Catálogo da 10ª Bienal da UNE

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ORGANIZAÇÃO: BRUNO HUBERMAN RAFAEL MINORO





une.org.br



UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES SÃO PAULO 2017


O CATÁLOGO DA 10ª BIENAL: FEIRA DA REINVENÇÃO É UMA PUBLICAÇÃO DA UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES ORGANIZAÇÃO: Bruno Huberman e Rafael Minoro TEXTO E EDIÇÃO: Artênius Daniel, Bruno Huberman, Patricia Blumberg e Rafael Minoro FOTOGRAFIA: CUCA da UNE, Fernando Libânio, Grito Propaganda, Yuri Salvador e Acervo UNE IDENTIDADE VISUAL DA BIENAL, CAPA E PROJETO GRÁFICO: Vinicius Costa - vicostudio.blogspot.com.br TRATAMENTO DE IMAGEM: 231 Mídias EDITORA RESPONSÁVEL: Contra Regras - Produção e Comunicação COLABORAÇÃO: Cristiane Tada, Renata Bars e Sara Puerta REVISÃO: Luana Bonone

UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES Rua Vergueiro, 2485 - Vila Mariana 04101-200 - São Paulo - SP TEL: 11 5539.2342 EMAIL: contato@une.org.br

CONTRA REGRAS - PRODUÇÃO E COMUNICAÇÃO Rua Áurea, 285 - Vila Mariana 04015-070 - São Paulo - SP TELEFONE: 11 2503.1978 EMAIL: contato@contraregras.com.br

E79

Estudantes, União Nacional. 10ª Bienal da Une: feira da reinvenção / União Nacional dos Estudantes. – São Paulo: Contra Regras - Produção e Comunicação, 2017.

196 p.

ISBN: 978-85-93897-00-9

1. 10ª Bienal da Une: feira da reinvenção. 2. União Nacional dos Estudantes. 3. Movimento Estudantil. 4. Cultura.

CDU 070.304


ORGANIZAÇÃO Bruno Huberman e Rafael Minoro

HOMENAGEADOS DA 10ª BIENAL DA UNE MÚSICA – massafeira ARTES VISUAIS – neoconcretismo CIÊNCIA E TECNOLOGIA – pensamento crítico AUDIOVISUAL – cinema novo LITERATURA – contracultura e literatura marginal ARTES CÊNICAS – tropicália e teatro radical EXTENSÃO – movimento de cultura popular





Gaby Amarantos durante show na 10ÂŞ Bienal da UNE


A P R E S E N TA Ç Ã O

GENTE PRA SE JUNTAR Quando a gente se junta, ela é gente de verdade. Gente são muitas e são muitos, diferentes e iguais, várias peças de uma só engrenagem. Juntar as muitas juventudes do Brasil em um mesmo lugar, com uma mesma proposta, é o desafio fantástico da Bienal da UNE, esse evento de 10 edições e milhares de histórias, que há quase duas décadas reúne a produção cultural, artística, política e científica da universidade brasileira. Carina Vitral Presidenta da UNE

A nossa décima Bienal, realizada em janeiro de 2017 na cidade de Fortaleza, está registrada nas páginas deste catálogo como uma grande síntese do que foi feito até aqui nesse projeto histórico de retomada da atividade cultural no movimento estudantil brasileiro após o período da ditadura militar e reabertura democrática. A Bienal de número 10 trouxe como imagem inspiradora a feira livre e como desafio a reinvenção. O Brasil, em seus diferentes momentos de emancipação ou resistência, precisou reinventar a forma de se enxergar e de agir. É também essa a trajetória da União Nacional dos Estudantes, que completa 80 anos no mesmo ano do evento.


A Feira da Reinvenção é o convite para a contribuição de cada estudante, seja com sua arte, seu manifesto ou seu midiativismo, na transformação do nosso país em uma nação justa e solidária.

Mel Gomes Diretora de Cultura da UNE

Este é um catálogo do que produzimos ali, naqueles dias intensos do Centro Dragão do Mar de Cultura, mas também do que sonhamos, ali, produzir para o nosso futuro por todo o país. Na nossa feira as trocas são inúmeras e as receitas são ousadas. A Bienal seguirá cumprindo o seu papel de misturar as nossas diferentes formas de luta e celebração, para que saibamos o porquê de nos unir. Essa é a mensagem da UNE, esse é o nosso convite. Queremos que você venha conosco.

BOA LEITURA!

Patrícia de Matos Coordenadora do Circuito Universitário de Cultura e Arte


C A R TA

JUVENTUDE, CULTURA E DEMOCRACIA Fortaleza sediou, no começo deste ano, a 10ª Edição da Bienal da UNE (União Nacional dos Estudantes), evento que trouxe para a nossa cidade mais de 10 mil estudantes de todo o Brasil, com debate em torno da cultura, arte, esporte, ciência e, também, um plural debate político. Importante destacar que a Bienal aconteceu num dos momentos mais graves da história política brasileira, ganhando uma relevância ainda maior.


O evento, que é considerado um dos maiores encontros de estudantes da América Latina, tem como objetivo principal não só a conexão das expressões artísticas e culturais dos estudantes brasileiros, mas também a discussão sobre o papel da juventude no fortalecimento da democracia brasileira e na construção de um país mais justo e solidário. Para a Prefeitura de Fortaleza, foi uma imensa honra sediar um evento com essa relevância e, além disso, uma excelente oportunidade para reforçar nossas ações na política de juventude que vem sendo trabalhada e ampliada de forma sistêmica e contínua desde que assumimos a gestão municipal. Ao longo dos últimos quatro anos, Fortaleza se tornou a capital com maior orçamento per capita em programas de juventude. No ano de 2016, por exemplo, foram investidos R$ 29.003.960,55 em ações e projetos, 41% a mais do que o investimento de 2015. Os recursos viabilizaram projetos como o Academia ENEM, que pre-

para estudantes de escolas da Rede Municipal para o Exame Nacional do Ensino Médio; a Rede Cuca, equipamentos que oferecem oportunidades de qualificação, geração de renda, inserção cultural e esportiva aos jovens, em especial das áreas mais vulneráveis da cidade; e o Juventude Sem Fronteiras, que acabou de embarcar 100 jovens para a Espanha e para o Canadá com todas as despesas custeadas para uma experiência de intercâmbio internacional. Nossos números revelam que esses investimentos, realizados por meio da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude, beneficiaram em 2016 um total de 151.034 jovens entre 15 e 29 anos, um aumento de 39% na comparação com 2015. É com ações como essas que estamos oferecendo nossa contribuição para garantir crescimento social, cultural e político aos jovens fortalezenses. Entendemos que a definição e adoção pelo Poder Público de políticas de juventude é essencial para a construção de um país com menos injustiça e desigualdades. Apoiar um encontro como a Bienal da UNE, que contribui para dar visibilidade aos jovens de toda parte do Brasil, é, de forma categórica, uma evidente e incontestável afirmação da Prefeitura de Fortaleza de caminhar nessa direção. Muito feliz por recebê-los e estarmos alinhados na permanente luta por um país cada vez melhor. Um abraço a todos,

Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra Prefeito de Fortaleza


A

cultura é, entre os fatores definidores de uma sociedade, aquele que melhor a representa, constituindo-se em um precioso conjunto que contempla o conhecimento, as artes, e que vai além, abrangendo, igualmente, os códigos da ética, da moral, crenças e costumes de um povo. Ao escolher o Ceará para abrigar sua 10ª Bienal, a União Nacional dos Estudantes veio ao encontro de um povo profundamente marcado por sua herança cultural, da qual se orgulha e que preserva com grande zelo. Aqui nasceram José de Alencar, Rachel de Queiroz, Patativa do Assaré. O Ceará é o berço de grandes figuras da Música, do Teatro, da Fotografia, do Cinema, das Artes Plásticas... e também do Humor. São incontáveis os cearenses que ascenderam à galeria daqueles que se notabilizaram pelo gênio criativo, e isto nos enche de orgulho.

Carta à juventude

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CATÁLOGO 10ª BIENAL DA UNE


A “Feira da Reinvenção”, trazida pela UNE, harmonizou-se perfeitamente com os elementos que caracterizam nossas canções populares, nossos versos de cordel, nosso teatro e artes plásticas, nosso jeito de falar, nossa mania de bem receber os visitantes. A União Nacional dos Estudantes, com seu repositório de força e coragem, há de ter-se sentido em casa na terra de Bárbara de Alencar e Dragão do Mar. A tradição libertária, que é uma das marcas mais notáveis da nossa grande entidade estudantil, entra em total sintonia com o espírito do povo que primeiro libertou os escravos no País. Eis por que nós, cearenses, tanto nos regozijamos com a chegada de estudantes do Brasil inteiro, que acorreram à 10ª Bienal da UNE, um espaço de ideias e manifestações socioculturais, que iluminou Fortaleza entre os dias 29 de janeiro e 1º de fevereiro. Vivenciamos, naqueles dias de efervescência, uma rica experiência de questionamentos e reflexões sobre o Brasil que queremos (re)construir. E sobre o mundo que não desistiremos jamais de transformar. Foram mais de 10 mil jovens, que transitaram pelos espaços da “feira”, trocando ideias, ouvindo e fazendo-se ouvir por representantes da política, das artes e dos movimentos sociais.

brasileira

Também para nós foi uma experiência enriquecedora. Hoje, no Ceará, temos consciência de que, através de políticas públicas bem direcionadas, podemos potencializar a contribuição da cultura como indutora do desenvolvimento social. Este ano, comemoramos o 50º aniversário de criação de nossa Secretaria da Cultura, efeméride que lembra meio século de atividades na preservação e promoção de nossas mais autênticas manifestações culturais. Tenho compromissos firmados com esta área e vou honrá-los até o último dia de meu governo. Mais do que nunca, estou convicto do quanto é relevante o papel da cultura na sociedade, e de como é imprescindível o envolvimento da juventude na discussão, produção e difusão das manifestações culturais. Daí por que eventos como a Bienal da UNE serão sempre serão bem-vindos ao Ceará. A Terra do Sol estará sempre iluminada para acolher a juventude pensante e criativa, pois temos consciência de que o bom debate é o melhor caminho para a conquista de um ambiente social melhor para todos. Abraço fraterno, Camilo Sobreira de Santana Governador do Ceará


4 DIAS DE FESTIVAL

80 MIL PÚBLICO TOTAL

MAIS DE 60 HORAS DE ATIVIDADES

85 CONVIDADOS

1.140 TRABALHOS INSCRITOS

75 ATRAÇÕES

MAIS DE 100 CARAVANAS DE ÔNIBUS

4 GRANDES SHOWS

5 MIL ESTUDANTES

23 APRESENTAÇÕES MUSICAIS


OS NÚMEROS A DA 10 BIENAL


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MANIFESTO

FEIRA DA REINVENÇÃO

FORTALEZA

40

44

56

DRAGÃO DO MAR

ZÉ CELSO E A REINVENÇÃO QUE NOS UNE

BIENAL DE DESTINO NORDESTINO

60

64

70

BIENAL DO MARACATU

BIENAL DO COMBATE AO RACISMO

A INAUGURAÇÃO DE UM NOVO CICLO DO CUCA

72

76

80

POLÍTICA REINVENTADA

ARTE CÊNICA REINVENTADA

CINEMA REINVENTADO


84

90

94

MÚSICA REINVENTADA

LITERATURA REINVENTADA

ARTE VISUAL REINVENTADA

100

102

116

CIÊNCIA E TECNOLOGIA REINVENTADA

PROJETO DE EXTENSÃO REINVENTADO

CULTURATA: DO DRAGÃO PARA AS AVENIDAS

120

128

138

10 PERGUNTAS PARA CARINA VITRAL

80 ANOS DA UNE EM 10 FATOS

HISTÓRIA DAS BIENAIS

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176

IDENTIDADE VISUAl

CLIPPING

SUMÁRIO


24 24 CATÁLOGO 10ª BIENAL DA UNE


MANIFESTO CATÁLOGO 10ª BIENAL DA UNE

CATÁLOGO 10ª BIENAL DA UNE

Emicida se apresenta na praça do Dragão do Mar

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(Sivuca e Glorinha Gadelha)

“Tinha uma vendinha no canto da rua Onde o mangaieiro ia se animar Tomar uma bicada com lambu assado E olhar pra Maria do Joá”

MANIFESTO

R

einventar é um brado, uma necessidade, uma ardência originária nascida com o Brasil. Para curar a doença, reinventa-se o remédio ou o próprio doente. Para curar a alma, reinventa-se a reza, o ritmo ou a música do festejo. Para se curar da queda, reinventa-se a receita da volta por cima. Há sempre fé, fruta ou benzedeira nova para todos os males. Há mistura sempre de sobra para ser remisturada com alguma outra coisa. Há chá de descoberta e de novos descobrimentos embaixo das letras mortas dos livros ou dos doutores mais sabidos. No Brasil da sabedoria popular, há sempre reticências à espreita dos pontos finais.

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O potencial criador e criativo do povo brasileiro é uma constante na sua história de afirmação e resistência ao longo dos séculos. O processo – sempre inacabado – de formação da brasilidade deriva de guerras, encontros e conflitos raciais, econômicos e culturais que levam à prática recorrente de recriação do novo perante uma realidade opressora. Nas agruras da senzala ou do navio negreiro, surgem os contos, os cantos, os batuques e as danças da nossa mitologia particular. No desastre da seca e da exclusão do caboclo, surge o cordel, o improviso do repente e da própria vida em poesia. Na aspereza da favela excluída surge o funk, o tecnobrega, o arrocha de quem dita o compasso de como se mexem os corpos de norte a sul. Ao chegar a sua décima edição em 2017, sempre buscando investigar e celebrar o Brasil, a Bienal da UNE permite-se o desafio da reinvenção. Frente ao momento crítico da história política do país, na reprimenda aos sonhos de sua emancipação e superação de suas DAS injustiças, no golpe e silenciamento dos que lutam face a suas ÀS opressões, a União Nacional dos Estudantes evoca a criatividade transformadora da cultura popular brasileira no maior festival estudantil da América Latina. A Bienal, que também marca o início das atividades de 80 anos da UNE, quer revelar a sina de um povo que, recorrentemente, sob a gravidade das intempéries, enfrenta adversidade com a diversidade. Um povo que se faz ativo no criativo de uma embolada, de uma rima, de uma hashtag da rede social que mobiliza toda a coletividade. A UNE convida a juventude brasileira para expor seus sonhos e suas propostas de reinvenção nessa feira, na cidade de Fortaleza, no próximo mês de janeiro, RECORRENDO. Recorre a essa imagem e conceito do mercado popular no Brasil, a feira livre, o espaço aberto de troca

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com sua miríade de cores, temperos e possibilidades imaginativas, seja nas mercadorias, no jargão genial de oralidade de quem vende o seu “peixe” ou na descoberta inusitada de uma nova batida musical na banca de aparelhos eletrônicos. Freguês, pode chegar. Na Feira da Reinvenção, não se distingue o que é exatamente produto pronto ou, na verdade, mais uma matéria prima para a recriação do mundo à volta. Nessa sacola cabem samplers e bases para os MCs, sabores e efeitos misteriosos, tecidos para cortes e retalhos nas artes plásticas ou na moda, poetas clássicos ou marginais para o intertexto de copyleft, celulares para fazer cinema e/ou revolução, truques e trocas de estilos, afetos, concordâncias e divergências para um novo tema de debate. A feira é uma cidade de vida própria, convidativa aos olhos, cheiros, gostos e gestos de experimentar aquilo que ainda não se conhece de banca em banca. A feira livre é um ponto do encontro, da socialização e também do fazer artístico.


Foi na Feira do Crato, interior do Ceará, que um dos poetas mais inventivos da literatura brasileira, Patativa do Assaré, foi descoberto no talento dos seus versos matutos. Foi também a imagem da feira livre que levou ao movimento histórico de músicos cearenses e outros artistas que, no ano de 1979, ocuparam o Teatro José de Alencar, em Fortaleza, na Massafeira. O evento foi uma eclosão de canções, pinturas, esculturas, fotografias, traços de costumes populares que relançaram a cultura local para o país. Construíram a Massafeira nomes como Ednardo, Belchior, Fagner, além de convidados de outros estados como Zé Ramalho e Walter Franco. O projeto também se transformou em um álbum, lançado no ano seguinte. Em outros estados, as feiras também são referências da diversidade cultural. Luiz Gonzaga imortalizou a Feira De Caruaru, em Pernambuco cantando tudo que há no mundo e nela para se vender. A mineira Clara Nunes, na sua Feira de Mangaio, lista o fumo de rolo, o bolo de milho, alecrim e canela ao lado do sanfoneiro no canto da rua e seus floreios para o povo dançar. No Rio de Janeiro dos anos 1990, há a Feira de Acari no funk de MC Batata, sucesso nacional que despertou olhares para esse bairro da zona norte carioca, e a feira não autorizada do Rappa, versada em rock, chamando maluco, madame, maurício e atriz para levar as ervas que amenizam a pressão.

