NAMORO Tempo ou Passatempo?
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Italo J. P. Fasanella
NAMORO Tempo ou Passatempo? 4ª edição São Paulo 2017
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Edições Fons Sapientiae um selo da Distribuidora Loyola
Direitos:
Copyright 2016 – Italo J. P. Fasanella Copyright 2017 – Distribuidora Loyola de Livros Ltda
Título:
Namoro: tempo ou passatempo?
ISBN:
978-85-63042-46-0
Fundador:
Jair Canizela (1941-2016)
Diretor Geral:
Vitor Tavares
Revisão:
Karina Mota
Diagramação e Capa:
Diego de Castro
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Fasanella, Italo J. P. Namoro : tempo ou passatempo? / Italo J. P. Fasanella. -- 4. ed. -- São Paulo : Distribuidora Loyola de Livros, 2017. Bibliografia ISBN: 978-85-63042-46-0 1. Casais - Relacionamento 2. Casamento - Aspectos religiosos 3. Família 4. Namoro - Aspectos religiosos - Cristianismo 5. Relações interpessoais I. Título. 17-03810
CDD-248.83
Índices para catálogo sistemático:
1. Namoro : Aspectos religiosos : Cristianismo 248.83
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SUMÁRIO PREFÁCIO............................................................................................................7 INTRODUÇÃO.....................................................................................................9 O VERDADEIRO AMOR..................................................................................13 SEXUALIDADE..................................................................................................17 DESORDEM SEXUAL.....................................................................................25 O QUE É NAMORO?.......................................................................................31 NAMORAR OU FICAR?..................................................................................35 QUANDO NAMORAR?....................................................................................41 COMO NAMORAR............................................................................................47 É BOM SE DECEPCIONAR...........................................................................57 O ESPÍRITO SANTO VEM EM AUXÍLIO À NOSSA FRAQUEZA........61 NAMORAR, NAMORAR… COM QUEM CASAR?....................................65 ESTAIS DISPOSTOS?.....................................................................................69 ORAÇÃO DOS NAMORADOS E NOIVOS..................................................85 ANEXO: MÉTODO DE PLANEJAMENTO NATURAL DA FAMÍLIA....87 O AUTOR............................................................................................................91
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PREFÁCIO
É possível aprender a namorar! Não se trata apenas de um impulso da natureza, mas de uma aventura extraordinária, feita de diálogo, uma estrada feita a dois em que se desfruta da maravilha que é a presença de Jesus, que assegurou estar presente entre aqueles que se reúnem em seu nome! Você tem nas mãos o trabalho de Italo J. P. Fasanella, fruto de sua experiência de casamento e do carisma que o Senhor lhe concedeu na Comunidade Católica Sagrada Família. Aproveite, porque Deus lhe envia este livro! Não é por acaso que este trabalho cai em suas mãos. Nesta ocasião, quero enviar ao Italo, à sua família e à Comunidade Sagrada Família meu abraço e minha bênção, com grande alegria. Que as sementes agora lançadas possam fru-
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tificar em santidade e vida para tantos casais de namorados, para o futuro de nossas famílias! Dom Alberto Taveira Corrêa Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
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INTRODUÇÃO Meu filho, aceita a instrução desde teus jovens anos; ganharás uma sabedoria que durará até a velhice (Eclesiástico 6, 18).
Vejo com tristeza e preocupação algo que vem acontecendo com cada vez mais frequência e com um número assustadoramente crescente de crianças, adolescentes e jovens: a falta de verdadeiros valores capazes de alicerçar famílias novas e de formar a sociedade sobre bases sólidas de verdadeira compreensão do sentido da vida, dom do Criador, que nos foi dada para ser bem usada, tornando-a fonte de amor que deve jorrar para a vida eterna com Deus. Sendo missão e carisma da Comunidade Sagrada Família, da qual sou fundador, “evangelizar e resgatar a família”, não poderia deixar de abordar um tema tão oportuno e importante como o namoro, pois, de certa forma, podemos afirmar que a família “se configura” no namoro. A família vem de um namoro que deu certo!
