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Entrevista: Valentim Loureiro
Se perguntar quem é “o Major” em qualquer lado, dirão que sou eu, quando há umas centenas de majores no país Valentim Loureiro vai deixar o executivo da Câmara de Gondomar já em setembro. Sem papas na língua, falou sobre os mais variados assuntos que marcaram o seu mandato e a sua pessoa. À conversa com o Vivacidade, o major deixa o cheiro a despedida e faz uma retrospetiva dos seus 20 anos à frente da autarquia. Entrevista: Ricardo Vieira Caldas Joana Isabel Nunes Pedro Santos Ferreira Fotos: Joana Isabel Nunes
É conhecido como Major Valentim Loureiro. O cargo militar diz muito sobre a sua pessoa ou a robustez da profissão nada tem a ver consigo atualmente? Eu fui educado numa escola militar [Academia Militar] - depois de ter passado pela Escola Comercial e Industrial de Viseu e pelo Instituto Comercial no Porto - e tirei o curso superior de Administração Militar. Portanto tem tudo a ver com isso. Continuo a ser militar, mas estou reformado e agora não recebo qualquer pensão. Depois derivei para a área empresarial e o futebol tornou-me público, no Boavista. O Major Valentim Loureiro é conhecido por isso. É evidente que se perguntar quem é “o Major” em qualquer lado, dirão que sou eu, quando há umas centenas de majores no país. Estou muito identificado com o termo “major”. Aqui há tempos, ouvi umas críticas de que para liderar Gondomar era preciso uma pessoa da terra. De facto eu não era da terra mas fui muito requisitado para vir para cá. E a verdade é que, tendo vindo para aqui, acabei por dar nome e expressão a Gondomar.
Vai ter pena de deixar de ser o presidente da Câmara? Vou. Sabe que são 20 anos. É uma vida. Trabalhei muito para Gondomar e para os gondomarenses e recebi de Gondomar e dos gondomarenses carinho, amizade, apoio e estou ligado aos gondomarenses e tenho a certeza de que eles, na sua maioria, também estão ligados a mim. 20 anos passaram depressa ou devagar? Correram ao ritmo normal.
Cinco eleições, cinco vitórias. Umas mais expressivas, outras menos. O ditado “quem corre por gosto não cansa” aplica-se bem ao seu percurso diário casa-trabalho ou chegou a uma fase em que já está cansado? Aplica. É evidente que já vou tendo uma idadezinha, alguns problemas de saúde. Tive tuberculose aos 20 anos, uma doençazinha ou outra, mas não sou uma pessoa doente. Ainda há três anos correu
o boato de que tinha morrido mas estou aqui que nem um pêro. Estamos a entrevistá-lo numa quinta-feira. Mas nos seus discursos afirma muitas vezes que, no plano pessoal, as sextas-feiras são muito importantes para si. Porquê? Sexta-feira é um dia como os outros mas, do ponto de vista familiar, é o dia em que os meus filhos e os meus netos vão jantar a minha casa. Também numa sexta-feira treze, há 20 e tal anos, saiu-
-me o primeiro prémio na lotaria de Santo António, 130 mil contos. Gosto das sextas-feiras como gosto dos sábados ou dos domingos mas, de facto, a ida dos meus filhos e dos meus netos a minha casa em que temos oportunidade de conversar e limar algumas arestas – é um dia especial para mim. Eu sou um homem de família. Tenho seis filhos e onze netos. A partir de setembro vai dedicar mais algum tempo à sua família? Seguramente, a partir de 29 de setembro, vou ter mais tempo porque deixo a função executiva. As críticas ao facto de a sua filha ser vereadora na Câmara incomodam-no? A minha filha foi vereadora por um acaso. Porque nas eleições de há oito anos – em que elegi oito membros – ela ia em nono lugar. Portanto não era para entrar, era para preencher. Por acaso, o candidato a vereador que foi em quarto ou quinto desistiu mal nós fomos eleitos. E, portanto ela subiu por causa disso. E ela como estava na lista ficaria mal não aceitar. Mas nunca previ que fosse entrar. Mas apesar de ser minha filha é vereadora, faz o papel dela. Na Câmara não há familiaridades, ela cumpre o dever dela, eu cumpro o meu.
