Boletim Casa Romário Martins, intitulado “Senhoras e Senhores! O Circo da Cidade faz 40 anos

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Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Ă‚ngela Maria de Medeiros Rodarte Elizabete Berberi

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Direitos desta edição reservados à FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA DIRETORA DE PATRIMÔNIO ARTÍSTICO, HISTÓRICO E CULTURAL DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO B688 Boletim Casa Romário Martins. Senhoras e senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos / texto por Ângela Maria de Medeiros Ro darte e Elizabete Berberi.___ Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v.36, n.146, dez. 2016. 164 p. : il. Publicação em formato digital

1. Circo - Curitiba. 2. Circo – Fundação Cultural de Curitiba. I. Berberi, Elizabete. II. Rodarte, Ângela Maria de Medeiros. CDD (22ª ed.): 791.3 Filomena N. Hammerschmidt – CRB9/850

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Circo da Cidade Zé Priguiça ganha uma merecida edição nos Boletins Informativos da Casa Romário Martins, pois não seria possível traçar a história da cultura curitibana sem falar neste que é um dos mais antigos equipamentos da Fundação Cultural de Curitiba. Nos idos da década de 1970, o Circo da Cidade surge como um símbolo da cultura curitibana, assim como o Teatro do Paiol e o Centro de Criatividade. Nesse percurso, que começou pelas mãos da tradicional Família Queirollo e teve continuidade quando a Fundação Cultural assumiu a sua administração, o Circo experimentou diferentes formas de gestão e foi palco de inúmeros projetos. Recebeu o nome de “Zé Priguiça”, em homenagem a um dos mais divertidos palhaços que se apresentaram no seu picadeiro. Em 2015, teve sua estrutura renovada e ganhou uma lona novíssima. Hoje, as atividades do Circo da Cidade são realizadas por companhias teatrais e circenses selecionadas por editais do Fundo Municipal da Cultura e atendem mais de 60 mil pessoas todos os anos. Os editais possibilitam a promoção anual de espetáculos gratuitos para a comunidade, além de oficinas para crianças, que ensinam acrobacias, equilibrismo, malabarismo, entre outras modalidades. É de se enaltecer que, 40 anos depois, o Circo continue em plena atividade, funcionando como instrumento de inclusão e descentralização cultural, espalhando a magia da arte circense e promovendo cultura nos bairros da cidade. Parabéns aos artistas que provocaram sorrisos, despertaram emoção e encantamento. Parabéns aos milhares de aprendizes que passaram pelas oficinas, dando sentido ao caráter educativo da arte. Parabéns aos servidores da Fundação Cultural que elegeram o Circo como motivação de sua vida profissional. Ao respeitável público, informamos que o Circo da Cidade Zé Priguiça segue a sua trajetória. O espetáculo está apenas começando! Marcos Cordiolli Presidente da Fundação Cultural de Curitiba

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o mundo do entretenimento, o circo ocupa uma posição privilegiada entre todas as formas de diversão existentes. Mesmo em tempos de rádio, TV e internet essa antiga arte ainda atrai a atenção de muitos espectadores. Circulando por espaços da cultura erudita e popular, a arte circense impressiona pela grande variabilidade de atrações e o rico campo de referências culturais utilizado. De fato, o circo demorou muito tempo até chegar à forma sistematizada por nós hoje conhecida. Somente no século XVIII é que o picadeiro e as mais conhecidas atrações circenses foram se consolidando. Na China, vários contorcionistas e equilibristas apresentavam-se para as autoridades monárquicas chinesas. Em Roma, o chamado “Circo Máximo” era o local onde as massas plebeias reuniam-se para assistir às atrações organizadas pelas autoridades imperiais. Na Idade Média, vários artistas saltimbancos vagueavam pelas cidades demonstrando suas habilidades ao ar livre em troca de algumas contribuições. O primeiro a sistematizar a ideia do circo como um show de variedades assistido por um público pagante foi o inglês Philip Astley. Em 1768, ele criou um espaço onde, acompanhado por um tocador de tambor, apresentava um número de acrobacia com cavalos. Nesse período, o crescimento das populações urbanas garantiu um bom número de espectadores ao seu espetáculo. Com a expansão de seu empreendimento, Astley passou a contar com vários outros artistas. Dado o sucesso de suas atrações, sua companhia passou a apresentar-se em Paris. Nessa época, o domador Antoine Franconi ingressou na companhia de Astley. A instabilidade causada com os arroubos da Revolução Francesa, em 1789, forçou Astley a abandonar a França. Com isso, Franconi se tornou um dos maiores circenses da França. Com o passar do tempo, a tradição itinerante dos artistas circenses motivou a expansão das companhias de circo. No século XIX, o primeiro circo atravessou o oceano Atlântico e chegou aos Estados Unidos. O equilibrista britânico Thomas Taplin Cooke chegava com seu conjunto de artistas à cidade de Nova York. Com o passar dos anos, sua companhia transformou-se em uma grande família circense que, ao longo de gerações, disseminou o circo pelos Estados Unidos. A grande estrutura envolvendo o espetáculo circense trouxe o desenvolvimento de novas tecnologias ao mundo do circo. As constantes mudanças, de cidade em cidade, incentivaram a criação de técnicas logísticas

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que facilitavam o deslocamento dos espetáculos. Tais técnicas, devido à grande eficácia, chegaram a despertar o interesse dos altos escalões militares que se preparavam para os conflitos da Primeira Guerra Mundial. Na Europa, até metade do século XX, o circo sofreu um período de grande retração. As guerras mundiais, ambas protagonizadas em solo europeu, e as crises econômicas da época impuseram uma grande barreira às artes circenses. Ao mesmo tempo, o aparecimento do rádio e da televisão também inseriu uma nova concorrência no campo do entretenimento. No Brasil, a história do circo está muito ligada à trajetória dos ciganos em nossa terra, uma vez que, na Europa no século XVII, eles eram perseguidos. Aqui, andavam de cidade em cidade, à vontade, aproveitavam as festas religiosas para exibirem suas agilidades com cavalos e seus talentos ilusionistas. O circo proporcionou para os brasileiros, na maioria das vezes, o primeiro contato com as artes e foi o primeiro equipamento de cultura para muitos de nós. No Brasil ainda hoje em muitas cidades a única opção de fruição de cultura se dá com a passagem do circo. No nosso Estado e na nossa Curitiba não foi diferente. Esta publicação veio para celebrar os 40 anos do nosso Circo, hoje conhecido como Circo Zé Priguiça, relembrando as histórias dos fazedores dos Circos da Fundação Cultural de Curitiba. Claro que a maestria das nossas autoras fez com que não deixassem de relembrar as histórias das famílias circenses que ajudaram a manter viva a atividade circense na nossa cidade. Eu fico muito lisonjeado por apresentar este grande trabalho e esforço da nossa Diretoria de Patrimônio Histórico Artístico e Cultural. O Circo faz parte da minha história funcional, e, como eu, a coletividade precisa saber dos construtores da trajetória dessa grande aventura. Mesmo com o advento das novas tecnologias, o circo ainda preserva a atenção de multidões. Reinventando antigas tradições e criando novos números, os picadeiros espalhados pelo mundo provam que a criatividade artística do homem nunca estará subordinada ao fascínio exercido pelas máquinas. Talvez por isso, podemos dizer que “o show deve continuar”. Elton Barz Assessor de Políticas Culturais da presidência da FCC e coordenador do Programa de Participação Cultural da Cidadania

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Agradecimentos Ao Elton Luiz Barz pelo incentivo a esse projeto, ao Hugo Moura Tavares, pelo apoio e empenho, aos colegas da Coordenação de Pesquisa Histórica do DPHAC, pelas conversas e sugestões, aos funcionários ligados ao Circo da Cidade pela atenção e disponibilidade com que dirimiram tantas dúvidas, à Denise Roman, que gentilmente cedeu um de seus trabalhos para compor as ilustrações deste Boletim e a todas as pessoas e instituições que, de alguma forma, nos auxiliaram na reconstrução desta história.

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SUMÁRIO RESPEITÁVEL CIRCO! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 001 1 - O INÍCIO DE TUDO: A FAMÍLIA QUEIROLO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 005 2 - OS ANOS DE 1970 E A VOLTA DO CHIC-CHIC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 027

DE CIRCO NA CIDADE PARA CIRCO DA CIDADE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 037

3 - A DÉCADA DE 1990: O CIRCO FAZ MALABARISMOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 063 4 - É TEMPO DE PARCERIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 097 5 - CHEGAM OS EDITAIS E COM ELES O CIRCO CONTEMPORÂNEO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

SOBRE O PALHAÇO ZÉ PRIGUIÇA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135

VIDA LONGA AO CIRCO DA CIDADE! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

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Respeitável Circo! Elizabete Berberi

Sem Título, 1978. Poty Lazzarotto. Desenho nanquim sobre papel. Acervo: MUMA/DPHAC/FCC.

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m triângulo... Um Círculo... Uma tenda....A lona do circo, ainda que desenhada da forma mais simples, é um símbolo que nos toca e comunica imediatamente uma série de imagens, daquilo que se conhece do Circo: alegria, palhaços, brincadeiras, proezas, desafios, risadas, crianças, algodão-doce... São elementos que remetem à infância e à emoção e à euforia que o Circo deixou nas lembranças daqueles que, em algum momento, tiveram contato com ele. Ainda que hoje já não seja o mesmo, o Circo é reconhecido por quase todos. E para os que não o conhecem, quando ele chega desperta tal gama de interrogações e curiosidades, que, com seu encanto e magia, a todos seduz. O Circo de ontem e o de hoje, ainda que diferentes em suas produções e concepções, têm em comum esse encantamento, essa comunicação direta com o público, fascinando e fazendo rir, mas fazendo também refletir.

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O Picadeiro, 1943. Poty Lazzarotto. Gravura em metal Ponta-Seca 1-20. Coleção Museu da Gravura da Cidade de Curitiba. Acervo: DPHAC/FCC.

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descritivo, ao mesmo tempo que traz dados sobre a história do Circo, insere o leitor no cotidiano vivido sob a grande lona através de seus personagens, suas necessidades, suas realizações, alegrias e tristezas. Partindo dos Irmãos Queirolo, chegamos ao Circo da Cidade, cuja trajetória foi além do simples espaço de lazer e entretenimento. Através de uma política voltada à participação popular, e do empenho de seus funcionários e colaboradores, o Circo da Cidade se consolidou como local de aprendizado, de reflexão, de participação política, de revelação de talentos e descobertas. A semente plantada com o Circo da Cidade germinou em projetos que atenderam várias comunidades dos bairros de Curitiba; contudo, tal como a maioria dos circos, ao longo desses 40 anos, sua existência foi marcada por altos e baixos, tendo seus protagonistas lutado bravamente por sua continuidade e pela realização do seu trabalho. Não há como não entender o significado maior desse projeto quando ouvimos os depoimentos de seus mais antigos e apaixonados colaboradores. Não foram poucos os depoimentos que nos deram a ideia da importância do trabalho desenvolvido no Circo, trazendo novas oportunidades, mostrando uma nova perspectiva de trabalho, levando para os jovens uma mensagem positiva em oposição à dura realidade de seu cotidiano. Mas, se algo deve dar a tônica de todos os depoimentos colhidos durante a pesquisa, seja de funcionários como de pessoas da comunidade, essa tônica sem dúvida é a emoção, marca de todos os encontros. Depoimentos entusiasmados, lembranças das mais queridas, orgulho, e principalmente fé no trabalho desenvolvido e no trabalho que o Circo realiza. Com muito esforço, amor e garra de todos os envolvidos, sua Aos demais circos que se instalaram em Curitiba ao longo do tempo, o nosso respeito e a nossa escusa em omiti-los deste trabalho, focado no Circo da Cidade. A família Queirolo é aqui contextualizada por estar vinculada à gênese do Circo da Cidade.

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Ao longo do tempo o circo foi se transformando de acordo com as mudanças nas sociedades, foi se adequando às demandas das comunidades, e desenvolve cada vez mais um papel social de agregador, de disseminador da cultura. Por vezes, como no caso do Circo da Cidade, ele propicia a integração do poder público com a população dos locais nos quais se instala e também entre as pessoas da comunidade que o frequentam e que, nele descobrem um local de acolhimento, formação e lazer. O presente trabalho tem por objetivo revelar a história dos quarenta anos do Circo da Cidade, suas várias formas de inserção e interação com a comunidade e a memória de seus atores. Para a recomposição dessa história as autoras recorreram a relatórios institucionais, matérias publicadas em jornais e revistas, livros concernentes ao tema, relatos orais, fotografias e cartazes de diferentes épocas. Herdeiro da lona que por três anos abrigou o Circo Chic-Chic, pertencente à Família Queirolo, o Circo da Cidade tem sua gênese vinculada à essa lona e por isso, a narrativa se inicia com a história dessa tradicional família circense e sua contribuição a essa arte secular, contribuição tanto na esfera local quanto nacional.1 Tal

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lona ainda continua armada, aberta àqueles que queiram se abrigar sob esse teto onde ecoam risos, aplausos e onde a vida continua pulsando. Para nós pesquisadoras/espectadoras fica evidente o empenho da equipe envolvida com o Circo da Cidade e sua certeza do dever cumprido com amor e entrega, não somente ao trabalho, mas a uma Ação Transformadora. Reforça-se que as narrativas dos protagonistas dessa história – sejam como definidores, executores ou receptores de uma política de ação cultural - foram o principal fio condutor ao se revisitar a trajetória do Circo da Cidade. Contudo, cabe a ressalva de que a seleção das ações descritas se deu em função dos efeitos e ecos dessas ao longo dos anos, visualizados na repercussão junto à mídia, nos relatos de memórias de seus participantes e nas descrições presentes nos relatórios e atas da Fundação Cultural de Curitiba. A necessidade de resumi-las numa publicação de cunho informativo, como é o caso dos Boletins Casa Romário Martins, também se constituiu num fator restritivo. Assim, apesar do cuidado com as informações, pode-se incorrer na ocultação involuntária de pessoas ou de um ou outro fato considerado relevante para o leitor participante dessa história. Por isso, de antemão, nossas desculpas.

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1 – O início de tudo: a família Queirolo Elizabete Berberi “O circo tornou-se não só uma opção diferenciada de diversão para a piazada, mas atração de lazer para as famílias.”

Detalhe: gravura de Denise Roman

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circo surgiu no final do século XVIII, na Inglaterra, onde os espetáculos equestres passaram a ter também outras atrações, inclusive palhaços. A partir de então, o circo foi adquirindo os moldes com os quais permaneceu até meados da década de 1980: uma grande lona abrigando acrobatas, palhaços, mágicos, domadores, equilibristas, peças teatrais e musicais, entre outras atrações. O circo se difundiu pela Europa e chegou ao Brasil nos anos de 1800, quando para cá vieram várias companhias, algumas das quais acabaram se fixando. Em Curitiba, a notícia que se tem é de que o circo fez suas primeiras aparições entre as décadas de 1870 e 1890, quando as atrações na cidade eram alguns parques de diversão, um teatro e festas religiosas. Itinerantes que eram, não deixaram outros sinais significativos de sua passagem, além dos anúncios de jornais que falavam de suas apresentações na capital paranaense.

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O Dezenove de Dezembro 25 fev.1882. Publicidade sobre uma companhia circense, em Curitiba. Acervo: Biblioteca Nacional. DisponĂ­vel em: https:// www.bn.gov.br Acesso em 19 out. 2016.

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ANDRIOLI, Luiz. O circo e a cidade: histórias do grupo circense Queirolo em Curitiba. Curitiba: Edição do Autor, 2007. p. 29

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Já no século XX, a época em que mais enfaticamente o circo marcou presença em Curitiba, foi representado principalmente pela família circense conhecida como “Irmãos Queirolo”. A história dos Queirolo teve início no século XIX, com a união do tenor José Queirolo com a acrobata Petrona Salas, no Uruguai, país onde José, acompanhando a esposa, passou a apresentar-se em companhias circenses. O casal teve oito filhos. José Queirolo morreu em 1900 na Alemanha, e Petrona teve que dar conta de garantir o amparo da família. Para tanto, começou a treinar os filhos em acrobacias. A competência dos jovens logo conquistou a atenção do público e começaram a excursionar por vários países. Após uma passagem desanimadora por Curitiba, em 1919, a família Queirolo retornou à capital em 1924, quando as ideias de progresso e modernidade já se faziam presentes na cidade e se mostravam através de vários símbolos e eventos, entre os quais a inauguração da primeira rádio no Paraná, a PRB2. Na ocasião, o circo foi armado na Rua Barão do Rio Branco, esquina com a Rua André de Barros. As apresentações fizeram sucesso e a família alcançou o reconhecimento local. A trupe era, então, formada por seis dos oito irmãos, que se apresentavam em espetáculos de acrobacia e humor; entre eles, Julian era um dos responsáveis pelos personagens cômicos e Otelo, o treinador dos acrobatas. Vale lembrar que na tradição circense existem dois personagens cômicos que são considerados a alma do circo, um é o mais sério, bem vestido e que serve como base ou “escada” para que o parceiro faça a piada: ele é o chamado Clown. O outro é o transgressor, atrapalhado, esculhambado, representando o tipo popular, o que faz a piada: o “Toni”. Julian Queirolo era o Clown dos Irmãos Queirolo, que se apresentava através do personagem Harris. O primeiro “Toni” da Companhia, a fazer par com Julian, foi José Carlos Queirolo, com o personagem “Chicharrão”. Depois, em busca de um novo parceiro, Julian escolheu quem parecia ser, num primeiro momento, uma pessoa improvável: seu irmão Otelo, que era acrobata e treinador dos outros nessa arte, mas não tinha nada a ver com humor. Assim, nascido da necessidade de preencher uma lacuna, emergencialmente, surgiu o personagem mais marcante da história da família Queirolo: o palhaço Chic-Chic. Inicialmente, era para ser um personagem temporário, até encontrarem outro ator, mas o sucesso foi tanto que não tinha mais como voltar atrás.2 Em 1933, após um período de itinerância pelo Brasil percorrendo outras cidades, o Circo dos Irmãos Queirolo voltou a se estabelecer em Curitiba, na Rua Barão do Rio Branco. Dessa vez o sucesso foi maior, o circo era considerado um dos mais importantes do Brasil e trazia um número grande de artistas. Tinha como uma das mais destacadas atrações a dupla Harris e Chic-Chic, que já era a marca registrada dos Queirolo. Suas performances eram muito aguardadas pelo público e, com o tempo, o personagem Chic-Chic tornou-se pratica-

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mente sinônimo do Circo. Ele vestia roupas enormes e a maquiagem, pesada, deixava o rosto sisudo; a bengala grande e um chapéu coco foram os elementos incorporados aos poucos, até formar definitivamente a figura de Chic-Chic. O último detalhe acrescentado foi “Violeta”, a inseparável cachorrinha de pano, presa a uma grossa corda que fazia as vezes de coleira. ChicChic criou um bordão que se repetia em todas as apresentações: “Violeta, puuullllaaa!” e puxava a cachorrinha pela corda, fazendo de conta que ela dava um salto. Conta-se que a cachorrinha não era invenção de Chic-Chic, mas sim uma apropriação de um personagem já criado por outro palhaço,

Chic-Chic (Otelo) e Harris (Sergio). Coleção Circo Irmãos Queirolo. Acervo: DPHAC/FCC.

mas que Chic-Chic desenvolveu a seu modo, com o seu tipo de humor. A dupla, Harris e Chic-Chic, ficou conhecida como “os reis da galhofa”, os palhaços mais engraçados do Brasil. Entre todas as brincadeiras, os diálogos entre ambos traziam muitas vezes a sátira social e política. O humor não era exatamente para crianças, carregado de malícia e com eventuais palavrões e por isso alguns pais tinham resistência em permitir que as crianças fossem aos espetáculos. Mas no final das contas, cediam, e as piadas de Chic-Chic acabavam na boca de todos. Depois do sucesso alcançado com a temporada dos anos de 1930, na capital paranaense, os Queirolo reiniciaram suas viagens pelo Brasil. Enquanto faziam suas excursões, Curitiba vivia uma reforma urbana. Na década de 1940, a administração pública de Curitiba investia no planejamento urbano, ordenando a cidade através de um plano de urbanização que ficou conhecido como Plano Agache, de autoria do arquiteto e urbanista francês Alfred Agache. A cidade crescia e precisava de uma outra configuração para que tudo fluísse e ao mesmo tempo espelhasse o progresso do momento. As soluções propostas por Agache e sua equipe implicavam em dotar a cidade não só de uma nova fisionomia, mas também, ou principalmente, de uma nova ordem. (...) A justificativa era clara e inequívoca: a necessidade imperativa de um plano diretor derivava do próprio crescimento da cidade; crescimento dispersivo e desordenado, “como acontece em todas as cidades cujas administrações não norteiam seu programa de trabalho dentro dos rumos de um plano diretor”. (...)

