QUERO SABER GESTÃO
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GABRIEL E MARCELO
GEHRKE
Como governar em família?
MARMOGRAN
— Novo Hamburgo (RS) Peças de acabamento de mármore e granito
Há quase 70 anos, a Marmogran,
Os gaúchos Gabriel e Marcelo Gehrke querem criar um fórum de discussão na empresa da família — a fabricante de acabamentos de mármore e granito Marmogran — para evitar que questões privadas interfiram nos negócios. Veja como fazer IGOR DOS SANTOS
FORMATO. O objetivo de um fó-
rum de discussão é ajudar os gestores a tomar decisões que considerem a opinião de parentes que também são sócios, mas não estão no dia a dia dos negócios. A estrutura não deve ser inchada a ponto de engessar as reuniões. Geralmente, quem participa do fórum são os acionistas. Herdeiros têm presença opcional. Para não lotar demais os encontros, reco70 | Exame PME | Fevereiro 2015
menda-se que o cônjuge do dono fique de fora. “Antes da reunião, os sócios devem discutir as pautas em casa e levar a posição de seu núcleo familiar ao fórum”, diz Márcia Setti Phebo, do escritório PLKC Advogados. Atenção Membros da família que não são herdeiros podem ser convidados a participar de reuniões esporádicas — desde que possam contribuir de alguma maneira. O mari-
do de uma herdeira que é advogado pode tirar dúvidas sobre o contrato societário, por exemplo. “Os convidados especiais devem ser chamados quando for preciso entender um assunto mais específico”, afirma Márcia.
FUNCIONAMENTO. No co-
meço de cada ano, um cronograma de reuniões deve ser definido. “O ideal é que os encontros sejam trimestrais”, diz Marta Viegas, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Para tornar o fórum mais produtivo, os membros podem ser divididos em comitês com tarefas claras, como organizar as pautas, definir o local da reunião ou convidar gente de fora. Atenção É recomendado que as reuniões sejam feitas fora da empresa. Os membros podem se juntar na casa de alguém e até organizar uma reunião festiva. “Não há problema se o encontro for informal. Mas os sócios devem reservar um período para uma reunião de tom mais sério”, diz Geovana Donella, da consultoria Donella & Partners.
TAMIRES KOPP/TERRAMAR
O
administrador Gabriel Gehrke, de 34 anos, e seu irmão Marcelo, de 28, lidam todo dia com uma questão comum a diversas empresas familiares. Como evitar que assuntos privados interfiram na gestão? Os dois comandam juntos a Marmogran, fabricante gaúcha de acabamentos de mármore e granito, e também uma loja de decoração. “Há parentes que são sócios e não estão na gestão, mas que também opinam vez ou outra”, diz Gabriel. Os irmãos acreditam que criar uma espécie de fórum em que as discussões sejam mais organizadas pode ajudar a melhorar a governança. Exame PME ouviu especialistas para mostrar o passo a passo.
fábrica de acabamento de mármore e granito, está sob os cuidados da família Gehrke, de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. Hoje os negócios são geridos pelo empreendedor Gabriel Gehrke, de 34 anos, bisneto do fundador. Vários parentes são sócios do negócio — mas nem todos fazem parte da gestão. Entre os envolvidos no dia a dia está Marcelo, de 28 anos, irmão de Gabriel. Em 2011, eles criaram uma loja para vender peças decorativas. “É complexo assim mesmo”, diz Gabriel. Em 2014, as empresas faturaram juntas 4,2 milhões de reais — 12% mais do que em 2013. A expansão trouxe uma preocupação. “Não queremos que a relação familiar interfira nos negócios”, diz Marcelo. Para melhorar a governança, os irmãos pediram ajuda a Exame PME.
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REGRAS. Os comitês criados para
organizar o funcionamento das reuniões podem substituir uma diretoria formal. Como o fórum não tem poder deliberativo, é aconselhável que não haja hierarquia entre os participantes. No momento da criação do fórum, algumas diretrizes precisam ser definidas. Os especialistas aconselham criar um regimento com procedimentos simples, como os requisitos para participar do fórum e as regras para substituição de participantes. Atenção Entre as diretrizes previstas no regimento pode estar uma espécie de manual de conduta. “Hoje em dia é importante criar recomendações de como os sócios devem se comportar nas redes sociais, por exemplo”, diz Marta, do IBGC. “O manual de conduta não serve para punir ninguém, mas funciona como sugestão de como se comportar.”
O QUE APRENDI
BULLA JR.
ASSUNTOS. Uma reunião deve ser
MATHEUS STADLER GÓIS Hydronorth — Cambé (PR) Tintas e resinas
“Eles ouvem minhas angústias”
O paranaense Matheus Stadler Góis, de 36 anos, instituiu há três anos encontros familiares para conversar sobre a empresa fundada por seu pai, a fabricante de tintas e resinas Hydronorth. “Discutimos a evolução do negócio e também questões sobre o patrimônio”, afirma Góis. A cada seis meses, o irmão de Matheus, que vive em Londres, vem ao Brasil para participar das reuniões. “Apesar de não trabalhar na empresa, ele se interessa por nosso desempenho”, diz Góis. Além do irmão, participam dos encontros os pais e a esposa de Matheus. “Esse espaço é uma oportunidade para que eu reflita sobre o futuro da empresa como um membro da família, e não só como gestor”, afirma Góis.
dividida em pelo menos três partes. A primeira é para repassar informações. Nessa hora, os gestores prestam contas aos que não participam da operação. A segunda parte é a de tomada de decisões, quando as opiniões dos sócios sobre temas de interesse geral são expostas e chega-se a um consenso sobre o melhor caminho a seguir. A terceira parte é para falar sobre assuntos que precisam de reflexão e serão retomados na próxima reunião (exemplo: em que a empresa deve aplicar a parte dos lucros a ser reinvestida?) Atenção Manda o bom senso que a prestação de contas não se atenha às minúcias da operação. Não é hora de mostrar, por exemplo, que os reembolsos de táxi aumentaram. “Uma explanação geral sobre a evolução das receitas e despesas no período é suficiente”, diz Mauro Johashi, da consultoria BDO.
FUTURO. O fórum familiar tam-
bém pode ajudar na preparação para a sucessão. Um dos comitês pode ficar responsável por programar atividades — como visitas guiadas a empresas e reuniões com orientadores vocacionais — para os candidatos a ocupar cargos executivos no futuro. Atenção Um modo de evitar favoritismos é estipular a formação acadêmica mínima para que alguém assuma uma posição na empresa. “Apenas a experiência deve pesar na hora da escolha”, diz Johashi, da BDO. n
Empreendedores interessados em ter suas dúvidas de gestão e o perfil de suas empresas publicadas em Exame PME devem curtir a página do movimento Sou Empreendedor — www.facebook.com/examepmesouempreendedor. O critério de seleção é de responsabilidade de Exame PME
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