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Nesse sentido, pretendo levar o leitor a uma reflexão crítica, séria e transparente acerca da verdade contida na Sagrada Escritura e no Magistério da Igreja a respeito dessa fase da vida, pois dela depende quase toda a harmonia, equilíbrio e santidade da futura vida familiar. Não é verdade que muitos e muitos casamentos desfeitos, famílias desmoronadas tiveram as raízes dessas rupturas em um namoro mal vivido? Eu diria até um “namoro enfermo”, que gerou “famílias enfermas” e “deformadas”. Ou então, famílias que foram formadas sem namoro! Que, por sua vez, formam pessoas enfermas, que têm relacionamentos enfermos e que geram novas famílias enfermas. O papa São João Paulo II – papa da Família, como quis ser recordado –, em 1985 – ano internacional da juventude –, escreveu a carta Aos jovens e às jovens do mundo: uma luz para os desafios de suas vidas, inclusive os do nosso tempo. A reflexão do papa nessa carta se baseou na parábola do jovem rico do evangelho (cf. Marcos 10, 17-22): À pergunta: “Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?”, Jesus responde logo com a pergunta: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus”. Depois continua dizendo: “Tu conheces os mandamentos: não matar, não cometer adultério, não roubar, não levantar falso testemunho, não defraudar alguém, honra teu pai e tua mãe”. Com estas palavras, Jesus recorda ao seu interlocutor alguns dos mandamentos do Decálogo. Mas a conversa não acaba aqui.
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O jovem, efetivamente, afirma: “Mestre, tudo isso observei desde a minha juventude”. “Então” – escreve o evangelista –, “Jesus fitou-o com amor e disse-lhe: ‘Uma coisa te falta: vai, vende o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me”. A partir daí muda o clima do encontro. O evangelista escreve que o jovem “se entristeceu com aquelas palavras e, pesaroso, afastou-se, pois tinha muitos bens” (Aos jovens e às jovens do mundo, 2).
O que dizer destas palavras do papa e do evangelho dirigidas aos jovens? Aquele jovem “se entristeceu com aquelas palavras e, pesaroso, afastou-se, pois tinha muitos bens”. Tantos se afastam ou querem se afastar quando Jesus os coloca em confronto com a verdade. Uma parte considerável da juventude de hoje, infelizmente, possui “muitos bens”, ou seja, muitos outros valores que não comportam o verdadeiro valor, o verdadeiro bem supremo; isso torna incompatível para alguém que adota aqueles valores a adoção deste valor. É preciso decidir. É preciso escolher. Quantos querem seguir a Jesus e seus mandamentos, mas se entristecem por terem de fazer algumas renúncias e deixar de lado outras coisas. Mas essa não é uma escolha em que se perde! O Senhor nunca nos propõe algo para nosso prejuízo. É como aquela parábola de Jesus sobre o homem que encontrou uma pérola preciosa e que, para adquiri-la, vende tudo o que possui (cf. Mt 13, 45-46), ou seja: ele adquiriu um bem maior, pois os outros bens que tinha já não lhe faziam falta, ou até não faziam mais sentido para ele. Seu suposto valor ficou relativizado.
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Aquele que está em Cristo e com Cristo já não sente falta das coisas que julgava ter valor, porque possui o bem maior. “Jesus fitou-o com amor”. É isso que hoje Ele faz com você: olha profundamente para o mais íntimo de seu ser e convida-o(a) para uma vida nova, com novos valores e um novo horizonte. Espero que você, adolescente, jovem, namorado(a), pai, mãe, educador(a), catequista, evangelizador(a), encontre o verdadeiro Bem supremo de sua vida e reparta-o com aqueles que estão à sua procura. Assim, teremos a esperança de ver surgir famílias sadias e bem formadas, e não enfermas ou deformadas, pois saberemos dar resposta à pergunta: “Namoro: tempo ou passatempo?”.