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Entrevista: Valentim Loureiro
É uma grande dívida que eu tenho com os !"#$%& !&'( #&#&)(!&%*$(&+*&,#-(+$,*./# A sua pessoa é muitas vezes relacionada com os eletrodomésticos... Quando me candidatei a Gondomar, fiz uma campanha inicial de apresentação às pessoas e fiz uma visita às escolas primárias. E, numa escola, conversei com a professora e ela disse que os políticos eram todos iguais e mais não sei quê. Perguntei-lhe porquê. Ela disse-me “ainda agora mandaram-me para aqui umas cassetes com aulas de ginástica e como é que eu dou as aulas? Não temos televi-
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sidente, e enfrentei-o. Na altura ele nem era presidente do partido, não era nada. Discutimos o assunto e eu mandei-o a uma certa parte. Pronto, talvez não o devesse ter feito. A verdade é que a partir daí, quando ele chegou a presidente do partido, quis ajustar contas e como tinha um processo de futebol com o Gondomar, achou que não podia ser candidato. Mas não foi uma decisão do coletivo da comissão política. Foi uma decisão dele. Claro que, na altura, nessa comissão política estava o Passos Coelho e
por ele – também alinhei. Como sou um homem de palavra, quando ele avançou com a candidatura, também lhe disse que o apoiava. Eu era do PSD e o partido fez-me um processo em que me aplicaram dois anos de suspensão. A verdade é que eu apoiei Mário Soares, o que demonstra que, de facto, sou independente. No caso de Fernando Paulo não vencer estas eleições, o projeto do Movimento Independente terá continuidade?
Gondomar tem que ter um presidente que seja uma personalidade, não pode ter um “Zé dos anzóis”
sor, vídeo...” Eu virei-me para ela e perguntei-lhe se o problema do vídeo é que a impedia de dar as aulas bem. E ela perguntou “porquê? Oferece-me um?”. Desafiou-me e na minha maneira rápida de responder – e não medindo bem as consequências – disse que ela iria ter o televisor e o vídeo e mandei entregar lá na escola. Ela não sabia que eu era um homem de palavra. Dois dias depois, a continuar a visitar as escolas, abordaram-me: “então nós não temos direito?”. Não havia escola onde eu chegasse que não me falassem no vídeo e no televisor. Liguei ao meu sócio [da empresa de eletrodomésticos] e mandei vir 80 vídeos e 80 televisores e dei-os às escolas. Não foi a nenhum particular, como mentem muitas vezes. Ajudou a implementar o PSD no norte de Portugal e em 2005 o PDS, na pessoa de Marques Mendes, recusou apoiá-lo. Foi uma facada nas costas? Não. Eu tive uma pequena discussão com esse senhor em 2004, num jogo do Europeu no Estádio da Luz. Sabia que ele tinha dito que, pelo facto de eu ser arguido num processo não deveria ser pre-
em tempos já lhe disse “então você também foi daqueles que me inibiu de continuar?” e ele disse que não. Portanto foi esse “gigante” que não me deixou candidatar. E foi por isso que lancei uma candidatura independente. Candidatei-me e ganhamos e, de vez em quando, brinco com isso para “agigantar” o homem. O apoio a Mário Soares em 1986 e 1991 contribuiu para que o PSD lhe fizesse isso? Isso tem tudo a ver com uma maneira de ser e com seriedade. O Dr. Mário Soares era Primeiro-Ministro e os presidentes dos clubes [da Liga] conseguiram, na altura, resolver com o governo uma série de problemas que tinha a ver com a fiscalidade. Um dia há um jantar em casa do João Rocha [antigo presidente do Sporting] e ele convida o Dr. Mário Soares. Estavam lá os presidentes dos clubes e nesse jantar o Dr. Mário Soares fez uma intervenção e o João Rocha respondeu. João Rocha disse que o Dr. Mário Soares estava destinado a “mais altas funções” e todos ali à volta disseram que se ele avançasse estariam ao seu lado. E eu – que tinha admiração, e tenho, e respeito
A essa pergunta não respondo nos termos em que a põe. O Dr. Fernando Paulo vai ser o próximo presidente da Câmara. Dos candidatos já conhecidos é o mais competente, o mais conhecedor, aquele que tem mais experiência à frente de uma Câmara. Isto sem desprimor para os outros mas quem é que tem a experiência do Dr. Fernando Paulo numa Câmara? E a postura que ele tem como pessoa? Não é possível apontar-lhe um defeito, na minha maneira de ver. E pelo contrário, tem virtudes. Não só ele como toda a equipa que escolheu. É uma equipa que, uma vez eleita, vai continuar o trabalho que aqui desenvolvemos. Das candidaturas que aí estão, uma não tem experiência autárquica, outra não tem postura e Gondomar tem que ter um presidente que seja uma personalidade, não pode ter um “Zé dos anzóis”. Está a falar de quem? Estou a falar na generalidade, depois veja a quem é que me estou a referir. Agora, se no Movimento indicamos o nome de Fernando Paulo para nos liderar é porque temos a certeza de que ele