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Novas ruas e avenidas surgiram, uma zona industrial foi delimitada, sendo essas apenas algumas das obras que se distribuíam pela capital. Ao mesmo tempo, havia certa carência de programações culturais, sobretudo durante a II Guerra Mundial. Os clubes étnicos, até então, desempenhavam um papel importante com relação ao lazer junto as suas comunidades e, muitas vezes junto a população da cidade de modo geral Desde a chegada das primeiras famílias de imigrantes a Curitiba, preocuparam-se elas em manter a identidade étnica, organizandose em torno das atividades religiosas e culturais. (...) Com exceção dos clubes alemães, um pouco mais fechados, alguns integravam, desde a sua criação, brasileiros e pessoas de outras etnias.4

Com a Guerra, o clima de revolta contra os países do Eixo estendeu-se aos imigrantes que eram oriundos destes países. O clima de tensão e desconfiança fazia com que todos fossem olhados como suspeitos de serem coniventes com as idéias nazistas e fascistas, gerando preconceitos, BENATI, Antonio Paulo; SUTIL, Marcelo Saldanha. Rui Barbosa, a praça na trilha do tempo. Boletim Informativo da Casa Romário Martins. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, vol. 23, n. 119, dez. 1996. pp. 71-72. 4 BOSCHILIA, Roseli. O Cotidiano de Curitiba durante a II Guerra Mundial. Boletim Informativo da Casa Romário Martins. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, vol. 22, n. 27, out. 1995. pp. 11-12. 3

Chic-Chic e Sergio. Coleção Circo Irmãos Queirolo. Acervo: DPHAC/FCC.

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Agache dividiu a cidade em várias e deferenciadas zonas funcionais: um centro comercial, um centro administrativo (que seria efetivado, uma década depois, com a implantação do Centro Cívico), uma cidade universitária (o Centro Politécnico), um setor militar (no Bacacheri), um centro industrial (Zona Industrial do bairro Rebouças), várias residenciais e assim por diante.3

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perseguições e uma série de mal entendidos. Muitos clubes foram atacados, fechados ou tomados pelo Estado, deixando uma lacuna cultural. Os cinemas faziam sucesso e competiam com o público dos circos e de outros locais de lazer, como o Cassino Ahú, um dos grandes ícones do entretenimento para a sociedade Curitibana da época. Luxuoso, inaugurado em 1940, o Cassino era um local muito elegante, frequentado em especial pela elite curitibana, e que se propunha a ser um ambiente familiar. Além do jogo, oferecia vários espetáculos aos seus frequentadores. Músicos, orquestras e cantores de renome ali se apresentavam. Ambiente requintado, o cassino possuía um salão de jogos e “grill-room”, com serviço de bar e restaurante, onde eram realizados shows, ceias e chás dançantes, com sorteio de prêmios (...). Graças a um contrato firmado com o Cassino da Urca, do Rio de Janeiro (...), no palco do Cassino Ahú estiveram artistas de renome, brasileiros e estrangeiros, como Francisco Alves, Gregório Barrios, Nélson Gonçalves, os Irmãos Queirolo, Os dançarinos espanhóis Los Gitanillos, (...) Moreira da Silva, Alvarenga e Ranchinho, Elba Miramar (intérprete portenha) e Araci de Almeida. Os shows mais expressivos eram transmitidos ao vivo, pela rádio PRB-2.5

Uma das atrações periódicas era “Os cinco diabos brancos”, um grupo de acrobatas que fazia com que o público ficasse com o fôlego em suspenso. Era formado pelos jovens Lídia, Ricardo, Julião e Sergio, que faziam parte da família Queirolo e também por Henricredo Coelho, filho de um casal que trabalhava no circo dos Queirolo. O Cassino recebia atrações variadas e os anúncios dos jornais da época apresentam cantores, cantoras, grupos musicais e outras atrações. Os jovens acrobatas encantavam o público com suas performances audaciosas e também pela sua pouca idade. Eram coordenados por Otelo, o mesmo palhaço Chic-Chic, mas que nesta função transformava-se em um exigente e experiente treinador, uma vez que ele mesmo havia começado sua carreira como acrobata e sabia, melhor do que ninguém, o caminho para o sucesso nessa arte. Após um período de inatividade, durante a II Guerra, em 14 de setembro de 1944 o Cassino foi reinaugurado. Permaneceu ativo até abril de 1946, quando pelo decreto-lei n. 9215 os jogos de azar foram proibidos no país.6

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BOSCHILIA, Roseli. Op. cit. pp. 50-51. BOSCHILIA, Roseli. Op. cit. p.51.


Fachada do antigo Cassino Ahú. Foto J. Baptista Groff. Acervo: DPHAC/FCC.

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Área externa do Cassino Ahú. Foto J. Baptista Groff. Acervo: DPHAC/FCC.

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Diário da Tarde. Curitiba, 05 jan. 1940. Acervo: Divisão de Documentação Paranaense/Biblioteca Pública do Paraná.

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Diário da Tarde. Curitiba, 08 out. 1940. Acervo: Divisão de Documentação Paranaense/Biblioteca Pública do Paraná.

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Diário da Tarde. Curitiba, 03 nov. 1940. Divisão de Documentação Paranaense/Biblioteca Pública do Paraná.

Gazeta do Povo. Curitiba, 07 jan. 1941. Divisão de Documentação Paranaense/ Biblioteca Pública do Paraná.

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Gazeta do Povo. Curitiba, 04 mar. 1941. Divisão de Documentação Paranaense/ Biblioteca Pública do Paraná.

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A década de 1940 também se mostrou auspiciosa para um empreendedor da área cultural, Adolfo Bianchi, que, em outubro de 1942, inaugurou uma das mais famosas casas de espetáculo de Curitiba, o Pavilhão Carlos Gomes, onde os Queirolo se apresentaram durante os anos de 1942 e 1943, tornando-se uma das principais e mais aguardadas atrações. Segundo o jornalista Luiz Andrioli,

Exemplo de um dos cartões-postais autografados para os fãs. Dalva de Oliveira e a dupla “Preto e Branco”. Coleção Cassino Ahú. Acervo DPHAC/FCC.

Ao lado dos cinemas, o Pavilhão Carlos Gomes foi a grande fonte de diversão do curitibano naqueles anos. O espaço cultural criado pelo espanhol radicado no Brasil, Adolfo Bianchi, estava instalado num terreno alugado que pertencia a Victor Ferreira do Amaral, um dos fundadores da Universidade do Paraná (hoje Universidade Federal do Paraná). Os dois eram muito amigos e, por isto, a família Amaral contava com um camarote especial para assistir aos espetáculos. 7

O Pavilhão localizava-se na esquina das ruas Marechal Floriano e Pedro Ivo, em frente à Praça Carlos Gomes, e representou durante alguns anos, um espaço de entretenimento, difusão cultural e sociabilidades. O local oferecia espetáculos variados como musicais, peças de teatro, performances circenses, lutas-livres e, durante a II Guerra, apresentações para os soldados do Exército.8 Na época, um dos estilos mais apreciados pela população do período eram as Operetas. Segundo Apollo Taborda França, depois da Ópera, a Opereta foi o gênero artístico-musical que mais influenciou e

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ANDRIOLI, Luiz. O circo... op.cit. p.29 D’ESTEFANI, Cid. Nostalgia. Gazeta do Povo. out. 2010

Placa comemorativa do 153º espetáculo dos Irmãos Queirolo. Coleção Circo Irmãos Queirolo. Acervo: DPHAC/FCC.


motivou a sociedade curitibana de então. Havia, por parte de algumas das principais companhias, um cuidado muito grande com a ambientação, cenário e figurinos. Tudo era cuidadosamente pensado para que o público se encantasse com os espetáculos. 9 Na linha circense, o destaque foi a família Queirolo, contratada para a inauguração do Pavilhão.10 A trupe era, então, formada pelos irmãos, Julian, Otelo, Ricardo e suas respectivas famílias. Nas palavras de Elton Luiz Barz 11 o pavilhão foi um símbolo “(...) da cultura, quando não se tinha um espaço de teatro, (...) tinha poucos espaços para apresentação de músicos, dançarinos, e outras tantas [atrações]. O Pavilhão Carlos Gomes serviu para isso, (...).”12

Os Queirolo passaram a fazer parte da programação fixa do Pavilhão, chegando a ser, por um tempo, a atração principal. Em suas apresentações, além dos espetáculos de malabarismo e

Gazeta do Povo. Curitiba, 10 out. 1942. Divisão de Documentação Paranaense/Biblioteca Pública do Paraná.

FRANÇA, Apollo Taborda. Da série “Curitiba que eu me lembro”: Pavilhão Carlos Gomes e as Operetas. Revista da Academia Paranaense de Letras, v. 58, n. 33, p. 155-161. Curitiba, 1994. 10 ANDRIOLI, Luiz. O circo... op.cit. p.29 11 Elton Luiz Barz começou a trabalhar na FCC em 1985, como estagiário, e posteriormente como concursado. Hoje é assessor da presidência. 12 BARZ, Elton Luiz. Elton Luiz Barz: depoimento [02/2016]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2016. 9


Publicidades de Operetas apresentadas no PavilhĂŁo Carlos Gomes. 1945. Acervo: DPHAC/FCC.

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Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Gazeta do Povo. Curitiba, de 31 out. 1942. Divisão de Documentação Paranaense/Biblioteca Pública do Paraná.

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acrobacia, havia grandes encenações dramáticas. Apesar de todo o sucesso, eles deixaram o Pavilhão em 1943, segundo consta, por uma razão prosaica: O Bianchi era um homem pão-duro, que só permitia acender as luzes dianteiras do pavilhão na hora do espetáculo. Chic-Chic, com sua visão artística, entendia que as luzes deviam estar acesas assim que escurecesse. Um dia, houve um curto-circuito na discussão dos dois e saímos do pavilhão. 13

Conta-se que esse desentendimento teria sido de dimensões mais hilárias do que as piadas feitas no picadeiro: Dizem que a discussão aconteceu justamente neste horário, e se é que alguém a presenciou, certamente achou tanta ou maior graça do que a apresentação dos músicos trapalhões. Enquanto um ou outro argumentava, ao final de cada frase, colocava o disjuntor geral na posição que convinha ao seu argumento, ligado ou desligado. Quem estava fora do Pavilhão e viu aquele piscapisca frenético deve ter estranhado a situação...14

O Pavilhão Carlos Gomes também não teve uma vida muito longa, apesar de todo o sucesso. No começo dos anos de 1950 foi demolido e no local ergueu-se o edifício Victor do Amaral, que permanece ali até hoje. Quando deixaram o Pavilhão Carlos Gomes, Otelo e Julian Queirolo (Chic-Chic e Harris) já eram os responsáveis pela Companhia. Nesse período montaram sua lona em vários locais e viajaram pelo Paraná, Santa Catarina e São Paulo, sempre intercalando com passagens por Curitiba. Outro talento começava, então, a se destacar na família, Lafayette, filho de Julian, que com apenas quinze anos encantou o público pela perfeição de suas acrobacias. Ressalte-se que a presença das mulheres sempre foi marcante na companhia, desde a matriarca Petrona e, depois dela, as filhas e noras, que sempre participaram ativamente das apresentações e da vida no circo. Algumas filhas, no entanto, depois que se casaram, acabaram se afastando, mas muitas gerações de mulheres continuaram no circo. Alguns artistas, devido à sua dedicação, além de participarem do espetáculo, passaram, de certo modo, a fazer parte da família também. Henricredo Coelho, por exemplo, excelente acrobata que nasceu no circo e

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MILLARCH, Aramis. Os tempos do Pavilhão Carlos Gomes. Tablóide Digital. 26 de jan. 1991. ANDRIOLI, Luiz. O circo... op.cit. p.48.


nunca o abandonou, começou menino aprendendo várias artes até que Tio Quilin, como ficou conhecido na família, começou a se apresentar como o palhaço Gafanhoto, seu apelido desde pequeno. 15 Em 1956, o circo dos Irmãos Queirolo voltou a se estabelecer em Curitiba, itinerando pelos bairros da cidade. O trabalho de ir de cidade em cidade passou a ser de bairro em bairro, variando o tempo de permanência em cada local – por exemplo, de dois, três ou quatro meses, dependendo do sucesso que o circo alcançasse. No bairro Bigorrilho, por exemplo, a lona permaneceu erguida por mais tempo, marcando significativamente a vida do local no que se referia ao lazer e à sociabilidade.

Os espetáculos noturnos, por sua vez, eram realizados quase que diariamente e dessa forma as touradas, os números que envolviam certo risco ou suspense, como os que utilizavam grandes felinos (nessa época ainda se usavam animais nos circos), o Globo da Morte e trapezistas mascarados entre outros, eram apresentados à noite. Nos finais de semana havia a matinada, uma programação voltada especificamente para as crianças. Nas matinadas os palhaços, mágicos, corda-bamba e outras atrações mais voltadas ao público infantil.17 Também as lembranças de criança de outros frequentadores do circo dos Queirolo, falam da presença da lona no bairro do Bigorrilho e de como isso se fazia presente na vida de todos os moradores, crianças e adultos que, cedo ou tarde, encantavam-se pelo mundo mágico e cheio de “aventuras” que o circo trazia. Com certeza fui um dos privilegiados, pois no final da década de 1950 e início da década de 1960, 0 Circo Chic-Chic veio a instalarse no Bigorrilho, a poucas quadras de onde morávamos, mais precisamente, na quadra que hoje é representada pela Alameda Princesa Izabel, a Júlia da Costa, a Capitão Souza Franco e a Dez. Otávio de Amaral, quase ao lado do Hospital Evangélico, num local que era um pasto de cavalos. Nós morávamos na Francisco Rocha, esquina com a Padre Anchieta e, diferentemente dos circos da época, que eram temporários, o Circo Chic-Chic ficou por um longo tempo, acredito que anos, até que a lona foi destruída num temporal (...) 18

ANDRIOLI, Luiz. O circo... op.cit. p.60 STANCZYC, Marli. Marli Stanczyc: depoimento [05/2016]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2016. Texto com base em suas memórias e nas memórias pessoais de Ronaldo Suchevicz e de Rose Mari Ziliotto. 17 STANCZYC, Marli. Marli Stanczyc: depoimento...op.cit. 18 STANCZYC, Milton. Milton Stanczyc: Depoimento [04/2016]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2016.Texto com base em suas memórias. 15 16

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

O Circo do Chic-Chic fez parte da história do Bairro do Bigorrilho por um período aproximado de sete anos; mais ou menos entre os anos de 1957 a 1964 ficou instalado em um descampado entre as Ruas Princesa Isabel, Julia da Costa e Otávio do Amaral. Naquele tempo, as ofertas de lazer no bairro se resumiam às festas da Igreja, aos jogos de futebol de várzea. O circo tornou-se não só uma opção diferenciada de diversão para a piazada, mas atração de lazer para as famílias.16

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Mapa afetivo feito por Marli Stanczyc com base nas memória de Milton Stanczyc e Ronaldo Suchevucz, representando o local onde ficava o Circo dos Irmãos Queirolo, na sua infância.

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Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Localização atual de onde era o local desenhado pela entrevistada Marli Stanczyc.

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Para a população dos bairros era a oportunidade de ver peças variadas, adaptações de clássicos famosos encenados pela companhia teatral do Circo, além dos números tradicionais com acrobacias e palhaços. Cada estreia, num bairro diferente, era um acontecimento para os artistas, sempre um recomeço; e a comunidade além da possibilidade de lazer, encontrava ali um ponto de encontro e de sociabilidade. Para as crianças era um mundo a descobrir, e também do qual podiam participar. Alguns garotos ajudavam na venda de produtos de tabuleiro, antes dos espetáculos: “(...)pirulitos em formato de guarda-chuva, amendoim torrado dentro de cones feitos com papel jornal, maçã do amor.”19 Em troca podiam ficar com uma

Otelo Queirolo fazendo a maquiagem para se transformar no personagem Chic-Chic. Data provável 1968. Coleção Circo Irmãos Queirolo. Acervo: DPHAC/FCC.

pequena porcentagem das vendas e ganhavam ingresso para o espetáculo - realmente um grande negócio para os garotos que conseguiam chegar cedo para garantir vaga como ambulante. A administração do Circo sempre ficou a cargo da família Queirolo, passando de geração em geração, como aconteceu em 1959, após a morte de Julian, quando a responsabilidade pela direção do circo ficou a cargo de Ricardo e Otelo. Nessa época, a tv curitibana, em fase de testes, iniciava suas transmissões regulares, trazendo muitas oportunidades de trabalho. Assim, também os Queirolo encontraram um novo espaço para sua arte, pois a programação ao vivo precisava de artistas que soubessem improvisar e a experiência no circo dava aos seus componentes essa e outras habilidades no campo da atuação. Apesar do encantamento provocado pelo circo, a realidade cotidiana mostrava-se desalentadora. A morte dos intérpretes dos lendários Harris, em 1959, e Chic-Chic, em 1967, a escassez do público cada vez mais seduzido pela televisão e a concorrência dos megacircos, como o Circo Orlando Orfei e o Circo Aquático

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STANCZYC, Marli. Marli Stanczyc: depoimento...op.cit.


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ANDRIOLI, Luiz. O Circo... op.cit.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Europeu, impunham ao pequeno e tradicional circo da Família Queirolo uma sobrevivência agonizante, em que os parcos recursos eram insuficientes para as manutenções necessárias, o pagamento dos funcionários e o sustento da família. Em dezembro de 1968, um forte vendaval colocou abaixo a velha lona instalada no Bairro do Portão incumbindo-se, a natureza, de finalizar um ciclo de apresentações sob lona própria. Antes dessa data marcante, ainda no final da década de 1950, vendo que as dificuldades cresciam mesmo com as incursões pelos programas de televisão e a participação em publicidade, tio Otelo (intérprete do palhaço Chic-Chic) aconselhou os sobrinhos Lafayette, Sérgio e Julião a buscarem um trabalho formal, com carteira assinada, o que poderia garantir o sustento da família. A oportunidade surgiu no Departamento de Estradas e Rodagem (DER).Tal órgão, na época, tinha como Diretor o engenheiro Saul Raiz que viu integrar em seu quadro de funcionários os descendentes de Otelo e Julian. Conta o jornalista Luiz Andrioli em seu livro sobre os Irmãos Queirolo20, que certa vez Saul Raiz encontrou com os irmãos Lafayette e Sérgio Queirolo na rodoviária de Curitiba e que esses na ocasião lhe confidenciaram o distanciamento da lona e do picadeiro desde o vendaval de 1968. Não se sabe se movido pelas lembranças dos personagens Harris e Chic-Chic, o fato é que Saul Raiz, com pretensões ao executivo municipal, naquela ocasião, teria prometido a Sérgio e Lafayette que, sendo eleito prefeito de Curitiba, os Queirolo teriam uma lona de volta.

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2 – Os anos de 1970 e a volta do Chic-Chic Ângela Medeiros Rodarte “A família Queirolo irá dar o maior de seu empenho para divertir toda a petizada da grande Curitiba.”

Lafayette caracterizado de palhaço Chic-Chic. Acervo: Nelson Santos.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

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pleito de 1975 conduziu Saul Raiz à Prefeitura de Curitiba e fez renascer entre os irmãos Sérgio e Lafayette a esperança de retomarem a tradição circense da família, em lona própria. Dito e feito. Em novembro daquele ano, o novo prefeito anunciava a doação, para os Queirolo, de uma lona com capacidade para seiscentas pessoas, a incursionar pelos bairros da cidade apresentando espetáculos variados, a preços populares. Esta iniciativa se enquadrava no programa de animação da cidade encabeçado pela Fundação Cultural de Curitiba. Acertados os trâmites administrativos e as questões técnicas relativas à montagem da lona, a atenção dos Queirolo voltou-se para o formato do espetáculo e sua caracterização dentro da tradição da família. Nele, o elemento mais marcante e ainda vivo na memória de muitos adultos era o palhaço Chic-Chic e sua cachorrinha de pano, Violeta.

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Coube a Lafayette representar o papel vivido por anos pelo tio Otelo e resgatar a magia do palhaço que permeava as saudosas memórias dos curitibanos. Queirolo, Queirolo e Queirolo promete voltar com força total Toda a patota ligada, a dupla Sérgio Queirolo e Lafayette Queirolo encontram-se trabalhando ativamente na montagem do circo ao lado do museu dos calhambeques: no Parque Barigui (...) O Circo Queirolo tem sua inauguração prevista para o dia 30 de outubro. Nele, a família Queirolo irá dar o maior de seu empenho para divertir toda a petizada* da grande Curitiba.21

A grande estreia aconteceu no dia 30 de outubro de 1976, em lona armada no Parque Barigui com o apoio da Fundação Nacional de Arte (Funarte) / Ministério da Educação e Cultura (MEC).