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O VERDADEIRO AMOR “Deus é amor: quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele” (1Jo 4,16). Essas palavras da Primeira Carta de João exprimem, com singular clareza, o centro da fé cristã: a imagem cristã de Deus e também a consequente imagem do homem e de seu caminho… Nós cremos no amor de Deus – desse modo, pode o cristão exprimir a opção fundamental de sua vida. No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, assim, o rumo decisivo… O termo “amor” tornou-se hoje uma das palavras mais usadas, e mesmo abusadas, à qual associamos significados diferentes… Em toda esta gama de significados, porém, o amor entre o homem e a mulher, no qual concorrem indivisivelmente corpo e alma e se abre ao ser humano uma promessa de felicidade que parece irresistível, sobressai como arquétipo de amor por excelência, de tal modo que, comparados com ele, à primeira vista, todos os demais tipos de amor se ofuscam (Carta Encíclica do Papa Bento XVI Deus Caritas Est – Deus é Amor – 25/12/2005).
Quem na vida não anda à procura de seu “grande amor”? Penso que, no decorrer da vida, não basta apenas encontrar
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um “grande amor”. É necessário encontrar o verdadeiro amor! Escolhi esses trechos da encíclica do papa para refletir um pouco sobre esse amor que todos nós buscamos. Fiz questão de destacar algumas frases ou palavras para fazer sobressair aquilo que, no momento, interessa a quem está começando a ler Namoro: tempo ou passatempo. Para quem quer viver um relacionamento fundamentado num amor verdadeiro deve, em primeiro lugar, saber que Deus é a origem desse amor. Não só origem, mas essência, pois a essência de Deus é o próprio amor: “Deus é amor”. Se somos imagem e semelhança de Deus, que é amor, nossos relacionamentos de amor devem refletir essa essência. O amor de Deus é o centro da fé cristã, portanto, ele deve ser, também, o centro do agir ético e moral do cristão. A quem deseja se unir em matrimônio, o caminho, como veremos, é o namoro e o noivado sadios. O matrimônio é uma profunda e importantíssima decisão na vida, e é para a vida toda. Por isso é que essa escolha deve ser muito bem pensada e discernida. Esse discernimento passa por outra decisão na vida, por uma opção fundamental: a opção por Deus. Essa opção só é possível quando há o encontro pessoal com o Senhor. Esse encontro abre novo horizonte e um rumo decisivo. Somente quem fez essa opção fundamental é que tem reais chances de acertar em todas as outras decisões importantes
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de sua vida, pois alicerçará todas elas na rocha viva que é o Senhor, sobre o qual o homem prudente constrói sua existência (cf. Mateus 7, 24-27). Portanto, antes de optar por alguém com quem irá se relacionar o resto de sua vida, opte por Deus com Quem você se relacionará por toda a eternidade. O amor entre o homem e a mulher, como diz Bento XVI, sobressai aos outros amores, mesmo que amores corretos, verdadeiros, honestos e lícitos. Deus quis imprimir o Seu amor no amor humano para que, através desse amor, Ele mesmo também pudesse, dessa maneira, se revelar aos seus. Aí está a beleza do amor que deve ser vivido entre um homem e uma mulher. Um amor verdadeiro, duradouro, respeitoso, atencioso, que sabe sofrer com paciência e resignação, que não tem interesses próprios, que não guarda mágoas ou rancores, que não se vinga. Bem contrário das paixões, que geralmente são descontroladas, por vezes doentias, instáveis, violentas e abrasadoras, pois passam, o amor verdadeiro pode até ser abrasador, mas não passa. A paixão é egoísta, olha sempre para os seus interesses e, quando eles já não são mais saciados, descarta-se o objeto da paixão. A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará (1Coríntios 13, 4-8).
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Espero que, ao ler essas páginas, você inteligentemente decida por esse verdadeiro amor. Com certeza, sua história de amor terá um final feliz. “Viveram felizes para sempre!”.
