intervenção em fragmentos: um projeto de ocupação lgbtqiap+ nos vazios urbanos do centro do rj

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intervenção em

frag men tos

um projeto de ocupação lgbtqiap+ nos vazios urbanos do centro do rio de janeiro

igor brito



intervenção em

frag men tos

um projeto de ocupação lgbtqiap+ nos vazios urbanos do centro do rio de janeiro Projeto Integrador I Universidade Veiga de Almeida | 2020.2 Professora Andrea Borges Cruz Igor Brito


agra ecim


ad me

Aos meus pais, Evandro e Luciane, por terem me proporcionado a oportunidade de estar me formando em Arquitetura e Urbanismo. À Julia Albeirice por ter caminhado junto comigo durante esses anos de faculdade e por ter me recepcionado de uma forma tão genuína À

que

quando

Luísa fiz

cheguei

Videira

na

centivarem

e

no

Letícia

faculdade,

tanto

e

por

Rio

de

Janeiro.

Abreu,

amigas

sempre

confiarem

em

me

in-

mim.

Às amigas de infância e da vida Alexia Mendes, Carol Rainha, Júlia Xavier, Laís Branco, Lenna Martins, Lia Souto,

Marina Mussi e Ví-

vian Athayde por estarem comigo desde muito tempo e fazerem parte de quem eu sou hoje. Ao Daniel Assumpção por ter me apoiado desde o início da construção da ideia desse trabalho.


resu o ab


um bs O projeto proposto visa se apropriar de vazios

The proposed project aims to appropriate ur-

urbanos na cidade do Rio de Janeiro, de modo

ban voids in the city of Rio de Janeiro, in order

a proporcionar novos usos a terrenos subuti-

to provide new uses for underutilized land and

lizados e construções abandonadas na atual

abandoned buildings in the current downtown

área central (II Região Administrativa – RA), cor-

area, corresponding to the old urban core of the

respondente ao antigo núcleo urbano da cida-

city, which currently is more than 450 years old.

de, que atualmente já tem mais de 450 anos.

Com o passar dos séculos, a cidade evoluiu e se ex-

Over the centuries, the city has evolved and ex-

pandiu para novas regiões, e é notável o desprezo

panded into new regions, and the contempt for

histórico por algumas das antigas construções e re-

some of the old buildings in downtown is clear-

giões do Centro que, se preservadas, poderiam al-

ly noticeable. Buildings that if preserved, could

cançar um outro grau de importância para a cidade.

reach another level of importance for the city.

Neste

re-

In this project, these urban voids receive sociocultural

volta-

equipment aimed mainly at the lgbtqiap + community.

cebem

trabalho,

esses

equipamentos

vazios

urbanos

socioculturais

dos principalmente à comunidade lgbtqiap+. Keywords:

LGBTQIAP+,

dade, Equipamentos Socioculturais, Intervenção

ciocultural

Equipment,

Urbana, Rio de Janeiro, Centro, Praça Tiradentes.

Rio de Janeiro, Downtown, Praça Tiradentes.

Palavras-Chaves:

LGBTQIAP+,

Homossexuali-

Homosexuality, Urban

So-

Intervention.


su mรก


justificativa

10

objetivos

20

problemรกtica

22

lgbtqiap+

28

anรกlise do territรณrio

38

conceito e partido

66

bibliografia

70


justi ficat


i t

solo. Entretanto, o centro da cidade ainda conta com muitos vazios e construções abandonadas. Segundo Corrêa (1996 apud NEVES, 2003, p. 11). o espaço de qualquer grande cidade capitalista é um

Conforme Rogério Matos e Miguel Ribeiro (1996

espaço fragmentado, articulado, reflexo e condicio-

apud NEVES, 2003), observa-se um perfil urbano na

nante da própria sociedade. Fragmentado, em primei-

região central do Rio de Janeiro, quase inteiramente

ro lugar, por constituir-se num conjunto de diferentes

modificado em relação ao núcleo original, levando

usos da terra que se justapõem e que definem áreas

em consideração as inúmeras obras urbanísticas

distintas na cidade; articulado, em segundo lugar,

pelas quais a cidade passou no decorrer dos anos.

