Jornal Nossa Voz - Especial 54º Conune - #2

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NOSSA VOZ boletim informativo oficial da união nacional dos estudantes

Edição especial para o 54° Congresso da UNE – junho de 2015 – #2

Juventude quer voar estudantes colorem o céu do 54º Conune em mobilização contra a proposta de redução da maioridade penal

Edição Especial – 54º Congresso da UNE – NOSSA VOZ | 1


EDITORIAL

A juventude e as cores de Goiânia

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e repente, Goiânia mudou de cor. Verde e amarelo, negro, vermelho, azul, laranja, rosa, lilás: misturaram-se todas em um novo tom, ainda sem nome, que aparece de dois em dois anos, sempre que a juventude brasileira se une aqui.

E ali se falou sobre a unidade para ocupar Brasília, para mobilizar todos os Estados, para disputar o bom senso e os corações de quem acredita na verdadeira justiça (aquela que alforrie os que ainda carregam grilhões tantos anos depois).

A UNE aqui é uma experiência incomparável de diversidade e democracia -- tão atacada nos últimos tempos e tão pulmonar em nossa entidade. O ar de Goiânia, até o próximo domingo, é o ar que o movimento estudantil respira há 77 anos: o ar de todas, de todos, de todxs. A primeira roda se reuniu na quarta à noite, encoberta pelo enunciado do bandeirão: “Redução é roubada”. E é mesmo. A juventude quer barrar o retrocesso do “olho por olho” que deseja apagar, tão exclusivamente, os olhos dos pretos e pobres em situação gritante de genocídio na sexta economia do mundo.

E a quinta amanheceu sem nuvens no céu, mas com tempestades de ideias, discursos, convergências, divergências, demandas, intervenções, intensidades. Onze debates, dezessete grupos de discussão, milhares de participantes entre as salas da UFG, da PUC-GO e na praça que leva o nome do herói. E por esse circuito desfilaram a reforma política democrática, a luta contra as terceirizações, a democratização da comunicação, o direito à cidade, a solidariedade entre os povos e a nova ordem mundial.

Pelo outro circuito, o da cultura e arte, o recado também foi dado. Na quarta, Osvaldão ocupou a tela do cineclube CUCA e contou a sua história de resistência nas selvas do Araguaia. Na quinta, os muros se vestiram com as frases das oficinas de estêncil e grafite. A poesia também surgiu da voz de Sérgio Vaz e dos lunáticos de seu sarau, testemunhados pela lua do cerrado. A essa altura, enquanto você lê este texto, talvez Goiânia tenha mudado novamente de cor. E é bom que seja assim, afinal, ainda há muito Congresso pela frente!

A UNE somos nós, nossa força e nossa voz!

Foto: Vitor Vogel

DIRETORIA EXECUTIVA DA UNE – GESTÃO 2013/2015 Presidenta: Virgínia Barros Vice-presidente: Mitã Chalfun 1ª Vice-presidente: Katerine Oliveira 2º Vice-presidente: Ronald Luis 3ª Vice-presidente: Adriele Manjabosco Secretária-geral: Iara Cassano 1º secretário-geral: Tony Sechi Tesoureiro-geral: Bruno Correa Dir. Assistência Estudantil: Thiago Wender Ferreira Dir. Comunicação: Thiago José Silva Dir. Universidades Públicas: Mirelly Cardoso 2º Dir. Universidades Públicas: Iago Campos Dir. Relações Internacionais: Thauan Fernandes Dir. Área de Humanas: Ivo Braga Dir. Direitos Humanos: Camila Souza Dir. Cultura: Patrícia de Matos