não nos vai deixar ficar mal. Para presidente da Câmara não sou eu o candidato. Para presidente da Câmara. Mas o Movimento tem o meu nome e têm que votar em Valentim Loureiro outra vez. Tendo em conta que sempre que sai de um executivo passa para uma assembleia, o Movimento pode contar consigo este ano? Isso passou-se na distrital do PSD, na Liga, na Metro do Porto [que atualmente preside a mesa da Assembleia Geral]. Tenho que ser perfeitamente claro. Tenho tido
muitas pressões nesse sentido [para ser candidato à Assembleia Municipal]. Todos os que estão
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ASSEMBLEIA M
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Vai deixá-lo ficar ma Eu nunca deixo fica
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gondomarenses: a maneira como eles, #&%#,$*01&%!-"2!&'$3!2*-&,#+4*+.*&!-&-$Vai deixá-lo ficar mal? Eu nunca deixo ficar mal os amigos. Relativamente a outros assuntos... Os casos da Quinta do Ambrósio e do “Apito Dourado” fizeram-no perder alguma força política? Nenhuma, absolutamente nenhuma. Esses casos servem para mostrar que uma pessoa - sendo investigada em tudo que é sítio, com gravações e com escutas tem que ter uma vida muito limpa para chegar ao fim. Na questão da Quinta do Ambrósio foi tudo ao ar e na questão do Apito Dourado ficou reduzido a uma multa.
na lista do Dr. Fernando Paulo – e ele próprio – pressionam-me. Já fiz uma leitura de tudo isso e vou
pensar. Não decidi. Mas tenho que decidir já para o fim do mês de julho.
MUNICIPAL
ndo Paulo está a contar consigo? me pressiona.
al? ar mal os amigos.
Neste momento, é mais um “sim” ou um “não”? É evidente que a equipa que Fernando Paulo vai liderar é da minha extrema confiança. Portanto, todos eles me estão a pressionar. E dizem que se o Movimento continua e eu sou o líder, devo integrá-lo e eu não estou completamente fora mas preciso de mais uns dias para tomar uma decisão. O candidato Fernando Paulo está a contar consigo? Ele é dos que mais me pressiona.
Os processos nos tribunais interferiram nas relações pessoais e profissionais com o pessoal da Câmara e do executivo? Nada, nada, nada. Esses problemas foram públicos e conhecidos. Havia dias em que o Valentim passava na televisão 50 vezes com a Judiciária a conduzi-lo e tal, mas não obstante isso tudo, nunca houve um gondomarense que se dirigisse a mim em termos menos agradáveis. Pelo contrário! As pessoas falavam comigo e animavam-me. Ficaram mais ligadas a mim, e essa é uma grande dívida que eu tenho com os gondomarenses. A maneira como eles, depois de tudo o que saiu na comunicação social, sempre tiveram confiança em mim. Quem é que se aproveitou disso? O PS. Porque na altura tinha uns vereadores que nem queriam deixar tomar posse o Castro Neves e apresentaram queixas no Ministério Público e na Judiciária. As situações denunciadas por eles foram mais de 50 ou 60. O que é que eles pensaram na altura? Como não conseguimos ganhar as eleições pelo voto, queremos ver se o derrubamos pela justiça. Da parte do executivo, o facto de o vice-presidente ter regressa-
do ao PSD magoou-o de alguma forma? Não, de forma nenhuma. O meu vice-presidente é um “PPD” assanhado. Vive muito o partido e pensou e decidiu que devia voltar ao partido e não continuar a integrar o Movimento. É uma decisão dele da que eu lamento. Decidiu sem o consultar? Não me consultou. Eu só soube passado bastante tempo de se ter reinscrito. E isso não o chateou? Não, nada! São maneiras de ser e de estar. Eu não era avô dele. Inscreveu-se no partido, está lá, lidera. Tem uma comissão política de “paus mandados”. Agora, é evidente que não é ele que se candidata. Se fosse ele a candidatar-se naturalmente as coisas para o Dr. Fernando Paulo seriam menos fáceis. Uma coligação com o PSD teria sido o mais natural para estas eleições? Vamos lá ver, neste mandato nós já estivemos coligados na Câmara. Dois elementos do PSD – Leonel Viana e Rui Quelhas – estão na Câmara e normalmente estão sintonizados nas votações. E eu mesmo dei um pelouro ao Leonel Viana. Então porque é que não houve coligação para as Autárquicas de 2013? Eu não tinha que tomar essa iniciativa. Estava com o Movimento e uma vez que fui escorraçado da maneira que fui eu não mais penso em PSD, mas admito perfeitamente que outros tenham outra maneira de pensar e que quisessem voltar. Não tenho nenhuma aversão a ninguém do PSD nem do PS, sou Independente. Não tenho azedume a ninguém, dou-me bem com toda a gente. A minha origem partidária é o PPD e dei três vitórias ao PSD de Gondomar. Nós não fomos expulsos do partido, não segundo os es-
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Entrevista: Valentim Loureiro tatutos. Agora, estava lá um “gigante” que quis afirmar-se e achou – o “escadote” - que a melhor forma era comigo. Alguém alguma vez teria falado tanto desse “gigante” se não fosse tomando as medidas que tomou em relação a mim? Ao meter-se comigo passou a ser conhecido com esse gesto. Nestas duas décadas, qual é o projeto não concretizado que lhe deixou mais pena de não ter sido conseguido? Quando se fala em projetos, normalmente fala-se de obras, mas eu falo essencialmente de pessoas. O que sempre me preocupou na gestão da Câmara foram as pessoas. A minha obra está nas pessoas. Claro que para resolver os seus problemas são necessárias obras. Mas a obra que não realizei é toda aquela que tem a ver com os problemas das pessoas, problemas de transportes, por exemplo. A questão do metro. 31 de junho de 2003, o Dr. Durão Barroso no Conselho de Ministros que houve no Freixo comprometeu-se a financiar a construção da linha do metro, e estava o projeto todo até Gondomar - S. Cosme. Mas depois meteram-se aí uns “agulheiros” a dizer que o melhor não seria vir até Gondomar mas sim Campanha-Valbom-Gondomar e que depois se faria a ligação para a Venda Nova, e eu fui na conversa. Não deveria ter ido. A Ana Paula Vitorino [então secretária de Estado] enganou-me. Acabou a linha por ficar até Fânzeres e isso é um desgosto e uma espinha que tenho atravessada na garganta.
situação financeira perfeitamente saudável. A dívida de que é? É de eletricidade. Quem me antecedeu na Câmara, os executivos do PS, ficaram a dever à EDP. Quando chegamos à Câmara, com juros, a dívida estava nos 200 milhões de euros. Fizemos um acordo com a EDP, eles perdoaram juros e aceitaram que pagássemos a dívida em 40 anos. Portanto, 17 já estão decorridos e, neste momento, o que vai ficar para quem me suceder, é pagar cerca de 140 mil euros por mês. A outra parte da dívida tem a ver com a construção de habitações. Nós construímos cerca de 2500 habitações. Como é que eram construídas? À base de um decreto de lei que permitia que as Câmaras adquirissem ou construíssem habitação social e em que a Câmara tinha que pagar 20%, o Estado dava 40% e autorizava as Câmaras a irem à banca pedir mais 40% - a
Foi lançado um concurso e o Pavilhão está lá e é uma obra realmente emblemática. Mas não é um “elefante branco”, está permanentemente ocupado. Até porque tem um conselho de administração que separa a gestão do Multiusos da gestão da Câmara e é a única empresa municipal que temos. Eu sou o presidente e o Dr. Fernando Paulo e a Dra. Lucinda Soares [diretora do Departamento Financeiro da Câmara] são administradores. Gerimos aquilo sem receber um tostão. E um hotel? Faz falta a Gondomar? Já aprovei uns quatro ou cinco projetos. E às vezes as coisas não são bem entendidas. Não sou eu que tenho de fazer um hotel, nem qualquer presidente de Câmara. Em Gondomar há um azar dos diabos, aprovei vários hotéis e
de ter um Hospital em Gondomar foi-nos posta a condição de nós termos que arranjar o terreno. Portanto, tínhamos esse terreno e não foi difícil dar o direito de superfície de grande parte daquela área, por 50 anos, à Fundação Fernando Pessoa. E o Hospital está feito e é uma obra que tive prometida por um Secretário de Estado [Manuel Pizarro] várias vezes, e nunca avançou. Acha que poderia haver uma maior adesão dos gondomarenses ao Hospital? Já está muita gente a ir lá mas também disse ao Ministro da Saúde [Paulo Macedo], aquando da inauguração, que aqui não há manifestações hostis ao Governo, mas se porventura não permitissem que os gondomarenses lá fossem atendidos, eles mesmos não iam deixar de se manifestar.