A feira é uma prática antropológica recorrente em muitas civilizações. Na tradição da cultura ocidental e da América Latina colonizada, ela remete aos espaços de festividade, religiosidade e trocas de mercadoria desde o império romano. A etimologia da palavra, com origem no latim, é a mesma que designa férias, feriado, momento de parada para celebração ou intercâmbio. A feira faz parte de um processo civilizacional que chegou do outro continente, mas que aqui se ressignificou com as matizes brasileiras e sua composição multifacetada. Sua variedade é uma analogia do próprio país em busca dos ingredientes sempre fortes, difusos e complexos que o compõem do ponto de vista étnico, religioso, cultural e histórico. Segundo Darcy Ribeiro, pela amplitude dessas possibilidades, o Brasil seria, potencialmente, algo como uma nova Roma para a humanidade. Um solo lavado no sangue indígena e negro, porém tropical e fértil para suplantar as desigualdades com reinvenção, o berço de uma possível nova sociedade. As contradições do processo exploratório desta terra, ora criminalizando os saberes dos povos oprimidos, como na escravidão, ora buscando retomá-los RESGATÁ-LOS, como no indianismo literário ou na antropofagia modernista, criaram ao longo do tempo um quebra-cabeça virtuoso a ser montado, geração após geração, em uma vastidão de combinações incrivelmente possíveis.

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É assim que o forró de Gonzaga e Humberto Teixeira encontra o rádio e a massificação em nova roupagem para os grandes centros urbanos da primeira metade do século XX, em um movimento inédito de difusão da arte nordestina. É assim que a Tropicália reúne samba, bossa e psicodelia setentista em harmonia de acordes e discursos. É assim que a guitarra elétrica ganha outra função totalmente inesperada na música baiana de Dodô e Osmar, que Chico Science funde Maracatu e música eletrônica com a sua Nação Zumbi, que o heavy metal do Sepultura e a música dos índios Xavantes tornam-se uma coisa só nas experimentações do clássico álbum “Roots”.

Atualmente, esse processo de reconexões continua, dentro ou fora da cultura de mercado e da indústria. Da marginalidade, das periferias (perifeiras) em torno de um centro concentrador de riqueza e privilégios, brota a espontaneidade no freestyle do rap, nas batalhas de versos, na linguagem imediata e urgente do PICHOpixo e do grafite, no esporte, na moda, nos virais da internet, naquilo que se coloca na roda para a troca. A ascensão sócio-econômica desses grupos nos últimos anos de governos populares, associada às políticas sociais, à convergência digital, ao acesso ao ensino superior, permite o seu protagonismo na condução de parte da cultura nacional, na formação de uma inteligência coletiva e em rede. Uma renovação do fazer político que tem como chave a recriação do futuro a partir das velhas estruturas do passado. Mirando essa nova realidade, a feira da Bienal da UNE é um grande chamado a todas as juventudes e à cultura brasileira para reflexão, reorganização, reativação de suas energias utópicas e criativas. É uma praça aberta, sensorial, visionária, pronta para o escambo de quem vem de longe para se reinventar.

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Representa o planejamento de um novo ciclo de lutas e ideias, em direção ao Brasil que queremos, reconhecendo a centralidade da cultura na transformação do imaginário social e do rumo das nossas narrativas. O nordeste é mais uma vez sede do evento, pelo reconhecimento de ser uma região vibrante da arte popular brasileira, inclusiva e solidária; TAMBÉM para fazer contraponto AOSdos preconceitos e arbítrios que ainda precisam ser derrubados mais ao sul. O Ceará recebe pela primeira vez a Bienal, tendo a tradição de manifestações culturais riquíssimas no interior e na capital, COMO a realização de grandes festivais nacionais e internacionais de música, cinema, circo, literatura e dança. Fortaleza, uma das maiores metrópoles do Brasil, que já caminha para os seus 300 anos de história, é, ainda assim, uma cidade que se provoca e se redefine.

O festival seguirá todo o modelo de um espaço de trocas, seja em sua programação, na sua estrutura física, na forma de participação dos seus visitantes, nas atividades autogestionadas ou no ambiente para a promoção de ações espontâneas e criativas. Além disso, esta décima edição da Bienal servirá para expor e debater as realizações DASde suas nove edições anteriores, DISCUTIRassim como a prática das ações culturais dentro da universidade, avaliar e construir ideias sobre o Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA) da UNE, BEM COMO sua atuação e seu alcance nas diferentes regiões do país.

Como versa Cecília Meirelles, a vida só é possível reinventada. A vida é uma resposta de supetão àquilo que não se esperava, como em uma esquete de improvisação teatral. A vida é a saída bolada para o problema posto, a alternativa, a solução, é a gambiarra, bela palavra da língua tupi-guarani que significa “acampamento provisório no território desconhecido”. A Bienal da UNE e o movimento estudantil brasileiro, portanto, levantam suas barracas em Fortaleza para reciclar, repensar, refazer o caminho dos seus sonhos e objetivos mais próximos. Reinventar é uma urgência, uma nota tônica, é a sede dos olhos por uma cor ainda não utilizada na pintura. Reinventar é a arte de quem se move, de quem não pode temer os obstáculos à frente, pois simplesmente não pode voltar atrás na sua própria história. Temer jamais. A Feira da Reinvenção é um amálgama do que se viveu até aqui e um laboratório do que se viverá adiante. União Nacional dos Estudantes São Paulo, 12 de outubro de 2016

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FEIRA DA REINVENÇÃO Re-in-ven-tar. O ato de inventar novamente. Transformar. Revolucionar.

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Retrato de Beethoven

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história costuma louvar os nossos grandes inventores. Do avião de Santos Dumont, o telefone de Graham Bell e o fonógrafo de Thomas Edison, à teoria da relatividade de Albert Einstein e ao cinema dos irmãos Lumière, saltando para os gadjets de Steve Jobs. Mas e as grandes reinvenções?

Os reinventores são gênios silenciosos que possibilitaram as grandes inovações. Afinal, para que serviria um avião que pode voar por poucos minutos? Ou um telefone que mal completa uma ligação? Os jatos supersônicos e os smartphones existem graças ao esforço coletivo de inúmeras pessoas que no decorrer dos anos foram aperfeiçoando, transformando e reinventando as grandes descobertas do passado. Como disse o cientista inglês Isaac Newton, assumindo o seu papel de reinventor, “se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” Talvez o maior reinventor de todos tenha sido o químico francês Antoine Lavoisier, responsável por reinterpretar a composição da água, mostrando que o líquido é formado por dois elementos: dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Autor da célebre frase “nada se cria, tudo se transforma”, o francês mostrou que da natureza tudo provém, portanto nada se cria. Cabe, portanto, aos humanos compreender as propriedades do todo e reinventar.

Garrincha em uma de suas partidas de futebol

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Em sentido horário: retrato de Albert Einstein; “A Criação de Adão”, obra de Michelangelo; 14-bis, avião construído por Santos Dumont e retrato à mão de Antoine Lavoisier

Com a reinvenção, por exemplo, já foi possível salvar vidas. Cientistas e empresários quenianos foram responsáveis por tirar 200 mil pessoas da miséria em 93 países por meio da reinvenção do dinheiro. Chamada de M-Pesa (M de móvel e Pesa da palavra Swahili dinheiro), a moeda funciona por meio de créditos enviados por SMS para aparelhos móveis, em países onde os milhões de usuários com celulares superam os pouquíssimos caixas bancários. Desta forma, os quenianos inventaram um sistema bancário sem bancos. Nas artes, os reinventores são ainda mais célebres que os próprios inventores. Afinal, alguém conhece quem inventou a pintura, a escultura ou a música? Mas, não são poucos os que já ouviram falar de Michelangelo, Monet, Van Gogh, Frida Khalo, Beethoven, Michael Jackson, Diana Ross e Beyoncé. Todos grandes artistas que, cada um ao seu jeito, reinventaram e atearam o mundo ao redor.

O Brasil, então, é o país da reinvenção. Do jeitinho. Da gambiarra. Da antropofagia. O brasileiro mostra que é capaz de fazer muito com pouco. Uma nação colonizada por séculos, subdesenvolvida, que se destaca por meio da criatividade do seu povo. Nós temos a bossa nova de João Gilberto, que reinventou o samba; as pernas tortas de Garrincha, que reinventou o drible; a pedagogia do oprimido de Paulo Freire, que reinventou, enfim, a educação. A Bienal da UNE é um festival que busca homenagear esses brasileiros que construíram o país em meio às adversidades. Que transformaram o nosso passado escravocrata e opressor em luta por liberdade, igualdade e dignidade. Por fim, que fizeram da nossa cultura uma das mais belas e diversas do mundo.

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FORTALEZA,

NAS SUAS AREIAS BRANCAS NOSSA MAIOR INVENÇÃO FOI SE REINVENTAR

T

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odo o verão tem seu fim, mas o sol sempre brilha em algum lugar do planeta. Em Fortaleza se faz festa quando o céu se fecha brumoso, honrando com fineza o título de “cidade do sol”.

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Fortaleza tem nas curvas de Iracema a presença de suas arenosas aldeias, habitadas pelo embrião de um povo que, miscigenado, fez-se mistura. Toda essa miscelânea pode ser analisada pelas interpretações de um dos principais nomes da literatura nacional. Com a bagagem cultural advinda das terras cearenses, José de Alencar talvez seja o escritor que mais influenciou o que significa ser brasileiro, sendo responsável por reinterpretar a história nacional por meio da ficção. Obras como “O Guarani” e “Iracema” — uma epopeia sobre a origem do Ceará protagonizada pela índia “virgem dos lábios de mel” — construíram verdadeiros mitos formadores da identidade nacional. A imagem do indígena brasileiro como o bom selvagem, pacífico, que recebeu de forma harmoniosa o colonizador português advém da sua prosa.

A Bienal da UNE ousou desembarcar pela primeira vez na cidade-sol para discutir e resgatar artistas e personalidades brasileiros que ajudaram a construir e reinventar a identidade nacional.

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No verão escaldante de janeiro de 2017, a Bienal da UNE ousou desembarcar pela primeira vez nessa cidade-sol para discutir e resgatar artistas e personalidades brasileiros que ajudaram a construir e reinventar a identidade nacional. Que tarefa! Nada melhor do que ter como palco a rica e contraditória cultura cearense, que passeia do moderno ao arcaico, berço de José de Alencar, defensor da escravidão e do Império, e também de José do Patrocínio e Chico da Matilde, protagonistas do movimento abolicionista nacional; de Patativa de Assaré, caboclo e poeta da vida sertaneja, ou de Belchior, o ícone idealista que brotou das ruas de Sobral para se tornar um dos maiores mitos brasileiros. “O ser cearense é estar nessa contradição tremenda entre as raízes e pegar uma via expressa de ônibus. O que eu vejo na arte cearense é não ter esse purismo. Hoje as letras de coco falam de homofobia. O meu poema pode não estar dizendo que é da terra da luz ou que gosta de cajuína, mas a terra que a gente anda acaba moldando nossa maneira de se expressar e, dentro daquela tristeza do poema está o maracatu, o Patativa e essas coisas todas”, afirma o jovem poeta Lúcio Alves Gurgel Jr., estudante da Universidade Federal do Ceará, selecionado para a 10ª Bienal da UNE.


“O ser cearense é estar nessa contradição tremenda entre as raízes e pegar uma via expressa de ônibus. O que eu vejo na arte cearense é não ter esse purismo. Hoje as letras de coco falam de homofobia. O meu poema pode não estar dizendo que é da terra da luz ou que gosta de cajuína, mas a terra que a gente anda acaba moldando nossa maneira de se expressar e, dentro daquela tristeza do poema está o maracatu, o Patativa e essas coisas todas” Lúcio Alves Gurgel Jr., estudante selecionado para a 10ª Bienal da UNE


DRAGÃO DO MA

CENTRO DA REINVENÇÃO F

oi pelas passarelas vermelhas, praças verdes e edifícios de linhas arrojadas do Instituto Dragão do Mar que os estudantes realizaram a 10ª Bienal da UNE. Segundo o próprio instituto, durante os quatro dias circularam pelas dependências do centro cultural 80 mil pessoas para acompanhar mostras estudantis e convidadas de artes plásticas, cênicas, literatura, música, audiovisual, extensão e ciência e tecnologia. Concebido pelos arquitetos cearenses Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo, o centro cultural foi inaugurado em abril de 1999 como parte do processo de revitalização da antiga zona portuária da Praia de Iracema, projetada então para ser uma das regiões mais boêmias de Fortaleza. No Dragão do Mar, os estudantes montaram palcos para shows e galerias de artes; ocuparam os teatros e cinemas em apresentações que chamaram a atenção do povo cearense; transformaram o instituto em uma zona autônoma estudantil. Nos paralelepípedos do centro cultural, ficou cravada a esperança de uma juventude que debate, festeja e canta a cultura nacional para reinventar um Brasil muito mais bonito.

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CATÁLOGO 10ª BIENAL DA UNE

Apresentação artística da 10ª Bienal da UNE


AR


O CENTRO O nome do instituto é uma homenagem ao jangadeiro Chico da Matilde, que a bordo da sua jangada Liberdade liderou uma greve que paralisou o mercado escravista no porto de Fortaleza durante três dias em 1881. Preso, o jangadeiro ficou conhecido como Dragão do Mar e tornou-se um símbolo do movimento abolicionista nas terras de José de Alencar. O movimento viria a unir os cearenses contra a escravidão três anos depois. A província se tornou a primeira do país a libertar os negros cativos. Em 1884, Chico da Matilde foi também liberto e preparou sua jangada Liberdade em direção ao Rio de Janeiro. Liberdade, acredita-se, no entanto, ganhou asas e tomou rumo incerto. O jornalista catarinense Raimundo Caruso conta a original versão nas páginas do seu livro “Aventuras dos Jangadeiros do Nordeste”:

“A jangada Liberdade, de Francisco José do Nascimento, era a clássica, de troncos. Símbolo de uma resistência popular vitoriosa no Ceará, foi levada à Capital do Império a bordo de um navio mercante e, mesmo viajando no porão, inaugura a rota das futuras aventuras dos jangadeiros nordestinos em direção ao Sul. A embarcação foi exibida nas ruas do Rio de Ja-

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CATÁLOGO 10ª BIENAL DA UNE

Intervenção artística na passarela do Dragão do Mar


neiro, sob os aplausos da multidão, e pouco depois é doada ao Museu Nacional, onde foi recebida como valiosa peça etnográfica (...). Em seguida a jangada foi transferida para o Museu da Marinha (...), de onde, queimada, feita em pedaços ou desmontada, desapareceu”.

Durante os quatro dias circularam pelas dependências do centro cultural 80 mil pessoas para acompanhar mostras estudantis e convidadas de artes plásticas, cênicas, literatura, música, audiovisual, extensão e ciência e tecnologia.

CATÁLOGO 10ª BIENAL DA UNE

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Zé Celso apresenta a Aula “Magma” da 10ª Bienal


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rovocador por natureza, ator por vocação, Zé Celso Martinez Corrêa foi a grande atração da 10ª Bienal da UNE. O dramaturgo circulou pelo espaço durante os quatro dias do festival, trocou experiências com os estudantes, atendeu aos debates, assistiu à mostra estudantil e apresentou uma audaciosa Aula “Magma”.

No palco erguido para a sua aula na Praça Verde, o patrono do Teatro Oficina fez de tudo, até abaixou as calças. “Eu quero baixar o nível, baixo calão. Faça, não peça!”, provocou. Apesar de toda picardia, ele tocou em assuntos sérios, como a descriminalização das drogas, a tragédia dos presídios brasileiros, política, índios e o governo ilegítimo de Michel Temer, de quem foi colega no curso de Direito da Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo. “Ele é simplesmente um boneco, como aquela fotografia que ele tirou”, disparou.

“Desde garoto ele já tinha cara de mordomo”. O movimento tropicalista nas artes cênicas, protagonizado por Zé Celso na década de 1960, foi um dos homenageados da 10ª Bienal. A presença do artista no festival estudantil estreitou ainda mais os laços do dramaturgo com a entidade. Coincidência ou não, ambos completam 80 anos em 2017. O teatro foi o grande palco da história do movimento cultural na UNE. O Teatro do Estudante, fundado por Paschoal Carlos Magno

ZÉ CELSO

E A REINVENÇÃO QUE NOS UNE CATÁLOGO 10ª BIENAL DA UNE

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no Rio de Janeiro na década de 1930, foi o embrião do Centro Popular de Cultura, o CPC da UNE, inaugurado após as apresentações de “Eles Não Usam Black-Tie”, no Teatro de Arena, em 1959. O CPC protagonizou o movimento artístico fluminense até o golpe militar de 1964, quando a sede da UNE foi incendiada e a entidade passou a viver na clandestinidade. O Teatro Oficina foi fundado em 1958 por uma trupe de jovens estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Assim como a UNE, um criminoso incêndio marcou a história do Oficina. O teatro “pegou” fogo em 1966, durante a ditadura civil-militar, e foi reaberto no ano seguinte a partir de um projeto da arquiteta Lina Bo Bardi, que tornou o palco uma grande roda giratória. O primeiro espetáculo no novo espaço foi “O Rei da Vela”, icônica peça que reinventou a antropofagia de Oswald de Andrade. Apesar de passados semelhantes, Zé Celso e UNE nunca foram próximos. Essa história começou a mudar quando um golpe parlamentar tirou a presidenta Dilma Rousseff do poder, em abril de 2016. Nesse ano, os jovens do Centro Universitário de Cultura e Arte, o CUCA da UNE, visitaram “na cara e na coragem” o Teatro Oficina, no bairro do Bixiga, em São Paulo, em uma tentativa de unir forças com o ícone da cultura brasileira.