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SEXUALIDADE É muito importante termos uma noção clara do que seja a sexualidade. O conceito sobre sexualidade que o mundo vive hoje está bastante deformado e um tanto quanto distante daquilo que realmente ele é ou deveria ser, segundo o plano de Deus ao criar o homem e a mulher. Essa deformação é desencadeada principalmente pelo “ataque” maciço que recebemos pelos meios de comunicação, atualmente concentrados nas palmas de nossas mãos. Quando se fala em sexo, há muita distorção, poluição e malícia em nossa mente e em nossos conceitos. Há um emaranhado que nem sempre conseguimos distinguir: sexo, sexualidade, genitalidade, genitalismo, sensualidade, malícia, pornografia etc. Contudo, é necessário que você entenda bem a diferença entre essas coisas para poder formar um conceito claro, purificado, não corrompido e verdadeiro sobre namoro, casamento e família.
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A sexualidade humana é um instinto natural, assim como outros que nós temos, como, por exemplo, sentir sede ou fome. Se bem orientada, a sexualidade nos leva à plenitude do objetivo da existência humana. A palavra sexo => sectum (do latim) => seccionado, dividido. Ou seja, está sempre à procura de complementação. Nós não somos seres assexuados. No ser humano tudo é sexuado (traz a característica do sexo): seus traços, cor de cabelo, olhos, pele, tom de voz, estrutura física etc. A sexualidade humana é um grande dom de Deus dado ao homem e à mulher. “Deus é amor” (1João 4, 8) e somente nesse amor de Deus é que a sexualidade pode e deve ser bem entendida e vivida. Veja o parecer da Igreja expresso pelo Pontifício Conselho para a Família: A sexualidade humana é, portanto, um Bem: parte daquele dom criado que Deus viu ser “muito bom” quando criou a pessoa humana à sua imagem e semelhança e “homem e mulher os criou” (cf. Gênesis 1, 27). Enquanto modalidade de se relacionar e se abrir ao outro, a sexualidade tem como fim intrínseco o amor, mais precisamente o amor como doação e acolhimento, com dar e receber. A relação entre um homem e uma mulher é uma relação de amor: “A sexualidade deve ser orientada, elevada e integrada pelo amor, que é o único a torná-la verdadeiramente humana” (Pontifício Conselho para a Família – Sexualidade humana: verdade e significado, 11).
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Podemos dizer que a genitalidade é o uso dos órgãos genitais, órgãos geradores e reprodutores, masculinos e femininos, dos quais Deus, o Criador, quis lançar mão como Seus auxiliares na geração de Seus filhos. Logicamente, o Criador reservou o exercício dos órgãos genitais para o matrimônio, o “lugar” apropriado e legítimo para que se cumpra o objetivo de tais atos. Com base no que já foi exposto, fica fácil concluir que genitalidade não é sexualidade. É, sim, um elemento da sexualidade. Enquanto a sexualidade envolve todo o ser, o existir e o relacionar-se, a genitalidade envolve uma parte do corpo. Portanto, é perfeitamente viável e lícito viver uma sexualidade sadia sem exercer genitalidade. O grande exemplo que temos dessa vivência é o relacionamento de Maria, a mãe de Jesus, e José, seu esposo e pai adotivo de Jesus. Eles viveram plenamente sua sexualidade sem genitalidade, pois sexualidade comporta: amor, atenção, carinho, respeito, diálogo, fazer o outro feliz, harmonia, perdão, confiança, gratuidade, caridade, fidelidade, sinceridade, paciência, amizade, partilha, escuta, querer estar junto… Mesmo Jesus, em todos os seus relacionamentos, viveu a pura sexualidade sem genitalidade. Temos, então, na Sagrada Família de Nazaré, um grande testemunho e um grande modelo para vivermos plenamente nossa sexualidade. Para os casados, esse exemplo os
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levará a viver de maneira mais intensa e verdadeira também a própria genitalidade. Como ouvi de um médico em uma ocasião: “O sexo está no meio das orelhas e a genitalidade está no meio das pernas”. O genitalismo é doença, distúrbio, desvio de comportamento. Ele reduz a sexualidade apenas ao uso desequilibrado dos órgãos genitais. Deus nos chama a viver uma belíssima existência, uma plena comunhão de amor com Ele e com toda a criação. Essa comunhão é tão grande que São Paulo diz que somos templos em que habita o Espírito Santo: Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma. Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus, e que, por isto mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo (1Cor 6, 12,19-20). No mais, irmãos, aprendestes de nós a maneira como deveis proceder para agradar a Deus – e já o fazeis. Rogamo-vos, pois, e vos exortamos no Senhor Jesus a que progridais sempre mais. Pois, conheceis que preceitos vos demos da parte do Senhor Jesus. Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; que cada um de vós saiba possuir o seu corpo santa e honestamente, sem se deixar levar pelas paixões desregradas, como os pagãos que não conhecem a Deus; e que ninguém, nesta matéria, oprima
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nem defraude o seu irmão, porque o Senhor faz justiça de todas estas coisas, como já antes vo-lo temos dito e asseverado. Pois, Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade. Por conseguinte, desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos deu o seu Espírito Santo (1Tes 4, 1-8).