porque cada parte mantém relações com as demais de acordo com os interesses do capital e do trabalho

De acordo com Neves, a complexidade de fun-

ou com a prática de um poder ou de uma ideologia

ções urbanas que conseguimos observar atu-

onde o centro aparece historicamente como o nú-

almente no Centro é uma evidência, comum à

cleo dessa articulação; por fim, o espaço é reflexo e

maioria

capitalistas,

condicionante social pelo fato de, além de traduzir as

do dinamismo de atividades diversas e con-

suas lutas de classes, desempenha papel importan-

centradas, da valorização e do intenso uso do

te na reprodução das condições e relações sociais.

das

grandes

metrópoles

11


Neste contexto, o título do presente trabalho, “In-

Atualmente, existe na cidade a Casa Nem, um lu-

tervenção em fragmentos: um projeto de ocupação

gar de acolhimento que recebe, em sua maioria,

LGBTQIAP+ nos vazios urbanos do centro do Rio

travestis e trans em condição de vida na rua. O

de Janeiro”, pretende abordar a representatividade

espaço (que se mantém economicamente através

e a expressividade da causa através da ocupação

de doações e realização de eventos) vem factual-

de terrenos e antigas construções que atualmen-

mente sofrendo um enorme descaso da prefeitura.

te não possuem nenhuma utilidade específica em uma região tão rica e diversa como a área central.

Conforme o site UOL (2020), durante a pandemia do novo Corona vírus, em agosto de 2020, os ór-

O estudo será desenvolvido no entorno da Praça

gãos públicos despejaram todos os seus mais de

Tiradentes, que atualmente conta com diversos

50 moradores do prédio em Copacabana, realo-

destes vazios urbanos. O projeto favorece uma

cando-os provisoriamente numa escola localizada

maior visibilidade a causa LGBTQIAP+ na medida

na Rua da República do Peru, no mesmo bairro.

em que cria espaços de cultura e de lazer voltados à comunidade em questão. Além disso, serve

A previsão é a de que a situação perdure até

de apoio aos LGBTQIAP+ em situação de vulne-

o dia 5 de outubro de 2020, enquanto, se-

rabilidade, oferecendo abrigo aos que moram na

gundo a prefeitura, é reformado um espa-

rua ou que precisam de algum apoio psicológico.

ço definitivo para a iniciativa, em Laranjeiras.

12


Centro do Rio de Janeiro Flickr (2012)

É importante ressaltar que a arquitetura comumente

ões da cidade (neste caso, do Centro), que muitas

trata de valores duráveis, de modo que nos parece

vezes se tornam violentas, pela falta de sua ocupa-

pertinente revitalizar e ressignificar construções já

ção pública em diversos horários ao longo do dia.

existentes, seja por retrofit ou restauração. Remete, portanto, a revitalizar no sentido mais forte da

inseguro

palavra, a dar vida, mas também a imprimir um novo significado a uma determinada referência. No que a isto diz respeito, de acordo com a arquiteta Lígia Sell (2017), um projeto de revitalização de muito sucesso é o High Line Park em Nova York, se uti-

seguro

lizou de uma antiga linha de trem abandonada para criar um espaço elevado que fica aberto ao público diariamente, e que serviu para valorizar uma região que sofria com o abandono e consequentemente com a violência que ocorria nos arredores da estrutura. Pensando também num espectro mais urbano, precisamos revitalizar e ressignificar o uso das regi13


Estátua de Dom Pedro I, localizada no centro da Praça Tiradentes. Arch Daily (2016)

Vista aérea Praça Tiradentes A Cara do Rio (2014)

14


Cartรฃo Postal Praรงa Tiradentes, Rio de Janeiro. Circulado em 1913 Conrado Leiloeiro (2016)

15


Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera na parada de 1973, foram fundadoras do grupo STAR, grupo de apoio aos transgĂŞneros Esquerda.net (2019)