Dir. Movimentos Sociais: Déborah Costa 3ª Dir. Movimentos Sociais: Laís Rondis Nunes de Abreu Dir. Políticas Educacionais: Juliana dos Anjos de Souza 1º Dir. Políticas Educacionais: Pedro Paulo Rocha de Araújo Dir. de Relações Institucionais: Patrique Lima 1º Dir. Relações Institucionais: William Rodrigues Dantas 2º Dir. Relações Institucionais: André Amaral Filho 1º Dir. Universidades Particulares: Matheus Weber 2º Dir. Universidades Particulares: Rafael da Silva da Costa

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EXPEDIENTE O jornal NOSSA VOZ é uma publicação da União Nacional dos Estudantes. Dir. Comunicação da UNE: Thiago José Silva Jornalista responsável: Rafael Minoro – CR (DRT/MG 11.287) Colaboração: Artênius Daniel, Cristiane Tada, Renata Bars, Yuri Perez, Tatiana Rodrigues e Thiago Guimarães Projeto gráfico: FIELDS 360 - fields360.agency Endereço: Rua Vergueiro, nº 2485, bairro Vila Mariana, São Paulo/SP - Cep 04101-200 Telefone: +55 11 5539.2342 Fale com a UNE: contato@une.org.br Assessoria de comunicação: Contra Regras Comunicação Ltda. CNPJ: 12.795.929/0001-33 twitter.com/uneoficial

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entrevista

Samuel Pinheiro Guimarães: um diplomata que não foge da briga Defensor histórico da soberania nacional, Samuel Pinheiro Guimarães escreveu uma história combativa na diplomacia brasileira. Em diferentes funções no Itamaraty e no governo, marcou posição contra o intervencionismo norte-americano na ditadura, levantou a voz contra a finada Alca (Área de Livre Comércio das Américas) nos anos 1990 e ajudou a tocar a exitosa política Sul-Sul pós-2003. Em mais uma participação em encontros da UNE, o professor trouxe sua bagagem ao 54º Congresso para um debate sobre o papel dos Brics (o grupo Brasil-RússiaÍndia-China-África do Sul) na nova ordem mundial. E, claro, não poderíamos de deixar de conversar com ele. Qual a importância de um encontro como esse para a juventude brasileira?

Quais são os desafios hoje do Brasil na política externa? São desafios contados, em grande medida, na questão do desenvolvimento. Somos um país subdesenvolvido, e não é necessário fazer estudo para descobrir isso. A política externa deve ser um instrumento de desenvolvimento. Sabemos também que o Brasil é um país extremamente desigual, e o Estado tem que ter função essencial na política de desenvolvimento. Então é necessário que na área internacional não se criem normas que impeçam essa ação do Estado. Temos que evitar que normas tão cobiçadas pelos países desenvolvidos sejam criadas e que o Brasil venha a aderir essas normas.

Como o sr. avalia o processo de democratização da mídia que já ocorre em países da América do Sul? É um assunto da maior importância, porque na mídia se forma o imaginário da sociedade. A mídia que constrói os valores, informações que temos sobre ações sociais. Se você tem uma situação de oligopólio, de cartel da mídia, você tem menor diversidade. A mídia se transformou numa grande empresa comercial. Em muitos casos, está vinculada a interesses de grandes grupos econômicos. Desse modo, ela tende a repetir certo tipo de opinião: sobre economia, sociedade, política. É necessário democratizar a mídia, e a primeira coisa que deve ser feita pelo governo é democratizar a utilização das suas verbas de publicidade. A legislação sobre grupos empresariais que ocorreu na Argentina foi muito conflituosa, mas se você democratiza o acesso às verbas publicitárias, você dá visibilidade a veículos menores, inclusive aos blogs.

Foto: Juliana Pimenta

A UNE, historicamente, foi muito importante na mobilização da juventude no meio político. O congresso é importante pois também permite o intercâmbio de experiências das pessoas e a organização do movimento político dos estudantes. Aqui podem surgir plataformas, posições da juventude em relação à sociedade brasileira. Samuel fala com os estudantes no 54º Congresso da UNE

Hoje em dia existem blogs com mais acessos do que os jornais tem leitores, no entanto os blogs não recebem recurso do governo, o que já acontece com grandes jornais e revistas.