Não dá para falar de sexualidade sem tocar no assunto castidade e virgindade. Muitos alegam ser coisa do passado ou tabu. Quando falamos de cristãos que creem em um Deus único e verdadeiro, não se fala em passado ou tabu, pois nosso Deus é um Deus sempre presente, imutável, que nos deixou leis de amor para serem bem vividas, e não tabus a serem quebrados ou vencidos. Portanto, falar em castidade e virgindade é não só falar de um padrão de consciência e comportamento moral adequados aos cristãos, mas também de atualidade. Para entender melhor, vamos distinguir as coisas: Virgindade: Qualidade de quem é virgem. Estado de quem nunca teve relações sexuais. Pureza; candura (Dicionário Aurélio online).
Apesar da definição feminina que o dicionário apresenta, quero dizer que esse estado de virgindade se refere também ao homem que nunca teve relações sexuais, pois o próprio Aurélio também diz sobre o verbete “virgem”: Característico ou próprio de virgem; casto, inocente, modesto, virginal. Puro, intato, intocado.
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Castidade: Virtude reguladora da natural inclinação para os prazeres sexuais (com relação à moral). Pureza. Abstinência total de pensamentos, palavras e obras sensuais (Dicionário Aurélio online). A castidade significa a integração correta da sexualidade na pessoa e com isso a unidade interior do homem em seu ser corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando é integrada na relação de pessoa a pessoa, na doação mútua integral e temporalmente ilimitada, do homem e da mulher. A virtude da castidade comporta, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação (Catecismo da Igreja Católica nº 2337).
Perceba que a virgindade denota mais um estado físico do que moral, o que não tira sua importância para a vivência do projeto de Deus para o homem e a mulher. Já a castidade como ideal e regra de vida, pode ser vivida até por jovens que já perderam a virgindade e por pessoas casadas e, logicamente, por pessoas celibatárias (as que, por opção, não se casam para viver vida consagrada a Deus na perfeita castidade). No plano religioso, a virgindade/castidade significa também um chamado especial de Deus, uma vocação a um estado de vida. Portanto, a vivência da virgindade e castidade significa não viver o sexo antes e nem fora do matrimônio. Essa exigência não termina com o casamento, apesar de não se viver a virgindade física, mas a castidade deve ser exercitada cons-
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tantemente, pois faz parte da necessária fidelidade conjugal e também de um sério planejamento natural da família. O jovem e a jovem que não se esforçam para viver a castidade enquanto solteiros, dificilmente conseguirão fazê-lo após o casamento. São José Maria Escrivá tem uma frase em seu livro Caminho (nº 132) que descreve bem de que maneira devemos enfrentar o fogo das paixões da carne quando nos sobrevêm as tentações: “Não tenhas a covardia de ser ‘valente’; foge!”. Ou seja, não dê chance ao pecado, evite as ocasiões de pecado. Ou como se diz no ditado popular: “Não cutuque o leão com vara curta”. Li uma frase que dizia: “Castidade: Deus quer, você consegue!”. Assuma esse lema e tenha uma vida feliz e plena de sentido. Você verá que há maior felicidade e gozo quando realizamos a vontade de Deus em nossas vidas. Viver a virgindade e a castidade não significa ser alguém anormal. Pelo contrário, anormal é aquele(a) que não vive a sadia sexualidade que comporta pureza, virgindade e castidade, porque o normal é viver segundo o que Deus determinou. Normal é a pessoa que cumpre o projeto de Deus. Normal é o homem e a mulher terem equilíbrio sexual. Anormais são todos aqueles que acham normal o que não é! Deus é normal, o demônio é anormal!