16


medellín: um exemplo de superação de violência Segundo Lourival Santana (2017), um caso de superação importante em relação à diminuição da violência urbana aconteceu em Medellín, Colômbia. Durante os anos 90, a taxa de homicídio chegou a 380 a cada 100.000 habitantes (considerado muito alto), levando Medellín a receber o título de cidade mais violenta do mundo. Contra isto, o estado passou a investir mais na segurança pública, esteve mais presente em comunidades pobres, mobilizou a população com ações comunitárias e projetos sociais, e promoveu melhoras no urbanismo (ganhando inclusive um Nobel na área).

taxa de homicídios em medellin

(números de homicídios a cada 100.000 habitantes) 1991

380

Com as medidas, a taxa em questão caiu com o

1997

155

passar dos anos para atuais 21 homicídios a cada

2002

183

2005

35

2009

94

tido foi a prova do quanto um lugar só tem a ganhar

2016

21

quando a redução da violência, o estímulo à educa-

Medellín Como Vamos (2017) Elaborado pelo Autor

100.000 habitantes. Uma vez que as pessoas se sentem mais seguras em estarem nas ruas, a violência perde cada vez mais espaço. Tal avanço ob-

ção e a projetos sociais, além de boas intervenções urbanísticas, são focos para as políticas do estado. No Rio de Janeiro, a taxa de homicídio é de 36 mortes a cada 100.000 habitantes, um valor bem menor do que o apresentado por Medellín duran-

taxa de homicídios brasil | cidade mais violenta, menos violenta e rio de janeiro (números de homicídios a cada 100.000 habitantes)

te seu pico de violência. As taxas apresentadas

fortaleaza

78

nos gráficos a seguir, servem de comparação à

rio de janeiro

36

situação carioca e mostram como os índices no

florianópolis

13

Rio de Janeiro, com medidas semelhantes às de Medellín, poderiam estar em melhor condição.

Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2017) Elaborado pelo Autor

17


brasil: o país que mais mata lgbtqiap+ no mundo Atualmente o Brasil é o país com mais mortes de

vítimas lgbtqia+ por faixa etária

LGBTQIAP+ no mundo. De acordo com o Gru-

(no brasil em 2016)

po Gay da Bahia (GGB), acontece uma morte

125

a cada 23 horas. Em 2019 foram somadas 149 mortes entre janeiro e maio, sendo 15 suicídios.

100 75

O Rio de Janeiro se encontra na 4ª posição entre os estados mais violentos nessa categoria. Em 2018, um caso chocou o país: a jovem Matheusa

50 25

Passareli, que se identificava como não-binária, fi-

em seguida seu corpo esquartejado e queimado. Segundo Kelly Domingos (2019), secretária de Políticas Sociais da CUT-SP, esses números provam o

Grupo Gay da Bahia (2016) Elaborado pelo Autor

quanto o país não dá a devida importância ao combate aos crimes contra à comunidade LGBTQIAP+. Para a secretária, políticas de criminalização que

vítimas por segmento lgbtqiap+ (no brasil em 2016)

desencorajem tal violência não são criadas e grupos políticos junto a movimentos conservadores divulgam notícias caluniosas que distorcem a verdadeigay

ra causa da luta e incentivam o preconceito. Domingos também critica o governo Bolsonaro por seguir uma linha de pensamento político retrógrado, a partir da qual é possível até mesmo que o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos seja comandado por uma ministra que discursa em termos de “cura gay”, ao se referir à comunidade LGBTQIAP+.

trans

bi *inclui parentes e conhecidos de pessoas lgbtqiap+ assassinados por algum envolvimento com a vítima.

lésbica

Grupo Gay da Bahia (2016) Elaborado pelo Autor

18

hetero*

71 - 80

61 - 70

51 - 60

41 - 50

31 - 40

19 - 30

do 18, zona norte do Rio de Janeiro, a tiros, tendo

até 18 anos

concluiu que a mesma havia sido morta no Morro

0 não informado

cou desaparecida por nove dias. Uma investigação


Matheusa Passareli. Jovem não-binária assassinada no Rio de Janeiro em 2018 G1 (2018)