A Gazeta do Povo datada de 27 de outubro de 1976 faz chamada para a inauguração do circo Chic-Chic. Acervo: Divisão de Documentação Paranaense/ Biblioteca Pública do Paraná. JORNAL GAZETA DO POVO . Curitiba, 24 out.1976. p. 13 * Sinônimo de garotada. 21

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No jornal Diário da Tarde, de 1º de novembro de 1976, detalhes da festa de inauguração do Circo Chic-Chic. Acervo: Divisão de Documentação Paranaense/ Biblioteca Pública do Paraná.

Matéria alusiva à inauguração do Circo ChicChic publicada no Jornal Diário do Paraná de 15 de novembro de 1976. Acervo: Divisão de Documentação Paranaense.

Detalhe da lona montada no Parque Barigui. Jornal Diário da Tarde, de 29 de outubro de 1976. Acervo: Divisão de Documentação Paranaense/Biblioteca Pública do Paraná.


Otelo Queirolo, primeiro Chic-Chic e tio de Lafayette. Nas imagens, os dois momentos da caracterização do palhaço: a versão original, interpretado por Otelo nas décadas de 1930 a 1960, e o Chic-Chic dos anos de 1970, interpretado por Lafayette. Acervo: DPHAC/ FCC.

Segundo Luiz Andrioli, a estreia com a casa lotada foi a prova de fogo para Lafayette que, mais tarde, confessou seu temor de que a população curitibana não o aceitasse no papel do palhaço Chic-Chic. Temor esse, possivelmente dissipado pelas várias apresentações e pela calorosa recepção do público ao novo Chic-Chic e ao velho bordão “Violeta pula.” 22 O espetáculo de inauguração apropriadamente foi “A volta do Circo”. A esse somaram-se antigas comédias satíricas adaptadas e apresentadas, anos antes, por Otelo Queirolo como “Chic-Chic no Planeta dos macacos”, “Chic-Chic e o Diabo”, “Chic-Chic médico Operador”, “Chic-Chic Porteiro”, e uma gama de outros títulos envolvendo Chic-Chic, o que denota a continuidade do velho palhaço como a atração principal. No ano de sua inauguração, em pouco mais de dois meses, o circo Chic-Chic realizou 35 espetáculos no parque Barigui com público total de 7.530 pessoas.23 O objetivo da FCC ao montar, com a colaboração da FUNARTE, o circo Chic-Chic, foi de garantir a continuidade de espetáculos populares e preservar a tradição circence da família Queirolo... levando aos bairros uma série de espetáculos de entretenimento e cultura popular.24

ANDRIOLI, Luiz. O Circo... op.cit. FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório anual. 1976. Curitiba: FCC, 1976. 24 FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório anual. 1977. Curitiba: FCC, 1977. 22

Lafayette caracterizado de palhaço Chic-Chic. Acervo: Nelson Santos.

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Sob a administração da família Queirolo, o circo itinerou pela cidade. Contudo, as dificuldades não tardaram a aparecer.

Matéria publicada pela revista Panorama em dezembro de 1978, também alertava para as dificuldades enfrentadas tanto pelos grandes circos, como o Tyhane, quanto pelos pequenos, situando aí o dos Queirolo que, com a ajuda da Prefeitura obtivera nova lona. No entanto, a resposta do público vinha sendo pequena e, não raro, a ausência de plateia inviabilizava o espetáculo. “A televisão não deixa. O futebol não deixa. E tem o pagamento da luz. Tem os artistas, os técnicos.”26 Como alternativa a esse cenário desolador, a revista sugeria a adesão do circo ao que parecia ser sucesso de público em todos os tempos, a “receita apetitosa das noitadas sertanejas” ao que o próprio redator da Panorama em seguida ponderou: Seria exigir demais dos irmãos Queirolo. Apesar de tantos percalços, a tradição e o amor à genuína arte circense lhes são ainda muito fortes, para romperem com aquilo que pode ser, quem sabe, a razão de ser de suas vidas.27

Pode-se ter uma ideia dessas dificuldades com base nos parcos números registrados no relatório anual da Fundação Cultural de Curitiba referente ao ano de 1978, que listava 75 apresentações para um público geral de 9.244 espectadores.28 Se compararmos esses números com os dos dois primeiros meses do circo, em 1976 (35 espetáculos e um público total de 7.530 pessoas) podemos ter uma noção dessas dificuldades.

MILARCH, Aramis. Tablóide Digital. Os inimigos dos Queirolos. 26 jan. 1991. Disponível em: http://www.millarch.org/artigo/os-inimigosdos-queirolos. Acesso em 12/02/2016 26 O AMOR à genuína arte circense ainda é forte. Panorama. Curitiba, v. 28, n.263, dez. 1978. p.6. 27 Id. 28 FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório anual. 1978. Curitiba: FCC, 1978 25

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Como Napoleão, o bravo Lafayette Queirolo, 43 anos de tradição circense, está temeroso de um inimigo cruel: o General Inverno. Os batalhões precursores do glacial inimigo já começaram a chegar e provocar as primeiras baixas no palco de batalhas: o circo Chic Chic, até o dia 14 no bairro do Capão da Imbuia. Na cobertura plástica, colorida e simpática do circo que renasceu após 10 anos, parece ser difícil resistir ao inimigo que, em rajadas covardes atinge os soldados - isso é, espectadores e artistas. Resultado: começa haver deserções do público e o próprio Lafayette não sabe como enfrentá-lo. Outro aliado do General Inverno é a inflação, que corrói os orçamentos domésticos da gente humilde que ainda troca a massificante televisão pelos espetáculos vivos, bemhumorados e saudáveis da família Queirolo e seus amigos. O frio e a falta de dinheiro estão, afinal, assustando os espectadores do Circo Chic Chic, que foi reinaugurado (no ano passado) no parque do Barigüi, passou pela Vila Hauer e está agora no Capão da Imbuia.25

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Na segunda metade de 1978, o Circo Chic-Chic como que precisando se fortalecer, deu uma pausa em sua vocação nômade e se instalou em frente ao Passeio Público, onde ficou até o mês de setembro do ano seguinte. Tendo em vista a grande dificuldade enfrentada pela família, a partir de outubro de 1979 a Fundação Teatro Guaíra (FTG) passou a colaborar na programação teatral e a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) na programação musical e na administração. Naquele mesmo mês o Circo foi montado no bairro do Portão, onde permaneceu até o final de novembro, realizando espetáculos diariamente pela manhã e à tarde direcionados aos alunos das escolas localizadas na região. No período noturno, reabria as portas para a comunidade em geral com uma programação variada, composta de eventos musicais, teatrais e humorísticos. 29 As apresentações destinadas aos pequenos eram gratuitas e as programações noturnas tinham ingressos com módicos valores que variavam de cinco a dez cruzeiros. Com a retomada de sua natureza itinerante, no dia 9 de dezembro, o circo estreou no bairro Bacacheri. Impossibilitada de manter a programação teatral, ao término de 1979 encerrou-se o convênio com a FTG. O circo passou, desde então, a ser de responsabilidade exclusiva da FCC. Com relação à família Queirolo, após o vendaval que destruiu suas instalações em 1968, a possibilidade de voltar a ter lona própria com o auxílio da prefeitura trouxe a esperança de perpetuar sua tradição. Mas, com ela, também ressurgiram as angústias e temores sobre como manter tal estrutura, itinerando dentro da própria Curitiba, com os recursos advindos de uma bilheteria minguada pelos valores reduzidos dos ingressos e pela concorrência da televisão. Com o falecimento de Sérgio, em 1977, e o agravamento das dificuldades financeiras, Lafayette, de forma quixotesca lutou até ao final de 1979, quando não lhe restou outra alternativa senão a devolução da lona para a Fundação Cultural de Curitiba. Com essa decisão, decorridos mais de 60 anos da inauguração do Grande Circo Irmãos Queirolo, no Rio de Janeiro, o tradicional ofício da família se restringeria, doravante, ao espaço privado das animações de festas infantis e de eventos diversos; e a mítica lona familiar se confinaria às imagens amareladas dos álbuns fotográficos e às memórias dos que, sob ela, compartilharam o riso e o drama próprios do mundo circense.

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FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório anual. 1979. Curitiba: FCC, 1979.


Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Imagem de 1978 da lona montada em frente ao Passeio PĂşblico. Acervo: DPHAC/FCC.

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Fachada do Circo Chic-Chic, em 1978, instalado em frente ao Passeio PĂşblico. Acervo: DPHAC/ FCC.

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Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Interior do Circo Chic-Chic em 5 de fevereiro de 1979. Acervo: DPHAC/FCC.

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– De Circo na Cidade para Circo da Cidade “No circo a gente se encontra.”

SILVEIRA, Nelson C. Circo da Cidade: resumo histórico. setembro/79 a junho/80. Curitiba, 1980.

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Imagem do Circo da Cidade na década de 1980. Acervo: DPHAC/FCC.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

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endo em vista o agravamento de questões tanto de ordem pessoal quanto financeira por parte da família Queirolo, ao final de 1979 a lona que abrigava o circo CHIC-CHIC passou a ser administrada exclusivamente pela Fundação Cultural de Curitiba. A partir de então, seus pilares passaram a sustentar o CIRCO DA CIDADE. A nova denominação para a tenda bicolor traduzia as intenções da FCC de participação ativa da população nesse espaço itinerante, propósito esse consolidado ao longo dos anos seguintes. Sob o comando exclusivo da Fundação Cultural de Curitiba, de início a programação contava com espetáculos teatrais, musicais e circenses realizados por grupos profissionais e amadores. Essas apresentações aconteciam somente nos finais de semana, sendo cobrado ingresso em todas as sessões.30

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Para Nelson Santos,31 que acompanhou esse processo inicial, nessa fase a itinerância do Circo foi marcada por uma maior diversificação nas atrações: “havia na cidade muitos corais, artistas e grupos de dança que se dispunham a se apresentar gratuitamente.”32 Em fevereiro de 1980 o Circo foi para a Vila São Paulo no bairro Uberaba, local onde, pela primeira vez, houve um abaixo-assinado movido pelos moradores para sua permanência por um período maior. Não obstante tal demanda, em abril o Circo se instalou no Conjunto Parigot de Souza onde, em parceria com COHAB e o antigo Departamento de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Curitiba, tentou-se a realização de um projeto experimental conjunto voltado aos bairros mais distantes. Em outubro daquele mesmo ano, a lona instalada no Largo da Ordem sediou a 1ª Feira Nacional de Humor – FENAH, um grande evento que reuniu nomes consagrados como Ruy Castro, Chico Caruso, Luiz Geraldo Mazza e Antonio Carlos Lacerda, entre outros, debatendo assuntos como humor no texto e na política. O evento também promoveu a realização de quatro concursos, nas categorias de cinema, teatro, desenho e literatura, além de outras programações tendo como tema o humor.33 Entre 1980 e 1982, o número de bairros percorridos aumentou consideravelmente: foram oito bairros em um ano. Ampliou-se também a oferta de atividades. Assim, aos espetáculos circenses foram entremeadas outras programações como: recreação, pintura, teatro de improviso, espetáculos teatrais e musicais para adultos e crianças, cursos de tapeçaria, cerâmica, entalhe, corte e costura, entre outros. Duas vezes por semana o carro-biblioteca instalava-se junto ao circo para atendimento aos moradores da região.34

À medida que as ações organizadas no circo paulatinamente destituíam o público do simples papel de espectador e passavam a envolvê-lo como participante nas atividades a se comporem sob a lona, tomou vulto a ideia de que “havia uma diversidade cultural da cidade.”35 Auxiliava nessa integração com a comunidade o levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPUC), antes da chegada do Circo, visando detectar as necessidades e interesses da população e o melhor local para a instalação da lona, geralmente próximo a um terminal de transporte coletivo, igreja ou ponto de encontro da população. Nelson Santos foi Coordenador do Circo da Cidade de 1980 a 1982. SANTOS, Nelson. Nelson Santos: Depoimento [out. 2016]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2016. 33 FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório anual. 1980. Curitiba: FCC, 1980. 34 FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório anual. 1980. Curitiba: FCC, 1980. 35 MARÉS, Carlos. Depoimento. Curitiba, [2011]. Acervo: FCC/Centro de Documentação da Casa da Memória. 31 32

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Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Debates no Circo da Cidade erguido no Largo da Ordem durante a 1ÂŞ Feira Nacional de Humor/FENAH. Foto de outubro de 1980. Acervo: DPHAC/FCC.

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Apresentações feitas no Circo da Cidade na década de 1980. Acervo: DPHAC/FCC.

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Todavia, foi a partir de 1983, com a chegada de novo grupo político ao Executivo municipal que, ao caráter de espaço de manifestações culturais, se consolidaram as ações sociais e políticas. Dentro dos direcionamentos apontados pela nova equipe o papel da Fundação Cultural adquiriu um peso maior do que o de entretenimento já que cultura passou a ser entendida, também, como meio por excelência “onde efetivamente se discutia a base da sociedade, portanto, o grupo cultura era um grupo politicamente muito forte (...).”36 Dessa forma, tornou-se o Circo da Cidade um espaço a ser apropriado pela comunidade e um polo aglutinador visando trocas de conhecimento, reflexões, questionamentos e aprendizado, conforme relatou Paulo César Botas, Diretor Executivo da FCC de novembro de 1986 a outubro de 1988: O que nos interessa é desvelar do circo os seus espaços e símbolos onde arte e vida se confundem, onde artistas e públicos se irmanam, onde festa e fantasia misturam-se aos vários cheiros de pipoca, algodão doce, barquilhas, amendoins, pirulitos, que fazem da rua onde o circo está instalado um movimento contínuo e vivo. Queremos pensar o circo como um lugar democrático por excelência. Queremos pensar este espaço mágico, mas nunca ilusório, como o do consumidor da indústria cultural onde a platéia é soberana porque emite todas as suas opiniões.37

o lugar para o exercício conjunto e coletivo da produção cultural, do aprendizado através da relação mestre-aprendiz que cria uma troca de saberes e a reprodução do conhecimento que abre os caminhos para a crítica social e política.38

MARÉS, Carlos. Depoimento...op.cit. p. 9 BOTAS, Paulo César. Depoimento. In: SOMBRIO, Lúcia. O circo da cidade. 27 p. Trabalho acadêmico _Curso de Especialização em Antropologia, Universidade Federal do Paraná – UFPR. Curitiba, 1985, p. 4. Acervo: FCC/Centro de Documentação da Casa da Memória. 38 BOTAS, Paulo César. Depoimento... op.cit. p.4 36 37

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

A política proposta pela Fundação Cultural de Curitiba nas gestões municipais de 1983 a 1988 era voltada à criação de condições para que as necessidades culturais das comunidades tivessem voz e, neste contexto, o circo tinha um papel especial e de grande importância pois era, apropriadamente:

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Festival de Violeiros realizado no Circo da Cidade. DĂŠcada de 1980. Acervo: DPHAC/FCC.

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Para a consolidação dessa prerrogativa de apropriação do circo pelos que dele participavam, em 1983, foi criado o Setor de Cultura Local, cuja finalidade era valorizar e tornar conhecida a diversidade cultural da cidade.

Artesanato e apresentações diversas. Atividades do Setor de Cultura Local no Circo da Cidade instalado no bairro Atuba. Foto de 10 de dezembro de 1985. Acervo: DPHAC/FCC.

O instrumento principal de trabalho do setor de Cultura Local era o Circo da Cidade, que funcionava como um Centro Cultural Ambulante e que atuava de forma a permitir que a população se manifestasse em todos os aspectos. A ideia era, no espaço do circo, refletir sobre os mais diversos problemas levantados pela comunidade, estimular o aparecimento das expressões culturais existentes, atuando em conjunto com a sociedade civil organizada, principalmente as Associações de Bairros”39

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FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITI-

BA. Relatório Projeto Circo da Cidade. Curitiba: FCC, 1997, p.2.

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Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Atividades do Setor de Cultura Local no Circo da Cidade no bairro Atuba. Dezembro de 1985. Acervo: DPHAC/FCC.

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Dentro da proposta de espaço símbolo onde arte e vida deveriam se encontrar, a temporada oficial de 1984 do Circo da Cidade, foi aberta com o musical “Paixão segundo Cristino.”40 Composto por Geraldo Vandré, em 1968, esse musical “traçava um paralelo entre os passos de Jesus Cristo ao Calvário e as migrações dos retirantes nordestinos em época de seca41. O espetáculo, interpretado pelo Coral de Curitiba sob a regência do Maestro Gerardo Gorosito, contou com a participação de Paulo Cézar Botas.42 Se voltarmos os olhos para o cenário nacional, os anos oitenta foram marcados pela abertura política e pela participação cidadã na reconsrução da democracia, abalada por mais de vinte anos de ditadura militar. Alinhando-se a esse contexto, a abertura da temporada oficial do Circo com um musical do autor de Pra não dizer que não falei das flores – canção que se tornou hino da resistência do movimento civil e estudantil durante o governo militar –, reforça o caráter de espaço de encontro da democracia com a diversidade cultural, conforme os parâmetros da política cultural da FCC para Curitiba.43 Sob o pavilhão, as ações culturais se baseavam nas propostas advindas de reuniões com os representantes de diversos locais e de variados segmentos da sociedade. Por isso, o Circo configurava-se como um equipamento institucional estratégico para o fomento e difusão de uma política de valorização da cultura local. Tamanha relevância levou à aquisição, ainda em 1984, de uma segunda lona. Neste ano, o destaque desse trabalho se deu no Abranches e no Jardim Urano. Estimulando as expressões culturais e o movimento de associações de moradores no Abranches, o Movimento Cultural da Periferia emergiu no Centro Cultural São Lourenço, passando a dar continuidade ao trabalho do Circo, que atua de forma ambulante. Já no Jardim Urano, esta atuação foi além do aspecto cultural e artístico: “Foi ali que ocorreu o Encontro de Creches, de Saúde, de Mulheres, debates sobre reforma agrária e outros temas de interesse da população. Nos dois bairros o Prefeito deu audiências públicas.” No âmbito da música, podem-se ressaltar os programas organizados pelos moradores: os Festivais de Calouros, as noitadas de violão e seresta. As atividades com crianças estiveram presentes também nas gincanas “Como Vejo Meu Bairro” e “Se Eu Fosse o Prefeito” no Abranches.44

A PAIXÃO vai ao circo. Jornal de Curitiba. Curitiba, 29 mar 1984. CARDOSO, Santos Marilu. Música, política, repressão e resistência: Geraldo Vandré. In: XVIII Simpósio Nacional de História. Florianópolis, 2015. p.10. Disponível em: <www.snh2015.anpuh.org/.../1434300525_ARQUIVO_ArtigoGeraldoVandré>. Acesso em 29/08/2016. 42 O cantor, Paulo Cézar Botas, participou do musical original, apresentado no final dos anos sessenta. Paulo Botas foi Diretor Executivo da FCC de novembro de 1986 a outubro de 1988. 43 MENDONÇA, Maí Nascimento. Fundação Cultural de Curitiba. Boletim Informativo da Casa Romário Martins. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, v.23, n.114, dez. 1996. p. 167. 44 FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório anual. 1984. Curitiba: FCC, 1980. p.46. 40 41

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Circo da Cidade instalado no Bairro do Abranches. Foto de dezembro de 1984. Acervo: DPHAC/FCC.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Cartaz, datado de 12 de novembro de 1984, convidando para o evento Encontro de Mulheres. Acervo de cartazes FCC/DPHAC.

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Cรณpia de detalhe do Jornal Tribuna do Paranรก de 12/08/84 sobre o festival de calouros. Acervo: DPHAC/FCC.

Detalhe de chamada da Gazeta do Povo. Acervo: DPHAC/FCC.


As duas lonas abrigaram também o projeto Universidade dos Bairros: A idéia é simples e prática: utilizando os espaços dos dois “Circos da Cidade”, atualmente nos bairros de Santa Amélia e São Brás, a Fundação monta uma série de cursos com temas práticos, numa carga máxima de cinco horas, para oferecer às comunidades informações sobre aquilo que lhes é de interesse imediato: direitos trabalhistas, gravura e impressão de silk-screen, higiene, conservação de alimentos, plantio de hortaliças, jardinagem, primeiros socorros, etc. Enfim, o ensinamento prático que possa fazer com que famílias humildes enfrentem melhor a dificuldade do dia a dia, e, num esforço comum encontrar soluções em equipe. Os cursos serão organizados em colaboração com outras instituições e órgãos- Secretarias da Agricultura e Saúde, Bem-Estar Social, Surehma, Diretoria de Parques e Praças, etc., de forma a que a informação prática seja passada de modo objetivo em aulas dinâmicas.45

Em 1986 adquiriu-se a terceira lona e, em 1987, a quarta. À exceção dessa última, as demais eram equipadas com biblioteca, espaço cênico, escola de arte, escola de música, instrumentos musicais e equipamentos de som.