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“O Zé tinha certa resistência ao formato dos atos dos movimentos sociais. A estética da luta dos estudantes no último período das ocupações reaproximou da UNE o Oficina e uma série de artistas” Camila Ribeiro, integrante do CUCA

“O Zé tinha uma certa resistência ao formato dos atos dos movimentos sociais. A estética da luta dos estudantes no último período das ocupações reaproximou o Teatro Oficina e uma série de artistas da UNE e dos movimentos sociais.”, afirma Camila Ribeiro, integrante do CUCA. A reaproximação resultou em um evento histórico. No dia 4 de abril de 2016, o Teatro Oficina recebeu milhares de estudantes e artistas para o ato “Cultura pela Democracia”, que ainda contou com a ilustre presença do músico Chico César, da cineasta Anna Muylaert e do dramaturgo Paschoal da Conceição. O protesto uniu os movimentos cultural e estudantil e foi determinante nas ocupações dos espaços culturais pelo Brasil, em resistência ao fechamento do Ministério da Cultura pelo governo golpista de Michel Temer. Artistas e estudantes saíram vitoriosos e o MinC manteve-se de pé. Não podia ser mais natural a parceria com o Teatro Oficina. “A UNE era uma organização careta, distante. Agora tem essa nova juventude que está virando as coisas do avesso, rompendo a caretice, trazendo novos sentidos pros corpos, energizando a entidade. A UNE quer mudar e essa juventude aqui da Bienal está reinventando a UNE”, bradou Zé Celso,


“Agora tem essa nova juventude que está virando as coisas do avesso, rompendo a caretice, trazendo novos sentidos pros corpos, energizando a entidade. A UNE quer mudar e essa juventude aqui da Bienal está reinventando a UNE” Zé Celso


ENTREVISTA-MANIFESTO FOI NO PERÍODO DA FACULDADE QUE VOCÊ CRIOU O OFICINA. COMO VOCÊ ENXERGA O POTENCIAL DA JUVENTUDE NO BRASIL PARA CRIAR NOVAS COISAS, LUTAR CONTRA A CARETICE? 48

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Nascemos na origem da Tragédia Brazylera com o Ato Politico Teatral Sangrento , preparado por uma peça em versos shakespereanos, escrita em caneta tinteiro pelo Autor : a ”Carta Testamento ao Povo Brasileiro” , encenada por ele mesmo como Ator: Presidente Getúlio Vargas, com um Tiro no Coração. Cercado por Golpistas com o sangue de seu Suicídio Político entregou o Golpe do Estado q o ameaçava , onde como Presidente não poderia mais nada, a não ser submeter-se ao Imperialismo . Seu Tiro foi mais rápido q o Golpe Civíl&Militar q seria acessado em 54 . Seu Ato resultou na Imerção das Multidões Populares Possessas de Força Enérgética Politica ,cataclismando as ruas do Brasil todo, no próprio Enterro de seu Autor Ator: Getúlio Vargas. Neste terremoto popular , minha geração emergiu criando:Teatro Oficina, Bossa Nova, Cinema Novo… Então nós, Jovens Artistas,fomos nos suicidando interio e exteriormente, decididos a não nos submetermos a posições ideológicas binárias tipo Guerra Fria, y outras pré existentes.O q nos uniu foi um sentimento de quebrar os clichês dos anos 50, nas nossas pessoas, no universo político,estéticos y entrar na onda de Re Inventarmos a nós mesmos y ao Brasil. Diferentemente de hoje, estávamos em

ótimas companhia: Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Lina Bardi, Jango Goulart, os Movimentos das Ligas Camponesas, Paulo Freire, Francisco Julião, os Movimentos Operários …tudo q fluía num caminho da liberdade pra não se deixar capturar. Oficina foi criado no mesmo ano de 1958 em q 12 pessoas declararam a Revolução Cubana. Paradoxalmente parimos Oficina, na “ famosa” Faculdade de Direita do Direito no Largo de São Francisco.Neste lugar dominado por Múmias Professores q seriam os Golpistas d 64 y tendo o Centro Acadêmico nas mão de “gente de bem”, quer dizer de “socialites”. Mas a situação do Mundo em Guerra Fria propiciou o Governo Federal nas mãos do PTB então um Partido de Esquerda a sábia estratégia de não se alinhar nem com os EEUU Capitalista, nem com a UNIÃO SOVIÉTICA Comunista, mas como gilette tirando vantagem dos dois lados y formando com os chamados Países do 3º Mundo. Hoje tanto como na em 1958, o domínio Imperialista , quer Capitalista ou Comunista tenta impor seu formato. Mas hoje o Capital vem da Especulação y deu um salto logarítimo sobre o Capital das Fábricas y das Terras. Apoiados na Cia, Pentagono, PM, os vagaus q vivem de renda produziram hoje, o

Momento de Maior Desigualdade da História da Humanidade. Exatamente por isso o Corpo Físico Anímico de tudo q é vivo, seres humanos, plantas, animais minerais vive hoje, em Inssureição .Y surge somados á muitas outras forças em protagonização antagônica inéditas, a surpresa das Lutas dos (*)Povos Indígenas em sua luta, pelo não desaparecimento do Planeta Terra. Estes , trouxeram ao Mundo,a necessidade d’uma mudança radical antropológica. Pois todos fazemos parte de uma Engrenagem Ideológica q capturou nosso Corpo y Mente. Si os humanos vivos de hoje não arrancarem de seus Corpos y Mentes a Matrix Instalada tanto á Direita quanto á Velha Esquerda, em forma de Fascismo; continuaremos Patinando Inutilmente nesse lugar invisível. A Juventude de hoje tem um potencial enorme, exatamente porque a situação tem esse grau de exigência y pra isso precisa perceber q estamos num momento de Cosmo Política Internacional. Leiam sobre este assunto :“Marx Selvagem” livro inspirado no MARXCILLAR de Oswald de Andrade escrito pelo jovem escritor Jean Tible, já em 2ª Edição,q tive o prazer de Prefaciar. *(assim chamado: “indígenas” pelo erro de português dos portugueses q acreditavam ter aportado nas Índias, mas q hoje querem ser chamados de Burús = Gente.)

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O TEMA DA 10ª BIENAL DA UNE É A “FEIRA DA REINVENÇÃO”. QUERIA QUE VOCÊ COMENTASSE UM POUCO SOBRE ESSA NECESSIDADE HUMANA DE SE REINVENTAR… É mais q da hóra a Reinvenção ser tema deste Congresso Nacional da UNE 2017. Talvez não como uma Feira.

O Estado nem mais precisa de Lobby$ta$ pras Propinas, pois o Marketing hoje, é o próprio aparelho de Estado.Tudo fake.Caras e bocas.

A Reinvenção Humana não tem nada a ver com este nome Mercantil de Quermesse.

O Eterno Retorno ao ser humano, além do bem e do mal,é condição de ReInvenção do além do Humano.

A necessidade humana sobretudo depois de um Golpe de Estado no Brasil q não foi só parlamentar, a Vitoria d Trump nos EEUU, q acabaram de tomar o Estado lá y cá y em muitos lugares do Mundo pra uma Regressão q é o oposto da Reinvenção.

Nos Atos Culturais-Políticos no Teat(r)o Oficina contra o Impechment as jovens da UNE presentes, nos surpreenderam quando não só estiveram acordes ,como também nos incentivaram a virar a Mesa da Burocracías das “Assembléias”. O Ator Mariano Matos num Ritmo Vivo,Libertário de Palhaço Atuou com Humor y Alegría, como Coordenador destes Atos, totalmente ligado às Multidões q lotavam as Galerias, dentro e fora ,na Rua do Oficina, onde havia um Telão de Vídeo, pros q não conseguiram entrar.Mas o Telão não o limitava. No Oficina, com suas portas abertas pra rua, Mariano estava presente corpo a corpo com os q estavam fóra.

O Golpe foi a vitória dos Grupos de Ódio, os “haters” q Des-Inventaram o ser humano .Hoje nem se sabe mais ,o q é uma Pessoa, só o quanto cu$ta. Não vale só saber se você está do lado do bem do Super Homem Camarada Moro ou do MAL do chamado de Chefe de Quadrilha” Lula. Cair neste maniqueísmo é o pior q pode acontecer ao q se supõe ser o ser chamado de Reinvenção do Humano.

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Grupos culturais das Periferias se apresentavam com Funk ,Hip-Hop pegando fogo! Grupos de Afoxé faziam Macumba Explicita pra Xangô, na Pista do Oficina fechada pra impedir q o Público se instalasse no Terreno do Entorno q conseguimos em 36 anos de Luta não deixar q se contruissemm Torres de E$peculação Imobiliária. A PM estava nos Cercando, protegendo a Propriedade do Grupo Silvio Santos. Os q Tinham o q Falar , falavam sem clichês na atmosfera libertária. A burocracia habitual das Assembléias dançou.. Sem “questões de ordem, companheiro”; “a nível de”…etc. A Filósofa Marilena Chauí deu uma de suas mais Inpiradas Aulas sobre o q é Cultura, num clima q trazia o fervor das Grandes Revoluções da Humanidade. Foram essas Meninas Universitárias, q ousaram convidar o Teat(r)o Oficina pra este Congresso de 2017 da UNE. Sinal dos Tempos!

Durante a Ditadura o Oficina foi expulso de Congressos, de Comícios desta Entidade. A linguagem era então de “aparatchik”: “Palavras de Ordem. Sei q este formato ainda é quase dominante, “mas neste Congresso ,mais q nunca, por uma questão de Eficácia Política nos dias de hoje, a linguagem Política há de ser Reinventada. Não condiz com o fato de ser , não sei se é ignorância minha: mas a UNE, representa os Estudantes Universitários.Nos cursos de Linguística, Filosofia, Literatura, Cinema,Internet por maior q seja a Crise na Universidade Brasileira, a complexidade Humana, Estética, Científica,Política é re-estudada y não é baseada na linguagem política maniqueísta.

Na Bienal, atores do Teatro Oficina apresentam a peça “Navalha na Carne”

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ZÉ, SÃO PALAVRAS SUAS ENDOSSANDO AS DO MUJICA: “A ÚNICA POSSIBILIDADE É A REVOLUÇÃO CULTURAL”. COMO FICA ESSA POSSIBILIDADE DE UMA REVOLUÇÃO CULTURAL APÓS ESSE ANO DE 2016, TEMER, TRUMP, GOLPES, INTOLERÂNCIAS? Quando veio choque da Vitória de Trump, eu disse pra mim mesmo:“caguei” . Estava em cena fazendo Bacantes( q em grego quer dizer Atuantes”) . O Público tão atuante quase como os Atuadores, Atores , Atrizes, Músicos, Vídeo Câmaras….toda a Máquina Teatral MultiMídia contracenando com a Comunicação direta dos Atores y do Público. No final da peça, depois de 6 horas do Rito Espetáculo, não quer mais sair do Teatro y exigem q falemos. No Ano de 2016, no Teatro Oficina , nos surpreendemos : “Pra dar um Fim no Juizo de deus” de Antonin Artaud, y depois em “Bacantes” , todas as sessões estiveram LOTADAS! A Crise q afeta tudo y rouba $ os mais pobres, ao contrarío do q esperávamos, as bilheterías bombaram. Os Teatros q tocam nos TABÚS da velha onda conservadora retornada,empesteando o ar, passaram a ter a presença de Multidões em busca do q não fosse fingimento: Máscaras.

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A Cultura do Teatro , da presença livre de Humanos diante de Humanos criadores da Transvalorização dos Valores Trans-Humanos ao Vivo , jorra o esperma fecundador da Cultura Cosmo-Política .E não só Teatros: Música, Dança , Cinema: vide “Aquarius” y não só; redes da Net q antropofagiam os grupos de ignorância y ódio; enfim qualquer espaço onde se experimenta uma relação entre y sobretudo além dos indivíduos. O Teat(r) o Oficina Uzyna Uzona, fertilizado por gerações y gerações q cultivaram y cultivam Cultura como AgriCultura através de Ritos Cosmo-Políticos,hoje indo pros seus 59 anos, tornou-se um Terreiro Sagrado-Profano. Lá, plantando-se da Cultura Vital, Transformadora. Mujica sabe das coisas. A fala carinhosa, delicada, sua própria forma de viver experimentando as mudanças político-culturais faz d’Êle próprio uma fonte produtiva, eficaz de Cultura Revolucionária.


VOCÊ AFIRMOU QUE NO MOMENTO DO GOLPE HOUVE UM DESPERTAR ENORME, MAS QUE AGORA NÃO ADIANTA MAIS FICAR PROTESTANDO. COMO MUDAMOS O JOGO? A Esquerda é uma Invenção humana.Não é uma atitude reativa, mas de combate à opressão e é também propositiva.Tem um histórico de muitos séculos, mas q é recriado diante dos fatos do “aqui-agora”. Não se deixa engessar por “clichês” d’uma língua morta. É uma Arte Política em permanente mutação na defesa das liberdades humanas individuais e Coletivas. Os protestos tipo queixa, lamento, repetição de “palavras de ordem”, tornam-se estéres se não nos reinventarmos y nos re-aparelharmos cultura e cientificamente pra esculachar por ex. pautas bombas atuais do neoconservadorismo fascista.Os Golpistas do Brasil e do mundo, somos testemunhas dessa nova realidade: desde o 1º Dia q Usurpam o poder, re-agem apavorados pra destruição imediata do q existia nos Estados de Libertário do Poder Humano. Esta rapidez q o pavor com q tudo q foi criado pela liberdade humana, vem sendo com rapidez histérica demolido. Mas encontra uma Esquerda com o potencial maravilhoso por ser Múltipla.

Traz a contribuição trilhonária de todos q não foram Capturados pela Burocracía do Capital q chegou a moldar até o comportamento da própria Velha esquerda. A Nova Esquerda vem das Culturas que emerginam no Poder das Mulheres,Viados, Lésbicas, Trans, Trabecas Negros,Secundaristas… Travecas lutadores do CORPO HUMANO. Tem agora pra seu enriquecimento os chamados povos indígenas, com sua sabedoria milenar na defesa da Vida no Planeta Terra y de um comportamento humano perspectivista. Aliás foram estes Movimentos de libertação dos Corpos q apavorou os conservadores, q mais q nunca podem ser chamados agora de “REACIONÁRIOS. Exatamente por isso, temos de avançar, apreendemos muito com a atual meteção à vida alheia dos defensores da caquética “Ordem e Progresso” , sem Amor. Estamos com mais conteúdo q nunca. Podemos nos orgulhar de sermos esta Força Múltipla, Renovada disposta a Reinventar tudo!

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SE FOSSE PARA VOCÊ ESCOLHER UM TEXTO DRAMÁTICO QUE MAIS REFLETISSE NOSSO PANORAMA POLÍTICO AGORA, QUAL SERIA? E POR QUÊ? Nao seriam dramáticos por q o “Drama is Over”, Morreu .Só subsiste nessa coisa de boazinha y má de Novela, de dar ou não dar, impasses na área cafona da psicoloigía pequeno burguesa fascista. Está totalmente superado pela Vida q mais q nunca , sabemos ser Trágica, Cômica y Orgyástica. Pode-se deste momento RB , isto é : de Regressão y BURRICE, criar o Renascimento Cultural no Brasil, com CORAIS TEAT(r)AIS MULTIMÍDIAS do Encontro dos Humanos em Todas as Artes como o Poema de Sócrates:

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“Fidelidade não a uma Pessôa mas ao Amor q em todo Canto Sôa” A Esquerda sem o que o MST chama de Mística : Paixão de Coletivos Humanos Reinventores da Libído da Vida , não vai se ter o q dar à humanidade , nem receber d’Éla. Sinto q as Artes Antropofagiando-se no contacto direto das pessoas, apaixonam multidões. Criar em vez de milhares de “Células Vietnamitas”, como se dizia nos 60, criar milhares de “ Ocupações criando Corais TeAtais “ pelo Brasil todo estaríamos mais próximos de uma Revolução Cultural ágil pra devorar q fissura dos reacionários pra defender esta destruição q estão fazendo, tipo E.I.