Visto que temos acesso à essas informações sobre a situação atual do país com relação à intolerância e violência, seria muito significativo para uma das maiores cidades do Brasil receber um projeto que sirva como uma referência de apoio a causa. O trabalho prevê espaços fragmentados (por estarem localizados em diferentes vazios urbanos nos arredores da Praça Tiradentes), porém conectados pela multiplicidade de usos específicos que unem arte, cultura, lazer e saúde. Dessa maneira, o público circundante da região poderia perceber aquele como um território marcado integralmente contra qualquer tipo de preconceito e, acima de tudo, como um lugar onde toda a classe se sinta acolhida e livre. Estamos aqui lutando por voz, por nosso espaço na cidade e por respeito. 19


obj etiv


objetivo geral:

objetivos específicos:

Redução da violência urbana com a ressignifi-

Criar uma região no centro da cidade que sirva como

cação da Praça Tiradentes e seus fragmentos

uma espécie de referência de território LGBTQIAP+.

com a instalação de equipamentos socioculturais destinados à comunidade LGBTQIAP+.

Valorizar a região da Praça Tiradentes através da ocupação de vazios com equipamentos socioculturais voltados principalmente aos LGBTQIAP+. Utilizar o urbanismo como uma ferramenta para conectar essas intervenções fragmentadas uma na outra 21


prob emรก


bl át

Não é de hoje que país enfrenta grandes problemas relacionados a homofobia e segurança pública. Diariamente milhares de pessoas pertencentes a comunidade LGBQIAP+ sofrem com o preconceito por meio de piadas, agressões verbais e físicas que, infelizmente, muitas das vezes terminam em algo fatal. Como já citado anteriormente, o Brasil está no topo da lista como o país com mais mortes de LGBTQIAP+ em todo o mundo, acontecendo em média uma morte a cada 23 horas, como mostrou o GGB (Grupo Gay da Bahia) em seu relatório, que é atualizado anualmente. 23


W

24


25


W


Jovens em frente ao Stonewall Inn, bar que deu início à Rebelião de Stonewall. Hypeness (2018)

neste trabalho, me apoiei na identificação de quatro problemas ainda muito presentes na sociedade e na cidade do rio de janeiro: Homofobia: Preconceito sofrido pelos LGBTQIAP+. Não representatividade: Falta de uma região na cidade que faça com que a comunidade se sinta incluída e importante no planejamento urbano. Existem cidades ao redor do mundo com ruas, bairros, praças marcados pelo orgulho Segundo Bastos, Garcia e Sousa (2011 p.4) a ho-

LGBTQIAP+. Por exemplo a região de Wellesley

mofobia é algo tão enraizado na sociedade que

Village em Toronto, no Canadá, onde a rua prin-

acontece desde a maneira na qual um LGBT é

cipal, Church Street, é repleta de elementos visu-

apresentado a alguém, seu comportamento é

ais e equipamentos públicos de apoio a causa.

identificado como um crime contra a natureza, pecado, algo abominável, doença. De uma maneira

Invisibilidade: Falta de investimento em equi-

como se a identidade, caráter de uma pessoa se

pamentos

resumisse unicamente a orientação sexual dela.

ços voltados para a comunidade LGBTQIAP+.

que

atendam

e

ofereçam

servi-

“A identificação de um sujeito como gay leva ao apagamento de sentidos que não os relaciona-

Segurança pública precária: Faz com que grupos

dos à sua sexualidade, inscrevendo-o e signifi-

minoritários, como os LGBTQIAP+ estejam mais sus-

cando-o unicamente a partir dessa sexualidade.”