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E, por falar em anormais, veremos no prĂłximo capĂtulo algumas anormalidades que causam uma grande desordem sexual.
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DESORDEM SEXUAL Em boa parte da humanidade, sempre existiu uma mentalidade contrária aos preceitos e mandamentos divinos. Esse tipo de mentalidade, altamente difundida em nosso tempo através de diversas ideologias, tem corroído as consciências e o bom e correto uso de nossas faculdades, bem como da afetividade e da sexualidade, muitas vezes confundida com aquilo que é apenas sexy1. Quando não se vive a sexualidade humana como um bem e um dom vindo do Criador, de forma a plenificar em Seu amor o relacionamento humano, vive-se em desordem. Quando se vive em Deus, há ordem, harmonia, equilíbrio. Quando se vive fora de Deus e Deus fora de nós (quando o rejeitamos), há a desordem, a desarmonia, o desequilíbrio. Vejamos mais uma vez o que o Pontifício Conselho para a Família nos diz:
1 Sexy: que possui apelo sexual. Despertar ou tender para o desejo sexual. Pessoa sexualmente atraente. Ligado ao erotismo (desejo sexual).
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[…] quando, pelo contrário, falta o sentido e o significado do dom na sexualidade, acontece uma civilização das “coisas” e não das “pessoas”; uma civilização em que as pessoas se usam como se usam as coisas. No contexto da civilização do desfrutamento, a mulher pode tornar-se para o homem um objeto, os filhos um obstáculo para os pais (Sexualidade humana: verdade e significado, 11).
Assim como uma árvore, essa desordem produz frutos. Frutos ruins em decorrência do pecado. Vejamos o que diz a Palavra de Deus sobre os frutos do pecado: Ora, as obras da carne são estas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, superstição, inimizades, brigas, ciúmes, ódio, ambição, discórdias, partidos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes. Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o reino de Deus! (Gálatas 5, 19-21).
A menina Jacinta, uma das videntes de Nossa Senhora de Fátima (1917), beatificada por São João Paulo II em 2000 e canonizada pelo papa Francisco em 2017, no centenário das aparições, ao ser perguntada sobre o pecado, disse: Os pecados que mais levam almas ao inferno são os da carne. Hão de vir umas modas que ofenderão muito a Nosso Senhor. As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. Os pecados do mundo são muito grandes. Se os homens soubessem o que é a eternidade, fariam tudo para mudar de vida. Os homens se perdem porque não pensam na morte de Nosso Senhor nem fazem penitência. Muitos matrimônios não são bons, não agradam a Nosso
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Senhor nem são de Deus (El Mensaje de Fátima – Habla Lucía – Ediciones “Sol de Fátima”).
Mas, o que é pecado afinal? Existem tantas teorias laxistas por aí que não consideram muitas coisas, ou até mesmo nada, como pecado. Aliás, o Papa Pio XII tinha afirmado que “o pecado do século é a perda do sentido do pecado”. Vamos ver o que diz o Catecismo da Igreja Católica, nºs 1849-1850: É uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta; uma falta ao amor verdadeiro, para com Deus e para com o próximo, por um apego perverso a certos bens.