domar Sabe Voar” foi lançado por mim e desafiado por umas crianças que vieram visitar a Câmara e tinham o desejo de ir de avião a Lisboa. Lancei o programa e ele nunca mais parou. Ainda custa algum dinheiro mas está dentro do nosso orçamento. Levar os alunos do quarto ano [que têm aproveitamento] a Lisboa de avião é uma marca de Gondomar também. O programa mantém-se, não é por ser um ano de eleições porque nós nunca parámos. Mas houve uma interrupção, correto? Nós nunca parámos. O que houve foi dificuldades no ano passado, por parte da TAP [em cumprir, em termos de preço, com as determinações da Lei do Orçamento de Estado] e nós não pudemos levá-los de avião mas levámos de camioneta. Recuando para o início do seu percurso em Gondomar, Nuno Delerue e Luís Filipe Menezes convenceram-no a vir para este concelho. Alguma vez se arrependeu de ter seguido esse conselho? Não, não foi uma decisão difícil. Encontramo-nos por acaso em Lisboa e fomos tomar uma bebida e eles falaram-me nisso. Depois vim para cima e nessa noite vim dar uma volta por Gondomar porque não conhecia bem o concelho. Depois tivemos mais duas ou três conversas e entretanto a concelhia falou comigo e eu aceitei.
Então, na sua opinião, essa é uma prioridade para Gondomar? É! Mas também tenho que ser sincero. Hoje não vejo com facilidade a concretização desses mais de 50 milhões de euros de obra. A situação do país não permite fazer essa obra.
pagar em 25 anos com juro bonificado. As primeiras casas que foram construídas com base nessa legislação foram em Gondomar. Mas aqui na Câmara só mandamos fazer ou compramos aquilo para que temos dinheiro garantido. Essa foi sempre a nossa política.
Vai deixar as contas da Câmara Municipal de Gondomar equilibradas? Equilibradíssimas. Em Gondomar temos dívidas [112 milhões de euros, aproximadamente] mas perfeitamente controladas, uma
O Pavilhão Multiusos foi a sua obra de eleição? Nós precisávamos de ter em Gondomar um pavilhão a sério e pensamos em construir algo que dignificasse Gondomar. Para isso, pensei no Professor Siza Vieira.
depois as obras não arrancavam. Finalmente, está aí um que está a arrancar. Vamos ter cá um hotel, perto do Multiusos e também uma média superfície. Outra das obras mais recentes é o Hospital-Escola da Universidade Fernando Pessoa. Está satisfeito com a forma como o HE se está a implementar no concelho? O Hospital Escola é um “ver ao longe sem óculos”. Quando cheguei a Gondomar compramos o terreno da Interforma, ao I.P.E., e quando apareceu a oportunidade
Então a manifestação está marcada? Não! Eles estão a resolver. Há negociações entre o Governo e a Fernando Pessoa. Penso que as coisas estão a andar bem, não tão bem como se calhar o Professor Salvato Trigo [reitor] quer. Porque esta coisa de termos um Hospital aqui e de se levarem os doentes para o Santo António não tem pés nem cabeça. Este ano voltou a implementar o programa “Gondomar Sabe Voar”. Porquê em ano de eleições? Não é bem assim, como diz na pergunta... O programa “Gon-
Acha que a lei de limitação de mandatos para o seu caso e, por exemplo, o de Luís Filipe Menezes é justa? Não há dúvida nenhuma de que deve haver uma renovação. Mas também não há dúvida nenhuma de que as pessoas são livres de decidir. E se, por exemplo, os gondomarenses depois de cinco mandatos que eu fiz, quisessem que eu fizesse mais um ou dois, isso deveria ser permitido. Mas também não vejo mal que se limite. Agora, não posso estar aqui em Gondomar mas posso estar no Porto ou em Vila Franca de Xira... Concorda com a candidatura de Luís Filipe Menezes à Câmara do Porto?
