Nem o céu é o limite

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US$ 323 US$ 264

ECONOMIA ESPACIAL

FATURAMENTO DO MERCADO GLOBAL

DIVISÃO DE RECEITAS

(EM BILHÕES)

2010

76%

24%

67% Infraestrutura e suporte1

33%

Órgãos públicos

Empresas privadas

Produtos e serviços finais2

2015

(1) PEÇAS, MÓDULOS E COMPONENTES TECNOLÓGICOS (2) FOGUETES, SATÉLITES, ETC

R$ 1 bi ao ano é quanto o setor movimentou no Brasil, em média, nos últimos cinco anos

FONTE: Space Foundation/The Space Report 2015

INOVAÇÃO

NEM O CÉU É O LIMITE

AO INFINITO E ALÉM Conheça três startups americanas e três brasileiras que inovam neste mercado

Uma indústria inteira está sendo construída para explorar as novas oportunidades do setor espacial

FINAL FRONTIER DESIGN (Nova York, Estados Unidos)

Igor dos Santos

O negócio da empresa é fabricar trajes especiais para astronautas. A startup começou a sair do papel em 2009, quando o designer Ted Southern e o sócio Nikolay Moiseev, um engenheiro russo, ganharam US$ 100 mil num concurso da Nasa que premia os melhores desenvolvedores de luvas espaciais. O objetivo é chegar a um custo de US$ 80 mil por peça, contra os US$ 180 mil dos atuais modelos utilizados pela agência. Como pouquíssimas pessoas vão para o espaço, Southern diversificou seus negócios para a Terra. Entre as “peças terrestres” em fase de testes, estão uma calça antigravidade, que ajuda na circulação do sangue, e jaquetas impermeáveis extremamente leves e dobráveis.

PLANETARY RESOURCES (Redmond, Estados Unidos) Em busca de diminuir o custo das viagens — a Nasa gasta cerca de US$ 100 mil para cada quilo levado ao espaço —, o americano Chris Lewicki fundou, em 2009, uma empresa que se propõe a minerar asteroides próximos da Terra em busca de metais preciosos. Potencialmente, os asteroides carregam recursos valiosos, incluindo platina, silicone, níquel e água, que podem ser fracionados em hidrogênio e oxigênio para produzir combustível de foguetes e aeronaves. Ou seja, os asteroides poderiam ser usados como áreas de reabastecimento no espaço. A mineração espacial está prevista para a próxima década. Enquanto isso, a empresa começou a enviar minissatélites para observar os asteroides. No total, já recebeu US$ 20 milhões em aportes.

NANOLABS (Webster, Estados Unidos) Funciona como uma espécie de Correios espacial. A equipe da empresa (fundada em 2009 por Jeffrey Manber) é responsável por preparar a carga a ser levada à Estação Espacial Internacional, de acordo com as normas de segurança vigentes, além de cuidar da complexa logística de entrega. O negócio já levou mais de 350 pequenas encomendas para o espaço. Entre os seus clientes, estão corporações como a Nasa, a Agência Espacial Europeia e a Virgin Galactic. Cada envio custa entre US$ 30 mil e US$ 60 mil. Além de despachar os “pacotes”, a empresa fabrica módulos de baixo custo para armazenar essas cargas. A estimativa é que a Nanolabs tenha faturado em torno de US$ 5 milhões em 2016.

SPACEMETA (Petrópolis, Rio de Janeiro)

Uma nova geração de empresas está ajudando a dinamizar o setor espacial. O movimento começou em 2009, com o surgimento da americana SpaceX, de Elon Musk, que provou a possibilidade de criar uma empresa robusta — e privada — na área, apesar dos altos riscos envolvidos e do longo tempo para obter o retorno do investimento. “A SpaceX foi a primeira empresa de grande porte a abrir os valores da operação, o que deu combustível para a criação de dezenas de novos modelos de negócios nos últimos anos”, diz Oswaldo Loureda, fundador da Acrux, que desenvolve tecnologias aeroespaciais. Em 2016, US$ 2,8 bilhões foram investidos em startups espaciais, segundo Chad Anderson, CEO da rede de investidores Space Angels Network (leia mais na pág. 36). No Brasil, o setor ainda é muito dependente do governo. A maioria

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FEVEREIRO, 2017

Fabricar e fazer pousar um módulo robótico na superfície lunar. Além disso, o veículo deve se locomover por pelo menos 500 metros. Mais: transmitir toda essa façanha ao vivo e em alta definição para a Terra. Esse é o desafio do Google Lunar XPrize (GLXP), iniciativa que vai premiar com US$ 30 milhões a primeira startup que conseguir o feito até o fim deste ano. A brasileira SpaceMeta, criada pelo engenheiro Sergio Cabral Cavalcanti, 50 anos, em 2007, é uma das 16 empresas que estão na briga pelo prêmio. Por enquanto, o negócio sobrevive de doações e aportes de investidores, como a fabricante de chips Intel. Até 2020, a empresa quer fazer cem lançamentos por ano para a Lua, financiados por empresas de telecomunicações, agrícolas e de defesa.

das empresas apenas dá suporte ao Programa Espacial Brasileiro. “Temos grandes polos de estudo e mão de obra qualificada, mas faltam uma legislação e mais investimentos”, afirma Ronaldo Matos, do Grupo de Foguetes, laboratório ligado a Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Atualmente, há duas instituições que investem na área: o Fundo Aeroespacial (corporate venture da Embraer em parceria com BNDES e Finep) e o Desenvolve SP, que pretende aplicar até R$ 130 milhões neste ano. Se depender dos estudantes, o setor terá um futuro promissor. A aluna de engenharia aeroespacial Fernanda Pimenta, 21 anos, faz parte da Zenit Aerospace, uma empresa júnior de alunos da Universidade de Brasília, que fabrica lentes para telescópios e presta consultoria na área. “Em breve, quero abrir meu negócio”, diz Fernanda.

ORBITAL ENGENHARIA (São José dos Campos, São Paulo) Fundada em 2011 pelo engenheiro Célio Vaz, a empresa fabrica painéis solares espaciais e materiais para foguetes, como baterias, estruturas de integração e sistema de alimentação de motor a propulsão líquida. Os principais clientes são a Agência Espacial Brasileira, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Instituto de Aeronáutica e Espaço, universidades e centros de pesquisa. A Orbital chegou a faturar R$ 2 milhões em 2010, mas enfrentou uma queda de 40% nos últimos três anos. Para não depender exclusivamente de órgãos públicos, Vaz está usando seus conhecimentos espaciais para investir, pela primeira vez, em energia solar terrestre. A iniciativa deve gerar uma nova unidade de negócios para a Orbital.

OPTO (São Carlos, São Paulo) Fabricar câmeras espaciais para mapeamento e monitoramento é o que faz o braço aeroespacial da Opto. A empresa fundada pelo engenheiro Mario Stefani, 56 anos, já construiu câmeras para a série CBERS, satélites brasileiros em parceria com a China, e o Amazônia-1 (com lançamento previsto para 2019). Praticamente todas as instituições ligadas ao meio ambiente e recursos naturais do país utilizam imagens geradas por nossas câmeras”, diz Stefani. Em 2010, a operação aeroespacial movimentou R$ 60 milhões e, no ano passado, apenas R$ 4 milhões. São os outros negócios da Opto que garantem o equilíbrio do fluxo de caixa. “Também atuamos no setor médico, fabricando lasers oftalmológicos e lentes antirreflexo”, diz Stefani.

ILUSTRAÇÃO: TULIO CARAPIA

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