uma arvore aonde de manhãzinha vem cantar os passarinhos. É poesia demais pra você? Sei... adormecer deitado no colchão assistindo o céu estrelado através do mosquiteiro da barraca, sem telo de chuva, também dá paz pra alma, não tem nada não. Para todos os que não gostam de rede, pro me-

lhor conforto e descanso possível, temos boas barracas e colchões infláveis aconchegantes, não se preocupem. Mas para mim mesmo e meus ajudantes, Moreno e Zezinho, jovens sertanejos que nasceram e cresceram à beira do rio e dormiram a vida inteira na rede, um bom local onde acampar deve ter necessariamente umas arvores onde armar pelo menos as nossas três redes. Para terminar, quero lembrar o bom costume do bisavô de minha amada filha, Marina Luna: o paraibano José Domingos Dantas, popularmente conhecido como Zé Domingos, sertanejo ilustre pelas bandas do Seridó de Santa Luzia e Patos, com treze filhos e dezenas de descendentes, dormiu a vida inteira na rede, e continua dormindo, aos oitenta e tantos anos, deitando-se às sete e meia da noite e levantando antes do amanhecer, quando o galo canta e a vaca chama. "Não tem dormida melhor que essa", ele sempre diz. Eu também acho.

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Classificação científica Nome Científico: Pilosocereus gounellei Nome Popular: Xiquexique Família: Cactáceas Divisão: Angiosperma Habitat: Caatinga Distribuição Geográfica: Nordeste brasileiro

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O Xiquexique (Pilosocereus gounellei) é um cacto endêmico do semiárido brasileiro. Seu caule suculento tem uma consistência macia que reserva muita água e é protegido por espinhos fortes. Em secas prolongadas, o xiquexique é utilizado pelos agricultores como uma alternativa para alimentação dos animais nos sertões do Nordeste brasileiro. É queimado para retirar os espinhos e oferecido ao gado como complemento ou muitas vezes como única fonte de alimento. Seus galhos se arrastam pelo chão formando verdadeiros alastrados. Os espinhos são agudos, brancos e se formam em um conjunto com vários espinhos. A planta é de cor verde claro. O xiquexique coloca flores rosadas protegidas por uma espécie de algodão natural produzido pela planta. As flores surgem nos meses que antecedem as trovoadas, geralmente de dezembro a janeiro. Os frutos são bagas de tamanho médio, verde por fora e vermelha por dentro, repletos de sementes que são muito apreciadas por aves e outros animais da caatinga, entre os quais o mocó, característico roedor da região, e o próprio homem.

flora da

Caatinga


constrói todas as canoas das expedições IGARUANA e muitas outras... www.canoaecia.com.br


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