cetíveis a sofrer com a violência urbana e homofobia. 27


lgbt qiap


t p

o que significa cada uma das letras? A sigla já passou por diversas transformações até chegar em LGBTQIAP+. Com o passar dos anos a causa conquistou mais espaço e atualmente é muito mais divulgada e falada do que anos atrás. Com esse avanço vieram novos estudos e surgiram novas classificações, sendo essas mais plurais. Esse estudo e novas classificações são fundamentais para que a gente consiga entender os comportamentos sociais. É muito importante que essas classificações existam para denominar cada um desses grupos minoritários, pois a partir do momento em que os diversos grupos são reconhecidos e classificados, a causa adquire sentido, sendo possível para o Estado a criação de políticas públicas para essas minorias, sendo assim, todas as letras são importantes. No Brasil a sigla começou nos anos 90 como GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) onde os simpatizantes eram aqueles que davam apoio a causa. Depois a sigla se transformou em GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transexuais). Mais tarde com o objetivo de dar mais protagonismo as mulheres, a sigla se transformou em LGBT e atualmente é LGBTQIAP+. Existem

pontos im-

portantes para o entendimento das letras, mostrados no glossário do gênero, na página seguinte. 29


glossário de gêneros identidade de gênero maneira como você se enxerga

cisgênero

transgênero -transexual -travesti -não binário -outros

orientação sexual por quem você sente atração

bi

hétero

assexual

pan

homo

sexo biológico como você nasceu

intersexo

cisgênero

transgênero

expressão de gênero como você demonstra seu gênero {baseado nos papéis tradicionais}

andrógeno

Nexo Jornal (2016)

30

feminino

masculino


Mulher

Lésbica: jo

sexual

e

afetivo

Gay:

Homem

jo

e

sexual

com por

mulher.

com

afetivo

por

Pessoa

Bissexual:

outra

dese-

outro

desehomem.

com

dese-

jo sexual e afetivo por ambos os gêneros. Transgêneros: Na antiga sigla o T significava transexuais, atualmente significa transgêneros, é um termo “guarda-chuva” pois o mesmo abraça muitas identidades de gênero (entre eles transexuais, travesti, drag, crossdresser, não binário, etc.). Vai

Queer:

além

de

uma

denomina-

ção de gênero, é um movimento que vai contra

toda

Intersexual:

a

hetero-cisnormatividade.

Pessoas

com

características

fí-

sicas e cromossômicas do macho e da fêmea. Antes eram chamadas de hermafroditas, porém esse termo não é mais utilizado. Assexual: xual dem

por ou

Pessoas outras não

sem

pessoas, ter

interesse porém

interesse

que

sepo-

romântico.

Pansexual: Pessoas com qual o desejo aponta

para

todas

as

identidades

possíveis.

+: Tudo que existe mas que ainda não conhecemos. Um termo em aberto para receber novas coisas.

31


32 o termo “homossexualidade foi usado pela primeira vez pelo médico húngaro karoly maria benkert

1869

o homossexualismo deixou de ser tratado como doença pela associação americana de psiquiatria.

1969

1974

rebelião histórica em nova york em favor dos direitos LGBT+. resultou no dia do orgulho LGBTQIA+.

1894

com a consolidação das religiões, estabeleceu-se que qualquer relação sexual sem intuito de procriação deveria ser condenada. O homossexualismo era proibido

idade média

homossexualidade referida pela primeira vez no brasil pelo professor francisco j. v. de castro

homossexualidade tratada com normalidade e vista como necessária para a iniciação da vida sexual dos jovens

idade antiga

linha do temp


inauguração da casa nem, no rio de janeiro, casa de acolhimento de LGBTQIAP+ em situação de rua

2015

inaugurado em são paulo o primeiro alberge exclusivo para gays e mulheres transsexuais em situação de rua.

2013

acontece a primeira parada do orgulho LGBT em são paulo.

1993

2016

inaugurado o centro de cidadania lgbti luiz carlos ruas, em são paulo

2014

o casamento LGBTQIA+ é legalizado no brasil e houve o início do plano de metas da prefeitura de são paulo para combater a homofobia.