O pecado é uma ofensa a Deus. Os pecados de impureza da carne são os que têm mais afastado as pessoas da bênção, amizade e comunhão com Deus, como falou Jacinta. Consultemos novamente o que o Catecismo da Igreja Católica ensina sobre alguns deles: A luxúria é um desejo desordenado ou um gozo desregrado do prazer venéreo. O prazer sexual é moralmente desordenado quando é buscado por si mesmo, isolado das finalidades de procriação e união (nº 2351). Por masturbação se deve entender a excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de conseguir um prazer venéreo. “Na linha de uma tradição constante, tanto o magistério da Igreja quanto o senso moral dos fiéis afirmaram, sem hesitação, que a masturbação é um ato intrínseca e gravemente desordenado”. Qualquer que seja o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual
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fora das relações conjugais normais contradiz sua finalidade. Aí o prazer sexual é buscado fora da “relação sexual exigida pela ordem moral, que realiza, no contexto de um amor verdadeiro, o sentido integral da doação mútua e da procriação humana” (nº 2352). A fornicação é a união carnal fora do casamento entre um homem e uma mulher livres. É gravemente contrária à dignidade das pessoas e da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, bem como para a geração e educação dos filhos. Além disso, é um escândalo grave quando há corrupção de jovens (nº 2353). A pornografia consiste em retirar os atos sexuais, reais ou simulados, da intimidade dos parceiros para exibi-los a terceiros de maneira deliberada. Ela ofende a castidade porque desfigura o ato conjugal, doação íntima dos esposos entre si. Atenta gravemente contra a dignidade daqueles que a praticam (atores, comerciantes, público), porque cada um se torna, para o outro, objeto de um prazer rudimentar e de um proveito ilícito. Mergulha uns e outros na ilusão de um mundo artificial. É uma falta grave. As autoridades civis devem impedir a produção e a distribuição de materiais pornográficos (nº 2354). A prostituição vai contra a dignidade da pessoa que se prostitui, reduzida assim ao prazer venéreo que dela se obtém. Aquele que paga, peca gravemente contra si mesmo; viola a castidade à qual se comprometeu no seu batismo e mancha seu corpo, templo do Espírito Santo. A prostituição é um flagelo social. Envolve comumente mulheres, mas também homens, crianças ou adolescentes (nestes dois últimos casos, ao pecado soma-se um escândalo). Se é sempre gravemente pecaminoso
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entregar-se à prostituição, a miséria, a chantagem e a pressão social podem atenuar a imputabilidade da falta (nº 2355). A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. A sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou que “os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados”. São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados (nº 2357).
É necessário esclarecer que tendência homossexual não é pecado. O pecado, neste caso, consiste na aceitação, aprovação e na busca do relacionamento como tal.
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O QUE É NAMORO? Se formos nos basear no dicionário, namoro, resumidamente, significa: Andar de namoro com. Seduzir, encantar. Sentir amor; apaixonar-se (Dicionário Aurélio online).
Além de tantas outras explicações, estas já nos ajudam a ter uma melhor noção do conceito de namoro/namorar. Hoje, fala-se tanto em uma boa escolha profissional para vencer na vida. Você, com certeza, já ouviu de seus pais ou avós as seguintes expressões ou algo parecido: “No meu tempo não era assim. Hoje as coisas estão bem mais difíceis. Estude bastante para se formar em alguma coisa, porque quem não tem estudo fica para trás e não consegue nada na vida”. Damos tanta importância a uma boa escolha profissional, ou até mesmo à compra de uma roupa, um celular, um computador ou um carro. Porque não damos a mesma importância, ou
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mais ainda, para a escolha da pessoa com quem viveremos o resto de nossas vidas, com quem construiremos uma família e um lar, com quem teremos nossos filhos? Namoro é, sim, o tempo de se apaixonar, se encantar, possuir-se de amor, tomar-se de amor mútuo, mas, muito além de um encanto de juventude e de um encanto da paixão, o namoro é tempo de escolha, de conhecimento. Conhecimento que vai exigir muito diálogo para que haja a revelação do seu ser para a outra pessoa a fim de se descobrirem. Diálogo que deve ser marcado por muita seriedade, sinceridade, transparência, amizade, honestidade e confiança. Se fizermos uma comparação com terra e plantio, o namoro seria o tempo de cuidar da terra, preparando-a com o arado, adubando-a, semeando-a. E, após a semeadura, quando a semente começa a germinar, deve-se dispensar todos os cuidados que aquela nova planta exige: água e sol na medida certa; manter uma boa adubação, poda, se necessário; cuidados para evitar e eliminar pragas etc. Somente depois de todo esse processo é que ela estará pronta para dar frutos, que no tempo certo serão colhidos. Assim é no namoro. Para chegar o momento certo de colher os frutos, que nesse caso poderemos considerar como sendo o casamento, com toda a vivência plena da sexualidade, é necessário passar por todo o processo sem pular nenhuma etapa.