A TRAGÉDIA DOS PRESÍDIOS BRASILEIROS NO COMEÇO DESTE ANO TEM PROVOCADO UMA REFLEXÃO SOBRE A LEI DE DROGAS, ENCARCERAMENTO EM MASSA E PRISÃO DE USUÁRIOS. QUAL SUA OPINIÃO SOBRE A DESCRIMINALIZAÇÃO? É uma loucura você ver coisas tão delicadas como a Santa Maria Maconha ou mesmo a Cocaína nas mãos do Violentíssimo Narco Tráfico .Isso devido à burrice da Proibição Hipócrita das Drogas. Os Grandes Conglomerados dos Capitais estudam já a “Liberação” a partir das mesmas estruturas financeiras q traficam hoje mundialmente a Cocaína. Pesquisam a forma de passar pras Grandes Marcas uma forma fake das chamadas Drogas . O mesmo Tráfico Oficializado pelo Grande Capital vai exigir a continuação da Luta pela Liberdade Natural das plantas q a natureza nos Oferece pra nosso Plantio, Prazer, Auto Conhecimento y Remédio. NAVALHA NA CARNE- Obra Prima de Plínio Marcos escrita y estreada em 1968 é a peça dirigída agora por Marcelo Drummond q Fez Nóva a Peça de Plínio. Sempre apresentada com extrema violência , Marcelo revela agora valorizando os diálogos do autor, o Humor oculto há quase 50 anos , sem deixar cair o forte clima d quase terror da violência sobre as Mulheres y os Gays. Marcelo Drummond também atua como o Cafetão Vado de Neusa Suely, brilhante y profundamente interpreta-

da pela Atriz Sylvia Prado. Veludo, o Viado é vivído pelo Ator Tony Reis . Este Triângulo, sempre em comunicação direta com os presentes,faz acontecer a peça, num ritmo de perder o fôlego tamanha Intensidade temperada pela Comicidade q nunca falta nos Ritos Espetáculos do Teat(r)o Oficina. A Máquina de Cena: Arquitetura Cênica, Luz, Vídeo, Som, Figurinos criam o Espaço Mágico de Explosão da Peça. Zé Celso Sob a Chuva, Sol y Mar d Icaraizinho 26 de Janeiro de 2017 (o catálogo da 10ª Bienal da UNE manteve a redação original da entrevista concedida por Zé Celso)


BIENAL DE DESTINO NORDESTINO A arte estudantil encontra no Nordeste seu aconchego. Em uma homenagem à cidade e ao povo que recebeu o Congresso de Reconstrução da UNE em 1979, após um longo período de ditadura, a primeira edição da Bienal foi realizada em Salvador, na Bahia.


Cortejo de abertura da Bienal com o grupo Teruá

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No total, metade das edições do festival foi realizada na região: duas em Salvador (1999/ 2009, BA), duas em Recife/Olinda (2003/2013, PE) e, agora, pela primeira vez, em Fortaleza (2017, CE). Embora a definição de “Nordeste” seja mais histórico-política do que eco-antropológica, falamos desse cantinho como se fosse um grande conjunto, que experimentou notável desenvolvimento econômico e social nos últimos anos, acompanhado de perto pelas dez edições da Bienal. Com vontade política e ações concretas, principalmente durante o governo Lula, os versos dos compositores Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, cravados eternamente em Asa Branca, já não são mais a dura realidade do nordestino. Luiz Gonzaga, contudo, continua com seu posto de Rei do Baião e ainda é um dos maiores nomes da cultura brasileira, homenageado pela 8ª Bienal da UNE durante as comemorações de seu centenário.

Estudantes protestam contra Temer (acima); o grupo de Teatro Eureka (ao lado)

Lutador e festeiro, o Nordeste traz a metáfora do povo brasileiro. Terra de Virgulino e Vitalino, o rei do barro feito à mão; solo do mandacaru e do maracatu, do frevo, do repente e do candomblé; do xote e xaxado, do violeiro, da canturia e do martelo agalopado; ainda tem o cordel e a capoeira e até do bode sai uma buchada. A lista da contribuição nordestina à nossa bra-

silidade beira o infinito e o caldo cultural engrossa a cada dia. Um claro exemplo foi a massiva presença do estudante nordestino na 10º Bienal da UNE. Entre os milhares de estudantes que participaram do festival, as maiores bancadas vieram do Ceará, do Maranhão e da Bahia. A relação com a região esteve presente no trabalho de muitos estudantes. “Trabalhamos com os signos arquetípicos dos orixás relacionados à terra e também sua desconstrução e transposição para a sociedade atual, o que gera o caos e a degeneração da natureza e do espaço social”, explica a atriz Doroti Martz, estudante maranhense que apresentou o espetáculo “Lama”. “O Nordeste tem uma cultura muito rica e, apesar da pouca ajuda, fazemos da arte uma luta nossa, buscamos ocupar ao máximo os espaços estudantis e culturais, de forma de reinventá-los e democratizá-los, deixando cada vez mais com a cara do nordestino”, afirma a também atriz Clau Medeiros, do Grupo de Teatro Eureka, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que trouxe para a Bienal a apresentação “Debaixo da Pele”, sobre o negro no Brasil.

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BIENAL DO MARACATU


Maracatu Rei Zumbi

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BIENAL DO U MARACATU m dos símbolos maiores da expressão cultural, o maracatu cearense foi motivo de contestação na 10ª Bienal da UNE, chegando a virar assunto de destaque nas páginas dos grandes jornais locais.

A polêmica se instalou durante o cortejo do tradicional Maracatu Rei Zumbi no Instituto Dragão do Mar. Como parte da manifestação cultural do maracatu cearense, que tem mais de 300 anos de história e é oriundo dos escravos da região, os participantes pintaram os rostos com pigmento preto para o dia da apresentação.

O ato, no entanto, foi entendido por alguns estudantes como uma prática blackface, expressão em inglês que remete ao ato de pintar o rosto de preto para interpretar negros de modo caricatural.

“Rosto pintado de preto é sempre blackface?”

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Matéria do jornal “O Povo”, durante cobertura da 10ª Bienal da UNE

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“Rosto pintado de preto é sempre blackface?”, questionou o diário cearense “O Povo” durante o calor da discussão. O debate é bastante presente em Fortaleza e muitos grupos de maracatu abandonaram a prática, conhecida na região como negrume. O negrume chegou a ser defendido na Bienal pelo Grupo Nóis de Teatro, de Fortaleza, em encenação da peça-protesto “Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro”. No fim da apresentação, os atores empunharam cartazes “Racistas não passarão” e homenagearam o candomblé cearense. O Circuito Universitário de Cultura e Arte, CUCA da UNE, também emitiu uma nota oficial declarando que o maracatu tradicional do Ceará não tem nenhum tipo de relação com o racismo institucionalizado e a apropriação cultural racista reproduzida pelas campanhas publicitárias no grande mercado.



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O combate ao racismo protagonizou discussões e mostras artísticas da 10ª Bienal da UNE

BIENAL DO COMBATE AO RACISMO


Estudantes assistem ao debate sobre juventude negra

“A ocupação militar das favelas em nome do combate ao tráfico de drogas e do suposto crime organizado leva ao encarceramento em massa e ao genocídio da juventude pobre e negra das periferias das grandes cidades”

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Natália Oliveira, integrante da Iniciativa Negra Por Uma Nova Política sobre Drogas

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Um dos debates pediu “fogo na bomba e paz na quebrada” para pôr fim às mortes e prisões dos jovens negros. “A ocupação militar das favelas em nome do combate ao tráfico de drogas e do suposto crime organizado leva ao encarceramento em massa e ao genocídio da juventude pobre e negra das periferias das grandes cidades”, observou Natália Oliveira, integrante da Iniciativa Negra por uma nova política sobre drogas. Os debatedores lembraram da chacina do Curió, em Messejana, bairro periférico de grande população negra, que ainda não viu os policiais responsáveis serem devidamente punidos. “Não é só camburão que tem um pouco de navio negreiro não, são as delegacias e todos os presídios”, criticou Carol Lima, da Unegro Ceará. Já a poeta ambulante Mel Duarte, oriunda das batalhas de poesia de São Paulo, mandou o seu recado durante um sarau na Bienal:

Preta, mulher bonita é a que vai à luta Que tem opinião própria E não se assusta com a milésima pessoa Que aponta para o seu cabelo e ri Dizendo que ele tá em pé E a ignorância dessa coitada não é nem pra gente ver Em pé, armado, que foda-se Pra mim, é imponência Porque cabelo de negro não é só resistente, é resistência


“Não é só camburão que tem um pouco de navio negreiro não, são as delegacias e todos os presídios” Carol Lima, membro da Unegro Ceará

Grupo Nóis de Teatro Mel Duarte

Emicida


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Coordenação da 10ª Bienal


A INAUGURAÇÃO DE UM NOVO CICLO DO CUCA

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10ª Bienal da UNE marcou um ciclo de reorganização da diversa fauna da cultura brasileira, sendo o primeiro encontro nacional entre artistas, estudantes e movimentos sociais com objetivo de pensar perspectivas para o país em meio à acelerada agenda de retrocessos do governo golpista de Michel Temer. Além da Bienal ter sido um grande palco de repactuações geracionais da União Nacional dos Estudantes com artistas consagrados, o festival recebeu ainda o seminário do CUCA da UNE, uma espécie de fórum sócio-cultural entre estudantes, artistas e gestores para projetar o futuro das política culturais dentro e fora das universidades.

Camila Ribeiro Coordenadora do CUCA da UNE Gestão 2017-2019

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Mais larga experiência cultural ao longo dos 80 anos da União Nacional dos Estudantes, o CUCA da UNE se renovou e, conectado com as lutas de seu tempo, segue estimulando a criação de movimentos artísticos culturais de toda uma geração.

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POLÍTICA REINVENTADA A luta pela democracia foi um dos temas centrais da 10ª Bienal da UNE. O encontro estudantil foi o primeiro grande evento após o golpe de 2016 em que movimentos sociais se uniram para trocar experiência e pensar a reinvenção de uma política que possa resistir ao retrocesso.


Público lota a Praça Verde para o debate “Reinvenção da economia e as saídas para a crise”

“Essa Bienal é o momento de oxigenar as nossas práticas e construções. De trocar as nossas propostas, como em uma feira livre, e reinventar o futuro. Daqui de Fortaleza sairemos muito mais unidos e mais preparados para seguir em frente. Temos de devolver a narrativa desse país ao seu povo, com todas as suas culturatas, diversidades, com seus sonhos e a sua perseverança. Esse é o nosso recado”, afirmou a presidenta da UNE, Carina Vitral.

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Fernando Haddad , ex-prefeito de São Paulo

Na primeira noite do festival, lideranças políticas se reuniram com mais de dois mil estudantes na Praça Verde do Instituto Dragão do Mar para uma reflexão sobre o momento político do país e os caminhos para contornar o desastre. A discussão foi transmitida online para todo o país. O ex-governador do Ceará Ciro Gomes chegou a ressaltar a necessidade do país olhar para frente para retomar o crescimento econômico. “Não dá mais, nessa nossa longa estrada, para contemporizar e conciliar. Esse ciclo econômico morreu e estamos obrigados a discutir o futuro. O capitalismo e o liberalismo no Brasil são isso: lucro privado e prejuízo espetado no lombo do povo”, provocou.

Da esq. para a dir.: Ciro Gomes (PDT), Vanessa Grazziotin (PCdoB), Wellington Dias (PT), Luciana Genro (PSOL) e Carina Vitral

Ex-governador do Ceará, Ciro Gomes avaliou o cenário da política no país

Lançamentos de livros sobre o golpe de 2016 no Brasil


“É muito importante a Bienal da UNE acontecer nesse momento que estamos sentindo os efeitos do golpe porque cultura e arte é também discutir a história do nosso país, a população brasileira, nossas tradições e costumes que ainda hoje carregam uma herança da escravidão” Tamires Sampaio, 1ª vice-presidenta da UNE

RAIO-X DO GOLPE A Bienal da UNE também foi um espaço para a reunião de intelectuais, jornalistas e jovens que refletiram criticamente o contexto político do país que levou ao golpe de Estado de 2016. Durante o festival, foram lançados três livros sobre o tema: as coletâneas de artigos “Por que gritamos golpe?” (Editora Boitempo); “Golpe 16” (Revista Fórum); e “O Ceará e a resistência ao golpe 2016” (organizado pelo jornalista Marcelo Uchôa). A 1ª vice-presidenta da UNE, Tamires Sampaio, escreveu algumas das páginas que compuseram o livro “Por que gritamos golpe?” (Editora Boitempo), coletânea de artigos de acadêmicos e movimentos sociais. “É muito importante a Bienal da UNE estar acontecendo nesse momento que estamos sentindo os efeitos do golpe, porque cultura e arte é também discutir a história do nosso país, a população brasileira, nossas tradições e costumes que ainda hoje carregam uma herança da escravidão”, destacou. SOBRE FRONTEIRAS Há espaço para o desenvolvimento autóctone em um mundo onde as fronteiras são meras demarcações geográficas e não barreiras ao trânsito de ideias? Um não categórico seria a única resposta.

Esse é o sonho que move o ex-prefeito Fernando Haddad na política. “Por que o capital pode circular sem fronteiras e as pessoas não?”, questionou o professor durante um dos grandes debates da Bienal. Para Haddad, ao mesmo tempo em que o sistema exige imaginação e criatividade, tolhe quando algo é pensado de forma a tornar-se maior que ele. “É essa a fronteira que precisamos romper. Se a gente colocar nossa energia, como a de encontros como este, a serviço de um projeto de emancipação, de combate à fome e às guerras, se os grandes líderes mundiais se dedicarem um pouco aos problemas da humanidade, certamente forjaremos um mundo novo.”

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Apresentação “Navalha na Carne”, do Teatro Oficina

ARTE CÊNICA REINVENTADA

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s artes cênicas foram um espetáculo à parte nessa 10ª edição, retomando seu extraordinário papel dentro da entidade. Um exemplo é a inédita e histórica presença de Zé Celso durante todos os dias do evento. Por meio de seu Teatro Oficina Uzyna Uzona, o dramaturgo apresentou aos participantes a emblemática “Navalha na Carne”, de Plínio Marcos, expoente maior do teatro marginal e fundador do CPC da UNE.


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“Jovens da periferia, interiores e territórios de toda ordem que passaram a ocupar as universidades estão plugados às questões complexas sobre classe, raça e gênero. Os desafios para desencastelar as universidades são gigantes e a cultura é agente central no processo de radicalização da democratização da universidade” Camila Ribeiro, coordenadora da mostra de Artes Cênicas da 10ª Bienal da UNE

Apresentação da peça estudantil “Benedites”

Plínio teria feito 80 anos em 2016. Ou melhor, ele fez. Sua obra – doa a quem doer ainda hoje – se mantém firme e forte na cena brasileira. A peça traz os atores Sylvia Prado, Marcelo Drummond e Tony Reis numa teia de relações claustrofóbicas em um quarto de bordel. Eles interpretam, respectivamente, a prostituta explorada Neusa Sueli, o sarcástico gigolô Vado, e o faxineiro homossexual Veludo. O trio estabelece um jogo interdependente onde misturam sedução, força física, humilhação e sarcasmo em diálogos carregados da força que tornou Plínio Marcos uma referência. “Escolhemos apresentar o ‘Navalha na Carne’ na Bienal, pois, dentro dos espetáculos do Oficina, é o que tem uma abordagem política que melhor reproduz as esferas de opressão. Através da história de um cafetão, uma puta e um viado, a peça trata de um submundo bastante presente e de assuntos que hoje em dia tocam muito, como a questão da mulher e do homossexual”, conta a atriz Sylvia Prado. Coletivo Ocupa Teatro, de Minas Gerais, com o ator Zé Celso


BENEDITES “Espetacular! Maravilhoso!”, bradava Zé Celso das cadeiras do anfiteatro a céu aberto do Instituto Dragão do Mar. A peça “Benedites”, do coletivo mineiro Ocupa Teatro de Minas Gerais, foi o grande destaque da mostra estudantil de artes cênicas. Isso porque foi apenas a segunda apresentação da trupe; a peça de estreia aconteceu durante uma ocupação estudantil. A ideia nasceu na ocupação do prédio de teatro da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) contra os cortes na instituição. Para mesclar política, atitude e cultura, os estudantes organizaram oficinas, saraus e rodas de conversa durante o tempo em que permaneceram no local. “Aí fomos convidados para a 2ª Semana de diversidade de Ouro Preto e Mariana, na UFOP, e começou o intercâmbio entre ocupações da UFU e UFOP. O evento mexeu muito com o coletivo porque falava de gênero e diversidade. Entramos em contato com muitas pessoas, que deram relatos de suas vivências, o que nos motivou a construir o espetáculo Benedites”, explica Waquilla Correia, estudante do último período de teatro da UFU. “Jovens da periferia, interiores e territórios de toda ordem que passaram a ocupar as universidades estão plugados a questões complexas sobre classe, raça e gênero. Os desafios para desencastelar as universidades são gigantes, e a cultura é agente central no processo de radicalização da democratização da universidade”, afirma a coordenadora da Mostra de Artes Cênicas da 10ª Bienal da UNE, Camila Ribeiro.

Espetáculo “Descendentes”, do grupo cearense Arte de Viver

“Escolhemos apresentar o ‘Navalha na Carne’ na Bienal pois tem uma abordagem política que melhor reproduz as esferas de opressão. Através da história de um cafetão, uma puta e um viado, a peça trata de um submundo bastante presente e de assuntos que hoje em dia tocam muito, como a questão da mulher e do homossexual” Sylvia Prado, atriz do Teatro Oficina

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CINEMA REINVENTADO PRAIA DO FLAMENGO, 132

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m dos momentos mais emocionantes e importantes da 10ª Bienal - a inédita exibição do documentário “Praia do Flamengo, 132” -, inaugurou as comemorações dos 80 anos da UNE. Ainda em fase de finalização, o filme narra a história da entidade a partir da sua histórica sede.