1997

oms define que homossexualidade é algo inerente à sexualidade humana, tal como o heterossexualidade.

po

Ana Terlechi (2019)

33


34 ministra da mulher, família e direitos humanos inicia seu mandato com a fala “menino veste azul, menina veste rosa”

policial militar gay é proibido de pedir seu namorado em casamento usando sua farda.

bolsonaro barra financiamento da ancine para filmes com temática LGBTQIAP+

junho

agosto

início governo bolsonaro

janeiro

2019

linha do temp


festivais culturais quase não saem do papel por falta de apoio financeiro do governo (principalmente os ligados às causa LGBTQIAP+)

novembro

governo suspende exames de hiv, aids e hepatites virais no sus

filho do presidente usa camisa que ironiza sigla LGBT+

outubro

2020

livros com temática LGBTQIA+ são cortados da bienal

setembro

po

Pontei (2019) Estadão (2020)

35



A Ăşnica foto conhecida da primeira noite das rebeliĂľes de Stonewall, em 1969 Hypeness (2017)


anรกl do t


lise terr O projeto se localiza na Área de Planejamento 1 da

cidade, na região do Centro, os terrenos escolhidos para a intervenção se tratam de cinco vazios urba-

nos no entorno da Praça Tiradentes, região que já foi muito rica culturalmente falando mas que nos dias atuais sofre com a violência pela falta de um bom planejamento urbano e equipamentos públicos que atraiam as pessoas a ocuparem as ruas em diversos momentos do dia, em diversos dias da semana. A

Praça

Tiradentes

neste

projeto

funciona

como um eixo de conexão entre todas as intervenções feitas devido a sua localização no centro

entre

todos

os

vazios

selecionados. 39


Segundo Gonçalves, Braida e Filho (2018) a praça com passar dos séculos passou por diversas intervenções, sendo as principais delas nos anos de 1903, 1928 e 1950. A primeira mudança aconteceu durante o governo de Pereira Passos onde novos ideais de higiene e circulação estavam transformando a cidade. Em 1928, remodelada e inspirada em jardins franceses, a praça ganha um potencial de espaço de uso cultural e em 1950 a praça é reformada mais uma vez, dessa vez seguindo conceitos modernistas, se priorizando o espaço livre para circulação. “Após uma estagnação, em 1996, a praça passou por uma reforma com o intuito de preservá-la. Outras ações de preservação foram implementadas no final do século XX, como exemplo o Corredor Cultural, de 1984, que definiu a Zona Especial do centro histórico do Rio de Janeiro, incluindo a praça Tiradentes e seu entorno. Por fim, nas considerações finais, reflete-se sobre a importância do século XX e suas práticas urbanísticas para a consolidação da forma da cidade do Rio de Janeiro, com enfoque na praça Tiradentes. (2018, p.03)

A

instalação

de

equipamentos

socioculturais

com essa abordagem de apoio a causa no entorno da Praça Tiradentes funcionaria como uma maneira de transformar essa região do centro do Rio em uma área LGBTQIAP+ friendly. O projeto por ter um teor social que acolhe os LGBTQIAP+ em situação de vulnerabilidade, faz com que a comunidade se sinta acolhida e abraçada no meio do caos do centro de uma cidade grande. E por contar com equipamentos de estimulo a cultura, estaria trazendo de volta o potencial cultural e artístico que aquela localização um dia já teve e perdeu com o tempo.

40


esquema gráfico indicando algumas intervenções ocorridas na praça tiradentes ao longo do século XX.

Gonçalves, Braida e Filho (2018)

41


cartografia


Visando um melhor estudo da área de intervenção, um

raio

partindo

foram

elaborados

de

aproximadamente

do

centro

da

mapas

Praça

600

com

metros

Tiradentes.


uso predominante do solo

N

misto comercial praรงa tiradentes institucional campo

0

Elaborado pelo Autor

44

50 100

200

600

1200


hierarquia viรกria

N

praรงa tiradentes e terrenos via arterial via coletora via local

0

50 100

200

600

1200

Elaborado pelo Autor

45


transporte público

ur

pv

ce

ca

N

terrenos ponto de vlt ponto de ônibus ce

estação de metrô central

pv

estação de metrô presidente vargas

ur estação de metrô uruguaiana ca estação da metro carioca

0

Elaborado pelo Autor

46

50 100

200

600

1200


equipamento urbano | cultural

b ec

b b

ec

t m

m

t

ec

t

t

ec

ec

m ec

ec

t

N

terrenos t

teatro

es

espaรงo cultural

o

biblioteca

m

museu

0

50 100

200

600

1200

Elaborado pelo Autor

47


equipamento urbano | educação

es es e

o

o

o es

o

o

e

o o es

o

o o

o

es es

ur e o e

N

terrenos e

escola (primeiro grau)