Cartaz de fevereiro de 1985, convidando para a abertura do Circo da Cidade no Bairro São Braz. Acervo de cartazes FCC/DPHAC.

Os grupos da comunidade se organizam para solicitar cursos, instruções, formações e capacitação. O espaço é utilizado para ensaios de música, teatro, dança, etc. Há bairros que utilizam o circo de manhã, de tarde e à noite; outros utilizam menos, somente à tarde e à noite. Não se paga cachê para as apresentações comunitárias e, uma vez ou outra, por solicitação ou vontade da comunidade, o órgão municipal programa espetáculo de música ou teatro, sempre com o sentido de informar; por isso mesmo estes espetáculos são sempre de boa qualidade. Os filmes que passam semanalmente são sempre programados pela Coordenação de Cinema.46

MILARCH, Aramis. Tablóide Digital. FCC usa gibi e leva cultura aos bairros. Disponível em: < http://www.millarch.org/artigo/fcc-usa-gibi-leva-cultura-aosbairro>. Acesso em 11/02/2015 46 FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório anual. 1988. Curitiba: FCC, 1988. 45

Jornal do Circo, datado de março de 1987 (impresso pela FCC), convidando para o curso sobre confecção de produtos de limpeza, ministrado pelo bioquímico Adair Antônio, na lona montada na Vila Guaíra. Acervo: DPHAC/FCC

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Adquirida na época em que o país fervilhava com a discussão da nova Constituição Federal, a quarta lona foi instalada na Praça Santos Andrade no período de março a agosto de 1987. Ficou conhecida como o Circo da Constituinte. Nela, findo o período da ditadura militar, a população se reunia entusiasmada pela possibilidade de participar da redemocratização através de debates sobre questões sociais, políticas e culturais, além do acompanhamento dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Segundo Elton Luiz Barz, que acompanhou ativamente esse processo, a lona estava sempre movimentada com a presença principalmente de estudantes universitários tornando-se um espaço de encontro e participação de segmentos sociais mais politizados. Elton lembra ainda que, entre os frequentadores mais assíduos, estava uma cachorrinha de rua, manca, a quem deram o nome de Constituinte. Nos momentos mais enrolados de discussão da constituinte, não raro e de maneira hilária, comparavam o curso desse processo ao problema físico do pobre animal.

Foto de 1987 do Circo da Cidade IV, montado na Praça Santos Andrade durante o processo da Constituinte. Acervo: DPHAC/FCC.

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Chamada para a abertura do Circo da Constituinte. Jornal do Circo. Marรงo de 1987. Acervo: DPHAC/FCC.

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Enquanto o Circo da Constituinte ficava na Praça Santos Andrade os demais circulavam por Curitiba, permanecendo de três a quatro meses em cada bairro. Durante essa permanência, a vida cultural da comunidade local se movimentava. O circo é mágico (...) quando ele chega em um lugar e que estende a lona no chão, e começa a levantar, aquilo é mágico, uma coisa sensacional, não tem nenhuma pessoa no mundo que esteja passando pela frente e não pare para olhar (...). A descoberta do circo foi uma coisa absolutamente sensacional para isso, porque aí nós falamos “Agora nós temos espaço que pode ir a qualquer lugar”, a cidade tem um espaço. No final da gestão eram quatro circos extraordinariamente bem montados que circulavam a cidade; pois bem, então para isso servia o circo, para a gente fazer uma discussão, por isso que, ao final, foi o Circo da Constituinte, para discutir a constituição do Brasil (...). Daí nasce o circo e daí a gente descobriu mais uma coisa, que não era só um espaço de discussão, o circo era um espaço privilegiado da expressão cultural do bairro. Portanto a invenção do circo é a invenção da possibilidade prática de colocar em vida aquela proposta de política e cultura. 47

47

52

MARÉS, Carlos. Depoimento...op. cit. p.16.

Sequência de imagens que ilustra a montagem da lona no bairro São Braz. Data: 22/02/1985. Acervo: DPHAC/FCC.


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Para garantir a continuidade dessa efervescência, mesmo depois da partida do circo, foram criados, nos bairros, centros culturais: no bairro Santa Amélia o Castro Alves; no Campo Comprido, o Campo Comprido; no Umbará, o Umbará e, no bairro São Lourenço, o Centro de Criatividade passou a ter a conotação de centro cultural com atendimento similar ao realizado no circo, incentivando a participação da população em encontros, principalmente na área musical, o que reunia músicos de várias regiões de Curitiba. Data também dos anos 1980 o projeto da Rádio Popular, um grande mastro com alto-falantes, um estúdio de som e um locutor, geralmente da região, treinado pelos animadores da Fundação Cultural. A programação, com alcance do raio abrangido pela potência dos alto-falantes, era composta de informes gerais - serviços públicos no bairro, festas, falecimentos, ações comunitárias, campanhas de vacinação entre outros - e de programas musicais.48 Para Santalina Felipe, que trabalhou com o Circo no período de 1986 a 2004, “a criação das rádios populares na Vila Torres e Vila Verde foi interessante porque teve muita participação da comunidade.”49 Sempre que um circo se preparava para se deslocar para outra região a divulgação de sua chegada era feita através de cartazes especialmente criados pela Fundação Cultural para esta finalidade, e colocados em pontos estratégicos do bairro e adjacências, como terminais de ônibus, igrejas e associações e em locais do centro da cidade, como a Biblioteca Pública, com quem o circo mantinha parceria na área de literatura. Nessas ocasiões um automóvel munido de alto-falante também percorria as ruas do bairro escolhido anunciando a chegada do circo e, não raro, um palhaço acompanhava o motorista. As rádios faziam chamadas avisando os moradores não só dos espetáculos e oficinas como também dos serviços municipais, realizados sob a lona. Um impresso denominado Jornal do Circo, cujo conselho editorial era formado por representantes de Associações de Moradores, Centros Culturais e a Equipe do Setor de Cultura Local da FCC, circulava por toda a cidade, veiculando desde poesias de autores locais a comunicados gerais, além das programações e roteiros das lonas itinerantes.

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FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório Projeto Circo da Cidade. Curitiba: FCC, 1997, p.2.

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FELIPE, Santalina Pessoa. Santalina Pessoa Felipe: Depoimento [jun. 2016]. Entrevistadora: Ângela Rodarte. Curitiba, 2016.


Detalhe dos dados editoriais do Jornal do Circo. Março de 1987. Acervo: DPHAC/FCC.

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Jornal do Circo com o roteiro dos bairros que seriam percorridos pelas três lonas. Março de 1987. Acervo: DPHAC/FCC.

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Convite para o inĂ­cio das atividades de 1985, no Circo da Cidade, erguido na Vila AmĂŠlia. Data: Dezembro de 1984. Acervo: DPHAC/FCC.

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Relatos e relatórios descrevem a dinâmica criada na cidade pela passagem do circo e sua colaboração no fomento e intercâmbio cultural:

Entre os anos de 1983 e 1988 o número de atividades realizadas e de participantes nas quatro lonas foi bastante expressivo, ultrapassando a marca de um milhão o total de público nestes sete anos. Lembrando que até 1985 eram apenas duas lonas. Seguindo a chamada institucional da época, “no circo a gente se encontra”, sob a lona a comunidade se encontrava, se apresentava e se representava.

FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório Anual. Curitiba: FCC, 1986, p. 4-5. 50

Cartaz datado de janeiro de 1986. Acervo de cartazes FCC/DPHAC.

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No ano de 1986, grupos de atuação formados com a passagem do Circo pelos seus bairros passaram a se apresentar também nos outros locais ocupados por ele, atingindo assim outros públicos e resultando em uma cadeia de apresentação entre os três circos. A programação é sempre realizada por uma “comissão espontânea da comunidade”, e cabe a elas permitir que o espaço seja disponibilizado para grupos de outros locais. Nota-se que estes grupos já carregam consigo a experiência de quando se apresentaram e programaram as atividades do Circo em seu bairro, durante os quatro meses em que lá se instalou. Nesse sentido, 1986 foi importante para estimular a mobilidade desses grupos, que ao se articularem fizeram surgir um Movimento Cultural entrelaçado na cidade. Verifica-se também que a conquista de novos espaços após a saída do Circo não deixa que os grupos organizados encerrem suas atividades. 50

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3 – A Década de 1990: O Circo faz Malabarismos Elizabete Berberi “...e então eu sentia algo muito bom, um clima de tensão com gosto de atenção.”

M

(...) A ideia era no espaço do Circo, refletir sobre os mais diversos problemas levantados pela comunidade e também estimular o aparecimento das expressões culturais existentes. Esta característica de um espaço que não era tão somente cultural, mas também social e política, vai de 1983 a 1988. A Coordenação tinha quatro Circos de dois mastros e se chamava Valorização da Cultura Local.51

SILVA, Luzia Simplício da. Luzia Simplício da Silva: Depoimento [9/5/2016]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2016. 51

Arte de Denise Roman, 1990, para cartaz da abertura do Projeto Circo da Cidade. Acervo: Coleção de Cartazes FCC/DPHAC.

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udanças de gestão normalmente são acompanhadas por alterações nas prioridades e descontinuidade nos programas de governo. Com o Circo não foi diferente. Apesar da identificação e participação da comunidade, a nova gestão municipal iniciada em 1989, acenava novas perspectivas para o Circo da Cidade. Até então, havia uma proposta mais política estruturando os trabalhos no Circo, como relata Luzia Simplício da Silva, chefe do Setor de Circos de 1994 a 1999:

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Da esquerda para a direita, Silvio Cáceres, Geraldo Magela, Edenilson Marcos Anderson, Luzia Simplício da Silva, Jorge Pereira do Nascimento, Albanir de Quadros Moura. Entrevista realizada na Cinemateca de Curitiba em fevereiro de 2016. Acervo: DPHAC/FCC.

Em pé Geraldo Pioli. Sentados, da esquerda para a direita Silvio Cáceres, Geraldo Magela, Edenilson Marcos Anderson, Luzia Simplício da Silva, Jorge Pereira do Nascimento, Albanir de Quadros Moura. Entrevista realizada na Cinemateca de Curitiba em fevereiro de 2016. Acervo: DPHAC/FCC.

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Atrás, ao fundo, Pedro Bahl Jr. Em pé, da esquerda para a direita: Luzia Simplício da Silva, Pedro Irineu dos Santos, Albanir Quadros Moura, Mauricio Stemberg (professor de violão), Edenilson Marcos Anderson. Butiatuvinha/ Santa Felicidade, 1997. Acervo: Circo da Cidade / FCC.

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Edenilson Marcos Anderson e Luzia Simplício da Silva. Entrevista realizada na Cinemateca de Curitiba em fevereiro de 2016. Acervo: DPHAC/FCC.

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Com a nova gestão, o papel da comunidade foi se deslocando paulatinamente, e se afastando da participação política. O programa foi alterado, focando nas artes circenses. Em termos de espaço, a mudança se deu pela transformação dos três circos de dois mastros em um grande circo de quatro mastros, propício à realização das oficinas circenses, principalmente aquelas de voo aéreo como saltos e equilibrismo. O Circo menor, de dois mastros, voltou-se para as apresentações teatrais. Ambos continuaram a circular pela cidade. Sob a coordenação de Manoel Serbeto Mathias, a inauguração do circo de quatro mastros, com suas oficinas e espetáculos circenses, aconteceu em 1º de julho de 1990, no Largo da Ordem. Em 1992 Gilson M. P de Oliveira passou a responder pela coordenação. Nesse período, o Circo da Cidade, e os circos em geral, tinham muita visibilidade e desempenhavam papel importante no lazer das comunidades, como relata Geraldo Magela52, havia muitos pequenos circos em Curitiba, que tinham mais visibilidade porque não havia outras atrações para competir com eles; além disso, a programação era especial para o bairro onde se instalavam.

Cartaz da abertura do Projeto Circo da Cidade (circo de 4 mastros), para a realização das oficinas circenses.Arte de Denise Roman, 1990. Acervo: Coleção de Cartazes FCC/DPHAC.

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(...) E todos os pequenos circos, era um cordão umbilical, de um artista do circo fazer oficina, na outra semana outro artista. As oficinas no circo sempre tinham palhaços de outros circos, de três, quatro, cinco circos. Nós tínhamos um número bem grande de circos em Curitiba nessa época, e nós tivemos inclusive na Pedreira um festival de circo.53

Funcionário da FCC desde 1991, trabalhou no projeto do Circo durante aproximadamente 4 anos. 53 MAGELA, Geraldo. Geraldo Magela: Depoimento [15/12/2015]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2015. 52


O I Festival de Circos de Curitiba aconteceu em 07 de outubro de 1990, na Pedreira Paulo Leminski, e reuniu aproximadamente 15 companhias circenses, fazendo circular por volta de 50.000 pessoas no evento.54 O festival era uma demanda da classe circense, como forma de divulgar melhor essa arte, concentrar o público em um só lugar e fazer com que este tomasse contato com várias companhias. Em 31 de março de 1990, a lona pequena, sob a denominação de Circo Teatro da Cidade, estreou na Vila Verde. O objetivo era levar os espetáculos teatrais às comunidades, visando a popularização do teatro; por isso, o circo ficava um mês em cada local, passando depois a itinerar por outros bairros. Com as mudanças no programa do Circo da Cidade, no período de 1990 a 1993, as oficinas de circo e os espetáculos teatrais foram o principal objetivo do projeto. O auge da campanha ocorreu no período de 14 a 29 de dezembro de 1991, quando os dois circos sediaram várias apresentações de espetáculos teatrais, para os quais o ingresso era um quilo de lixo reciclável. O projeto alcançou um público de 16.800 pessoas, em 48 espetáculos.

O Circo Teatro, durante o período em que esteve ativo o projeto, percorreu os bairros do Campo Cumprido, Abranches, Boqueirão, Alto Boequeirão, Vila Hauer, Vila Pompeia, Vila Ouro Verde e São Brás. Início da década de 1990. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Projeto Circo da Cidade. In: PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Relatórios do ano de 1990 – Projetos Especiais. Curitiba: PMC, 1990. 54

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Circo Teatro, peça “Marcelino, Pão e Vinho”. Início da década de 1990. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Veranico na Praça Hauer, 05 a 10 de maio 1992. Apresentação do grupo Estância Velha da Tradição. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Veranico na Praça Hauer, 05 a 10 de maio 1992. Esse evento contava com apresentações variadas, que aconteciam durante o dia todo, tanto pessoas e grupos da comunidade, como também atrações contratadas. Na foto, apresentação da Orquestra Harmônicas de Curitiba. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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A partir de 1993, com mais uma mudança na gestão municipal, o Circo passou a ser um Setor vinculado à Coordenação de Artes e Ofícios. Em 1994, em razão de cortes orçamentários, o projeto ficou apenas com uma lona, que manteve sua característica itinerante, e com a função de promotor de atividades diversas, entre elas as oficinas de circo.55 Desde então, o Circo da Cidade passou a ter outros programas e oficinas, sempre percorrendo os bairros, neles permanecendo de um a quatro meses. O objetivo era que o Circo fosse um lugar para agregar, sobretudo as crianças e os jovens das comunidades mais carentes, que não tinham acesso as produções culturais institucionais e nem mesmo a atividades de contraturno escolar ou formação complementar; aqueles cujo acesso era ainda precário. Através de seus programas, portanto, o Circo formava, informava e dava espaço para que as comunidades se expressassem, e essa era uma de suas propostas fundamentais. Cursos de artes circenses propriamente ditas, mas também outras oficinas de artes e ofícios, cursos de tapeçaria, violão, capoeira, cestaria, dança, além de um carrobiblioteca, shows de talentos locais e outras atividades. Tudo isso, aliado a um contato

Setor de Circos - Barracão Mercês. Da esquerda para a direita: Guilherme Osty, Luzia Simplício da Silva, Silvio Cáceres, Albanir de Quadros Moura. Jul. 1994. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

SILVA, Luzia Simplício da. Luzia Simplício daSilva: depoimento...op.cit.

de Quadros Moura, Geraldo Magela, Edenilson Marcos Anderson, Geraldo Pioli e Pedro Bahl Junior. 12 dez. 1994. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Almoço dos funcionários do Setor de Circos. Jardim Independência. Da esquerda para a direita: Guilherme Osty, Luzia Simplício da Silva, Albanir


mais intenso com as lideranças das comunidades, fazia com que as pessoas deixassem de ver o circo como mero local de entretenimento, organizado por pessoas de fora da comunidade, e passassem a vê-lo como um espaço que dava voz e vez às pessoas do bairro. Essas propostas, na realidade, retomavam o projeto dos anos de 1980, quando a intenção era, além de levar e mostrar elementos da cultura erudita, ou cultura formal, dar oportunidade para a comunidade perceber sua própria cultura e expressá-la num espaço público, num equipamento público, como é o Circo. Dessa forma, a partir de 1994, os moradores participavam ativamente. Como nos conta um dos entrevistados, Jorge Pereira do Nascimento56, um dos objetivos principais, (...) era descobrir talentos no bairro. Quem sabia cantar vinha cantar, quem sabia tocar vinha tocar, as meninas vinham dançar no domingo à tarde. Era assim, descobrir os talentos do pessoal do bairro. (...) (...) E tinha a biblioteca no circo, onde o pessoal vinha emprestar livro, vinham ler ali...57

Praça Santos Andrade, Dia Mundial do Circo, 15 mar. 1995. Brincadeiras e atividades circenses. Na foto aparecem Edenilson Marcos Anderson, Silvio Cáceres e Euza Maria Souza. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

Jorge Pereira do Nascimento começou a trabalhar no Circo da Cidade em 1987, e permanece na FCC hoje como agente cultural. 57 NASCIMENTO, Jorge Pereira do. Jorge Pereira do Nascimento: depoimento [15/12/2015]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2015. 56

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Dia Mundial do Circo, 15 mar. 1995. Praรงa Santos Andrade. Brincadeira e atividades circenses. Oficina de arame fixo. Na foto, Albanir Quadros. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Dia Mundial do Circo, 15 mar. 1995, Praรงa Santos Andrade. Luzia Simplicio da Silva maquiando uma das crianรงas que participavam do evento. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Dia Mundial do Circo 15 mar. 1995, Praça Santos Andrade. Encerramento das atividades do Dia Mundial do Circo. As crianças assistem às apresentações de alunos das oficinas e de profissionais, como o palhaço Mosquitinho, o palhaço Gigio, o palhaço Zé Priguiça e o mágico Danton. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Silvio Cáceres, Pedro Irineu dos Santos (Zé Priguiça) e Luzia Simplício da Silva. Peça teatral -Auto de Natal – “Jesus na casa do pobre”. Jardim Ipê. 09 dez. 1995. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Apresentação final dos alunos da Oficina de Trapézio. Jardim Independência/Cic 1994. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Apresentação final dos alunos da Oficina de Arame Fixo. Umbará, 1995. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Apresentação final dos alunos da Oficina de Salto Mortal. Umbará, 1995. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Apresentação final da Oficina de Arame Fixo. Umbará, 1995. Na primeira foto, seu Zé orienta o pequeno aprendiz. Acervo Circo da Cidade/FCC.

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Apresentação final dos alunos da Oficina de Trapézio. Butiatuvinha/Santa Felicidade, 1997. Acervo: Circo da Cidade/FCC.