Qual é o principal legado que a política Sul-Sul deixa para o país? Em primeiro lugar, a América do Sul é o centro da política externa. O centro da política externa não pode ser na África, nem na Ásia. Esse é o centro da política externa. Isso foi extremamente importante no governo do presidente Lula, porque ele deu ênfase à nossa política na América do Sul. O segundo ponto foi a expansão das nossas relações com os países africanos, que são a nossa outra fronteira. Por outro lado foi o grande esforço do presidente Lula na luta contra a pobreza também internacionalmente, replicando o que estava acontecendo no Brasil. Depois a luta do presidente contra as intervenções militares, como a intervenção militar no Iraque, sempre a favor de construir soluções pacíficas para as controvérsias internacionais. Outro ponto muito importante foi o fortalecimento da nossa capacidade de defesa, que é o programa do submarino nuclear e o programa da construção de aviões militares no Brasil.

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Todos contra a redução da maioridade penal Abertura do 54º Conune aglutina forças para evitar ameaça de retrocesso social e criminalização da juventude

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atualidade e a importância da discussão sobre a idade penal no Brasil levaram a UNE a escolher o tema para abrir os debates do 54º Congresso da entidade, na noite de quarta-feira (3), em Goiânia. O professor de história e ativista social Douglas Belchior mostrou como a atual PEC 171, que propõe baixar a maioridade penal para 16 anos, é mais uma medida a reproduzir estruturas de poder dentro das instituições de segurança. Alertou, contudo, que é necessário diálogo, pois a proposta tem obtido apoio entre setores da sociedade diante do aumento da violência.

“Nossa tarefa é conversar nas comunidades, explicar o que é violência e quem fica impune neste país”, disse Belchior. A presidenta da UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), Bárbara Melo, citou os altos índices de reincidência no sistema carcerário brasileiro. “[A redução] não vai reduzir a violência, vai, sim, recrutar mais reprodutores de violência.” Os interesses econômicos que movem a atual ofensiva conservadora no Congresso foram abordados por Ângela Guimarães, do Conselho Nacional da Juventude.

“O compromisso deles [deputados que defendem a redução] é com a indústria bélica, com a privatização dos presídios”, afirmou ela, que propôs a mobilização de frentes estaduais contra a redução. O secretário nacional de Juventude, Gabriel Medina, criticou o modelo de segurança pública no Brasil. ”Os crimes contra a vida representam 12% do total, ou seja, há um modelo que serve a elite, para evitar o roubo de carro, de casa, e não para preservar a vida.” Pediu “mais escolas e menos cadeias” como bandeira na disputa com o conservadorismo no país.

Foto: Juliana Pimenta

Estudantes tomam o teatro de arena na Praça Universitária, em Goiânia, em coro contra a proposta de redução da maioridade penal

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UNIDADE E PRESSÃO POR MUDANÇAS REAIS

Fotos: Juliana Pimenta

Debates sobre conjuntura expõem necessidade de coordenação contra avanço conservador

Debate sobre financiamento eleitoral e reforma política democrática foi o encontro mais concorrido no segundo dia do Congresso da UNE

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eforma política conservadora, ajuste fiscal, desmonte da Petrobras, terceirização do trabalho. O ciclo de debates sobre conjuntura no 54º Congresso da UNE revelou a dimensão dos desafios que se impõem às forças progressistas no país. Em todas as mesas, veio à tona o apelo por unidade para combater o avanço de medidas que prejudiquem o trabalhador e comprometam o legado social recente do país. A discussão sobre reforma política, por exemplo, reuniu centenas de estudantes na quinta-feira (4) na Praça Universitária Honestino Guimarães.