es

ensino superior

o

outros

0

Elaborado pelo Autor

48

50 100

200

600

1200


equipamento urbano | saĂşde

N

terrenos unidades de saĂşde diversas

0

50 100

200

600

1200

Elaborado pelo Autor

49


adio lavr ru

o ad

N

cruzamento de pedestres

N

faixa de pedestre Elaborado pelo Autor

50

ente

tirad

s

im jard silva a u r

t era mp i ru a

ntes tirade praça co

bran

nd isco

rua v

ro etemb

te de s rua se

dentes

a praç

tro

tea

ru

tira praça

rua pedro i.

rio e do

o ad

s ente tirad a ç pra

eop riz l

o rua gonçalves léd

rua re

freij gente

ó

o branc do rio e d n o c rua vis

os ass ap d i n ave

oldi

na

logradouros

da rua

oca

cari


sentido de fluxo

N

mancha vegetal

N

Elaborado pelo Autor

51


setorização e percurso

centro de esporte e lazer

centro de saúde

espaço cultural

centro de apoio

N

percurso entre equipamentos socioculturais

Elaborado pelo Autor

52

casa de acolhimento


53


legislação, programa de necessidades e fluxograma


s a


espaço cultural logradouro: praça tiradentes, nº 75 e 77, centro, rio de janeiro ra / rp: ii / i aei: urbanístico - ii ra - centro decreto 12409/1993, lei 2236/1994 iat: 15,0 - lei complementar 111/2011 gabarito: 15 metros pavimentos: 3 área: 220,01m² potencial construtivo: 660,02m² proteção: corredor cultural uso atual: vazio estado de conservação: ruína

56


descrição

programa de necessidades

criar | mostrar | apreciar

recepção café área de convivência circulação administração banho/vestiário funcionários copa banho/ vestiário social almoxarifado depósito salas de dança ateliê de arte salas de exposição cinema aberto

ambiente para exibição de artes feitas por lgbts. além disso oferece aulas de dança, oficinas de artes e contém um cinema aberto para exibição de filmes.

fluxograma ateliê

cine aberto

salas de dança

exposições

sanitários recepção circulação

área de convivência

setor administrativo

almoxarifado

copa

depósito

café

sanitários

acesso fluxo acesso público fluxo acesso restrito

57


casa de acolhimento logradouro: rua da carioca, nº 77, centro, rio de janeiro ra / rp: ii / i aei: urbanístico - ii ra - centro decreto 12409/1993, lei 2236/1994 iat: 15,0 - lei complementar 111/2011 gabarito: 15 metros pavimentos: 3 área: 325m² potencial construtivo: 975m² proteção: corredor cultural e apac uso atual: estacionamento estado de conservação: lote vazio

58


descrição

programa de necessidades

acolher | cuidar | amar

área de convivência circulação sala de estar sala de tv suítes coletivas banheiros sociais lavanderia cozinha refeitório despensa administração sala de reuniões quarto funcionários

lar para os lgbtqia+ em situação de vulnerabilidade social.

fluxograma sala de estar

área de convivência

sala de tv circulação

área de funcionários

cozinha

refeitório

despensa

lavanderia

administração

sanitário

sala de reunião

suítes

acesso fluxo acesso público fluxo acesso restrito

59


centro de saúde mental e sexual logradouro: praça tiradentes, nº 83, centro, rio de janeiro ra / rp: ii / i aei: urbanístico - ii ra - centro decreto 12409/1993, lei 2236/1994 iat: 15,0 - lei complementar 111/2011 gabarito: 15 metros pavimentos: 3 área: 205,85m² potencial construtivo: 617,55m² proteção: corredor cultural uso atual: vazio estado de conservação: regular