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A partir de 29 de setembro vou ter mais tempo
Concordo, nem me meto nisso! E acho que por aquilo que tem vindo nos jornais, o Tribunal Constitucional quando tiver que decidir, possivelmente vai autorizar. Mas são situações embrulhadas. Porque é que um presidente de Câmara não pode ser candidato outra vez e o deputado pode ser? A lei não é igual para todos. Para ter um “Porto forte” disse a um jornal, no ano passado, que não se importava de “ceder uma parte de Rio Tinto”. É a freguesia de que menos gosta no concelho? Não, Gondomar é um todo homogéneo. Agora, se me disserem que vamos fazer um grande Porto, onde estivéssemos todos de acordo e depois de muita discussão, é evidente que Rio Tinto é a nossa freguesia que está mais ligada ao Porto. Está ligada aos dragões. Os riotintenses são quase todos portistas. Já Melres, ou isto ou aquilo, não tinham hipótese nenhuma. Um grande Porto teria que ser Gaia,
Porto, Matosinhos, uma parte da Maia e uma parte de Gondomar. Desaprova a ideia da criação de um concelho de Rio Tinto? Acho que aqueles que andaram a pensar nisso levaram agora a resposta, porque afinal, em vez de se desagregarem os concelhos estão é a agregar-se as próprias freguesias. E concorda com a agregação das freguesias em Gondomar? Não há nada a fazer! Isto é uma questão de cultura. Se tudo fosse feito a régua e esquadro, com muita racionalidade, o país teria que ser esquartejado de outra maneira. O que pensa das candidaturas à presidência da Câmara nas próximas eleições? Acho que quem tem mais experiência e está melhor preparado é o Dr. Fernando Paulo. Infelizmente hoje os partidos são muito mal vistos. Os partidos durante muito
tempo cultivaram uma maneira de ser e de estar na política que vem dos “jotinhas” e por aí a cima e nunca têm responsabilidades a sério. Uma candidata que vai pelo PS e que eu respeito é a Dra. Carlota que está na Câmara como vereadora. Se amanhã aparecesse à frente da Assembleia eu não tinha nada a opor. É simpática. Mas há certos lugares em que é preciso alguma capacidade de liderança porque nós para nos fazermos respeitar até pelos nossos filhos temos de nos impor em muitas situações. E nem toda a gente tem essa característica de comando. Para o Partido Socialista haveria, na sua opinião, uma melhor opção para a Câmara? Conheço a Isabel Santos, que foi candidata nas últimas eleições e que nos deu muito trabalho porque é, de facto, uma militante do PS com qualidades. E é minha convicção de que se ela tivesse repetido a candidatura criaria mais problemas a Fernando Paulo, mais do que Marco Martins.
E em relação à coligação do PSD/CDS? No PSD também concluíram que não tinham nenhuma figura disponível para ser candidata à Câmara porque foram buscar uma senhora que é independente, não é militante do PSD. Por isso, se foram é porque acharam que não viam ninguém com as qualidades e capacidade suficiente de vencer o Dr. Fernando Paulo. Nem o vice-presidente? Se o vice-presidente tivesse continuado no Movimento era ele que estava na linha de sucessão. Isto não é uma monarquia mas, num caso destes, era. Ele afastou-se porque ele é muito PPD. Eu também sou social-democrata mas não me deixo apaixonar tanto por “partidarites”. Evidentemente que ele [José Luís Oliveira] ao ir para lá, acho que ficou como coordenador. A comissão política que ele lá pôs nomeou-
-o para coordenador. Eu nunca vi a comissão política do PSD. Sei que há lá um rapaz que empreguei uma vez na liga que já esteve comigo e que é o presidente mas ainda não o vi em lado nenhum. Como gostaria de ser recordado no futuro? Como alguém que se preocupou em trabalhar para ajudar os gondomarenses a resolver os seus problemas e como alguém que os resolveu a muita gente. Tenho a minha própria maneira de ser. Sou muito agarrado às coisas simples e às pessoas com mais carências. Convivo com tanta ou mais facilidade com um pobre do que com um rico e sou um defensor dos humildes. Dá-me prazer aprovar um grande projeto para Gondomar mas dá-me igual satisfação – se não mais - resolver um problema a uma pequena família que está em dificuldades terríveis.