A mobilização reflete a preocupação do movimento com a proposta aprovada pela Câmara dos Deputados que constitucionalizou o financiamento empresarial de campanhas eleitorais. A conclusão foi que a aprovação do projeto apenas ratificou a total falta de representatividade de parlamentares que endossaram uma reforma desconectada dos anseios da sociedade e que não combate a corrupção. “A reforma política no Brasil deverá sair das ruas, da mobilização do nosso povo, liderado pelas entidades que o representam, como a UNE e os sindicatos”, afirmou o representante da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Claudio Ferreira.

afirmou Thiago Aguiar, doutorando em sociologia do trabalho pela USP (Universidade de São Paulo). Em mesa sobre a situação da Petrobras, petroleiros e estudantes convergiram sobre a necessidade de evitar que as denúncias de corrupção sejam pretexto para um desmonte da principal empresa brasileira. “Basta qualquer notícia negativa sobre a Petrobras para retornarem com o plano antigo de entregá-la a conglomerados financeiros internacionais”, afirmou José Maria Rangel, presidente da FUP (Federação Única dos Petroleiros).

AJUSTE E TERCEIRIZAÇÃO O corte de quase R$ 70 bilhões no Orçamento da União, com redução de quase R$ 10 bilhões nas verbas da educação, também esteve em pauta. Em comum, mais uma vez, a aposta na valorização da unidade dos movimentos populares.

Debate sobre ajuste fiscal

“Os ricos devem pagar pela crise que eles mesmos criaram, não os trabalhadores e a juventude brasileira”,

Grupo de discussão

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Nossa Luta

Saiba mais sobre as reivindicações dos estudantes pelo país

Fotos: Yuri Salvador

“Nossa luta é pela melhoria nas universidades públicas. Em Itapipoca (CE), reivindicamos avanços em infraestrutura, pois nossas universidades estão precarizadas. Está faltando moradia universitária, restaurante, estacionamento. E melhores condições de trabalho.” Josilaine Matias, pedagogia na UECE (Universidade Estadual do Ceará)

“Estamos lutando, junto com a União Estadual dos Estudantes do Maranhão, pela criação de um Diretório Central dos Estudantes, para mobilizar os estudantes e criar um espaço de vivência. E também estamos na luta pelo passe livre para todos os estudantes do Estado.” Ítalo Pedrosa, agrologia na Faculdade Maurício de Nassau (MA)

“Na Bahia vivemos um cenário de greve contra os cortes na educação. Aqui no Congresso da UNE viemos para dizer que não admitimos retrocesso. Os negros e os estudantes de periferia estão agora na universidade e isso não pode parar de avançar com mais investimentos. Não podemos fazer o caminho inverso.” Daniele Ferreira, saúde coletiva na UFBa (Universidade Federal da Bahia)

LOJINHA DA UNE

A ENERGIA QUE VEM DO TOCANTINS

A UNE tem um espaço na área 2/bloco D da PUC-GO para venda de materiais como camisetas, bonés, pôsteres e mochilas durante o 54º Congresso.

Este é o primeiro Conune da estudante de enfermagem da UFT (Universidade Federal do Tocantins) Nick Castro (à dir. na foto), mas a fama da moça já é considerável. Dona de um “senhor” filtro de linha, Nick está sempre rodeada de amigos e, claro, bem pertinho de uma tomada para carregar os celulares da galera.

Tudo a preço de custo, e toda a renda é revertida para as atividades da entidade.

“Posso sair sem roupa, mas não sem o filtro de linha”, brinca a estudante de 19 anos. Nick conta que está gostando muito de participar do congresso. “Os debates sobre racismo, machismo e luta LGBT me interessam muito. Vou assistir a todos”.

Venha conhecer!

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Foto: Juliana Pimenta

Foto: Vitor Vogel

#congressodaune


um passeio pelo maior fórum estudantil do brasil Confira imagens da juventude que pensa e muda o país

Fotos: Vitor Vogel e Juliana Pimenta

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