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Por meio de imagens de arquivo e entrevistas, a exibição mostra a evolução da luta estudantil com base em uma narrativa cujo ponto de partida é o prédio, desde o combate ao nazi-fascismo na década de 1940, que levou à ocupação do clube Germânia na Praia do Flamengo, passando por seu incêndio e destruição durante a ditadura militar, até a retomada e a reconstrução do prédio da UNE.

“O filme fala do prédio na Praia do Flamengo, 132, que tem muita história para contar. Por lá passaram grandes nomes da cultura e da política brasileira. É um filme que trata da memória. A sede sempre foi um símbolo de resistência contra o fascismo, por isso alvo de incêndio, em 1964, e demolição, em 1980”, afirmou o diretor, Vandré Fernandes.

Debate sobre o filme “Praia do Flamengo, 132” com Vandré Fernandes (diretor), Gustavo Petta (ex-presidente da UNE). Carina Vitral (presidenta da UNE) e Franklin Martins (Instituto Lula)

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Eryk Rocha

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O Cinema Novo reinventou o cinema nacional. O movimento artístico de Glauber Rocha e outros cineastas foi um dos homenageados da 10ª Bienal da UNE e destaque da mostra convidada de audiovisual. O filho de Glauber, Eryk Rocha, exibiu o seu documentário “Cinema Novo” para uma plateia que tinha entre os presentes o dramaturgo e colaborador do movimento, Zé Celso Martinez. “Eu fiquei muito emocionado, o filme é apaixonante, como sempre foi o Cinema Novo. O documentário traz elementos importantes que nos fazem entender o hoje. Toda essa geração no teatro, na música e no cinema foi de extrema solidariedade e nos trouxe um discurso que até hoje é muito procedente”, observou o fundador do Teatro Oficina.

O documentário é montado a partir dos registros de 168 obras e vinte entrevistas com pessoas que participaram do movimento. Eryk concorda que a perspectiva do passado pode nos ajudar a entender acontecimentos atuais, como as ocupações estudantis e os movimentos populares. “O mundo vive de fluxos e refluxos. Dialogar com esses movimentos de reinvenção, como o Cinema Novo e o Teatro Oficina, é nosso alimento, a nossa inspiração para continuar a estar vivo neste mundo”, afirmou Eryk Rocha.

Cena do filme “Cinema Novo”

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esponsáveis por transformar clássicos do samba, do rock, do pop, do forró, do brega e do carimbó em batidas modernas, o rap e o tecnobrega são os estilos musicais da reinvenção por excelência. Não por coincidência, foram os sons dos principais shows da 10ª Bienal da UNE. Os gigantes Gaby Amarantos e Emicida fizeram épicas apresentações na Praça Almirante Saldanha, na região central de Fortaleza.

MÚSICA

Honrando a tradição do festival em unir festa e luta, a cantora paraense saudou o público com um “Viva a mulher negra brasileira!”. Ela apresentou o show “Gaby Amarantos e Jurunas Som Sistema’’, conduzindo o público a um passeio pelas periferias do mundo, com inspirações e reinterpretações de ritmos como reggaeton, kuduro e tecnobrega.

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‘’Estou passando por uma fase de muita transformação e de muita reinvenção, de ser sempre uma versão melhor de mim mesma. Isso é chegar no alto, no lugar mais alto do ponto da iluminação do ser humano e entender que nós estamos aqui para nos reinventar e sempre ser e expressar aquilo que está dentro da gente’’, disse a cantora.

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O paulista Emicida foi a atração principal do último dia de shows. No palco, o rapper mandou canções que contam a vida das quebradas de todo o país, a luta diária contra o racismo e a ocupação do negro em diversos espaços antes reservados às elites do país. O show ainda contou com projeções engajadas contra o golpe de 2016. Show lotado de Gaby Amarantos na 10ªBienal da UNE


REINVENTADA ‘’Estou passando por uma fase de muita transformação e de muita reinvenção, de ser sempre uma versão melhor de mim mesma. Isso é chegar no alto, no lugar mais alto do ponto da iluminação do ser CATÁLOGO 10ª BIENAL DA UNE

humano e entender que nós estamos aqui para nos reinventar e sempre ser e expressar aquilo que está dentro da gente’’ Gaby Amarantos

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Emicida e Gaby Amarantos na Praça do Dragão do Mar durante shows da 10ª Bienal da UNE



NOVA GERAÇÃO A nova cara da música brasileira também passou pelo festival. Elas Cantam Belchior, um quarteto formado por artistas cearenses, reinventou canções conhecidas do público como “Apenas um rapaz latino-americano” e “Sujeito de sorte”, numa apresentação surpreendente. Já Os Selvagens à Procura de Lei mostraram com estilo porque são a sensação da música indie atual. Grupo estudantil Mulheres de Buço

Selvagens à Procura de Lei

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Apresentação da banda paulista Mano’s Money

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A mostra selecionada não deixou a desejar. O grupo Mulheres de Buço marcou essa edição com uma performance feminista, divertida e irreverente. As músicas cantadas por nada menos que dez mulheres escancararam o machismo e deram um basta à cultuada imagem de “belas, recatadas e do lar”. Já o Mano’s Money trouxe do Grajaú, periferia da zona sul de São Paulo, a realidade crua do rap.

Funk deu a letra na Mostra de Música da 10ª Bienal da UNE


Para o coordenador da mostra, Caique Renan, as bandas escolhidas para 10ª Bienal da UNE superaram todas as expectativas. ”Não foi nada fácil para as bandas conseguirem chegar em Fortaleza. Muitos deles precisaram fazer vaquinha e enfrentar dias de viagem dentro de um ônibus. Todo esse esforço e dedicação foram retribuídos não só por nós da coordenação, mas por todo o público, que lotou a praça Dragão do Mar para prestigiar a música estudantil brasileira. O sorriso no rosto de cada pessoa que deixava o palco após a apresentação sintetizou toda a energia que habitou essa linda Bienal”, avaliou.

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Grupo Elas Cantam Belchior relembrou os sucessos do grande músico

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Miró da Muribeca recitou algumas de suas poesias para os estudantes

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izem que a vida imita a arte. Para o pernambucano Miró da Muribeca, convidado da mostra de literatura, a arte salvou a vida. Após chegar à beira da morte por causa da bebida, Miró teve que se reinventar para continuar a fazer o que mais gosta. O seu último livro, “O Penúltimo Olhar Sobre As Coisas”, expressa essa vontade de viver para a sua poesia.

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LITERATURA REINVENTADA


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Mel Duarte poetizou sobre mulheres e racismo

Com a bênção do homenageado Patativa do Assaré, o sarau de poesia da Bienal trouxe a mistura das poesias de Miró, com as das cearenses Rede Mnemosine de Mulheres Cordelistas e da poeta ambulante paulista, Mel Duarte.

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Poetas amadores também

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tiveram vez. Com papéis rabiscados em suas mãos, eles abriram seus corações para mostrar arte


“Eu tive que me reinventar para continuar a viver e fazer poesia. Sou um novo homem e minha escrita ficou mais lírica”, afirmou Miró. Com a bênção do homenageado Patativa do Assaré, o sarau de poesia da Bienal trouxe a mistura das poesias de Miró, com as das cearenses Rede Mnemosine de Mulheres Cordelistas e da poeta ambulante paulista, Mel Duarte. Poetas amadores também tiveram vez. Com papéis rabiscados em suas mãos, eles abriram seus corações para mostrar arte. Para a coordenadora de Literatura, Brenda Amaral, a reinvenção da literatura da 10º Bienal esteve presente nas atitudes político-artísticas que surgiram nos saraus.

Estudante durante sarau na Bienal

“Quase sempre as poesias falavam de política, mas de um jeito sensível e marcante. Talvez a reinvenção dos corpos, na micropolítica, é que garanta o sucesso das nossas ações no próximo período. Todo mundo tem muito o que aprender com os saraus” Brenda Amaral, coordenadora da mostra de Literatura da 10ª Bienal da UNE

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“Nos dois eventos que percorreram a programação (um dia 30 e outro dia 31), dezenas de pessoas insistiram para conseguir uma vaga no microfone e registrar versos e linhas no palco. Quase sempre as poesias falavam de política, mas de um jeito sensível e marcante. Talvez a reinvenção dos corpos, na micropolítica, é que garanta o sucesso das nossas ações no próximo período. Todo mundo tem muito o que aprender com os saraus”, destacou.

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ARTE VISUAl REINVENTADA O

que a arte representa em meio a um cenário de incertezas e instabilidade política? O conjunto de obras e performances apresentado durante a Mostra Selecionada de Artes Visuais da 10ª Bienal levou essa provocação ao público. ‘’Aqui podemos ver obras politizadas, umas mais claras, outras mais enigmáticas, mas isso basta para mostrar que as artes visuais vêm cumprindo papel político. A Bienal é um grande encontro pós-golpe’’, observou o coordenador de Artes Visuais, Bruno Bou.

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A política ditou o tom da exposição. ‘’Se minha escola fosse minha’’ trouxe imagens das ocupações de escolas; ‘’O muro (des)humano’’, um cordão policial realizado durante uma manifestação; e o grafite de Albert Lazarini foi pintado de cinza durante a vernissage da mostra em protesto ao apagamento de grafites dos muros de São Paulo pelo atual prefeito, João Dória.

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“Eu quero impactar o visitante com o mesmo que sinto quando o cara apaga a minha obra sem ao menos me consultar. O foco mesmo não é mostrar o grafite, mas refletir sobre o impacto que um grafite pode causar. Fazer o grafite é um ato de vandalismo”, afirmou Albert.

Intervenção sobre grafite, de Albert Lazarini, na mostra de artes visuais


‘’Aqui podemos ver obras politizadas, umas mais claras, outras mais enigmáticas, mas isso basta para mostrar que as artes visuais vêm cumprindo papel político. A Bienal é um grande encontro pós-golpe’’

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Bruno Bou, coordenador da mostra de Artes Visuais da 10ª Bienal da UNE

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Obras e intervenções artísticas dos estudantes selecionados para a mostra de artes visuais

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Estudantes fazem intervenção com lambe-lambe no entorno do Instituto Dragão do Mar

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ARTE URBANA NAS OFICINAS A arte urbana também esteve presente nas oficinas. Artistas de Fortaleza ensinaram os estudantes a grafitar e a produzir lambe-lambe. O resultado foi permanente: os muros do entorno do Instituto Dragão do Mar ganharam intervenções dos estudantes. A oficina de lambe-lambe foi conduzida pelo artista cearense Narcélio Grud. “Durante a oficina, nós entramos na temática da Bienal, a reinvenção, e no desenvolvimento da atividade. Uma coisa legal da arte urbana é de poder fazer a interação entre o artista e o receptor. O processo não acaba aqui, aqui é só o start. Daqui vai pra rua e vai continuar se transformando”, observou Grud.

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A oficina de grafite teve como tela os muros de Fortaleza

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Debate sobre cientistas negros na 10ÂŞ Bienal da UNE


CIÊNCIA E TECNOLOGIA REINVENTADA

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rganizada pela Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), a Mostra de Ciência e Tecnologia contou com a participação de 80 trabalhos de estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado. Nesta última edição, a Mostra teve como tema a valorização do pensamento crítico. Deste modo, além do eixo temático que recebeu comunicações específicas, a coordenação pensou a dinâmica das apresentações para otimizar o debate dos trabalhos.

também são artistas, a ciência também tem a capacidade de transformar a sociedade e a produção intelectual é mais do que reproduzir uma técnica” Phillipe Pessoa, coordenador da mostra de Ciência & Tecnologia da 10ª Bienal da UNE

De acordo com Phillipe Pessoa, um dos coordenadores da Mostra, a capacidade crítica é fundamental também para viver plenamente a democracia. Uma das ferramentas para reinventar é praticar a capacidade crítica no cotidiano. “Os fazedores de ciência também são artistas, a ciência também tem a capacidade de transformar a sociedade e a produção intelectual é mais do que reproduzir uma técnica”.

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“Os fazedores de ciência

Todos os trabalhos selecionados foram organizados para exposição oral curta, de 5 minutos na média, e interação com avaliadores e público de mais 5 minutos. Os estudantes tiveram que organizar sua apresentação para expor a principal contribuição da sua pesquisa e puderam ter um debate qualificado com o público, recebendo críticas construtivas.

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PROJETO DE EXTENSÃO REINVENTADO

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educação popular e o trabalho voluntário foram os grandes destaques da mostra selecionada de Projetos de Extensão da 10ª Bienal. Os trabalhos expostos dialogaram com o tema “Feira da Reinvenção”, numa proposta de transformação do saber oferecido em nossas escolas e universidades. O projeto ‘’Encanto dos Astros’’, dos estudantes Jerônimo Andrade e Anderson do Nascimento, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), e o ‘’Mais Sorriso, Mais Saúde”, dos estudantes Bernardo Blanche e Francisca Tereza, também da UFPI, foram exemplos disso. O primeiro tem como objetivo fomentar o ensino de astronomia e ampliar a grade curricular das instituições públicas de ensino. Já o segundo projeto reúne estudantes das áreas de enfermagem e nutrição para promover a saúde por meio do trabalho voluntário em hospitais carentes, com ações lúdicas e educativas.

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‘’A mostra procurou privilegiar esse diálogo entre a universidade e a educação popular. Foi muito interessante porque apresentamos trabalhos que abrigam outras vozes além de sua própria voz. São trabalhos que abrem espaço para a troca de experiências e ensinamentos reais’’, lembrou Phillipe Ricardo, coordenador da mostra.


‘’A mostra procurou privilegiar esse diálogo entre a universidade e a educação popular. Foi muito interessante porque apresentamos trabalhos que abrigam outras vozes além de sua própria voz. São trabalhos que abrem espaço para a troca de experiências e ensinamentos reais’’ Phillipe Ricardo, coordenador da mostra de Projetos de Extensão da 10ª Bienal da UNE

Estudantes durante oficina sobre projetos de extensão

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LABORATÓRIO DA REINVENÇÃO

L A U R O C O S TA

PEDRO DINIZ

Letras, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) “REIVENTAR-SE É PRECISO!”

Humanidades, Universidade Federal da Bahia (UFBA) “O UNIVERSO ESTÁ EM CONSTANTE MUDANÇA, ENTÃO, REINVENTAR-SE É ALGO NATURAL, NUNCA FICAR PARADO.”

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VICTOR DE SOUZA REZENDE

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Timóteo (MG) - Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET) “A REINVENÇÃO QUEBRA A MONOTONIA.”

M AT H E U S V I CTO R G U E D E S M A C I E L Educação Física, Centro Universitário Luterano de Palmas (ULBRA) “A VIDA É ISSO, REINVENTAR-SE A CADA DIA, SAIR DO COMODISMO, IR ATRÁS DE COISAS NOVAS.”

LUCAS SANTOS DOMINGUES História, Universidade de Sorocaba (UNISO) “É ÓTIMO SE REINVENTAR PORQUE A GENTE SE SENTE LIVRE PRA FAZER O QUE QUISER E QUANDO QUISER, SEM PENSAR NAS OPINIÕES ALHEIAS.”


LUIZ EDUARDO ISIDORO Secundarista, Minas Gerais “TRANSFORMAR É COMO SE FOSSE UMA MÁSCARA, SURGE UMA NOVA PESSOA.”

LETÍCIA RAMOS Engenharia Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) “A GENTE VIVE NUMA SOCIEDADE QUE BRUTALIZA AS PESSOAS. USAR A CULTURA PARA SE REINVENTAR TRAZ DE VOLTA A HUMANIDADE.”

CAROLINA NUNES Saúde, Universidade Federal da Bahia (UFBA) “ESTAMOS PRECISANDO SE RECONSTRUIR E BUSCAR NOVAS FORMAS DE FAZER ARTE E A REVOLUÇÃO.”

S A R A C O S TA Geografia, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) “SE TRANSFORMAR É NECESSÁRIO, POIS O PAÍS ESTÁ PASSANDO POR UM MOMENTO CRÍTICO.”

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MARIA LUIZA MENEZES Ciências Sociais, Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) “EU SOU A REINVENÇÃO. TENHO ATÉ UM CAMALEÃO TATUADO NA PERNA QUE SIGNIFICA EXATAMENTE ISSO, ADAPTAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO.”