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Uma sociedade que degrada a figura da mulher – entre tantas outras degradações – e a usa como se fosse um objeto, não pode e não será boa. Essa sociedade gera degradação e se autodestrói. Nos próximos capítulos, você verá um pouco mais detalhadamente as etapas desse processo. Assim como aquele jovem do Evangelho que citei no início deste livro, Jesus, hoje, também “fita-te com amor”, olha profundamente nos teus olhos e te convida a viver esse ideal de vida. Tente, neste momento, imaginar o Senhor Jesus à sua frente – porque verdadeiramente Ele está – e tenha a coragem de olhar para Ele, bem nos seus olhos, assim como Ele faz com você agora, e com toda sua vontade e sinceridade de coração, diga a Ele que você quer mudar de vida, que você quer aprender com Ele a verdadeira doutrina, a verdadeira vida, pois você está diante daquele que é “o caminho, a verdade e a vida” (cf. João 14, 6). Confesse a Ele que você, de verdade, não está satisfeito(a) com a vida que está levando e que gostaria de melhorar com a ajuda dEle. Veja em Jesus O Verdadeiro Amigo, aquele que não vai te trair, não vai te usar; pelo contrário, é Ele que está e estará sempre ao teu lado e nos momentos mais difíceis. Quando aqueles que se diziam amigos te abandonarem ou te traírem, Ele estará com você.
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NAMORAR OU FICAR? Vigiai, pois, com cuidado sobre a vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios que aproveitam ciosamente o tempo, pois os dias são maus. Não sejais imprudentes, mas procurai compreender qual seja a vontade de Deus (Efésios 5, 15-17).
Ter vigilância para que nossa conduta não seja de insensatos, logicamente significa ter conduta de sensatos. Sensato quer dizer: que tem bom senso; prudente; previdente; cauteloso etc. Todas essas qualidades são indispensáveis para quem quer, com responsabilidade, encontrar e viver a vontade de Deus em sua vida. Creio que, das ideias que expus até aqui, você já percebeu um conceito diferente sobre namoro, dentro do plano de Deus e da vivência cristã católica. Precisamos andar um pouco mais para que esse caminho do namoro santo possa ficar cada vez mais claro em sua consciência e vontade, de modo a impelir, impulsionar sua vida nessa direção.
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Há não muitos anos atrás, o termo “ficar” não existia entre os jovens. Porém, com uma liberalização de consciência, conceitos e costumes em nossa sociedade contemporânea, aliada à força sempre renovadora do jovem, vão sendo incorporados ao nosso vocabulário (ou de alguns) no dia a dia. Não vejo problemas maiores nesse fato em si. Creio, sim, que o problema está não em uma terminologia ou uma gíria a mais sendo usada, mas no conceito que está por de trás de um novo termo, que esconde em si uma nova concepção de uma ideia, um novo modo de pensar e agir, uma nova maneira de conceber certos conceitos ou até mesmo uma nova maneira de anular ou desfigurar esses mesmos conceitos e ideias. Principalmente se esse “novo” vem ferir o reto uso da razão, da moral e dos bons costumes. Você poderia me perguntar: “E o que é o reto uso da razão, da moral e dos bons costumes?”. Como tenho afirmado repetidas vezes, o que realmente importa em nossa vida é fazer a vontade de Deus, sendo que sua vontade está explicitada na Sagrada Escritura, no Magistério oficial da Igreja e em sua Sagrada Tradição. Respondo a você que o reto uso da razão, da moral e dos bons costumes é ditado e tem seus parâmetros calcados nas fontes citadas acima, que são fontes vivas da Revelação da vontade de Deus em que todo bom cristão deveria orientar a sua vida. E, principalmente, se são pais, têm o gravíssimo dever de educar seus filhos na fé católica.
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