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Jardim IndependĂŞncia, 1994. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Aliado a esse pensamento, o Circo possibilitava, através de várias oficinas, oferecer um conhecimento prático de algumas artes, desenvolvendo habilidades e técnicas. Ainda aconteciam sessões de cinema nas quintas-feiras à noite, apresentações de peças como “Marcelino Pão e Vinho”, “O Ébrio”, adaptações de filmes, e também a encenação da “Paixão de Cristo”, seguindo um programa que vinha desde os Queirolo. Além disso, o trailer biblioteca atraía bastante a população. As oficinas aconteciam de segunda a sexta-feira e, os espetáculos no final de semana. Sobre esse período, Pedro Bahl Jr - que ingressou no Circo em 1992 e nele permaneceu até 2007 - conta que os funcionários frequentaram o Liceu de Artes e Ofícios, que ficava no Centro de Criatividade, para se habilitarem e posteriormente ministrarem as oficinas do Circo. (...) os funcionários do Circo, com os cursos que aprenderam no Liceu de Ofícios, tiveram a oportunidade de oferecer aulas de artesanato para a comunidade. O Circo da Cidade, com essas modificações, transformou-se num espaço com grande movimentação e participação da comunidade; funcionava de segunda a sexta com aulas de circo, artesanato, violão, teatro e ainda um cantinho para leitura, porque foi criada uma pequena biblioteca, onde as pessoas faziam suas leituras ou, se preferissem, faziam empréstimos de livros para levarem às suas casas (...).58

O show de talentos era particularmente esperado pela comunidade, e representava, logo de início, um elo entre essa e o Circo, quebrando o estranhamento que esse equipamento cultural podia causar; aproximava, gerava intimidade e dava oportunidade para que todos dele se apropriassem. Essa, afinal, era uma das propostas mais importantes do trabalho: a participação intensa da comunidade. A Rádio Circo também fazia parte dessa interação, pois além de divulgar a programação do dia, abria espaço para que as pessoas mandassem recados umas às outras, informava sobre serviços de utilidade pública, e animava o local antes das apresentações. Pedro Bahl Jr é quem lembra a relevância e alcance desta programação: (...) Impressionante como a Rádio e o Show de Talentos mexia com os frequentadores do Circo, as pessoas se identificavam tanto que quando chegávamos para abrir o Circo, o número de pessoas que estavam aguardando para entrar já era grande. Assim que era liberado para o público entrar, algumas pessoas já iam se acomodando nas arquibancadas, outros corriam para formar fila ao lado do Estúdio de Som do Circo, para mandarem recados, fazer pedidos de música e outros para garantirem participação no Show de Talentos.(...)59

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BAHL JÚNIOR, Pedro. Pedro Bahl Júnior: depoimento [2/12/2016]. Entrevistadora: Ângela Rodarte. Curitiba, 2016. BAHL JÚNIOR, Pedro. Pedro Bahl Júnior: depoimento...op.cit.


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O trailer da direita era a Biblioteca e o da esquerda a cozinha. O projeto com a biblioteca foi de 1995 a 1999. Este projeto da biblioteca do Circo da Cidade recebeu da ABRINQ a doação de mil livros. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Crianรงas lendo no interior do carro-biblioteca. Respectivamente Butiatuvinha 1997 e Vila Verde 1998. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Jorge Pereira do Nascimento e Waldemar Gasparim Bock. Bairro Novo 1997. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Detalhe do Alto-Falante. Bairro Novo, 1997. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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A importância do circo, através dos seus programas, rapidamente se espalhou e as comunidades passaram a fazer suas demandas para que a lona fosse montada nos seus bairros. O processo seguia alguns procedimentos, como conta Luzia Simplício: (...) Na verdade, primeiro vinha uma solicitação da comunidade, nós tínhamos e acho que até hoje o circo tem essa parte boa, porque a comunidade adota ele naquele local e gosta da atividade que está sendo desenvolvida; isso propaga dentro das comunidades, dos presidentes das associações de moradores. E o pessoal fazia a solicitação, então a gente tinha pilhas de solicitações para que a lona fosse, em tal temporada, tal período, gostaria que o circo fosse para aquele lugar. Então, primeiro, a gente ia visitar o local, fazia o reconhecimento e sempre junto à equipe de montagem, no caso o responsável pela equipe, o Zé Priguiça, ele sempre nos acompanhava nas visitas técnicas que a gente fazia no local e de reconhecimento mesmo: se ali funcionava, se cabia o Circo, se era possível a montagem e aí fazia, também, esse reconhecimento da comunidade. O que nós tínhamos ali a favor, o que poderia auxiliar a atividade do circo ali, até porque eram períodos em que a gente não tinha editais como tem hoje na FCC, para podermos preencher a programação do circo, a gente trabalhava com os talentos que conseguia levantar ali no local. Então, nós fazíamos um levantamento disso, o que nós encontraríamos ali de artistas, de talentos que podiam preencher essa programação do Circo e a comunidade participar.60

A estreia do Circo em cada comunidade era um evento de porte especial. Algumas vezes contou com a presença do prefeito e, sempre, a abertura ficava por conta da Banda Lyra. Ao longo do tempo, o fortalecimento e o sucesso do Circo foram garantidos pelo trabalho sério e competente de seus colaboradores. Dentre eles, atuando como funcionário da FCC desde 1992, sempre no projeto Circo da Cidade, Albanir Quadros, apaixonado pelo seu trabalho, tem plena convicção do papel social do projeto e de seu resultado positivo. Para ele não resta a menor dúvida de sua importância, pois, como ele repete, “a cultura fundamenta o caráter”. Sua história na FCC se mescla com a história do Circo da Cidade e, ao longo destes 20 e tantos anos de trabalho, seu ânimo, sua disposição e principalmente, sua confiança no que foi desenvolvido junto às comunidades, continuam inabaláveis.

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SILVA, Luzia Simplicio da. Luzia Simplício da Silva: depoimento...op.cit.


Banda Lyra. Inauguração do Circo da Cidade no Jardim Ipê, 1995. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Recém-aprovado em concurso público, Albanir iniciou na FCC como bilheteiro no Circo da Cidade, quando era cobrada um taxa simbólica para os espetáculos. O cotidiano no circo foi trazendo outras demandas e ele fez um curso de teatro para poder assumir a função de orientar as crianças nessa área, o que fez durante 10 anos, como ele mesmo conta: (...) Aí eu fui para instrutor de teatro. Fui me preparar, busquei muita informação, estudei, Biblioteca Pública naquela época, para que eu pudesse ter um pouco de experiência para passar. E, realmente, foram anos maravilhosos, não é? Que até hoje a gente encontra criança, quer dizer, criança da época e que hoje são adultos, e inclusive nós temos um menino hoje, Saulo Paulino, que ele é artista, e começou no circo, brincando de teatro com a gente. (...)61

O Circo era um verdadeiro centro cultural nos bairros mais afastados e carentes da cidade. Albanir recorda que ao longo de seu trabalho sob a lona deve ter passado por uns 60 bairros. O Circo servia até para a realização da missa dominical em locais onde não havia Igreja. A comunidade toda acabava se envolvendo, não somente as crianças, mas os adultos também, pois encontravam ali um espaço para serem ouvidos, para debater, para terem contato com programações às quais, de modo geral, não tinham acesso. Com atividades de domingo a domingo, era um ponto de referência e de encontro. Mais que isso, o Circo era um local onde outras histórias também se entrelaçavam. Assim, sua equipe unida e engajada, que vivia um cotidiano difícil, mas que aprendeu muito com a experiência e o trabalho desenvolvido nos projetos do Circo da Cidade. Momentos de tensão, nos quais, desde a escolha do local à montagem da lona, havia um preparo e uma negociação que deveria ser feita e que foi aprendida na prática. O grupo aprendia e se testava todos os dias. A forma como se comportar, como se estabelecer em determinado local, como interagir com as pessoas, isso tudo, num primeiro momento, dependia de uma boa negociação com a comunidade, com suas lideranças Nós fazíamos esse levantamento e trazíamos essas pessoas para ficar do nosso lado para nos auxiliar na divulgação do projeto. É claro que, nós tivemos algumas situações em que a comunidade gostaria de ter o projeto ali. Mas, de repente, você ficaria numa área que já estava sendo dominada pelo trabalho ilícito; então nós estávamos chegando num local que já tem um grupo ali, que já se sente dono daquela área. Nós tivemos muitas situações em que tivemos que negociar. “olha, daqui para cá vocês ficam, dali para lá nós ficamos” e vamos procurar trabalhar cada um na sua, sem misturar as coisas. (...) Sim, então no início você tinha que chegar junto com eles ali, dizer: “nós estamos trazendo tal projeto, vai acontecer assim... “Mas dona, o meu filho pode fazer lá?” “O seu filho pode fazer, o senhor pode fazer, sua família pode estar lá junto com a gente...” E era o que acontecia.(...).62

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QUADROS, Albanir. Albanir Quadros: depoimento [15/12/2015]. Entrevistadoras: Angela Medeiros Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2015. SILVA, Luzia Simplicio da. Luzia Simplício da Silva: depoimento...op.cit.


Apesar das dificuldades, das tensões e do intenso trabalho, a equipe se divertia. As lembranças de episódios prosaicos, do cotidiano, não param Mas era brincadeira e era legal, porque éramos um grupo unido sabe: era o Jorge, o Pioli, o Guilherme, o Roni, o Albanir, os meninos aqui presentes. E a gente ia de Kombi, um era deixado no Tatuquara, eu morava na casa que tinha sido do Palito... o Pioli depois do Palito, lá em Almirante Tamandaré, literalmente era o ultimo a ser entregue. Chegávamos em casa às duas da manhã, o Circo terminava onze horas e até entregar todos, nossa!... era muito longe. E aí a gente ia brincando dentro da kombi, tirava até uma soneca, nesse processo de mobilidade urbana. Mas a mobilidade urbana foi fundamental para a formação de muitas crianças seja malabares, seja contorcionismo, seja corda indiana, monociclo, todas as linguagens que o Circo tinha eram fundamentais para o processo, porque no final, quando o circo terminava, todas as crianças iam caracterizadas com a melhor roupa, pois os pais ficavam na plateia: quinhentas pessoas, geralmente, no circo para ver o desempenho do filho que fez as oficinas circenses. Nós víamos mães chorando no dia em que o Circo ia embora, sabia? 63

O circo fez (e continua fazendo) diferença na vida das pessoas do local onde se instala, pois sua linguagem facilita o acesso às crianças, às famílias e a toda a comunidade, que se sente à vontade para participar. Nele são trabalhados a autoestima, a disciplina, a autoconfiança, o respeito, o trabalho em grupo, enfim a superação dos limites impostos por distâncias sociais. 64 63 64

Apresentação final, perto do Natal, dos alunos da Oficina de Monociclo. Bairro Novo, 1997. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

MAGELA, Geraldo. Geraldo Magela: depoimento...op.cit. QUADROS, Albanir. Albanir Quadros: depoimento...op.cit.

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Enquanto esperam a sua vez para entrar no picadeiro, as crianças observam as apresentações dos amigos. Vila Verde 1998. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Alunos da oficina de Trapézio esperam para fazer sua apresentação final. Bairro Alto, dez. 1999. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Apresentação final dos alunos da Oficina de Contorcionismo Bairro Alto, dez. 1999. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Um exemplo da influência do circo na vida de um jovem é trazido pelas lembranças de Saulo Evaristo Paulino. Hoje adulto e decidido a seguir a carreira artística, Saulo nos fala sobre a infância cheia de dificuldades e como o Circo da Cidade foi crucial para que ele seguisse seus estudos e fosse em busca do trabalho como ator. Na infância ele morava na Vila Verde, um bairro da periferia de Curitiba, com poucos recursos. Como ele mesmo relata, não havia dinheiro para cursos extras e muito menos para o lazer; era preciso, então, aproveitar as atividades gratuitas que a prefeitura oferecia. Ele viu o circo chegar ao bairro quando tinha nove anos e a curiosidade logo tomou conta dele e de outros garotos. Acreditava, até então, que no circo havia palhaços, malabaristas e mágicos, mas nunca havia visto um circo de perto e não conhecia o mundo de possibilidades que se oferecia naquele lugar. Ele relembra, cheio de entusiasmo: (...) Por ser um bairro pobre, tudo o que acontecia rolava na boca do povo rápido e também a montagem do circo foi em uma região central do bairro, difícil não ser percebida. Eu sempre fui uma pessoa muito curiosa e ligada nos acontecimentos do bairro, então, assim que foi instalado o circo eu fui me informar sobre horários e quem poderia participar dos cursos. (...) Minha família não tinha condições de proporcionar lazer e nem ao menos condições de pagar um curso, desta forma o que me sobrava de opção era aproveitar os programas da prefeitura, tanto os projetos, como também os eventos.( ....) (...) Posso dizer que depois que conheci as artes e propriamente o circo, o palco, me identifiquei muito e decidi que gostaria de viver muito aquilo a vida toda. Hoje em dia busco a profissionalização para viver de arte. (...) 65

Foi assim que, para o menino Saulo, o Circo foi a descoberta de um futuro diferente, possível graças às artes, aos conselhos e ao acompanhamento da equipe do projeto, equipe que levava o trabalho com verdadeira devoção. Para ele, como para outras crianças, o contato com o Circo trouxe novas experiências e descobertas, além de despertar o interesse pelo palco; representou, também, a oportunidade de fortalecer a autoestima das crianças, que viviam em condições tão difíceis. Ele mesmo conta que era um menino quieto e sem amigos, mas que, no dia de sua apresentação, ele se sentiu o mais importante dos garotos. (...) A beleza exterior nunca foi meu forte, na época de 98 eu ainda era gordinho e baixinho, (...) e isso me trazia um mal-estar muito grande. Após nossos ensaios para a apresentação, o grande dia chegou, então eu sentia algo muito bom, um clima de tensão com gosto de atenção. Naquele momento eu tinha diversas pessoas me ouvindo, eles estavam ali aguardando eu fazer algo, independente se era cômico ou trágico, o que me importou foi estar ali(...).66

PAULINO, Saulo Evaristo. Saulo Evaristo Paulino: depoimento [1/2016]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2016. 66 Id. 65

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Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Certificado de Saulo Paulino. Todos que participavam das oficinas recebiam ao final um certificado como este. Acervo: Saulo Paulino.

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Formado em Ciências Contábeis, Saulo não abandonou mais o desejo de ser ator e continuou se apresentando, em grupos amadores, com o mesmo personagem que havia criado ao final das oficinas de 1998: o Palhaço Batatinha, mais tarde seu personagem em ações voluntárias em hospitais. Agora, ele está buscando desenvolver a carreira de ator no Rio de Janeiro e realizar o sonho do garoto que começou no Circo da Cidade, carregando no coração a imagem daquele que foi seu principal mentor no projeto, Albanir Quadros. (...) O Professor Albanir não era apenas um instrutor de curso, pois foi além, nos explicando valores de vida, como, educação, respeito, disciplina e dedicação, os quais foram essenciais para minha vida. (...)67

Onde o Circo se instalava, estabelecia um vínculo forte, um vínculo de afeto que era tanto da parte de quem trabalhava no projeto quanto dos membros da comunidade. Relembra Sílvio Cáceres68 que as despedidas eram difíceis para ambas as partes, pois esse projeto abria um espaço de comunicação e de trocas culturais que não havia nesses locais. (...) Recentemente encontrei um rapaz, onde o circo atualmente se encontra e aí nós relembramos: “eu fui seu aluno de violão”, entendeu? Hoje o filho dele está fazendo oficina de circo no Alto Boqueirão. Existem outras histórias de pessoas que, a partir daquele pontapé inicial, depois se tornaram profissionais da música: no violão, na guitarra, no contrabaixo, outros já montaram bandas, mas o pontapé inicial foi dado ali, a partir desse primeiro contato com os acordes e notas, e no violão vieram buscar e se aperfeiçoaram e se tornaram, digamos assim, artistas da música. (...)69

Outro depoimento de um ex-aluno das oficinas no Circo da Cidade, também nos dá a dimensão do que significou esse contato com as artes circenses. Quando o Circo se instalou perto de sua casa, no Bairro Novo/ Sítio Cercado, o garoto Marcos Santos Mendes, então com nove anos, logo foi atraído por ele. As oficinas feitas no Circo abriram as portas para uma profissionalização “Eu tinha nove anos quando ele chegou. Eu tive curiosidade e tomei gosto. Participei no circo (nas oficinas de) arame, monociclo, palhaço, trapézio, salto e capoeira. Eu gostei tanto que dei continuidade. Hoje eu sou professor de capoeira.”70

PAULINO, Saulo Evaristo. Saulo Evaristo Paulino: depoimento...op.cit. Silvio Cáceres, funcionário da FCC desde 1992, ministrou oficinas de violão, no projeto Circo da Cidade, de 1994 a 1999. Desde 2015 ministra oficinas de marchetaria no Circo instalado no Alto Boqueirão. 69 CÁCERES, Silvio. Silvio Cáceres: depoimento [15/12/2015]. Entrevistadoras: Angela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2015. 70 MENDES, Marcos Santos. Marcos Santos Mendes: depoimento [10/2016]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba 2016. 67 68

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Assim, quando o circo deixava um bairro a comunidade sentia muito e os funcionários também, porque durante o tempo ali estabelecido ele tinha conseguido penetrar no cotidiano das pessoas, atendendo muitas das demandas culturais e até mesmo afetivas. (...) quando o circo saía era uma choradeira tanto dos moradores quanto nossa (...)71 A nossa era maior, porque nós tínhamos uma ligação muito grande, era uma despedida, um rompimento. Então ali era uma tristeza grande. Todo mundo chorava, todo mundo se abraçava, porque sabíamos que dali para diante seria muito difícil ver aquelas crianças de novo. Mas nós plantávamos uma semente, essa semente de reflexão, nós colocávamos para elas o fato de que todos tinham seu direito e dever de buscar seu espaço de forma decente. Porque o show de talentos era feito pela comunidade. (...) A gente sabe de histórias locais... tinha em Santa Felicidade um menino chamado João da Folha, ele tocava música clássica em uma folha de capim: era maravilhoso. Ele saia catando as folhas falando: “essa dá, essa não dá”. E aí ele pegava o microfone e tocava música clássica com grama! Então, aquele trabalho de integração era importante. Aquilo é que marcava. É essa a importância do Circo, por isso ele se manteve durante trinta e nove anos, e fará quarenta ano que vem [2016]. Sempre levando a arte e a cultura de forma descentralizada a todos os locais. 72

Durante a década de 1990 a circulação de pessoas nos projetos do Circo foi bastante intensa, mais de 500.000 nestes dez anos, levando em conta apenas os relatórios oficiais. Vários foram os bairros que receberam a lona: Vila Verde, Jardim Gabineto, Bairro Alto, Santa Felicidade, Vila Nossa Senhora das Graças, Vila Hauer, Conjunto Atenas (Campo Comprido), Abranches, Santa Cândida, Alto Boqueirão, Vila Pompeia, Tatuquara, Vila Ouro Verde, São Braz, Jardim Independência, Umbará, Jardim Ipê, só para citar alguns, além dos eventos no Parque São Lourenço e em Praças.

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Albanir de Quadros Moura e Saulo Paulino, num reencontro que aconteceu anos depois, em 2015, na sede da Fundação Cultural de Curitiba. Acervo: Saulo Paulino.

MAGELA, Geraldo. Geraldo Magela: depoimento...op.cit. QUADROS, Albanir. Albanir Quadros: depoimento...op.cit.

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4 – É tempo de parceria Ângela Medeiros Rodarte “Alunos, inspetores, professores, orientadores, pedagogos, diretores, assistiam às apresentações e ficavam maravilhados com o desempenho, performance e resultados apresentados pelas crianças do Circo.”

Os pequenos artistas em dia de apresentação. 2005. Foto de Lucilia Guimarães. Acervo: Comunicação Social/FCC.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

A

virada do milênio chegou juntamente com a forte possibilidade de extinção do Circo da Cidade. Entre 2000 e 2002, o espaço vivia uma fase de estagnação quase total, em que a atividade principal consistia no empréstimo e montagem da lona para outras instituições. Em meio a esse ambiente de letargia, muitas foram as vezes que os funcionários ouviram que o circo ia acabar. Inconformados diante de tal ameaça, eles pensaram num caminho alternativo. A solução veio em 2002 através de um acordo com a Fundação de Ação Social (FAS).