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DEBATES

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Encontro sobre cultura e democracia com Juca Ferreira

Encontro “A reinvenção do Pessoal do Ceará” com Inácio Arruda


A cultura como forma de reinvenção e resistência LGBT

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A cultura feminista reinventando o Brasil

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LADO C

VISITA ÀS COMUNIDADES

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Diretoras da UNE com Gaby Amarantos Marianna Dias

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Diretores da UNE na Culturata

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Diretoria Executiva da UNE foi responsável por organizar a Bienal em Fortaleza

Moara Correa

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Ivo Braga

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Estandarte do CUCA na Culturata

Sato do Brasil, do Jornalistas Livres, participa de Seminário do CUCA

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Seminário CUCA: Redes e circuitos de linguagem artísticas

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Cobertura colaborativa do CUCA

Patrícia de Matos

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CUCA

Nova diretoria do CUCA liderada pela estudante Camila Ribeiro

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caras e bocas


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CULTURATA: DO DRAGÃO PARA AS AVENIDAS

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Passeata dos estudantes saiu do Dragão do Mar e foi até a Praia de Iracema

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Culturata é um momento tradicional de encerramento de cada edição da Bienal da UNE, destacando toda a diversidade artística do evento e unindo em um só festejo representantes de todos os estados brasileiros e dos mais diversos grupos e expressões do país.

Acima, trio puxa cortejo da Culturata; abaixo, estudantes ocupam a Estátua de Iracema

Para a presidenta da UNE, Carina Vitral, o fechamento da 10ª Bienal da UNE cumpriu com louvor esses dois quesitos. “Foi uma Bienal inesquecível e a Culturata conseguiu estender a beleza do festival para as ruas de Fortaleza”, destacou. Os grupos Os Transacionais, Dona Zefinha e o Maracatu Solar foram os responsáveis por ter apimentado ainda mais o cortejo, que arrastou milhares de estudantes até a estátua de Iracema, no Aterro da Praia.

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A grande passeata cultural também tem o objetivo de chamar a atenção da cidade para a presença de milhares de visitantes e para a necessidade de reflexões sobre a atual conjuntura do país.

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Qual foi o grande momento da 10ª Bienal da UNE? Para escolher um, eu ficaria com a Culturata, a nossa passeata cultural pelas ruas de Fortaleza, que mostrou a diversidade e potência do movimento cultural das universidades de forma muito marcante. Depois de quatro dias de produção, debate, intercâmbios da juventude de diversas partes do país, a Bienal terminou com uma ocupação muito bonita da cidade, uma catarse de luta e de festa, o que é a cara da UNE e a cara do movimento estudantil que quer transformar o nosso país.

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Pensando nas Bienais anteriores, qual é a sua maior recordação? Participei de algumas muito especiais, lembro com carinho das edições realizadas no Rio de Janeiro, uma cidade que guarda a história do movimento estudantil, é onde está a nossa sede que foi incendiada na ditadura e retomada durante a 5ª Bienal, em 2007. Hoje, estamos reconstruindo lá, no mesmo endereço da Praia do Flamengo, 132, a nova Casa do Poder Jovem. Então, cada Bienal tem o seu momento marcante, cada festival traz uma novidade e um presente para a população e para os estudantes de todo o Brasil.

Qual é o maior desafio de realizar uma Bienal? Tudo é muito grande. Nesta edição, tivemos mais de 200 atrações e convidados. A estrutura e a logística envolvem todo um esforço por meses. A gente vive realmente por conta da Bienal e o desafio é ter uma coordenação que esteja sintonizada com esse espírito. Nesse sentido, tivemos a direção talentosíssima dessa atual geração do CUCA da UNE, que se mudou para uma casa em Fortaleza, desenhou essa Feira da Reinvenção da maneira mais criativa possível e permitiu que o festival fosse um sucesso.

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Por quê unir política e cultura? A cultura é a expressão máxima da nossa identidade nacional. É a rede tecida pelas nossas referências, nossas origens raciais, históricas, regionais, aquilo que nos faz ser um só povo. É por meio da cultura que também damos voz aos que mais precisam, que representamos as lutas das mulheres, da população negra, dos LGBT, é onde teatralizamos o mundo sem injustiças que queremos alcançar na vida real, fora dos palcos. Por isso a Cultura foi tão fundamental para denunciar o golpe de 2016, com ocupações em todo o país, manifestos da classe artística, atos de resistência lúdicos e transformadores. Cultura e política são caminhos em direção ao mesmo lugar.

O tema dessa edição

foi “Feira da

Reinvenção”. Qual a importância deste tema considerando a atual conjuntura política do país? Desde quando ocorreu o golpe contra presidenta Dilma Rousseff, sentíamos que teríamos a responsabilidade de produzir uma Bienal da UNE que pudesse resgatar um sentimento de resistência e ao mesmo tempo de reorganização da juventude para as nossas lutas. Nada melhor nesse sentido do que a ideia da reinvenção. Historicamente, o povo brasileiro sempre se reinventou nos momentos mais difíceis, no combate às ditaduras ou na resistência às adversidades sociais. Essa é a nossa marca, reagir com criatividade e força nesses momentos. A imagem da feira também é muito significativa porque a feira popular é um movimento aberto, democrático, um espaço de trocas, escambos, possibilidades. Isso que buscamos levar para o festival.

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São vinte anos de Bienal da UNE. Qual o legado deste festival para o país e o movimento estudantil brasileiro? A cultura está presente na história do movimento estudantil desde os seus primórdios, lá atrás, na década de 30, com a fundação do Teatro do Estudante do Brasil. Depois tivemos o Centro Popular de Cultura da UNE nos anos 1960, toda a produção de música e de cinema ligada aos estudantes. A Bienal conseguiu retomar essa trajetória cultural de forma grandiosa. Em 10 edições, a UNE fez desse o maior festival estudantil da América Latina, com o legado de ser a maior vitrine da arte produzida nas universidades brasileiras, com uma série de pesquisas e provocações sobre o que é a cultura e formação do nosso povo, encontros e debates. Esse é um evento que entrou para o rol das maiores manifestações culturais do Brasil. Vida longa à nossa Bienal!

Como chega a UNE aos seus 80 anos de idade em 2017? Parece sintomático que a UNE chegue a um momento tão marcante da sua história em uma situação tão difícil e dramática da democracia do país. Na verdade, essa é a sina do movimento estudantil brasileiro. Combater, resistir, cerrar trincheiras na defesa do Brasil nos momentos mais críticos. Sempre foi assim. Nossos 80 anos são marcados pela luta nas ruas e não está sendo diferente agora. É um aniversário comemorado não com bolo e presentes, mas com o enfrentamento a um golpe de Estado, mesmo sob a truculência das balas de borracha e do gás lacrimogêneo. É um aniversário comemorado com grandes mobilizações dentro das universidades, com rebeldia e coragem, buscando aquilo que o nosso grande historiador Arthur Poerner chamou de “Poder Jovem”. Já são 80 anos, mas estamos só começando.

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Quem é o estudante que hoje batalha nas ruas e nas universidades por um Brasil melhor? Nos últimos anos, a universidade brasileira tem passado por transformações importantes. Depois de décadas de luta, conseguimos nos últimos governos a aplicação de políticas públicas para a inclusão dos estudantes mais pobres no ensino superior, dos filhos dos trabalhadores, de quem nunca esteve lá por preconceito e injustiça em um país forjado na escravidão de negros e índios, que sempre estiveram alheios ao protagonismo das mudanças sociais. Hoje, a universidade é mais colorida, é da favela e do campo, é dos diferentes jeitos de pensar e fazer, da cultura popular, da periferia, uma universidade mais próxima do que somos como nação. Precisamos lutar para que ela continue assim e, na verdade, seja ainda muito mais aberta e democrática.

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Após muitas batalhas e desafios enfrentados nessas oito décadas, qual o próximo passo? A UNE ainda tem muito chão pela frente. Nosso próximo passo é reconquistar a democracia e barrar os retrocessos do governo ilegítimo que se instaurou após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. Precisamos garantir as políticas de acesso às universidades, a assistência estudantil para os estudantes menos favorecidos permanecerem nos seus estudos, e barrar a ofensiva conservadora que quer amordaçar o ensino, ameaçar a liberdade de cátedra e impedir a formação crítica da nossa juventude. A UNE precisa usar toda a sua força para combater as opressões da sociedade brasileira, enfrentar o machismo, o racismo, a LGBTfobia dentro e fora da universidade e construir o espírito de um país para todas e todos, com igualdade. Nosso caminho passará certamente por aí nos próximos anos.

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Como será a UNE do futuro? Poxa, já erramos muitas vezes as nossas previsões sobre o futuro, né. Alguns acharam que teríamos até carros voando e muito progresso nessa altura da nossa história. Mas a realidade que vemos no mundo de hoje é muito mais dura e menos romântica. Acho que o futuro que a UNE quer é o fim das injustiças, o fim dos preconceitos, a possibilidade de uma sociedade de oportunidades para a juventude, um mundo com horizontes alcançáveis. A UNE do futuro, assim como a UNE do presente, é uma entidade que estará caminhando em direção a esse lugar.


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UNE caminha para completar 80 anos em agosto de 2017 mais jovem do que nunca. Prestes a reinaugurar a sua sede na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, a entidade ocupa atualmente um lugar de destaque na luta em defesa da democracia brasileira e por avanços na educação.

A organização que representa os estudantes universitários brasileiros é uma das mais antigas e respeitadas instituições da sociedade civil nacional, responsável por significativas conquistas que trouxeram mais igualdade, justiça e democracia para o país. A trajetória da entidade mostra a vitalidade e a força de sucessivas gerações da juventude brasileira que sonharam e lutaram por um Brasil melhor. Conheça 10 fatos marcantes da história da entidade, fundada em 1937, no Rio de Janeiro:


1 - COMBATE AO NAZI-FASCISMO

Peça estudantil escancarou o nazismo de Hitler

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Os primeiros anos da UNE foram de combate ao nazi-fascismo de Adolf Hitler, em meio aos acontecimento da Segunda Guerra Mundial (1939-45), pressionando o presidente Getúlio Vargas a declarar guerra aos países do Eixo. No calor do conflito, em 1942, os jovens ocupam a sede do Clube Germânia, na Praia do Flamengo, 132, Rio de Janeiro, tradicional reduto de nazifascistas. Naquele mesmo ano, o presidente Vargas concedeu o prédio ocupado para ser sede da UNE.

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2 - O PETRÓLEO É NOSSO

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Após a guerra, a UNE consolidou sua participação e posicionamento frente aos principais assuntos nacionais, fortalecendo o movimento social brasileiro em ações como a defesa do petróleo e contra a exploração dessa riqueza por empresas estrangeiras. A UNE foi protagonista com a campanha “O Petróleo é Nosso”. A luta prosseguiu até 1953, quando se deu a criação da Petrobras.

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UNE durante campanha “O Petróleo é Nosso”


A renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, e a turbulência acerca da posse do vice João Goulart fizeram a UNE transferir momentaneamente sua sede, em 1961, para Porto Alegre. Ali, os estudantes tiveram papel vital na chamada Campanha da Legalidade, movimento de resistência para garantir a posse de Jango.

João Goulart em um de seus primeiros discursos como presidente do Brasil

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3 - CAMPANHA DA LEGALIDADE

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Presidente da UNE, Aldo Arantes, e o projeto UNE - Volante

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4 - A UNE E A CULTURA Os filmes e espetáculos musicais e teatrais desenvolvidos no Centro Popular de Cultura, o CPC da UNE, tiveram grande influência no meio estudantil e na sociedade. O CPC da UNE foi responsável por reunir nomes como Cacá Diegues, Vianinha e Ferreira Gullar. A UNE Volante disseminou o movimento de cultura popular para todo o país por meio de caravanas, contribuindo para consolidar a dimensão nacional da entidade.


5 - RESISTÊNCIA À DITADURA MILITAR A ditadura perseguiu, prendeu, torturou e executou centenas de brasileiros, muitos deles estudantes e dirigentes da entidade. A primeira ação dos militares ao tomar o poder em 1964 foi metralhar e incendiar a sede da UNE, na Praia do Flamengo, 132. Apesar da repressão, a UNE continuou a existir nas sombras da ditadura, em firme oposição ao regime. Ao final dos anos 1970, com os primeiros sinais de enfraquecimento do regime militar, a UNE começou a se reestruturar. Em 1980, os militares demoliram o prédio da Praia do Flamengo.

Jovens participam de passeata contra a ditadura militar

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6 - DIRETAS JÁ! Em 1984, a UNE participou ativamente da campanha das “Diretas Já”, com manifestações e intervenções nos principais comícios populares daquele período. Com o fim da ditadura civil-militar, o movimento estudantil voltou às ruas para defender suas bandeiras históricas e a consolidação da democracia no país. Estudantes de todo o Brasil participaram da reconstrução da entidade em 1979

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Passeata “Fora Collor” e a presença da UNE e da UBES

7 - FORA COLLOR! Durante as eleições de 1989, a UNE se posicionou contra a candidatura de Fernando Collor de Melo. Quando o presidente envolveu-se em escândalos sucessivos de corrupção, o movimento estudantil teve papel predominante na mobilização dos brasileiros com o movimento dos jovens de caras pintadas na campanha “Fora Collor”. Em 1992, após enormes manifestações estudantis com repercussão em todo o país, o presidente renunciou ao cargo.

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8 - A LUTA CONTRA O NEOLIBERALISMO E AS PRIVATIZAÇÕES Durante os governos do presidente Fernando Henrique Cardoso, as principais pautas dos estudantes foram a luta contra o neoliberalismo e a privatização do patrimônio nacional. A UNE posicionou-se firmemente contra a mercantilização da educação, promovida pela gestão FHC.

Ato contra a criação da Área de Livre Comércio das Américas

9 - A UNE AVANÇA EM SUAS REINVIDICAÇÕES Em 2002, uma grande coalizão das forças populares e democráticas do Brasil conduziu o metalúrgico e sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência do país e, em 2010, a primeira mulher presidenta do país, Dilma Rousseff. Sempre com o apoio da UNE.

Passeata em Brasília pede reforma política

Durante os governos petistas, os estudantes conquistaram a expansão da oferta e do acesso ao ensino superior por meio de programas como o ProUni, o Reuni e o novo Fies, além da destinação de 10% do PIB, de 75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação. Neste período, a entidade retomou as suas políticas culturais, com a criação da Bienal e do Circuito Universitário de Cultura e Arte, o CUCA da UNE, além das caravanas estudantis. Os estudantes reocuparam o histórico terreno da Praia do Flamengo, 132 e, com a indenização pelos crimes cometidos na ditadura, está reconstruindo a sua sede.

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10 - DEFESA DA DEMOCRACIA Ao lado de outros movimentos sociais que compõem as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, os estudantes resistiram ao golpe de Estado promovido contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2015. Os estudantes têm tomado as ruas e as redes contra as políticas reacionárias do governo golpista de Michel Temer, com ataques aos direitos dos trabalhadores e dos estudantes, e também pelas Diretas Já!

Passeata contra o presidente golpista Michel Temer

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FORA TEMER

EDUCAÇão 138

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HISTÓRIA DAS BIENAIS

U

ma homenagem ao multiculturalismo brasileiro. Uma reflexão sobre a trajetória do país. Um esforço de sempre reconstruir a identidade nacional. Uma congregação festiva de estudantes dos quatro cantos da nação. Um resgate da relação dos movimento estudantil com as artes e a cultura. A Bienal da UNE é tudo isso e mais um pouco. O belo e o inominável. “A Bienal foi um belo ato de irresponsabilidade que deu certo”, lembra Ricardo Capelli, presidente da UNE em 1999. No final da década de 1990, a UNE era uma entidade que vinha de um processo de reconstrução após a perseguição política durante a ditadura civil-militar. Poucos anos antes, os estudantes haviam protagonizado a luta popular pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor e o movimento pelas Diretas Já. Faltava retomar a veia cultural e artística.

“Ninguém acreditava muito que iria para frente. Mas tínhamos na gestão a convicção de que a UNE precisava se modernizar, inaugurar novas formas de comunicação e novas linguagens no contato com os estudantes brasileiros. Para isso, nada melhor do que retomar sua identidade com a cultura nacional”, completou Capelli.

DEBATES


CULTURA

DEMOCRACIA

E foi com a tradicional rebeldia consequente do movimento estudantil que surgiu o maior festival estudantil da América Latina. A Bienal foi o primeiro passado de resgate da histórica relação entre os estudantes e as artes e cultura, que teve no Centro de Cultura Popular (CPC) o seu ápice. Em 2001, foi fundado o Circuito Universitário de Cultura e Artes, o CUCA da UNE, que criou uma rede cultural entre os espaços estudantis de todo o país. As caravanas estudantis retomaram o espírito da UNE Volante, levando para os quatro cantos do país as bandeiras da entidade.

Ao longo desses dezoito anos de Bienal, a UNE conseguiu por meio da cultura e da arte derrubar fronteiras e construir pontes entre as mais distantes regiões e tradições do país e do continente latino-americano. Nessa trajetória, os estudantes já pautaram temas importantes que refletem sobre a formação do povo brasileiro, como a herança africana na cultura do país, os vínculos do Brasil com a América Latina, o protagonismo do samba na formação cultural do país, e as diversas vozes do Brasil.

A última edição, em janeiro de 2017, completa este ciclo de duas décadas com a evocação das grandes feiras populares brasileiras, como a de Caruru, e o espírito de reinvenção do povo brasileiro em meio às adversidades, que, com jeitinho e gambiarras, segue sendo essa metamorfose ambulante na luta por um Brasil melhor.