60


programa de necessidades

descrição tratar | revigorar | apoiar

recepção triagem circulação sala de espera depósito banheiros salas de terapia salas de coleta laboratórios de exames sala de resultados exame farmácia administração banheiro de funcionários sala de reunião sala de descarte de materiais

tratamento da saúde mental e sexual. sessões de terapia e exames de ist’s são realizados no local.

fluxograma farmácia

sala de descarte

recepção

triagem

terapia

circulação

administração

sala de coleta

sanitário

sala de reunião

laboratório de exames

sala de resultados

sanitário

depósito

acesso fluxo acesso público fluxo acesso restrito

61


centro de apoio logradouro: rua do lavradio, nº 2, 4, 6 e 8, centro, rio de janeiro ra / rp: ii / i aei: urbanístico - ii ra - centro decreto 12409/1993, lei 2236/1994 iat: 15,0 - lei complementar 111/2011 gabarito: 15 metros pavimentos: 3 área: 214.74m² potencial construtivo: 644,22m² proteção: corredor cultural e apac uso atual: vazio estado de conservação: lote vazio

62


descrição

programa de necessidades

motivar | produzir | conquistar

recepção administração banheiro funcionários depósito almoxarifado copa lanchonete área de convivência circulação sala de estudo coworking salas para workshop informática banheiro social

lugar de incentivo ao estudo e trabalho. ambiente com salas de workshops, coworking e informática.

fluxograma

informática

sala de estudo

sanitários

espaço coworking

copa

salas workshop

setor administrativo

sanitários

depósito

circulação

almoxarifado

área de convivência

recepção

sanitários

lanchonete

acesso fluxo acesso público fluxo acesso restrito

63


centro de esporte e lazer logradouro: rua sete de setembro, nº 200 e 202, centro, rio de janeiro ra / rp: ii / i aei: urbanístico - ii ra - centro decreto 12409/1993, lei 2236/1994 iat: 15,0 - lei complementar 111/2011 gabarito: 15 metros pavimentos: 3 área: 405m² potencial construtivo: 1215m² proteção: corredor cultural e apac uso atual: estacionamento estado de conservação: lote vazio

64


descrição

programa de necessidades

exercitar | socializar | relaxar

recepção administração depósito banheiro funcionários copa café e lanchonete área de convivência circulação banheiros/vestiários sala de yoga sala de luta quadra poliesportiva academia praça elevada área com piscina

lugar que buscar a socialização das pessoas através de atividades físicas e de lazer.

fluxograma sala de yoga

salas de luta

quadra poliesportiva

piscina

praça elevada

sanitários

circulação

academia

área de convivência

sanitários setor administrativo

café e lanchonete

recepção

copa

depósito

acesso fluxo acesso público fluxo acesso restrito

65


conc to e


cei pa 67


conceito: Conexão: ainda que seja uma intervenção fragmentada em 5 diferentes vazios, é importante que esses equipamentos socioculturais se conectem. Representatividade:

que

fique

claro

para

todos que passem por ali que aquela região é um território conquistado e que homenageia

68

toda

comunidade

LGBTQIAP+.


partido: Uma são

vez

que

conexão

os e

conceitos

deste

representatividade,

trabalho o

proje-

to busca uma leitura que uniformize-o e identifique-o como fazendo de uma mesma ação. Isso é possível através do urbanismo, com a proposta de novos mobiliários urbanos e elementos visuais como por exemplo: placas informativas e de apoio a causa LGBTQIAP+ em postes e totens urbanos. E da arquitetura, com uma sintonia nas materialidades escolhidas durante o desenvolvimento do projeto. Desta forma, as intervenções, ainda que separadas, estarão conectadas, de uma maneira onde todo aquele entorno e a Praça Tiradentes se torne uma área de representatividade ao movimento LGBTQIAP+.

Praça Tiradentes funcionando como um eixo de conexão entre os 5 equipamentos socioculturais.

69


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cao/2020/08/24/casa-nem-rio-de-janeiro-reintegracao-posse-imovel.htm>. Acesso em: 02/10/2020 71


love wins.

72



Projeto Integrador I Universidade Veiga de Almeida | 2020.2 Igor Brito


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