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Coincidentemente naquela ocasião, a FAS buscava um local para desenvolver atividades destinas às crianças participantes do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Os funcionários do Circo perceberam aí uma possibilidade de solucionar tal demanda e, ao mesmo tempo, salvaguardar a existência do espaço. A Santalina73 estava para se aposentar, e falava para nós, que batalhávamos pelo Projeto Circo da Cidade, que antes dela se aposentar iria arranjar uma solução para que o Circo não acabasse. Foi nessa época que a Fundação de Ação Social entrou como parceira da Fundação Cultural de Curitiba para, juntas, continuarem o Projeto. Méritos da Santalina. A Fundação de Ação Social tinha o principal que era a verba, essa oriunda do governo Federal, para o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). Em reuniões entre as Fundações, fecharam um acordo; aí se deu início a uma nova fase de trabalhos no Circo da Cidade.74

Assim, o Circo passou a funcionar como uma espécie de circo escola com atividades de contraturno escolar para as crianças atendidadas pelo PETI. Essas ações tinham foco nas artes circenses e compunham-se de oficinas específicas como monociclo, trapézio, malabares, arame, corda indiana, mágica, contorcionismo, palhaço, teatro, salto e equilibrismo. Num paralelo entre os anos 1990 e início dos anos 2000, segundo Albanir Quadros, a função do circo e sua relação com a comunidade se diferenciavam: O circo servia realmente como um ponto de encontro da comunidade e, logo após a apresentação contratada pela Fundação, nós tínhamos a atração que chamávamos geralmente, “Show de talentos”, ou seja, pessoas da comunidade se inscreviam após o espetáculo pra mostrar o seu talento. Nós tínhamos cantores e dançarinos, grupos de rock, nós tínhamos de tudo. A comunidade ali se expressava. (...) era um espaço de expressão. E isso se manteve até os anos 2000, por aí. A partir de 2000, o circo passou a ter uma parceria com a FAS, a Fundação de Ação Social (...) porque nós tínhamos dificuldade na questão de uma nova lona (...) a FAS adquiriu a lona e nós entramos com o lado artístico. Mas daí o circo se transformou mais em oficinas, que atendiam mais as crianças do PETI. Era mais específica para o circo. Então o circo [funcionou]como centro cultural itinerante até os anos 2000, a partir daí teve uma outra conotação. 75

Na consolidação dessa parceria coube à FAS o pagamento dos instrutores das oficinas e, posteriormente, a aquisição de uma nova lona. A Fundação Cultural entrou com o conhecimento dos funcionários na indicação e acompanhamento dos instrutores das oficinas direcionadas a um público com faixa etária dos sete aos dezessete anos. Essas atividades de contraturno garantiam atenção aos menores em situação de risco, no peSantalina Pessoa Felipe entrou no Circo da Cidade, em 1986, como animadora cultural e respondeu pela coordenação geral desse espaço nos anos de 1989 e de 1993 a 2003. 74 BAHL JÚNIOR, Pedro. Pedro Bahl Júnior: depoimento...op.cit. 75 QUADROS, Albanir. Albanir Quadros: depoimento... op.cit. 73

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ríodo em que esses não estavam na escola formal, ao mesmo tempo em que lhes oportunizava uma formação artística. Coordenador do espaço na época, Antônio Damian76 lembra que foi marcante para ele, no dia da “inauguração” das ações com o PETI, na Vila Guaira, o momento em que, após discursar, o prefeito foi para a plateia e o picadeiro foi ocupado por cinco meninas que executavam manobras no tecido acrobático ao som de Astor Piazola. Estava ali, traduzido em imagem, quem seriam os protagonistas e qual seria a finalidade do Circo nos anos seguintes. Segundo Pedro Bahl Júnior, Operador de Som do Circo no período de 1992 a 2007: As crianças que eram encaminhadas para o Circo, na sua maioria eram as que não apresentavam bom rendimento escolar, tinham problemas de comportamento, inquietos e até indisciplinados. As crianças, ao frequentarem o circo, tendo contato com as oficinas oferecidas, aos poucos foram se adaptando, participando ativamente das oficinas e começavam a apresentar mudanças no comportamento.77 Antônio Carlos Damian, que foi Coordenador do Circo da Cidade no período de 2002 a 2005, diante da lona montada na Vila Guaíra. Foto de 2004. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

DAMIAN, Antônio. Antônio Damian: depoimento [9 mar.2016]. Entrevistadora: Angela Rodarte. Curitiba, 2016. 77 Bahl Júnior, Pedro. Pedro Bahl Júnior. depoimento... op.cit. 76

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Detalhe da gravura Aulas de circo aos sĂĄbados pela manhĂŁ, de autoria de Denise Roman. Data: 2010. Acervo da artista.

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Em meio às oficinas gratuitas direcionadas ao PETI algumas oficinas com valores bem acessíveis também eram ofertadas para a comunidade em geral. Essas eram caracterizadas como autossuficientes. Em 2004 os números e as atividades apareciam no relatório da Prefeitura Municipal: CIRCO DA CIDADE A Fundação Cultural de Curitiba e a Fundação de Ação Social constituíram parceria para o desenvolvimento de atividades culturais no Circo da Cidade, através de oficinas monitoradas por dois orientadores mestres e quatro professores assistentes. São atendidas crianças e adolescentes de 07 a 17 anos. O circo também atende comunidades carentes com o empréstimo de lonas para a realização de eventos. -10 modalidades de oficinas – 400 alunos -10 modalidades de oficinas autossuficientes – 120 alunos -16 solicitações de empréstimo de lona atendidas – 1.500 pessoas atingidas -10 demonstrações de alunos – público de 7.000 pessoas -Atendimento à comunidade e ao público em geral – 27.000 pessoas atingidas.78

Através da linguagem circense a gente tem facilitado o nosso acesso às crianças. A arte circense facilita muito o diálogo com a comunidade, porque aí você consegue trabalhar a disciplina, a autoestima, a autoconfiança, o respeito, o trabalho em grupo, a superação, isso tudo a linguagem circense nos permite. 79

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PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Relatório Fundação Cultural de Curitiba. Curitiba:PMC, 2004. p.213. QUADROS, Albanir. Albanir Quadros: depoimento...op.cit.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

As apresentações no palco estavam, em sua maioria, a cargo dos próprios alunos, que aprendiam a lidar com a ansiedade e as expectativas próprias de uma apresentação pública, focando na compenetração necessária às arriscadas manobras aéreas e de solo, pois, tanto as acrobacias quanto os movimentos nos tecidos aéreos e equilibrismo no arame demandam precisão matemática, equilíbrio e muita concentração. Desafios que imprimiam nos aprendizes o treino da atenção, do domínio físico e da confiança o que, possivelmente, ecoou na formação dessas pessoas cujo cotidiano era marcado por sérias dificuldades.

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Turma da temporada de 2004 na Vila GuaĂ­ra. Foto Luiz Cequinel. Acervo: Circo da Cidade.

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Crianças participantes das oficinas de circo fazem apresentação. 2004. Fotos Luiz Cequinel. Acervo: Comunicação Social/FCC.

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Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Equipe e orientadores e funcionários. Da esquerda para a direita: Paulo, Brigadeiro, Felipe, Camila, Euza, Júnior e Marilene. Vila Guaíra, 2004. Foto: Luiz Cequinel. Acervo: Circo da Cidade.

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Crianças se preparam para uma apresentação. 2005. Foto: Lucilia Guimarães. Acervo da Comunicação Social/FCC.

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Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Os pequenos em dia de apresentação. 2005. Foto: Lucilia Guimarães. Acervo da Comunicação Social/FCC.

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Esforço e concentração nas oficinas de rola-rola e trapézio. Vila Guaíra, 2004. Acervo: Circo da Cidade/FCC.


Equilíbrio no tecido acrobático. Vila Guaíra, 2004. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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Aluno da oficina de trapézio. Vila Guaíra, 2004. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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As aulas gratuitas se davam durante toda a semana e eram ministradas por profissionais capacitados; entre eles destacam-se Laltaro Del Carmen Mila, conhecido como Brigadeiro, e Euza Maria Souza, filha de Pedro Irineu dos Santos, o palhaço Zé Priguiça. Nascida e criada no circo, Euza sempre foi fiel escudeira da tradição e do próprio Circo da Cidade. Como seu pai além de palhaço era uma espécie de “gerente geral” do circo, entre 1980 e 1985, a família morou em um trailer que acompanhava a lona onde quer que ela se instalasse. Assim, o Circo foi sua casa desde adolescente e também local onde exerceu importantes atividades: fez escada para os esquetes do palhaço Zé Priguiça e trabalhou como instrutora nas oficinas circenses ali realizadas no período de 1991 a 2007. Em 2004, com a saída do Brigadeiro, outros integrantes da família de Euza passaram a compor a troupe de oficineiros. Esses profissionais, familiarizados com as etapas necessárias à formação e execução de um espetáculo circense, além de ensinar as técnicas e habilidades próprias aos números de solo e aéreos, ainda se encarregavam do figurino, da maquiagem, do cenário e da produção. Após algumas semanas de treinamento, as crianças começavam a se apresentar para a comunidade e para alunos da rede pública de ensino, sendo comum, às vésperas das apresentações, que a zelosa Euza levasse as roupas a serem usadas pelas crianças para lavar e costurar em sua casa, garantindo, com isso, o figurino impecável para as apresentações públicas. Foi planejada uma apresentação de cinquenta minutos de duração, com trilha sonora exclusiva e personalizada para cada modalidade a ser apresentada, crianças devidamente uniformizadas e maquiadas, prontas para mostrarem suas habilidades.80

Em 2004, o Circo da Cidade foi remontado na Vila Guaíra. Naquele ano, seus alunos foram uma das atrações nos festejos dos 10 anos da Rua da Cidadania Fazendinha-Portão. As escolas lotavam as dependências do Circo, alunos, inspetores, professores, orientadores, pedagogos, diretores, assistiam às apresentações e ficavam maravilhados com o desempenho, performance e resultados apresentados pelas crianças do Circo. Depois de cada apresentação fatos curiosos eram constatados: -Diretores, pedagogos e professores de escolas queriam saber qual era o segredo ou magia que era feita com os alunos, porque apresentavam mudanças de comportamento e rendimento nas escolas. Ficavam mais obedientes, disciplinados e aumentavam suas notas nas disciplinas. -Muitos alunos que eram do Projeto PETI, que estavam inscritos em oficinas que não eram circenses, queriam mudar e participar das oficinas de circo. -Escolas de outras regiões próximas ao Circo sempre solicitavam que fossem convidadas para as apresentações. -As Regionais começaram a solicitar apresentações dentro de espaços alternativos.81

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BAHL JÚNIOR, Pedro. Pedro Bahl Júnior: depoimento...op.cit. Id.


O relatório anual da Fundação Cultural apontava para o ano de 2005 um total de 174 alunos que realizaram 13 espetáculos que atraíram um público de 5.200 pessoas.82 É importante destacar que a parceria com a FAS foi essencial para o Circo da Cidade numa fase em que era certa a sua extinção. Nos termos iniciais o acordo durou até 2008. Nesse período foi possível um estudo e a proposição de novas ações para o Circo viabilizadas através do Fundo Municipal de Cultura.

Apresentação dos alunos na Rua da Cidadania do Fazendinha, em 2006. Foto: Lucilia Guimarães. Acervo: Comunicação Social/FCC.

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FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório anual 2005. Curitiba:FCC, 2005, p.101.

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5 – Chegam os editais e com eles o Novo Circo Ângela Medeiros Rodarte “Os editais garantiram o funcionamento do Circo da Cidade de maneira ininterrupta, possibilitando ao público afluente o contato com espetáculos primorosos.”

Apresentação do espetáculo Circo Mundi.. Outubro de 2008. Coleção: Comunicação Social/ FCC.

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omo se tem observado, a história do circo é indissociável da história de suas lonas. Fases de baixa ou de ostracismo no circo geralmente coincidiram com as baixas e furos de seu tecido invólucro como se a grande tenda incorporasse e refletisse as dificuldades sob ela veladas. Todavia, sempre que o circo recebia novos recursos e se inflava de esperanças e inspiração, era a nova lona que, altiva e reluzente, externava à comunidade que outros tempos se anunciavam. Foi assim em 1976 com o circo Chic-Chic e, em 2004, na parceria com a FAS.

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A nova lona com nova logomarca. Foto: Alice Rodrigues. Data: 16/09/2009. Coleção: Comunicação Social/FCC.

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CURITIBA APRESENTA: o guia cultural da cidade. Curitiba: FCC, n. 16, out. 2008. p.08.

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Contudo, em 2008, após seis anos de atividades e com as mudanças de gestão, tanto a lona quanto a parceria careciam de novo alento. Os ventos portadores das boas novas chegaram com o Edital nº016/2008 Circo da Cidade, lançado pelo Fundo Municipal da Cultura, que previa uma verba de R$100 mil para atividades de apoio e equipamento - o que possibilitou a aquisição de uma nova lona - e R$ 140 mil para a companhia encarregada da montagem e apresentação de espetáculos. Ao proponente contemplado coube, conforme especificado no edital, a realização de 48 apresentações gratuitas destinadas aos alunos das escolas públicas e à comunidade em geral, de sexta a domingo, durante 16 semanas. A contrapartida social consistiu na execução de oficinas de técnicas circenses, com no mínimo seis modalidades distintas: malabares, monociclo, tecido acrobático, salto, arame e clown; e foram direcionadas às crianças e aos adolescentes da comunidade, duas vezes por semana, manhã e tarde, durante 16 semanas, no período de junho a dezembro de 2008. Tais atividades tinham como objetivo o desenvolvimento pessoal dos participantes, sem o intuito de profissionalização, atendendo de início 80 pessoas. Cabe destacar, no descritivo do edital, a ressalva de desclassificação dos projetos que incluíam a utilização de animais domésticos e silvestres nos espetáculos. Tal indicação se alinhava às novas posturas ecológicas internacionais de proibição de animais cativos nos circos, o que contribuiu para o fim da secular prática de aprisionamento de espécies que despertavam a curiosidade e admiração da plateia, porém a um custo absurdo para a vida desses animais. O proponente contemplado pelo primeiro edital foi a Associação dos Profissionais da Área Artística do Paraná/Aspart e a nova lona adquirida foi inicialmente instalada na Cidade Industrial de Curitiba, onde permaneceu até setembro de 2010. A estreia oficial aconteceu em 30 de outubro de 2008 e contou com uma sessão especial do espetáculo Circo Mundi, cuja temática abordava as agruras e alegrias que movem os bastidores circenses. Após a estreia as sessões seguintes foram direcionadas para alunos da rede municipal e para entidades sociais, o que acontecia normalmente nas quintas-feiras. Aos sábados a apresentação era aberta à comunidade em geral. Além das tradicionais atrações circenses, esse espetáculo tinha recursos teatrais e coreografias de dança, com a finalidade de enlevar o público numa reflexão sobre a trajetória do circo e de seus integrantes. A sonoplastia original, com música instrumental executada ao vivo, evidenciava a magia do circo. Destaque para a utilização do teatro de sombras, fazendo com que a plateia tivesse a sensação de ver animais no picadeiro.83 Ao todo foram 48 sessões do Circo Mundi durante os meses de novembro a dezembro de 2008.

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Apresentação do espetáculo Circo Mundi. Outubro de 2008. Coleção: Comunicação Social/ FCC.

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Acervo: Comunicação Social/FCC.

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Nova logomarca advinda com o edital Circo da Cidade. Foto: Luiz Cequinel. Data: 2009.

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Debaixo de nova lona e através dos editais, o Circo da Cidade mudou sua dinâmica. Ficou mais tempo em cada Regional84, voltado não apenas a um bairro, mas a todos os bairros adjacentes e, não raro, os espetáculos se destinavam também a escolas e grupos de outras Regionais. Para tanto, os proponentes previam, no orçamento, a locação de ônibus para o transporte gratuito das comunidades mais afastadas. Os espetáculos são direcionados para as dez Regionais. Então nós recebemos no Boqueirão, lá onde o circo está montado hoje, crianças do Pinheirinho, crianças de Santa Felicidade, crianças do CIC. Então as dez Regionais vão, a gente fornece inclusive o ônibus para que essas crianças possam ir até o circo.85

Durante sua permanência, como tradicionalmente ocorre, a tenda era ponto de atração e reunião. A utilização de tecnologia apropriada possibilitou o escurecimento de seu interior viabilizando a realização, para além das atividades circenses, de projeções de filmes e apresentações de dança e peças teatrais também durante o dia. Ademais, os 20 metros de diâmetro do espaço com capacidade para 250 espectadores abrigavam dois camarins, palco e equipamentos de som e luz. Pelos editais a população curitibana pode entrar em contato com uma nova tendência de espetáculos, o chamado Novo Circo ou Circo Contemporâneo. Este movimento foi difundido pelo Circo de Soleil, fundado em 1982 por Guy Laliberté, um canadense engolidor de fogo e criador do Le Club des Talons (o clube dos saltos altos), em alusão às pernas de pau utilizadas pelos acrobatas e atores do grupo. Tendo como origem as apresentações de forte impressão realizadas em espaços públicos, o Circo de Soleil se tornou mundialmente famoso mesclando, às raízes circenses, práticas relacionadas principalmente com teatro, música, dança, esporte e ópera. A iluminação e os figurinos extremamente coloridos e, por vezes, extravagantes são elementos fundamentais nas performances de grande impacto visual, características nesses modernos espetáculos. Essas novidades repercutiram também em Curitiba. Assim, para atualizar o público com as novas linguagens do circo contemporâneo, mas sem perder de vista os elementos convencionais, os editais deveriam abrir espaço também para artistas tradicionais. Com isso, os projetos aprovados se dividiam entre as duas tendências, conforme se vê na relação dos projetos contemplados entre os anos de 2008 a 2015, abaixo: Regional CIC 2008 e 2009 - Circo Mundi Cia Aspart, 2008/09 (contemporâneo) - Arco- Íris Uma Alegoria Circense – Circo Espalhafatos, 2009/10, (tradicional) 84 As Regionais são unidades descentralizadas dos serviços e secretarias da PMC, localizadas nas Ruas da Cidadania . Cada Regional abrange um certo número de bairros. 85 QUADROS, Albanir. Albanir Quadros... depoimento...op. cit.

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* Neste período a lona passava por problemas técnicos e os espetáculos, Ecos do Mundo e Concerto em Ri Maior, aconteceram em dezessete escolas, um Centro Municipal de Educação Integral (CMEI) e duas instituições sociais. Assim, esses dois espetáculos itineraram por diversas regiões de Curitiba. 86

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Regional do Boqueirão 2010 a 2015 - Picadeiro Encantado – Cia dos Palhaços, 2010 (contemporâneo) - Cabaré de Varieté, Associção de Artes Circenses e Popular do Paraná, 2010 (tradicional) - Ares Promix, Coutinho e Gabardo, 2010 (contemporâneo) - Circus Nimbus, Associção de Artes Circenses e Popular do Paraná, 2010 (contemporâneo) - Uma Boa Jogada – Cia dos Palhaços, 2011(contemporâneo) - TripCirco Poket Show-TripCirco, 2011 (tradicional) - Malabarizando – Cia Coutinho e Gabardo Empreendimentos Artísticos, 2011 (contemporâneo) - Magistral, Um Show de Espetáculo - Circo Espalhafatos, 2011 (tradicional) - Sonus Circus – Cia Oregon Promoções Humanas e Culturais Ltda, 2011 (contemporâneo) - Cotidiano – a Vida Virou Circo - Inkis Produções Ltda, 2011/12 (contemporâneo) - Hoje tem Marmelada – Circo Sorriso, Artistas e Improviso, 2012 (tradicional) - Urbi ET Orbi - Orego Produções Artísticas Humanas e Culturais Ltda, 2012 (contemporâneo) - Zircus- Associação de Artes Circenses e Popular do Paraná, 2013 (tradicional) - Obras do Picadeiro – Coutinho e Gabardo Empreendimentos Artísticos Ltda, 2013 (contemporâneo) - Circus Giramundi – Aspart e Cia La Arena, 2013 (contempôraneo) - A Historia da Sra. Madame – Cia Santa Produções, 2014 (contemporâneo) - Hoje tem Marmelada – Queirolo e Buch Ltda, 2014 (tradicional) - O Retorno dos Piratas – Associação de Artes Circenses e Popular do Paraná, 2014 (tradicional) - Falsa Esquadra - Associação dos Profissionais da Área Artística do Paraná, 2014 (contemporâneo) - Minúsculas Cenas de Circo – Espaço Cultural dos Palhaços Ltda, 2014 (contemporâneo) - Ecos do Mundo - A Cia TripCirco, 2015 (tradicional)* - Concerto em Ri Maior – Cia dos Palhaços 2015 (contemporâneo)*86 - Kitinet, Coutinho e Gabardo 2015, (contemporâneo) - Associação dos Profissionais da Área Artística do Paraná, 2014 (contemporâneo) - Cìrculo, Uma História Sobre Rodas, 2015 (contemporâneo)

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A partir de 2008, os editais garantiram o funcionamento do Circo da Cidade de maneira ininterrupta, possibilitando ao público afluente o contato com espetáculos primorosos, executados não só por companhias regionais, como também internacionais. Para se ter uma pequena ideia dessa variedade, em 2009, com o espetáculo Arco-Íris uma Alegoria Circense, a Companhia Espalhafatos retomou o circo tradicional, “aquele no qual tudo é passado de pai para filho” e os diálogos são compostos pensando no universo infantil.87 Em 2010, através da Aspart, a atração foi a companhia argentina Circus Nimbus e sua estética contemporânea, cuja temática, inspirada na energia da década de 1940, conduzia o espectador ao “universo do circo através de um caminho de destrezas e de coreografias cheias de ritmo e energia”, na intenção de mostrar como, durante a Segunda Guerra Mundial, a arte “expressou a vontade e a necessidade do povo de superar a realidade cruel que vivia o mundo.”88 Em 2011, a TripCirco com um pocket show trouxe ao palco uma apresentação sem enredo na qual as cenas eram interligadas por uma cadência de números circenses, dança e teatro. Entre os meses de abril e maio de 2013, a Companhia Irmãos Queirolo, formada pelos descendentes da tradicional família circense, levou ao Circo o espetáculo Hoje tem Marmelada, uma homenagem a Henricredo Coelho, o Palhaço Gafanhoto. Espólio vivo das raízes da família Queirolo, como o definiu Luiz Andrioli,89 a presença de Gafanhoto nesse espetáculo religava o Circo da Cidade a sua Gênese: o Circo Chic-Chic. No ano seguinte, outra companhia da Argentina ocupava o picadeiro do Circo da Cidade. Através da encenação Falsa Esquadra, uma dupla de artistas num cenário minimalista - contando praticamente apenas com a linguagem corporal – por meio de gestos e ações elaboravam um dinâmico e divertido jogo teatral envolto em nuances de lirismo e comédia.