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1ª BIENAL DA UNE Ciência, cultura e arte a favor do Brasil 23 a 30 de janeiro - 1999 Salvador - BA No improviso, com pouco dinheiro, sem apoio institucional, mas com muita garra: assim foi construída a 1ª Bienal da UNE, em Salvador, na Bahia. No final, o sucesso foi tanto que o evento que era para durar apenas quatro dias estendeu-se para uma semana. Estava reatado o casamento da UNE com a cultura nacional. “Quando lançamos o edital [de seleção de trabalhos], boa parte de nós não acreditava que sairia do papel, até que um belo dia começaram a chegar quadros, livros e vídeos na sede da UNE. Decidimos fazer em Salvador pois, além de sua tradição cultural, a cidade foi palco, vinte anos antes, do congresso de reconstrução da UNE”, recordou Ricardo Capelli A primeira Bienal reuniu cerca de cinco mil jovens, além de diversos nomes do mundo acadêmico, científico e artístico. O evento reuniu os compositores Lenine, Chico César, Jorge Mautner e o grupo Racionais MCs, com apresentação de shows e debates memoráveis. Mas o protagonismo ficou por conta do ator Francisco Milani. “O momento mais marcante, sem dúvida, foi a presença de Milani, totalmente improvisada. Chamamos ele ao palco e entregamos a ele uma caixa. De dentro desta caixa bonita saiu uma menina contorcionista, que lhe deu uma bandeira da UNE. O Milani, emocionado [‘fico arrepiado só de lembrar’], pegou a bandeira com as duas mãos e contou que ele estava dentro do prédio histórico da entidade, na praia do Flamengo, no dia em que a ditadura ateou fogo à sede. Depois de narrar esses momentos, pegou a bandeira com força, com as duas mãos, e começou a gritar que o que o deixava mais feliz, depois de tantos anos, era saber que a UNE estava viva, ‘A UNE está VIVA!’, repetia ele, emocionado, aos gritos. Não preciso dizer que o teatro veio abaixo”, relembrou Ricardo Capelli.

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Tom Zé

Clemente, do Inocentes

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2ª BIENAL DA UNE Nossa cultura em movimento 3 a 10 de fevereiro - 2001 Rio de Janeiro - RJ A realização da 2ª Bienal da UNE, que consolidou a iniciativa nos calendários cultural e estudantil do país, aconteceu em fevereiro de 2001, no Rio de Janeiro, com uma pitada de sorte. “Tivemos grande apoio do governo do estado, da UERJ e, contraditoriamente, fomos beneficiados também pela realização do Rock in Rio. Estávamos sem dinheiro para realizar o evento e como o Rock in Rio aconteceria um mês antes da Bienal, fizemos uma parceria com os organizadores do evento e garantimos a meia-entrada para quem tivesse a carteira da UNE. Isso fez com que garantíssemos o direito à meia-entrada e capitalizássemos a UNE para arcar com as despesas da Bienal”, lembra o presidente da UNE, Wadson Ribeiro. Nesta edição, foram realizados debates, oficinas e mostras universitárias que envolveram mais de oito mil pessoas, com uma diversa participação de artistas convidados como o ator e diretor Augusto Boal, o cartunista Ziraldo e o cantor Tom Zé. Foi também nessa edição que o arquiteto Oscar Niemeyer apresentou o projeto da sede da UNE na Praia do Flamengo, 132. Houve espaço para programação não-oficial (Lado B) e visita às comunidades dos morros do Rio de Janeiro (Lado C), promovendo a interação dos estudantes com a cidade. A grande novidade, no entanto, ficou por conta do lançamento do Circuito Universitário de Cultura e Arte, o CUCA da UNE, a partir do debate sobre qual seria a forma de dar continuidade à produção cultural e artística nas universidades. “Uma atividade realizada antes da Bienal, em fevereiro de 2001, na UERJ, construída por um núcleo maior e mais consolidado de artistas e militantes foi, acima de tudo, marcante para amadurecer a compreensão sobre o movimento cultural da UNE. Percebeu-se que, mais do que atividades regulares de dois em dois anos, era necessário criar algo permanente. Foi aí que se apresentou a ideia de um instrumento chamado CUCA”, explicou Tiago Alves, na época diretor de comunicação e cultura da UEE-MG.

Culturata

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Espetáculo de abertura da 3ª Bienal

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3ª BIENAL DA UNE Um encontro com a cultura popular 8 a 14 de fevereiro - 2003 Recife e Olinda - PE A 3ª Bienal da UNE, em fevereiro de 2003, em Pernambuco, serviu para consolidar o atual formato. Pela primeira, vez o evento passou a concentrar seus debates em torno de um tema específico, no caso: “Um encontro com a cultura popular”. Em Olinda e Recife, durante sete dias, ocorreram diversos debates, mostras, oficinas e shows, que foram profundamente influenciados pela conjuntura política: era momento de avaliar a postura do primeiro governo popular eleito na história do país em relação às políticas culturais. Participaram os ministros Gilberto Gil (Cultura), Roberto Amaral (C&T), o ator Sérgio Mamberti, os compositores Paulo Miklos e Marcelo Yuka, as bandas Mundo Livre S/A e Cordel do Fogo Encantando, além do generoso escritor Ariano Suassuna. Foi neste festival que circulou pela primeira vez o “Encucado”, que traz as atividades do CUCA a partir de conexões com a rede de artísticas e movimentos culturais brasileiros. “Talvez a repercussão mais importante desta Bienal tenha sido na organização dos artistas e militantes da cultura, pois saímos de Recife com um propósito firme de organizar os CUCAs e, depois da Bienal, isso saiu do papel. O ponto era ter uma política cultural que não se resumisse aos grandes eventos, mas que fosse contínua, perene”, relata Felipe Maia, presidente da UNE na época.

Felipe Maia e Gilberto Gil

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Estudantes deitam na Avenida Paulista

Debate no Pavilhão da Bienal São Paulo

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4ª BIENAL DA UNE Soy loco por ti América

Culturata

23 de fevereiro a 3 de março - 2005 São Paulo - SP Com o tema “Soy Loco por ti América”, o festival ocorreu em São Paulo, paralelo ao XIV Congresso Latino Americano e Caribenho de Estudantes (CLAE), o que viabilizou a vinda de grande número de participantes de outros países. A integração do continente a partir do diálogo entre as culturas dos povos latino-americanos tomou a pauta do evento. Vale ressaltar que a Culturata, a tradicional passeata pela cultura, foi um momento muito expressivo durante esse evento. Do vão livre do Masp até o Monumento das Bandeiras, no Parque do Ibirapuera, mais de cinco mil jovens de todo o Brasil se concentraram na Avenida Paulista e reivindicaram, principalmente, o aumento de verbas do governo federal para a cultura. Os nomes de destaque dessa edição foram o ministro da Educação de Cuba, Vecinno Alegrete; a médica cubana e filha de Che, Aleida Guevara; o físico e presidente da SBPC Ennio Candotti e o geógrafo Aziz Ab’Saber. “A repercussão dessa edição foi internacional. Apesar das dificuldades do início, fizemos uma bela montagem para os espaços propostos para as mostras e para as presenças de personalidades brasileiras e da América Latina. Não dava mais pra gente conhecer o que era produzido em nosso continente através do que vinha enlatado dos EUA. Na época, foi muito importante estabelecer este diálogo. E é por isso que eu sempre digo que a Bienal da UNE tem como tema principal a integração”, contou o presidente da UNE em 2005, Gustavo Petta.

Capinan e Gil

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Abertura com Ilê Aiyê

Abdias do Nascimento, Dova Ivone Lara, Alberto da Costa e Silva, Gilberto Gil e Martinho da Vila

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5ª BIENAL DA UNE Brasil-África: um Rio chamado Atlântico 28 de janeiro a 2 de fevereiro - 2007 Rio de Janeiro - RJ Samba, feijoada, ganja, capoeira, candomblé: a influência dos africanos na formação cultural brasileira é inestimável. A 5ª Bienal da UNE trouxe eventos de Gana, Angola, Zaire e outras terras para o Rio de Janeiro, em janeiro e fevereiro de 2007, para dialogar com o tema “Brasil-África: um Rio chamado Atlântico”.

Naná Vasconcelos

Oito mil jovens encontraram-se na histórica região da Lapa para participar dessa edição, que trouxe mais de 40 debates, oficinas e mostras universitárias. Foram 170 convidados, entre eles o escritor angolano Ondjaki; o ministro da Cultura Gilberto Gil, os diplomatas Alberto da Costa e Silva (autor do livro que deu título à Bienal) e Samuel Pinheiro Guimarães; e o cineasta brasileiro Zózimo Bulbul. A Bienal ainda homenageou grandes personalidades da cultura afro-brasileira, como o escritor Abdias do Nascimento; a religiosa Mãe Beata e os sambistas Martinho da Vila, Dona Ivone Lara e Beth Carvalho, que fizeram uma histórica apresentação gratuita nos Arcos da Lapa para mais de 15 mil pessoas, comemorando os 70 anos da UNE. A Culturata ganhou nessa edição um motivo a mais para reunir os estudantes. Depois de 43 anos, a UNE retomou a sua sede, demolida pela ditadura militar. Ao final da passeata cultural, os estudantes derrubaram o portão do estacionamento ilegal que funcionava na Praia do Flamengo, 132, e levantaram acampamento para garantir a retomada da posse do terreno. “Tudo isso dentro de uma Bienal, olha que loucura!”, emocionou-se Gustavo Petta, na época presidente reeleito da UNE, ao lembrar da ocupação do terreno.

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Pelourinho

Homenagem a Honestino Guimarães

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6ª BIENAL DA UNE Raízes do Brasil: formação e sentido do povo brasileiro 20 a 25 de janeiro - 2009 Salvador - BA Em seu décimo aniversário, em janeiro de 2009, a Bienal retornou à sua casa. A Bahia novamente serviu de palco para a celebração estudantil da cultura brasileira, que teve como mote “Raízes do Brasil: formação e sentido do povo brasileiro”. A 6ª Bienal teve cinco dias intensos de debates, esporte, música, literatura, exposições, apresentações teatrais, entre muitas outras atividades. Para a alegria dos participantes, o Pelourinho foi palco de grandes shows que agitaram a capital baiana: Margareth Menezes, Marcelo D2 e Cordel do Fogo Encantado foram atrações do palco principal. O grande homenageado foi o ex-presidente da UNE, desaparecido em 1973, Honestino Guimarães. “Foi uma atividade vitoriosa do ponto de vista cultural, muito rica. Fazer circular essa efervescência artística da juventude é o maior prazer do mundo”, contou a então presidente da UNE, Lúcia Stumpf. “Tenho três lembranças inesquecíveis. A abertura, com o espetáculo no Teatro Castro Alves, em homenagem a Honestino Guimarães e os 30 anos da reconstrução da UNE, com a Lúcia subindo ao palco carregando a bandeira azul da UNE, foi lindo. Depois, o trio Armandinho, Dodô e Osmar que levou a galera pela avenida Sete até a praça Castro Alves. O espetáculo-tema com a participação de Célio Turino e Jorge Mautner, com a Baía de Todos os Santos ao fundo e o luau com Alceu Valença no Jardim de Alah também marcaram todos os presentes”, relatou Rafael Simões, na época diretor de Cultura da UNE.

Trio de Dodô & Osmar na abertura da 6ª Bienal

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Martinho da Vila

Culturata na Praia de Ipanema

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Elza Soares


7ª BIENAL DA UNE Brasil no estandarte, o samba é meu combate 18 a 23 de janeiro - 2011 Rio de Janeiro - RJ A UNE, em um grandioso evento de oito dias e mais de 60 mil estudantes no Rio de Janeiro, promoveu a sua 7ª Bienal para saudar o samba e a luta do povo brasileiro, assim como a capacidade de integração social deste estilo musical. Beth Carvalho, Arlindo Cruz, Leci Brandão, Marcelo D2, Rapin Hood, Martinho da Vila e outros bambas da música brasileira subiram ao palco da Bienal para interpretar o reinterpretar o samba e o país. “Nosso desafio foi trazer o exemplo do samba como reflexo do espírito combativo do povo brasileiro que, apesar de toda a dificuldade do dia a dia, não se furta a levantar, sacudir a poeira e fazer carnaval. Tentamos transmitir por meio do samba essa dimensão de felicidade não-gratuita do povo brasileiro. Ser feliz é uma forma de combate”, relembrou o então presidente da entidade, Augusto Chagas. O evento recebeu as comemorações dos 50 anos da criação dos Centros Populares de Cultura, o marcante CPC da UNE, onde surgiram figuras como Cacá Diegues e Carlos Lyra, que participaram das festividades. Foram também celebrados os 10 anos das experiências estéticas e políticas do CUCA da UNE, em um evento que ficou marcado também pela saudável estrutura montada no Aterro do Flamengo, com tendas climatizadas e clima de integração total com a população carioca e a cidade.

Marcelo D2

Beth Carvalho, Augusto Chagas e Miele

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J. Borges

Exposição de J. Borges

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Culturata em Olinda


8ª BIENAL DA UNE A Volta da Asa Branca 22 a 26 de janeiro - 2013 Recife e Olinda - PE Os versos e o toque de fole da mítica Asa Branca do pernambucano Luiz Gonzaga deram o tom da 8ª Bienal da UNE, que homenageou a cultura sertaneja vista no forró de Gonzagão, na poesia de João Cabral de Melo Neto, nos estudos de Gilberto Freyre, na prosa de Graciliano Ramos e tantos outros. A identidade visual do festival foi feita por um dos homenageados, o artista plástico J. Borges, mestre do cordel. As ladeiras de Recife e Olinda receberam de braços abertos os estudantes. O Complexo do Carmo, em Olinda, recebeu os debates, mostras estudantis e convidadas com a participação de lideranças políticas consagradas. O Marco Zero, no centro do Recife, ergueu um palco para Lenine, Alceu Valença, Elba Ramalho e Mundo Livre S/A. “Dentro da UNE nós sempre trazemos uma reflexão sobre o Brasil, o Brasil profundo. Na 8ª Bienal, decidimos celebrar o Nordeste e o Gonzagão em Pernambuco. Um mês antes da Bienal, ele faria cem anos. O Gonzagão é uma figura muito peculiar da cultura brasileira, o pai de uma vertente da cultura brasileira que vem do baião e do xaxado. A singularidade que ele tem como ícone da cultura brasileira foi determinante para a escolha dele como o grande homenageado dessa Bienal. No final, a UNE fez uma homenagem tão bonita que fechou de forma marcante o calendário nacional de homenagens ao Gonzagão”, recordou Daniel Iliescu, então presidente da entidade.

Elba Ramalho

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Criolo

Alceu Valença

Culturata em Ipanema

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9ª BIENAL DA UNE Vozes do Brasil 26 de janeiro a 1º de fevereiro - 2015 Rio de Janeiro - RJ Dez anos depois, as ruas da Lapa receberam novamente os milhares de estudantes que reúnem-se a cada dois anos para o maior festival estudantil da América Latina. Através do tema “Vozes do Brasil”, a 9ª Bienal da UNE fez um convite à reflexão sobre a linguagem no Brasil, tendo como palco o Rio de Janeiro da Academia Brasileira de Letras, da gíria das favelas, das invenções linguísticas do funk, do rap e do samba. “As bienais da UNE sempre se debruçaram sobre a investigação da formação cultural e da identidade do povo brasileiro. Dessa vez, vamos mergulhar nessa discussão através da nossa língua, além de fazermos um grande chamado ao que há de novo na produção cultural e artística que ocorre nas universidades e ruas do nosso país”, destacou a então diretora de Cultura da UNE, Patrícia de Matos. A Fundição Progresso recebeu os debates, espetáculos e performances estudantis e convidadas. O festival contou com a já tradicional presença do então ministro da Cultura, Juca de Oliveira, além do poeta Sergio Vaz, do linguista Marcos Bagno e do coordenador do MST João Pedro Stédile. Sob os Arcos da Lapa, os shows de Criolo, Pitty e Cidade Negra entraram para a história da cidade. Abertura da Bienal

Sergio Vaz

Show na Lapa

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AS RENDAS E A GEOMETRIA DO DRAGÃO DO MAR NA IDENTIDADE VISUAL DA BIENAL



A

identidade visual da 10ª Bienal da UNE, que teve como tema a “Feira da Reinvenção”, reúne elementos da cultura popular e contemporânea do Ceará, como os grids dos edifícios do Dragão do Mar - local que sediou as atividades do evento - , as formas geométricas das rendas e a generosidade e vibração do povo cearense. É também digital, representada pelos pixels dos QRcodes, códigos e fragmentos. Natural de Nova Olinda, Espedito Seleiro, filho de seu Raimundo Seleiro, criador da famosa “sandália quadrada de Lampião”, serve de referência na arte da Bienal no que diz respeito à união do tradicional e do novo. Seu trabalho cheio de referências do sertão, com couro colorido e enfeitado, atrai designers famosos e, nos últimos anos, o transformou em uma assinatura valorizada no mundo da moda, do cinema e do design. As rendas de bilro e de filé apresentam a ideia de grid para a arte da Bienal. Com origem no Ceará, as duas técnicas trazem novamente a noção do tradicional, por ser uma arte que é passada de geração em geração, aliada a uma profusão de cores, linhas e formas. As jangadas conferem o formato triangular a este grid, e o maracatu cearense é outra rica fonte de cores. “A fusão desses e de outros elementos compõe uma malha digital geométrica e simétrica, que traz elementos que se repetem, criando novas formas a partir da possibilidade de combinações diversas. O viés inventivo da arte é reforçado na escolha das cores, em um espectro de tonalidades variadas que diferem dos tons primários comumente utilizados no tradicional”, explica o designer Vinicius Costa, que assina a arte do festival. A tipologia mais rústica passa a ideia de madeira talhada e resgata a noção do criterioso trabalho artesanal e popular.