CURITIBA APRESENTA: O guia cultural oficial da cidade. Curitiba: FCC. n.27, set.2009.p.12. FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Circo da Cidade recebe artistas argentinos. Curitiba: FCC. Disponível em <www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br/notícias/teatro-e-circo/10>. Acesso em 22/2/2016. 89 ANDRIOLI, Luiz. O Circo... op. cit. p. 105. 87 88

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Espetáculo Arco-Íris uma Alegoria Circense. Agosto de 2009. Foto: Alice Rodrigues. Coleção: Comunicação Social/FCC.

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Circus Nimbus. Foto: Luiz Cequinel. 2010. Coleção Comunicação Social/FCC.

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TripCirco pocket show. 2011. Foto: Luiz Cequinel. Coleção: Comunicação Social/FCC.

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O Lendário palhaço Gafanhoto, com a geração atual dos Irmãos Queirolo, durante uma apresentação do espetáculo Hoje tem Marmelada. 2013. Acervo: Família Queirolo.

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Falsa Esquadra. Data: 2014. Foto: Alice Rodrigues. Coleção: Comunicação Social/FCC.

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Pelos editais, o trabalho adquiriu nova perspectiva e novas conotações. À medida que se consolidavam, a programação realizada em parceria com a FAS foi abrindo espaço para oficinas circenses destinadas à comunidade em geral, oficinas essas advindas dos novos projetos aprovados pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Entre 2008 e 2012, foram 247 apresentações para um público total de 82.183 pessoas, abrangendo as regionais CIC e Boqueirão. 90 Destaca-se que, no período de junho de 2008 e julho de 2011, responderam pela coordenação do Circo, respectivamente, os funcionários: Clóvis Severo B. Júnior, Crizanto Abimael W. Mendes e Jackson Pires de Oliveira. Desde agosto de 2011, a função é exercida por Albanir Quadros, que nela permanece até a data desta publicação.

FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Cultura faz bem pra você, 2013-2016. Curitiba:FCC, 2016. Folheto. Acervo: DPHACCasa da Memória.

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Sequência de atividades dos participantes nas oficinas circenses no ano de 2011. Foto: Alice Rodrigues. Coleção: Comunicação Social/FCC.


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A partir de 2013, numa espécie de formação de plateia em circo, a contrapartida dos editais passou a ser uma explanação, por parte dos proponentes aprovados, antes do início do espetáculo, sobre o processo de concepção e execução do mesmo. As oficinas circenses direcionadas às crianças, desde então, deram-se através do Edital de Formação em Circo. Esse edital, visando uma formação mais aprofundada e estreitamento de vínculos entre os participantes, garantia a presença da mesma equipe de oficineiros pelo período de um ano. Em 2016, num grande trabalho conjunto reunindo pais, oficineiros e alunos, o espetáculo Criativity trouxe ao palco 55 dos participantes das diferentes modalidades circenses, que atraiu grande público lotando a lona por três dias.

Sequência de imagens das oficinas propiciadas pelo Edital de Formação em Circo. 2016. Foto: Cido Marques. Coleção: Comunicação Social/FCC.

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Imagem das oficinas propiciadas pelo Edital de Formação em Circo. 2016. Foto: Cido Marques. Coleção: Comunicação Social/FCC.

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Encantamento e magia sob a lona. 2015. Foto: Alice Rodrigues. Acervo: Comunicação Social/FCC.

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FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA. Relatório de Gestão 2005-2012 Curitiba:FCC, 2012, p.172-173

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Um impresso com o levantamento das principais realizações na área de cultura no período de 2013 a 2016, enumera “150 espetáculos gratuitos para a comunidade durante o ano, além de 550 horas anuais de oficinas de circo para crianças”. Atividades estas que reuniram, segundo o documento, “um público de 60 a 65 mil pessoas.”91

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– Sobre o Palhaço Zé Priguiça “Pra gente ser palhaço tem que ter mesmo o dom de natureza, porque não tem jeito de ensinar.”

92 IRINEU, Pedro. Pedro Irineu: depoimento [27/8/1986]. Entrevistador: Eduardo Spiller Pena. Curitiba, 1986. Acervo: FCC/Centro de Documentação da Casa da Memória.

Pedro Irineu sem a maquiagem de palhaço. Data: 1985. Acervo: DPHAC/FCC.

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Q

uando se fala em inspiração e ensinamento entre os funcionários do Circo da Cidade, certos nomes aparecem em determinados momentos da trajetória de cada um. Contudo, um deles é unanimidade como alicerce do trabalho realizado dos anos de 1980 ao início de 2000: Seu Zé. A história de Pedro Irineu dos Santos, conhecido por tantos como o Seu Zé, confunde-se com a história das muitas pessoas que vivem pelo e para o circo. Filho de sertanejos do interior do Paraná, caboclo como ele mesmo se descrevia, Pedro, ainda menino, entre a gente da terra, costumava divertir as pessoas com seu dom de imitador. “A gente remedava um, remedava outro, o jeito de andar, como é que aquele usava roupa, como é que não era”.92 Em meio ao riso desanuviante da labuta cotidiana própria

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do povo camponês, o saliente Pedro ouvia “você tem que ir pro circo, teu negócio é circo”93. Tais palavras parecem ter se espraiado na mente e no corpo do menino de Tomazina que, aos treze anos de idade, deixaria a casa da família para ir ao encontro de seu destino. Era o ano de 1953 e a primeira parada, na cidade de Ibaiti, selou a aliança anunciada em meio às troças. Ali estava instalado o Circo Sinval, local onde o guri de espírito palhaço se dispôs a trabalhar como baleiro. Seguindo as tessituras do destino, em meio às peças apresentadas, logo surgiu a necessidade de um garoto para compor o elenco teatral. Foi quando Pedro, então com treze, fez sua estreia, tomou gosto e cerziu definitivamente sua vida com o circo. No Circo Sinval - por ele considerado um dos melhores circos de teatro do Paraná - trabalhou até os dezessete anos como baleiro, ator, palhaço de matinê, trapezista, ciclista, saltarino e acrobata. Desde 1957, adotou o nome artístico de palhaço Zé Priguiça.94 Jovem e com uma capacidade de desempenho notável, seguiu de um circo para o outro viajando pelo Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso. No Estado de São Paulo passou nove anos no Circo Bombril. Trabalhou também como capataz, gerente e faz tudo nos circos Planetas, Escali e Coliseu. Chegou a ter seu próprio espaço e, com ele, a sobrecarga de apostar na praça certa, montar o pavilhão, atrair público, criar números e repertórios e atuar encantando crianças e fazendo rir os adultos. Além disso tudo, precisava se ocupar da contabilidade. Sob a modesta lona, adquirida com grande esforço e instalada em “lugarejos”, como ele mesmo definiu, apresentava variedades, compreendendo trapézio, salto, números de ginástica e peças teatrais, muitas das quais, dramalhões conhecidos do público como “ O céu uniu dois corações” e “Escrava Isaura”, e peças autorais cujos títulos reportam à personalidade irreverente do autor: “Adonde os bandidos se encontra” e “Castelo do drácula”. Contudo, eram muitas as atribuições para Pedro Irineu que com a frase “mas não fui muito bem” resumiu esse período atribulado que o levou a desistir da ideia de ter seu próprio circo. Casado e cansado da rotina nômade, no final de 1979 veio pra Curitiba na tentativa de mudar de atividade profissional. No entanto, em 1980, a proposta de trabalho no Circo da Cidade o destituiu de tal propósito e mais uma vez o enredou nas malhas da grande lona. Ali, Pedro Irineu desempenhou uma gama de papéis que foram da customização e coordenação da montagem da lona até a produção e direção de peças teatrais realizadas com a participação dos funcionários e da comunidade. Isso sem contar os esquetes para as apresentações de palhaço, nas quais, juntamente com seu filho, fazia a dupla de palhaços “Zé Priguiça e Eldiomir”. 93

Id.

SOMBRIO, Lúcia. O circo da cidade. 25 p. Trabalho acadêmico.- Curso de especialização Antropologia. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1985. p.12. 94

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Dupla Zé Priguiça e Eldiomir. Data: 1985. Acervo: DPHAC/FCC

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Os esquetes compostos de rápida encenação cômica, no papel do palhaço Zé Priguiça, segundo relatos, eram os que o deixavam realmente à vontade, demonstrando destreza nos improvisos e magnetismo com o público. Geraldo Pioli95 relata o fato de numa dessas apresentações, em pleno riso, dar-se conta de ter ouvido o mesmo esquete mais de uma vez, contudo, a cada vez, brotava-lhe a risada espontânea, o que para ele só reforçava a habilidade ou a essência de palhaço presente em Seu Pedro.96 Suscintamente, sua carreira começou como ator adolescente, evoluiu para palhaço com 14 ou 15 anos, para depois voltar a ator de comédia e, definitivamente, consolidar-se como palhaço de matinê, tendo em vista sua ligação com as crianças, a quem considerava seu público preferido; afinal, dos pequenos vinha o grande reconhecimento de sua atuação: “ Eles têm o trabalho da gente como uma coisa muito grande. Pra mim eles são os maiores também.”97 Para os que consideravam ser palhaço uma profissão fácil, Pedro Irineu, ungido da autoridade adquirida pelos anos de experiência, explicava: É uma profissão difícil (..) todo mundo tem vontade de ser, agora o duro é ser (...) pra gente ser palhaço tem que ter mesmo o dom de natureza, porque não tem jeito de ensinar (...) pintar o rosto da pessoa, colocar em cima do palco pra trabalhar, não é difícil. Você ensina uma ou duas piadas pra ele e ele faz, mas o duro é tirar as piadas que não tão ensaiadas (...). As que se faz assim de presença de espírito é que é a engraçada e, se o palhaço não tiver presença de espírito, ele não agrada o público.98

Além das dificuldades próprias do cotidiano Pedro também conviveu com o preconceito de que gente de circo era malandra, mas, sempre acreditou que no circo “tinha arte, tinha esforço. Tinha força de vontade.” Costumava dizer “no circo levei minha infância, levei minha juventude e, agora, estou levando a velhice também.” Pedro Irineu esteve ligado ao Circo da Cidade por quase vinte anos. Em 2001, já aposentado, faleceu vítima de doença de Chagas. A doença o tirou do picadeiro, mas não da memória daqueles que com ele tiveram a oportunidade de trabalhar. Em reconhecimento a sua contribuição - que foi da montagem da lona à performance artística mantenedora da existência do Circo da Cidade, principalmente nos momentos mais críticos, a partir de 2009, o Circo passou a se chamar Circo da Cidade Lona Zé Priguiça.

Geraldo Pioli trabalhou no Circo da Cidade como Programador Artístico Cultural, e instrutor de violão, no período de 1998 a 1999. PIOLI, Geraldo. Pioli Geraldo: depoimento [15/12/2015]. Entrevistadoras: Angela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2015. 97 IRINEU, Pedro. Pedro Irineu: depoimento...op.cit. 98 Id. 95 96

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Palhaço Zé Priguiça, em apresentação no Circo da Cidade. Década de 1980. Acervo DPHAC/FCC.

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Zé Priguiça diante da lona do Circo da Cidade. Foto da década de 1980. Acervo DPHAC/FCC.

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A esquerda do palhaço Zé Priguiça sua filha Euza. Na sequência o mágico Hugo Moraes e sua auxiliar.


Divulgação, no Jornal, Gazeta do Povo, de oficina ministrada no Circo da Cidade pelo palhaço Zé Priguiça. Data: 01/11/1984. Acervo: DPHAC/FCC.

Pedro Irineu e a equipe do Circo da Cidade. Da esquerda para a direita: Lúzia, Seu Pedro, Albanir, Maurício (professor de violão na época) e Edenilson. Ao fundo, Pedro Bahl Jr. Década de 1980. Acervo: Circo da Cidade/FCC.

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A famĂ­lia de Pedro Irineu perpetuando a arte do patriarca: Euza com os filhos JĂşnior e Piero, e a sobrinha Lorrana. 1999. Acervo: Euza Maria dos Santos.

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Vida longa ao Circo da Cidade! “O circo como transformação social é fundamental. Essa inclusão social que acontece através do Circo, ela é muito boa mesmo.”

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Circo da Cidade. Foto de Cido Marques com a utilização de drone. 2015. Acervo: Comunicação Social/FCC.

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o longo de seus quarenta anos de existência muitas foram as formas com que o Circo da Cidade se inseriu e interagiu com a comunidade. Primeiramente, chegou sob o comando da família Queirolo, que trouxe para a garotada dos anos setenta a versão do palhaço Chic-Chic e das peças teatrais que fizeram parte da infância de seus antecessores, nas décadas de 1930 a 1960. Nesse contexto o circo era entretenimento e a comunidade assumia o papel de espectadora. No início dos anos 1980, já sob o comando exclusivo da Fundação Cultural e com o nome de Circo da Cidade, ampliou o número de bairros

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percorridos e o palhaço Chic-Chic deu lugar, primeiramente, às peças teatrais. Em seguida as atividades se multiplicaram, transformando-se o grande pavilhão em centros culturais itinerantes e incentivando a inversão do papel do público, de espectador para o de protagonista das ações a se construírem sob a lona. Foi assim com os festivais musicais, as peças encenadas em conjunto e as oficinas diversas, nas quais o artesanato tinha lugar ao lado dos debates políticos, das reivindicações sociais, da formação cidadã e do fomento à leitura. Atendendo ao chamado “no circo a gente se encontra” e seguindo os ares da abertura política, sob as quatro lonas, os registros levantados indicam a participação ativa da população na construção e usufruto de uma política cultural voltada às identidades regionais. Tal impressão é reforçada pelo relato de Santalina Felipe, quando descreve determinado evento acontecido na lona instalada na Vila Verde, nos anos 1980. Nele o público assistia à peça intitulada A Invasão, encenada por um grupo da comunidade. Como para muitos dos presentes tal enredo compunha a história de suas vidas, a plateia foi se levantando e integrando a história, lotando o palco, de tal forma, que todos comungaram na construção e no desfecho desse espetáculo, o que levou às lágrimas alguns participantes. A ocasião revelou-se emblemática do papel do circo naquele período, pois a ação traduzia o sentido literal da construção conjunta e o revelar dos valores identitários da comunidade local. Ao adentrar os anos 1990, seguindo diretrizes da nova gestão municipal, o Circo desfocou da cultura local e do protagonismo político para se tornar uma grande escola de circo, através da junção de três de suas quatro lonas, com o intuito de atender as crianças e adolescentes da região próxima, com oficinas específicas desse universo. A lona menor, restante, intitulada Circo Teatro, destinou-se à difusão do teatro levando aos bairros peças contratadas pela Fundação Cultural. Desse modo, a comunidade passou a ter no circo um local de formação infantil e de apresentações teatrais. Não demoraram a surgir, além dos problemas orçamentários, as reivindicações dos que ainda tinham o sabor do protagonismo presente. O que levou, pouco a pouco, à retomada do picadeiro pelos artistas regionais, a partir de 1993. Contribuíram para essa retomada o comprometimento de um grupo de funcionários da Fundação Cultural, das mais diversas funções, que em meio à escassez orçamentária, desdobrou-se para manter a lona como local de manifestações culturais regionais e como espaço mantenedor da tradição circense. Desse grupo, três seguiram com o circo até os dias atuais: Jorge Pereira do Nascimento, ingressou no Circo em 1987, na função de serviços gerais - incluindo aí a montagem e desmontagem da lona – e atualmente é agente cultural; Edenilson Marcos Anderson, começou como porteiro e hoje é gerente do Circo; Albanir de Quadros Moura, que começou como bilheteiro e na atualidade responde como Coordenador Geral. Os dois últimos ingressaram em 1992. Em meio às mudanças de gestão e de redirecionamentos das ações do projeto, esses funcionários se lançaram na busca de informações e de formação, vencendo limitações pessoais e profissionais, transformando-se 146


em instrutores de teatro, apresentadores, atores e produtores. Com a ajuda de Pedro Irineu, o palhaço Zé Priguiça e seu incontestável know-how - adquirido pelos anos vividos sob a lona -, o esforço conjunto dos funcionários, aliado ao apoio das Coordenadoras do Circo, Santalina Felipe e Lúzia Simplício, garantiu a sobrevivência desse espaço de formação, entretenimento e manifestação da cultura local. Onde a lona se instalava as crianças da região encontravam refúgio e ocasião de aprendizado e, os adultos, oportunidade de diversão e de demostração de seus talentos através do “Show de talentos”. Nessa fase o Circo também apoiava artistas do picadeiro como mágicos, equilibristas, palhaços e companhias circenses, que já não encontravam muitas oportunidades para sua arte. No período de 2002 a 2008, através da parceria com a FAS e sob a Coordenação de Antônio Damian, a comunidade do Circo foi prioritariamente composta pelas crianças do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), ampliando-se o leque de público ao final de 2008, com os espetáculos provenientes dos editais da Lei de Incentivo à Cultura. Pelos editais, as portas do Circo foram abertas não só para as crianças participantes das oficinas circenses, como também para o público geral interessado em assistir tanto aos espetáculos tradicionais quanto aos do circo contemporâneo.

E assim, para além de espaço destinado à realização de espetáculos, ao longo de sua trajetória o Circo sempre buscou, dentro de uma concepção lúdica e criativa, a inserção e participação da comunidade e, pelo vínculo que construiu onde quer que se instalasse, sua partida era marcada por um processo doloroso, tanto para os funcionários, quanto para os frequentadores.

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PESSOA Santalina Felipe. Santalina Pessoa Felipe: depoimento... op.cit.

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Sempre que um projeto inovador é lançado tem maior destaque, mas isto não apaga o brilho de momentos anteriores com ações que tiram crianças da rua e incentivam a permanência na escola, ou dos momentos que a comunidade fica juntinho para ter seu momento de lazer e aplaudir seus artistas.99

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No final de 2010, o Circo da Cidade - lona Zé Priguiça se instalou no Alto Boqueirão. A comunidade, ciente da contribuição e da diferença que a presença desse equipamento representava, empenhou-se de forma organizada para que o mesmo fosse ficando, ficando... E lá se vão mais de cinco anos do Circo da Cidade na regional Boqueirão. O público se manifestou de tal forma contra a saída da lona que a Prefeitura e a Fundação Cultural não tiveram alternativa senão acatar a demanda. Para o atual Coordenador do Circo, Albanir Quadros, além de contar com um equipamento num lugar carente não só de espaços físicos que possam abrigar outros eventos - a exemplo da Conferência Infantil ali realizada em 2011-, a presença do circo como de praxe, criou um elo afetivo e social que, no Boqueirão, intensificou-se ainda mais em função dos anos de convivência: O que movimenta o entorno todo do circo são as oficinas. As famílias, a comunidade do Boqueirão, ela tem como referência as oficinas e a gente recebe relatos emocionados de mães dizendo que os filhos mudaram completamente, que os filhos hoje são focados, que os filhos hoje estão mais concentrados. E isso a gente deve muito à arte circense, que através de bastante diálogo, de conversa, com incentivo a gente percebe essa transformação social. Então, o circo como transformação social é fundamental. Essa inclusão social que acontece através do Circo, ela é muito boa mesmo. E a gente fica feliz, porque a gente percebe essas mudanças.100

Em 2015, a lona foi trocada e a tenda de apoio renovada. A reinauguração, com a nova cobertura, aconteceu em dia 30 de julho daquele ano. Em seu interior, centenas de olhinhos espreitavam o movimento e mal continham a expectiva de ver a chegada dos artistas, nesse dia representados pela Cia Coutinho e Gabardo, com o espetáculo Kitinete. Na entrada da grande tenda, carrinhos de pipoca e algodão-doce distribuídos gratuitamente traduziam o cheiro da alegria ali reinante. Recepcionando a todos, com um sorriso de ponta a ponta numa face radiante, Albanir Quadros, o Dartagnan do grupo de funcionários mosqueteiros, cujas trajetórias profissionais estiveram, praticamente, o tempo todo ligadas à trajetória do Circo, sendo eles os fiéis escudeiros da magia a se formar sob a lona bicolor. Os que compareceram nessa data podiam sentir, em meio à luz natural advinda da entrada e a luz dos holofotes, a atmosfera desse espaço sagrado para tantos como possibilitador da descoberta de novos horizontes, propiciador da alegria em meio à tristeza e revelador do valor da amizade, da atenção e do respeito. Virtudes cultivadas graças à dedicação de pessoas a quem a devoção no papel do Circo como espaço de transformação pela arte permeou o sentido de suas próprias vidas. Por isso, o desejo expresso pelo funcionário Pedro Bahl revela o desejo de muitos: Vida Longa ao Circo da Cidade!

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QUADROS, Albanir. Albanir Quadros: depoimento...op.cit. p.07.


imagem da lona no bairro São Braz. Data: 22/02/1985. Acervo: DPHAC/FCC.

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STANCZYC, Milton. Milton Stanczyc: Depoimento [04/2016]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2016. Texto com base em suas memórias. STEINKE, Rosana; SILVA, Miguel F. P. Lonas e Memórias: a história esquecidas dos circos paranaenses. Maringá: Sinergia Editorial, 2015.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

STANCZYC, Marli. Marli Stanczyc: depoimento [05/2016]. Entrevistadoras: Ângela Rodarte e Elizabete Berberi. Curitiba, 2016. Texto com base em suas memórias e nas memórias pessoais, de Ronaldo Suchevicz e de Rose Mari Ziliotto.

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Boletim Informativo da Casa Romário Martins

Volumes editados no período de 1974 a 2013 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

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Desembrulhando as balas Zequinha. Valêncio Xavier. Ago. 1974. Os caminhos da pavimentação em Cuririba. Rafael Greca de Macedo. Out.1974. Romário Martins: um punhado de terra natal. Rafael Greca de Macedo. Dez. 1974. 3 Contos de Armando Ribeiro Pinto. Dez. 1974. Bento Mossurunga: um músico do Paraná. Roselys Vellozo Roderjan. Jan. 1975. Maria Bueno: uma peça de Oraci Gemba. Jan. 1975. O lazer na Curitiba antiga: fotos de uma exposição. Valêncio Xavier. Fev. 1975. Freguês de caderno (armazém de secos e molhados em Curitiba). Rafael Greca de Macedo. Fev. 1975. 3 Contos de Cláudio Lacerda. Fev. 1975. Notícias sobre a imprensa do Paraná até 1900. 0swaldo Pilotto. Fev. 1975. História de Curitiba em quadrinhos: desenhos de Moacyr Calesco; texto de Valêncio Xavier. Supervisão de Ruy C. Wachowicz. Abr. 1975. Chichorro e seus calungas. Newton Carneiro. Jun. 1975. Premiados no I Concurso Municipal de Contos. Lizete Andrade Chipanski, Rosirene Gemael, Carlos Alberto Marçal Gonzaga, Antônio César Bond. Jun. 1975. Lance Maior. Roteiro do filme de Sylvio Back. Jul. 1975. Schroeder e Kirstein: rótulos e embalagens antigas. Rosirene Gemael. Out. 1975. Santa Cândida, pioneira da colonização linista. Ruy Christovam Wachowicz. Dez. 1975. O lambrequim. Key Imaguire Júnior. Mar. 1976. Viagem do navio S. M. Albatrós, capítulo sobre o Paraná, 1885­–1886. Abr. 1976. Referências sobre filmagens e exibições cinematográficas em Curitiba, 1892–1907. Solange Stecz. Jun. 1976. O eclético: aspectos da ornamentação de fachadas em Curitiba. Key Imaguire Júnior. Jul. 1976. Linguajar paranaense (resenha). Vasco Taborda Ribas. Set. 1976. Projeto. Rogério Bonilha. Abr. 1977. O Palácio do Congresso. Câmara Municipal de Curitiba, histórico e restauração. Izabel Corção. s/data. Arquitetura do imigrante italiano. Equipe. s/data. Cem anos de Bento Mossurunga: o cantor da alma paranaense. Roselys Vellozo Roderjan. Maio 1979. Memórias da sorte & do azar - Estórias e histórias do jogo em Curitiba. Maí Nascimento e Rafael Greca de Macedo. s/data.


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Memória de vida, Lineu Ferreira do Amaral. Equipe. Imagens e paisagens que Curitiba perdeu. Equipe. Memória de vida, Guataçara Borba Carneiro. Equipe. Memória da aviação em Curitiba. Equipe. Memória de vida, Francis Accioly Filho. Maí Nascimento e Rafael Greca de Macedo. Ruínas de São Francisco. Rafael Greca de Macedo, Maí Nascimento e Vera Lúcia Gregório de Andrade. Dez. 1979. Vila São Pedro, o bairro na história da cidade. Tânia Mara de Paula Toledo, Rafael Greca de Macedo e Roseli Boschilia. Jan. 1980. O carnaval de Curitiba em 1884. Reprinter de Proclama. 7 Quedas de Canendiyu. Roteiro do filme de Sylvio Back, texto de André Rebouças e Rafael Greca de Macedo. Ano 5. População de Curitiba e paranaense de 1780. Ruy Christovam Wachowicz. Memória de vida, Carlos Heller. Equipe. Memória de vida, Raul de Azevedo Macedo. Equipe. Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Comemorativo ao centenário do hospital de caridade, 1880-1980. Rafael Greca de Macedo e Maí Nascimento. Maio 1980. A visita imperial a Curitiba. David Antonio da Silva Carneiro. Ano VI. O parque Inglez (subsídio para a história do bairro do Bacacheri). Rafael Greca de Macedo, Maí Nascimento e Vera Lúcia Gregório de Andrade. O Passeio Público. Rafael Greca de Macedo. A arte paranaense antes de Andersen. Newton Carneiro. Set. 1980. Igreja da Ordem - restauro e história. Rafael Greca de Macedo. Out. 1980. Pilarzinho, o bairro na história da cidade. Rafael Greca de Macedo, Roseli Boschilia e Tânia de Paula Toledo. Out. 1980. Coleções Cartões Postais: suportes da memória. Eduardo Sallum. Nov. 1980. Portão, o bairro na história da cidade. Rafael Greca de Macedo, Roseli Boschilia e Tânia de Paula Toledo. Nov. 1980. 9 de agosto de 1945: a FEB parou Curitiba. João Dedeus Freitas Netto. Dez. 1980. Leiteria Schaffer, restauro e história. Rafael Greca de Macedo e equipe. Jan. 1981. Estrada do Mato Grosso. Rafael Greca de Macedo e equipe. Mar. 1981. Preservação da memória nacional. Aloísio Magalhães. Mar. 1981. Dom Jerônimo Mazzarotto. Rafael Greca de Macedo. Abr. 1981. Os ucranianos. Oksana Boruszenko. Abr. 1981. Rua da liberdade. Rafael Greca de Macedo e Maí Nascimento. Jun. 1981. Bosque João Paulo II - Parque Memorial da Imigração Polonesa. Edwino Tempski, Rafael Greca de Macedo, Ruy C. Wachowicz e Waldir Assis Filho. Jul. 1981. Memória de vida, Mário Braga de Abreu. Ana Maria F. Rochael, Margarita P. Sansone, Ney Regatieri Nascimento e Rafael Greca de Macedo. Jul. 1981. Centro Acadêmico Hugo Simas, 50 anos. Vários Autores. Ago. 1981. Breve relato dos quartéis do Paraná. Cid Deren Destefani. Ago. 1981. Comunidade rurbana de Campo de Santana. Vários Autores. Set. 1981. Despoluição visual em Curitiba. Maí Nascimento, Rafael Greca de Macedo e Roseli Boschilia. Dez. 1981. Memória de vida, Tadeusz Morozowicz. Aramis Millarch, Rafael Greca de Macedo, Maí Nascimento e Milena Morozowicz. Jan. 1982.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

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62 Cabral e Juvevê, os bairros na história da Cidade. Cíntia M. Braga Carneiro, Maí Nascimento, Rafael Greca de Macedo e Roseli Boschilia. Fev. 1982. 63 Indústria de fundo de quintal. Jaime Lechinski e Maí Nascimento. Abr. 1982. 64 Lápis, um compositor paranaense. Aramis Millarch. Maio 1982. 65 Memória de vida, Lysandro Santos Lima (1906-1982). Lysandro Santos Lima (póstumo) e Rafael Greca de Macedo. Jun. 1982. 66 Campo Comprido, o bairro na história da cidade. Cíntia M. B. Carneiro, Rafael Greca de Macedo e Roseli Boschilia. Ago. 1982. 67 Memória de vida, Hélène Garfunkel (1900-1982). Vários Autores. Ago. 1982. 68 Água Verde, o bairro na história da cidade. Myriam Sbravati, Roseli Boschilia, e Wanirlei Pedroso Guelfi. Nov. 1982. 69 Mère Júlia do Cajuru. Vários Autores. Dez. 1982. 70 Fantasia circense. Maí Nascimento, Rafael Greca de Macedo e Rosângela Stringari. Fev. 1983. 71 Colônia D. Augusto: uma introdução à sua história. José Augusto Colodel. Mar. 1983. 72 Umbará: gentes, vida e memória. Marcelo C. Brunetti e Marcos A. Zanon. Out. 1984. 73 Memória. Tocando a Vida: Janguito. Elizabeth Fortes e Roseli Boschilia. Nov. 1984. 74 Bairro Mercês: do túnel do pirata ao Bar Botafogo. Marcelo C. Brunetti e Roseli Boschilia. Jul. 1985. 75 Memória. Nhô Belarmino e Nhá Gabriela. Elizabeth Fortes e Roseli Boschilia. Jun. 1985. 76 Ulisses Vieira: 1885-1942. Ruy Alvarez Vieira. Jul. 1985. 77 Henrique de Curitiba Morozowicz. Catálogo de obras. Maio 1986. 78 Sylvio Back - Por um Cinema Desideologizado. Maio 1987. 79 Catálogo de museus. Roseli Boschilia. Maio 1987. 80 José Penalva. Catálogo de obras. Jan. 1988. 81 Pioneiros da evangelização presbiteriana no Paraná. Túlio Vargas. Jul. 1988. 82 Erbo Stenzel. Ângela Ceccatto Pires. Ago. 1988. 83 Centro Cultural Portão. Elton L. Barz e Roseli T. Boschilia. Nov. 1988. 84 Os franceses em Curitiba. Maí Nascimento. Jul. 1989. 85 Tradições natalinas. Eugênia B. Mazepa, Oksana Boruszenko e Rafael Greca de Macedo. Dez. 1990. 86 Festivais de música de Curitiba. Cursos internacionais de música do Paraná–1965/77. Selma Suely Texeira. Jan. 1991. 87 A boa vida de Santa Felicidade. Marlene Rodrigues. Abr. 1991. 88 Jacobs, Kriger& Cia Ltda - Foto Brasil. Ana Maria Hladczuk e Oksana Boruszenko. Maio. 1991. 89 Heróis da Lapa – 5.ª Região Militar. Jul. 1991. 90 100 anos de Justiça no Paraná 01/08/1891 – 01/08/1991. Maí Nascimento, Milton M. Vernalha e Rafael Greca de Macedo. Ago. 1991. 91 Mohamed - olho moderno. Ago. 1991. 92 Um jardim para Fanchette. Set. 1991. 93 Bruno Farnocchia - Flamacolor (A serigrafia em Curitiba). Elton Luiz Barz e Roberson Maurício Caldeira Nunes. Fev. 1992. 94 Parque das Pedreiras - da Pedreira Municipal à Ópera de Arame. Elton Luiz Barz, Maí Nascimento e Roberson Maurício Caldeira Nunes. Mar. 1992. 95 Curitiba em 24 quadros. Maí Nascimento. Mar. 1992. 96 Shopping Popular. Elton Luiz Barz, Maí Nascimento e Roberson Maurício Caldeira Nunes. Abr. 1992. 97 Igreja, Cinema, Poder - o filme religioso no Brasil. Francisco Alves dos Santos. Jun. 1992. 98 Calçadão, vinte anos depois. Raul Guilherme Urban. Jul. 1992. 99 Augusto Stresser e a Ópera Sidéria. Vários autores. Set. 1992.

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Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

100 Aramis Millarch. Vários autores. Set. 1992. 101 Francisco Kava Sobrinho (1936-1985). Raul Guilherme Urban. Jun. 1993. 102 O Culto de Nossa Senhora da Luz. Valéria Marques Teixeira. Set. 1994. 103 Trabalho, Técnica e Arte: Pianos Essenfelder. Roseli Boschilia e equipe. Mar. 1995. 104 Cemitério Municipal São Francisco de Paula - Monumento e Documento. Cassiana Lacerda Carollo. Abr. 1995. 105 Curitiba - Origens, fundação, nome. Igor Chmyz, Cecília Westphalen, Aryon D. Rodrigues. Jun. 1995. 106 Boqueirão - O bairro na história da cidade. Marcelo Sutil. Ago. 1995. 107 O cotidiano de Curitiba durante a II Guerra Mundial. Roseli Boschilia. Out. 1995. 108 Os ucranianos – 2ª. ed. Oksana Boruszenko. Out. 1995. 109 Carlos Gomes e seus horizontes. José Penalva. Jan. 1996. 110 Cores da Cidade Riachuelo e Generoso Marques. Roseli Boschilia. Mar. 1996. 111 Fazendinha - O bairro na história da cidade. Marcelo Sutil. Maio 1996. 112 Cinema no Paraná - Nova geração. Francisco Alves dos Santos. Jun. 1996. 113 A Rua 15 e o Comércio no Início do Século. Roseli Boschilia. Nov. 1996. 114 Fundação Cultural de Curitiba. Maí Nascimento Mendonça. Dez. 1996. 115 Nas Ondas do Rádio. Maí Nascimento Mendonça. Dez. 1996. 116 Pinheirinho - O Bairro na História da Cidade. Marcelo Sutil, Vidal de Azevedo e Costa. Dez. 1996. 117 Umbará - O Bairro na História da Cidade. Tatiana Dantas Marchette. Dez. 1996. 118 Boa Vista - O Bairro na História da Cidade. Roseli Boschilia. Dez. 1996. 119 Rui Barbosa - A Praça na Trilha do Tempo. Antonio Paulo Benatti, Marcelo Sutil. Dez. 1996 120 Tiradentes - A praça verde da Igreja. Elizabeth Berberi, Marcelo Saldanha Sutil. Jul. 1997. 121 Parolin - O bairro na História da Cidade. Maria Luiza Baracho. Nov. 1997. 122 Universidade Federal do Paraná - Um edifício e sua história. Antonio Gonçalves Junior. Dez. 1997. 123 Da pharmacia à farmácia - Farmácias curitibanas 1857 - 1940. Marcelo Saldanha Sutil. Jul. 1999. 124 Rebouças - O Bairro na História da Cidade. Maria Luiza Gonçalves Baracho. Maio 2000. 125 Cinema no Paraná - Anos noventa. Francisco Alves dos Santos. Abr. 2001 126 Passeio Público - Primeiro parque público de Curitiba. Cassiana Licia de Lacerda. Ago. 2001.

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Boletim Casa Romário Martins

Volumes editados a par tir de 2005 127 Fotos de estúdio: imagens construídas. Marcelo Saldanha Sutil, Maria Luiza Gonçalves Baracho. Jul. 2005. Série Memória Urbana. 128 Cinemateca de Curitiba: 30 anos - Hugo Moura Tavares. Set. 2005. Série Memória Institucional. 129 Um olhar para o futuro: coleção Julia Wanderley. Marcelo Saldanha Sutil, Maria Luiza Gonçalves Baracho. Nov. 2005. Série Memória de Vida. 130 Centro Histórico: espaços do passado e do presente. Ana Lúcia Ciffoni, Marcelo Saldanha Sutil, Maria Luiza Gonçalves Baracho. Mar. 2006. Série Memória Urbana. 131 Praças de Curitiba: espaços verdes na paisagem urbana. - Aparecida Vaz da Silva Bahls - Set 2006. Série Memória Urbana. 132 COHAB-CT: 41 anos de planejamento e realizações – Vidal A. A. Costa. Dez. 2006. Série Memória Institucional. 133 Memória da Rede Municipal de Ensino de Curitiba – Vidal A. A. Costa. Mar. 2007. Série Memória Institucional. 134 O Acervo Wischral: documentos de um olhar – Maria Luiza Gonçalves Baracho e Marcelo Saldanha Sutil. Abr. 2007. 135 Bigorrilho, a construção de um espaço urbano – Maria Luiza Gonçalves Baracho e Marcelo Saldanha Sutil. Ago. 2007. Série Memória Urbana. 136 Música na Capela do Santa Maria: história, arquitetura e revitalização – Rosianne Pazinato da Silva, Ivilyn Weigert, Nancy Valente e Miguel Gaissler. Dez. 2007. Série Memória Institucional. 137 Teatro do Paiol: 35 anos de aplausos – Deborah Agulham Carvalho. Mai. 2008. Série Memória Institucional. 138 Os derradeiros artífices de uma cultura rural – artesania para uso rurícola ou doméstico tradicional em Curitiba-PR – Emilio Carlos Boschilia. Dez. 2008. Série Memória Urbana. 139 Lago Azul, o parque na memória curitibana – Tatiana Dantas Marchette. Dez 2008. Série Memória Urbana. 140 Rótulos e embalagens: sinais de outros tempos – Marcelo Saldanha Sutil e Maria Luiza Gonçalves Baracho. Jan. 2009. Série Memória Urbana. 141 Lala Schneider – Rosirene Gemael. Jun 2009. Série Memória de Vida. 142 Factos da atualidade: charges e caricaturas em Curitiba – Aparecida Vaz da Silva Bahls e Mariane Cristina Buso. Maio. 2009. Série Memória Urbana. 143 Memória da Rede Municipal de Ensino de Curitiba 1983 – 1998. Vidal A. A. Costa. 2010. Série Memória Institucional. 144 Synval Stochero. Curitiba na mira do fotógrafo. Maria Luiza Gonçalves Baracho. Dez 2010. Edição Especial. 145 Centro Paranaense Feminino de Cultura – Regina Maria Schimmelpfeng de Souza. Nov. 2012.

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PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA Prefeito de Curitiba Gustavo Fruet

FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA Presidente Marcos Cordiolli Superintendente Igor Cordeiro Diretor de Comunicação Diogo Dreyer

Diretora de Incentivo à Cultura Maria Angélica da Rocha Carvalho Diretora de Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural Marili Azim Diretor Presidente do Instituto Curitiba de Arte e Cultura Marino Galvão Jr.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Diretora Administrativa e Financeira Sonia Rosana Zanetti

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EQUIPE TÉCNICA Pesquisa, texto e seleção final de imagens Angela Medeiros Rodarte Elizabete Berberi Coordenação editorial Carla Anete Berwig Coordenação de Programação Visual Áulio Zambenedetti Diagramação/Arte-final Aparecido Cassimiro de Oliveira Criação da Capa Áulio Zambenedetti Foto da Capa Alice Rodrigues Pesquisa técnica de imagens Roberson Mauricio Caldeira Nunes Digitalização e tratamento de imagens Rui Marcelo Sutil de Oliveira Captação de imagens Geraldo Pioli Marcos S. Saboia Fotógrafos Alice Rodrigues, Cido Marques, Jerson Rodarte, Lucilia Guimarães, Luiz Cequinel. Revisão de texto Carla Anete Berwig Maria Luiza Gonçalves Baracho Normatização Elizabeth W. Palhares Filomena Nercy Hammerschmidt

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Acervos Biblioteca do Museu Paranaense/SEEC Paraná Circo da Cidade/FCC Comunicação Social/FCC Diretoria de Patrimônio Histórico Artístico e Cultural/FCC Divisão de Documentação Paranaense/Biblioteca Pública do Paraná Euza Maria Santos Família Queirolo Luzia Simplicio da Silva Nelson Santos Saulo Evaristo Paulino Estagiários Alice de Almeida, Aline Dal Maso Ferreira, Andréia Elizabete Bohn Lüder, Everton da Silva de Carvalho, Jonathan Henrique Brandão, Leandro Mardegan Conrado, Matheus Vasconcelos, Rafael Azevedo Perich.

Senhoras e Senhores: O Circo da Cidade faz 40 anos!

Colaboração Albanir de Quadros Moura, Antônio Damian, Edenilson Marcos Anderson, Elton Luiz Barz, Geraldo Magela, Geraldo Pioli, Jorge Pereira do Nascimento, Luzia Simplicio da Silva, Marcos Santos Mendes, Marli Stanczyk, Milton Stanczyk, Nelson Santos, Nivaldo Lopes, Pedro Bahl Júnior, Ronaldo Suchevicz, Rose Mari Ziliotto, Santalina Felipe Pessoa, Saulo Evaristo Paulino, Silvio Cáceres.

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FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA Rua Engenheiro Rebouças, 1.732, Rebouças Curitiba - PR 80.230-040. Tel (41) 3321-3295 www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br




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