REFERÊNCIA

RENDEIRAS DE BILRO

REFERÊNCIA

RENDEIRAS DE FILÉ


REFERÊNCIA

JANGADAS

REFERÊNCIA

ESPEDITO SELEIRO


REFERÊNCIA

MARACATU DO CEARÁ

REFERÊNCIA

GRID E O DRAGÃO DO MAR


PROPOSTA

GRID, SUA DESCONSTRUÇÃO E CORES


PROPOSTA

TIPOGRAFIA

SLASH

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUWXYZ 0123456789 DINPro Bold

ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUWXYZ abcdefghijklmnopqrstuwxyz 0123456789

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PROPOSTA

PATTERNS

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A identidade visual e a “Feira da Reinvenção” A seleção destes referenciais, além de ter o intuito de prestigiar a cultura cearense, dá conta de reunir elementos que dialogam diretamente com o tema do festival. O casamento do tradicional, enraizado na cultura popular (a feira), com o novo e contemporâneo, ilustrado pelas cores (a reinvenção) está presente. A diversidade de tonalidades utilizada nessa identidade visual também remete à variedade que tradicionalmente faz parte das feiras livres. Tal variedade de cores e sabores formam uma cena que encontra, em meio ao caos dos gritos e das barracas, uma harmonia quase geométrica.

Para a construção do grid, que serviu de alicerce para essa arte, buscou-se também inspiração na arquitetura do Dragão do Mar. A construção do centro de cultura e arte cearense se caracteriza por linhas arrojadas, concebidas pelos arquitetos cearenses Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo. Inaugurado em 28 de abril de 1999, na antiga área portuária da Praia de Iracema, o Dragão do Mar reinventou a região, que possui hoje em seu entorno bares, restaurantes, lojas de artesanato, teatros e outros centros de cultura, como o Sesc Iracema.

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Jornais diários

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Cartaz e guias


Certificados


Crachรกs





O Estado - Fortaleza 19 de janeiro de 2017


O Estado do MaranhĂŁo 28 de janeiro de 2017


A Gazeta do Acre 27 de janeiro de 2017


O Estado - Fortaleza 1ยบ de fevereiro de 2017


O Povo - Cearรก 1ยบ de fevereiro de 2017


O Povo - Fortaleza 31 de janeiro de 2017


O Povo - Fortaleza 30 de janeiro de 2017


Diรกrio do Nordeste 28 de janeiro de 2017


O Povo - Fortaleza 1ยบ de fevereiro de 2017


PRODUÇÃO Tiago Alves Ferreira - Produtor-geral Fernando Máximo - Assistente do produtor geral Luis Parras - Produtor de infraestrutura, montagem e cenografia Patrícia Bssa - Produtor de infraestrutura, montagem e cenografia Rômulo Alexis - Cenotécnico Sarah Matos - Assistente de cenotécnico Albert Lazarini - Assistente de arte Nathalia Fernandes - Produtora de logística Eduardo Balbi - Assistente de logística Gabriel Stecchino - Assistente de logística Jacqueline Queiroz - Produtora de debates Fernanda Rhormens - Produtora de debates Luisa Barbosa Pereira - Produtora de debates Renato Bastos - Produtor de debates Osvaldo Lemos - Produtor da sala de convidados Alexandre Santini - Produtor da abertura, Culturata e Lado C Lili Aragão - Assistente da abertura, Culturata e Lado C Raquel Nascimento - Assistente da abertura, Culturata e Lado C Felipe Redó - Assistente da abertura, Culturata e Lado C Miguel Campelo - Direção abertura e Culturata Gilda Mendes - Produtora das mostras artísticas Nelson Mendes Junior - Produtor de música Ariane Soares - Assistente de música João Valongueiro - Assistente de música Marcio Mosca - Diretor de palco João Zarai - Roadie

Geison Guedes - Roadie Maria Isabel - Produtora de artes cênicas Débora Ingrid - Assistente de artes cênicas Lilian Medeiros - Produtora do palco Rogaciano Leite Lyze Costa - Produtora de oficinas Jô Araújo - Auxiliar de oficina Karen Vasques - Auxiliar de oficina Wescly Psique - Auxiliar de oficina Airton Júnior - Auxiliar de oficina Malu Vilanova - Auxiliar de oficina Mirian Quevêdo - Auxiliar de oficina Priscila Smiths - Produtora de audiovisual Gustavo Pedrosa - Assistente de audiovisual Talles Azigon - Produtora de literatura Lucas Doth - Assistente de literatura Michele Militão - Produtora da Praça Verde Leonardo Costa - Assistente Praça Verde Ramon Sales - Produtor de artes visuais João Carlo Waldino - Assistente de artes visuais Dáfine Prates - Produtora de extensão e C&T Lia Calado - Assistente de extensão e C&T Renato Oliveira - Almoxarifado Biatriz Ferreira - Loja da UNE Henrique Rodrigues - Loja da UNE

FICHA TECNICA


COMUNICAÇÃO Rafael Minoro - Coordenador-geral da comunicação Artênius Daniel - Coordenador de cobertura jornalística Dalwton Moura - Assessoria de imprensa Sara Puerta - Assessoria de imprensa Bruno Huberman - Jornalista Cristiane Tada - Jornalista Renata Bars - Jornalista Yuri Contreras - Jornalista e fotógrafo Vinícius Costa - Diretor de arte André Bogdan - Designer assistente Ives Lima - Coordenador da distribuição de material gráfico Grito Propaganda - Audiovisual e redes sociais

EQUIPE UNE Joaci Agustinho - Coordenador-geral Paula Costa - Coordenadora de projetos Fabiana Sumie Nakamura - Assistente de projetos Patrícia de Paula Vieira - Assistente de projetos Thais Silva Bernardes - Coordenadora-jurídica Marta Vicente - Coordenadora da bilheteria Salete Aparecida Miranda - Coordenadora da bilheteria Thauane Maynara Santos - Assistente da bilheteria Maria Gracineide Demésio - Assistente da bilheteria Kathleen Emiliano de Oliveira - Assistente da bilheteria Ronaldo Batista da Silva - Coordenador de infraestrutura Vinicius França Barbosa - Assistente Infraestrutura Flavio Araújo Gonçalves - Coordenador de transporte Marcio Tito Da Silva - Coordenador de transporte Roberto Cirino dos Santos - Supervisor de segurança Romildo Cirino dos Santos - Supervisor de segurança Amarildo Ferreira Ferro - Supervisor de segurança André Luís Alves - Supervisor de segurança Marcos Baptista - Supervisor de segurança Daniel de Souza Zacarias - Supervisor de segurança

COBERTURA COLABORATIVA COORDENAÇÃO:

Daniela Rebello Dênis Nacif Guilherme Imbassahy Rachel Dias Vitor Vogel

COLABORADORES: Acy Verbena Alcebino J SIlva Ana Timbó Angela Helena Ana Clara Albuquerque Bárbara Marreiros Bruno Leão Brenda Karoline Cadu Franco Carlos Palheta Caroline Zeytounlian Daline Da Silva Dênis Nacif Diego Pereira Douglas Celeiro Euro Viveiros Ermilson Elifas Santos Francisco Cavalcante Geovani Itamara Jardel Gomes Jacques Luan Joana Corezzi Jose Nery Laura Moschoutis Lorenzo Araujo Louis Luciana Rebouças Marina Maia Meireles Matheus de Moraes Max Marduque

Milena Nogueira Nathi Vilela Paula Bandeira Paulo Pedro Pereira de Assunção Rodrigo S. Batista Rômulo Cunha Samyra Meirele Tarcísio Feijó Thábata Luiza Thainara Melo Ton Rael Victor Bruno


D I R E TO R I A D A U N E - G E S TÃ O 2 0 1 5 - 2 0 1 7 PRESIDENTA: Carina Vitral VICE-PRESIDENTA: Moara Correa Saboia 1ª VICE-PRESIDENTA: Katerine Oliveira 2ª VICE-PRESIDENTA: Tamires Gomes Sampaio 3º VICE-PRESIDENTA: Taíres Santos SECRETÁRIA-GERAL: Jessy Dayane Silva Santos TESOUREIRO-GERAL: Ivo Braga 1° TESOUREIRO: Vinicyus Sousa DIRETOR DE COMUNICAÇÃO: Mateus Weber DIRETOR DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS: David Almansa DIRETORA DE CULTURA: Mel Gomes DIRETORA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS: Marianna Dias 1ª DIRETORA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS: Camila Souza DIRETOR DE MOVIMENTOS SOCIAIS: Felipe Malhão DIRETOR DE UNIVERSIDADES PARTICULARES: Josiel Rodrigues DIRETORA DE DIREITOS HUMANOS: Luiza Foltran DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS: Iago Montalvão DIRETORA DE EXTENSÃO

UNIVERSITÁRIA: Mariara Silva da Cruz DIRETOR JURÍDICO: Rarikan Heven DIRETORA DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS: Graziele Monteiro DIRETOR DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: Lucas Bicalho 1º DIRETOR DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: João Luis Lemos de Paula 2º DIRETOR DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: Felipe Eduardo Lopes 3ª DIRETORA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: Simone Nascimento 4º DIRETOR DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: Marcio Brito 1ª DIRETORA DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS: Barbara Cardoso 2º DIRETOR DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS: Guilherme Victor Montenegro 3º DIRETOR DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS: Raphael Almeida 4º DIRETORA DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS: Rita Gomes 1ª DIRETORA DE CULTURA: Poliana Nadin 2º DIRETOR DE CULTURA: Caio Teixeira DIRETORA DE MULHERES: Bruna Couto Rocha

1ª DIRETORA DE MULHERES: Amanda Ariadne Mantovani 2ª DIRETORA DE MULHERES: Nathália Bittencurt dos Santos 3ª DIRETORA DE MULHERES: Elida Elena 4ª DIRETORA DE MULHERES: Aline Moraes 1º DIRETOR MOVIMENTOS SOCIAIS: Francisco das Chagas Pereira 2º DIRETORA DE MOVIMENTOS SOCIAIS: Katty Hellen 3º DIRETOR DE MOVIMENTOS SOCIAIS: Gabriel Alves 4ª DIRETORA DE MOVIMENTOS SOCIAIS: Sarah Lindalva 1º DIRETOR DE UNIVERSIDADES PRIVADAS: Carlos Augusto Portela 2º DIRETOR DE UNIVERSIDADES PRIVADAS: Jonathan Lauro Rossi Machado 3º DIRETOR DE UNIVERSIDADES PRIVADAS: Alisson Nicoldi de Oliveira 4º DIRETOR DE UNIVERSIDADES PRIVADAS: Tony Robson da Silva 1ª DIRETORA DE DIREITOS HUMANOS: Mariana Vieira Lacerda 2ª DIRETORA DE DIREITOS HUMANOS: Raiana Siqueira Mendes 1º DIRETOR INSTITUCIONAIS: Ruan Rodrigues 2º DIRETOR INSTITUCIONAIS: Michel Afif Magul DIRETOR DE COMBATE AO RACISMO: Rodger Richer 1ª DIRETORA DE COMBATE AO RACISMO: Marcela Lisboa Rodrigues da Silva


2ª DIRETOR DE COMBATE AO RACISMO: Yuri Brito DIRETOR DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA: Jonas Lube DIRETOR DE INCLUSÃO DIGITAL: Carlos André Lobato Mendes 1ª DIRETORA DE EXTENSÃO: Pamela Kenne 2º DIRETOR DE EXTENSÃO: Guilherme Henrique Targino DIRETORA DE MEIO AMBIENTE: Samara Danielle Souza DIRETORA DE MEMÓRIA ESTUDANTIL: Marillia Silva Rodrigues DIRETOR LGBT: Augusto Oliveira Pereira 1ª DIRETORA LGBT: Daniella Veyga 2º DIRETOR LGBT: Augusto Malaman 1º DIRETOR DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS: Gabriel Medeiros 1ª DIRETORA DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS: Johari Provezani 2ª DIRETOR DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS: Eziel Duarte 3º DIRETOR DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS: Jessé Samá 4ª DIRETORA DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS: Elen Rebeca 5ª DIRETORA DE UNIVERSIDADES PÚBLICAS: Mara Juliana de Sousa Tramontini VICE-PRESIDENTE AC/RO: Jeffrey Caetano

VICE-PRESIDENTE AM: Kennedy Oliveira VICE-PRESIDENTE AL: Lucas Vinicius VICE-PRESIDENTE BA: Natan Ferreira VICE-PRESIDENTE CE: Luis Carlos VICE-PRESIDENTA PE: Flor Ribeiro VICE-PRESIDENTE PI/MA: Lucas Matos VICE-PRESIDENTA SP: Cris Grazina VICE-PRESIDENTE MG: Carlos Sousa VICE-PRESIDENTA DF: Luiza Calvette Costa VICE-PRESIDENTE RJ/ES: José Messias da Silva VICE-PRESIDENTE SUL: Giovani Calau VICE-PRESIDENTA MT/MS: Amanda Anderson VICE-PRESIDENTE PA: Hebertt Lima DIRETOR DE DESPORTO UNIVERSITÁRIO: Patrick Guimarães 3ª DIRETORA DE EXTENSÃO: Thaynara Melo Rodrigues DIRETORA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE, ESTÁGIO E TRABALHO: Ranyelle Neves 2º DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE, ESTÁGIO E TRABALHO: Raimundo Igor 3º DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA JUVENTUDE, ESTÁGIO E TRABALHO: Daison Roberto Colzani

UEEs UEE-SP: Flávia Oliveira UEE-RJ: Leonardo Guimarães UCE-SC: Yuri Becker UEE-MT: Vinicius Santos UEE-GO: Ritley Alves UEE-MG: Luanna Ramalho UEE LIVRE-RS: Thais Berg, Dinamara Farias, Natalia Doria UPE-PE: Bruno Pacheco UEB-BA: Nagila Maria UEE-AM: Bruna Brelaz

CUCA da UNE COORDENAÇÃO GERAL: Patrícia de Matos COORDENAÇÃO DE PROJETOS E FINANÇAS: Bárbara Cipriano COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO E AUDIOVISUAL: Rodrigo Morelato COORDENAÇÃO DE ARTE E CULTURA: Bruno Bou



AGRADECIMENTOS A Belchior, dono de versos que inspiraram e continuarão a inspirar muitas gerações. Ao indestrutível Zé Celso Martinez, provocador por natureza. Aos reinventores de todo o mundo, pela ousadia. Ao povo cearense, alegre e gentil na sua acolhida aos estudantes. À diretoria da UNE, sempre na vanguarda com coragem e esperança. À coordenação do Cuca, jovens sonhadores na luta por uma nova cultura política e por uma nova política cultural. Aos coordenadores da Bienal, pela dedicação total para realizar mais uma edição histórica do maior festival estudantil da América Latina. Aos artista-estudantes, que coloriram Fortaleza com sua (re)inventividade. Aos artistas convidados, referências da qualidade da cultura brasileira. Aos debatedores, por trazerem diferentes pontos de vista para reinventar a cultura nacional. Ao Governo do Estado do Ceará, por abrir as portas da sua casa. À Prefeitura de Fortaleza, ao Instituto Dragão do Mar e patrocinadores, por prover o suporte e o espaço para a realização da Bienal. À toda rede do movimento estudantil, por manter acesa a chama da rebeldia. À literatura marginal, ao cinema novo, ao neoconcretismo, ao tropicalismo, ao teatro radical, ao Massafeira e ao Movimento de Cultura Popular, fonte onde a Bienal se encharcou de referências e conhecimento. À Gaby Amarantos, Emicida, Mel Duarte e demais artistas negros do país, por unirem luta e arte no combate ao racismo. Aos grupos de maracatu cearense, por manter viva esta tradição. Às comunidades cearenses, por dividirem os encantos do seu cotidiano com os estudantes. Ao Nordeste, por receber mais uma vez a Bienal da UNE, a décima edição de nossa história. Aos trabalhadores da produção, que construíram a Bienal. A todos os estudantes brasileiros, que ocupam as ruas na luta por um país melhor, em defesa da democracia e da educação. À UNE, por chegar aos seus 80 anos reunindo futuro e tradição. A todos os jovens agredidos, feridos e machucados durante as lutas contra o golpe de 2016 no Brasil. A Honestino Guimarães, Edson Luís e os estudantes mortos, perseguidos e assassinados pela ditadura militar, nossos heróis. D I R E T A S J Á !



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CATÁLOGO 10ª BIENAL DA UNE


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